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1.

INTRODUÇÃO
2. AVALIAÇÃO DE VÁRIOS ASPECTOS
3. COMPREENSÃO E ADEQUAÇÃO AO TEMA
4. SITUAÇÕES QUE LEVAM À NOTA ZERO
5. TEMA

5.1. TANGÊNCIA AO TEMA


5.2. DESVIO DO TEMA
5.3. FUGA AO TEMA
6. TIPO

6.1. O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO DO ENEM


6.2. HIBRIDEZ TIPOLÓGICA
6.3. TEXTO MERAMENTE EXPOSITIVO
7. REPERTÓRIO

7.1. CÓPIA E PARÁFRASE


7.2. REPERTÓRIO RECONHECIDO E NÃO RECONHECIDO
7.3. REPERTÓRIO PERTINENTE E NÃO PERTINENTE AO TEMA
7.4. USO PRODUTIVO DO REPERTÓRIO
8. SIMETRIA ENTRE OS PARÁGRAFOS X TÓPICOS FRASAIS BEM EXPLORADOS
9. DISSERTAÇÃO MODELO
10. NÍVEIS DE DESEMPENHO SEGUNDO A CARTILHA DO PARTICIPANTE ENEM
11. CONCLUSÃO

1. INTRODUÇÃO
Como sabemos, dissertar é discutir. Entretanto, a dissertação a que o candidato é submetido no Enem requer
muito além de uma simples discussão. O texto dissertativo-argumentativo é, por natureza, um texto híbrido,
vez que se conjugam, obrigatoriamente, informação e criticidade. As orientações a seguir têm a finalidade
de nortear as correções no que dizem respeito tanto à adequação ao tipo textual quanto ao tema.

A estrutura clássica da dissertação é trabalhada pelo candidato, especialmente, ao longo do Ensino Médio. O
tema focaliza aspectos sociais recentes, e, para desenvolvê-lo, o candidato mobiliza repertório sociocultural
não só colhido do material motivador, como também, e principalmente, do próprio acervo de conhecimento
com que teve contato ao longo do Ensino Médio.
A Competência 2, especialmente, exige do corretor, além da leitura atenta dos textos de apoio, certa
referência sociocultural, vez que se avalia nessa competência exatamente o repertório com que lida o
candidato para a produção textual.

Assim, o Capítulo II do CADERNO REDIGIR A+ - ORIENTAÇÕES PARA A CORREÇÃO DAS DISSERTAÇÕES DO


ENEM destina-se às explicações acerca do que é avaliado na Competência 2 da Matriz de Referência para
Redação do Enem, qual seja:

Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das áreas de


conhecimento, dentro dos limites do texto dissertativo-argumentativo
em prosa.

2. AVALIAÇÃO DE VÁRIOS ASPECTOS


Avaliamos aspectos distintos entre si, quais sejam:

 a compreensão do tema proposto;


 a aplicação de conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos
limites do texto dissertativo-argumentativo – em outras palavras, o repertório;
 a adequação do texto ao tipo dissertativo-argumentativo.

3. COMPREENSÃO E ADEQUAÇÃO AO TEMA


Em primeiro lugar, precisamos confirmar se o candidato realmente compreendeu o tema; a compreensão do
tema contrapõe-se, em grande parte, à noção do analfabetismo funcional (há quem leia, mas não
entenda/assimile/interprete o que leu). A partir de então, avaliamos a habilidade do candidato para adequar
a produção textual ao tema, com a utilização de informações colhidas dos textos motivadores e do acervo de
conhecimentos adquiridos ao longo da formação – ou seja, do próprio repertório sociocultural.

INSISTIMOS: Para verificarmos tudo isso, é importantíssimo


conhecermos, de fato, os textos motivadores, além de termos certo
conhecimento de conceitos/fatos/elementos/dados biográficos que
são trazidos pelos candidatos. (Adiante exploraremos melhor o item
REPERTÓRIO.)
4. SITUAÇÕES QUE LEVAM A REDAÇÃO À NOTA ZERO
Não só a adequação ao tema, como também a adequação ao tipo textual são
determinantes para avaliarmos as demais competências, até porque, antes de
considerarmos a necessidade da harmonia entre todas as competências, grifamos que,
uma vez não satisfeitas as exigências da Competência 2, ela pode, sozinha, levar a redação
à nota zero, se detectados a fuga ao tema ou o não atendimento ao tipo, pressupostos
exigidos, exatamente, na Competência 2.

