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UNIDADE III

TEORIA DO CRIME

1. Introdução:

- O que é crime?

1.1. Conceito de crime:

I – Material: é toda lesão ou exposição a perigo (crimes de mera conduta) capaz


de comprometer as condições de existência fundamentais para a vida em sociedade.
Conduta que viola os bens jurídicos mais importantes.

II – Formal: sob o aspecto formal, crime seria toda conduta que atentasse, que
colidisse frontalmente contra a lei penal editada pelo Estado.

Na verdade, os conceitos formal e material não traduzem com precisão o que seja
crime.

III – Analítico (ou estratificado): Analisa os elementos que compõem a infração


penal.

- Fato típico, ilícito e culpável (teoria tripartida).

- Fato típico e ilícito. A culpabilidade é um pressuposto da pena. O crime ocorreu,


mas o agente não merece pena (teoria bipartida).

- Fato típico, ilícito, culpável e punível (teoria quadripartida). Ver art. 107, CP.

1. Conduta:

1.1. Elemento subjetivo: dolo e culpa

- Temos a conduta como primeiro elemento integrante do fato típico. Conduta é o


sinônimo de ação, de comportamento humano, seja comissivo (positivo) ou omissivo
(negativo), podendo ainda ser dolosa ou culposa.

- Não é possível penalizar um cavalo, uma máquina, uma pessoa jurídica (exceto
crime ambiental, ver art. 225, § 3º da CF/88).

- Ao autor da prática do fato podem ser imputados dois tipos de condutas: dolosa
ou culposa.
- Dolo: Há quando o agente quer diretamente o resultado ou assume o risco de
produzi-lo.

- Culpa: Quando o agente dá causa ao resultado ao infringir o seu dever de


cuidado, atuando com negligência, imprudência ou imperícia.

- Art. 18, § Ú: A regra do Código Penal é de que todo o crime seja doloso, somente
sendo punida a conduta culposa quando houver previsão legal expressa nesse sentido.

1.1.1. Fato típico doloso (elemento subjetivo):

- O art. 18, I, assinala que o crime será doloso “quando o agente quis o resultado
ou assumiu o risco de produzi-lo”. Assim, o Código penal adotou a teoria da vontade,
ou seja, só há dolo quando o agente antevê e quer o resultado.

- O dolo é construído por dois elementos:

I – Cognitivo: que é o conhecimento ou consciência do fato constitutivo da ação


típica. Assim, deve ter consciência da ação!

II – Volitivo: que é a vontade de realizá-la ou não se importar com sua ocorrência.

- Não existe dolo subsequente ou antecedente: o dolo deve ser atual.

1.1.1.1 Espécies de dolo:

a. Dolo direto ou determinado: ocorre quando o agente quer produzir um


resultado determinado (teoria da vontade);
- Exemplos de tipos penais que só aceitam o dolo direto: art. 138, § 1º; art. 180.

b. Dolo eventual: ocorre quando o agente não quiser diretamente a realização do


tipo, mas aceita-lo como possível ou até provável, assumindo a produção do resultado. É
a probabilidade do resultado e sua tolerância.

- Sábia distinção entre os dolos: “o primeiro é a vontade por causa do


resultado; o segundo é a vontade apesar do resultado”.

1.1.1.2. Outras possibilidades interpretativas do dolo:

a. Dolo de 2º grau: o agente tem a vontade de praticar um resultado principal,


mas vê como inevitável a produção de um resultado secundário, porém necessário (seja
direto ou eventual). Ex. para matar um passageiro era preciso matar o motorista. Ex.2:
explosão de uma fábrica.

b. Dolo geral (erro sucessivo): Acredita já ter praticado o crime, mas consuma
com o ato seguinte. Ex.: Pensa já ter matado, mas morre na verdade afogado (ou pela
queda da janela do apartamento).
c. Aberratio causae (causalidade diversa): Pratica a conduta que levaria ao
resultado, mas o resultado se dá uma causa distinta. Ex.: Jogo na água para morre afogado,
mas morre por causa da batida da cabeça na pedra.

d. Dolo de dano: ocorre quando o agente quer ou assume o risco de causar lesão
a um bem jurídico;

e. Dolo de perigo: ocorre quando o agente quer ou assume o risco de expor o


bem jurídico a um perigo de lesão.
Ex.: Art. 250 – incêndio, art. 130.

f. Dolo alternativo: Tanto faz atingir um ou outro resultado.

1.1.2. Fato típico culposo (elemento subjetivo):

- Culpa é a inobservância do dever objetivo de cuidado manifestada numa conduta


produtora de um resultado não querido, mas objetivamente previsível.

- O art. 18, II, assinala que o crime será culposo quando o agente deu causa ao
resultado por imprudência, negligência ou imperícia. Ou seja, houve uma inobservância
do dever objetivo de cuidado.

1.1.2.1. Espécies de culpa: o Código penal brasileiro não distingue culpa


consciente e inconsciente para dar-lhes tratamento diverso, embora doutrina e
jurisprudência valorem as espécies de maneira diferente.

a. Culpa inconsciente: O agente não prevê e nem assume o risco de um resultado


que era previsível. O sujeito atua sem se dar conta de que sua conduta é perigosa, como
um desligamento da realidade.

b. Culpa consciente: O agente penal prevê o resultado, mas não quer e nem
assume o risco de produzi-lo, acreditando (confia convictamente) que irá evita-lo ou que
o resultado não ocorrerá.
- Segundo a doutrina e a jurisprudência dominantes, a censurabilidade da conduta
é maior e deverá ser sopesada no momento da dosimetria.

* Culpa consciente x dolo eventual: resume-se à aceitação ou rejeição da


possiblidade de produção do resultado.
- Persistindo a dúvida, dever-se-á concluir pela solução menos grave em pró do
réu.

