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2)
4)
,
o MUNICIPIO,DE BLUMENAU
E A HISTORIA DE SEU
DESENVOLVIMENTO
JOSÉDEEKE
"
JOSEDEEKE
o MUNICÍPIO DE
BLUMENAU E: A HISTÓRIA
DE SEU DESENVOL
VIMENTO
JOSÉDEEKE
1917
Blumenau. 12/0511875
,.. Blllmenall, 24/0811931
JOSÉDEEKE de Diretor Técnico Fixo daquela empresa, na área colonial pertencente à própria
1875 -1931 companhia em Santa Catarina, da qual, na oportullidade, ele declinou.
Estava decidido a aceitar a oferta do Governo Brasileiro para administrar
Levantamentos Topográficos, visando à expansão da rede telegráfica na Amazônia
Nascido em Blumenau (SC) a 12 de maio de 1875, JOSÉ DEEKE era o (Acre). A indicação e referenciamento de sua pessoa foi procedida pelo Engenheiro
mais moço dentre os seis filhos de Friedrich Deeke e Christiane Krohberger Deeke. Emil Odebrecht, já aposentado, que também o recomendou como administrador,
ambos emigrados da Alemanha no início ~Ia c,olonlzação de Blumenau. Seu pai para assumir a responsabilidade do empreendimento colonizatório da Empresa
descendia de uma tradicional famlh~\ de "couteiros florestais" do Império Alemã, que pretendia desenvolver assentamento no Acre. Mas, pelo Tratado de
Germânico, cujos cargos here(litanos eram exercidos na região do Harz: sua mãe era Petrópolis (17/11/1903), as adiantadas tratativas foram postergadas. ~
originária da Baviera e provinha de uma estirpe de construtores.
Após um ano de permanência na Europa, em 1904, no retorno, aceitou o
Realizou seus estudos preliminares na "Escola São Paulo" (atual Colégio convite para assumir o cargo de Engenheiro-Chefe e de Cartografia da C0'11panhia
Santo Antônio) em Blumenau. onde se destacou como ~luno exemplar. Não Colonizadora Hanseática, com sede localizada na Colônia Hansa-Hammonia, atual
havendo na época escola maIs adIantad~~. no pr~pno Estado. recebeu ensinamentos município de Ibirama.
sobre engenharia e cartograt Ia atraves de seu tio. o engenheiro Heinrich
Em 1909, a (HKG - GMBH) mencionada Empresa de Colonização, por
Krohberger, e, através de aulas particulares exclusivas ministradas pelo Professor
iniciativa de sua alta administração em Hamburgo, decidiu nomeá-Io DIRETOR
Hertel, noções de matemática superior.
ÚNICO. cargo no qual permaneceu até 1929 quando, após vinte e cinco anos de
Tornou-se cartógrafo e agrimensor diplomado sob concurso prestado perante
serviços prestados à "HKG-GMBH", e em virtude do precário estado de saúde, que
as autoridades competentes em Florianópolis. Toda\'i~1 era conhecido como
não mais lhe permitia o exercício de suas funções, aposentou-se e, com toda a
enoenheiro. Ainda jovem. foi substItuto do Chefe da _
e . família, transferiu residência para Blumenau, onde após longa enfermidade, faleceu
Comissão Colonizadora de Blumenau na crista das incumbências decl-
em 24 de agosto de 1931, aos 56 anos de idade.
sórias do comitê e, no final do século passado, realizou no sul do Estado
levantamentos topográficos. trabalhando depois como mandatário do Juiz José Deeke dedicou à administração da Colônia Hansa-Hammonia toda'a sua
Comissário, do Comissariado Geral e do Juiz de Direito. no Planalto Catarinense. força e energia, sempre colocando seus interesses pessoais e particulares em segundo
nas regiões de Lages. Curitibanos e Campos Novos. ocasião em que travou estreitas plano e, além dos serviços de colonização, -::) assumiu a inteira orientação da vida
relações culturais com o renomado poeta teulObrasileiro Georg Knoll (1897). pública e social, incentivando a ordem e o progresso. Desincumbiu-se pessoalmente, por
falta de funcionários qualificados, dos cargos municipais, estaduais e federais. tai.s como
Foi durante esses anos de peregrinação em mediçües de terras que José Deeke.
juiz de paz. agente postal e delegado de polícia (durante vinte anos)
enfrentando as condições mais adversas. tanto de clima como o perigo sempre
em seu distrito municipal.
iminente de ataques por parte dos si Ivícolas, ~ contraiu a enfermidade que o afligiria
por toda a vida. Mas foi no exercício dessa atividade que adquiriu profundos Foi, durante vários anos, presidente do "Sindicato Agrícola Hamoniense",
conhecimentos sobre seu Estado nata!. seu povo. sua fauna. sua flora e ,uas fornecendo diretrizes e conselhos. Em 1907. fundou a "Caixa Agrícola Hamoniense"
condi~'ões geológicas. (SPARKASSE), posteriormente incorporada ao Banco Inco e em 1968 ao Banco
Bradesco. Teve também participação relevante em muitas sociedades e instituições
Em 1903. por motivos de saúde e também com o intuito de ampliar SI;US
como: hospitais, igrejas, e escolas, das quais foi incansável incentivador, ajudando com
conhecimentos. fez uma viagem à Europa, tendo lá visitado seus pJrentes radicados
no Harz e na Baviera. A administração da Companhia Colonizadora Hanseática
suas idéias sensatas a remover dificuldades e obstáculos ao seu desenvolvimento. 1,
(Hanseatische Kolonizations Gcsellschaft HKG - GMBH). ciente da sua presença Em 24/08/195 I, a comunidade de Ibirama rendeu-lhe homenagem em
na Alemanha, convidou-o. diversas vezes, à sua sede em Hamburgo. para consultas reconhecimento e gratidão, atribuindo o seu nome à praça pública, na qual em
e esclarecimentos. Naquela época. inclusive. lhe fizeram proposta de exercer o 20/04/1952, sobre herma. erigiu o seu busto. perpetuando-o junto à memória dos
cargo valorosos pioneiros colonizadores de sua Cidade.
ocorrido, em 21 de setembro de 1914. entre aborígenes e
Na qualidade de diretor-geral da "HKG - GMBH", encontrava-se, representações governamentais, que culminou no aldeamento e na pacificação
subordinada diretamente à administração de José Deeke, área territorial de dos indígenas, graças sobretudo ao imenso espetáculo pessoal do seI1anista
174874,75 hectares, correspondente às terras em Santa Catarina, oficialmente Eduardo de Lima e Silva Hoerhann.
concedidas pelo Governo à citada empresa alemã, além de terras devolutas A criação da "Reserva Territorial dos índios", na região do Rio Plate,
situadas nos confins da concessão e que abrangiam os seguintes territórios: atual "Posto Duque de Caxias", deve-se inteiramente à determinação do nosso
1- Colônia Hansa Hammonia (sede da concessão), biop·afado. que mandou de,ma.rcar, em s,eparado, a área de cerca de 300 km
abrangendo terras hoje correspondentes a Ibirama, Presidente ,de terras pertencentes a CIa. Hanseatlca e regIstrou-as em todos os mapas e
Getúlio. Vitor Meirelles, José Boiteux, Dalbérgia, Dona documentos sempre como "Reserva Indígena". Deve assinalar-se que essa
Emma, Wittmarsum, SeITa dos Índios, Mirador, atual Posto iniciativa, de extrema clarividência, foi decisiva. porque viabilizou o
Indígena Duque de Caxias e Alto Rio Dollmann. (127318,047 assentamento indígena em território com demarcações distintas, com limites
hectares) definitivos e incontestáveis e evitou, assim, posteriores controvérsias lindeiras.
2- Parte da Colônia Hansa Humboldt (hoje Corupá) fato até hoje raro quanto às demarcações de reservas indígenas.
ainda com pendências remanescentes da época em que a sede Como cartógrafo, prestou relevantes serviços ao Estado de Santa
da vertente empresa de colonização estava localizada em Catarina. Em 1905 elaborou, entre outros, um mapa do município de Blumenau
Joinvi!le. (10610 km\ impresso em Leipzig, na escala I :500000. Em 1924 elaborou outro
3- Núcleos coloniais em Joinvi!le -·Colônias Piraí e mapa de Blumenau e municípios vizinhos. nele indicando as terras colonizadas
Itapocuzinho-Schroeder. e não colonizadas até então. Também em 1924 foi impresso sob aprovação da
Superintendência do Município outro Mapa Regional de Blumenau (Impressão
4- Núcleo Colonial São Bento - denominado
Brockhaus Leipsig). E por isso, seu nome foi citado, anos depois, pela
Sertãozinho de São Bento.
Enciclopédia "Brockhaus", como cartógrafo domiciliado na América do Sul.
A profícua e competente administração de José Decke fez com que o Todavia, dentre os mapas que fez, considerava como o trabalho canográfico
desenvolvimento e o progresso fossem então alcançados. malgrado o resultado mais árduo e demorado, seu "Grande Mapa Cadastral e Estatístico do Muni-
não ter sido financeiramente interessante para os acionistas da Companhia cípio de Blumenau", cujo original se encontra no Arquivo Histórico da
Colonizadora Hanseátic·a. Por diversas vezes, teve de enfrentar situações Fun?ação "Casa Dr. Blumenau".
bastante difíceis - tanto junto à direção da Cia. Hanseática em Hamburgo. como
José Deeke manteve intensa atividade literária. Como escritor fez-se
perante o Governo Nacional. Porém. graças a seu caráter firme e probo,
porta-voz das aspirações teuto-brasileiras, reclamando a prevalência de seus
conseguiu solucionar e resolver as questões mais embaraçosas para a satisfação
postulados através da Imprensa em idioma alemão no Brasil. Visando
de seus concidadãos, pelos quais era muito estimado e respeitado.
fundamentar toda a vida social e cultural de sua Colônia Hammonia em bases
Por vários anos foi presidente do Partido Republicano. Como chefe absolutamente brasileiras - era considerado um "nativista" -, se bem que sem o
político de Hammonia e pessoa de imediata confiança do governo. conseguiu, desprezo do idioma e tradições alemãs, fez prevalecer. num meio ambiental
em sua gestão, que as colônias hanseáticas não fossem desapropriadas nem onde o elemento alemão predominava, a sua orientação e o ponto de vista das
sofressem intervenção durante a Primeira Guerra Mundial - caso único no país premissas teuto-brasileiras. Impediu que idéias e diretrizes incompàtíveis com a
-, ao contrário, pois, do que sucedeu com entidades congêneres. Sob outro nacionalidade brasileira florescessem. obtendo sucesso e estabelecendo a
governo essa desapropriação foi inevitável durante a Segunda Grande Guerra. harmonia junto às diversas etnias que compunham a sua Colônia.
Coube a José Decke, portanto. o exclusivo mérito da continuidade serena da No âmbito dos empreendimentos privados, juntamente com seu irmão
empreendida colonização. sem interrupções, tudo devido a sua peculiar Fides Deeke, associou-se a Gottlieb Reif, fundando, em 1911, a Cia. Fábrica de
diplomacia. utilizada na salvaguarda dos interesses maiores de sua .colônia. Papel Itajaí, na Barra do Rio em Itajaí, portentosa indústria de capital
Foi caloroso adepto da catequese e do apaziguamento dos índios catarinense, por longos anos presidida por seu filho Victor Felix Deeke.
botocudos (xoklengs da língua caingang). que constantemente assaltavam
moradores da Hansa-Hammonia; e assistiu ao primeiro.encontro pacífico lá
São de sua autoria inúmeras obras, versando sobre os mais variados temas: apreciadas por todos quantos visitassem aquelas dependências.
história. romances. ficção, ciências, genealogia e mesmo alguns ensaios em poesia. . Já aposentado e residindo em Blumenau, com o intuito de despertar
Publicou diversos contos típicos da vida brasileira e teuto-brasileira. foi colaborador II1teresse público pela preservação histórica, liderou movimento C()J1clamando à
assíduo de quase todos os almanaques e revistas em língua alemã no Brasil, como de colaboração o elemento germânico de Santa Catarina. na época da comemoração do
muitos jornais em ambas as línguas. A relação de suas obras publicadas e inéditas é Centenário da Imigração Alemã no Estado. (IdeaIS textualizados na obra:
considerável, e a própria catalogação. por si só, já representa uma tarefa de vulto, "Gedenkbuch ::,ur lahrllllnden-Feier
conforme poderá ser verificado no final desta obra. deutscher Einwanderung in Santa Catharina" - edição Livraria Central Alberto
Em 29/0811904, casou-se com EMMA MARIA RISCHBIETER, nascida a Entres & Irmão - Florianópolis - SC - 1929; obra da qual é autor da maioria dos
0710711885 e falecida em 10/0411950. cujo nome também é conhecido na títulos e que foi consubstanciada por Gottfried Entres). Pretendia José Deeke, nas
literatura teu to-brasileira. com publicações em vários almanaques e jornais. Sua terras doadas à municipalidade pelos herdeiros do Dr. Blumenau, conhecidas por
esposa, EMMA DEEKE. foi homenageada com a designação de seu nome para o "Morro do Aipim" (Local do atual Restaurante Frohsin). dar cumprimento ao desejo
atual município de Dona Emma, localidade então pertencente à jurisdição manifestado pelo fundador da cidade, em destinar. preferencialmente, o local para
colonizadora de seu marido. Teve o casal cinco filhos: comportar a construção de um "Grande Museu da Colonização Alemã no Brasil",
1- Christiana Elisa Deeke Barreto perpetuando destarte a história. Para a difusão destes propósitos intentou instalar,
* 05/06/1905 com um grupo de empreendedores, uma Estação de Rádio, cuja denominação,
+ 02/0611985 inclusive, foi escolhida em 04/0 I 11930 e que seria "Rádio Cultural Sul Brasileira".
Na mesma época, 1930, o iornal "Der Urwaldsbote", liderado pelo grupo Koehler,
2- Raul Adolfo Deeke * iniciou os co~tatos preliminares a fim de lançar a candidatura de José Deeke à
26/05/1907 suprema administração do município, em substituição ao Sr. Curt Hering, cujo
+ 18/0511971 mandato findava. Ele, entretanto, declarando-se lisonjeado. com mais este
3- I1se Margarida Deeke Beck testemunho de prestígio, deu-se por impossibilitado de aceitar, em razão de sua
saúde precária, não declinando, porém, em definitivo. Seu filho Hercílio Deeke,
* I 2/06/ 1909
vinte anos após, exerceria o cargo de Prefeito de Blumenau por dois mandatos. Os
4- Hercílio Arthur Oscar Deeke acontecimentos políticos de outubro de 1930. com a chegada da vanguarda das
* 15/07ll910 tropas getulistas a Blumenau, o apeamento do Governador do Estado e a violenta
+ 19/0911977 substituição de seus correligionários do poder, destroçaram todos os grandiosos
5- Victor Felix Deeke * projetos, que afundaram na instabilidade reinante no país por dois anos.
08/ I 21191 I Estes os traços do perfil do autor JOSÉ DEEKE, o qual, tendo virtualmente
+ 07/0911991 se auto-instruído, logrou forjar seu caráter com firmeza e decisão, moldando sua
personalidade com dotes incomuns, de elevado espírito cívico e sociológico que
Dedicou-se também José Deeke à Agricultura. a estudos sobre a fauna e flora
foram as determinantes pautadoras das fecundas atividades na sua breve e
de Santa Catarina, organizando junto ao seu escritório. na Cia. Hanseática. uma
despretenciosa existência. Cumprindo-nos aqui explicitar como ele próprio se
grande coleção de objetos indígenas, de besouros, borboletas e outros insetos,
conceituava:
aranhas, ovos de pássaros, pedras e madeiras entre outras curiosidades grandemente
BLUMENAU EA
HISTÓRIA DE SEU DESENVOLVIMENTO
JOSÉDEEKE
Primeira Parte
Entwickelungsgeschichte in drei Bllnden
1917
8)
Longo tempo foi gasto até que eu conseguisse coletar as informações disponíveis para a redação desta obra e
pudesse enfim publicá-Ia. Eram incompletas, muitas vezes, as fontes documentárias das quais extraí as datas e os fatos
básicos destinados à narração da história do desenvolvimento de Blumenau. Por isso, lamentavelmente não me foi possível
redigir narrativa mais pormenorizada desta grande Ex-Colônia.
Seria muito difícil concluir esta obra se eu mesmo não possuísse. na condição de blumenauense nato, lembranças
pessoais de fatos, além dos relatos de meus pais e também de parentes, que tinham vasto conhecimento da história de
Blumenau.
Não surgiu até hoje qualquer obra semelhante sobre Blumenau.
Acredito portanto que esteja ajudando a suprir tal lacuna com este livrinho. Alimento no meu íntimo a esperança de vir a
merecer a aprovação dos amigos e conhecedores do meu município natal.
A cidade se compõe praticamente de uma só rua, a chamada Rua Principal,
que acompanha o contorno do Rio. As ruas laterais têm poucas casas. À exceção da
Alameda Dr. Blumenau, da Rua dos Atiradores, da Rua da Velha e outras, os nomes
A denominação BLUMENAU abrange a cidade e o município que se oficiais das ruas são alusivos a datas patrióticas. A Rua Principal denomina-se
originou da Colônia do mesmo nome. Quinze de Novembro. Existem ainda as Ruas Sete de Setembro, Treze de Maio, etc.
A cidade de Blumenau está situada na margcm direita do Rio Itajaí-Açu, na Mas, como ainda não há placas identificadoras de ruas, permanecem no uso
latitude de 26° 55' 26" sul e na longitude de 49() 03' 22" de Grecnwich. cotidiano as antigas denominações, como "Stadtplatz" (Centro), Affenwinkel (Re-
Na cidade, sede da Administração Municipal, também estão localizados 0<; canto dos Macacos), Vorstadt (Entrada da Cidade), Hauptstrasse (Rua Principal),
representantes dos governos Estadual e Federal. Kaiserstrasse (Rua do Imperador), Gespensterstrasse (Rua do Fantasma), etc.
Existem na cidade 420 edificações, entre as quais duas igrejas, dois
A povoação. fundada em 02 de setembro de 1850 pelo Dr. Hermann Bruno
conventos, três escolas, três hospitais e quatro clubes ou sociedades. A população
altO Blumenau, tornou-se Distrito de Paz em 1858: foi elevada à categoria de Vila está estimada em 4.000 habitantes, número que se refere, todavia, apenas aos
em 04 de fevereiro de 1880 e à cidade em 78 de julbo de I &9 os últimos anos as moradores das vias públicas consideradas urbanas. Se fossem incluídos nessa
ruas receberam melhorias c foram construídas cal~s. dotando Blü';;lenau de aspecto contagem os moradores do povoado Itoupava Seca (também denominado Altona), o
urbano n~radI\'cr resultado sofreria expressivo aumento.
A sede municipal não tem governo autônomo, sendo administrada em
conjunto com os distritos circunvizinhos.
a Município de Blumenau se estende entre 26° 33' - 27° 36' latitude sul e
48° 50' - 50° 19' longitude oeste de Greenwich.
Ao leste limita-se com o Município de Itajaí, pelo Ribeirão das Mihas, na
margem direita do Rio Itajaí-Açu; e na margem esquerda dele. pelo Ribeirão do
Arraial. até as nascentes deste.
a limite segue o divisor de águas entre os ribeirões afluentes do Itajaí-Açu e
os do Rio Luiz Alves, unindo-se à ex-Colônia Luiz Alves primeiro a noroeste,
orientando-se então para nordeste pelo Vale do ~assaranduba, o qual desem~oca no
a
Rio It'W~~u. Rio Guarany-Açu, 1I1dlca o lImIte com o MUl1lclplO de Paraty ..
em toda sua extensão. Ao norte. Blumenau limita-se com os municípios de Joinville,
São Bento (* I), Mafra, Canoinhas e. além, situa-se o território Contestado, que
abrange o Município de Mafra, cujo domínio foi obtido após longa disputa. Como
linha divisória considerou-se sempre o divisor de águas, inicialmente entre os
afluentes dos Rios Itajaí-Açu e Itapocu e, mais ao oeste, o divisor entre o Rio
Hercílio e os afluentes do Rio Negro.
No entanto. só em alguns lugares esses limites estão realmente
demarcados. Confronta-se com São Bento através do Alto Benedito Novo e região respectivos meses no final do capítulo).
do Cedro, enquanto que no Território Contestado (* 2), o Governo do Paraná já A quantidade média anual de dias chuvosos é de 104. A precipitação
instalou maiores povoados na região do Alto Rio Hercílio. pluviométrica atinge a marca média de 1556 mm (* 3).
Para o oeste, o Município de Blumenau é limitado pelo divisor de águas das Extensão Territorial- A extensão territorial do Município, cor-
nascentes do Itajaí, do Canoinhas, do Timbó. do Marombas e do Canoas, na respondente à superfície encerrada nos limites citados, é de 10000 km2. Dessa área.
chamada Serra Geral, que os separa dos municípios de Canoinhas e Curitibanos. No quase 3000 km2 foram cedidos aos colonos, enquanto 7000 km2 ainda pertencem ao
sul, esta Serra Geral serve de limite com O município de Lages até a linha divisória Governo (* 4).
do norte, com as terras demarcadas para os "Burgos Agrícolas", situados no Alto Essas terras ainda não vendidas constituem as terras devolutas. As terras
Braço Sul do Itajaí e que pertencem ao Município de Palhoça. Prosseguindo nesta concessionadas não foram demarcadas. Encontram-se nos Distritos colonizados
linha. a divisa segue do seu ponto final pelo divisor do Itajaí-Açu e Itajaí Mirim, cerca de 50% destas áreas cultivadas. A terra não cultivada. do total da área do
antigamente chamada Serra do Itajaí Mirim, com rumo nordeste, delimitando com o Município, corresponde a 850/( (* 5). A maior .parte da floresta virgem não se
Município de Brusque, até alcançar novamente as nascentes do Ribeirão das Minas. presta para o cultivo em pequena escala. O terreno montanhoso e o solo fértil dos
Composição do Solo - O Município de Blumenau situa-se no chamado denominados Faxinais, em áreas mais extensas, prestam-se para a pecuária.
Litoral, na região costeira ou na Baixada do Estado de Santa Catarina. O município
População- A População total do Município, estimada atualmente em
é quase todo montanhoso e se compõe de várias zonas. A região do limite leste está
60.000 almas. com base no censo de 1907, é formada por diversas nacionalidades, a
a poucos metros acima do nível do mar, elevando-se a oeste em média 800 metros.
saber:
A parte baixa do Vale do Itajaí. que em média se situa entre 15 e 150 metros acima
do nível do mar, é própria para o cultivo do milho, arroz, feijão, café, bananas, Brasi leiros .................................................................. .
ananás e de outras frutas tropicais. 58410
Para os lados. o relevo do Alto Vale do Itajaí se eleva gradativamente até Alemães ...................................................................... . 1295
uma altura média de 400 metros (nas várzeas). Ali se localiza a região das Austríacos ................................................................... .
araucárias e não se cultiva café, nem bananas, mas devido ao clima. o solo se presta
150
para o plantio de cevada, centeio. trigo. etc. Além das montanhas descritas nos 6
limites, há a Serra do Mar e a Serra do Mirador. A última está inteiramente contida Suíços .......................................................................... . 0
no Município, enquanto a primeira o cruza em direção meridiana. Ambas as cadeias Outras Nacionalidades ................................................. .
3
de montanhas têm uma altura média de 800 metros. Como pontos culminantes do Total ................................................................... . 5
Município. pode-se citar o Spitzkopf com 960 metros: o Hundeberg (Morro do
A maioria da população de Blumenau fala o idioma alemão. Em 5 Rodeio.
Cachorro) ou Morro da Itoupava, com 760 metros: e o Sargberg ou Morro do Baú
Ribeirão São Paulo. Guaricanas. Estrada dos Tiroleses, Estrada dos Pomeranos e
(deste último ainda não se tem certeza se está localizado no Município de Blumenau 0
Alto Cedro fala-se, quase exclusivamente, o italiano. Os poloneses e seus
ou no de Itajaí) e está a 780 metros acima do nível do mar. NR2 60000
descendentes, em Massaranduba e na Polaquia. . . além daqueles dispersos em
O Itajaí-Açu é navegável por pequenas embarcações até a cidade de Benedito Novo e no Alto Cedro. expressamse usualmente no seu idioma pátrio. O
Blumenau. O rio. como seus afluentes, é rico em cachoeiras e corredeiras. português, idioma do país. é falado nas repartições públicas e nos Distritos de
Gaspar, Rio do Sul, Rio do Oeste e Alto Hercílio, e também na Colônia Hansa. No
entanto, o alemão, às vezes, é o idioma principal.
De acordo com o censo de 1907, do total de habitantes, 29581 pessoas são
evangélicas; 24947 católicas; 298 adventistas: 126 batistas; 48 tem outro credo e as
demais não professam qualquer religião. A assistência religiosa dos evangélicos é
feita por sete pastores. Os católi-
TEMPERATURA CHUVAS
MESES Dias Precipitação
Média + Alta + Baixa
Chuv. Pluviométrica
Janeiro 25,2 36 18,3 12,3 232 ml11 Nota: Nos aI/os de I R77 e 1 R78, o mês de julho foi //{/ sua quase towlid(/(Ie
chul'OSO, ra;,{/o por que o cálculo médio foi lIIl/ pouco prejudicado.
o INÍCIO DA cidades e fortes. No mais. administrava o Brasil com plenos poderes.
O problema mais sério foi e continuava sendo a questão da mãode-obra.
