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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA

Portal Educação

CURSO DE
DIREITO CIVIL – PARTE GERAL

Aluno:

EaD - Educação a Distância Portal Educação

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CURSO DE
DIREITO CIVIL (PARTE GERAL)

MÓDULO IV

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MÓDULO IV

4 DOS FATOS JURIDICOS, ATO JURÍDICO E NEGÓCIO JURÍDICO

4.1 CONCEITO DE FATO JURÍDICO

Fato é todo acontecimento, derivado do homem ou da natureza, que


produz consequências jurídicas, sendo, portanto, de interesse ao direito, por
criar, modificar ou extinguir a relação jurídica. Ou seja, é todo acontecimento
que independe da vontade do homem, por exemplo, nascimento, morte,
tempestade, terremoto, etc.
Clóvis Beviláqua lembra a clássica definição de Savigny (2010).: “fatos
jurídicos são os acontecimentos em virtude dos quais as relações de direito
nascem e se extinguem.” Alguns desses fatos são acontecimentos naturais,
outros são ações humanas (atos jurídicos).
Segundo César Fiúza(2010), “fato jurídico é, pois, todo evento natural,
ou toda ação ou omissão do homem que cria, modifica ou extingue relações ou
situações jurídicas”. Desta forma, é a ocorrência ou acontecimento por meio do
qual nasce, subsiste ou se extingue a relação jurídica. Ou seja, o fato jurídico
pode atuar em uma relação jurídica, já constituída, podendo modificar o direito
ou mantê-lo.

4.1.1 Relação Jurídica

A ideia de fato jurídico vem sempre referida à imagem de relação


jurídica. Assim, a necessidade de saber o que vem a ser uma relação jurídica.

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Relação jurídica é fruto de vínculo, elo entre pessoas, tutelado pelo direito, por
criar direitos e deveres. Assim, locador e locatário, ao concluírem contrato de
locação, ficam vinculados um ao outro. Desse vínculo surgem direitos e
deveres para ambas as partes.
Portanto, relação jurídica é o vínculo que se estabelece entre duas ou
mais pessoas. As relações jurídicas são relações sociais a que o ordenamento
jurídico dá importância tal que as qualifica de modo a protegê-las e prever-lhes
as consequências. São elementos da relação jurídica: o sujeito ativo, o sujeito
passivo e o vínculo de atributividade que caracterizam o direito.
O sujeito ativo é o titular ou beneficiário principal da relação, o sujeito
passivo, o devedor de determinada obrigação, ou seja, o primeiro possui
legitimamente um título que lhe atribui a capacidade de exigir o cumprimento
da prestação do outro.

4.1.2 Classificação dos Fatos Jurídicos

O fato jurídico pode ser natural ou humano. O fato natural, sem


intervenção da vontade humana, é que produz efeito jurídico. Por exemplo, um
nascimento, maioridade, morte, etc. e também, em caso fortuito ou de força
maior, como por exemplo, o incêndio de uma casa provocado por um raio,
desabamento de um edifício em razão de fortes chuvas, etc.
Todos esses acontecimentos provocam efeitos jurídicos, pois o
nascimento de alguém acarreta a personalidade jurídica, tornando o sujeito de
direitos e obrigações. A morte das vítimas traz por consequência a transmissão
de seus bens a seus herdeiros. O fato humano é o acontecimento que depende
da vontade humana, abrangendo tanto os atos ilícitos como os ilícitos. Como
por exemplo, testamento, contrato, adoção, uma indenização por perdas e
danos.
Assim, são fatos jurídicos todos os acontecimentos que, de forma
direta ou indireta, ocasionam efeito jurídico, como a chuva, o vento, o