1.1.2.2. Elementos do fato típico culposo:

a. Conduta humana voluntária: comissiva ou omissiva.

b. Produção de um resultado e nexo causal: Não querido, tampouco assumido


pelo agente. O resultado é inerente ao crime culposo. Este fato não tem existência real
sem o resultado. É necessário o nexo causal entre a conduta e o resultado. Não cabe
tentativa, por exemplo.

c. tipicidade: É preciso que haja uma previsão legal para que uma conduta culposa
seja punível. Art. 18, § Ú.
- Exercitar a analogia in malam partem.

d. previsibilidade objetiva: é a antevisão do resultado por uma pessoa dotada de


prudência e discernimento. Previsibilidade de um homem médio.

e. ausência de previsão do agente*: o agente não prevê. Exceto na culpa


consciente.
Ex.: Atropela criança de madrugada. Não direito penal objetivo.

f. inobservância do dever objetivo de cuidado: significa reconhecer o perigo


para o bem jurídico tutelado e preocupar-se com as possíveis consequências que uma
conduta descuidada pode produzir. Imprudência, imperícia, negligência.

- Modalidades de Culpa: São preciosismos técnicos que auxiliam na


interpretação de uma conduta culposa. Alguns códigos internacionais preferem utilizar o
termo “delitos imprudentes”. Vamos à análise das nossas modalidades:

I. Imprudência: É a prática de uma conduta arriscada ou perigosa. Ocorre quando


o agente age sem cautela. Ex.: Dirigir em alta velocidade ou embriagado.

II. Imperícia: Falta de capacidade, aptidão. É a falta de conhecimento técnico,


teórico ou prático para o exercício de arte, atividade ou profissão. Ex.: Dirigir sem
carteira.

III. Negligência: É a displicência no agir, a falta de precaução, a indiferença. O


agente é desleixado com a cautela exigida. Ex.: deixar arma ao alcance de crianças.

- O fato típico é culposo, portanto, quando o agente dá causa, involuntariamente,


a um resultado. Diferentemente do dolo, não se pune um fim ilícito, mas uma conduta
mal dirigida.

- A regra no sistema penal brasileiro é que a forma culposa só é punida se houver


previsão expressa em lei (art. 18, § Ú).

1.1.2.3. Concorrência e compensação de culpas:


- Há concorrência quando dois indivíduos, um ignorando o outro, concorrem
culposamente para a produção de um resultado. Não há que se falar em concurso de
pessoas quando não há o liame subjetivo. Os agentes respondem isoladamente pela
autoria colateral e os fatos ocorridos.

- A compensação é inadmitida no direito penal. Assim, se duas pessoas agirem


culposamente e derem causa a um resultado lesivo, haverá concorrência de culpas,
devendo ambas, responder pelo crime. Somente a culpa exclusiva da vítima exclui a do
agente.
1.1.3. Fato típico preterdoloso (preterintencional): é quando um agente quer
um resultado (dolosamente), todavia o resultado vai além e o agente acaba produzindo
um resultado mais grave (não desejado, a título de culpa). “Age com dolo no antecedente
e culpa no consequente”. Trata-se de crime qualificado pelo resultado. Ex.: art. 129, § 3º.
- Ver art. 19, CP.

* Diferença entre crime preterdoloso e crime qualificado pelo resultado:


Tem-se utilizado como expressões sinônimas, porém há diferença.

- O raciocínio é simples: nunca se conseguiria matar alguém sem ofender sua


integridade corporal, enquanto para matar alguém não se terá que necessariamente fazê-
lo abortar.

- Assim, enquanto a lesão corporal seguida de morte (art. 129, § 3º) seria
preterdolosa, o aborto seguido da morte do agente (art. 125, 126 e 127) seria crime
qualificado pelo resultado.

1.2. Condutas comissivas e omissivas:

1.2.1. Comissivos: praticados mediante ação. Nessas hipóteses, diz-se que a


conduta praticada pelo agente é positiva, ou seja, o agente atua com uma finalidade. Ex.:
Furto (art. 155, CP).

1.2.2 Omissivos: Praticados mediante omissão. Diz-se que a conduta praticada


pelo agente é negativa. Ao contrário da hipótese anterior, há uma abstenção de uma
atividade que era imposta pela lei ao agente (juridicamente exigida). É um não-
atendimento da ação esperada, que devia e podia ser praticada. Ex.: Omissão de socorro
(art. 135, CP); arts. 244, 246, 269, 305, 319, 356.

- Os crimes omissivos podem ser próprios (puros ou simples) ou impróprios


(comissivos por omissão ou omissivos qualificados):

* Grande diferença: O primeiro não exige o resultado naturalístico, o segundo


exige.

1.2.2.1. Omissivos próprios: são os que objetivamente descrevem uma conduta


negativa, um não fazer ao que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão da
norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico. Existe um “dever
genérico de proteção”.
- Ou seja, a própria omissão é o resultado penal.

1.2.2.2. Omissivos impróprios: Estão referidos no § 2º do art. 13 do CP. Para


estes sujeitos existe um “dever especial de proteção”. O agente se encontra na posição de
garante (garantidor), isto é, é o dever de agir de quem assumiu a responsabilidade de
evitar o resultado.
- Se não houver produção de resultado naturalístico não há que se falar em crime.
- A lei penal exige a conjugação de 2 situações: I – o dever de agir (alíneas); II –
O poder de agir (o que se exige é que o agente pelo menos tente impedir o resultado).
- A omissão só se torna penalmente relevante quando o agente pode agir sem pôr
a sua própria vida em risco, pois a lei não obriga ninguém a ser herói ou santo.

a) Tenha ele, por lei, a obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância. Ex.:
a guarda dos pais; os policiais, salva-vidas e seguranças; o agente penitenciário com os
presos e etc.
- Exemplos de leis: arts. 1634 e 1566, IV, CC; arts. 384 e 231, CC. LEP.

b) De outra forma, assuma a responsabilidade de impedir o resultado. Ex.: a


vizinha que se oferece para o olhar a criança; um guia em uma excursão perigosa.

c) com o seu comportamento anterior, tenha criado o risco da ocorrência do


resultado. Ex.: jogar uma pessoa que não sabe nadar na piscina de brincadeira e depois
não ajudar a retirá-la da água.