COLONIZAÇÃO NO BRASIL Os portugueses não vinham para cá a fim de trabalhar no campo sob o sol
2
tropical; e os aborígenes, pela própria índole, não se sujeitavam a serviços
pesados. Mas os novos senhores da terra pouco se importavam com essas
circunstâncias: os silvícolas eram escravizados e aplicava-seIhes a chibata,
Quando Pedro Alvares Cabra I descobriu o Brasil em 1500. a terra era caso não produzissem o suficiente. Sem dúvida esse tratamento bárbaro
habitada por indígenas que, na grande maioria, viviam exclusivamente da caça afugentava-os, razão pela qual sempre mais se refugiavam na densa floresta
e da pesca. Existiam obviamente também áreas de terra onde plantavam milho virgem no interior do Brasil.
e mandioca, mas os terrenos cultivados eram diminutos, se comparados com a Por isso a mão-de-obra escasseava continuamente e, para supri-Ia,
colossal extensão do Brasil. passou-se a introduzir escravos negros no país. Com a mão-de-obra negra, a
Os aborígenes não conheciam a pecuária. e não havia por isso pastagens, agricultura começou a prosperar, principalmente nos latifúndios, fazendo com
que geralmente ocupam grandes áreas de terra. Pode mesmo dizer-se que a que o tráfico de escravos africanos não somente fosse útil, mas também uma
terra recém descoberta consistia numa imensa floresta virgem. Para os novos real necessidade. O negro, originário de regiões tropicais, era mais resistente e
senhores, os portugueses, não havia muito o que buscar e contentaram-se, no capacitado para a produção que os índios.
início, em comunicar sua descoberta e posse às nações européias. Dos produtos encontrados na natureza, logo após o descobrimento, o
De tempos em tempos enviavam expedições para explorá-Ia um pouco pau-brasil tornou-se o produto mais valioso e muito procurado para a
mais e isso perdurou por vários anos. Finalmente, no ano de 1526. veio uma exportação. Encontrou-se também: ouro, prata e pedras preciosas. Ainda a
esquadra portuguesa sob o comando de Christóvão Jacques. que aportou em esses aliou-se a borracha, açúcar, tabaco, café e arroz, de maneira que, aos
Porto Seguro, onde foi instalada uma feitoria. poucos, o Brasil se tornou uma verdadeira fonte de riquezas para o comércio
No decorrer das décadas seguintes foram instaladas povoações português.
portuguesas em locais favoráveis à navegação como também no interior do Em decorrência do regime escravagista, o tráfico de escravos assumiu
território. Por razões justificáveis, a vinda de colonos portugueses era pequena; tamanho vulto que o elemento negro se tornaria predominante
e outras nações, naquele tempo, não estavam interessadas em promover a se a escravidão continuasse por mais tempo. '
emigração. Apesar disso, as povoações cresciam consideravelmente, o que se No ano de 1840, o Brasil contava, entre seus cinco milhões de
devia à miscigenação dos portugueses com os aborígenes. hatritantes, com nada menos do que dois milhões de escravos negros! Mas,
Quando em 1532, Martim Afonso de Souza trouxe a cana-de-açúcal' da felizmente em 1830, por imposição da Inglaterra, o tráfico de escravos foi
Ilha da Madeira e introduziu a pecuária, tornaram-se mais favoráveis as proibido. No princípio não se levou a proibição muito a sério, e continuaram a
condições para o desenvolvimento da agricultura no Brasil, e a Colônia verificar-se transportes clandestinos aportando ao país. Mas o tráfico de
começou a despertar maior atenção por parte da Metrópole.
escravos, em grande escala, estava paralizado e logo após terminou por
O estabelecimento do regime das Capitanias Hereditárias. nas quais o
completo.
Rei D. João III depositava muita esperança, não deu resultado positivo, e
Era preciso encontrar uma maneira de suprir essa falta de mão-deobra.
alguns anos depois foram readquiridas pela Coroa.
Antes era impossível introduzir cidadãos livres, como portugueses. Mas em
Em 1549, o Brasil recebeu seu primeiro Governo Geral, sob as ordens de 1808, o Rei Português D. João VI se transferiu de Lisboa para o Rio de Janeiro
Tomé de Souza, e a colonização, bem como a civilização tomaram impulso
e as circunstâncias se modificaram: houve a abertura dos Portos para o livre
para uma evolução mais rápida. Tomé de Souza. que trouxe 400 sentenciados e
comércio e o Brasil passou ao regime de Reino Unido.
os primeiros seis jesuítas, entrou em contato com os índios tupinambás e
Em 1812 houve tentativas de colonização estrangeira e em 1818 foi
instalou os primeiros engenhos de açúcar,
instalada a Colônia Leopoldina, na Província da Bahia
2- As datas citadas nesse capítulo foram extraídas da obra "Die Ellldeckllllg IIlld der Depois que, em 1822, o Brasil se tornou Império Independente,
El1ldecker Brnsiliells" (A Descoberta e o Descobridor do Brasil). de Bruno Stysinki. cogitou-se com mais insistência em estimular a colonização estrangeIra
(São Leopoldo - Editora Rotermund). e ainda de várias obras de diversos autores.
9)
e. em particular. por alemães. Criaram colônias no Rio Grande do Sul. em Sal11a torze famílias permaneceram em Desterro, onde se haviam adaptado e conseguiam seu
Catarina. em São Paulo. em Minas Gerais e no Espírito Santo. sustent03.
No ano de 18364, seguiu-se a fundação de um núcleo povoador constituído de
um grupo de imigrantes italianos oriundos da Sardenha: a Colônia Príncipe D.
Afonso, às vezes denominada Colônia Nova Itália. Foi instalada por Henrique Schutel
e estava situada entre as desembocaduras dos rios Tijucas e Biguaçu, a cerca de duas
léguas a oeste da povoação de São João Batista.
Colonos insatisfeitos de São Pedro de Alcântara, em 1837, fundaram a
Colônia, conhecida por "Vargem Grande" e, mais tarde em 1842, na costa norte da
Baía de São Francisco, a Colônia do Saí, que após um ano se desfez. pois todos os
colonos se retiraram5.
Foi instalada em Armação, na Barra do Estreito da Ilha de Santa Catarina, a
colônia alemã intitulada "Piedade", que não conseguiu progredir porque o solo não se
prestava à agricultura.
A maior parte das terras distribuídas aos colonos foi tão mal escolhida, que
nada evoluiu ou só conseguiu progredir com muitas dificuldades. Esta conclusão
também se aplica à maioria das Colônias que surgiram mais tarde, como Santa Isabel,
Teresópolis. etc. Se uma ou outra dessas colônias pôde se manter e alcançar algum
grau de desenvolvimento, isso se deveu ao capricho e à perseverança dos colonos
alemães.
Cedo se verificou que o alemão estava aprm ado conlO colono, razão por que O DI'. Severo Amorim do Valle, Presidente da Província naquela época, diz
houve esforço maior para ampliar a quantidade desses imigrantes. Apesar das elevadas em sua "Fala" à Assembléia no ano de, 1849: "A Colônia São Pedro de Alcântara foi
somas de dinheiro gastas em propaganda pelo Brasil, não conseguiram atingir o instalada em terras ingratas. No entanto, a perseverança dos alemães venceu todas as
objetivo de estimular forte corrente imigratória. porque tanto os círculos dirigentes dificuldades e hoje a Colônia oferece um aspecto aprazível."
como a imprensa alemã. eram francamente contr<Írios à emigração para o Brasil. Em meados dos anos quarentas, a atividade colonizadora no Brasil tomou-se
Por esse nlllti\(). hoje a população do Brasil que fala o idioma alemão é de novamente alvissareira e, em Santa Catarina, a iniciativa privada de colonização
apenas quatrocl'ntas mil pessoas. em \'ez ck quatro milhões ou mais. A responsabililbdc fez-se presente, mediante os alemães. No ano de 1845, reuniu-se, em Hamburgo, um
n:lo foi do GO\'erno Brasileiro. mas sim do Governo Alemão. grupo de abnegados patriotas germânicos, com o fito de discutir a fundação de um
empreendimento colonizador. Infelizmente; por não obter área adequada de terra
Em Santa Catarina. a primeira colonização ofil'ial come~'ou em 1828. com a
colonizável, a sociedade dissolveu-se após alguns anos de infrutíferas tentativas.
fundação eb Colllnia São Pedro de Aldntara. Toda\·ia. como ano da institui~'ã() desse
primeiro núcleo povoadnr alemão den:ria considerar-se I H29 porque. embora os
imigrantes chegassem em I 82í1. os trabalhos para a definição da Colônia só
come~'aram depois de transcorrido um ano. Só então foi possí\'el fazer a instala~'ão 3- Fala do Presidente Francisco Carlos de Araújo Brusque à Assembléia Provincial,
ofici:11. transferindo-os de Desterro para a região de colonização. em 1859.
4- Composto de diversas "Falas" e "Relatórios" de Presidentes da Província de Santa
O pl'lllleiro grupo de imigrantes compunha-se de 1..+6 famílias alemãs. com o
Catarina.
total de 523 pessoas. às ejuais ainda ,e SOIll;l\'am 112 ex-soldados de batalh<ies
dissoh'idos. perfazendo o total de 635 elelllellIOS. Entretanto nem todas essas pessoas 5- Na última década do século passado, Saí foi novamente declarada Colônia e
demarcada, porém os poucos imigrantes que lá chegavam, logo a abandonavam. Mais
seguiram par:\ :1 Colúlli:1. Qua-
tarde. toda a Colônia foi vendida ao agrimensor Pedro de Freltas Cardozo.
o Príncipe de Joinville, no ano de 1849, dispôs-se a vender suas Na verdade, aconteceu com essa colônia, algo inusitado. Aparentemente,
terras em Santa Catarina, sob condições módicas. Nesse mesmo ano, foi lá nunca houve Administração Colonial, nem as terras chegaram a ser
fundada em Hamburgo, pelo Senhor Senador Schroeder, a "Sociedade demarcadas. Pelo menos nada consta a respeito nos relatórios oficiais. Só se
Colonizadora - 1849", que ainda no mesmo ano instalou a Colônia Dona soube que, durante o ano de 1845, foram introduzidos 90 imigrantes belgas
Francisca, situada no atual município de Joinville, e para onde enviaram os pelo Engenheiro Charles van Lede, aos quais, mais tarde, seguiram-se outros
primeiros imigrantes alemães, que chegaram àquela Colônia a 09 de 60. Quando a Colônia Blumenau foi fundada, a denominação "Colônia Itajaí"
6 só era empregada para os povoamentos no ItajaíMirim. Mais tarde, esta passou
março de 185 I .
a se chamar "São Luis Gonzaga" e depois foi anexada à Colônia Príncipe Dom
Na mesma época, aconteceu a Fundação de Blumenau pelo Dr.
Pedro. Uma fundação colonial também ocorreu na margem direita do Itajaí
Hermann Bruno Otto Blumenau, cujos objetivos eram primordialmente outros,
Mirim, da qual
antes de fundamentar sua colônia assentando colonos autônomos. Conforme
sua pretensão, cogitava estabelecer um grande empreendimento latifundiário
ou mesmo diversos menores, mas todos de sua propriedade e sob sua direção. 6- De acordo com o "Volksblcnder für Joinville- 1900", de autoria de Hermann Ley fe r.
É importante salientar que houve outras colônias que antecederam a 7- Fala do Presidente Dr. João José Coutinho à Assembléia Provincial. em 1850.
do Dr. Blumenau no Vale do ltajaí. (Início * 9) Pelo Decreto Provincial nº 11, surgiu o atual município de Brusque. (Término * 9)
de 05 de maio de 1835, foi criada no Vale uma Colônia dita do "Itajaí" para Quando o Dr. Blumenau fundou sua Colônia, as margens do Itajaí-Açu já
onde no ano seguinte se dirigiram colonizadores. Mas, em razão dos constantes eram habitadas até às proximidades da atual cidade de Blumenau, razão pela
ataques silvícolas ocorridos em Camboriú, a maioria das pessoas, temerosas, qual as terras conhecidas por "Scharfe Ecke" (Ponta Aguda) foram adquiridas,
abandonou as suas casas, de sorte que somente seis estrangeiros e dois por ele, de terceiros. Além disso, os 17 imigrantes que trouxe não foram os
luso-brasileiros nela permaneciam radicados em 1837. Ano após, em 1838, em primeiros alemães em Blumenau, pois no trecho do Vale entre a Povoação e
Belchior, foi estacionado um destacamento de Pedestres, com o objetivo de Gaspar, alguns anos antes, instalaram-se numerosos alemães que procediam,
obstar as investi das dos índios. E por esse motivo, no mesmo ano, os colonos principalmente, de colônias mais antigas situadas ao sul. Os pioneiros mais
regressaram às glebas abandonadas e passaram a sentir-se mais assegurados. conhecidos são os das famílias Schmidt, Zimmermann, Handchen, Deschamps
No ano de 1839, contavam-se nos lugares denominados arraiais, como e Peter Wagner.
Belchior e Pocinho, 65 famílias, sendo 48 naturais do país e 17 estrangeiras,
totalizando 141 pessoas 7.
A DIVISÃO DAS TERRAS ANTES E DEPOIS DA estipuladas, para só então' receber o título definitivo de propriedade. O processo.
FUNDAÇÃO DE BLUMENAU que envolvia a legitimação da posse. seguia rito semelhante ao de um processo
judicial, mesmo porque havia circunstâncias a considerarem, demandando
~
Até o ano de 1850, a aquisição de terras era feita de maneira muito simples.
Quem quisesse telTeno para estabelecer seu assentamento agrícola, sem que para
conferências e verificações através de registros. Compete ainda esclarecer que o
governo concedia ao posseiro, caso este exigisse, sempre o dobro da área que
estivesse cultivando. Por isso era necessário que a área cultivada fosse avaliada por
:
tanto tivesse que comprá-Io de um proprietário, simplesmente escolhia terra entendidos e agrimensores e observada, na avaliação, o acréscimo da parte de terra
devoluta do Governo e lá se instalava. devoluta, a fim de que os posseiros confrontantes não fossem prejudicados em seus
Quando fosse necessário adquirir um complexo de maior área territorial, direitos. No entanto, numa legitimação de posse. o mais difícil era a constatação do
exigia-se então do pretendente pouco mais de incômodo, e era imprescindível "direito de posse" do requerente, pois ele poderia ser vendido, legado ou penhorado.
requerer uma concessão junto ao governo, a fim de impedir a invasão por terceiros e, Desavenças geradas pela controvérsia eram freqüentes e justamente os
em seguida, demarcar os limites de acordo com o título concessionário. Essa pretendentes. sem direito preferencial, tentavam, mais amiudadamente, se garantir
demarcação geralmente tornava-se muito dispendiosa, em comparação com as taxas através da legitimação da posse visando obter. pelo direito, a titulação definitiva de
devidas pela concessão, que eram mínimas. propriedade da terra.
Eram várias as designações de área para tais concessões e sua concomitante Ao ingressar-se com processo de legitimação, eram feitas amplas
utilização. por exemplo: divulgações. citando-se à atenção da lide todos os interessados e, se houvesse
- 1 (uma) légua de 9000000 (nove milhões) de braças quadradas (4356 hectares). motivo. podériam os eventuais discordantes contrapor reclamações e protestos.
Acrescente-se ainda que. mesmo depois do processo concluído e enviado à
- 1 (uma) sesmaria de campos de 3 (três) léguas quadradas (13068 hectares).
respectiva repartição do Governo para registro, havia ainda praZo durante o qual
- 1 (uma) sesmari.a de matos, de 2250000 braças quadradas (1089 hectares). eram aceitas e consideradas tempestivas reclamações e protestos de oposição.
Outrossim, havia concessões sem indicação de área, geralmente com alguns Com a incumbência de ocupar-se dos processos de legitimação e
de seus limites determinados, notadamente. por rios e encostas de montanhas. demarcações de posses, foi criada a instituição dos Juízes Comiss~'írios, cuja
Foi justamente na época da fundação de Blumenau que ocorreu uma reparti~'ão era constituída de um Juiz Comissário, um Escriturário e o
alteração no método de aquisição de terras. através do Decreto Imperial nº 60 I de 18 imprescindível Agrimensor. Na qualificação de Juiz Comissário deveria ser
de setembro de 1850, que sustou a aquisição arbitrária de terras devolutas e nomeado, preferencialmente, um Engenheiro ou Agrimensor.
regulamentou toda a distribuição delas e dos serviços demarcatórios. Todavia, como não existiam profissionais em quantidade suficiente para
A partir da vigência dessa Lei, quem quisesse adquirir terras devolutas preencher todos os cargos, as funções eram exercidas por cidadãos nomeados e
deveria antes requerê-Ias ao Governo e demarcar o referido complexo territorial por pertencentes às hostes do partido político dominante. A competência e as funções
conta própria. para só então sujeitar o seu requerimento à aprovação. Somente se inerentes a tais cargos foram estatuídas através do Regulamento nº 1.318, de 30 de
tornava proprietário quem pagasse todas as taxas e obtivesse o "Título Definitivo de janeiro de 1854 e. entre as diversas atribuiç'ões, incluíam a revalidação de sesmarias
Propriedade". com prazo vencido, procedimentos aclvindos de outras concessões territoriais e
afetos a jurisdições diversas e que Ihes eram repassados e submetidos a seu encargo.
Todos os que houvesliem adquirido terras à maneira antiga e não fossem
conSiderados como proprietários definitivos, devido à existência de requisições Algunsjuízes comissários tinham sob sua alçada um só município a atender.
judiciais precedentes, deveriam providenciar o reconhe- outros jurisdicionavam vários. inclusive na divisão de Distritos. e nesses eram. por
Cimento da leoitiml'dade ele ... " " vezes. feitas substituições de pessoal por moti vos
terras.' bpudessem SU,IS posses , para que as
ser legalIzadas.
Assim. mais explicitamente, o detentor de "posse" ou "posseiro", que é a
denominação oficial, deveria fazer a demarcação de sua terra e recolher as taxas
de ordem política e partidária. Acrescente-se ainda que os funcionários desses Rs 200$000 (duzentos mil réis).
tribunais de legitimação não recebiam, pelas medições, remuneração do Quanto m:Iis demorava o trâmite desses processos, m:Iis vag:Irosa
Estado, e competia ao requerente o pagamento da taxa de 80 (oitenta) réis por também se tornava a legitimação, e o prazo de conclusão e o despacho fmal,
braça corrida (2.20 metros). apesar de todas as ameaças. prolongavam-se de ano para ano. Por
Presume-se que, quando o Governo instituiu a representação legal, sob a isso, tanto no planalto como na região costeira, ocorreram novas posses, que
denominação de "Juiz Comissário", se supusesse que a atividade seria eram prontamente legitimadas quando o requerente dispunha dos meios
provisória e passageira e que pudesse ser extinta brevemente, tão logo fossem financeiros necessários. O dinheiro, em tais casos, sempre prevaleceu sobre a
concluídos os trabalhos de legitimações. Cedo. porém. o Governo reconheceu Lei e a Justiça.
que tal não seria possível, pois as rep:Irtições legais não podiam atender a A legitimação, obtida por esse meio, era possível mediante a simples
todas as demandas, com a rapidez necessária, em face do elevado número de apresentação de duas testemunhas que, regiamente pagas pelo interessado,
processos. declaravam a manutenção da posse desde período anterior à vigoração do
Os posseiros. por sua vez. amiúde não dispunham de recursos Decreto de 18 de setembro de 1850. Ainda hoje, tais testemunhas podem ser
financeiros suficientes e, conseqüentemente. delongavam. o máximo possível, facilmente encontradas, mediante boa soma em dinheiro.
a tramitação da legitimação. Os funcionários das repartições, encarregadas dos processos, favoreciam
Como a morosidade na resolução das questões era grande, foi necessário em muito os requerentes sem direito, pois assim procedendo, aumentavam
manterem-se as portas abertas por anos a fio, período em que também consideravelmente seu ganho; também não pairam dúvidas de que o Governo
continuou a manutenção de posse de terras devolutas, o que levou o governo a fazia vista grossa para o que acontecia, porque tinha ciência das falsas provas
tentar resolver o problema de maneira diversa. Pelo Decreto de 30 de janeiro de declaratórias de antiga e continuada manutenção das posses, permitindo que a
1854. entrou em vigor novo regulamento. pelo qual todos os posseiros foram corrupção permanecesse impune e que, à força de propinas, se legitimassem as
compelidos a registrar, sem demora, suas posses em um registro nas câmaras terras. (* 10)
municipais. Quem não cumprisse o regulamento, em determinado prazo. Após a Proclamação da República, ainda no ano de 1889, as antigas
perderia o direito à posse. Se os posseiros observassem a determinação, Províncias tornaram-se Estados autônomos e, conseqüentemente. as terras
estabelecida no citado decreto, seriam eliminadas definitivamente as posses devolutas passaram às suas jurisdições. As regulamentações de posses da terra
arbitrárias de terras devollltas. foram alteradas. e as modificações procederam-se diferençadamente em cada
No entanto. muitos posseiros acabaram perdendo a oportunidade de nova unidade da Federação. Em Santa Catarina. os Juízes Comissários
registrar suas detenções. alguns motivados pela desconfiança. e outros, permaneceram atuantes até 1897, quando foram destituídos com fundamento
segundo alegavam. por desconhecimento. principalmente aqueles que residiam no Decreto 'de 8 de outubro de 1897, e suas atribuições absorvidas pelo
longe. sendo, por isso, seriamente prejudicados. Esses posseiros se "Comissariado Geral". Esse, mais tarde, foi cedido, em regime de
organizar:Im e reagiram contra o que consideravam injustiça. razão por que, a arrendamento, ao futuro diretor da "Secção Governamental de Terras e
tais reclamantes, ou pelo menos à maioria deles, deram nOV:I oportunidade de Transporte", Antônio Maria Barroso Pereira. Barroso implantou. no lugar dos
legitimar as terras, mediante o A viso Ministerial nQ 310. de 22 de outubro de antigos juízes comissários. agências. que só se distinguiam do procedimento
1858, que concedeu o direito aos que se julgassem prejudicados. anterior pela determinação de que parte do dinheiro arrecadado, através das
demarcações. deveria ser transferido :IO chefe.
Essa nova oportunidade contemplava somente aqueles que pudessem
provar o fato de ter o seu assentamento na terra se ,eri ficado em período Logo. porém. esse contrato de arrendamento foi cancelado e o Governo
precedente ao da vigência do Decreto de 18 de setembro de 1850. Na hipótese encampou a atividade.
do indeferimento da legitimação intent:Ida. o posseiro sujeitava-se à multa de
colonização.
a Dr. Blumenau dedicou-se com toda a sua vontade e afinco à administração
da Colônia. No entanto, o ritmo com que ela se desenvol-
Hermann Bruno atto Blumenaunasceu a 26de dezembro de I g 19. em
, via não era o quanto ele desejava. Nos primeiros dois anos, parecia que o afluxo
Hasselfelde. condado de Braunschweig (Alemanha). Era filho do Conselheiro
imigratório estivesse aumentando, mas em seguida regrediu, e uma melhora, tão
Florestal Karl Friedrich Blumenau.
cedo, não se esperava. Intentando inverter esse quadro. em março de 1865. o
Recebeu sua educação escolar no Ginásio de Braunschweig. Mais tarde fundador viajou para a Alemanha. apoiado pelo Governo Brasileiro, com a
ingressou como aprendiz numa farmácia em Erfurt. Quando adulto. mediante finalidade de trabalhar a favor da causa da emigração de cidadãos alemães para o
intensivo estudo. adquiriu o título de doutor. Despertou nele o especial interesse pela Brasil. Esteve ausente por quatro anos e meio. período em que contraiu matrimônio.
ciência natural e o desejo de conhecer países do além-mar. Depois do seu retorno a Blumenau. em novembro de 1869, continuou a administrar
Viajou para a América do Sul, missão que lhe foi incumbida, por um a Colônia até a sua definitiva emancipação. que ocorreu em março de 1882.
empreendimento colonizador. Nessa oportunidade. veio a Santa Catarina. onde se Apesar do dinamismo e mesmo do sacrifício a que se submeteu. durante
sentiu atraído pela região fluvial do Itajaí. razão por que resolveu fixar-se aqui. tantos anos de árduo trabalho, visando ao desenvolvimento da Colônia, que fundou
Associou-se a Ferdinand Hackradt. que na ocasião já se encontrava em Santa com tamanho entusiasmo e carinho. o Dr. Blumenau não recebeu do Governo
Catarina. Após adquirir a terra nece~sária8uma parte ,através de compra e outra por
qualquer menção de agradecimento .10 se afastar da direção colonial e regressar à
doação do Governo Provlllclal . retornou a Alemanha, de onde. no segundo semestre
Alemanha. Limitou-se aquele a apresentar despedidas com palavras fúteis, como se
do ano de 1850. regressou com os primeiros 17 (dezessele) imigrantes para fundar o
o dinâmico fundador fosse apenas um favorecido qualquer. inexpressivo e incapaz.
planejado povoamento, a futura Colônia Blumenau.
Mesmo destituído do posto. o Dr. Blumenau não deixou de atuar com toda a
Conforme consta, neste ínterim Ferdinand Hackradt perdeu o interesse pela
dedicação. Apoiava as sociedades comunitárias com conhecimento e saber e não se
causa. retir~lJ)do-se. amigavelmente, após desfazer a sociedade. Hackradt regressou
cansava de envidar esforços pela causa do maior afluxo de imigração alemã. Em fins
à capital Desterro (hoje Florianópolis), onde assumiu. como proprietário, uma Casa
cté 1883, viajou ao Rio de Janeiro onde, junto com seus amigos Karl von Koseritz e
Comercial e. por ser bem relacionado. acumulou as funções de Cônsul da
Hugo A. Gruber, elaborou um Manifesto propugnando a incrementação do Sistema
Alemanha. falecendo aos 72 anos de idade.
Imigratório. Esse Manifesto, que foi distribuído a todos os Senadores do Império e
a DI'. Blumenau continuou a administrar. isoladamente. o Empreendimento. outras personalidades influentes, resultou, como vetor. na fundação da "Sociedade
o que lhe era possível porque possuía dinheiro. uma fortuna de 16000 (dezesseis Central de Imigração". Essa Sociedade. por muitos anos. lutou pela causa da
mil) talers. Conseguiu. em dez anos de árduo trabalho, incrementar a Colônia, pelo imigração e colonização. Era apoiada pelo reconhecido germanófilo. Dr. Alfredo
menos até o ponto em que ela, encontrando-se firmemente estabelecida, não deixava d'Escragnollc Taunay. que com denodo contribuiu para o sucesso do
dúvidas quanto à sua viabilidade. e sob tais circunstâncias o Governo resolveu empreendimento.
assumi-Ia. (* 11)
a pesar foi geral quando. em 1884. o Dr. Blumcnau deixou a Colônia para se
Nessa transação. o DI'. B lumenau reservou parte da terra para conservá-Ia juntar à sua família que já se encontrava na Alemanha. Na época. em quase todos os
como sua propriedade particular e, pelo restante. foi indenizado com soma de
jornais de idioma alemão no SLJi do Brasil. foi publicada, reportagem cujo teor era o
dinheiro satisfatória. Além diss~. por parte do
seguinte: "A bordo do Vapor . Progresso'. deixou a nossa Colônia, no dia 15 do
corrente mês. o Sr. Dr. Hermann Blumenau para iniciar viagem à Europa. Na noite
8- Num artigo de jornal publicado pelo "Immigrant". de 23 de abril de 188'+. n DI'. Blumenau
anterior ao embarque, seus amigos e admiradores se reuniram, no Hotel Sehreep.
escreve que em 1860 entregou ao Governo. 23 e 3/'+ panes de léguas quadradas da Colônia e
releve para si meia légua quadrada. ou seja. 9000 morgen coloniais.N.R.7 onde estava hospedado. para então se despedirem cicie. Foi um ato que todos
N.R.7) I Illorgen colonial corresponde a 2500 n/.
cumprir:lm como\'ídos e com o coração constrito. Tratava-se de apertar a mão do
amigo. por todos benquisto. o "Pai Blumenau". como
Governo. lhe foi assegurado o cargo de Diretor, pelo tempo que durasse a
era cognominado e, quiçá, ver pela última vez seu cabelo grisalho e sua nobre Todos ficaram profundamente sensibilizados ao ver esse venerável
face." veterano, com sua agradável e sincera maneira, encontrar palavras de despedida
Por proposta do Vigário da Paróquia de São Paulo Apóstolo, formaram para cada um dos mais caros amigos e assim deixar marcada, na lembrança de
uma comissão com presidente e escriturário, a qual em reunião tomou as todos, a sua inconfundível personalidade.
seguintes resoluções: Quem, naquele momento, poderia deixar de ver, ante seus olhos, o
1) O Município de Blumenau deverá eterno agradecimento ao Sr. descortinar de um quadro do passado na história do desenvolvimento dessa
grande Colônia, tão intimamente identificada com seu fundador e diretor?