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terremoto, a construção de um imóvel, a pintura de uma tela. Todos
apresentam consequências jurídicas, como a perda da propriedade, por sua
destruição, etc. É importante frisar que no campo jurídico só interessa o fato
juridicamente qualificado, isto é, o fato quando se insere em uma norma
jurídica, como por exemplo, o raio precisaria atingir um barco, ocasionando
naufrágio, para ter repercussão no mundo jurídico, acarretando fim da
propriedade, da pessoa natural, abertura de sucessão.
Esse fato independe da vontade humana, mas produz efeitos jurídicos,
criando modificando ou extinguindo direitos. Mas se o raio cair em alto-mar,
sem causar nenhuma consequência ou dano, será apenas fato natural. No
caso fortuito e na força maior, há sempre um acidente que produz prejuízo. Na
força maior, conhece-se a causa que dá origem ao evento, pois trata de um
fato de natureza, por exemplo, o raio que provoca um incêndio.
No caso fortuito, o acidente que gera o dano advém de causa
desconhecida, por exemplo, a explosão de uma caldeira de usina provocando
morte. É imprevisível, extraordinário ou irresistível. Vimos, então, que o fato de
ser homem ou mulher, que antes de tudo é um fato natural, é também jurídico,
porque implica em certos direitos e deveres que são exclusivos de cada sexo,
como auxílio maternidade, ou o serviço militar obrigatório.
Certos atos produzem efeitos no direito, como calúnias, ou trabalhos
realizados, contudo nem todo ato ou fato será jurídico, como o céu ser azul é
fato, ou eu andar de calça jeans ou social não interessam ao direito.

4.2 ATO JURÍDICO

O ato jurídico e o negócio jurídico são expressões equivalentes de


acordo com a sistemática brasileira. Ato jurídico é um ato voluntário e opera a
síntese refletida de nossas tendências, em vista de uma ação no mundo. É
fruto de uma vontade livre. Mas um verdadeiro ato livre não reflete apenas

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atenção, desejo, é resultado de uma decisão, de uma deliberação, de um
pensar entre tendências e conveniências várias.
Uma questão que se coloca em relação à vontade e ao ato jurídico
consiste em saber o valor a conferir-se a vontade em cotejo com o resultado
formal de sua manifestação. A vontade é que forma a parte essencial do ato
jurídico. Resulta da manifestação da vontade e para bem interpretar-se um ato
jurídico deve-se procurar conhecer qual a intenção da pessoa quando
manifestou a sua vontade.
O ato jurídico é toda emissão de vontade lícita, não voltada ao fim
específico, cujos efeitos jurídicos são produto mais da lei do que da vontade do
agente. Por exemplo, quando um pai registra seu filho, pratica o ato de
emissão de vontade combinado com o ordenamento jurídico. Ocorrendo assim,
uma emissão da vontade, combinada com o ordenamento jurídico no caso do
registro civil, pois ao registrar o filho, o pai não tem em mente nenhum objetivo
específico, como criar, modificar ou extinguir relação ou situação jurídica.
Por meio do ato jurídico o direito consagra e protege a capacidade de
iniciativa e de renovação da pessoa na espera de sua autonomia e de sua
liberdade. Para o direito, não basta que a vontade exista, mas que venha
expressa de alguma forma, mesmo tacitamente, quando isto for admitido.
Define o CC o ato jurídico como todo ato lícito que tenha por fim
imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos. Para ser
válido segundo o art. 104, requer agente capaz; objeto lícito, possível,
determinado ou determinável; forma prescrita ou não defesa em lei. Assim, a
validade do ato jurídico requer agente capaz, que se encontra perante a lei, em
condições de declarar sua vontade.
O objeto do ato jurídico deve ser lícito, ou seja, não podendo ser
contrário à lei e nem aos bons costumes. O objeto deve ainda ser possível, por
exemplo, a venda de um terreno na Lua é juridicamente impossível, pois é um
objeto fora do comércio. No ato jurídico em sentido estrito prevalece a forma
dada pela lei, como nas formalidades do casamento. No denominado negócio
jurídico o ato pode ser praticado com maior liberdade de forma e deliberação,
como nos contratos em geral.

