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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS NATURAIS

BIOQUÍMICA EXPERIMENTAL

HELOISA GONÇALVES DE ALMEIDA

PCBS: O PERIGO DAS SUBSTÂNCIAS DE ETERNO LEGADO

São João del-Rei

Dezembro/2018
INTRODUÇÃO

Os Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) são substâncias populares e a sua


presença no nosso cotidiano gera diversas preocupações principalmente no âmbito
ambiental, por se tratarem de compostos extremamente tóxicos mesmo em baixas
concentrações. Os POPs são substâncias químicas sintéticas com alta estabilidade, e essa
estabilidade faz com que os mesmos sejam resistentes a degradação química, fotolítica e
biológica, ou seja, são compostos praticamente inertes, tornando-os assim persistentes.

Essas propriedades combinadas a sua capacidade bioacumulativa faz dos POPs


grandes vilãos a saúde humana e dos animais principalmente. Por apresentarem
propriedades lipofílicas, os POPs se acumulam no interior dos tecidos adiposos e
membranas celulares e por serem estáveis, o organismo não consegue degrada-los.

As consequências dessa acumulação são extremamente serias, uma vez que atuam
no sistema imunológico, reprodutivo e endócrino, sendo tratado também como compostos
cancerígenos. Entre os efeitos dos POPs no organismo podem ser citados o bloqueio de
determinados hormônios, a atividade enzimática prejudicada de algumas enzimas que
controlam as reações bioquímicas do organismo, rebaixamento da inteligência,
diminuição de peso e além de alguns compostos que atingem os neurotransmissores. Para
entender melhor a gravidade da exposição a esses compostos, caso uma gravida for
exposta a essas substancias a morte do feto ou um aborto espontâneo pode ocorrer.

Os POPs ao serem liberados na natureza podem ser levados a grandes distâncias


sendo carregados pelas correntes áreas e pelas aguas para regiões distintas da sua origem.
E devido a esses pontos preocupantes relativos a essas substâncias, existe uma
preocupação em proibir a utilização dessas substâncias, como também eliminar esses
compostos do ambiente. [1,2,3]

Com a finalidade de eliminar esses poluentes do meio ambiente, em 17 de maio


de 2004 após a ratificação por 50 países entre eles o Brasil, entrou em vigor a Convenção
de Estocolmo que determina que os Países-Parte assumam medidas para o controle da
produção, importação, exportação, uso e destino final das substâncias POPs. Essa
Convenção também apresentou uma lista contendo 12 POPs altamente tóxicos que
necessitam de maior prioridade nesse controle do ciclo de vida dos mesmos. Dentre esses
12 POPs, grande maioria são compostos organoclorados em que alguns são aplicados
como pesticidas e outros como um subproduto industrial, sendo as bifenilas policloradas
(PCBs) parte desse grupo. [4,5]

Os PCBs são compostos químicos industriais sintéticos que foram amplamente


utilizados como fluidos e transferência de calor em transformadores e condensadores
elétricos, em que a sua produção se deu em maior escala nos EUA a partir de 1929, sendo
banido na década de 70, quando foi percebido os efeitos que esses compostos geravam
nos seres vivos. [6]

Mesmo após muitos anos da sua proibição, os PCBs tem sido encontrados em
todos os compartimentos ambientais, desde o Ártico até a Antártica. E diante desse
contexto, o objetivo desse trabalho é de apresentar a classe dos PCBs abordando as suas
propriedades, aplicações e alguns acidentes gerados pelo uso inconsequente desses
compostos.

1. DESENVOLVIMENTO
1.1. Bifenilas Policloradas (PCBs)

As Bifenilas Policloradas conhecidas também como PCBs são uma classe de


compostos organoclorados. A estrutura geral dos PCBs pode ser vista na Figura 1, sendo
formada por dois anéis de benzeno unidos por uma ligação entre carbonos, sendo os
átomos de hidrogênio substituídos por 1 a 10 átomos de cloro nos números 2-6 e 2’-6’. A
fórmula geral de um PCB é C12H(10-n)Cln, em que 1≤n≥10. Essas variações do número de
átomos de cloro geram compostos PCBs distintos, conhecido como congêneres. A classe
dos PCBs pode ser formada por até 209 congêneres. Os PCBs que apresentam o mesmo
número de átomos de cloro fazem parte de uma subclasse conhecida como homólogos e
os compostos deste grupo são chamados de isômeros.