Dr. Blumenau, por seus 40 (quarenta) anos de incansável trabalho.
Honra ao homem que, desprezando oportunidades de empregar sua capacidade
2) Este município deve ao seu fundador e diretor o bem-estar e o êxito
intelectual em condições mais favoráveis num país civilizado, preferiu seguir
alcançados desde a sua fundação e ficará devendo, preferencialmente por todo
seus impulsos idealistas, desenvolvendo sua atividade, até avançada idade, em
o porvir, pelos longos anos de trabalhos e sacrifícios dispendidos.
áreas nunca até então cultivadas da imensa floresta, para dar vida a uma
3) Estas resoluções serão publicadas no Jornal. brilhante e próspera Colônia Alemã.
Em seguida, os participantes dirigiram-se ao salão superior do hotel e, na É oportuno citar aqui a poesia feita pelo Sr. Vigário, em forma de
presença do homenageado, o Padre Jacobs, a pedido, em nome de todos os acróstico, que foi lida e depois entregue ao Dr. Blumenau, e que é a seguinte:
presentes e em nome também da comunidade, pronunciou a alocução de
"Acróstico ao Sr. Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau - 15 de
despedida. Nela expressou os sentimentos dos blumenauenses, nos seguintes
agosto de 1884:
termos: - "De forma improvisada, se reuniu uma parcela de seus inúmeros
amigos e admiradores para se despedir. Todos se acham no dever de agradecer Belas flores que você cuidou, Livres,
os seus esforços e a incansável atividade que dedicou a esta Colônia, durante os flores - sua coroa de honra. Um Vale
40 anos, desde sua fundação. O futuro reconhecerá melhor os sucessos dessa que você zelou
atividade. Ele plantou a semente que germinou e se transformou numa árvore Muito brilho no futuro trará
maravilhosa e que no futuro trará bastantes frutos. Muitas horas amargas e
E colherá sua bênção
muitos dias ingratos anuviaram sua existência. Que uma velhice agradável e
despreocupada seja o seu pagamento. Nós todos, de coração, dizemos: ' Adeus' No tempo mais distante
- e, ao mesmo tempo, , Até a vista'!" Apesar de invejosos se manifestarem,
O Dr. Blumenau, profundamente comovido, agradeceu as palavras, UIll sucesso a honrará!
manifestando, ao mesmo tempo, a alegria de ver seus amigos ali reunidos. Blumenau em Deus Confia!
Logo após as palavras do Pe. Jacobs, o Dr. Blumenau citou o conhecido Adeus' e viva Illuitos anos
verso do poeta da canção da "Despedida", que diz: "Quando amigos se
Temos isto a di:.er como despedida E
separam, dizem: Auf Wiedersehn (Até Breve)". Foi grande a alegria de todos,
pois não excluía, ante o pronunciamento do homenageado, a esperança que o dia jubiloso chegará
todos tinham de que ele retomasse a Blumenau. Ao clamor glorioso dos céus.
Na seqüência da reunião de despedida, o Dr. Blumenau recusou os Vendo tempestades o cercar,
elogios e manifestações de louvor, assegurando sentir a maior satisfação, caso Onde sem descanso estiver
houvesse realmente contribuído para o bem estar da Colônia e de seus
Logo erguerá os olhares nos céus
residentes. Depois estendeu a mão a todos, abraçando alguns, o que para todos
foi, sem dúvida, um momento inesquecível. Realmente a despedida desse Todos sempre lhe dirão,
homem foi muito comovente. Estava com os cabelos grisalhos, não tanto pelo Ao "Porto Seguro" venha!
passar dos anos. quanto pelo estóico esforço Blumenau em Deus ConfUl!
com que se empenhou desveladamente por longos anos de incansável labor, no
trato dos negócios administrativos desta terra.
Em seguida, foi elevado um brilwt: Dr. Blumel/au, que respol/deu com
w) Visconde de Bom Retiro e o Dr. Alfredo d'Escragnolle Taunay.
outro li Colôl/ia e a seus moradores. A emancipaç:1o de Blumenau teve por conseqüência a dissolução da
Os abaixo-assil/ados pedem a fados os jamais que publiquem o acima diretoria da Colônia, fato que ocorreu por motivos gerais e não como um ato
relatado, em suas caIu lias, para que seja amplamellfe dil'lllgado. Assinados: Pe. dirigido contra a pessoa do Dr. Blumenau, tanto que o mesmo registrou-se quando
José Maria Jacobs, vigário; H. Sandrec:,ki, pastor; Vifor Gaerfner, Guilherme da emancipação de outras colônias. Em todo esse episódio o que causa espécie, é a
ElIgelke, Samef:,ki, Heillrich Krohberger, F. LUIIgershausen, Guido mn circunstância de deixarem o Dr. Blumenau partir sem sequer uma palavra oficial de
SeckelldOlf, Heinrich Clasen, H. Probst, H. A l'é Lallemallf, Dr. Val!ofOlI, agradecimento por parte do Governo Imperial, do que se conclui que houve falta de
Leopold Knoblauch, B. Scheidel/lOnfel, Hermann Baumgarfen, H. Warsoll, sensihilidade daquelas autoridades.
Elesbrio Pinto da Lu:" Joâo Gonçall'es Moreira, Julius Baumgartell, e F. M. Na Alemanha, o Dr. Blumenau continuou dando mostras de seu apego à
FOlltes - Presidellte, Raul SC!l\mr:,er - Escriturário, Johallll Pies." Colônia que fundara, elevando sua voz em defesa dos interesses pela preservação da
Nos relatórios da época não foi registrado, nem esclarecido, o motivo pelo boa reputação dos alemães residentes no sul do
qual o Dr. Blumenau retomou à Alemanha e se viajou com o propósito de não mais Brasil. Com a colaboração de seus amigos, Karl von Koseritz e Hugo A. Gruber.
regressar ao Brasil. publicou um Manifesto no qual convocava os teuto-brasileiros a subscreverem uma
No entanto, pode-se deduzir pelas palavras que pronunciou. por ocasião da petição a ser encaminhada à Assembléia Prussiana. Nesse documento era exigida a
solenidade de despedida, que ele esperava regressar. Também algumas notícias de revogação do "Rescrito de von der Heydt", de 3 de novembro de 1859, que proibia a
jornais da época aventaram sobre essa possihil idade. reportando que o Dr. emigração de alemães para o Brasil. A iniciativa do Dr. Blumenau foi coroada de
Blumenau retomava à Alemanha por incumhência e solicitação do Governo sucesso.
Imperial9. A~ Dr. Blumenau, os efeitos provocados pelo contrato de venda de suas
Hoje. realmente não se sabe e é difícil imaginar que o DI'. Blumenau terras em B lumenau, em maio de 1885, com o Pastor Gustav Stutzer, causaram
recebesse novamente uma prova de benemerência oficial. uepois de longa espera e muitos dissabores, tanto particulares como jurídicos. Defrontou-se com processos,
amargas .provas de paciência. Portanto, apesar ue um jornal noticiar essa nova sujeitando-se a discussões pessoais através de cartas e jornais, o que, certamente,
incumhência oficial, não se pode cntendê-Ia verdadeira, mesmo ante o não tornou mais agradáveis e despreocupados os últimos anos de sua existência.
conhecimento de que ele n:1O havia "caído em desgraça". Até o fim, continuou nas Após falecerem alguns de seus melhores amigos, como Karl von Koseritz e o
hoas graças do Imperador, que muito o considerava, e, entre seus amigos, o fundador Dr. Alfredo d'Escragnolle Taunay que o antecederam. o Dr. Blumenau faleceu em
da Colônia sempre contou com personalidades influentes, como por exemplo, o Braunschweig, com 79 anos de idade, no dia 30 de outubro de 1899.
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festivamente o Jubileu da Colônia. Não obstante, o próprio Dr. Blumenau tinha
outra opinião. Queria que constasse como o dia da fundação aquele em que desistira
Foi fixado, como data oficial da fundação de Blumenau, o dia 2 de setembro do projeto latifundiário e adotara o sistema de colonização com colonos autônomos.
de 1850, porque nesse dia chegaram os primeiros 17 imigrantes ao lugarescolhido Isso se pode comprovar em seus relatórios, onde sempre fez constar o ano de 1852,
para a instalação da Colônia. Esses pioneiros viajaram em navio da Casa Comercial como o da Fundação.
Christian Mathias Schroeder, de Hamburgo. Após 72 dias de viagem chegaram a Na ocasião dos preparativos dos festejos dos 50 anos da Fundação, um
Santos, de onde a viagem continuou até Desterro. Após cumpridas as formalidades contemporâneo do fundador, o imigrante August Müller, irmão do famoso naturalista
alfandegárias, que demoraram alguns dias, a viagem prosseguiu, primeiramente, até Dr. Fritz Müller, escreveu um artigo jornalístico 10 que confirma a preferência da
Itajaí e em seguida rio acima até Belchior, de onde os viajantes, embarcados numa data de 28 de agosto de 1852, pelo Dr. Blumenau.
balsa, pertencente ao Sr. Ferdinand Hackradt. percorreram o trajeto até o lugar onde
Reportando-se ao acontecimento da fundação de Blumenau, aquele autor
hoje se situa a cidade de Blumenau.
registrou em seu diário, fazendo menção às comemorações dos 25 anos da Fundação
A primeira clareira foi aberta na desembocadura do Ribeirão da Velha, na
da Colônia, ocorridas em 1877, anotações com o seguinte teor:
beira da selva (boca da mata), onde foi erguida a primeira casa. Na seqüência dos
trabalhos de implantação da Colônia, fizeram derrubadas em grandes áreas de
"Referindo-me no Jubileu dos 50 n/lOS de Fundnçc70 dn Colônin
florestas nas margens do Ribeirão Garcia e, nas clareiras abertas, plantaram tanto Blumennu, eu lhe comunico que a festn dos 25 nnos de Jubileu foi
grama para pastagem, como milho, aipim, batata e feijão preto, para consumo dos condignnmente cOlllelllorada elll 28 de ngosto de /877. As respecti\'(/s noWs
colonos. no lIlell diário sc70 (lS seguintes:
/877, 25 de Agosto - Jubileu de 25 nnos da Colônia BllllllellulI.
Junto às margens do Ribeirão da Velha foi preparada vasta pastagem
De I1lnllhc7 cedo: serenaW defronte da Casn do DI'. Bllllnenuu; Congra-
destinada à pecuária, atividade que se conservou até os anos ai tentas e era
tulações do Subdelegndo e do Jui: de Pa:: Delegações representntil'({s do
conhecida como "Velha Past" (Pasto da Velha). Naquelas áreas vicejavam muitas
Kultlln'erein (Sociednde Culrum!), leitllm e entregn de ullla lIlensngelllna qual
goiabeiras, araçás e outras árvores frutíferas, além de grandes extensões de baraços
é relawdo o desenvolvil~lento da Colônia, alélll de Ulll álbum (vista geral dn
de maracujá, cujos frutos exerciam especial atração sobre a juventude da
cidade, edifícios públicos, casa do DI'. Blumenau).
vizinhança.
À tarde - desfile dns sociedndes na cidade, cOlIstando ainda Ulll grLIpo de sete
Como dito anteriormente, não era propósito do Dr. Blumenau fundar uma
cal'(t!eiros monwdos em cn\'alos bmncos, etc; c{//ninhada até o pátio dos
Colônia com pequenas propriedades rurais autônomas. O fundador pretendia ativar
arimdores: poses parafotografias; apresenwçc70 de grupos de cantores:
a agricultura em grande escala, e as pessoas imigradas deveriam ser aproveitadas
almoço festil'O.
como funcionários do empreendimento, embora pudessem ser artífices e
À noite - Tearro e bnile.
trabalhadores autônomos.
A mensngemfoi composW e lel'ada por Wilhelm Friedenreich, M.
Todavia, bem cedo o Dr. Blumenau percebeu que o projeto do
empreendimento exclusivamente latifundiário, ante as circunstâncias da época, não Merk e por mim (Augllst Miiller). que integrá\'(/lIlos u deleguçc70 do
traria resultados compensadores, em virtude dos elevados custos. Kulturverein.
Por isso, abandonou seu plano inicial e resolveu demarcar suas terras, O DI'. Blumenau comideravu o din 28 de agosto de /852 como o dia da
fracionando-as para vender os lotes a colonos autônomos. Fundnçc70 da Colônin. porque nesse lIlesmo din vendell. em hastn públicn, os
primeiros /0 lotes de terra, demarcados /l(llllargelll direiw do Ribeirc70
Nos diversos relatos referentes aos primórdios da Colonização de Blumenau,
Garcia, pela oferta de Rs /0$000. Os compradores (o I/1nrceneiro Hnhn, o
esse capítulo concernente aos planos iniciais do fundador é omisso. Por isso
sapateiro Seiffert, o padeiro Hesse e aindn Gebien, Ehrhardt, Klinger, Josiger,
estabeleceu-se o dia 2 de setembro de 1850 como a data oficial da fundação da
Hnhnemann, o ferreiro Spiess e Leithiiuser), . hnviam previalllente acordado e
Colônia .
nenhum u ltmpassa \'0 a oferw do outro.
. Hoje, tem-se como acertada a fixação da referida data, e qualquer dÚVIda foi
dirimida quando, a 2 de setembro de 1900, foi comemorado
Meu irmão e eu (Fritz e August Miiller) viajamos em outro nm'io e chegamos e recebeu o nome de Ida. A malte fez sua plimeira vítima na pessoa de Daniel
alguns dias antes da hasta pública, Compramos dois lotes de terra, que Pfaffendolfr. Os plimeiros casamentos foram os de Julius BaumgaJten e Marg~u'ethe
também se localizavam na margem direita do Ribeirâo Garcia, pouco mais Wagner, Wilhelm Schoenau e Katharina Lucas 11.
próxilllo da cidade. Além da contribuiçâo para (I C(lixa da Colônia, pagamos Durante o ano de 1851. chegaram mais 8 imigrantes: em 1852. mais 110. e
por lote. Rs 100$000. Ninguém, nelll lIIesmo qualquer um dos J7 pioneiros. quando o Dr. Blumenau adotou o sistema de pequenas colQnias. o número de imigrantes
havia, desde 2 de setembro de 1850 até aquela data (28/08/1852). comprado ingressos era de 135. Todavia, como 29 desses se retiraram e três morreram. o número
terra do Dr. Blumenau." de residentes na Colônia era.
l2
O Jornal "Blumenauer Zeitung" emitiu a respeito o seguinte comentário: então. de 104 incluindo os que aqui nasceram . -
"Agradecendo os esclarecimelltos acima. feitos pelo Sr. August Müller, Na maioria dos documentos que existem sobre aquela época, está sempre
queremos acrescelltar que o conteúdo de Sl/{/S pal(/\'ras corresponde assinalado que o recém-fundado povoamento do Dr. Blumenau não recebia crédito.
exatamente ao relato do Dr. Blumenau, feito por ocasiâo da visita que lhe subsídios ou garantias, fosse por parte da Alemanha ou do Governo Brasileiro. Destarte.
fizemos em agosto de 1897, em Braunschll'eig. Como data oficial da fillldação o empreendimento carecia de apoio imediato. caso contrário não poderia manter-se em
ele considerava o dia 28 de agosto de 1852 e, de acordo com essa,foi. em desenvolvimento. podendo até fracassar. Tal falta de apoio. no tocante à Alemanha. foi
1877,festejado o transcurso do Jubileu de 25 Anos; portanto afesta dos 50 Anos notória. pois desse país o Dr. Blumenau. além de não receber qualquer incentivo, sofreu
teria,jorçosmllente, que acontecer somente no ano de 1902. a interposição de toda a sorte de entraves. dificultando-lhe ao m~'íximo o trabalho de
Presentemente, a Câmara Municipal avocou o caso. cOnsliluindo uma reunir pessoas para emigrar com destino ao Brasil. Isso retardou sobremaneira o
comissâo para os prepal'{/Iivos da fes{(( do Jubileu e mal/dou pesquisar, no progresso da Colônia.
Arquivo Hislórico, sobre a l'erdadeil'{/ e real dara da fundação. Foi No entanto, o Governo Brasileiro apoiou o Dr. Blumenau desde o princípio.
consrarado que o G01'emo, desde o início, eSlaheleceu o dia 2 de setembro de Assim. trouxe, à sua custa, os imigrantes - com exceção dos pri mei ros dezessete. que
1850 como o dia da Fundaçâo, e a parlir daí o nom povoamento constou em foram trazidos por conta do fundador - e ainda o Governo Brasileiro participou de outras
seus registros e relalúrios COlllO "Colônia Blumenau", dirimindo qualquer iniciativas. contribuindo substancialmente para o desel1\'olvimento da Colônia.
dúvida."
O Presidente da Província de Santa Catarina, em seu relatório à Assembléia
Provincial. de I º de março de 1853, diz o seguinte:
"Interessado no pwgresso da Colônia Bllllllenau e em apoio a outros
mOl'{/dores do Vale do /{((jaí. estou prOl'idenci(lndo a melhoria da
Os primeiros 17 imigrantes que chegaram a Blumenau foram:
Reinhold Gaertner, Franz Sallentien. Paul Kellner, Julius Ritscher, Wilhelm 11 - Extraído da Revista Comemorativa das Festividades dos 50 anos da Fundação da
Friedenreich com esposa e duas crianças de tenra idade. Daniel Pfaffendorff, Friedrich Colônia Blumenau.
Geier, Friedrich Riemer, Erich Hoffmann. Andreas Kohlmann com esposa e duas filhas 12 - Extraído do Relatório do Presidente da Província de Santa Calarina. de lº de março
adultas e Andreas Boettcher. de 1853.
A plimeira cliança nasceu a 6 de setembro de 1851, era filha do casal Fliedenreich
picada que l'Gi da Barra do Rio lrajaí Mirim até a Colônia. Já autori;.ei a Em Blumenau, o número de imigrantes que persistiam residindo na
construçiio das pollles necessárias, nomeando vários cidadiios daque· Ia Colônia não era elevado. porém, analisando objetivamente. chegava a ser
localidade para, em conjullto COIII a populaçcio, abrirelll a picada e significativo. É o que consta do relatório do Presidente da Província, de 12 de
construírem as casas quefOl'elllnecessárias. A Colônia promete rápido março de 1853. mencionando que dos 135 imigrantes ingressos, 29 abandonaram
desenvol\'illlenfO. " a Colônia, de forma que, somando-se a estes os fale_cidos e considerados os
No mesmo relatório foi mencionado que os selvagens acometeram nas nascidos, o número de habitantes era de somente 104 pessoas.
imediações da casa no Ribeirão da Velha, nessa nova Colônia, e que foram No ano seguinte, o Presidente da Província relatou ser 87 o número de
afugentados por dois colonos. Logo após o incidente, o Presidente tomou as moradores. pois apesar de ingressarem na Colônia mais 28 pessoas e. dessas, 17
medidas necessárias para obstar a r~petição desses ataques. Além dessas desistirem da permanência, também ocorreram desistências de colonos
providências, o Presidente da Província, Dr. Coutinho, criou, no ano de 1854, a relacionados no cômputo do total dos anos anteriores.
primeira Escola Elementar na Colônia. Do ano de 1853 para o de 1854 houve, portanto. uma regressão de 41
Pelo exposto, verifica-se que o Governo não deixou de apoiar o pessoas no total. Desse fato se conclui que, tanto naquele tempo, como também
empreendimento do Dr. Blumenau - bem ao contrário dos dias de hoje. quando as ainda hoje acontece, nem sempre a totalidade dos imigrantes que ingressaram
Companhias Colonizadoras. apesar de não receberem absolutamente apoio permaneceu radicada em definitivo na Colônia. Isso permite calcular-se um
algum, ainda são compelidas a pagar pesados impostos. refluxo imigratório em média de 259c, o que se considera normal.
Se malgrado todos os esforços e sacrifícios financeiros do funda· dor, no Para o fundador da Colônia. a desistência do colono e sua transferência
início a Colônia não prosperou tanto quanto o esperado. hoje isso não é motivo de para outras regiões eram sempre dolorosas, ainda mais que os desistentes
surpresa, pois todas as outras fundações, criadas mais tarde, tiveram que enfrentar difamavam acerbadamente a Colônia. prejudicando sobre· maneira a vinda de
idêntico problema. Na verdade. é muito difícil para um recém-chegado novos imigrantes.
habituar-se às condições de um PO\'O[lmento isolado na floresta. Quem tiver a O Dr. Blumenau. com sua fé inquebrantável, contou com a ajuda da sorte.
oportunidade de ler os relatórios dos "velhos" - os primeiros imigrantes - e tomar pois justamente quando as suas reservas financeiras chegavam ao fim. o Governo
conhecimento dos sacrifícios a que se sujeitaram compreenderá tudo melhor. Brasileiro assumiu ,o sistema de colonização e imi· gração no país. passando a
considerá-Io como uma das mais nobres incumbências, ao mesmo tempo que nele
passou a aplicar recursos expressivos. O fundador da Colônia aproveitou a
oportunidade e viajou ao Rio de Janeiro. para oferecer a sua Colônia ao Governo.
Com auxílio de alguns bons amigos que possuía na Côrte, conseguiu realizar o
negócio. assumindo o Governo o compromisso de compra das terras. em
condições favoráveis. Pelo contrato lavrado. o Dr. Blumenau continuava
proprietário de extensas áreas de terra. próximas ao centro da cidade e que se
localizavam no Vale do Ribeirão da Velha, no Morro do Aipim. na Ponta Aguda e
as terras existentes no Salto. Pelo restante. transferido para o domínio do Governo
Imperial, recebeu a indenização de Rs75 :000$000 - setenta e cinco contos de réis
- e. além disso. foi nomeado para exercer o cargo de diretor da Colônia, com
vencimentos mensais de Rs 500$000 (* 12) - quinhentos mil réis - com garantia
de sua permanência na diretoria. pelo tempo que durasse a Colonização 13.
A maneira como se procurava faz.er da necessidade 1I1//{[ \'irlllde era uma casa amiga e comentavam acontecimentos
realmente original. Assim. por exemplo, apanh([\'am-se algllns vagalumes, da semana: as pequenas alegrias ou alguma
colocando-os sob um copo emborcado e obtinha-se lima sojÍ'Ível i/uminaçao. desgraça ou drama que ocorresse com algum dos
mas qlle mio deixava de ser uma soluçao. Porém, com o fim do verao, esse colonos, no meio da floresta. Às vezes, um deles
recllrso tamhém desaparecia com a ausência dos vagalumes, tornando-se levava consigo um livro para que lessem alguns
necessário. enlao. contentar-se com (/ illlminaÇao do óleo de peixe e de sebo. trechos. cujo teor era discutido em seus mínimos
ou sujeitar-se aficarna escllrideio. o qlle para muiTOS era considerado /(1// meio detalhes.
mais prático. Como não havia jornais, também não havia política e, como não havia
Quando neio hal'ia/arinl/(/ de mandioca, selTúlm-se palmitos com política, em decorrência. também não havia discórdia partidária.
feijão e carne de caça. além de peixe que o rio oferecia com abundância. O Naquelas reuniões, a aguardente era considerada inconveniente e. por
pior acontecia qllando faltam sal. Era um desespero. Mas, Ilara a "felicidade" isso, rejeitada. Casos isolados de embriaguês aconteciam, mas eram muito
de mllilOs, este desespero era solllcionado com o liSO do tOllcinho de Santos. raros. Da mesma maneira, todo o jogo, por concordância geral. era proibido.
Esse IOlIcinho possuía lIIna grossa camada de sal. o que reso!l'ia A dança não acontecia mesmo, pois faltavam os músicos. Todas essas
precariamente o drama dos consumidores. Rasp([\'a-se a sua sllperfície para diversões. algumas com suas conseqüências desagradáveis. mas inevitáveis,
tirar o sal e o restante coloca\'{I-se na água. Qllando faltava fubá, fa::.ia-se o vieram bem mais tarde, quando Blwnenau começou a se "civilizar". Os
plio com farinha de mandioca. A Igllns rangiUln os dentes, porque mio costumes dos antigos moradores dafloresta eram puros e probos. O que seria
gostm'Uln do ((lI pão. Qllando era assado em demasia. lornm'a-se dllm e de Blwnenau se os primeiros moradores não tivessem sido sensatos,
resistente e qllando mal assado. 011 qllando fa::.iam-no mais l'ollllno.l'IJ, estl' trabalhadores e não fossem. em sua maioria, inTeligentes? Só assim foi
I)(io ficm'a com o interior cru. MiliTO sugestil'O era como denominal'am este possível construir alicerces sólidos. O velho pioneiro-branco. il~feli::.mente.
peio de /arinl/(/ de I//{I//(lioca: desapareceu quase por completo nos dias de hoje, mas. afortunadamente.
"Fladen" (TOrtilas). quando fino e "Klitsch" (mal passado). quando grosso. ainda existe uma boa semente em seus descendentes.