1.3. Finalismo de Hans Welzel (Modelo finalista da ação):

- Introdução: A dogmática da Teoria do crime, como a conhecemos hoje, inicia


ao final do século XIX, fruto do positivismo científico, que afastava valorações filosóficas
e inseria raciocínios naturais e físicos, inclusive nas ciências sociais, como a jurídica.
Assim, pretendia resolver todos os problemas jurídicos nos limites do direito e sua
interpretação, exagerando no formalismo.

- Passamos por causalismo, modelo neoclássico e hoje países como a Alemanha


adotam a corrente funcionalista.

- Ação humana é o exercício da atividade ‘final’ e não puramente ‘causal’. [...] o


homem, graças ao seu saber causal, pode prever, dentro de certos limites, as
consequências possíveis de sua conduta. [..] A atividade final é uma atividade dirigida
conscientemente em função do fim [...]. A finalidade é “vidente” e a causalidade é “cega”.

- Conceito ontológico: o direito pertence ao mundo do ser, logo não pode criar
uma conduta artificial. Ex.: determinar que a gravidez deve se dar em 3 meses.

- Não pode mais conceber dolo e culpa fora da ação, pertencendo agora ao fato
típico.

- Retira do dolo a consciência da ilicitude, separando os elementos.

1.4. Ausência de conduta:

- Se o agente não atua dolosa ou culposamente, não há ação. Exclui a tipicidade


por falta de conduta intencionalmente dirigida a um fim.

Isso pode acontecer quando:


a) força irresistível: Pode se dar através da ação da natureza ou de um terceiro.
Ex.: uma pessoa esbarra em outra, causando lesões corporais leves, ao ser
arrastada por um vento forte.
Ex. 2: Coação física – Pega a mão de um sujeito e atira contra a sua vontade. O
sujeito não é mais que um instrumento na mão do verdadeiro agente.

b) movimentos reflexos: Há situações em que o organismo reage a determinados


impulsos e, em virtude disso, podem advir lesões ou danos.
Ex.: Indivíduo toma um choque imprevisível e em um ato reflexo choca outra
pessoa. Episódio do Chaves.
Ex. 2: Abelha que aferroa o motorista.
Ex. 3: Tosse ou espirro.

c) estados de inconsciência: São situações em que o agente se encontra em total


inconsciência. Ex.: sonambulismo; ataques epiléticos; hipnose.

2. Resultado (art. 13, CP):

- É a modificação do mundo exterior provocada pelo comportamento humano.


Ex.: No homicídio temos a ação (desferir facadas) e a modificação do mundo exterior,
que constitui o resultado (morte da vítima).

2.1. Teoria:

a) Teoria naturalística: São crimes que exigem a produção de um resultado.


Segundo esta concepção, o resultado é a modificação do mundo externo causada pelo
comportamento humano e perceptível pelos sentidos.

- Assim, os crimes podem ser:

I – Crimes materiais: são aqueles que descrevem condutas e exigem produção


de resultado naturalístico, ou seja, a consumação só é atingida com a produção do
resultado.
Ex.: furto, lesões corporais, homicídio. Arts. 121, 155, 157, 129, CP.

II – Crimes formais (crime de atividade): São crimes de consumação


antecipada. são aqueles que descrevem conduta e resultado (o resultado está no tipo).
Todavia, o legislador não exige a produção do resultado para a consumação.
- O legislador não exige a produção do resultado para que o crime atinja a
consumação. Assim, sempre que houver expressões como “com o intuito de”; “com o
objetivo de”; “com a finalidade de”, para que o crime se consume não há a necessidade
da produção do resultado.

Ex.: Arts. 158, 251, 252, 317, 130, 132, 135.

- art. 158 (extorsão): a conduta “constranger alguém, mediante violência ou grave


ameaça” – e o resultado “com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem
econômica”.
III – Crimes de mera conduta (crime de atividade): são aqueles em que o
legislador apenas descreve o comportamento (a conduta), não existindo resultado
naturalístico que o vincule.
Ex.: art. 150, CP, art. 306, CTB (Lei 9503/97), porte de armas (lei 10.826/03), art.
253.

b) Teoria jurídica ou normativa: de acordo com esta teoria, o resultado da


conduta é a lesão ou perigo de lesão de um bem jurídico penalmente protegido pelo
ordenamento (afetação jurídica). Ou seja, o resultado é aferido pela ofensividade ou
lesividade que a conduta apresenta a um bem jurídico. Assim, se uma conduta não causar
lesão ou ameaça de lesão, haverá irrelevância jurídica do resultado (fato atípico).

- Assim, os crimes podem ser:

I – Crimes de dano ou de lesão: são aqueles que se aperfeiçoam com a efetiva


lesão ao bem jurídico. A ausência de lesão pode configurar tentativa ou indiferente penal.
Ex.: leões corporais; homicídio.

II – Crimes de perigo concreto: são aqueles que se aperfeiçoam com a ocorrência


da mera probabilidade de dano, ou seja, a consumação se dá com a simples criação do
perigo.
- O perigo pode ser concreto: precisa ser comprovado. Ex.: art.250 e seguintes,
art. 132 (Perigo para a vida ou a saúde de outrem).

II – Crime de perigo abstrato: O perigo pode ser abstrato: há quando se presume,


ou seja, quando não necessita a demonstração do perigo. Ex.: art. 130 (perigo de contágio
venéreo) e art. 253.