Só para lembrarmos, levam à nota zero, no Enem, as dissertações em que forem identificados:

 fuga total ao tema;


 não obediência à estrutura do texto dissertativo-argumentativo;
 extensão total de até 7 linhas;
 cópia integral de texto(s) da Prova de Redação e/ou do Caderno de Questões;
 impropérios, desenhos e outras formas propositais de anulação, em qualquer parte da folha de
redação;
 números ou sinais gráficos fora do texto e sem função clara;
 parte deliberadamente desconectada do tema proposto;
 assinatura, nome, apelido, codinome ou rubrica fora do local devidamente designado para a
assinatura do participante;
 texto predominante ou integralmente em língua estrangeira e
 folha de redação em branco, mesmo que haja texto escrito na folha de rascunho.

Também consideramos os iguais motivos para aplicarmos a nota zero às redações dos alunos da Plataforma
Redigir.

5. TEMA
No contexto da dissertação argumentativa do Enem, como sabemos, assunto e tema não são expressões
sinônimas. O assunto é geral, amplo. O tema é a delimitação de um aspecto; é um recorte do assunto; é a
frase temática.

Por exemplo:
Assunto: Depressão
Tema A – Como erradicar a depressão na sociedade do século 21?
Tema B – Desafios para evitar a depressão na terceira idade.
Tema C – Os tabus em torno da depressão e de outros transtornos mentais.
Etc.

5.1. TANGÊNCIA AO TEMA


Sem dúvida, quando apenas o assunto é abordado, mas não, necessariamente, o tema, fica configurada a
tangência ao tema. Em outras palavras, a tangência caracteriza-se pela abordagem incompleta dos
elementos/das palavras-chave do tema. Isso demonstra pouca habilidade para a interpretação da proposta.

Imaginemos, por exemplo, o tema: “Desafios para reduzir a incidência de depressão entre jovens no Brasil
do século 21.”.

Imaginemos, ainda, que o candidato apresente o tema assim:


“Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) registram que o Brasil é o 2.ª
maior país da América com casos de depressão. Não é exagero assegurar que isso
decorre de um acúmulo de episódios comuns, entre as quais as pressões sociais e a pré-
disposição genética, o que pode levar a outras situações ainda piores, como à
autodestruição.”.

Identificamos, assim, a tangência ao tema, vez que o candidato não se referiu à depressão entre os jovens,
no Brasil do século 21, e, sim, à depressão, simplesmente.

5.2. DESVIO DO TEMA


DESVIAR significa alterar o caminho ou a orientação; desencaminhar. Assim, desvia-se do tema o candidato
que:

 define a tese de modo desconexo ao tema e, por isso mesmo, desenvolve a argumentação a partir
da tese equivocada;
 define coerentemente a tese, mas, ao longo do desenvolvimento, aborda fatos, argumentos,
situações ou intervenções que destoam, que se desviam do tema e da tese.

Ainda sobre o tema-exemplo, analisemos o parágrafo introdutório:


“Para discorrer sobre os desafios para reduzirem-se os números dos jovens depressivos
no país, é preciso considerar dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS),
segundo os quais o Brasil é o 2.ª maior país da América com casos de depressão; a
incidência maior está, justamente, entre os jovens de 10 a 19 anos.1 Não é exagero
assegurar que isso decorre de um acúmulo de episódios comuns, entre as quais as
pressões sociais e a pré-disposição genética, o que pode levar a outras situações ainda
piores.2 Entretanto, ainda há pais que consideram a depressão como uma tristeza
passageira do filho, e, por isso, oferecem a ele remédios, sem a devida prescrição
médica.3 Sem dúvida, é preciso um olhar mais atento do Estado e da sociedade sobre o
bullying e o ciberbullying, com vista a esclarecer a população a respeito dos cuidados
necessários à saúde.4”

Nesse parágrafo, temos:


1) apresentação do tema – Ok.
2) antecipação do 1.º argumento – Ok.
3) antecipação do 2.º argumento – Ok.
4) tese (focaliza o bullying e o ciberbullying) – sem prévia conexão com o tema – a tese desviou-se do
tema.

Outra possibilidade de desvio de tema, como vimos, acontece quando há conexão entre o tema e a tese, mas
não entre ambos e a argumentação ou a proposta de intervenção.