Mas. com o pas.wr do tempo todos se acostlll//(/\,(//I/. embora sempre Em todas as áreas, o Dr. Blumenau. fundador e guia de todos, era' o
lamental/do a falta do plio de cel/teio caseiro. modelo exemplar a ser seguido. Trata-se de um homem de raros predicados,
Também. seca oufeiro pinio, 1I.\'(Il'a-se milito a/arinl/(/ de I//(/I/dioca. que empregou os seus conhecimentos e e_\jJeriência com abnegação em
Feijão preto. faril/ha de mal/dioca e carne ainda hoje COl/slilllem o prato benefício de todos. Em nada ele se distinguia dos colonos mais humildes, tanto
nacional e por mllilO tempo preencherao o seu IlIgar. pois essa alimentaçeio é no trajar como naforma de viver e no contato com todos. Trabalhava com
saborosa e nllfritil'{1. afinco; vivia em plena simplicidade. Suportava todas as dificuldades qlle a
Tão simples como a alimentação era também o modo de se l'estir. floresta impunha sem lamentar-se, apesar de para ele as dificuldades terem sido
No verão só IIS([\'(lm camisa e calça de (llgodao e. no i!ll'erno. 111/1 casaco mais acentuadas, tanto pela responsabilidade que lhe pesava nos ombros. como
simples de lã de ol'ell/(/. As rOllpas tra::.idas da Alemal/ha, em pOIlCO tempo em ra::.ao de possuir compleição física inadequada e saúde sensível ao clima,
estm'am gasta.\' e I/a I//(/iorparle I/lOslravam-se inwle(jllwlas Iwra tanto assim que adoecia freqüentemente. A isto tudo aliava-se a diutuma
o clima daqui. Sapatos e meias, brevemente. eram dispensados e todos preocupação
andavam descalços.
que tillha a respeito de seu 'filho problema ", que era a Colôllia e seu furllro, Suas 111111.1' Idoso em Ilrem/{{do COIIIIIIIIO IIIl1lher Ilemjo\'elll e \'il'e-\'('rsa, ;'flls.
resen'as fillallceiras, aos pOIlCOS se esgowram. pois o GOI'erno relur(/\'o em ajudar, como isro era um jogo de sorte, ninguém reclamava do destino - muito menos se um
0.1' POIICOS imigmllres que ({lI 11 i c!/{:g({1"{/1II nos primeiros (/1/(1.1', \'ierwlI à I'elho era premiado com uma jovem, Troca nâo hm'ia. O bilhere era sorteado por um
sua /Irópria C/lS{(/, resullando 1'111 (11te ({.I' dispollibilidades .f/nallceil'{{s dos jui;:, Só em casos quando um ou olltro era rejeirado, enrâo poderia hal'er IIIn acerto
recém-I'illdos I/cassem pl'{{liCIIlIlCllle esgotadas, pela troca de beld({(les entre si. Se as jm'ens, principalmente as mais belas, til'essem a
Exporwçüo m/o ha\'ill; ao contrário, mlliw lIlerc({(loria/lreci,I'{{\'a ser oporrunidade de conhecer com anrecedência a IIwneira pela qual aqui decidiriam
importada, Como n dillheiro era escasso lIaquel({ élwca,' A p/D\'a seus desrinos, algullws cerTamente desisririam de embarcar' Este sisrell/{{ _ o de
- disro é qlle um artífice recebia UIIW pataca (320 réis) ou, de acordo com o dinheiro sorteio - era aré certo ponto secreto, e todos o aceitm'wn e se comportavam como se
alemüo na época, 8 (oiTo) moedas de pmta por dia, ellquanro que IIIn simples realmenre estivessem apaixonados, É claro que nem rodos os qlle iam a bordo tinham
tl'{{balhador braçal só recebia a mer({(le, COlltudo, del'ido à maneira de I'il'er de por objeti\'O comprar come humana, MuiToS só deseja\'(/m adquirir provisões, como:
cada um, economicwllente ;:elosos.l)({ssaI'{l/II até melhor do qUI! seus suceS,l'Ores, sardinhas em salmora, came salgada, bataras, etc, Mas isto também acontecia à
110 decorrer da I!\'olllç,t/o da Colônia. que 110.1' dias de hoje, pelos alros porre, por muiros dos qlle iam ao sorteio, pois o mais importante para eles era,
rendimen/()s Ilue lIuliros Irm, acham indispen,l"Iín'l Il(lrricipar de rudo quanto seja primordialmente, o hilhete premiado, Secundariamente I'inham os negócios de
di\'ertimenlo, e procuram osrentar arrigos de luxo. eferuando com isso, gaS/(ls compra de prOl'i,H)es. Nos casos das escolhas de casais, o comandante do n(/\'io era
exce,lsi1'0.1', Os anrepassados len(\'(/m UII/(/ I'ida simples I! segllra, 0.1' de !loje, se cienrificado e, por sua ve;:,faciliral'a as coisas, auxiliando na organi;:aç(/o e
assim ji;:erem, podert/o assegurar, com reloril'a gal'{{lIlia, 11I1I.lil/lll'O com I'ida distribuiçâo dos "prêmios do sorteio ", Hoje tudo tem mais comodidade e I/{/O é
serella, necessário arriscar-SI! a I'ida. no II/{{r traiçoeiro, para conseguir lima esposa.
Nâo obsranre rodas as dificllldades, a nOI'(1 Coltlllia progrl!dia lenwml!nre, A Colônia evolllia muiro de\'{/gar, Como ainda m/o IWl'ia e.\]iortaçâo, nâo
Vm grwull! oiJsráclllono sell desenvoll'iml!nro el'{/ a milloria do sexofeminino qlll!, hm'itlnegócios renrál'eis vindos defora, nws só de,ljiesas com importaçâo. Isso era o
em relaç'iio ao masculino, era II/{{is 011 IIlelWS dI! uma mlllhl!r para de;:' homl!ns, que mais preocupm'a o DI', BllImenall, Ele já h(/l'ia aplicado toda sllaforruna, e a
Juswml!nre no Ilriml!iro pl!ríodo as mulherl!s eram imprescilldíl'l!is, n(/o só COIIIO falta de "dinheiro 1'iI'0" se rornm'a sempre mais crítica e intolerável. Por isso o DI',
IIIl!ifl para llIllIIellfar a pOlilt/aç'(/O da Colônia. mas rWllhém, I!spl!cialmenre. Blumenall romoll a decisâo de I:iajar para o Rio de Janeiro, a fim de expor
I)({I'{/ uuxiliur o hOml!lIll!mSlla árdlla {(/rl!/Ii, pois n(/o se pode ignorara pessoalmenre a sitllaçâo da Colônia ao GOl'emo Imperial. Providencialmente,
presrill/ll,1'{/ ajlltia qUI! III//{{ 1IIIII/II'r rl!prl!senra I)({I'({ (I homem, qllalltio é ali\'ll naqllele tempo. um amigo pessoal do jillldador hm'ia alcanç'ado posiç'(/o de
expressi\'(/ il~f7uência na Corre, Com o allxílio deste amigo, Dr, Bllllnl!nau
e diligellle,'
conseguiu impor a IJI'el'alência de sells nobres prop(JI'itos. resulrando finalmenre na
Para 1'1' ler Ul/III idéill do (I"anro a/lilla til' mlllher el'({ snlfidll lia Col/'1II ia. concordância do governo de atender (/{I 11"1' lhe h(lI'ia sido reqllerido, DI',
I)({s{(/ di;:e 1'11"1' os 1IIJlllells .1'011 e i 1'11.1' , a Ig IIns a I é IJel1l "1111 {(III BllImenau retomou satisfeito, pois slla ohra ingrcssaria em nOl'o esrágio el'olurório,
1'0.1' ", iam ({() sell enconlro 110.1' nll\'ios qlle I!ram wlllncitldos Clllldll;:illdo A partir daí o G()\'erno Imperial assumiu a responsabilidade pelo desenvolvimento da
imigranres, E o fa;:iam qllando o nm'irl aintia SI! acha\'a longe do {/fracadollro e da Colônia, e atrm'és de um contr{/fO bem elaborado o DI'. Blumenaufoi nomeado seu
harra, Alllgm'alll embarcaç'iies e se dirigiam paI'({ lá, suhiam a hordo do nl{\'io direTor. assim como tambémforamnomeados os respectil'osfuncionários, aportando
I)({ra jit;:er propOS{(/S de caSallll'nlo (is jo\'ens solrei,ras e senhoras que, \'ia de recursos para a construçüo da primeira escola, da primeira igreja, casa de recepçâo e
regra. eram aceilas, Nesras ""iagcns de l7lípcias", agia-se mlliro para trabalhos de abertllra de estradas, Mesmo assim, com a melhor boa I'ontade das
conscienciosamenle. Alra\'és de IIII/{{ lis{(/ CI//II o nome das mlllheres eml)({rc(/(!tls e autoridades, 1I0S primeiros alias tlldo prosperal'a I'agarosamellre, e isso porque os
disponí\'eis lia/'({ o ('{Isalllcnro, os jO\'ens solreiros romm'am conhl!cillll!nro de qlle gO\'ernos europeus, especialmente o pl'llssiano. eram contra a emigraçüo para o
a "merc({(loria" cslm'a à di,l]iosiç'(/o c, de acordo COIII es{(/ injill'llwç'(/o, se Brasil, restringindo-a, Mas, pouco a pouco, a coloni;:açüo de Hlumellall foi (/I 'ante,
0llerm'a li "r/'({n,l'(/Ç(/O ": ran{(/,I IIIl1lheres, {(/nros hOlllens, nenhllm a moi 1', 011 a de tal jilrma que chegou a ultrapassar as expeCfati\'(/s do Dr, Blumenau.
11 Il'n 11.1', Os homens. cwulid{/fIlS ao CIIsalllcnrO, eram escolhido,\' alr{{\'és de
sorreio 011 ','rifll", assim COIIJ() as mlllhcrn, Era cílJ\'io II"e,lwr \'c;:h, 11111 hO//le/n
Durante longo período, após o Governo Imperial aSSl/mir a obra
colonizadora e ter nomeado o DI'. Blumenal/ como diretor, a Colônia
continl/ol/ a preservar os bons costumes e hábitos elogiáveis. Mas, aos poucos,
começou-se a sentir a influência da transformaçc7o das pessoas e do dinheiro.
Assim, foram surgindo novas casas de comércio, bem C0/110 bares e
hospedarias;joram construídos edifícios públicos. etc. Os artífices iniciaram
seus negócios, sociedades foram fl/ndadas. e enfim. Blumenau começou a
evoluir com atividades /11ais dinâmicas ... "
Até aqui, estão registrados alguns tópicos dos relatórios do "Velho Colono
Blumenauense", cujas "palestras" contêm mais assunto a relatar e ainda servirão
para elucidações nos próximos capítulos.
Quem desconhece a situação vigente nos velhos tempos talvez julgue as
descrições do "Velho Colono Blumenauense" um tanto exageradas em alguns
relatos, mas não é o caso. Talvez o relatar, visando tornar seus informes mais
interessantes em um ou outro lance, tenha incluído alguma cena por conseqüência
dos fatos, embora ocorrida isoladamente, como, por exemplo, o que descreveu
daquela "Casa Comercial" com toucinho podre, carne seca deteriorada, feijão
bichado e outras coisas estragadas. Poder-se-ia, assim, imaginar que todos os artigos
e outros, além dos referidos, se apresentassem da maneira descrita, porém poderia
haver produtos em boas condições que não foram apresentados. Ainda poderiam ser
citados muitos casos sobre os quais é preferível silenciar. Acontece que, mesmo
atualmente, uma pessoa habituada à higiene poderá sentir repulsa ao adentrar
algumas casas de comércio de secos e molhados e ver os vasilhames onde Hermann Wendeburg
acondicionam o açúcar masca\'o. a farinha de m,uldioca e outros gêneros
alimentícios. A obra colonizadora progrediu, a partir dali, com mais intensidade, porque o
Governo concedia meios suficientes para que pudessem executar construções de
No geral, as condições, até 1860, não poderiam ser melhor descritas, como o estradas e outras obras públicas, com as quais havia oportunidade de os colonos
fez o "Velho Colono Blumenauense" e cujos fatos são verídicos, de acordo com ganharem mais dinheiro. É obvio que, de acordo com a concepção de hoje, o
outros informes que ainda hoje se obtêm. embora muito raramente. empenho do Governo não foi tanto - pois no primeiro ano correspondia a Rs
BLUMENAU NA CONDIÇÃO DE 12:912$506 - mas, considerando que Blumenau durante toda a administração
COLÔNIA DO GOVERNO autônoma precedente, exercida por seu fundador durante 10 anos, dispendeu no
período minguados recursos de cerca de Rs 25:000$000 (vinte e cinco contos de
réis),
Em 30 de janeiro de 1860, a Colônia Blumenau passou à competência do
Governo Imperial. O Dr. Blumenau permaneceu como diretor, e seu secretário
particular, Hermann Wendeburg, foi nomeado para o cargo de guarda-livros.
pode-se muito bem imaginar quanto representava para a Colônia esta nova situação. transcorria a contento, o Dr. Blumenau aproveitou a oportunidade e fez uma viagem
(* 13) à Alemanha, onde permaneceu alguns anos fazendo propaganda a favor da
O número de imigrantes, que nos anos anteriores foi ínfimo. cresceu emigração para o Brasil.
consideravelmente, conforme se verifica pelos dados que seguem, devendo-se Em substituição ao Dr. Blumenau, por sugestão deste, foi nomeado o
destacar também que a melhoria no atendimento às mais elementares necessidades guarda-livros Hermann Wendeburg. Era um dos homens mais bem conceituados,
dos que afiuiam, determinàu que se fixassem definitivamente na Colônia. destacando-se pelo profícuo trabalho em prol do desenvolvimento de Blumenau.
Logo no início foi instalada uma escola, à custa do Governo - e o Wendeburg nasceu no dia 2 de fevereiro de 1826, em Forste, Braunschweig e
foram outras mais, subvencionadas pelos colonos e pela direção nas I diversas emigrou para o Brasil, chegando a BJumenau no ano de 1853, onde se tornou
"tifas" (Tiefen). Providenciou-se a vinda de um religioso evan- secretário do diretor. Como guarda-livros e diretor substituto, Wendeburg
gélico, conforme registrado, em julho de 1957 16, com o custeio do Governo, para administrou a Colônia com sabedoria e fidedignidade, servindo-a até sua morte,
atender a quase totalidade da população evangélica, na pessoa do Pastor Oswald Hesse. ocorrida em 13
~Em 1861, havia um vigário católico em Gaspar, onde habitava o maior número de de janeiro de 1881. _~
Até 1864, a Colônia contava coT1\ 617 fogos! instalados (residências) e 2471
católicos e de onde se deslocava para atender a pequena comunidade católica da
moradores. Havia 169 cavalos, 1029 cabeças de gado, 111 ovelhas, 23 cabras, 3135
Colônia de Blumenau. A Colônia somente recebeu vigário próprio, no início dos
suínos e 22700 aves domésticas. A exportação era de Rs 19:000$000 e a importação
anos setentas.
de Rs 50:000$000.
Até 1874, os imigrantes, não sendo todos de origem alemã, na realidade Durante os anos em que Wendeburg administrou a Colônia, ocorreu a eclosão
eram. em sua maioria, aparentados dos alemães. como os belgas (flamengos), os da Guerra com o Paraguai, cujas conseqüências foram sentidas profundamente até
dinamarqueses e os holandeses. No ano de 1875, ingressaram os primeiros 27
nos mais distantes rincões da Colônia.
italianos. aos quais, nos anos seguintes, juntaram-se outros grupos.
Quando, no ano de 1864, o Brasil iniciou a mobilização das suas tropas (*
A maior imigração italiana ocorreu em 1876, com 240 e em 1878, com 438
14), não se supunha que a campanha de guerra durasse cinco anos. Até então,
indivíduos, devendo-se, no entanto, frisar que os imigrantes registrados como ninguém imaginava que o Paraguai tivesse pretens'ões de .expansão· territorial
"tiroleses", em sua maioria, consubstanciavam o contingente de italianos. mediante o deslocamento das suas fronteiras, invadindo território de países
Outrossim, não se deve ter por fulcro definitivo e como absolutamente certas as vizinhos, culminando nas afrontas e atentados praticados pelo seu Presidente,
listas de imigrantes. pelo menos no tocante à nacionalidade e ao idioma. Assim está Francisco Solano Lopes, contra a soberania do Império do Brasil.
registrado que, nos anos 1890/1891, foram recepcionados 1633 poloneses, enquanto
Entretanto, quando Lopes, sem prévia declaração de Guerra, atacou e se
que, nos anos precedentes de 187811880, a i migração polonesa era composta
apoderou do navio brasileiro "Marquês de Olinda" e invadiu, saqueando e
somente por 8 (oito) pessoas - mas nos anos citados e provavelmente antes, já
incendiando, a Província do Mato Grosso, foi que se conscientizaram afinal de que
haviam chegado numerosos poloneses que, na maioria, foram assentados na Estrada
se tratava de um incidente muito grave.
das Areias. Tais pessoas foram registradas nas listas como alemãs, porque eram pro-
cedentes da Polônia Prussiana. Sob outro aspecto os registros indicavam que os Por isso, tomaram todas as providências para empreender uma longa
russos, entre 1890 e 1897, haviam chegado em número de 2534: porém levando-se campanha e, procedendo à conclamação de voluntários - pois não havia serviço
em conta o idioma que falavam, só uma quantidade irrisória era realmente composta militar obrigatório (conscrição) - o país organizou-se para levar a guerra ao
Paraguai.
de imigrantes russos. A maioria, portanto, registrada como procedente da Polônia,
falava o idioma alemão ou era composta pelos chamados teuto-rusN.R.8 Para todas as regiões do país partiram comissões de convocação
sos
No ano de 1864, quando o sistema de colonização já estava bem organizado e tudo
com a bandeira imperial- o mesmo acontecendo nas colônias habitadas por também não perdiam tempo; quando encontravam um jovem que não possuía
imigrantes - para que, em torno dela, se recrutassem voluntários. alguém que o apadrinhasse com influência política e o liberasse,
Blumenau era, então, administrada por Wendeburg, que liderou os qualificavam-no injustamente como desertor e o transformavam em
trabalhos de convocação, conseguindo arregimentar respeitável quantidade de "Voluntário". Deste modo, em vista do risco que corriam, os jovens refratários
voluntários alemães, e por seu empenho, mais tarde, o Imperador D. Pedro 11 se refugiavam nas selvas. Como alguns dos fugitivos que se embrenhavam nas
conferiu-lhe a Condecoração da Ordem da Rosa. matas se agrupassem a verdadeiros criminosos e a elementos de conduta
duvidosa, pode-se imaginar a quantas perversidades os índios botocudos foram
Ao todo, foram incorporados em Blumenau 67 soldados e 8 oficiais, dos
submetidos.
quais a primeira divisão seguiu para Desterro no dia 5 de setembro de 1865,
enquanto o restante partiu no dia 23 de outubro. Os oficiais eram: Capitão von Muitos moradores do litoral não suportaram o recrutamento compulsório
Gilsa, Tenente Odebrecht, Alferes Sametzki, Alferes von Seckendorf e o praticado pelos comandos de policiais-militares - pois eles causavam mais
Alferes-Cirurgião Friedenreich. (* 15) pavor à população do que a aproximação de uma horda de botocudos. Destarte
resolveram abandonar suas casas e recolherem-se à selva, onde se sentiam mais
Cumpre salientar que, relati vamente à incorporação de voluntários, a
seguros da perseguição (* 16). Formaram grandes grupos e seguiram em suas
Província de Santa Catarina encabeçou a lista patriótica que, desde o início, em
canoas, levando os seus poucos pertences pelo Itajaí-Grande acima.
conjunto com a do Paraná, apresentou 25 Batalhões de Voluntários; sendo o 9º
Ultrapassando o "Salto" e vencendo as inúmeras correntezas, só pararam
(Nono) Batalhão integrado por duas companhias de alemães 17.
quando encontraram o rio manso e tranqüilo. denominando o local de "Rio
Como se sabe, a Guerra foi longa, pois só chegou ao término com a Morto"N.R.9. onde se instalaram e passaram a viver definitivamente.
aniquilação de Lopes, no dia I º de março de 1870. Com o passar do tempo e
Mais tarde. quando a colonização avançou até aquelas paragens o Rio
devido à circunstância de os blumenauenses perderem o entusiasmo inicial e
Morto - e a terra foi dividida em lotes, algumas daquelas famílias
não sentirem mais disposição de seguir para a Guerra no Paraguai, supuzeram
permaneceram assentadas nas terras e seus membros tornaram-se bons colonos.
que na Colônia, tão afastada, estivessem a salvo da incorporação compulsória
No entanto. a maioria dedicou-se essencialmente à pesca e à caça e. quando o
pelas juntas de recrutamento, e o gesto dos desistentes insubmissos
lugar não oferecia mais estes recursos, seguiam rio acima. em busca de outras
permanecesse sem conseqüências. Mas não foi o que aconteceu, e é o que se
regiões mais propícias.
verá no desenrolar desta narrativa.
E foi assim que Blumenau adquiriu a sua população luso-brasileira.
Com os voluntários de nacionalidade brasileira, que o Governo
Em todo caso. essa conseqüência da Guerra do Paraguai não foi prejudicial à
incorporou às tropas, aconteceu um fato estranho: só uma minoria era
colonização. pois os "caboclos"', como era chamada essa gente, formaram, a
constituída de verdadeiros voluntários, enquanto a maior parte era apanhada
partir daquela época, uma vanguarda na zona colonial em direção às nascentes
pela polícia ou escolta militar e, desse modo, os jovens eram ~orçados a se
do rio e contribuiram muito na contenção dos selvagens. impedindo que se
tornar "Voluntários". A estes não interessava, em absoluto, Ir para a Guerra no
deslocassem em direção às áreas mais colonizadas. Pouco mais recentemente,
Paraguai e lá lutar contra o "degolado r" (é que os paraguaios, como se sabe,
cortavam o pescoço da maioria dos prisioneiros para não ter que alimentá-Ios), quando a comissão de engenheiros começou a trabalhar na exploração do Alto
mas preferiam, na primeira oportunidade, desertar e regressar à terra natal. Por Vale do Itajaí. rasgando a primeira estrada para o planalto, esses "caboclos"
isso, toda a região do Vale do Itajaí foi invadida por desertores, aos quais se concorreram com sua mão de obra que foi de inestimável valia, pois eram todos
juntavam ainda escravos fugidos. extremamente hábeis nas lides da selva e exímios no manejo das embarcações e
nas travessias de quedas d'água e con·edeiras.
E, como intermitentemente, escoltas militares percorriam a região, em
busca dos insubmissos e refugiados, os desertores homiziavam-se sempre mais Concernente aos Voluntários de Guerra Blumenauenses, talvez só uma
para os confins da floresta, onde, a exemplo dos índios, minoria participou da campanha até o final. Dos Oficiais. regressou
dos se surpreenderam com a resposta de Hannes, que assim va Na falta de 1/I1W cadeia, Hannes foi amarrado nllma árvore, LIma
abertamente seu delito. laranjeira, onde foi cOlllpelido a meditar sobre liberdade e disciplina e refletir
sobre seu delito,
iui::: perguntou:
Depois de algulllas horas de séria meditaçelo, naquela posiçelo
"Sabia que o machado pertencia a Breslin? ", "Sim,
desconfortál'el, acabou cedendo e afirmou estar arrependido de seu delito,
sabia ", promijicalldo-se a reparar o lIIal praticado, Estam assim resolI'ido o caso e
"Então por que lel'ou a propriedade alheia?" Ilinguélll guardou rancor a Halllles, que Ilunca mais cometeu outra ilicitude,
Tomou-se IIIl/a pessoa atil'a e lÍtil. Faleceu 1/0 ano passado. com idade al'ançada,
"Eu só queria afiá-Io, pois I/{/O cortava mais nada, jiJi só isso. " "O
rodeado por sua respeitál'el fWl/ília,
Senhor Breslin nela possui pedra de amolar:>"
Mu(([Tis-mll(([lldis, COIIIO l/elO seria sua I'ida depois deste delito. se
"Sim, mas era grosseira e nelo dei.wI'afio de corte," porvenfllra a ocorrência acol/tecesse na Alemallha?
sim falando, Hannes colocou o (([baco outra I'e;, na boca, O jui;, )u:
"Mas não del'ia retomar na segunda-feira.?" "Sim,
del'ia ",
acusador contesta energicamente, Hannes continlloll Slla afirli:::endo
que. do contrário. ele nela levaria o mac!/(/do.
jui;, deixou que os dois discutisselll por algllns lIIomentos e esoll'eu
inten'ir:
"Onde está o machado:)"
"Lá em casa ",
"Vai del'oil'er o lIIaclwdo ao legíTilllo dono.?"
"Ncio, isto ell I/{/o preciso jil:::er".
!Jara for(({lecer sua respos(({, cuspiu outra porçcio de .f!.OSIl/(/ de 10
cheio, O jui::: entcio explicou ao delinqüellte qlle, mesmo com ?pósitos.
I/{/O se del'e lel'ar para casa /1111 objeto !Jel'lenCenle a sem permisscio do
proprierário.
ém disso, as testem linhas /1(/0 tinham conhecimento se Breslin ra Hannes
para l'oltar a trabalhar para si, Afim/(/\'{/m (({mbém ISIiIl declarou que o
trabalho termillara e de que Ilotlji'caria se se outra I'e::: de
Na segullda qllesrão de Justiça, tratou-se de furto contillllado cometido
trabalhadores,
porllll/a moça chamada Cat!wrina Müllll/(/Ill/. mas que só era cOl/hecida pelo
)misto. o jui::: cOlldellou o aClIsado a apelido de "Trilla - a Seil'agem ".
del'oil'er o olJjero fiLrtado ?amenlO Catharina ainda era mel/or de idade, 11/(/.1' era alia e ji)rre e,
das despesasjlldiciais, qlle eram
12)
as dil'ersas merca-
em seu esconderijo. Emface das mui({ls proms I'isí\'eis e irrefutâl'eis nada ({(liant(/\·o negar.
As pro\'as inso.fi.l'I/uí\'ei.\· estl/l'am ali. Mas, o que se de\'eria fazer agora? -
Mas. o jarro tanto mi à fonte até que um dia se quebra. Assim aconteceu.
pensa\'({ o juiz. Prender 1/(/0 odianwria. disto não hm'ia dlÍ\·ida. Mas deixar que
Certa noite, hino ;'1I'adiu a própria residência do jui~, entrou na co~inha e
a at)'{!vida ladm escapasse novamente, wmbémnão era possível'
alcançou a dispensaJazendo lá uma Iimpe~a geral entre lingüiças, carne
defumada e toucinho, deixalldo como recibo ou lembrançaunlllmensagem O guardiâo da lei sabia conlO reso!l'er a questâo, sem se ater muito aos
cujos termos aqui nclo podemos registrar. Só podemos di~er que o recibo inlÍmeros parág)'{/fos e decrelVs suplemenlOres, e decretou:
sobre a mesa da co~illha era ilegÍ\'el. porém perceptÍ\'el por seu hor/'ÍI'el - Vinte e cinco chibawdas nela!
cheiro. A um sinal. o sen'ente saiu da sala, retomando pouco depois com uma
Este comportamento de Trina foi demais para o jui~. Ainda no decorrer longa I'(/)'{/ de pessegueiro //(/ mclo. Quando Trina percebeu que a situação
daquela nwn/u/. COI1\'ocou o pessoal dispolIÍ\'el pam prender a vespa fimra séria. caiu de joelhos e de mãos posws imploram que nâo a castigassem e
sel\'(/gem. Teve início unw I'erdadeira batida policial. Mas como o esconderijo a solwssem, chamando céus e terra por testemunha de que jamais tomaria a
era mais IIU menos conhecido, logo a "ca~'a "/ili IlIcalizada e cercada. Com roul)ar. Mas o juiz I/wnte\'e-se inflexí\·e1. Embora resistisse e espemeasse
todo o cuidado, os "caçadores" aproximaram-se, pois todos sabiam que com a muito, a moça foi firmemente dominada. Trinafoi colocada sobre IIIn banco e
Trina lU/O se podia brincar. Mas, des/(l \'e~, ela não reagiu impetuoswllente. nadalllenos do que vinte e cinco chibawdas incidiralll sobre o alvo
Bem protegida pelo musgo seco, a procurada eS/(l1'{1 numa gl'll/(l, dei({lda e "corpusjuris" da delinqiiente que, ao Jinal do castigo, mais parecia um
adormecida, cercada por Iingiii~'as, presunros e farias do toucinho - 1lI11 amassado "beef\lecf..:". Trina rangia os dentes, mas 1/(/0 deixoll escapar um só
I'erdadeiro para(w para a /Ílrti\'{1 llndarillw. Aconteceu a Trina o mesmo que lamenlV. só o tremor do seu co/pu denuncim'a a dor que sentia. Ao terminar o
acontece à serpente que. após del'orar 1'1/0 presa cai nl/lll sono letárgico. castigo, o servente foi incumbido de conduzir Trina para fora, dei.wndo-a
enquanto/àz a digestâo. Tnnll foi acordada com cerra \'iolência e, jUllfo com Iil'l'e, com a adl'ertência de (/IU!. se repetisse o delito, a dose do castigo seria
dobrada. Trina não disse uma sá palavra, mas est(l\'a Ih'úla e trêmula. Vergonha, medo e rai\'(/ denotm'a-se em seu semblante.