* Conclusão: Assim, podemos concluir que há crime sem resultado


naturalístico, todavia, não há crime sem resultado jurídico.

3. Da relação de causalidade (nexo causal):

- O terceiro elemento do fato típico é o nexo de causalidade. É o vínculo, o elo, o


liame estabelecido entre conduta e resultado naturalístico (portanto, somente aferido nos
crimes que exigem resultado ou de dano ou lesão – crime materiais e omissão imprópria).

- A doutrina diz que é somente aplicável ao crimes de resultado material.


Discordo, pois pode levar a resultados jurídicos.

- Em outras palavras, estabelecer nexo de causalidade nada mais é que estabelecer


qual é a conduta ou as condutas que deverão responder por um resultado.

- Ex.: A mata B a facadas (art. 121, CP). Há um comportamento humano (conduta)


e a consequência da morte (resultado). Entre um e outro há a relação de causalidade, pois
a vítima faleceu em consequência dos ferimentos produzidos pelos golpes de faca.
3.1. Teoria da equivalência dos antecedentes causais (conditio sine qua non):

- O nosso código, ao resolver a questão do nexo de causalidade, adotou esta teoria.


É o que reza o art. 13, caput, 2ª parte, que “considera causa a ação ou omissão sem a
qual o resultado não teria ocorrido”.

- “Causa” é ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Isso
significa que todos os fatos que antecedem o resultado se equivalem, desde que
indispensáveis à ocorrência.

* 1º passo: Regressão em busca das causas do resultado


* 2º passo: Processo hipotético de Thyren
* 3º passo: Localização do dolo ou da culpa

* 1º passo: Regressão em busca das causas do resultado:

- Havendo necessidade dessa regressão em busca de apontar todas as causas que


contribuíram para o resultado, chegaríamos a uma regressão ad infinitum.

- Verifica-se se o fato antecedente é causa do resultado a partir de uma eliminação


hipotética. Se, suprimido mentalmente o fato, viera a ocorrer uma modificação no
resultado, é sinal de que aquele é causa deste último. Devemos fazer uma regressão
almejando descobrir tudo aquilo que exercido influência na sua produção.

- Exemplo: A mata B. A conduta típica possui alguns antecedentes, dentre os quais


poderíamos sugerir os seguintes: 1 – Produção do revólver; 2 – compra legal do revólver
pelo agente; 3 – refeição tomada pelo homicida; 4 – emboscada; 5 – disparos contra a
vítima; 6 – resultado morte. – A ordem deve ser feita ao contrário.

* 2º passo: Processo hipotético de Thyren

- Procurando estabelecer limitações à teoria, o professor sueco Thyrén criou o


chamado processo hipotético de eliminação. Para considerarmos fato como causa de
resultado é preciso que façamos um exercício mental. Quando a ação é causa?
- São os fatos fundamentais para a ocorrência do resultado.
- Responde-se: Dentro do exemplo dado na cadeia acima, excluindo-se o fato sob
número 3, o evento ainda teria acontecido. Logo, todos os outros fatos são fundamentais
para a ocorrência do fato.

* 3º passo: Localização do dolo ou da culpa

- No exemplo acima, atribuiríamos o resultado, em virtude de uma regressão, até


mesmo ao proprietário da empresa encarregada da produção do revólver. Não ficariam
livres nem mesmo o pai e a mão do agente, pois se não o tivessem gerado, não teria ele
cometido o delito.

- Contudo, devemos interromper a cadeia causal no instante em que não houver


dolo ou culpa por parte daquelas pessoas que tiveram alguma importância na produção
do resultado.
- Dessa forma, saberemos se há “nexo de causalidade” no caso concreto, ao
utilizarmos as duas teorias, que se complementam: Teoria da Equivalência dos
Antecedentes Causais (elementos objetivos) + Análise do Dolo ou da Culpa
(elementos subjetivos).

- A teoria da equivalência dos antecedentes situa-se apenas no terreno do elemento


físico ou material do delito, sendo mister a consideração da causalidade subjetiva, que é
a presença do dolo e da culpa, para que se evite o regressus ad infinitum, ou seja, o
regresso até o primeiro ato do desencadeamento de toda a conduta.

3.2. Teoria da Imputação objetiva:

- Apresentada pelo alemão Claus Roxin. Difundida na Alemanha e na Espanha.


- Significa na verdade a “não imputação objetiva”.

* 1º passo: Regressão em busca das causas do resultado


* 2º passo: Processo hipotético de Thyren
* 3º passo: Análise dos riscos permitidos (tolerados) e dos riscos proibidos (não
tolerados)
* 4º passo: Localização do dolo ou da culpa

- Muitas vezes o agente tem um querer passivo, inapto ao dolo, não possuindo
sequer o domínio do fato para se falar em autoria.

- A análise se dá antes do exame do dolo e da culpa.

*Análise dos ricos proibidos e riscos permitidos.

1- Diminuição do risco.
2- Criação de um risco juridicamente relevante
3- Incrementação do risco permitido
4- Âmbito de proteção da norma
5- Princípio da autonomia da vítima (colocação em perigo).
6- Princípio da confiança
7- Atribuição do resultado a diversos âmbitos de responsabilidade

- Exemplos: comprar passagem aérea pra sogra; alimento envenenado; pincel


contaminado.

- Exemplos de julgados:

• STJ: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7165977/habeas-corpus-hc-
46525-mt-2005-0127885-1-stj/relatorio-e-voto-12897534
• TJ-MA: https://tj-ma.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4705586/apelacao-
criminal-apr-226692006-ma/inteiro-teor-101733932?ref=juris-tabs

3.3. Espécies de causas (concausas)


- São causas que se unem para formar um resultado. Funciona como outra restrição
à teoria da conditio sine qua non. Existem as “causas” absolutamente independentes e as
relativamente independentes:

a) Causas absolutamente independentes: não podem ser atribuídas ao agente.