Figura 1. Estrutura geral dos PCBs.


Os anéis de benzeno são ligados por uma ligação C-C, podendo os mesmos
girarem em torno dessa ligação, gerando duas configurações distintas: a planar e a não
planar. A configuração planar ocorre quando os dois anéis estão no mesmo plano, já a
configuração não planar, os anéis assumem uma conformação perpendicular. Essa rotação
dos anéis irá depender dos átomos de cloro ligados aos anéis, visto que existe um
impedimento estérico quando os átomos de cloro estão ligados na posição orto (2,2’,6,6’),
a configuração não planar é gerada pelas múltiplas substituições de cloro na posição orto.
Existem estudos que mostram que quando os átomos de cloro estão em posições para e
meta são mais tóxicos que quando substituídos na posição orto.[6,7]

Os PCBs apresentam propriedades que os torna atrativos para diversas aplicações,


são difíceis de queimar, excelentes isolantes elétricos, quimicamente inertes, possuem
baixa pressão de vapor e a sua atenção é de baixo custo. O uso principal dos PCBs é como
fluidos de resfriamento em transformadores e capacitores, porém podem ser usados como
agentes plastificantes, solvente de remoção de tintas para reciclagem de papel jornal,
agentes impermeabilizantes e entre outras aplicações. Sendo produzidos em vários países
com nomes comerciais distintos, podendo então ser vistos na Tabela 1.

Tabela 1. Nomes comerciais dos PCBs. (Ambicare, 2012, adaptado)

No Brasil, o Ascarel era utilizado como óleo isolante em transformadores de


subestações de transmissão de energia elétrica. A Figura 3 mostra o óleo contido dentro
dos transformadores. O auge da produção de PCBs se deu em 1970 com 50.000 toneladas
e a produção mundial acumulada chegou a aproximadamente 1.200.000 toneladas, em
que 300.000 toneladas permanecem acumuladas no ambiente. No final da década de 70 o
uso dos PCBs começaram a ser reduzidos, uma vez que os danos que os mesmos estavam
gerando começaram a ser observados, e na década de 80 o uso foi proibido, em 1983 em
território americano e em 1981 no Brasil.

Figura 3. Óleo isolante contido dentro dos transformadores de energia.

O uso desenfreado dos PCBs, sem ao menos se investigar os possíveis danos a


serem causados pelos PCBs, fez deles contaminantes ambientais extremamente
preocupantes. Isso se deve a algumas propriedades dessa classe de compostos. Os PCBs
apresentam propriedades lipofílicas, e devido a isso, ocorre o fenômeno de
bioacumulação nos organismos vivos, e esse acumulo se dá principalmente nos tecidos
adiposos.

A bioacumulação gera por sua vez o aumento da concentração de PCBs nos


organismos vivos, à medida que percorre a cadeia alimentar e passa a se acumular no
nível trófico mais elevado, sendo esse efeito conhecido como biomagnificação. A Figura
4 ilustra o efeito de biomagnificação, podendo observar que no peixe, a concentração de
PCBs é menor que quando comparada a concentração encontrada na foca. [6,8]
Figura 4. Biomagnificação

1.2. Acidentes com PCBs

Além da biomagnificação, os PCBs geram outros efeitos no organismo. Para


melhor compreensão desses efeitos, se faz necessário listar alguns acidentes envolvendo
os PCBs. Pode ser observado também, que muitos desses acidentes se devem ao
desconhecimento da população sobre os riscos que envolvem a utilização e exposição a
essas substâncias.

1.2.1. Acidente em Irajá (RJ)

O acidente aconteceu na cidade de Irajá no Rio de Janeiro no ano de 1996, em que


moradores da comunidade Pará-Pedro invadiram uma subestação de energia desativada
do metrô para furtar equipamentos. Os ladrões encontraram um transformador de energia
contendo Ascarel e ao violarem o transformador, deixaram vazar litros de óleo.

