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INTRODUÇÃO
2. AVALIAÇÃO DE VÁRIOS ASPECTOS
3. COMPREENSÃO E ADEQUAÇÃO AO TEMA
4. SITUAÇÕES QUE LEVAM À NOTA ZERO
5. TEMA
1. INTRODUÇÃO
Como sabemos, dissertar é discutir. Entretanto, a dissertação a que o candidato é submetido no Enem requer
muito além de uma simples discussão. O texto dissertativo-argumentativo é, por natureza, um texto híbrido,
vez que se conjugam, obrigatoriamente, informação e criticidade. As orientações a seguir têm a finalidade
de nortear as correções no que dizem respeito tanto à adequação ao tipo textual quanto ao tema.
A estrutura clássica da dissertação é trabalhada pelo candidato, especialmente, ao longo do Ensino Médio. O
tema focaliza aspectos sociais recentes, e, para desenvolvê-lo, o candidato mobiliza repertório sociocultural
não só colhido do material motivador, como também, e principalmente, do próprio acervo de conhecimento
com que teve contato ao longo do Ensino Médio.
A Competência 2, especialmente, exige do corretor, além da leitura atenta dos textos de apoio, certa
referência sociocultural, vez que se avalia nessa competência exatamente o repertório com que lida o
candidato para a produção textual.
Só para lembrarmos, levam à nota zero, no Enem, as dissertações em que forem identificados:
Também consideramos os iguais motivos para aplicarmos a nota zero às redações dos alunos da Plataforma
Redigir.
5. TEMA
No contexto da dissertação argumentativa do Enem, como sabemos, assunto e tema não são expressões
sinônimas. O assunto é geral, amplo. O tema é a delimitação de um aspecto; é um recorte do assunto; é a
frase temática.
Por exemplo:
Assunto: Depressão
Tema A – Como erradicar a depressão na sociedade do século 21?
Tema B – Desafios para evitar a depressão na terceira idade.
Tema C – Os tabus em torno da depressão e de outros transtornos mentais.
Etc.
Imaginemos, por exemplo, o tema: “Desafios para reduzir a incidência de depressão entre jovens no Brasil
do século 21.”.
Identificamos, assim, a tangência ao tema, vez que o candidato não se referiu à depressão entre os jovens,
no Brasil do século 21, e, sim, à depressão, simplesmente.
define a tese de modo desconexo ao tema e, por isso mesmo, desenvolve a argumentação a partir
da tese equivocada;
define coerentemente a tese, mas, ao longo do desenvolvimento, aborda fatos, argumentos,
situações ou intervenções que destoam, que se desviam do tema e da tese.
Outra possibilidade de desvio de tema, como vimos, acontece quando há conexão entre o tema e a tese, mas
não entre ambos e a argumentação ou a proposta de intervenção.
Temos acima:
Ainda sobre o tema-exemplo, conferimos que o parágrafo abaixo, propenso a apresentar o tema, fugiu
totalmente dele:
“Muitas são as doenças que ainda assolam a humanidade em pleno século 21, algumas
das quais já estavam erradicadas e, infelizmente, voltaram a grassar a sociedade; o
sarampo é uma doença exemplar, que tornou a acometer, em especial, as crianças, visto
que ainda há grande ignorância da população quando o assunto é a obrigatoriedade e a
eficiência da vacinação. Algumas doenças mentais também têm surgido.”
Percebemos que o aluno focalizou doenças erradicadas, como o sarampo e, em seguida, discorreu sobre a
resistência à vacinação. No último trecho, muito rapidamente, foi mencionada a expressão “doenças
mentais”, mas não exatamente a depressão, muito menos “os desafios para reduzir os índices de
depressão...”. Nenhuma palavra-chave do tema foi mobilizada.
6. TIPO
Para avaliarmos o tipo textual exigido, qual seja a dissertação argumentativa, levamos em conta a estrutura
tradicional: introdução, argumentação e conclusão. Importante notarmos que a organização e a pertinência
dos argumentos serão itens analisados na Competência 3; na 2, insistimos, apenas a estrutura textual (e, de
certo modo, a assimetria ideal entre os parágrafos) será avaliada.