Elas produzem por si sós o resultado, não tendo qualquer relação com a conduta praticada
pelo agente. Neste caso, o nexo causal é totalmente afastado, uma vez que o resultado
ocorreria de qualquer maneira, independentemente da conduta do agente, que não
responderá por ele. Dividem-se em:

1 – Preexistentes. Ex.: Alguém pretendendo suicidar ingere uma substância


venenosa, e, quando já estava a beira da morte recebe um ferimento, que não apressa sua
morte, que não a determina nem a teria causado. Há uma causalidade antecipada;

2 – Concomitantes. Ex.: A atira em B no exato momento em que este sofre um


ataque cardíaco, ocorrendo a morte por força exclusiva deste;

3 – e supervenientes. Ex.: A dá veneno a B, que vem a falecer em razão de


desabamento no momento em que ingeria o veneno.

* Respondem pelo conatus, ou seja, a sua intenção até onde produziu o


resultado. Responde pela tentativa se entra na fase de execução.

b) Causas relativamente independentes: são aquelas que auxiliam ou reforçam


o processo causal iniciado com o comportamento do sujeito. Há, portanto, uma soma de
esforços, uma soma de energias que produz o resultado. Dividem-se, também, em:

1 – Preexistentes. Ex.: A fere B, hemofílico, que vem a falecer em razão dos


ferimentos e também em razão dessa condição fisiológica;

2 – concomitantes: Dois indivíduos, isoladamente, ministram veneno para uma


pessoa e ela morre de overdose. Se fosse somente um veneno não haveria o resultado
morte.
- Eu discuto este resultado.

3 - supervenientes: Duas possibilidades:

- Que se somam: responde pelo resultado!

- Por si só: Neste último caso, surge outro processo causal que, isoladamente,
produz o evento, não obstante a causa seja relativamente independente, pois ela “por si
só” causou o resultado (art. 13, § 1º, do CP). Único positivado no CP.

- Ex.: Cidadão que, mortalmente ferido por outro, é transportado para um hospital
onde vem a falecer em consequência das queimaduras provocadas por um incêndio”. A
causa provocadora da morte é relativamente independente em relação à conduta anterior:
se a vítima não tivesse sido ferida, não seria levada ao hospital.
- STJ – deixar de ser atendido por falta de médico acaba respondendo por
homicídio.

- Além disso é preciso uma análise da proporcionalidade e a significância da lesão.


Ex.: tétano que evolui.

4. Tipicidade formal

- A fragmentariedade do Direito Penal tem como consequência uma construção


tipológica individualizadora de condutas que considera gravemente lesivas de
determinados bens jurídicos que devem ser tutelados.

- O tipo alberga a descrição abstrata de um comportamento considerado criminoso


pela legislação penal. É o tipo que individualiza a conduta lesiva a um ou mais bens
jurídicos e que configura crime. Em consequência, se uma conduta se enquadra nessa
definição típica abstrata contida na lei penal, dizemos que há tipicidade da conduta. Se
não há enquadramento a conduta será atípica.

- Tipicidade, portanto, é estabelecer a ligação fato-tipo (adequação típica), ou


seja, é ligar a conduta praticada por alguém ao tipo penal. A ausência do tipo não poderá
ser suprida pela analogia, eis que feriria o princípio da reserva legal.

- Correlação entre tipicidade e ilicitude: A tipicidade é um indício da


antijuridicidade. Todavia, se houver uma causa de exclusão da ilicitude esta tipicidade
não será ilícita.

4.1. Adequação típica (tipicidade):

a) Tipo objetivo: É a leitura e intepretação de todas as elementares que compõem


um tipo penal.

b) Tipo subjetivo: Elementos subjetivos, que são o dolo e a culpa.

4.1.1. Outras classificações de tipicidade e tipo penal:

a. Adequação típica por subordinação imediata ou direta: ocorre quando há


perfeita correlação entre conduta e tipo, sem a necessidade de qualquer outra norma para
o enquadramento típico.
Ex.: A atirou e matou B – o enquadramento típico será feito diretamente no art.
121 do CP.

b. Adequação típica por subordinação mediata ou indireta: dá-se quando a


conduta não se enquadra de forma direta ao tipo e há necessidade de se encontrar uma
norma de extensão típica.
Ex.: A atirou em B mas não o matou – o enquadramento típico necessita de uma
adequação típica mediata ou indireta. Art. 121 + art. 14.
Ex.: Crimes omissivos impróprio – art. 13, § 2º.

c) Norma penal em branco (primariamente remetidas): É aquela cujo preceito


primário está incompleto, indeterminado, vago, lacunoso, precisando de outra norma de
natureza penal ou extrapenal para ser plenamente determinado.

Ex.: Lei 11.343/06 – Lei de Drogas registra, no art. 28, “porte de droga”. Todavia,
a lista de substancias que são consideradas drogas não está na lei, e sim em uma portaria
da Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, criada pela Lei 9782/99. Ver art.
66 da Lei de drogas.

d) Norma penal incompleta ou imperfeita (secundariamente remetidas): É


aquela cujo o preceito secundário (pena) é incompleto, indeterminado, necessitando,
portanto, de complemento.

Ex.: Art. 304 do CP.

e) Crime permanente, habitual, instantâneo, norma penal invertida,


plurissubjetivo e etc...

4.2. Iter criminis

- Atenção: Só tem cabimento nos crimes dolosos, não existindo nos delitos
culposos.
* Exaurimento: Ex.: 317, 158.

4.2.1. Consumação e tentativa:

- O CP, em seu art. 14, preocupou-se em conceituar o momento da consumação


do crime, bem como quando o delito permanece na fase de tentativa (conatus).

4.2.1.1. Consumação:

- Art. 14, I, CP.