Vejamos alguns fragmentos do tema-exemplo:


“... Sem dúvida, é preciso um olhar mais atento do Estado e da sociedade sobre o
tema, com vista a esclarecer a população a respeito dos cuidados necessários aos
cuidados jovens acometidos da pela depressão.1
Com efeito, os educadores têm ferramentas eficientes para evitar o comportamento
agressivo de pessoas com algum transtorno psiquiátrico, entre os quais a síndrome
do espectro do autismo2.
(...) Para conter o avanço da doença, é possível recorrer a ajuda de amigos ou familiares que um dia também
passaram pela depressão, a fim de saber que tipo de apoio tiveram para verem-se livres da doença3...”.

Temos acima:

1) tese que aborda a depressão juvenil;


2) argumentação sobre a síndrome do espectro do autismo;
3) proposta de intervenção que se desviou do que foi projetado como 2.º argumento (vide acima).
5.3. FUGA AO TEMA
O candidato foge totalmente do tema quando nem o assunto mais amplo nem o tema são focalizados. Como
sabemos, isso é motivo de a banca corretora do Enem atribuir nota zero à redação.

Ainda sobre o tema-exemplo, conferimos que o parágrafo abaixo, propenso a apresentar o tema, fugiu
totalmente dele:
“Muitas são as doenças que ainda assolam a humanidade em pleno século 21, algumas
das quais já estavam erradicadas e, infelizmente, voltaram a grassar a sociedade; o
sarampo é uma doença exemplar, que tornou a acometer, em especial, as crianças, visto
que ainda há grande ignorância da população quando o assunto é a obrigatoriedade e a
eficiência da vacinação. Algumas doenças mentais também têm surgido.”

Percebemos que o aluno focalizou doenças erradicadas, como o sarampo e, em seguida, discorreu sobre a
resistência à vacinação. No último trecho, muito rapidamente, foi mencionada a expressão “doenças
mentais”, mas não exatamente a depressão, muito menos “os desafios para reduzir os índices de
depressão...”. Nenhuma palavra-chave do tema foi mobilizada.

6. TIPO
Para avaliarmos o tipo textual exigido, qual seja a dissertação argumentativa, levamos em conta a estrutura
tradicional: introdução, argumentação e conclusão. Importante notarmos que a organização e a pertinência
dos argumentos serão itens analisados na Competência 3; na 2, insistimos, apenas a estrutura textual (e, de
certo modo, a assimetria ideal entre os parágrafos) será avaliada.

6.1. O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO DO ENEM


A dissertação argumentativa do Enem tem uma peculiaridade: a exigência de uma proposta de intervenção
social ao problema enfrentado. (Ainda que não obrigatório, os alunos da Plataforma Redigir são aconselhados
a abordarem a proposta de intervenção no parágrafo conclusivo.)

6.2. HIBRIDEZ TIPOLÓGICA


Já sabemos que a dissertação argumentativa traz consigo certa hibridez tipológica, haja vista ser necessário
conjugarem-se informação e criticidade, conforme se verá adiante. Entretanto, o texto final há de ser
predominantemente argumentativo. Não podemos admitir traços de outros tipos (narração ou descrição)
em maior proporção que a argumentação, o que prejudica a nota da Competência 2.
6.3. TEXTO MERAMENTE EXPOSITIVO
É preciso também identificarmos texto ou parágrafos meramente expositivos. Nos dois parágrafos seguintes,
percebemos que, muito embora o redator tivesse de fazê-los predominantemente argumentativos, no
primeiro há apenas informação; no segundo, há mais criticidade do que informação – o que é o desejável.

1º - Não desejável, porque apenas informativo:


“A depressão é um problema médico grave. De acordo com estudo epidemiológico a
prevalência de depressão ao longo da vida no Brasil está em torno de 15,5%. Segundo a
OMS, a prevalência de depressão na rede de atenção primária de saúde é 10,4%,
isoladamente ou associada a um transtorno físico. Segundo, ainda, a OMS, a depressão
situa-se em 4º lugar entre as principais causas de ônus, respondendo por 4,4% dos ônus
acarretados por todas as doenças durante a vida. Ocupa 1º lugar quando considerado o
tempo vivido com incapacitação ao longo da vida (11,9%).”
Disponível em: http://saude.gov.br/saude-de-a-z/depressao

2º - Desejável, porque predominantemente argumentativo, embora também mobilize informações – esse


parágrafo é exemplo da hibridez tipológica que antes mencionamos.
“Com efeito, a ciência psiquiátrica pós-moderna tem ferramentas eficientes para o
diagnóstico e o tratamento da depressão, doença por vezes de caráter hereditário, por
vezes resultado de pressões sociais. É fato: pais, tios, avós e educadores, na ânsia de
prepararem o jovem para o mercado de trabalho, darwinista por natureza, por vezes,
exigem dele rendimento acima do que, nem sempre, é capaz, e então surgem os sintomas
da doença, entre os quais o descontentamento, a decepção, o isolamento, a tristeza
profunda, o consumo de bebidas e drogas – essa cadeia, sem dúvida, é o caminho à
depressão que, por sua vez, pode levar à autodestruição.”