13)
Trilla COIIIO desllll/{/no. Pel/eito ele nelo é, nós tambél/l admitimos isso, II/{/sfoi MAPA DO MUNICíPIO DE BLUMENAU por
extrelllilmellt prático e pr(J\'idellcial, pelos resllltados alcançados. COIIIO "hilla Sel-
JOSÉ DEEKE
I'(lgem" a lIIoça entmllna sala do jlli;: e COIIIO "Trina DOlllilda ", ela saill. Nllllca mais
se olll'ill falar de qllalquer delito 011 algo semelhallte praticado por ela. Fosse 11m
selltil/lento de I'ergonl/{/ 011 a lelllbrallça da dor sofrida, 011 l/leSIllO olllbos as
hipóteses, o foto é qlle o costigo del'e tê-Ia lel'{/do à ra;:tio.
14) Os pais de Trillo a condll;:iral/I pora Olltro Distrito e tl'iltar(//I/ de armnjar-Ihe IIIn
I/larido. Mllitos anos depois, encontrei-a lia localidade de Rio dos Cedros e soube qlle
elo se transfom/{/ra nllll/{/ caprichosa dono de c{/Sa. Trino falecell há olgllns anos.
Tois os procedilllentos arr{/\'és dos qllais, COIII raras exceções, emm
reso!l'idas as oco/Têllcias policiais e os casos crilllinais 1111'/10.1' gra\'es. As
de.I'(/\'ençasjól/liliares e COI/l I'i;:inhos gerall/lellte 1'1'(//1/ 1'1'.1'01I'idas pelojlli::, Jilra
do expediellte e graciosalllente. pois naqllele telllpo a alltorid(ule era belll I/Iilis
respeitada do qlle 1/0 atllafid(/(Ie.
Assaltos, es!cujlleol/lelltos. tiroteios. etc., oilldonlio cOllstm'om da ordelll do dio
110 exercício do olltoridode. Brigas, n(/(jllele telllpo, acolIteci(//n selll (/111' corresse
songlle - poderia ocorrer, CUI//() resllltado de UIII entrel'ero. 11111 peqllel/o corte ou
songr(//nenf{) do 110 ri;:. e srí. SlIcedia qlle, qllondo I/ecessário, ojlli:: ugio COIII lIIoior
sel'eridade e os pertllr· badores da ordelll I'/WI/ pllllidos jJogolldo pelos dUllos, Isto
Ihes reprilllia a I'onwde de {il'ilticor /1If(/S fin'es, {iorquonto os pesodos cOl/.leqiiências
indeni;:m(Írias arrefeciolll os ânilllo.I·, até lIIeslllo dos lIIois e.lIlltudos.
Cri 1111'S cOl/tra a lIIoral e os costllllles, qlle hoje stio freqUentes, erulll
desconhecidos. VIII casal dejol'ens enal/lOr(/(los jOlllilis se es(/lIecio du
resl}(}l/.whilidode e isto de\'io·se à lJOo edllcaç'lio FI/nilior qlle recebiml/n(/ in/tincio,
indllsil'e lias esc%s. Mediante tal COl/lpOI't(ll/lento eticolllente di,I'ci/J!ill({do e
1II01'il/lllente respon.l'iÍl'e/, o l'él/ e o grinalda e rUIII 1'0 /oros(//nen te hon r(ulos ".
A
lgllém
pode
consid
erar o o "Velho Colono Blumenaucnse" ainda registrou em suas "con\'ersas"
métod outros assuntos. que aqui se deixa de consignar. Os tópicos anteriormente narrados
o estão perfeitamente integrados no contexto histórico da e\olução dc Blumenau. em
aplica interessantes e curiosos aspectos. numa época em que esta Colônia recebia o apoio
do à do GO\erno e era administrada pelo Dr. Hennann Blumenau.
15)
16)
••. l<ilome1er .. _ RA TURA SUL-AMERICANA
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~~\ I I •••
~ VOLUME 11
Jo 5 O 10 10 c
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o MUNICÍPIO DE
BLUMENAU EA
HISTÓRIA DE SEU
DESENVOL VIMENTO
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JOSÉDEEKE
Gelânde-Skizze lJon frledrich Deeke 1877
L
I
Delineamento Regional Topográfico por
T
FRlEDRICH DEEKE -1877
17)
E Segunda Parte
Contendo linhas vertentes, divisares d'água cios Rios
do Norte, Rio Preto e Rio Itapocu.
1917
18)
A EMANCIPAÇÃO DA COLÔNIA BLUMENAU O
Prólogo e as Conseqüências
Südamerikanische Literatur
A palavra emancipação, no âmbito da organização político-ad-
ministrativa, deve ser interpretada como "tornar-se autônomo". Mas tal
autonomia pode, quando alusiva às colônias, ter desempenhos e conseqüências
diferenciadas. Assim, exemplificando, por ocasião de sua emancipação,
Blumenau tornou-se de imediato um município autônomo, enquanto que outras
colônias, tais como: São Pedro de Alcântara, Isabel, Teresópolis, etc., foram
anexadas, somente como comunidades, a outros municípios. Nas colônias ainda
menores, a autonomia nada mais significou que a supressão, por parte do
Governo, dos benefícios e privilégios concedidos aos colonos que passaram,
daí em diante, a depender exclusivamente de si próprios e ainda tendo que
pagar impostos, etc.
No passado, habitualmente, o prog'resso de uma povoação iniciava sob a
influência religiosa (já que a religião católica era a oficial), com sua elevação
para "Freguesia" (também chamada Paróquia), e para tanto era necessária a
autorização do bispo diocesano, responsável pela circunscrição eclesiástica. O
requisito indispensável à elevação, era o da preexistência de uma capela
erguida pelos moradores. Na transformação para Freguesia, a ela sempre
davam o nome de um padroeiro, que costumeiramente precedia o topônimo em
questão. Tal prática-importava, com freqüência, em que a denominação
original, com o tempo, fosse quase esquecida, mormente se o nome do santo
fosse muito extenso. Em muitas destas freguesias, logo a seguir, instalavam um
juizado de paz e um distrito policial, quando não o instauravam no próprio ato
da criação. Contrariamente, isso não ocorreu em B1umenau, quando da
fundação, porque por vários anos não houve motivo algum para existir uma
paróquia qtólica, pois toda a população inicial era praticamente composta s6 de
protestantes.
Na ocasião da fundação de Blumenau, a Província de Santa Catarina
contava, ao todo, com 7 (sete) municípios, infra-arrolados, com sua
23
. arreca açao
respectIva d - anua : 1
Arrecadação Anual em Rs estatuído que,
I) - Desterro ..................................................................................... Rs 4:312$924 em cada distrito,juntamente com a eleição dos vereadores do município, fossem
eleitos dois juízes de paz, que faziam revezamento, substituindo-se mutuamente a
19)- Laguna .............................................................................................880$519
cada ano, durante os quatro de mandato. Assim, no impedimento de um, havia
20)- São Francisco ............................................................................. Desconhecido sempre substituto e, somente quando ambos estivessem impedidos, os cidadãos que
21)- Lages ................................................................................................480$800 haviam recebido número de votos imediatamente inferiores passavam a prestar o
22)- São José ...........................................................................................288$094 serviço.24
23)- São Miguel .......................................................................................548$400 Na Colônia Blumenau, o próprio Dr. Blumenau exerceu, no princípio, as
funções de autoridade julgadora, arbitrando nas questões em que se tratasse de
24)- Porto Bello ......................................................................................... 50$800
assuntos corriqueiros, sendo os demais e os casos especiais, da competência do juiz
de paz de Itajaí, que então exercia a autoridade. O Dr. Blumenau elaborou um
A arrecadação provincial foi, no mesmo ano, de Rs 85:280$000. A respeito
registro dos nascimentos e celebrava casamentos provisórios. até que estes
do número de habitantes, não há dados daquela época. encargos, a partir de 1857. foram assumidos pelo Pastor Oswald Hesse, que chegou
Nó ano de 1856, em toda Santa Catarina, a população era de: a Blumenau em julho do mesmo ano.
Brasileiros.............................. 87914 Um ano mais tarde, a Colônia Blumenau foi elevada a distrito de paz. No
Estrangeiros .......................................................................... 5008 entanto. o presidente da Província retardou a eleição de um juiz de paz. porque não
Escravos ....................... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 18187 havia o necessário número de eleitores. Tal foi o motivo por que, só no ano de 1878,
Blumenau foi oficialmente elevada a Freguezia. enquanto que, por decreto assinado
Total ....................................................................... 111109 em 25 de abril de 1861, o lugar São Pedro Apóstolo de Gaspar, sob as mesmas
condições, bastante antes alcançou a categoria de Distrito de Paz. Blumenau,
A atual cidade de Itajaí era uma freguesia que, juntamente com Blumenau,
quando da sua elevação a Freguesia. recebeu como patrono São Paulo, passando a
pertencia a Porto Belo. Mas os limites eram diferentes dos atuais. Assim, o distlito
denominar-se "Freguesia de São Paulo de Blumenau".
de ltapocoroy, ao norte da embocadura do Itajaí, não pertencia a Porto Bello, mas
sim, a São Francisco do Sul e, só por ocasião da fundação do município de Itajaí, no
ano de 1858, lhe foi transferido.
O Poder Judiciário em Santa Catarina subordinava-se, até 1873, ao Tribunal
Superior do Rio de Janeiro, enquanto a própria Província dividia-se em duas
comarcas, a do Norte e a do Sul. a primeira com sede em São Francisco e a última A emancipação da Colônia Blumenau não sobreveio tão rápida e
em Desterro. inesperadamente como geralmente se afirmava e é uma matéria que foi
anteriormente amplamente discutida e esc1arecida. Oficialmente ouviuse falar da
A comarca era jurisdicionada, como ainda hoje, por um juiz de direito e, na
emancipação. pela primeira vez, no relatório do presidente em 1879. quando o
hierarquia descendente, havia os juízes municipais, cuja instância, desde 1891, não
titular Lourenço Cava!canti de Albuquerque diz:
existe mais em Santa Catarina. Ademais, nem todo município ou "Termo", como se
chamava na divisão circunscricional e judiciária, possuía recinto forense que "É necessá rio emancipar o mais rápido possíl'el a Colônia, mesmo que
comportasse dependências judiciais necessárias aos despachos resolutórios de só parcialmellle ". E o DI'. Blumenaujá havia entregue proposta neste sentido a
umjuiz municipal. E ocorria. então, que vários municípios eram reunidos num só qual. através do presidente da Província. foi apresentada ao Ministro da Agricultura
"Termo", ou ainda em diversos, então declarados, "Termos Reunidos". A Comarca (se a emancipação sucedeu realmente por influência desta proposta, não foi possível
do Norte, à qual Blumenau pertencia, era composta dos "Termos Reunidos" de São verificar nos outros relatórios).
Francisco e Porto Belo, de forma que havia um só juiz municipal que tinha forum Depois dessa iniciativa do Dr. Blumenau, sabe-se que houvera diversas
em São Francisco. Os juízes de paz eram subordinados ao juiz de direito e, juntos, medidas adotadas pelo Ministro da Agricultura, que não deixa-
formavam a primeira instância. Os juízes de paz, como ainda hoje, eram cidadãos
eleitos, pertencentes a qualquer classe. Pelo Decreto de 28 de abril de 1836 foi
26)
25)
g
Art. 5 - Criar-se-á, no citado mUIlIC/plO. uma coleto ria das
arrecadações provinciais, que será provida de um coletor, u", escriturário e
vam dúvida quanto a seu firme propósito de concluir a emancipação de Blumenau. tantos fiscais (guardas) quantosforem necessários.
Como indício desse propósito, citamos, por exemplo, o ato governamental que,
Art. 6g - O presidente da Província estabelecerá os percentuais que o
através do Aviso expedid~ em 23 d~ ag~sto de 18:9, demitiu Heinrich Krohberger
coletor e o escriturário receberão como salário, enquanto cada guarda
do cargo de arquIteto da dlreçao, e tambem a dissolução da Companhia de Guardas e
receberá diariamente Rs 1$000, cujo encargo de pagamento incidirá sobre os
Caçadores de Bugres, que estava sob o comando do Capitão de Mato Friedrich
proprietários de embarcações de carga, nas quais, os guardas locali;:.ados
Deeke. Em novembro do mesmo ano, foi extinta a Comissão de Medição de Terras,
nos portos de Caspar e Blumenau prestarâo serviços de fiscali;:.açelo.
composta pelo engenheiro Dr. João Maria de Almeida Portugal e o agrimensor
g
Manoel Dias da Cruz Lima e, finalmente pelo Decre_to.de 2~ de abril de 1880, foi Art. 7 - Es((io revogadas as determinações em contrário. Recomenda-se
oficializada a emancipação parcial da Colonla, ate a todas as autoridades que tomem conhecimento deste Decreto, e que suas
determinações sejam cumpridas exatamente.
qUI a an'd d d A 'd b N.R.12 a locah a e e
O Secretário da Província que o faça imprimir, publicar e divulgar. Edifício da
A Assembléia Provincial, pouco antes, oficializou a criação do município de
Assembléia Prm'incial Decretante de Santa Catarina, em 4 de fevereiro de
Blumenau. O respectivo decreto tem o seguinte teor: g
1880. 59 (qüinquagésimo nono) ano da Independência do Império. O
presidente - Olímpio A. de Sou;:.a Pitanga. "
A Assembléia Decretwlte da Província de Sanw C(/furina lem ao A elevação da Colônia para Município não modificou, em absoluto, a
conhecimento de todos os moradores da Província que, de acurdu cum o condição de dependência da colonização, e o mesmo sucedeu com a Colônia Dona
Decreto de 12 de agos!O de 1834, Artigo 19, decrew o seguinte: Francisca, que sempre continuou a ser subvencionada pelo Governo. não obstante
Art. 19 - As Freguesias Sâo Pedro Apóstolo de Caspar e Süo Paulo de elevada. em meados de 60, à categoria de "Município de Joinville". em sua parte
Blumenau serão desmembradas do Município de 1tajaí, para cunstituir um regional mais antiga.
novo município. que deverá denominar-se "Município de Blumenau ". Em B lumenau as transformações igualmente não foram tão repentinas: O Dr.
§ Jg - A sede do referido município será a mesma Freguesia Sâo Paulo Blumenau permaneceu como diretor até a emancipação total, ultimada em março de
que será elevada à categoria de Vila, sob a denominaçâo de Vila de Blumenau. 1882. Mas a eleição dos membros da Câmara foi adiada por muito tempo, porque o
§ 2g - Os limites deste município sâo os mesmos das duas governo resolveu executar, primeiramente, os trabalhos mais importantes de
mencionadas Freguesias. melhorias diversas nos vários setores de sua responsabilidade, antes que a Colônia
fosse entregue à sua própria administração. Todavia. esse propósito tão louvável do
Arf. 2g - Tão logo os moradores ergam uma edijicaçüo, unde passará a
governo foi se arrastando de mês em mês.
atuar a Câmara Municipal, será illStalado o nul'O 'Termo" da referida Vila.
Enquanto a Câmara não aprovar seu próprio Códigu de Posturas e enquanto
este nelo for referendado pela Assembléia Prm'incial, a sua administraçâo
obedecerá às normas consWntes das posturas do Município de Itajaí.
Art. 3g - O Novo Município estará jurisdicionado à Comarca de São
Francisco. No interstício entre a decretação da criação do município de Blumenau e a
g
Art. 4 - No referidu lIlunicípio será institllído o cargu de tabeliâu do sua emancipação definitiva, período em que se delineava a organização da nova
público (SI C), judicial e notas, capelas e resíduos e execuções, um escrivão de administração pública, enquanto a solução dos problemas legais da transformação
ólfc70s e ausentes, a cujas repartições deve relu ser transfe- permaneciam pendentes de resolução, sucedeu uma catástrofe.
ridos os atos e registros que furam inscritos no Termo prUlúóriu existente na sede da Colônia.
(quinze metros e três decímetros).
as que eternamente divergiram e se hostilizavam, se solidarizassem ante o
desespero de assistirem à destruição de seus lares e das plantações
A palavra "enchente" é - e foi, principalmente nos primórdios --, em arrancadas. Muitas casas, moinhos e outras instalações foram totalmente
Blumenau, uma expressão que nunca apavorou, porque se estava habituado arrastadas pelas águas. Ainda não é possível determinar o número de mortos e
com a factualidade de as águas, durante cada ano, por duas ou até três vezes, a grande quantidade de animais domésticos perdidos, bem como cabeças de
ultrapassarem as margens do rio e invadirem as casas construídas em locais gado. As principais regiões atingidas e com maiores prejuízos foram as de Rio
mais baixos. Também aconteceram enchentes mais danosas, como a de 17 e 20 do Testo e Itoupava, mas o centro da cidade também foi duramente afetado e
de novembro de 1855, cujas águas subiram 50 palmos (11,11 m) acima do nível suas casas comerciais sofreram grandes danos.
normal, causando grandes prejuízos25, vindo, a seguir, as de 186226 e 186827. De madrugada, por volta de uma e meia, começou repentinamente o perigo na
Porém igual à de 1880, jamais houvera. Para comprovar a afirmação, cidade, quando no início da noite, só se receava uma cheia, enchente moderada,
adiante segue o relatório extraído do "Kolonie Zeitung", de 9 de outubro de como já aconteceu diversas vezes, em outras ocasiões, sem risco de alcançar as
1880: casas. Mas, a partir daquela hora, as águas não só subiam, mas rolavam
"Muitas vezes os leitores deploraram que este jornal divulgava, muito emfantásticas avalanches. Os gritos de pedidos de socorro de pessoas em
raramente, notícias da Colônia Blumenau. Agora chegam notícias, muito perigo e dos animais vivos, sendo arrastados pelo turbilhão das águas,
tristes, de acontecimentos trágicos! A Colônia Blumen{/ufui atingida por uma ecoavam pela noite. E a escuridão tornava a tragédia ainda mais horrível. Com
grande desgraça. Depois de vários dias de chul'a, imprevista e ansiedade era esperado o amanhecer por todos quantos conseguiam manter-se
inesperadamente, na madrugada de 22 para 23 de setembro, sobreveio um a salvo. Mesmo assim, o novo dia apenas traria um enorme trabalho de resgate,
verdadeiro dilúvio, desabando com tal intensidade, que o Itajaí subiu de forma exigindo de todos tudo quanto afoltr'a humana pudesse alcançar. Queremos
tão assustadora e com tamanha rapidez jamais vista, atingindo uma altura de aqui fazer uma referência especial, manifestando o reconhecimento de todos
14,6 (quatorze metros e seis quantosforam auxiliados, ao capitão e à tripulação do pequeno Vapor
d'ec/metros ) 28aCIma .
od 'I
n/ve norma, I
em consequenclCl, .. , granG
um . e I "Progresso" que, incansáveis e destemidos, socorreram aos que solicitavam,
número de pessoas conseguiu salvar somente a própria vida. tanto na cidade como no distante Garcia, aonde iam buscar pessoas ilhadas e
socorrendo-as, levavam-nas sãs e salvas até à Igreja protestante. A eles,
Como poderíamos descrever a tragédia, por onde começar com o principalmente, se deve o fato de não se haverem perdido vidas humanas no
relatório deste horrível acontecimento? É difícil, porque as plangentes centro da cidade ou nas proximidades imediatas. Em direção das duas Igrejas,
notícias, desde o dia do desastre, continuam chegando procedentes das que foram erigidas em morros, dirigia-se, de toda parte, o cortejo dos que eram
localidades mais afastadas da Colônia! A seca que reina em várias regiões, e salvos e dos que conseguiam escapar da tragédia.
sobre a qual nenhum jornal europeu até hoje dil'lIlgou, repercutiu aqui,
O Vapor "Progresso" transportava para estes locais as pessoas
provocando efeitos diametralmente opostos. Nenhum dos episódios, descritos
resgatadas e, com o clarear do dia, todas as canoas, embarcações diversas e
nos relatórios publicados, deixou de comol'er profundamente todos quantos
inimagináveis, assim como cochos, tinas, etc., improvisados em embarcações,
deles tomaram conhecimento e estamos testemunhando toda a tragédia.
convergiam para aqueles locais de abrigo, onde encontravam proteção e asilo.
Vidas humanas, perdidas de maneira dramática, faziam com que, tanto
O Padre Jacobs, auxiliado pelo Professor Pies, envidou todos os
as pessoas que sempre se relacionaram amigavelmente, bem como
esforços possíveis, alimentando e cuidando daquelas pessoas enrregeladas,
tanto adultos como crianças, confortando-os e fortalecendo-os.
25 - Fala do Presidente Dr. João José Coutinho, 1856.
Por sua vez, o Pastor Sandreczki, mesmo sendo também um flagelado
26 - Fala do presidente Comendador João José de Souza Coutinho, 1862. 27 - das águas, com sua casa paroquial provisória submersa e ainda pouco
Fala do Presidente Dr. Carlos de Cerqueira Pinto, 1869. conhecido em Blumenau, além de estar com sua esposa doente, auxiliava onde
28 - No relatório do presidente da Província consta a altura como "mais de 12 metros", podia.
enquanto num relatório do "Kolonie Zeitung", de 26 de outubro de 1880, constam 15,3
Desde bem cedo, ao amanhecer do dia 23, começou a romaria das Estradas e pontes estão quase todas destruídas. Espera-se que o governo
pessoas fiageladas às igrejas - cerca de duzentas para cada uma delas. As se sellSibilize com esta situaçclo e providencie o restabelecimento dos bens
noites lá passadas são indescritíveis. O quadro pungente das criel/lças, todas públicos, pois se depender unicamente do próprio esforço da comunidade, nclo
bem juntinhas, nclo suficientemente protegidas contra o frio no chão de pedras, será possível à Colônia, sem comunicação atral'és de estradas, redimir·se
atingia projitlldamente o coração de todos e em especial das mães. Algumas desta grande ruína. Todo o esforço dispendido para o progresso da região,
famílias salvaram alguns pertences, enquanto outras ficaram completamente bem no meio da trajetória da sua edificaçeio, com esta desgraça teve, como
desprovidas. resultado, a destruição. Tornou-se tudo inútil. A ação conjunta de todos os
Numa confusão terrível, estava amontoado naquele refúgio tudo quanto setores vitais da cidade é das mais dedicadas. Mas, todos os cidadclos
conseguiram juntar na última hora, ao sair de casa, perseguidos pela avalanche acham-se por demais sobrecarregados com problemas não só comunitários,
de água. Como Ihes exigir calma? Apesar das dificulda· des, finalmente os mas também com os seus próprios. Quantas serrarias e moinhosforam
fiagelados conseguiram improvisar lima espécie de cozinha de campanha na destruídos é quase impossível al'aliar, por ser até mesmo difícil achar-se o
Igreja Protestante, enquanto os jovens "pescavam" lenha na água barrenta. e lugar onde se encontravam instalados. Entre estas oficinas, existiam as que
elltão foi possível preparar uma sopa de farinha (pirão) e mais tarde preparar recentemente iniciaram suas atividades e, com o trabalho dinâmico e com
lI/n café e, em seguida, o cozimento de mTOz e u///{/ canja de galinha. Toda a muita luw, seus proprietários conseguiram usufruir um melhor padreio de
regiclo de 81umenau era um imenso mar de água. com fortes correntezas. vida. Agora. as illStalações são apenas um monte de tábuas e as esperanças de
seus proprietários transformaram-se em desespero.
No centro da cidade, as águas quebravam e erguia//; portas e janelas,
tracionando móveis e objetos que eram levados em IOdas direções e, quando Os operários perderam suas casas. e todos os instrumentos de trabalho.
chega\'am à calha de escoamento do Rio !tajaí, eram sugados por suas ondas Quantos não salvaram apenas a vida, ao refugiarem-se no sótão de suas casas
rel'oltas e carregados com velocidade incrível em direção ao mar. Estes objetos com seus pertences.! Aconteceram particularidades que comol'em o coração.
tragados pela correnteza do rio, quando nclo chegavam ao mar, eram É o caso de uma mãe com cinco filhos que se refugiou !ll/ma colina nas
quebrados ao ir de encontro a uma ilha qualquer ou iam parar nas margens. proximidades de sua casa. A colina ruiu soterrando-os, quando já se sentiam
São perceptíveis alguns lugares onde se acumularam muitos móveis e outros seguros. O pai da família, que trabalhava longe. no campo. ao regressar para
objetos mais leves, que em seguida eram carregados novamente pela casa, só o que ainda pôde fazer foi preparar a sepultura para a esposa e seus
correnteza. Ocorreu também que mãos alheias quebraram 'Caixas e armários, cinco filhos.
apoderando-se de seu conteúdo, em vez de devo/l'ê-Ios aos seus legítimos Outra mulher, ainda jovem, era arraswda pelo tllrbilheio das águas, sob
donos. as vistas do marido. Adiante um homem, sem espemnças, 1/(10 cOllSeguiu
Muitos moradores das margens do rio ainda conseguiram recolher, das alcançar as mãos que lhe eram estendidas e tragicamente desapareceu tragado
águas, casas quase inteiras que serviram para consertar as suas próprias, pela correnteza do rio. Vmafamília teve que fugir às I)ressas, sem poder levar
semidestruídas pela enchente. O Vapor navegal'{l sobre cercas e casas. Nossa consigo uma só peça de roupa para agasalhar uma idosa (/\'ó e wmbém a
Rua das Palmeiras tornou-se uma via navegál'el para o referido barco, e as jovem mulher, por IOdos responsável, que da\'([ à luz a oitam criança. nestas
copas das palmeiras balizavam o rumo a seguir. Só no dia 26 de setembro é que circunstâncias de extrema penúria. Outm perdeu tudo. só lhe restando a casa
as casas ficaram lil'l'es da água. Mas a lama e sujeira ainda hoje nclo foram de vazia. O rebanho e os porcos foram perdidos. pois não h(/\'ia nenhuma
todo eliminadas. elel'açüo onde pudessem se refugiar. Assim,ficou aquele ativo e esforçado
trabalhador, COI/l toda a sua plantaçeio destl"llída com a perda de I'inte
A nossa alegre Colônia está irreconhecível.· Pastos e plantações estão
ClIIOS de trabalho, retrocedendo quase até às condições de quando começou.
cobertos por grossa camada de lama, e muitos lugares nada mais apresentam
Não se encontraria espaço suficiente para descrever tamanha miséria
que um caos de destroços das edificações que ruiram, assim como utensílios
que atingiu tantas famílias, Grandes reservas de açúcar, farinha, aral"llta,
domésticos, án'ores arrancadas pelas raízes e uma massa enorme de detritos
milho, etc, perdemm-se - perdas ocorridas em todos os lugares - mas honra
acumulados. Em verdade, já muitas mãos prest~tivas estão em açüo para que
seja feita à nossa população que, embora esteja deprimida, neio perde o ânimo
tudo seja reOl'denado, porém, para que ISSO aconteça e se efetive. e afinal seja
e a esperança de alcançar novos triunfos
alcançado a completa normalização da vida na Colônia, muilO tempo ainda
transcorrerá.
com redobrado trabalho - lIIeslllo sabendo que, elll prillleiro lugar, é A correnteza no meio do rio não era tão violenta, porém a pressão da
necessário atender ao estado precário de viúvas e órfâos que ficaralll sozinhos, água nas margens era tão forte, que fazia com que provocasse grandes ondas
perdendo tudo quanto possuíam. até seus entes mais queridos e chefes de
que, vistas do alto de uma colina, davam a impressão de elevavarem-se acima
famílias. A estas criaturas urge. em primeiro lugar, que se Ihes estendam as
das casas localizadas nas proximidades ... "
mãos. Para tanto, foi constituída uma comissâo que iniciou trabalhos de
assistência, bem como, sem demora, receberam as primeiras manifestações de Quando as águas alcançaram o mesmo nível, no ano de 1911, ou seja, 31 anos
solidariedade procedentes da Colônia Dona Francisca e de Desterro. " mais tarde, nada se observou com relação aos fenômenos retrodescritos e, por isso,
supõe-se que a enchente de 1880 foi provocada igualmente pela grande quantidade
Estes são os principais detalhes do relatório publicado na imprensa
de chuva, pois nesta região nun,ca se observaram abalos sísmicos ou outros
joinvilense. cujos informes ainda se estendem em pormenores e observações gerais.
fenômenos meteorológlcos mcomuns.