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4.3 NEGÓCIO JURÍDICO

Negócio jurídico é um acordo lícito estabelecido entre as partes,


depende da vontade humana, busca os efeitos da lei, por exemplo, contrato
(um vende e o outro quer comprar), sempre há interesses. Ou seja, o negócio
sempre será jurídico, o negócio constitui-se na negociação de direitos e
deveres entre duas pessoas quaisquer, que em vista disso criam um vínculo
entre si, que o direito sempre procura preservar.
Seu fundamento é a vontade humana, desde que atue na
conformidade da ordem da ordem jurídica. É por meio do negócio jurídico que
se dá vida às relações jurídicas tuteladas pelo direito. O tribunal, que decidir
um litígio surgido de um negócio jurídico tem não só de verificar a validade da
norma jurídica geral com base na qual tal negócio foi realizado, mas também o
fato da existência de uma conduta contrária ao negócio.

4.4 ELEMENTOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Os elementos que constituem o negócio jurídico são: os essenciais, os


naturais e os acidentais, como veremos a seguir.

4.4.1 Elementos Essenciais

Os elementos essenciais são aqueles imprescindíveis à existência do


ato negocial. Podem ser gerais quando são comuns à generalidade dos
negócios jurídicos, diz respeito à capacidade do agente, ao objeto lícito e
possível e ao consentimento dos interessados.

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• Capacidade jurídica

Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a


capacidade do agente é indispensável. Para a validez do negócio jurídico, ou
seja, para que ele seja válido, perfeito, não basta que o agente seja
plenamente capaz, é imprescindível que seja parte legítima, ou melhor, que
tenha competência para praticá-lo, como por exemplo, se o marido vender um
apartamento sem o consentimento de sua mulher, esta venda será anulada.
Exceto se o regime de bem for o de separação. Então, a falta de legitimação
pode tornar o negócio nulo ou anulável.

• Objeto lícito

Para que o negócio jurídico seja perfeito e válido, deverá versar sobre
o objeto lícito, ou melhor, conforme a lei, não sendo contrário aos bons
costumes, à ordem pública e à moral. Se for ilícito o seu objeto, nulo será o
negócio jurídico. Além de lícito deve ser possível, como por exemplo, a venda
de herança de pessoa viva receberá como sanção a sua nulidade.

• Consentimento

A manifestação de vontade exerce papel importante no negócio


jurídico, sendo um dos seus elementos básicos. Podem ser particulares, que
são peculiares a determinadas espécies por serem concernentes à sua forma.
A forma é o meio pelo qual se exterioriza a manifestação da vontade nos
negócios jurídicos, para que possam produzir efeitos jurídicos.
O nosso CC adota o princípio da forma livre, conforme o art. 107: “A
validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão
quando a lei expressamente a exigir”. Isso quer dizer que a validade da
declaração da vontade só dependerá de forma determinada quando a norma
jurídica explicitamente o exigir. Logo, não vale o ato que deixar de revestir a
forma especial determinada em lei. Não há outra sanção a não ser a nulidade

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de acordo com o art. 166, IV do CC: “É nulo o negócio jurídico quando: IV - não
revestir a forma prescrita em lei”. Assim, forma livre ou geral é qualquer meio
de exteriorização da vontade nos negócios jurídicos, desde que não previsto
em norma jurídica como obrigatório.

4.4.2 Elementos Naturais

Os elementos naturais são os efeitos decorrentes do negócio jurídico,


sem que seja qualquer menção expressa, pois a norma jurídica determina
quais são as consequências jurídicas. Por exemplo, a compra e venda são
elementos naturais, oriundos do próprio contrato, onde há obrigações
estipuladas na lei para o comprador e para o vendedor.

4.4.3 Elementos Acidentais

Elementos acidentais são cláusulas acessórias que as partes podem


adicionar em seus negócios para modificar uma ou mais consequências
naturais, como condição, modo ou encargo e o termo. Conforme o art. 121,
“considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade
das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto”.
Nada mais são do que categorias modificadoras dos efeitos normais do
negócio jurídico, restringindo-os no tempo ou retardando o seu nascimento ou
exigibilidade.