7. REPERTÓRIO
O repertório é o conteúdo sociocultural a partir do qual é construída a argumentação – como dissemos
anteriormente, o candidato precisa saber equilibrar informação (repertório) e criticidade (argumentação, a
partir do repertório).

O repertório há de ser:

 reconhecido, ou seja, extraído de uma ou mais áreas do conhecimento;


 pertinente ao tema, ou seja, conectado às palavras-chave da frase temática;
 produtivo, ou seja, vinculado/aproveitado ao longo do texto.

Consideram-se repertório sociocultural: estatísticas, fatos, opiniões, citações de voz de autoridade,


confrontações, exemplos etc.

Se o candidato firmar a discussão apenas no material motivador, obrigatoriamente, a nota da Competência


2 é penalizada. INSISTIMOS! A leitura dos textos de apoio é essencial para avaliarmos cópia, paráfrase e
autoria das dissertações.

7.1. CÓPIA E PARÁFRASE


Sabemos que texto de até 7 linhas nem sequer é avaliado – aplicamos, automaticamente a nota 0. Contudo,
há texto com mais de 7 linhas, que, após a leitura, detectamos que a produção do candidato não perfaz 7
linhas – o restante é cópia do material motivador. Nesse caso, a redação leva, também, a nota 0.

Paráfrase é a reorganização e a reescrita dos textos-base. Considera-se parafrásico o texto que se firma
apenas nos textos de apoio, sem a contribuição do repertório pessoal/próprio do candidato. Nesse caso, a
nota do candidato na Competência 2 será penalizada.

7.2. REPERTÓRIO RECONHECIDO E NÃO RECONHECIDO


Considera-se repertório reconhecido o conteúdo extraído/autorizado pelas diversas áreas do conhecimento:
Literatura, Filosofia, História, Atualidades, Biologia, Sociologia, Geopolítica, Cinema etc.

IMPORTANTE: como “reconhecido”, considera-se, necessariamente, o conteúdo manifestamente verídico –


até porque não há tempo suficiente para conferirmos se o candidato cria (ou não) situações, citações,
informações etc. Devemos atentar para as balizas facilmente reconhecidas do repertório.

Por exemplo:
“Para discorrer sobre a depressão juvenil, é preciso trazer à tona que, hoje, segundo
estudiosos, ela é considerada o mal do século. A Literatura da segunda geração do
Romantismo, qual seja a de 1830 em diante, leva o mesmo nome, qual seja, o mal do
século, exatamente porque o eu-lírico explorado na poesia daquela época era, também, tocado à depressão,
ainda que travestida de delírio e pessimismo.”
“A série 13 Reasons Why, polêmica desde os primeiros episódios, desnuda um verdadeiro tabu social, qual
seja, a depressão juvenil. No longa, situações de tristeza, angústia, desespero e depressão levam adolescentes
ao suicídio.”

Percebamos que o conhecimento de mundo é exigido, antes, do corretor, que, de certo modo, avalia também
o conhecimento/o repertório do candidato.

Há fatos/situações que, para serem reconhecidos precisam, realmente, da “antena” do corretor. Citamos
como exemplo os acidentes ecológicos provocados pela Mineradora Vale do Rio Doce; o incêndio no Ninho
do Urubu, centro de treinamentos do Flamengo; o incêndio do Museu Nacional; os vazamentos de
informações da Operação Lava Jato, pela agência de notícias The Intercept Brasil etc. Eventos como esses,
em tese, são rapidamente reconhecidos, porque ocorreram recentemente e foram/estão sendo amplamente
divulgados pelas mídias – nesse caso, nem é preciso citar fontes específicas das informações. Basta apenas
mencionar: “... conforme amplamente divulgado pela mídia...”, ou outras expressões similares.

Por sua vez, considera-se repertório não reconhecido o conteúdo sem o respaldo das áreas do
conhecimento.