Dentre outros relatórios. que em geral afirmam quase sempre o mesmo,
Naturalmente nunca faltaram suposições neste sentido, pois haviam
encontra-se um comentário redigido sob o ponto de vista "filosófico", acerca das
descoberto, em janeiro de 1884, um "vulcão" em Warnow. Mas depois, chegou-se à
causas mais interessantes da inundação, que diz o seguinte:
conclusão de que se tratava de um simples morro, no qual o musgo e troncos secos
"As opiniões sobre as causas de nossa desgraça sâo contraditórias. se incendiaram por autocombustão, produzindo espessas nuvens de fumaça, afinal
Aqueles que a atribuem ao violento vento sudoeste sâo contestados pelos fatos inofensivas. No ano de 1875, caiu um grande meteoro, irradiando uma
de que o Itajaí, na Barra, penetrou no mar com a mesma violenta correnteza, luminosidade muito intensa nas imedia~ões de Blumenau, em direção ao sul. O fato
não tendo a vazâo das águas sido impedida nelll pelo vento nelll pela lIIaré provocou um grande abalo, 9 e esse bólido visto pela população assustada deu
alta. O volume de chuva. de acordo COIII moradores experientes e antigos. motivo a muitas especulações sobre as conseqüências que a queda provocaria na
nâo foi tão significativo para elemr o rio ao níl'el que alcançou e natureza, porém nada ocorreu.
trcln.\formá-Io numa torrente tâo I'iolenta. Será que del'emos atribuir à
catástrofe, origelll causal por abalos tectônicos de caráter netLÍnico.?N.R,13 , Quanto à enchente de 1880, cumpre mencionar que o fenômeno da chuva
atingiu quase toda a Província. O presidente, que, tão logo após as águas baixarem,
No Rio do Testo e em muitos lugares pelas margens do rio acillla. veio a Blumenau distribuir alimentos aos mais
asseveram várias pessoas ter percebido movimento vibratório, UIII tremor em
ecessitados consignou em seu relatório, a estatística das perdas huma
suas casas, bem como detonações com o rugir da telllpestade, Em vários locais
, , 30
relativamente altos, cobertos por 2 a 4 metros de água, percebiam-se as bolhas nas de acordo com a relação que segue .
de ar que a pressão da afloraçâo d'água provocava, provindo de profundidade
de dois até quatro palmos, COIII outro tanto de largura e oUI'ia-se o bamlho
de águas borbullwntes como se fosse um poço artesiano, E isto onde não era
concebível supor-se existirem olhos d'água que pudessem surgir com tal força, No Muniéípio de Tubarão .......................................................... ..... . 4 mortos
como estam acontecendo. Nós ainda nem podemos imaginar que I}(}s.síl·eis No Município de Tijucas ........................................................... ..... . I morto
fenômenos possam ter acollfecido na supelfície da nossa desconhecida terra e, Na Colônia Blumenau ............................................................... ..... . I mortos
certamente, também será difícil encontrar-se explicaçüo para tal. Estas I
Na Colônia Luiz Alves ............................................................. . 25 mortos
anotações só têm por objetivo registrar que os fenômenos ocorreram, para
ta!l'e::. poderem-se tirar conclusões técnicas e servirem para u/IIa ou outra Total •.....................................•... 41 mortos
opinião por parte de pessoas entendidas no assunto,
Cumpre ainda anotar o seguinte: Como o presidente-provincial não possuía autorização para transferir
maiores
2 recursos a fim de reparar os danos, primeiramente precisou requerer o
crédito
9 ao Governo Imperial, o que mais tarde foi concedido.
-
O Governo Imperial enviou o engenheiro DI'. Joaquim Rodrigues Antunes,
em missão especial, que chegou a Blumenau em 2 de novembro
E
xtraído do diário da direção da Colônia, em 3 de abril de 1875.
30 - Fala do presidente João Rodrigues Chaves, de 2 de fevereiro de 1881.
n
28)
27)
constituíram uma comissão de técnicos para concluir os trabalhos de Esses foram os motivos que provocaram a contrariedade das autoridades
emancipação, há tanto prometida, e também sanear a região, reparando os dirigentes em Blumenau, e que foram determinantes na tomada de partido
prejuízos causados pela enchente. contra o Dr. Antunes. Ele, por seu lado, também tinha simpatizantes,
Quando finalmente iniciaram as obras, a população em toda a Colônia principalmente após seu casamento com a filha de C. W. Friedenreich. A partir
ficou muito satisfeita, esperançosa da "chuva de ouro", há tanto esperada, para daí, se formou um dito "Partido Antunes" .
solucionar todos os problemas. Todavia, logo começaram as decepções, pois o Os trabalhos de emancipação da Colônia, que corriam paralelamente ao da
regime de trabalho da comissão era bem diferente do praticado pelo Dr. reconstrução, se prolongaram até 1882 e originaram uma 31
despesa de Rs 327:762$388
Blumenau.
Nesse período, também ocorreu em Blumenau a fundação de um jornal,
Enqual'lto o fundador da Colônia determinava pessoalmente a realização sob a liderança de um dos primeiros filhos de imigrantes nascidos na Colônia:
29) dos trabalhos por funcionários fiéis, cumprindo pontualmente suas obrigações Hermann Baumgarten. Ele, após adquirir no Rio de Janeiro os conhecimentos
pecuniárias e ainda primava pela economia de gastos, zelando pela durabilidade necessários, fez com que o jornal circulasse sob o título de "Blumenauer
do dinheiro do governo, como se fosse seu próprio, o Dr. Antunes trabalhava Zeitung". O jornal era editado semanalmente, circulando aos sábados, e sua
conforme o chamado "sistema brasileiro". orientação era totalmente apartidária, pois os fundadores, bem como os
Sempre que fosse possível, depois de procedida a concorrência para acionistas, pertenciam a todas as camadas sócio-econômicas.
estabelecer o custo das obras, sua execução era entregue a empreiteiros, e as Todavia, logo começou a acontecer algo estranho, pois os adversários
benfeitorias, como pontes e canais, nem sempre correspondiam ao que estava passaram a se combater mutuamente num único e mesmo jornal, permitindo até
convencionado no contrato. Comumente essas tomadas de preço, muito que o editor e o redator tomassem partidos opostos. E na época "Antunes", o
manobradas por interesseiros, eram de custo tão superavaliado, que o "Blumenauer Zeitung" achou que não precisaria limitar-se à sua própria
empreiteiro, quase sempre era "persona grata" da comissão, levava boa parcela opinião, porquanto a maior parte da população aprovava as diretrizes
de dinheiro para si. Enquanto que, contrariamente, um contratante não tão bem ideológicas do edi tor e era sol idária ao jornal.
afinado à comissão, ao levar avante a execução de um trabalho perfeito, às
A luta contra o partido "Antunes" acirrou-se com o episódio no Warnow.
vezes até precisava empatar seu próprio capital a fim de que a obra alcançasse a
Quando naquela localidade, marcaram o dia do pagamento a sér efetuado aos
perfeição necessária.
colonos que haviam trabalhado em estradas e pontes, para lá se dirigiu o
Com estas irregularidades os blumenauenses, malgrado, às vezes, Engenheiro José Dias Maynard, da comissão de técnicos, acompanhado de um
haverem cri ticado injustamente a proba e severa administração econômica do funcionário.
Dr. Blumenau, compreenderam o quanto estavam errados, pois não podiam
Era elevado o número de colonos que aguardavam o emissário.
aceitar as irregularidades que a comissão cometia.
Esse. ao chegar ao local para atender ao pagamento, deparou-se com graves
O Dr. Antunes, um homem muito simpático e gentil, desconhecia a divergências. A maioria dos trabalhadores afirmava que trabalhara mais dias do
sistemática austera e rígida, porém honesta, com que o Dr. Blumenau que constava na lista de pagamento. Começaram a fazer muito barulho.
gerenciava os trabalhos. Desejando ser amigo de todos, concedia tudo quanto exigindo. aos brados, todo o justo pagamento. O engenheiro pagador.
de
lhe pedissem, distribuindo com prodigalidade todos os favores solicitados, atemorizado com tanta turbação e revolta, resolveu atender aos reclamos e
1880.
gestos que caracterizavam a sua personalidade, e que possuíam mais peso nas pagou a todos o que exigiam. Em seguida retornou a Blumenau. a fim de prestar
Seguira
suas determinações, do que dar emprego e trabalho produtivos, mesmo que com contas e fazer o relatório ao chefe, que levou o caso muito a sério. Juntamente
m-no
certas mordomias. Sua ação administrativa proporcionava até mesmo ocupação com todos os membros da comissão
outros
supérflua a guardas e vigias, acarretando um volume de despesas desnecessárias
engenh
jamais visto em Blumenau, e sua prática pela "comissão" era continuada.
eiros, 31 - Desta soma. por ordem do Ministério, foram gastos em outras Colônias Rs
que 3:9625388 (Comparar com "Blumcnauer Zeitung" Nº 53 de 29 de dezembro de 1883 e
"Immigrant" da mesma data).
abandonou a Colônia, dirigindo-se a Itajaí, de onde fez seu relatório ao presidente da
Província. Declarou que não retomaria a Blumenau para concluir os trabalhos, caso
não recebesse as devidas garantias contra eventuais acontecimentos semelhantes.
Por isso resoh'i deixaras tropas lá e enl'iar 11m chefe de !)olícia. afim
de que se informasse sobre os acontecimentos nu próprio local e ingressasse
com uni processo contra os clllpados - solicitaç'elo qlle me foi feita pelo diretor
da Colônia e o chefe da comisselo de engenheiros.
A presença deste digno magistrado qlle. com slla moderaç(/o e argúcia,
sOllbe distinguir simples tolice de um I'erdadeiro crime. impôs a ordem e o
respeito às leis. O processo por ele iniciado, a respeito dos acontecimentos no
Warno\l', seglle seu trâmite legal e será resoh'ido, por fim, na forma do direito.
Como tenho ordem do GOI'erno Imperial de permanecer na Colônia ([(é o
término de todos os trabalhos. para manter como garantia os ([(os de
pagamentos a se efetuarem pela comissüo de engenheiros e suas tropas, HERMANN BAUMGARTEN Fundador do "Blumenauer
ellnomeei llln sllbdelegado militar para o distrito de BIlImenall. qlle lá Zeitung", o primeiro Jornal em Blumenau, (Falecido em 06 de
permenecerá enquanto for necessário. " ... fevereiro de 1908, aos 52 anos de idade)
32 - Relatório do Presidente Desel11bargador João Rodrigues Chaves. de 9 de O envio de tropas era visto, em Blumenau (mas só pelos adversários do Dr.
março de 18R2. Antunes), como uma ignomínia e representava uma humilhação, e igualmente
consideraram arbitrária a ação do chefe de polícia, prendendo três colonos
envolvidos no caso de Wamow e que se desta~aram como os mais turbulentos. Os
referidos colonos foram conduzidos até Itajaí, presos por soldados armados.
30)
31)
33 - "Blumenauer Zeilung" de 26 de fevereiro de 1882. 34 -
"Blulllenauer Zeitung" de 1 O de junho de 1882.
32)
denominado "Rio do Paulo" - para lá receber os imigrantes que deveriam ser deveriam arcar com as conseqüências e doravante cuidar de si próprios.
assentados ao longo da estrada. Portanto, nada mais havendo a fazer, os italianos, com família e pertences,
Em dezembro de 1884 vieram os primeiros 36 imigrantes alemães, subiram nas can'oças e, por conta do Governo Imperial e para gozação do
atraídos por seus parentes daqui. Porém, antes mesmo que o próximo transporte público, em longa e patética viagem seguiram para Luiz Alves. Se depois lá
chegasse, o governo resolveu (março 1885) cancelar o fornecimento de permaneceram, se desconhece!
passagens gratuitas e ainda em setembro do mesmo ano a Comissão de Entrementes aconteceu uma reviravolta política em fins de 1885 e os
Engenheiros foi suspensa, com a alegação de "falta de recursos". Conservadores assumiram o Governo. Todos os cargos trocaram de dono.
Dr. Antunes foi para São Paulo, onde alguns anos depois, com apenas 36 Talvez a suspensão da Comissão Antunes fosse um prenúncio, pois nem um
anos de idade, faleceu em conseqüência de uma cardiopatia. ano transcorreu e uma nova "Comissão de Terras e Colonização" atuava, sob a
chefia do Dr. Victorino de Paula Ramos. Em Blumenau, com a vinda dessa
Até sua morte. ocupou alto posto na Inspetoria de Medições e
comissão, tornou-se a divisar uma melhoria no sistema de colonização, pois sua
Colonização da Província São Paulo.
permanência não foi abreviada. Não obstante, nos anos subseqüentes
Novamente as esperanças de um rápido desenvolvimento voltaram à sucederem-se substituições de pessoal e por fim alterações regimentais. A
estaca zero e o futuro apresentava-se desolador. Devido às novas medidas Comissão permaneceu ativa e constante até o término total do atluxo
econômicas, todos os belos projetos da Sociedade Central de Imigração foram imigratório e, em janeiro de 1897, foi substituída por uma Agência de Terras.
água abaixo. Para Blumenau esta situação era duplamente deplorável porque o
Dr. Blumenau, que na certa resolveria o problema,já em fins de ) 884. retirara-se Um expressivo período na História de Blumenau foi a chamada "Era
definitivamente para a Alemanha e, nessa ocasião, tal vez contrariado com os Stutzer". Após a sua par1ida definitiva para a Alemanha, o Dr. Blumenau
contratempos dos úl ti mos anos. silenciou na questão. vendeu suas teITas paI1iculares, com exceção do "Salto", ao Pastor Gustav
Stutzer, de acordo com contrato firmado em 21 de maio de 1885.
9uando todo incentivo à colonização estava paralizado. eis que
repentmamente. em novembro de .1885, chegaram 67 imigr;:mtes italianos. Ao O novo proprietário queria não só colonizar as terras compradas de Dr.
governo nada mais restou do que cuidar deles. Enviou o agrimensor Lima que. Blumenau. uma área de 7000 morgen, mas também aspirava adquirir mais
provido do crédito necessário, tratou de abrigá-Ios. 50000 hectares de terras devolutas do Governo Imperial e colonizá-Ias com
imigrantes alemães. Como aparentava dispor de grandes. capitais, as
Em fevereiro de 1886 - quando Lima já havia se desincumbido da missão e
expectativas em Blumenau eram de progresso com relação a esse
partido - chegaram mais 42 italianos, e estes não sabiam nem mesmo para onde
empreendimento.
ir. Finalmente o Juiz Comissário foi encarregado de providenciar, o mais
urgente, o seu encaminhamento diretamente à região de colonização no Alto O Pastor Stutzer não demorou a vir para Blumenau com toda a sua
Itajaí. Eles decididamente não gostaram do lugar e exigiram a transferência para família e inúmeros acompanhantes. e outros mais o seguiram com interesses
outro local. A este desejo, no entanto. o Juiz Comissário não podia ceder, e, sem em empreendimentos. A partir dessa época. a cidade de Blumenau teve uma
que antes as autoridades em Desterro dessem permissão, os colonos deveriam vida social mais intensa.
permanecer no lugar que Ihes fora destinado. A expansão territorial urbana começou imediatamente com a abertura da
Passaram-se muitas semanas antes de uma resposta. Neste entretempo os "Estrada da Velha". e o parcelamento das terras. em dezembro de 1885,
italianos foram persuadidos por seus parentes e amigos a permanecer no lugar. possibilitou que iniciassem a fixação de colonos.
A situação estava quase resolvida, quando inesperad~mente chegou o senhor Os lotes mais próximos do centro. rapidamente, encontraram com-
Reginaldo, ajudante do Inspetor de Colonizaçao em D~sterro. com um comboio pradores, por um preço acessível com pagamento parcelado. Para as terras mais
de carroças para transferir as pessoas a LUlz Alves. Agora protestavam - afastadas entre Velha e Weissbach, Stutzer aplicaria novo
queriam ficar - gostavam do luga.r. etc. Mas nada adiantou. Sem rodeios e sem .
sistema dI' onlzaçao: os
eco - otes Iteriam . 20 morgen. 38
dó nem piedade, Sr. Regmaldo declarou que tlllha ordem de transferi-Ios e
abrigá-I os, e que 38 - Em seu livro "In Dcutschland und Brasilicn" ("Na Alemanha e no Brasil"). Stutzer diz que
nada mais poderia fazer. Se quisessem ali permanecer que ficassem, mas planejou as Colônias em 100 morgen. o que contradiz a sua propaganda na época.
Para adquirir o lote pelo valor de Rs600$OOO. o colono não precisava públicas de Blumenau à razão de 8% sobre o valor total da compra, o que pelfazia a
comprar de imediato. mas primeiramente poderia arrendá-Io por cinco anos. O considerável soma de 16000 marcos.
preço do arrendamento seria de Rs2$OOO por morgen. portanto Rs40$OOO por
Inicialmente, essa particularidade não preocupou os adquirentes de terras,
lote. ao ano. o que naquele tempo equivalia a 6.5% de juros.
porque o Procurador do Dr. Blumenau referendava os documentos de cada compra,
Caso transcorresse o prazo do arrendamento. o colono pagaria na íntegra o mas este o fazia só quando uma determinada soma da aquisição fosse creditada ao
lote. ou teria que abandonar a ten'a sem direito à indenização. Dr. Blumenau. Em pouco tempo, tornou-se impossível para Stutzer continuar
Para o bem estar dos colonos. o Pastor Stutzer cuidaria de tudo amortizando a dívida com o Dr. Blumenau, porque, desta forma, não poderia dispor
detalhadamente. Construiria casas. duas serrarias. um moinho e uma escola. onde os de numerário para seus investimentos nas melhorias para o assentamento dos
filhos de colonos. à razão de Rs3$OOO por semestre. receberiam ensino. Igualmente colonos nos lotes a negociar. Assim sendo, o representante do DI'. Blumenau se
planejou um Ginásio. uma Capela E\'angélica e um Pensionato para Moças; e até negou a reconhecer aquisições que se seguiram, deixando, definitivamente, de
1887 queria. celeremente. construir um Engenho de Açúcar. com abastecimento de referendar as vendas dos lotes de Stutzer.
água e ainda gerar força hidráulica. Todas estas instalações deveriam ser reunidas Stutzer tentou pessoalmente efetuar vendas, mas, como sua compra ainda
em torno de um centro. para onde convergiriam ruas. estradas e em 2 morgen não estava legalizada no Registro Imobiliário, estes documentos de venda também
instalariam parques e praças. Logo que 25 famílias estivessem instaladas. pretendia não tinham validade para transferência.
abrir oficinas. comércio. etc .. e estabelecer a exploração. a preço módicos, do
Pastor Stutzer tentou obter do Dr. Blumenau uma redução no preço da
transporte coletivo. mediante ônibus ou veículos apropriados. com o centro da
compra, baseado na e levada soma de imposto de transferência da qual, segundo
cidade.
alegou, não tinha conhecimento por ocasião da aquisição. Dr. Blumenau, no
Os lotes não seriam distribuídos em seqüência e haveria um vago entanto, não aceitou qualquer negociação e Stutzer então moveu uma ação judicial.
como reserva. entre um e outro.19 ' A acusação era de "disfarce da realidade"N.R,14 e fundamentava-se principalmente
Conforme dito, os trabalhos foram logo iniciados. tais como a Estrada para a na soma de impostos, também outros quesitos foram discutidos. O Judiciário
Velha. que foi em grande parte concluída. Brasileiro tomou conhecimento desses argumentos. mas nada adiantou a Stutzer,
O Pastor Stutzer construiu uma casa para sua residência. e logo a seguir pois seu contrato continuava tão desprovido de formalidades quanto antes, e o
passou dificuldades financeiras. e por isso a realização de seus planos tornou-se Tribunal o fez saber que deveria ingressar comuma ação judicial na Alemanha, caso
impossível. O fator principal do malogro. prm'avel mente, foi que poucos pretendesse promover questão contra o Dr. Blumenau.
compradores ou arrendatários candidataram-se. e isto se devia ao fato de ser muito Atinente às terras devolutas. Pastor Stutzer, que pretendia compráIas do
elevado o preço dos lotes. Stutzer. no entanto. não podia vender por preço inferior. governo. recebeu resposta negativa, mediante o indeferimento do pedido. o que
pois ele próprio já havia pago 25 marcm por morgen ao DI'. Blumenau. Se então pouco lhe importava. pois não possuía recursos para realizar o projeto, tal
considerasse as despesas de todas as melhorias. como abertura de caminhos e custos como o "Plano Velha".
d,ls medições dos lotes e caso rebaixasse o valor da venda. pouco lhe sobraria, Pastor Stutzer retomou à Alemanha e moveu novo processo contra DI'.
. A liquidação da compra feita pelo Pastor Stutzer. dependia exclu- Blumenau. pleiteando a anulação do contrato de compra e mais uma indenização de
sivamente da venda dos lotes. pois. pela aquisição ele dispendeu 10000 marcos 60000 marcos. Porém foi rejeitado, com obrigação de pagamento das despesas da
como pagamento inicial da negociação. cujo total ascendia ao montante de 200000 sucumbência processual. Pastor Stutzer esteve por outras duas vezes em Blumenau,
marcos; e pretendia amortizar o saldo da dívida com o produto da arrecadação das sempre relacionado com o empreendimento colonizador e ficou. por fim.
vendas. O contrato de compra e venda que Stutzer possuía. ainda não estava definitivamente no Brasil,
legitimado aqui no Brasil. e ainda
N.R.14) Dissimulação - esp~cificidade faclual do Direito. caraclerizada pela
ocullação de circunslância relevante.
39 - Todos e'il~, dados ~slào h3seados n3 publicação de prop3ganda. distribuída 40 - É preci~o ler o livro il1l~rcssal1líssimo de SlUtzer "In Deutschland und
pelo Paslor Slutzer. em dez~mbro de 1885.
Brasilien" ("Na Alemanh3 e no Brasil").
faltava, antes de qualquer providência, o recolhimento dos impostos nas repartições
radicando-se em São Paulo 40. evangélicas, quando a de Badenfurt tornou-se autônoma e contratou seu próprio
pastor. A separação desta comunicade certamente foi ocasionada pela resolução
As terras do Dr. Blumenau estavam então abertas, em grande parte, por
antipática tornada pelo Pastor Sandreczki que. sem a autorização das diretorias,
estradas e os moradores da Região da Velha podiam alcançar Blumenau por via
elevou os emolumentos da estola. O novo Pastor para Badenfurt, H. Runte.
direta. Stutzer vendeu tantas terras nas imediações, que o centro da cidade, em
chegou em princípios de 1884 e em 20 de janeiro fez o seu primeiro sermão.
decorrência, evoluiu com mais rapidez, e em 1897 Dr. Blumenau reiniciou a
Sandreczki permaneceu em Blumenau ainda por aproximadamente cinco anos
venda de terras.
e, quando a comunidade não renovou seu contrato, partiu para a América do
Norte. Em 31 de dezembro de 1889 chegou a Blumenau o novo Pastor, na
pessoa de Hermann Faulhaber.
Além das escolas do Governo, no ensino há a Escola São Paulo, fundada
em 1877 pelo vigário Pe. José Maria Jacobs, seu responsável. Padre Jacobs
Como até aqui foram acompanhadas as obras de colonização. é preciso dedicou todo seu esforço para levantar esta instituição e recebeu também uma
também focalizar o desenvolvimento de outros setores. A respeito da política, subvenção de Rs I :000$000 anuais do Governo Imperial, que o capacitou mais
alguma coisa, entrementes, já consta retro-referida. O mandato da primeira intensamente no ministério da instrução cultural. Foi então que aconteceu o
Câmara Municipal terminou em 31 de dezembro de 1887, e novas eleições incrível! Durante um sermão dominical o Pe. Jacobs proferiu sua prédica
realizaram-se em 1 de julho do mesmo ano. Foram eleitos: Heinrich Clasen. assacando com graves vitupérios os protestantes e seus filhos e teve como
Wilhelm Scheeffer. Franz Lungershausen, Leopoldo Hoschl, Luiz Altenburg, conseqüência imediata a saída da maioria das crianças protestantes da sua
Jacob Zimmermann e Gomes. No dia da posse dos novos vereadores, perante o instituição. Corno conseqüência secundária, ocorreu a formação da Sociedade
Presidente da Câmara anterior, Henrique Flores, aconteceram cenas deploráveis. Escolar (17 de março de 1889) com os professores Wetzel e Ruseler e a
Flores negouse a aceitar o juramento do vereador Lungershausen. alegando que fundação da "Neue Schule" (Escola Nova).
o mesmo não dominava o português. A maioria dos outros vereadores, em
A nova instituição deveria ser livre e isenta de qualquer imposição
solidariedade ao colega, resolveu não prestar juramento. Quando veio da
religiosa e contava com o apoio de todos, assim, por exemplo, Dr. Fritz Müller
Presidência da Província a ordem expressa de que fosse aceita a prestação do
prontificou-se a dar aulas de Ciências Naturais, Dr. Paula Ramos lecionava a
juramento, soubessem ou não o português. Flores realizou a cerimônia de forma
matéria Química Agrícola e Física, enquanto Philipp Doerk dava'o curso de
acintosa, fazendo com que Lungershausen prestasse juramento através de um
Ginástica. A Escola São Paulo regrediu muito quando da substituição partidária
tradutor.
em 1886, perdendo a subvenção do Governo Imperial.