- Diz-se consumado o crime quando nele se reúnem todos os elementos de sua


definição legal. Conforme classificação doutrinária, cada crime tem sua particularidade.
Assim, nem todos os delitos possuem o mesmo instante consumativo, ou seja, a
consumação varia de acordo com a infração penal selecionada pelo agente. Assim,
podemos dizer que ocorre a consumação nos crimes:

a) materiais e culposos: quando se verifica a produção do resultado naturalístico,


ou seja, quando há a modificação no mundo exterior. Ex.: art. 121, CP;
b) omissivos próprios: com a abstenção do comportamento imposto ao agente.
Ex.: art. 135, CP;

c) mera conduta: com o simples comportamento previsto no tipo, não se exigindo


qualquer resultado naturalístico. Ex.: violação de domicílio (art. 150);

d) formais: com a prática da conduta descrita no núcleo do tipo, impendentemente


da obtenção do resultado esperado pelo agente, que, caso aconteça, será considerado
como mero exaurimento do crime. Ex.: extorsão mediante sequestro (art. 159);

e) permanentes: enquanto durar a permanência, uma vez que a consumação se


prolonga no tempo. Ex.: sequestro e cárcere privado (art. 148).

f) habituais: quando ficar demonstrado um hábito, uma rotina, um cotidiano, um


estilo de vida.

4.2.1.2. Tentativa: De acordo com o art. 14, II, do CP, se considera crime tentado
quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do
agente.

- É a realização incompleta da conduta típica, um fragmento. Assim, a tentativa


(conatus) é uma ampliação típica do ponto de vista temporal, tornando típica uma conduta
que, sem ela, seria atípica.

- § Ú, art. 14: Determina uma causa obrigatória de diminuição da pena de 1/3 a


2/3. O quantum será determinado pela proximidade com a consumação.

- Elementos da tentativa: Para que se possa falar em tentativa é preciso que:

a) A conduta seja dolosa;


b) O agente ingresse na fase de execução do crime;
c) Não consiga chegar à consumação do crime por circunstancias alheias à sua
vontade.

- O CP adotou a teoria objetiva, ou seja, não levou em consideração a intenção do


agente, e sim a lesão ao bem jurídico. Não há um dolo próprio (o dolo de tentativa) para
o crime tentado. O dolo do agente é dirigido a realizar a conduta descrita no tipo penal.
Portanto, não há que se falar em elemento subjetivo da tentativa.

- Espécies de tentativa:

a) Imperfeita: o agente, por circunstâncias alheias à sua vontade, não consegue


realizar todos os atos executórios, sendo impedido de prosseguir na execução do crime.
O agente, nesse caso, é interrompido durante a prática dos atos de execução, não
chegando, assim, a fazer tudo aquilo que intencionava, visando consumar o delito. Ex.:
alguém toma a arma depois do primeiro disparo.
b) Perfeita, acabada ou crime falho: Ocorre quando o agente pratica todos os atos
de execução que tinha ao seu dispor, todavia, o crime não se consuma por circunstâncias
alheias à sua vontade. Ex.: agente dispara todos os projéteis que tinha na arma, mas não
consegue o êxito na morte da vítima que é salva por terceiro.

c) Branca ou incongruente: ocorre quando a vítima não é atingida. Ex.: joga ácido
visando a lesão corporal mas não acerta a vítima.

- Infrações que não admitem tentativa:

a. Contravenções penais (art. 4º da Lei de Contravenções Penais);


b. Crimes culposos:
c. Crimes preterdolosos: Não se fala em tentativa de lesão seguida de morte. O
consequente culposo impede a tentativa.
d. Crimes omissivos próprios: Ou o agente não faz aquilo que a lei determina e
consuma a infração, ou atua de acordo com o comando da lei e não pratica qualquer crime.
e. Crimes habituais: São delitos em que, para se chegar à consumação é preciso
que o agente pratique, de forma reiterada e habitual, a conduta descrita no tipo. Ex.: art.
282; art. 229.
f. Crimes unissubsistentes: É o crime no qual a conduta do agente é exaurida num
único ato. A execução e o resultado se dão em apenas um ato. Ex. Calúnia; Injúria;
difamação; desacato (art. 331).

Crime unissubsistente é o conjunto de um só ato (ato único). Exemplo: injúria


verbal. A realização da conduta esgota a concretização do delito. Impossível, por isso
mesmo, a tentativa.

Crime plurissubsistente é o constituído de vários atos, que fazem parte de uma


única conduta. Exemplo: roubo (violência ou constrangimento ilegal + subtração) etc.

- Punição da tentativa como delito autônomo: Em algumas ocasiões entendeu


por bem o legislador punir a tentativa como um delito autônomo, deixando, assim, de
ocorrer a aplicação da norma de extensão contida no art. 14, II. O próprio § Ú do art. 14
deixou transparecer essas situações excepcionais: “salvo disposição em contrário...”. Ex.:
art. 352.

5. Tipicidade material

Consiste numa efetiva lesão ou ameaça ao bem jurídico protegido. Esta Quando a
lesão ou ameaça não se der de forma intolerável, não há crime, pelo fato de estar afastada
a tipicidade material. Esta tipicidade pode ser afastada quando encontram-se presentes os
princípios da lesividade, insignificância, adequação social e alteridade, vejamos cada um
deles.

a) Princípio da insignificância: O princípio da insignificância, ou bagatela,


afasta a caracterização do crime, deixando de considerar o ato praticado como sendo um
crime. Mas para que possa ser aplicado é obrigatória a presença de alguns requisitos
definidos pelo STF:

(I) mínima ofensividade da conduta do agente,


(II) nenhuma periculosidade social da ação,
(III) reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e
(IV) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

b) Princípio da adequação social: De acordo com Santiago Mir Puig: “Não se


pode castigar aquilo que a sociedade considera correto” [sem ferir a Constituição
Federal].
- Ato obsceno (art. 234, CP)

Ex.: Furar relha, rodeio,

c) Princípio da lesividade:

d) Princípio da alteridade:

6. Causas que excluem a tipicidade

- São causas que excluem a tipicidade ou amenizam a imputação, retirando a


tipificação primária e aplicando a residual.