7.3. REPERTÓRIO PERTINENTE E NÃO PERTINENTE AO TEMA


Além de reconhecido, o repertório há de ser pertinente ao tema. Espera-se que, o quanto possível, o
repertório contemple, pelo menos, uma das palavras-chave do tema.

Imaginemos que o tema-exemplo, qual seja: “Desafios para reduzir o índice de depressão entre os jovens.”.

“... no longa-metragem temos o planeta “Melancolia”, que se aproxima da Terra, ameaçando a vida de todos
os habitantes. O enredo explora, no universo ficcional, situações de delírio, conflito e, como o próprio título
adianta, melancolia, ou seja, a depressão, a que não só as personagens virtuais, como também as reais são
suscetíveis.”

Notemos que esse repertório abarcou, por meio da sinonímia, uma das palavras-chave do tema (melancolia
= depressão), além do que o candidato soube, a tempo, mobilizar a palavra-chave.

É bastante comum detectarmos, ao longo do texto citações que não se relacionam intimamente com o tema.
Isso acontece quando o escritor se vale de um fragmento genérico, que, com certa habilidade, pode ser
ajustado a qualquer/a muitos temas.
No tema-exemplo, o repertório abaixo é legitimado (reconhecido), mas não pertinente ao tema:
“Conforme pontuou Thomas Hobbes, filósofo inglês do século 17, ‘o homem é o lobo do homem’. Sem dúvida,
a expressão metafórica é um reflexo do homem atual, que tem ao seu redor verdadeiros lobos – a depressão
é o mais feroz deles.”

Comprovamos o aspecto “genérico” do fragmento de Hobbes, que se ajusta para discorrer, também, sobre
“consumismo”:
“Conforme pontuou Thomas Hobbes, filósofo inglês do século 17, ‘o homem é o lobo do homem’. Sem dúvida,
a expressão metafórica é um reflexo do homem atual, que traz consigo o apego pelo consumo, razão por que
o homem se faz presa de si mesmo.”

Em poucos segundos, vêm à tona outras temas, aos quais se ajustaria a mesma citação. Por exemplo: “briga
entre torcidas organizadas”, “acidentes, impactos ambientais e sustentabilidade”, “espionagem
internacional”, “intolerância religiosa”, “justiceiros”, “indústria da corrupção” etc., etc.

Nada impede que se use a citação de Hobbes ao longo do texto – até porque ele é reconhecido. Porém o
fragmento não vale como repertório sociocultural pertinente. Se esse for o único repertório autoral, a nota
da Competência 2 será penalizada.

7.4. USO PRODUTIVO DO REPERTÓRIO


O repertório do próprio candidato, além de ser reconhecido e intimamente ligado ao tema, há de ser/estar
vinculado ao texto. É comum identificarmos dado repertório sociocultural para ilustrar o tema e, contudo, não
ser retomado ao longo do texto, ainda que pelo menos uma vez.

Assim, o repertório sociocultural pode ser, ao mesmo tempo, reconhecido e pertinente ao tema, mas não
produtivo; não reconhecido, pertinente ao tema, mas produtivo etc., etc. Assim, para atender às exigências da
Competência 2, o repertório há de ser reconhecido, pertinente ao tema e produtivo.

8. SIMETRIA ENTRE OS PARÁGRAFOS X TÓPICOS FRASAIS BEM EXPLORADOS

É preciso verificarmos, também, se os parágrafos foram simetricamente desenvolvidos. Isso pode estar
relacionado ao fato de o candidato explorar ou não o tópico frasal. Em tese, é impossível esgotar-se um assunto
no tópico frasal. Uma vez assimétricos, é possível que exista algum tópico mal explorado.

Só para exemplificarmos, não é desejável que:

 a introdução tenha 10 linhas;

 o segundo parágrafo, 3 linhas;


 o terceiro parágrafo, 4 linhas;

 a conclusão, 12 linhas.

Nesse caso, há indícios de que os parágrafos intermediários apenas retomem, mas não explorem suficientemente
os argumentos lançados no projeto textual.

Em síntese, na Competência 2 verificamos a abordagem completa do tema, o atendimento ao tipo textual e a


mobilização do repertório sociocultural em defesa da tese.