Em 30 de janeiro de 1887 realizou-se, na Câmara dos Vereadores de Além do sistema imigratório e colonizador unificado, havia o
Blumenau. a primeira eleição de Juízes de Paz para prover o Distrito de Indaial, I" e utl- Id a e pu 'I'd
Kultur- Verem. N...R 15
como nstltUlçao Ica.dsta OCle-
'bl' E S.
de conformidade com instruções da Assembléia da Província. dade. criada pelo Dr. Blumenau e por pessoas a ele relacionadas. contribuiu
Outro acontecimento político foi a visita do Dr. Alfredo Escragnolle muito. Quem tiver oportunidade de ler os semanários daquela época ficará
Taunay em novembro de 1884, logo após as eleições para deputados na qual. admirado com suas freqüentes explanações culturais. Quem mais se dedicou a
como candidato do Partido Conservador, foi derrotado, apesar de receber a esta Sociedade foi August Müller, Dr. Fritz Müller, Dr. Blumenau e outros. A
quase totalidade dos sufrágios em Blumenau. Mês seguinte, deu-se a visita do mesma recebia de fora grande proteção filantrópica do Dr. Karl Glasl (falecido
Príncipe de Orleans e do Conde D'Eu, genro do Imperador D. Pedro I!. Ambos em Junho 1883), responsável pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro de onde
os visitantes foram condignamente recepcionados. e para homenageá-Ios a remeteu mudas, plantas e sementes que trouxeram a Blumenau inestimáveis
cidade festejou a vinda com bailes, etc. benefícios.
. Mais um passo decisivo deu Blumenau, quando foi possível em
fllls de 1888 guindar à Assembléia Províncial um blumenauense na pessoa de N.R.15) Sociedades Culturais com o objetivo de fomentar o bencficiamcnto da terra. no
Leopold F. Hoschl, corno candidato do Partido Liberal. ' sentido de obter () aprimoramento da agricultura.
Na vida comunitária ocorreu o fracionamento das comunidades
35)
Também o "Krankenunterstützungsverein" (Sociedade Assistencial aos Na
Doentes) foi muito benemérita, pois dirigiu as obras de construção do Hospital, época
após a dissolução da Diretoria colonial, trazendo muitos melhoramentos a
Blumenau. Sua tarefa não foi fácil, mas auxiliou e protegeu a comunidade .. até de sua
que a assistência por parte do governo e município fosse suficientemente capaz. chegada
a
Blumenau, em 1886
9arcia.
anos mais tarde, estabeleceu-se com idêntico empreendimento no
Como pequenos empreendimentos pode-se
citar o Moinho de aleo de Wilhelm Scheeffer
(1884), que encerrou as atividades alguns anos
depois; a Fábrica de Conservas do comerciante
Wilhelm Asseburg de Itajaí, em 1885; e a
a progresso relativo ao Comércio e Indústria foi, nos anos oitentas, de Fundição de Ferro de Auerbach, em 1887.
acentuada importância, porque, se antes só existiam primitivas serrarias, As casas comerciais expandiam-se na proporção do crescimento da
moinhos e engenhos de açúcar, agora havia, em primeiro lugar. :1 Fábrica de população e o mesmo acontecia com os produtos d~ e~portaçã~. Entrementes a
Meias. a Indústria dos Irmãos Hering que, a partir de uma modesta instalação crise dos negócios na cidade, em 1884, atmgIU a tradIcional e mai~ importante
fabril. alcançaria o mais alto grau de desen\'ol\'imento. Em meados de 1883 foi Casa Comercial, a Firma Meyer & ~pierling, que foi compeli da a liquidar
instalada a fiação e tecelagem de Johann Karsten no Rio do Testo, cujo sócio, o atividades, fato que provocou mUlto falató-
senhor Gustav Roedcr. quatro . I N.R.16
no e certo a voroço.
DR. JOSÉ BONIFÁCIO DA CUNHA
36)
E que o Imperador perdeu o trono, devido ao ato da libertação dos escravos, pela
Os meios de comunicação por estradas, nesse entretempo, pioraram ao ponto Princesa.
de a conservação da Estrada Curitibanos ser praticamente abandonada, provocando Mas nenhuma destas hipóteses corresponde à verdade. Isto se pode
a interrupção do trânsito. comprovar pela leitura criteriosa de diversos jornais dos últimos anos do Império.
Em fins de 1887 fundou-se em Blumenau uma Sociedade Anônima que Principalmente a libertação dos escravos nada tem a ver com a forma do Governo,
propunha melhorar e modificar esta estrada em vários lugares. Após a execução, em porque quando ela foi aprovada, em ] O de maio de 1888 (sancionada em
janeiro de 1888, do projeto da estrada por Heinrich Krohberger, os trabalhos de 13/05/1888), na constância do último Ministério Conservador, presidido por João
construção foram contratados com o Sr. Gottlieb Reif por Rs 26:000$000. Este teria Alfredo, não representou surpresa alguma e muito menos foi um ato inesperado. O
que a concluir até I Q de julho do mesmo ano. movimento em prol da libertação dos escravos já era muito grande e estava
Após reiniciado o tráfego, a Sociedade ficou em situação difícil, pois o disseminado por todo o Império, com exceção da região cafeeira em São Paulo.
governo sustou inexplicave1mente o pagamento, provocando sérios problemas Baseada numa lei favorecendo os escravos e assinada em 1871 pelo Partido
financeiros. Inobstante, no início, concederem privilégios especiais à Sociedade Conservador, a emancipação dava-se a passos largos. Já em abril de 1884, a
com a autorização de cobrança de impostos Província do Ceará foi declarada livre da escravidão e o acontecimento foi muito
d ~ 't N,R.17 l' I .. festejado. Na Província do Amazonas a Assembléia ratificou a decretação, e deram
e ransl o , com o qua o caplta empregado rendIa Juros e era
amortizado. O Presidente da Província, a partir daí, encontrou toda sorte de o agnome hipocorístico de "Benemérito" ao Presidente da Província por ter libertado
pretextos para não renovar a autorização deste direito de cobrança de imposto. os escravos de acordo com as leis estabelecidas, e foi elevado o número de cidades e
municípios que aderiram ao decreto. "Se tivessem observado fielmente o Decreto
Somente com a declaração da República e no governo de Lauro Müller, que
de 1871 - o Imperador assim se exprimiu, na "Fala do Trono", na abertura do
imediatamente revigorou a autorização, algum tempo depois o Governo tornou a
Parlamento em maio de 1871 - o Brasil inteiro já estaria livre da escral'idâo."
assumir a continuidade da Estrada. indenizando a Sociedade de Blumenau.
Mas existiam muitos que queriam conservar por maior tempo possível a
A PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA: mão-de-obra barata e com esse objetivo tramaram e influiram politicamente a fim de
Causas e Conseqüências no que a abolição não tivesse livre trânsito.
Município de Blumenau Portanto, foi muito acertado acabar de um só golpe com esta forma de agir. É
de notar que naquela ocasião não se atribuía o mérito da abolição à resolução do
Parlamento que homologou o ato da Princesa, mas sim imputava-se o ato da
Na maioria dos relatórios de autores alemães sobre os memoráveis libertação como uma "obra do povo", o que não aconteceu com nenhuma outra lei.
acontecimentos de 15 de novembro de 1889, está externada a opinião de que o
Se a Libertação dos Escravos teve alguma influência sobre a política. isto
Partido Republicano no Brasil. até o evento, não exercia influência, e que o
ocorreu com o resultado das eleições do Parlamento em meados de 1889. época em
Marechal Deodoro da Fonseca só quis derrubar o Ministério e, somente depois do
que os Conservadores foram derrotados e os
Golpe, foi indicado pelos Republicanos para consumar a Proclamação da República.
Liberais, com grande maioria, assumiram o Governo. Mas este último era zaram os anseios do Plano de Reforma, a culpa não se deve aos princípios
justamente aquele que, por vingança dos escravocratas, chegou ao poder. monárquicos, mas sim à inveja mútua entre os dois grandes partidos.
O governo, sob o Presidente Visconde de Ouro Preto, foi derrotado pela O fator, que por décadas minou a Monarquia e por fim lhe deu o golpe de
República, e não se pode entender como os escravocratas e republicanos misericórdia, foi o Sistema de Governo podre e carcomido. Como se sabe.
poderiam trabalhar coesos. existiam no Império dois grandes Partidos: o Conservador e o Liberal, para os
Se é dito que o Partido Republicano, pouco antes da abolição, não era quais o regime era o que menos importava. Um Partido era sempre Governo e o
notável, é porque somente alguns, que não escondiam suas tendências e outro oposição. O Partido do Governo, para tratar de si próprio, procurava
corajosamente defendiam suas idéias, eram evidentes e tornaram-se conhecidos permanecer no poder o maior tempo possível, e a Oposição tinha por único
pouco antes de se agruparem sob a liderança de Quintino Bocaiúva, que mais desejo locupletar-se o quanto antes, apoderando-se das ruínas públicas
tarde foi cognominado "Patriarca da República". deixadas pejos rivais.
Mas não era segredo que a maioria dos funcionários, militares e outros Quem melhor analisou o Sistema Político Partidário Brasileiro foi Dr.
mandatários, há anos, tinham ideais republicanos. Diferenciavamse apenas do Karl von den Steinen. Em seu famoso "Resumo de Viagem". consta:
pequeno grupo histórico, porque não usavam tão freqüentemente a palavra "Os dois Partidos principais, Liberal e Conservador, enfrentam-se
"República" e, quando a empregavam, procuravam não se referir com mutuamente, sendo um,o proprietário e o outro o desprovido. Tinha-se uma
expressões desairosas à pessoa do idoso Imperador. Naturalmente também péssima impressão e a situação causava antipatia: era mais ou menos como se
havia os descorteses e irreverentes que tentavam envolver, junto ao seu círculo em uma mesma casa vivessem, em grande quantidade, cães e gatos. Um grande
sócio-ideológico, a pessoa do Monarca. prato de came é colocado no pátio ao meio-dia. Quando os gatos conseguem
dele apoderar-se, os cães lti\'am de fome; e quando estes o conquistam, os
Assim, exemplificando, aconteceu que, em fins de 1888, quando o
gatos lamentam lambendo suas patas.
Monarca compareceu à Faculdade de Medicina do Rio para assistir a uma
solenidade, e o orador Dr. Domingos Freire, no ato de conferir os títulos de Sobre as principais diferenças entre ambos os partidos. reina escuridão
doutor, convidou D. Pedro II a "usar sua influência em fm'or da República ", impenetrável. As pa/al'ras Liberal e Conservador são apenas vocábulos, nada
D. Pedro II respondeu: "- Voltaremos afalar assim que o Sr. estiver mais mais. Cai o Ministério Liberal, também cai o Presidente e quem estiver no alto
calmo, quando então eu o esclarecerei de suas incertezas". Tendo então Dr. da escada arrasta consigo para o chão até o último escrivão Liberal, enquanto
Freire dito: "- Eu estou calmo, meu Senhor". a impaciente fileira de Conservadores si! lança ávida e em triunfo à escada
para galgá-Ia ".
Sobre o episódio, o Jornal blumenauense "Immigrant" reportou, naquela
ocasião, o seguinte: "Lamentamos ter que dizer, que a atitude tomada pelo 'A comparação é tão exata que melhor não poderia ser, pois a
Imperador referente à República é verdadeiro suicídio. Se o Imperador não organização das mamatas foi a determinante da queda da Monarquia. Se o
modificá-Ia, teremos em pouco a República ou I'árias delas, não porque o Imperador houvesse se animado a eliminar esta situação caótica, não só teria
povo a queira. mas porque o Imperador {/I'alia mal a tendência popular para salvo o Trono, mas também evitado muitas desordens e derramamento de
a Monarquia e não a aprOl'eira em beneficio da Coroa, compactllando assim sangue.
com a República. " Talvez alguém diga: - D. Pedro não poderia fazê-Io, era bom demais,
Em verdade, pactuar com a República era a prática geral, e isto cumpridor e fiel observador constitucional, para provocar um Golpe de Estado.
acontecia como rotina, pois os partidos monarquistas aceitavam as mais Mas isso também não seria necessário, pois o Imperador detinha em suas mãos
significantes intenções republicanas em seu programa. Assim, um ano antes da ambos os pratos da balança partidária e poderia controlá-Ios.
queda da Monarquia, a reforma das instituições foi efetuada, conforme os Sabe-se que a atuação do Governo, Liberal ou Conservador, nem sempre
preceitos propugnados pela República, e aprovados os postulados dependia da vontade do povo, que se revelava pelas eleições parlamentares,
republicanos como: o Sistema Federalista, separação do Estado e Igreja, mas estava também condicionada à vontade do Imperador.
elevação das Províncias para Estados autônomos, etc. Assim, muitas vezes as Foi o que aconteceu por várias vezes, pois quando um Ministério
intenções foram, bem antes, explicitadas e nem por isso o Imperador deixou de Conservador assumia o Governo e o Poder, obtendo maioria no Parla-
assentir. No entanto. se não se concreti-
37)
mento, a incapacidade político-administrativa era tanta, que o Imperador, não raras Sobre a Revolução propriamente dita, seguem informações tomadas de um
vezes, simplesmente demitia o Ministério Conservador e o substituía por um relatório de Quintino Bocaiúva, Chefe dos Republicanos42.
Liberal. Este naturalmente não poderia governar o Parlamento Conservador, e só Os Republicanos prepararam muito bem o seu campo, não dando grande
havia uma solução: dissolvê-Io e pedir novas eleições. Então o Ministério Liberal importância à propaganda entre o povo, mas seus apologistas pregaram bastante sua
aproveitava! Todos os Presidentes Conservadores, como também funcionários, até o doutrina nas classes mais elevadas e principalmente entre os jovens. Todos sabiam
último porteiro, eram sumariamente demitidos e substituídos por partidários que um levante do povo teria conseqüências sangrentas, por isso os propagandistas
liberais. Juízes, militares e outros que não podiam ser demitidos de imediato eram republicanos atuaram mais intensivamente divulgando suas idéias dentro das fileiras
transferidos para rincões distantes. Grandes somas de dinheiro eram consumidas do Exército e da Marinha. Nesse segmento da sociedade também foram muito bem
para "fins eleitoreiros" e dotações liberadas para a corrupção, implicando em que, sucedidos, pois a maioria dos oficiais estava saturada com o sistema de Governo da
logicamente, obtivessem a maioria desejada. Monarquia. Na Escola Militar, Benjamin Constant providenciou para que os cadetes
Eis a questão! Se o Imperador podia fazer isto, por que não poderia ter a cedo se entusiasmassem pela República e mal podiam esperar a hora de agir, tão
capacidade de pelo menos uma vez escolher outros homens a não ser Liberais e inflamados estavam.
Conservadores, mas fiéis ao Imperador, e energic;mente desenvolver seu programa Como tudo corria bem, a direção do partido passou da propaganda para a
com coneção? conspiração. O plano para a revolução foi elaborado e fixado o início de novembro
Era um sistema revolucionário, se assim o pudermos chamar, pois toda para sua eclosão. Para que tudo decon'esse ordenadamente e sem grande
mudança de Governo parecia uma Revolução e tinha que ser eliminada, pois o que derramamento de sangue, resolveram esperar uma reunião na Chancelaria do
importava era formar um exército fiel ao Império e longe de qualquer influência Império, como acontecia semanalmente. Os republicanos se reuniriam no Clube
pública. Naval e a partir de lá agiriam, prendendo todo o Ministério, impossibilitando que
Foge ao nosso conhecimento se D. Pedro, talvez ofuscado pelo esplendor dessem contra-ordens. Mas infelizmente não marcaram para aquela semana
pessoal de que era alvo pela bajulação dos próprios Republicanos, ou fraco demais conferência ministerial alguma, além de começarem a tomar medidas contra os
para afrontar a gravidade da situação, foi incapaz de tomar uma posição de Republicanos, com o fito de detê-Ios. No dia 14 de novembro já se ouviam, por
salvaguarda. De qualquer maneira, um ano antes da queda, a situação da Monarquia todos os cantos, comentários sobre enérgicas providências que o regime se dispunha
já era bem delicada, e a Coroa tinha pleno conhecimento das circunstâncias. a tomar contra os republicanos: o Exército seria dispersado e os republicanos
suspeitos presos. Chegara a hora de agir e, numa conferência entre Quintino
A tendência republicana do exército era conhecida e procurava-se por todas
Bocaiúva, Benjamin Constant e o Coronel Sólon, resolveram deflagar a Revolução
as maneiras reprimi-la. Altas patentes militares eram demitidas ou. ~emovidas para
longe. Chegaram até a representar uma Campanha MIlItar para se livrarem, desta no dia 15.
forma, dos elementos perigosos. Sem que houvesse qualquer vestígio de guerra, No dia 15 de novembro de 1889 de manhã, ocorreu o assalto, quando o
foram mobilizados 10000 homens, o que representava dois terços do Exército, e Coronel Sólon com sua tropa anemeteu da Boa Vista em direção à cidade.
enviados para o Mato Grosso. Rapidamente mandaram avisar o Marechal Deodoro da Fonseca, há muito
O comando foi entregue ao Marechal Deodoro da Fonseca, o qual h~ tempo considerado o líder, que apesar de acamado com um sério resfriado, levantou-se
já era temido e "ipso facto" seria temporariamente afastado. Digno de notar que com grande esforço, tomou um veículo e foi ao encontro das tropas. Quando as
nessa ocasião, um jornal sob a rubrica "A Pedido", public.o.u, sobre o Imperador, avistou, tocando estrondosamente os clarins, foi arrastado pelo entusiasmo -
que ele não tinha participação nas decisões dos milItares do Gabinete41. esqueceu a doença e, montando o cavalo de um oficial. colocou-se defronte da tropa
para assumir o comando.
_ ~o entanto, a tal campanha fictícia contra inimigos imaginários,
Sem mais, estava concretizada a República, diz Quintino Bocaiú-
nao pode ser sustentada por muito tempo e as tropas regressaram.
va: "O rápido sucesso do golpe se deve à audácia de Sólon e ao heroísmo de Souberam que nada mais havia a fazer, e que a República era um fato consumado.
Deodoro." Retomaram para junto do Imperador, e Dantas prestou os esclarecimentos.
Se a rebelião não tivesse acontecido no dia 15 de novembro, quem sabe como Primeiramente D. Pedro não quis acreditar, mas quando Dantas repetiu o relato com
sucederia, porque o Governo, como diziam, se dispunha a tomar medidas drásticas toda seriedade, o idoso monarca pendeu a cabeça no peito, permanecendo por alguns
contra os republicanos. Mas ocorreu tudo expedita e tranqüilamente, e a não momentos nesta posição, sem se mover.
realização da Conferência do Ministério, inimputavelmente, favoreceu os Então, repentinamente levantou-se e começou a aQdar pelo salão, por fim
republicanos, contribuindo para o rápido êxito do Golpe. de maneira tal que o dizendo: "-Bem, isto tudo provavelmente passará, no início do meu governo
Quartel-General caiu em verdadeira ratoeira, vendo-se tolhido e forçado a pedir sua também tive que lutar com várias dificuldades."
renúncia a Deodoro. Em seguida, o Monarca quis, de qualquer maneira, um encontro com o
Depois que Deodoro demitiu todo o antigo Governo, seguiu à frente de Marechal Deodoro, mas o Palácio já estava ocupado, e por isso ninguém podia
numerosa tropa, e, como foi notório, a ele se reuniram todos os Batalhões, até mesmo entrar ou sair sem ordem expressa dos líderes do movimento. Pouco depois, o
o quartel general da Marinha. que de imediato se colocou sob seu comando. Deodoro Coronel Sólon trouxe o comunicado declaratório da assunção do Governo
após isto retomou para casa e para a cama, obrigado a permanecer no leito ainda por Provisório, não deixando mais dúvidas sobre a real situação.
vários dias, sem se importar com as condições e o bem-estar da República. Neste O último Presidente do Ministério, Visconde de Ouro Preto, em seu relatório,
intervalo, Quintino Bocaiúva e Benjamin Constant exerceram o Governo, divul- acusou as altas patentes militares de terem compactuado com os revoltosos e de
gando a Proclamação da República, que prepararam na noite anterior. aprovarem ficticiamente todas as resoluções e atos ministeriais. Quanto a isto o
providenciando a elaboração das primeiras atas do Governo, até o restabelecimento Visconde tinha toda razão: os militares e a grande maioria da Marinha estavam a par
de Deodoro, a fim de capacitá-Io a assumir a presidência do Governo Provisório. dos acontecimentos e de pleno acordo. Tudo aconteceria ainda mais fácil e
Relatos contraditórios circularam sobre o comportamento do Imperador rapidamente se tivessem tido a coragem e energia de um Deodoro e um Sólon.
durante a Revolução. Tem-se, porém, a interpretação do Dr. Anfrísio Fialho em sua É com as seguintes palavras que Quintino Bocaiúva se refere ao posterior
obra, "História da Fundação da República no Brasil", como a mais acertada. Presidente Marechal Floriano, o "Marechal de Ferro", como ficou conhecido por sua
• Sua versão é a seguinte: Quando o Imperador voltoll para o Rio, vindo de perseverança e energia durante os subseqüentes anos de Revolução, e que durante a
Petrópolis, para onde subira antes do episódio, recebeu a visita de vários Proclamação de 15 de Novembro de 1889 ocupava o posto de General-Ajudante do
Senadores, Conselheiros e do Comandante do Cruzador Chileno "Almirante Exército: "FlorianoJaúa tempo, era um dos nossos e era muito cauteloso, com
Cochrane", para o qllal o Imperador disse: "- Nao é nada, amanha tlldo terá um ar zombeteiro, que todos conheciam como traço característico, de vez em
passado, nós brasileiros somos assim." quando dizia: - Vejam lá o quefazem.' Vejam bem o que vao fazer, nao se
Como no entanto. as horas passassem, sem que o Chefe do Movimento se precipitem.'''
apresentasse em Palácio como supunham, o Imperador aos poucos se deu conta da
gravidade da situação. E supõe-se que teve a intenção de se opor, pois mandou
chamar o Ministro que acabava de ser demitido por Deodoro e ordenou que
permanecesse no Governo, imaginando que a Marinha o apoiaria. Como Ouro Preto
negou-se a cumprír a ordem, afirmando ser impossível levar avante tal plano, D. Mesmo que costumeiramente os Jornais blumenauenses divulgassem a
Pedro cogitou em transferir o Governo a um declarado inimigo de Deodoro, o aproximação da República, a notícia da Queda da Monarquia pegou todos de
Senador Gaspar Silveira Martins, conhecido por seu caráter violento. Mas o Senador surpresa. Admitia-se uma República no futuro, mas que o Imperador, o velho e bom
estava ausente do Rio e outra pessoa, que pudesse ser indicada, era difícil encontrar. Monarca, sem o qual não se concebIa o Brasil, fosse destronado e que seguisse para
O Imperador resolveu contactar os vitoriosos Chefes Revolucionários, porém o exílio, isto ninguém poderia imaginar - e por isso. em todos os Partidos, o pesar foi
não queria fazer isto abertamente, mas sim por intermédio grande.
dos Senadores Souza Dantas e Manoel Euphrasio Correa. Os dois senhores se 125
puseram a caminho imediatamente, mas não chegaram à presença de Deodoro.
Porém, tal pesar não foi longo. Sabe-se que não fazia muito, um governo 1 tempo aderiu à oposição e foi por ela completamente absorvido, constituindo o
Conservador teve que ceder lugar a um Liberal, e em Blumenau estavam ocupados futuramente chamado "Partido Federalista".
em trocar os funcionários, iniciavam-se as substituições, porém as maiores / Neste ínterim alguns progressos puderam ser registrados em Blumenau. Em
mudanças ainda estavam por vir. Os ocupantes conservadores de cargos, pensando peq janeiro de 1890 o anterior "Termo" foi elevado a Comarca, cuja instalação
no magro futuro, andavam cabisbaixos pe~as ruas. No primeiro susto pela Queda da uen aconteceu em 10 de fevereiro, sob o Juiz de Direito Dr. Pedro Celestino de Araujo. E
Monarquia tudo foi esquecido, mas o pão-de-cada-dia é a essencial necessidade do o ainda, emjulho do mesmo ano, concluia-se a interligação com o mundo civilizado
homem por isto a República cedo obteve seus primeiros prosélitos, quando ~ Part pelo telégrafo. Além de tudo, passos largos eram dados em relação à colonização - o
Go:erno .Provis~rio publicou a declaração de que o faccionismo partidárIO havia ido número de imigrantes aumentava.
terminado e que todo funcionário cumpridor de suas obrigações deveria permanecer Cat
A última Câmara Municipal Imperial foi dissolvida, como em todos os outros
em seu posto. ólic
municípios, e substituída por uma Intendência, cujos membros provinham, em
Subitamente dois homens assomaram à frente da política blu~enauense, o,
grande parte, da velha Câmara. A composição da Intendência era a seguinte: Dr.
porém antes permaneceram afastados das lides partidánas: Dr. José Bonifácio da mas
José Bonifácio da Cunha, Presidente; Heinrich Clasen, Friedrich Rabe, Gottlieb Reif
Cunha e Dr. Victorino de Paula Ramos. era
e Agostinho Pereira, Intendentes.
e
_ O p~imeiro, umjovem médico que participou da primeira Expedi- As boas relações que os chefes políticos mantinham com o Governador Lauro
con
çao ~adelra-Mamoré, veio para Blumenau em fins de 1886, para aqui, no clIma Müller fizeram com que consideráveis dotações enriquecessem os cofres de
tinu
ameno, restabelecer sua saúde abalada pela doença contraída durante a expedição, Blumenau. Também a "Neue Schule" (Escola Nova) foi subvencionada anualmente
ou a
naquela região insalubre. Como não era somente um .excelente médico, mas com Rs 600$000, enquanto Padre Jacobs perdia a soma de Rs 1 :200$000 de
ser
também em pouco tempo aprendera o alemão, mUitos foram os seus simpatizantes. subvenção anual que recebia havia pouco tempo.
tão
O segundo, o Dr. Paula Ramos, era chefe da Comissão de Terras e ine É certo que o Vigário passava mal na República, mas isto era devido,
Colonização e também veio a Blumenau no mesmo ano. xpr principalmente, à sua inflexível intransigência. Para exemplificar, no caso da
Esses dois, que passaram a declarar abertamente sempre terem sido essi introdução do Casamento Civil, portou-se com tamanha teimosia, que o Tribunal de
republicanos e por este motivo estiveram continuamente afastados dos dois partidos vo, Justiça se viu compelido a interferir. Também em outros assuntos o padre sempre
principais, entraram logo em contato com a Junta-Governamental na Capital e mais que tomava atitudes extremadas.
tarde com o novo Governador nomeado o Tenente Lauro Müller. Carrearam assim nas A Câmara Municipal lhe cedeu em junho de 1883, por três anos, o terreno
diversas vantagens par~ Blumenau. elei defronte da Igreja, onde hoje se encontra a Casa São José - nestes três anos o Vigário
çõe se comprometeu a plantar árvores e flores e na devolução não teria direito à
Não demoraram a vir os primeiros decretos do Governo Provisório e foi
s indenização. O tempo passou e como passivamente lhe deixaram o terreno,
grande o entusiasmo por todas as liberdades, há tanto tempo esperadas, e que
repentinamente conquistavam! ne certamente achou-se com direitos de proprietário, porque, quando em 1890 o Dr.
m Cunha pediu a devolução a favor da Câmara, Padre Jacobs recusou-se
_ Como d~ praxe, também sob o novo regime, o sistema de governo entr decisivamente. Dr. Cunha entã6 usou de força destruindo o portão de entrada, mas
nao era exercido sem um partido de oposição, que era muito pequeno. Inte~rava-o ou no dia seguinte o dito já estava outra vez no lugar e fortificado. Quando Dr. Cunha,
certo número de ex-conservadores e liberais que reunidos desejavam formar um em acompanhado de soldados da polícia, chegou ao local, para novamente exigir a
"Partido Democrático". Esta constituição não se formalizou porque, na marcada que devolução do terreno em nome da Câmara, Pe. Jacobs, à frente de seus professores,
reunião, os republicanos trouxeram tanta ~ente, que os poucos "democratas" foram
stão enfrentou-o. Como todos estivessem armados, Dr. Cunha resolveu retirar-se, porque
absorvidos, desaparecendo, e tiveram que presenciar como a turba barulhenta
, e com toda certeza aconteceria um conflito sangrento. Outros acontecimentos desta
fundava o dito "Clube Republicano" e como conduziram para a presidência, por
em natureza também ocorreram!
unanimidade, o Dr. Paula Ramos.
pou
Mais tarde o Vigário Padre José Maria Jacobs logrou fundar um co
Por fim, o Juiz Municipal condenou o relutante Vigário a três meses de August Müller Friedrich von Ockel Emil
prisão. Mas o intimado não compareceu perante o Juiz, fugindo para a Zona
Wehmuth
Colonial Italiana, e logo se espalhou o boato de que o Vigário organizava um
grupo de voluntários para atacar Blumenau.