6.1. Desistência voluntária e arrependimento eficaz (art. 15):

- Alguns doutrinadores chamam de tentativa abandonada ou qualificada.

a) Desistência voluntária: Ocorre quando o agente, voluntariamente, interrompe


a execução do crime e evidentemente não atinge a consumação. Essa figura exige que a
desistência ocorra em meio à prática dos atos executórios, não podendo, pois, tê-los
esgotado.

- Nesse caso, como desistiu voluntariamente de prosseguir (e poderia prosseguir


se o quisesse), não irá responder por tentativa do crime que estava praticando, mas apenas
pelo crime praticado até então.

Ex.: O agente está em uma casa furtando e, depois de reunir todos os objetos na
sala, olha uma foto da família, escorre uma lágrima e resolve abortar a prática criminosa,
desistindo da empreitada. Responde, nesse caso, apenas por violação de domicílio (art.
150).

- Atenção: A desistência deve ser voluntária, e não necessariamente espontânea,


ou seja, não importa os motivos que levaram o agente a desistir no prosseguimento da
execução criminosa, o importante, aqui, é a interrupção por sua decisão.
- Diferença de tentativa: na tentativa o agente é interrompido durante os atos de
execução, ou esgota tudo aquilo que tinha ao seu alcance para chegar à consumação da
infração penal, que somente não ocorre em virtude de circunstâncias alheias à sua
vontade.

b) Arrependimento eficaz: ocorre quando o agente esgota todos os meios


executórios, mas, na sequência, antes da consumação, impede voluntariamente o
resultado por vontade própria, evitando a sua produção. Nesse caso, também responde
apenas pelos atos já praticados.
Ex.: Descarrega a arma na vítima para matá-la, todavia, esgotada a capacidade
ofensiva, resolve voluntariamente leva-la para o hospital e a salva.

- Dois requisitos são exigidos: voluntariedade e eficiência. Se o arrependimento


for ineficaz (a vítima morrer), a hipótese será de crime consumado.

- Diferença entre desistência voluntária e arrependimento eficaz: O primeiro,


o agente se encontra, ainda praticando os atos de execução; o segundo, o agente esgota
todos os recursos que estavam à sua disposição mas arrepende-se e impede a consumação
do resultado.

6.2. Arrependimento posterior: É um estímulo à reparação do dano. Está


prevista no art. 16 do CP. Trata-se de causa obrigatória de redução da pena que exige os
seguintes requisitos:

a. Crimes sem violência ou grave ameaça à pessoa; (art. 155, 163).


b. reparação integral do dano ou restituição da coisa (divergência: pode ser parcial,
desde que a vítima aceite);
c. ato voluntário do agente (não se exige espontaneidade);
d. até o recebimento da denúncia ou queixa pelo juiz. Se posterior, incide a
atenuante do art. 65, II, “b”, do CP.

- Redução entre 1/3 a 2/3.

- Predomina na doutrina e na jurisprudência o entendimento de que se efetivado


por uma agente, comunica-se a todos a causa de diminuição.

6.3. Crime impossível: Trata-se da tentativa inadequada, inidônea, impossível ou


quase-crime.
- De acordo com o art. 17 do CP, não haverá tentativa (o fato será atípico) se, por
ineficiência absoluta do meio empregado ou por impropriedade absoluta do objeto, for
impossível consumar o delito depois de iniciada a sua execução. Se a ineficácia ou
impropriedade forem relativas, haverá crime.

- Somente são puníveis os atos praticados pelo agente quando há alguma


possiblidade de o agente alcançar o resultado pretendido.

a) Absoluta ineficácia do meio:


- Meio é tudo aquilo utilizado pelo agente capaz de ajudá-lo a produzir o resultado
por ele pretendido. O meio pode ser um revólver, uma faca, um veneno e etc.

- Absolutamente ineficaz: é quando o meio que o agente se vale para cometer a


infração não possui a mínima aptidão para produzir os efeitos pretendidos. Sua natureza
é incapaz de alcançar o resultado pretendido.

- Exemplos: arma sem munição; troca de veneno por açúcar; falsificação


grosseira; contaminar com moléstia grave que não possui.

Exemplo concreto: A, pretendendo matar B, aperta o gatilho da arma várias vezes


e não ocorrem os disparos. Existe crime? R.: Vai depender da perícia.
R.1: Se o exame pericial apontar que a arma apresenta um defeito estrutural que
não permite os disparos, ou seja, não funcionaria em hipótese alguma, estamos diante de
meio absolutamente ineficaz.
R.2: Se a perícia apontar, todavia, que a arma apenas não disparou naquela
oportunidade, portanto, houve falha ocasional e ela está apta a disparar (mascou), haverá
tentativa de homicídio (circunstâncias alheias à vontade do agente).

- Relativamente incapaz: Dá-se quando, embora normalmente capaz de produzir


o evento intencionado, falha no caso concreto, por uma circunstância acidental na sua
utilização.

b) Absoluta impropriedade do objeto:

- Objeto: é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta do agente. Ex.: Se


alguém atira em outra pessoa que parecia dormindo, mas que na verdade estava morta,
não comete o crime de homicídio, haja vista que o objeto é absolutamente impróprio a
essa finalidade.

Outros exemplos: Tentar contaminar alguém com doença venérea que a suposta
vítima já possui.

Exemplo concreto: Médico faz manobras abortivas, contudo, o feto já estava


morto. Em razão da impropriedade absoluta do objeto material, estamos diante de crime
impossível.

- Relativamente impróprio: Fala-se quando a pessoa ou coisa contra a qual recai


a conduta do agente é colocada efetivamente numa situação de perigo.