8. DISSERTAÇÃO MODELO

Para discorrer sobre os caminhos para a redução do número de adolescentes acometidos pela depressão,
é preciso, antes, trazer à tona dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo os quais o
Brasil é o 2.º maior país da América com casos de depressão; a incidência maior está, exatamente, entre os
jovens de 10 a 19 anos. Não é exagero assegurar que isso decorre de um acúmulo de episódios comuns, entre
os quais as pressões sociais e a pré-disposição genética, o que pode levar o doente a situações ainda mais
graves. Entretanto, ainda há pais que consideram a doença como uma tristeza passageira do filho, e, por isso,
oferecem a ele remédios, sem a devida prescrição médica. Inegavelmente, é preciso que hospitais-escola e
comunidade intervenham, sob pena de sucumbirem a esses transtornos mentais, o que ensejará retrocessos
irreparáveis ao Brasil do século 21.
Com efeito, a ciência psiquiátrica pós-moderna tem ferramentas eficientes para o diagnóstico e o tratamento
da depressão, doença por vezes de caráter hereditário, por vezes resultado de pressões sociais. É fato: pais,
tios, avós e educadores, na ânsia de prepararem o jovem para o mercado de trabalho, exigem dele
rendimento acima do que, nem sempre, é capaz, e então surgem os sintomas da doença, entre os quais o
isolamento e o consumo de bebidas e drogas – essa cadeia é o caminho à depressão, que pode levar ao
suicídio. No mundo ficcional, tais situações podem ser conhecidas na série 13 Reasons Why, uma franca
reprodução da realidade.
Contudo, os sintomas da depressão na adolescência, normalmente, são confundidos com atitudes arredias
típicas da idade, como o mau humor e a impaciência. Tanto é assim, que o médico Dráuzio Varella, em
entrevista recente para o Portal UOL, apontou que o risco de um jovem acometido pela doença não ser
levado a sério é grande, e, muitas vezes, ou os pais desconsideram os sintomas da depressão, ou medicam,
eles próprios, os filhos, descuidando-se das prescrições do profissional da saúde mental. Mal sabem eles que
isso é um risco, vez que agrava o transtorno.
Portanto, para resolver a problemática, é preciso intervir. Aos hospitais-escola cabe capacitar melhor os
profissionais da saúde mental, não só para assistirem o doente. À sociedade, compete, antes de qualquer
atitude precipitada, buscar informações de como lidar com a doença, com vista à redução da incidência. A
prevenção, em grande parte, está na informação e, para tanto, as mídias digitais são ferramentas
importantes para apelos de esclarecimento e conscientização direcionados à sociedade, especialmente ao
jovem, por meio de propagandas, jogos ou quaisquer outros eventos do universo web. Uma vez bem
informada, cabe, ainda, à família encaminhar o jovem ao psiquiatra, sempre que surgirem os sintomas da
doença, a fim de que, medicado corretamente, seja mais rapidamente recuperado, o que, automaticamente,
reduzirá os índices de depressão na adolescência. Assim, certamente, a série 13 Reasons Why cederá espaço
para outras, que tragam personagens emocionalmente mais saudáveis.
Por Gislaine Buosi

Análise estrutural da dissertação – palavras-chave do tema grifadas ao longo do texto:


Apresentação do assunto, com leitura de gráfico de apoio; Antecipação
do primeiro argumento;
Antecipação do segundo argumento;
Tese, com síntese da proposta interventiva;
Conectivo interparágrafo + Desenvolvimento do primeiro argumento, com repertório sociocultural reconhecido, pertinente ao tema,
e produtivo;
Conectivo interparágrafo + Desenvolvimento do segundo argumento, com repertório reconhecido e pertinente ao tema;
Conectivo de conclusão + Proposta de intervenção, com agente, ação e detalhamento, medo/meio, efeito; Tom de fechamento,
que recupera repertório sociocultural.

9. NÍVEIS DE DESEMPENHO SEGUNDO A CARTILHA DO PARTICIPANTE ENEM


O quadro seguinte apresenta os seis níveis de desempenho utilizados para avaliação da Competência 2.
10. CONCLUSÃO
Ainda que não haja, em hipótese nenhuma, hierarquia entre as competências, a nota da Competência 2,
como vimos, é condição para a avaliação, vez que, não desenvolvido o tipo dissertativo ou abordado o tema,
em, pelo menos, sete linhas, sabemos que a nota zero já é aplicada. Por esse motivo, o corretor deve dominar
as noções da estrutura dissertativa, bem como ampliar, a cada dia, seu próprio repertório sociocultural,
condição essencial para que ele avalie o candidato.

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