7. REPERTÓRIO
O repertório é o conteúdo sociocultural a partir do qual é construída a argumentação – como dissemos
anteriormente, o candidato precisa saber equilibrar informação (repertório) e criticidade (argumentação, a
partir do repertório).
O repertório há de ser:
Paráfrase é a reorganização e a reescrita dos textos-base. Considera-se parafrásico o texto que se firma
apenas nos textos de apoio, sem a contribuição do repertório pessoal/próprio do candidato. Nesse caso, a
nota do candidato na Competência 2 será penalizada.
Por exemplo:
“Para discorrer sobre a depressão juvenil, é preciso trazer à tona que, hoje, segundo
estudiosos, ela é considerada o mal do século. A Literatura da segunda geração do
Romantismo, qual seja a de 1830 em diante, leva o mesmo nome, qual seja, o mal do
século, exatamente porque o eu-lírico explorado na poesia daquela época era, também, tocado à depressão,
ainda que travestida de delírio e pessimismo.”
“A série 13 Reasons Why, polêmica desde os primeiros episódios, desnuda um verdadeiro tabu social, qual
seja, a depressão juvenil. No longa, situações de tristeza, angústia, desespero e depressão levam adolescentes
ao suicídio.”
Percebamos que o conhecimento de mundo é exigido, antes, do corretor, que, de certo modo, avalia também
o conhecimento/o repertório do candidato.
Há fatos/situações que, para serem reconhecidos precisam, realmente, da “antena” do corretor. Citamos
como exemplo os acidentes ecológicos provocados pela Mineradora Vale do Rio Doce; o incêndio no Ninho
do Urubu, centro de treinamentos do Flamengo; o incêndio do Museu Nacional; os vazamentos de
informações da Operação Lava Jato, pela agência de notícias The Intercept Brasil etc. Eventos como esses,
em tese, são rapidamente reconhecidos, porque ocorreram recentemente e foram/estão sendo amplamente
divulgados pelas mídias – nesse caso, nem é preciso citar fontes específicas das informações. Basta apenas
mencionar: “... conforme amplamente divulgado pela mídia...”, ou outras expressões similares.
Por sua vez, considera-se repertório não reconhecido o conteúdo sem o respaldo das áreas do
conhecimento.
Imaginemos que o tema-exemplo, qual seja: “Desafios para reduzir o índice de depressão entre os jovens.”.
“... no longa-metragem temos o planeta “Melancolia”, que se aproxima da Terra, ameaçando a vida de todos
os habitantes. O enredo explora, no universo ficcional, situações de delírio, conflito e, como o próprio título
adianta, melancolia, ou seja, a depressão, a que não só as personagens virtuais, como também as reais são
suscetíveis.”
Notemos que esse repertório abarcou, por meio da sinonímia, uma das palavras-chave do tema (melancolia
= depressão), além do que o candidato soube, a tempo, mobilizar a palavra-chave.
É bastante comum detectarmos, ao longo do texto citações que não se relacionam intimamente com o tema.
Isso acontece quando o escritor se vale de um fragmento genérico, que, com certa habilidade, pode ser
ajustado a qualquer/a muitos temas.
No tema-exemplo, o repertório abaixo é legitimado (reconhecido), mas não pertinente ao tema:
“Conforme pontuou Thomas Hobbes, filósofo inglês do século 17, ‘o homem é o lobo do homem’. Sem dúvida,
a expressão metafórica é um reflexo do homem atual, que tem ao seu redor verdadeiros lobos – a depressão
é o mais feroz deles.”
Comprovamos o aspecto “genérico” do fragmento de Hobbes, que se ajusta para discorrer, também, sobre
“consumismo”:
“Conforme pontuou Thomas Hobbes, filósofo inglês do século 17, ‘o homem é o lobo do homem’. Sem dúvida,
a expressão metafórica é um reflexo do homem atual, que traz consigo o apego pelo consumo, razão por que
o homem se faz presa de si mesmo.”
Em poucos segundos, vêm à tona outras temas, aos quais se ajustaria a mesma citação. Por exemplo: “briga
entre torcidas organizadas”, “acidentes, impactos ambientais e sustentabilidade”, “espionagem
internacional”, “intolerância religiosa”, “justiceiros”, “indústria da corrupção” etc., etc.