Ex.: Ladrão, sabedor da quantia que José carregava no bolso, tenta roubar o
dinheiro no bolso esquerdo, mas se encontrava no direito. Nesse caso há tentativa.
- Seria absoluta impropriedade do objeto se José não carregasse nada no bolso.

* Diferença entre crime impossível e crime putativo: No primeiro existe uma


previsão no ordenamento jurídico da infração que pretende praticar. No segundo, o agente
crê em uma ação delituosa que existe somente em sua fantasia. Ex.: Conjunção carnal
com menina de 17 anos é estupro, e não é.
- Exercício: Dois disparos, crime impossível.

6.4. Erro de tipo (art. 20):

- É falsa percepção da realidade.

6.4.1. Erro de tipo essencial: É aquele que recai sobre as elementares, as


circunstâncias ou qualquer dado que agregue se determinada figura típica. É quando o
agente tem a falsa representação da realidade. Falta-lhe, na verdade, a consciência de que
pratica uma infração penal.

Ex.: Caçador atira em arbusto durante um safári, pensando que ali havia um animal
e mata um colega. – Nesse caso o agente erra no que diz respeito à elementar “alguém”
do art. 121, CP.

- Exemplos clássicos: o agente toma coisa alheia como própria; relaciona-se com
menor de 14 anos, supondo-a maior; contrai casamento com esposa casada,
desconhecendo matrimônio anterior; tem relações sexuais coma alguém supondo-se
curado de doença venérea.

6.4.1.1. Consequências: O erro de tipo, afastando a vontade e a consciência do


agente, exclui sempre o dolo. Entretanto, há situações em que se permite a punição em
virtude de sua conduta culposa, se houver previsão legal.

- Assim, podemos falar em erro de tipo invencível e vencível:

a) Erro de tipo invencível (escusável, justificável, inevitável): Ocorre quando


o agente, nas circunstâncias em que se encontrava, não tinha como evitá-lo, mesmo
tomando todas as cautelas necessárias. É o erro que qualquer um incorreria se estivesse
diante das circunstâncias em que ele se encontra.
- Nesse caso, não tendo havido dolo nem culpa, considera-se o fato atípico.

b) Erro de tipo vencível (inescusável, injustificável, evitável): ocorre naquelas


situações em que, se o agente tivesse atuado com a diligência exigida, poderia ter evitado
o resultado.
- Embora ao agente não responda pelo resultado a título de dolo, poderá ser-lhe
atribuído a título de culpa, se houver previsão legal.

- No exemplo do caçador devemos fazer o seguinte raciocínio:


a) o agente não queria matar alguém, mas um animal;
b) o agente não tinha consciência fática, o que afasta o dolo;
c) é preciso verificar se o erro em que ocorrera era escusável ou inescusável.
d) Se for escusável, o fato é atípico. Se for inescusável, responde a título de culpa
se houver previsão legal.
6.4.2. Descriminantes putativas (art. 20, § 1º): Descriminar (não é discriminar)
quer dizer transformar o fato em um indiferente penal.

- Quando falamos em putatividade, queremos nos referir àquelas situações


imaginárias que só existem na mente do agente

- Descriminantes putativas é quando conjugamos as causas do art. 23


(excludentes da ilicitude) com uma situação de putatividade, ou seja, imaginária que só
existe na cabeça do agente.
- É quando o agente atuou supondo encontra-se em uma situação de legítima
defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal, ou exercício regular
de direito.

Ex. 1: homem mata desafeto que iria pegar um cigarro (legítima defesa).
Ex. 2: capiau se desespera em um filme 3d e causa lesões (estado de necessidade).

- Regra do art. 20, § 1º - erro escusável e inescusável.

6.4.3. Erro determinado por terceiro (art. 20, § 2º):

- Responde pelo crime o terceiro que criou a situação. Ex.: filho de Bruce Lee.
Alguém pede pra você pegar uma bolsa que não é dela só para furtar.

- Consequências:
a. dolo: se provocou o erro dolosamente, responde por dolo;
b. culpa: se tiver causado o erro por culpa, responde culposamente.
c. O provocado: analisa se era escusável ou inescusável.

6.5. Teoria dos Erros:

- Ocorre o erro de tipo essencial quando o erro do agente recai sobre elementares,
circunstâncias, ou qualquer outro dado que se agregue à figura típica.

- Já o erro acidental, ao contrário do essencial, não tem o condão de afastar o


dolo (dolo ou culpa) do agente. Nesse caso ele age com a consciência da antijuridicidade
do seu comportamento, apenas se enganado quando a um elemento não essencial do fato
ou erra no movimento da sua execução.

- Poderá ocorrer o erro acidental nas seguintes hipóteses:


a) erro sobre o objeto: O agente gostaria de furtar uma pulseira de ouro mas subtrai
uma de latão. Responde pelo delito.

b) erro sobre a pessoa (§ 3º do art. 20): O erro cinge-se, especificamente, à


identificação da vítima, que em nada modifica a classificação do crime por ele cometido.
Nesse caso, o agente confunde a vítima.
Ex.: Faz emboscada para matar o pai e mata um vizinho.
- Nesse caso responderá como se tivesse ocasionado a morte de seu ascendente.
c) erro na execução (aberratio ictus) – art. 73: Ocorre quando por acidente ou erro
nos uso dos meios de execução, o agente atinge pessoa diversa da pretendida. Ex.: É o
caso do agente que querendo ferir um desafeto, erra o alvo e atinge um transeunte.
- Nesse caso responderá como se tivesse ocasionado a lesão na pessoa desejada.

d) resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) – art. 74: Nesse caso o erro
deverá incidir de coisa para pessoa. Ex.: Quer destruir uma vitrine e acerta uma pessoa.
- Nesse caso se afasta a tentativa e reponde por culpa no resultado.

7. Tipicidade conglobante:

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