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4.4.4 Da Condição, do Termo e do Encargo

Com base no art. 121 do CC pode-se dizer que a condição é a cláusula


que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do
negócio jurídico e evento futuro e incerto. Assim, os requisitos para que se
configure o negócio são a futuridade e a incerteza. Portanto, requer sempre um
fato futuro, ou seja, não se considera condição o fato passado ou presente,
mas somente o futuro.
O que concretiza a eficácia do negócio deve ser incerto, isto é, poderá
ou não acontecer. A condição poderá ser classificada da seguinte forma:

• Quanto à possibilidade

As condições podem ser possíveis e impossíveis. É física e


juridicamente possível se puder ser realizada conforme as leis físico-naturais e
as normas jurídicas. As fisicamente impossíveis são as que não podem ser
cumpridas por nenhum ser humano, isto é, as que são contrárias à natureza,
como por exemplo, tocar a Lua com os dedos, sem tirar os pés da Terra; a
obrigação de trazer o oceano até a Praça da Sé da cidade de São Paulo;
esvaziar o Rio Amazonas, etc.
Segundo o art. 123 do CC, invalidam os negócios jurídicos que lhes
são subordinados:

I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando


suspensivas;
II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
III - as condições incompreensíveis ou contraditórias. (CC, art. 123)

E o art. 124 do CC diz: “têm-se por inexistentes as condições


impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível”. Sendo
assim, juridicamente impossível será a condição que ofende alguma proibição
expressa do ordenamento jurídico ou que fere a moral e os bons costumes,

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como por exemplo, realizar negócio que tenha por objeto herança de pessoa
viva, não apenas a condição, mas todo o contrato é nulo.

• Quanto à Licitude

Segundo o art. 122 do CC,

São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem


pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se
incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o
sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. (CC, art. 122).

Assim, lícita será a condição quando o evento que a constitui não for
contrário à lei. Serão ilícitas todas as que violarem proibição expressa ou virtual
do ordenamento jurídico.

• Quanto à natureza

A condição será necessária se for inerente à natureza do negócio, por


exemplo, venda de um imóvel, se ela se perfizer por escritura pública. É da
essência desse ato negocial a outorga de escritura pública, assim, não é uma
condição, pois não deriva da vontade das partes.

• Quanto à participação da vontade dos sujeitos

Pode ser casual, se depender de força maior ou caso fortuito alheio à


vontade das partes, por exemplo, te darei uma joia se chover amanhã. Pode
ser potestativa se decorrer da vontade de uma das partes, por exemplo,
constituição de uma renda em seu favor se você vestir tal roupa amanhã ou te
darei tal quantia se fores a Nova York. Tal viagem não depende somente da
vontade da pessoa a quem se dirige a declaração, mas também da obtenção
de tempo e dinheiro. Tem-se entendido que a cláusula “pagarei quando puder
ou quando possível” não constitui arbítrio condenável.

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Podem ser Promíscuas quando se caracterizam no momento inicial
como potestativa, vindo a perder tal característica por fato superveniente alheio
à vontade do agente, que venha a dificultar sua realização, por exemplo,
pagarei R$ 25.000.00 se você, campeão de futebol, jogar por tal clube, no
próximo torneio. Essa condição potestativa passará a ser promíscua se o
jogador vier a sofrer uma lesão que o impossibilite de jogar (fato superveniente
alheio à vontade do agente, que venha a dificultar sua realização).
Podem ser Mistas quando as condições que dependem
simultaneamente da vontade de uma das partes e da vontade de terceiro, por
exemplo, te darei esse apartamento se você se casar com Sérgio antes de sua
formatura, ou se constituir sociedade com Mariano.

• Quanto ao modo de atuação

Ela é suspensiva ou resolutiva. A suspensiva é o acontecimento futuro


e incerto a partir do qual se iniciam os efeitos do ato ou negócio jurídico. A
resolutiva é o acontecimento futuro e incerto do qual depende a extinção dos
efeitos do ato ou negócio jurídico. Sendo assim, a suspensiva impede que o ato
produza efeitos até a realização do evento futuro e incerto, por exemplo, te
darei um apartamento se casares. Não se terá adquirido o direito, enquanto
não se verificar a condição suspensiva.
A resolutiva faz extinguir, resolve o direito transferido pelo ato, assim
que ocorrer o evento futuro e incerto, por exemplo, comprarei seu quadro se
ele for aceito numa exposição internacional ou doarei meu apartamento se
você se casar. Pendente a condição suspensiva não há direito adquirido, mas
expectativa de direito ou direito eventual. Enquanto a condição não se verifica,
não se terá adquirido o direito a que o negócio jurídico visa.