Nada impede que se use a citação de Hobbes ao longo do texto – até porque ele é reconhecido. Porém o
fragmento não vale como repertório sociocultural pertinente. Se esse for o único repertório autoral, a nota
da Competência 2 será penalizada.
Assim, o repertório sociocultural pode ser, ao mesmo tempo, reconhecido e pertinente ao tema, mas não
produtivo; não reconhecido, pertinente ao tema, mas produtivo etc., etc. Assim, para atender às exigências da
Competência 2, o repertório há de ser reconhecido, pertinente ao tema e produtivo.
É preciso verificarmos, também, se os parágrafos foram simetricamente desenvolvidos. Isso pode estar
relacionado ao fato de o candidato explorar ou não o tópico frasal. Em tese, é impossível esgotar-se um assunto
no tópico frasal. Uma vez assimétricos, é possível que exista algum tópico mal explorado.
a conclusão, 12 linhas.
Nesse caso, há indícios de que os parágrafos intermediários apenas retomem, mas não explorem suficientemente
os argumentos lançados no projeto textual.
8. DISSERTAÇÃO MODELO
Para discorrer sobre os caminhos para a redução do número de adolescentes acometidos pela depressão,
é preciso, antes, trazer à tona dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo os quais o
Brasil é o 2.º maior país da América com casos de depressão; a incidência maior está, exatamente, entre os
jovens de 10 a 19 anos. Não é exagero assegurar que isso decorre de um acúmulo de episódios comuns, entre
os quais as pressões sociais e a pré-disposição genética, o que pode levar o doente a situações ainda mais
graves. Entretanto, ainda há pais que consideram a doença como uma tristeza passageira do filho, e, por isso,
oferecem a ele remédios, sem a devida prescrição médica. Inegavelmente, é preciso que hospitais-escola e
comunidade intervenham, sob pena de sucumbirem a esses transtornos mentais, o que ensejará retrocessos
irreparáveis ao Brasil do século 21.
Com efeito, a ciência psiquiátrica pós-moderna tem ferramentas eficientes para o diagnóstico e o tratamento
da depressão, doença por vezes de caráter hereditário, por vezes resultado de pressões sociais. É fato: pais,
tios, avós e educadores, na ânsia de prepararem o jovem para o mercado de trabalho, exigem dele
rendimento acima do que, nem sempre, é capaz, e então surgem os sintomas da doença, entre os quais o
isolamento e o consumo de bebidas e drogas – essa cadeia é o caminho à depressão, que pode levar ao
suicídio. No mundo ficcional, tais situações podem ser conhecidas na série 13 Reasons Why, uma franca
reprodução da realidade.
Contudo, os sintomas da depressão na adolescência, normalmente, são confundidos com atitudes arredias
típicas da idade, como o mau humor e a impaciência. Tanto é assim, que o médico Dráuzio Varella, em
entrevista recente para o Portal UOL, apontou que o risco de um jovem acometido pela doença não ser
levado a sério é grande, e, muitas vezes, ou os pais desconsideram os sintomas da depressão, ou medicam,
eles próprios, os filhos, descuidando-se das prescrições do profissional da saúde mental. Mal sabem eles que
isso é um risco, vez que agrava o transtorno.
Portanto, para resolver a problemática, é preciso intervir. Aos hospitais-escola cabe capacitar melhor os
profissionais da saúde mental, não só para assistirem o doente. À sociedade, compete, antes de qualquer
atitude precipitada, buscar informações de como lidar com a doença, com vista à redução da incidência. A
prevenção, em grande parte, está na informação e, para tanto, as mídias digitais são ferramentas
importantes para apelos de esclarecimento e conscientização direcionados à sociedade, especialmente ao
jovem, por meio de propagandas, jogos ou quaisquer outros eventos do universo web. Uma vez bem
informada, cabe, ainda, à família encaminhar o jovem ao psiquiatra, sempre que surgirem os sintomas da
doença, a fim de que, medicado corretamente, seja mais rapidamente recuperado, o que, automaticamente,
reduzirá os índices de depressão na adolescência. Assim, certamente, a série 13 Reasons Why cederá espaço
para outras, que tragam personagens emocionalmente mais saudáveis.
Por Gislaine Buosi