Essa subestação foi invadida por várias vezes. E em uma delas, os ladrões
entraram para furtar os equipamentos e carregaram em latinhas cheias de Ascarel,
deixando derramar o óleo sobre seus corpos e afirmaram que sentiram tontura quando
entraram em contato com o óleo. O solo que apresentava contaminação de PCB foi
removido e levado para incineração. Alguns moradores da comunidade afirmaram até ter
usado esse óleo para fritar alimentos.
Ao todo, foram contabilizadas 20 pessoas contaminadas. A morte de uma criança
que apresentou manchas avermelhadas por todo o corpo dois dias depois do vazamento
do Ascarel foi associada a essa contaminação. [9]

1.2.2. Acidente em Yusho

Esse acidente aconteceu em Yusho no Japão no ano de 1968 e é tido como um dos
maiores acidentes com PCBs do mundo. A contaminação do óleo de arroz, que é um
alimento muito consumido na culinária japonesa, por PCBs devido a um vazamento do
sistema de refrigeração de uma fábrica de alimentos ter tido uma fuga do óleo de PCBs
que levou a esse acidente. Estima-se que mais de 31.000 pessoas foram intoxicadas com
um teor de cerca de 1.000 mg de PCB/Kg.

Os relatos das pessoas contaminadas são dos mais diversos em relação aos efeitos
gerados por essa exposição aos PCBs. Os efeitos observados foram de vômitos, diarreias,
dores de cabeça, icterícia, perda do campo visual, como também problemas na pele por
exemplo pigmentação de mucosas, pontos negros nos poros, acne, pontos vermelhos nas
pernas, deformação de unhas e erupções. Esses problemas de pele foram denominados
como doença de Yusho que pode ser vista na Figura 5. Houveram também, relatos de
mulheres grávidas que alegaram ter abortos espontâneos e partos prematuros. [6,10]

Figura 5. Criança com feitos na pele devido a exposição a PCBs.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da problemática em torno dos PCBs, observa-se que a utilização de


substâncias químicas de forma indiscriminada pode gerar diversas causas irreversíveis
principalmente ao meio ambiente, sendo isso observado principalmente nos acidentes
devido a utilização inadequada dessas substâncias.

Observa-se também, que os POPs em geral, principalmente os PCBs, apresentam


diversas propriedades favoráveis à sua utilização em diversos âmbitos, porém os danos
gerados pelo uso dessas substâncias são irreparáveis, causando diversos problemas
ambientais.

Por fim, pode-se concluir que os PCBs apresentam um legado eterno, uma vez que
devido a sua estabilidade química, a remoção dessas substâncias do ambiente se trata de
uma causa praticamente impossível.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1]MESQUITA, K. A. Estudo dos poluentes orgânicos persistentes (POPs) no


sedimento da represa billings - SP via cromatografia a gás acoplada à
espectrometria de massas. São Paulo: Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares,
2017.

[2] OLIVEIRA, J. P. R. DE. Estudo dos poluentes orgânicos persistentes (POPs) em


regiões industriais da grande são paulo – via cromatografia a gás acoplada a
espectrometria de massas (GC-MS) e captura de elétrons (GC-ECD). São Paulo:
IPEN, 2011.

[3] PINTO, G. M. F.; PINTO, J. F.; FILHO, R. M. Avaliação de contaminação ambiental


causada por poluentes orgânicos persistentes utilizando simulação computacionaL.
Quimica Nova, v. 30, n. 3, p. 565–568, 2007.

[4] Poluentes Orgânicos Persistentes: Poluição invisível e global. Disponível em:


http://gg.gg/cp3ab. Acessado em: 3 de dezembro de 2018.

[5] Convenção de Estocolmo sobre poluentes orgânicos persistentes. Disponível em:


http://gg.gg/cp3dw. Acessado em: 3 de dezembro de 2018.

[6] PENTEADO, J. C. P.; VAZ, J. M. O legado das bifenilas policloradas (PCBs).


Química Nova, v. 24, n. 3, p. 390–398, 2001.

[7] SILVA, C. E. DE A.; TORRES, J. P. M.; MALM, O. Toxicologia das bifenilas


policloradas. Oecologia Brasiliensis, v. 11, n. 2, p. 179–187, 2007.
[8] BAIRD, C.; CANN, M. Química Ambiental. 4° ed. Porto Alegre: Bookman, 2011. p.
499 -526.

[9] Grupo leva óleo cancerígeno do metrô. Disponivel em: http://gg.gg/cp3h9. Acessado
em: 3 de dezembro 2018.

[10] Acidente de "Yusho" - Japão. Disponivel em: http://gg.gg/cp3hn. Acessado em: 3 de


dezembro 2018.

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