• Quanto ao termo

O termo é o acontecimento futuro e certo do qual depende o exercício


ou a extinção de um direito. Ou seja, o dia em que começa ou se extingue a

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eficácia do negócio jurídico. Termo convencional é a cláusula que, por vontade
das partes, subordina os efeitos do ato negocial a um acontecimento futuro e
certo. O termo de direito é o que decorre da lei e o termo de graça é o que
provém de decisão judicial, em atenção a certas circunstâncias difíceis em que
se encontra o devedor de boa-fé, consistindo em uma dilação de prazo ou em
uma autorização de pagamento parcelado.
Assim, termo de graça é a dilação de prazo concedida ao devedor, seja
pelo juiz, em atenção a certas circunstâncias difíceis em que se encontre o
devedor de boa-fé, seja pelo credor, autorizando, por exemplo, pagamento
parcelado. O período que decorre entre o termo (inicial) e o termo (final)
chama-se prazo. O prazo é contado por unidade de tempo, ou seja, hora, dia,
mês e ano.

• Quanto ao modo ou encargo

Modo ou encargo é a cláusula acessória, em regra, aderente a atos de


liberalidade inter vivos (doação) ou causa mortis (testamento). Assim, é o ônus
imposto ao beneficiário de um negócio jurídico gratuito. O encargo produz os
seguintes efeitos:

• Não suspende a aquisição, nem o exercício do direito, salvo se


expressamente imposto no ato, conforme o art. 136 do CC.
• Sua ilicitude ou impossibilidade física ou jurídica leva a considerá-
lo como não escrito, conforme o art. 137 do CC.
• Gera uma declaração de vontade qualificada ou modificada que
não pode ser destacada do negócio, daí sua compulsoriedade, de modo
que a pessoa que foi beneficiada por uma doação ou legado deverá
cumprir o encargo, sob pena de se revogar a liberalidade.
• Podem exigir o seu cumprimento o próprio instituidor, seus
herdeiros, as pessoas beneficiadas ou representantes do Ministério
Público.

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• A resolução do negócio jurídico em virtude de inadimplemento do
modo não prejudica direitos de terceiros.

Assim, a condição constitui uma cláusula, inserida no negócio jurídico,


referente a evento futuro, do qual dependem os efeitos do ato. O termo é o
momento, ou o fato que marca o início (termo inicial) ou o fim (termo final) de
um direito, de uma obrigação, ou de um prazo. Encargo é a imposição de fato
ou tarefa acessória, exigida para se considerar válido o negócio jurídico, ou
cumprida a obrigação.

4.5 DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Os atos jurídicos podem ser anulados se forem viciados por algum dos
defeitos previstos nos arts. 138 a 165 do CC. São eles:

• Erro ou Ignorância:

Segundo o art. 138, “são anuláveis os negócios jurídicos quando as


declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser
percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do
negócio”. Assim, erro é a falsa noção sobre alguma coisa. Equivale à
ignorância, que é a ausência de conhecimento. Só anula o ato jurídico o erro
essencial ou substancial, por exemplo, fazer uma doação, pensando em se
tratar de venda; comprar um quadro de um pintor, pensando que é de outro.
Agora, não anula o ato decorrente de erro acidental, por exemplo,
comprar uma casa com duas janelas de frente, pensando que tinha quatro.
Assim, o erro pode ser de fato quando tiver noção falsa das circunstâncias e de
direito, que só pode ser alegado quando não objetive descumprir a lei, admite-
se para afastar alegação de má-fé.

• Dolo:

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Segundo o art. 145, “são os negócios jurídicos anuláveis por dolo,
quando este for a sua causa”. Assim, dolo é o artifício empregado para enganar
alguém (não confundir com dolo do direito penal). Ou seja, é o induzimento
malicioso à prática de um ato, prejudicial ao seu autor, mas proveitoso ao autor
do dolo ou terceiro.
Para anular o ato o dolo deve ser principal, isto é, quando este for a
sua causa.

• Coação:

Segundo o art. 151, “a coação, para viciar a declaração da vontade, há


de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e
considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens”. Assim, coação é
a violência física ou moral que impede alguém de proceder livremente. Ou seja,
coação é toda ameaça ou pressão exercida sobre um indivíduo para forçá-lo,
contra a sua vontade, a praticar um ato.

• Estado de perigo:

Segundo o art. 156, “configura-se o estado de perigo quando alguém,


premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave
dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa”.
Assim, estado de perigo caracteriza-se quando uma pessoa assume obrigação
excessivamente onerosa, para salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave
dano, conhecido pela outra parte.

• Lesão:

Segundo o art. 157, “ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente
necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da prestação oposta”. Assim, a lesão ocorre quando

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uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.

• Fraude contra credores:

Segundo o art. 158,

os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida,


se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à
insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos
credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. (CC, art.
158).

Assim, pratica fraude contra credores o devedor insolvente, ou na


iminência de o ser, que desfalca seu patrimônio, onerando ou alienando bens,
subtraindo-os à garantia comum dos credores. Fraude ocorre quando o
devedor insolvente, ou na iminência de o ser, desfalca seu patrimônio,
onerando ou alienando bens, subtraindo-os à garantia comum dos credores.
E ainda caracteriza a fraude pela simulação de dívidas, pagamento de
dívida não vencida, remissão de dívida, etc., desde que esses atos acarretem a
insolvência do devedor. Assim, esses atos fraudulentos podem ser anulados.

4.6 A NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

A falta de algum elemento substancial do ato jurídico torna-o nulo


(nulidade absoluta) ou anulável (nulidade relativa). A nulidade vem a ser a
sanção, imposta pela norma jurídica, que determina a privação dos efeitos
jurídicos do negócio praticado em desobediência ao que prescreve. Portanto,
duas são as espécies de nulidade admitidas em nosso ordenamento, a
absoluta e a relativa.

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A nulidade absoluta é decretada no interesse de toda a coletividade,
tendo alcance geral e eficácia erga omnes. A relativa é pronunciada em
atenção ao interesse do prejudicado ou de um grupo de pessoas. Será
considerado nulo o negócio jurídico quando:
• Celebrado por pessoa incapaz;
• For ilícito, impossível o seu objeto;
• Os motivos determinantes, comuns a ambas as partes,
forem ilícitos;
• Não revestir a forma prescrita em lei;
• For preterida alguma solenidade que a lei considere
essencial para a sua validade;
• Tiver por objeto fraudar a lei imperativa;
• A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática,
sem cominar sanção.

A nulidade absoluta deve ser pronunciada de ofício, pelo juiz, quando


conhecer do ato ou dos seus efeitos. O ato nulo não deve ser convalidado nem
ratificado. O ato anulável (nulidade relativa), ao contrário, pode ser ratificado
pelas partes. Só os interessados diretos podem alegar a nulidade relativa. O
Ministério Público não pode argui-la e o juiz não pode declará-la de ofício, sem
provocação da parte.
No CC de 2002, a simulação figura entre os atos anuláveis, como
defeito do ato jurídico. A simulação consiste na realização de um negócio
jurídico aparente, que corresponde à real intenção das partes. Trata-se de ação
bilateral, para enganar terceiros ou contornar a lei. Ou seja, é uma declaração
enganosa da vontade, que visa produzir efeito diverso do ostensivamente
indicado.
Diz-se absoluta a simulação quando as partes não desejam realizar
negócio algum, como na compra e venda fictícia, entre amigos, só para
ludibriar credores. A simulação relativa ocorre quando o negócio jurídico é um
disfarce, para a obtenção dos efeitos de um outro negócio, constitutivo do

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verdadeiro objetivo das partes, por exemplo, uma compra e venda para
disfarçar uma doação.

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