Quando receberam a notícia, tomaram imediatamente providências e, Georg Wamser Leopold Knoblauch
reunindo alguns cidadãos armados, foram ao encontro do Vigário Luiz Abry Luiz Altenburg
Heinrich Krohberger
Revolucionário. Foi preciso avançar até seu esconderijo porque não estava a Uma das mais importantes Heinrich Reuter
caminho de Blumenau, nem havia convocado voluntários. Foi preso e,
acompanhado por uma longa fila de carroças, trazido em triunfo a Blumenau, reformas que a República Aleandro Lenzi
onde foi entregue ao Juiz. Mas da prisão ele se livrou, porque dois homens proporcionou
. d I,N.R.18
dignos, DI'. Hercílio Luz e Peter Christian Feddersen, assumiram a garantia dfoi a extinção da pena de morte, bem como o castIgo as ga es e
afiançando-o perante o Juiz, para que o Pe. Jacobs pudesse apelar novamente, da pena de prisão perpétua.
em liberdade, contra a sentença do Juiz da Comarca. Em Blumenau. durante o Governo Imperial foram comi nadas algumas
Apesar de tudo, a sentença condenatória foi confirmada pelo Juiz de
sentenças de morte. porém não executadas porque o Imperador habitualmente
Direito, em Janeiro de 1891, mas a prisão não se consumou. Padre Jacobs, em
comutava as penas para prisão perpétua.
decorrência, se manteve calado, até que em princípio de 1892 vendeu sua
Por essa razão a profissão de carrasco já estava extinta. O último foi o
propriedade à Ordem Franciscana e deixou Blumenau para retomar à
Alemanha. Mas não tornaria a ver sua Pátria no Rena, pois faleceu no Rio de mulato Januário, que morreu em fins de 1888, em Minas, com 4S anos de idade.
Janeiro, durante a viagem para a Alemanha. Era. como todos os carrascos brasileiros, um condenado à morte e com este
Um dos mais belos frutos que a República trouxe foi a grande trabalho hediondo garantia sua prisão perpétua. Morreu "ipso facto".
naturalização. A obtenção do título eleitoral foi facilitada e. sem mais delongas fortemente acorrentado aos pés. Mais pavor causa, quando se revela que
e entraves, todos os estrangeiros que no dia da Proclamação encontravam-se no começou seu lúgubre ofício executando seus
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país foram considerados brasileiros. O estrangeiro que não quisesse assumir a próprios pais. que foram condenados a morte Juntamente com e e .
nacionalidade brasileira teria que declarar esta intenção pessoalmente às A condenação às galés não era mais entendida como tal. porque sua
autoridades. aplicação efetiva não era mais praticada. Mas os condenados a esse castigo
Blumenau, que tinha antes um número de eleitores bastante reduzido, tinham. mesmo assim. um triste destino. Eram acorrentados aos pés com
elevou a quantidade a ponto de alcançar o primeiro lugar na escala dentre os pesados grilhões, tendo que arrastá-Ias consigo até a morte. Essa sentença
municípios. Quando em setembro de 1890 houve as Eleições para o Congresso também apenou um alemão. condenado inocentemente. Hermann Wagner foi
Nacional, votaram 1999 eleitores nos candidatos Republicanos, enquanto o sentenciado à morte, mas o Imperador comutou sua pena para tal castigo.
Partido Católico só obteve 89 votos. Wagner foi denunciado injustamente por desafetos vingati\'os e declarado
E assim continuava! Nas eleições de março de 1890 para Deputados culpado de latrocínio. Toda a imprensa teuto-brasileira lutou pela sua liberdade.
Estaduais, quando o DI'. Cunha e DI'. Paula Ramos foram candidatos por e também muitos brasileiros a pediram. Não obstante o Imperador D. Pedra Il
Blumenau, os Republicanos obtiveram 1849 votos e os Federalistas só 88. E ser muito magnânimo com as absolvições. e a despeito dos milhares de pedidos
para as eleições à Câmara Municipal de Blumenau, em agosto do mesmo ano, e influência da imprensa e de políticos, ele permaneceu em silêncio. e o
não foi diferente. condenado sofreu o ultraje por 8 anos e 8 meses, até a queda do Império.
O primeiro Governo Republicano de Blumenau consistia de O I Sob o novo regime, o Governo Provisório assinou o ato de absol-
superintendente e 13 vereadores e era integrado pelos seguintes cidadãos:
Dr. José Bonifócio da Cunha - Superintendente; N.R,181 Condena~'ão onde o apenado deveria cumprir o castigo como remador das naus
de guerra.
Gustm' Salinger - Presidente da Câmara:
43 - De acordo com várias notícias publicadas nos jornais do ano de 1888.
Vereadores:
pela "patente"
vição e o enviou a Porto Alegre, onde Hermann Wagner encontrava-se preso. e pelo "Salto", que pouco antes fora adquirido, em parceria com Sch_midt~ do Dr.
Grande número de alemães e brasileiros se dirigiu à prisão para buscar o libertado e Blumenau. pelo equivalente de Rs 30:000$000. A transaçao fOI concluída por via
assistir à remoção das correntes que foram soldadas em seus pés para jamais serem telegráfica. O negócio foi bom, mesmo porque a Sociedade pagou o dobro do preço,
retiradas. além de contratar RodeI' como técnico e Schmidt como Diretor Comercial, com
ordenados de valor
significativo.
RodeI' e Schmidt em seguida foram à Alemanha a fim de adquirir as
máquinas necessárias. ou então mandar construí-Ias, enquanto no "Salto" eram
Com a fundação dos Bancos de Emissão, o Governo Republicano iniciadas as obras. Desmataram extensas áreas da selva e chegou grande quantidade
incrementou a circulação monetária, e o antes raro mil réis circulava, de material de construção, como cimento, etc.
suficientemente, de mão em mão, e por esta razão apresentavam-se melhores Por fim, vagarosamente o grande negócio esmoreceu, e a Sociedade
oportunidades para pessoas dotadas de espírito empreendedor. Inauguravam novos compartilhou do malsinado destino da maioria dos empreeI)dimentos da época das
Bancos diariamente e também outras Instituições. Grandes projetos ferroviários e fundações.
indústrias surgiram como cogumelos na terra - em uma palavra. o período das Mas alguma coisa Blumenau sempre aproveitou, pois Gustav RodeI' aplicou
fundações começava. as importâncias auferidas pelo negócio, no Garcia, ampliando uma de suas pequenas
Blumenau também participou deste estágio conjuntural quando em janeiro de fábricas. Pessoalmente não pôde m~nter a fábrica, que mais tarde foi leiloada e
1891 formou-se a "Sociedade Ferroviária Chopim", com um capital de 60000 contos arrematada por Importancla irrisória. Para Blumenau. foi a pedra angular para uma
de réis, recebendo do Governo Federal a promessa de juros. Esta ferrovia deveria grande indústria, a atualmente estabelecida "Empresa Probst-Garcia".
partir do Estreito, defronte de Desterro, passar por Blumenau e seguir direção à
região das Missões até um porto apropriado no Rio Paraná. Constavam projetados
vários ramais e, caso o projeto fosse realizado. o problema de tráfego em Santa
Catarina estaria resolvido. Mas lamentavelmente repetiu-se com este projeto
ferroviário o acontecido com a Ferrovia D. Pedra I. Os trabalhos primários foram
Enquanto se desenrolavam esses eventos, o chefe da Comissão~Co-
quase todos executados com dispendiosos custos, mas a Sociedade entrou em crise
lonizadora, Dr. Victorino de Paula Ramos - em Blumenau dIZIa-se simplesmente o
financeira, falindo e pondo por terra os esperançosos sonhos. Afinal o Governo
"Chefe" - foi promovido a Delegado, o que significava:
ainda teve que pagar vultosa indenização. Porém, os ingleses e acionistas não a
Diretor Geral de Colonização em Santa Catarina, e teve que transfenr
receberam e saíram prejudicados. Alguns políticos espertos e previamente
informados adquiriram as ações da Sociedade falida, por soma irrisória, com o fito seu domicílio para Desterro.
de locupletarem-se com a indenização. Para sucedê-I o foi designado o DI'. Hercílio Pedro da Luz, que exerceu o
Durante aquele período, o bem conceituado industrial Gustav RodeI' também posto de Chefe da Comissão de Tubarão, e como era primo e cunhado de Elesbão
soube aproveitar-se das facilidades. Ele, por longo tempo. dedicou-se ao estudo das Pinto da Luz. que ainda residia em Blumenau e era considerado líder do Partido
fibras - rami - e suas descobertas na área habilitaram-no à obtenção da "patente", Federalista, inicialmente todos ficaram um pouco apreensivos de que o novo chefe
porém faltava-lhe o capital para a instalação de uma fiação e tecelagem da fibra, apoiasse o seu parente., Mas t~I1 mostrou-se infundado, pois Dr. Hercílio
revelou-se um verdadeIro fanatico, como simpatizante do Partido Republicano.
Nessa época em que aconteciam intensivamente as fundações relacionadas às
Com sua, maneIra impulsiva e temperamental, rapidamente inflamável,
áreas econômico-financeiras, o acesso ao capital necessário tornou-se menos difícil.
proporcIonou ao Partido diversos momentos embaraçosos que, com um
Associou-se ao antigo cervejeiro H. F. Schmidt que viajou ao Rio, logrando
comportamento moderado. poderiam facilmente ser evitados.
constituir uma Sociedade Anônima, cuja pretensão era iniciar em Blumenau uma
grande fábrica. Naturalmente a nova Sociedade pagou a RodeI' considerável soma
Como visitante desagradável surgiu, em 1891, a disenteria em favorável. isto é. uma mudança radical na tendência das reportagens.
Blumenau. Foi trazida pelos imigrantes e disseminou-se por toda a Colônia, de Porém Bernhard Scheidemantel não era homem que se curvasse para
modo que o número de vítimas, principalmente crianças, foi muito elevado. O ~ceitar,~~~alquer imposição. Resolveu suspender a publicação do "Immlgrant .
Governo enviou de Desterro o Dr. Rolla porque sozinho o Dr. Cunha não podia
atender a todos os doentes. Sem muita demora a epidemia cedeu.
Posteriormente reapareceu por outras vezes, alastrando-se, até que. um ano
após, desapareceu totalmente. Nesta epóca não houve outros acontecimentos n~táveis e dignos de
registro, apenas um grande ataque dos, í~dios a tr2felro,~ do. planalto; aliás
ataques aconteciam anualmente, vanas vezes . O Incidente do Adda"N.R.19
precisa, entretanto, ser mencionado. Lá. os novoS colonos não se conformaram
No que tange ao desenvolvimento religioso, os Franciscanos assumiram com a forma do pagamento que em parte era praticada pelos comerciantes e pela
as instalações do Padre Jacobs. A irmandade ocupou-se da orientação espiritual comissão de terras. No ato da prestação de contas, protestaram em altas vozes,
dos católicos de toda Blumenau e ampliaram as constnlções da Escola S. Paulo, tornando-se ag:~ssIVOS. Na ocasião foram feridos o assistente da comissão de
que passaram a denominar Colégio Santo Antônio. terras, Em Il 10. Sada e o comerciante Friedrich von Ockel. Naturalmente, logo
Além disto, realizaram outras modificações e construções no terreno da envl~ram reforço militar, que de imediato apaziguou os delinqüentes, na
Igreja. O colégio, mais tarde, foi transformado em seminário e, anos depois, maIona imigrantes poloneses.
instalou-se, perto dali, o instituto das Irmãs da Divina Providência. Estas, além
da enfermagem, também se dedicaram ao ensino feminino.
Os franciscanos fundaram, em Rodeio, um grande estabelecimento, de
onde os padres prestavam atendimento espiritual aos distritos ocidentais de No setor econômico-financeiro verificou-se uma gra~de oscilação
Blumenau. 'I ,. d 27 d RR._O conforme
com a desvalorização do curso do ml reis e . , .
No ínterim, uina nova comunidade evangélica se tornava autônoma - fixado nos últimos tempos do Império. Primeiro caiu para 24, dep~ls para
Indaial. Em 1890, chegou o Pastor Heinrich Ehrlich, que foi contratado por 20-15, e até para 10' Isto acarretou um enc~recimento, J,a~'aIs VISto, ~e todos
aquela comunidade. Na ocasião havia 3 pastores evangélicos no município. os artigos importados porque a tanfa alfandegana contll1lW\ a subindo. Em
Em janeiro de 1891. iniciou-se na comunidade evangélica centro uma contrapartida, os produtos da Colônia sofreram um aumento conespondente.
desavença bastante desagradável, que foi amplamente divulgada pelos jornais. Assim, a manteiga, que naquele tempo já er~ U1." dos produtos de exportação
A dissensão foi provocada pelo fato de o Pastor Faulhaber - em sociedade com mais importantes, teve seu preço tllphcado,
a maioria dos membros da diretoria - ter dado o início à discussão da passando de 500 réis para 1$500.
reformulação dos estatutos da Comunidade Evangélica, objetivando vinculá-Ia Como não havia falta de dinheiro - pelos trabalhos de colo~ização,
ao Conselho Superior da Igreja da Prússia. mensalmente ingressavam grandes somas - e os imigrantes, amda ~m parte,
Como no protocolo da Assembléia do Conselho também propunham traziam dinheiro vivo, em Blumenau a população se sentia satisfatoriamente
uma mudança na forma de profissão de fé, isso provocou uma imediata confortável. Estava-se sob o signo do progresso e havia motivos para encarar o
avalanche de protestos. Logo se desencadeou uma terrível batalhajornalística, futuro com confiança.
onde os blumenauenses Dr. Fritz Müller e Wilhelm Scheeffer se digladiavam.
Mas essa batalha foi vã, pois a Assembléia Geral decidiu aceitar, sem mais, a . I I m's's porém n'io era editadO
44 _ O "Immigranl" circulou maIs lare e por a guns e, t: • •
revalidação dos estatutos até então vigentes. Para o Jornal "Immigrant", esta por Scheidemanlel.
derrota representou o fim de sua existência, pois era o mais violento adversário , A d' capítulo
dos patronos da Igreja. os quais integravam a maioria de associados do especial.
45 - A questão indígena sera abordada no apen Ice, em
"Immigrant". Na condição de majoritálios, exigiram do redator e editor uma N.R.19) Ribeirão Adda em Rio dos Cedros.
posição que lhes fosse N.R.20) Consta no original "27 d.". d= dólar0 ou Deutsche Mark')
38)
o PERÍODO DA REVOLUÇÃO cia de dias, que o golpe seria desfechado. Houve assim, tempo para se precaverem.
Quando a 3 de novembro foi publicado o fatídico decreto nacional de
dissolução do Congresso, os seus membros já estavam preparados para o revide.
Enquanto no capítulo anterior foi descrita a vida blumenauense, que se con~ervava Obedeceram, submetendo-se ao imperativo da força, mas protestaram com
fiel à divisa republicana "Ordem e Progresso". arrostando confiantemente o futuro,
veemência e apelaram para o povo, para o exército e a marinha, conclamando-os
os acontecimentos no Rio começavam a agravar-se novamente. O Marechal Deodoro
para que viessem em seu auxílio. As complicações e alterações da ordem não
da Fonseca foi o homem q~e su?,stituiu o regime imperial pelo da "Liberdade,
tardaram a surgir e graçava em todos os recantos.
Igualdade e Fratermda?e , mas era tanto teimoso quanto valente e tão vaidoso quão
leal. Por ISSO, não logrou manter. por mais de um ano, o seu Ministério. Os navios de guerra surtos no porto declararam-se em estado de beligerância.
In?iferentemente deixou que se afastassem os velhos companheiros dos pnmelros não a fim de apoiar Deodoro, mas sim para lutar contra o generalíssimo, sob o
dias da república, como Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, Wandenkolk, Campos comando de Custódio de Mello. Supunha-se que a ação não seria tão simples, e
Salles, Ribeiro e Aristides Lobo - Benjamin Constant já havia falecido - e, imaginavam que Deodoro reagiria energicamente. não deixando que os atos de
substituindo-os, constituiu um novo ministério composto de monarquistas. insubordinação passassem em brancas nuvens. O generalíssimo, vendo que desta
feita as ações não correriam tão fáceis como em 15 de novembro de 1889. procedeu
Quando o primeiro Congresso Nacional procedeu à votação para eleger o
de modo mais sensato do que dele se poderia esperar: resignou ao cargo, com menos
primeiro Presidente da República, Deodoro contava, certamente, com a sua eleição
de 14 dias de ditadura. a 23 de novembro de 1891 e o seu substituto legal, o
por unanimidade, e por isso o resultado foi para si uma amarga decepção. Dos 218
vice-presidente Marechal Floriano Peixoto, assumiu o governo, declarando
votantes. recebeu somente 128 votos, enquanto o paulista Prudente de Morais
expressamente que ncle se manteria, apenas até a eleição de um novo presidente, de
recebeu 90 sufrágios. Floriano obteve. para vice-presidente. J 53 votos. Esta foi a
acordo com os preceitos constitucionais.
razão de sua irritação e a que motivou seu desentendimento com o Congresso. onde o
número de seus adversários aumentava diariamente. Nos Estados, no princípio. o movimento não teve repercussões.
Quando chegou a notícia da dissolução do Congresso Nacional, ela foi recebida com
Além disso, novos opositores despontavam no cenário político e começaram
relativa indiferença e também não houve tumulto quando souberam da renúncia de
o seu trabalho de intrigas. Havia. para elucidar, o Contra-Almirante Custódio José de
Deodoro e da conseqüente posse de Floriano. Sem dúvida houve exceções, pois em
MeIo, respeitado por sua honorabilidade. Ele. durante a Proclamação da República,
todo o país eram numerosos os oponentes a Deodoro. os quais abraçavam a causa
se encontrava. com o príncipe Dom Augusto, num cruzeiro ao redor do mundo e,
defendida pelo Almirante Mello. Aplaudiam sua atuação e não concordavam, em
quando de seu regresso. encabeçou. na mannha, a oposição a Deodoro. Tais
absoluto, com a investidura de Floriano no poder. Por isso, concomitantemente, em
personalidades puseram-se em contato com os parlamentares da oposição no
vários estados irrompeu a revolta com a renúncia dos respectivos governadores.
Governo Nacional, a fim de consolidar suas posições antagônica~.
Logo que no Rio a legalidade foi restabelecida, diversos representantes do
, .A reaçã? contra Deodoro crescia diuturnamente e ele, que a si propno atnbllla o
povo no Congresso Nacional exigiram que, também nos Estados convulsionados, a
ménto da atuação decisiva no golpe de 15 de novemb!o, agora lamentava ter
legitimidade e a ordem fossem revigoradas imediatamente. A observância da
permitido que dessem ao país uma Constituição tao liberal. Resolveu. por
legalidade não era, em hipótese alguma. a intenção do novo Ministério, orientado
conseguinte, instigado por simpatizantes exaltados, dissolver o Congresso e
pelo Almirante Custódio José de Meio, como ministro da Marinha e pelo General
promulgar uma nova Constituição. Como I:SO se ~esenvolveria, nunca se soube. mas
Simeão, como Ministro da Guerra. ambos ferrenhos inimigos de todos os
pelas intenções do "generalIsslmo - haviam concedido esse título a Deodoro -
"deodoristas". Não só permitiram a permanência dos governadores revolucionários
deduzia-se que tencIOnava a ampliação dos poderes presidenciais e o ccrceamento
à frente dos Estados, onde ocorriam as anormalidades, como resolveram depor
do Congres~o. Tramava-se. também. durante o fechamento do Congresso, dar. um
todos os demais governos estaduais. Como não fosse possível apeá-Ios pelos meios
fim nas personalidades indesejáveis que vinham importunando
legais, procurou-se consegui-Io por vias travessas.
sistema. Não se sabe por que Deodoro demorou tanto para consumar
atentado à Constituição, pois no Congresso já sabiam, com antecedên134
39)
A solução pelas armas foi a indicada pelos acólitos da oposição e destes
sempre os há em maior ou menor número - e, inopinadamente. em Desterro,
grande número de manifestantes aglomerou-se diante do Palácio do Governo
pedindo a sua renúncia. Era o momento azado para começar o movimento
armado. Telegrafaram ao Rio, comunicando que teria eclodido uma revolução
e veio então ordem. da Capital Federal, determinando que o comandante militar
assumisse provisoriamente os negócios do governo do Estado, até que a ordem
fosse restabelecida. Ato contínuo, seria desmontada toda a estrutura legal em
vigor e reorganizada de tal forma e maneira, que todo o aparelho administrativo
fosse parar nas mãos da oposição.
Com exclusão do Pará. tais situações foram ajeitadas em todos os
Estados. Onde o "povo" era senhor da situação, o exército mantinha-se neutro e
quando não fosse o caso. a ação armada resolveria o problema.
Em Santa Catarina houve. de início, oposição muito fraca e. embora nos
diversos municípios existissem grupamentos partidários que não comungavam
com os postulados propugnados por Lauro Müller. longe estariam de cogitar na
deposição do Governador do Estado, pelas armas. E o próprio Lauro Müller,
que a Iº de julho do mesmo ano foi eleito governador do Estado. pelo
Congresso Estadual. jamais imaginou que tal pudesse acontecer. nem mesmo
que, de alguma parte, surgisse ameaça ao seu governo.
Tranqüilo e supondo-se a salvo de risco, grande foi a surpresa quando,
nos primeiros dias de dezembro, durante um passeio que fazia com alguns
amigos pelas ruas da capital, foi interceptado por um grupo de indivíduos.
parcialmente armados, que manifestaram intenção evidente de aprisioná-Io.
Tirando suas próprias conclusões quanto à gravidade do fato. retirou-se DR. JOSE BONIFÁCIO DA CUNHA Em
apressadamente com os seus companheiros e recolheu-se em Palácio, onde
seus últimos anos de vida
passou a tomar as medidas acautelatórias que a situação exigia. O grupo de
exaltados praticou ainda algumas desordens, mas como não conseguiu atingir
O maior contingente de insurretos foi arregimentado em São José, pelo
seus propósitos, dispersou-se.
Padre Cruz, que liderou o movimento no continente e enviava seus acólitos ao
Ao se espalhar a notícia do insucesso do atentado, todas as autoridades chefe dos rebelados na capital, um certo Severo. Acamparam no mercado e,
acorreram a Palácio para felicitar Lauro Müller e oferecer-lhe os seus concentrados, manifestavam-se com palavras de ordem, insistindo na exigência
préstimos. Estavam presentes as autoridades militares federais, do exército e da da renúncia de Lauro Müller, sempre com redobrada veemência e grande
marinha, propondo sua proteção. Lauro Müller recusou, supondo não estarem clamor. Por sua vez, aumentava a defesa de Palácio. onde se formou o "Batalhão
estremecidos os alicerces do seu governo. de Voluntários Lauro Müller". O governador telegrafou aos seus amigos nos
Ademais, ele estaria desconfiado do que pudesse sobrevir. caso aceitasse municípios, pedindo-,lhes auxílio; e da não distante Tijucas, partiu um grupo de
aquela proteção das Forças Armadas. Mas os reacionários não se deram por correlIglOnanos para Desterro, aonde chegaram a 27 de dezembro para
satisfeitos e, a fim de provocar a reviravolta nos acontecimentos pela engrossar o
subversão, distribuiram gêneros alimentícios e bebidas nos distritos do Batalhão de Voluntários.
continente, conclamando o "povo" para depor o governador. Imediatamente em Blumenau reuniu-se uma tropa armada, integrada por
cerca de 120 homens. que a 27 de dezembro seguiu pelos v~pores "Progresso"
e "Jan" para Itajaí. Depois juntaram-se a eles, mais cem
137
40)
N.R.21) José Deeke participou da "Marcha a Porto Belo".
41) 138
desordenada ecoou sobre as ondas. Não era uma canção de campanha que os
blumenauenses entoavam, mas sim os acordes da inocente canção "Die
schonen Bertha" (A Bela Bertha). Era de se admirar com que perseverança os
dois grupos, cada qual num extremo da embarcação, se revezavam nessa
ladainha da monótona e melancólica melodia, com as suas doze palavras que
compunham todo o cântico. Assim, quando uma turma pausava, logo as
gargantas descansadas da outra recomeçavam o mesmo coro, com devotada
dedicação: "Denn du hast ja - die schone Bertha - so in das Unglueck
gebra-a-a-acht", etc (Pois foste tu, Bela Berta, quem me trouxe a infelicidade).
O vento sul juntava os seus uivos às cantorias, e as ondas se
encrespavam cada vez mais. Aconteceu o que tinha que suceder: o canto ficou
cada vez mais fraco, até que parou por completo. Depois, todos os "guerreiros"
pagaram o seu tributo ao mar e, em vez dos sons da "Schone Bertha" (Bela
Berta), ouviam-se outros acordes que soavam como "ach" e ais de lamentação!
De quando em quando o "1an" parava para, como alegavam, consertar
defeitos das máquinas e da caldeira. Quando estavam, mais ou menos, na
metade do caminho para Desterro, o rebocador repentinamente cortou as
amarras e virou de bordo, invertendo o rumo, depois de fazer sinal ao
veleiro-reboque para que também retomasse a Porto Belo. Cursar a nova rota
não era tarefa fácil, porque o vento sul aumentava e se transformou num
verdadeiro furacão, impelindo o navio com toda força para os perigosos recifes
da costa, onde as ondas quebravam, elevando-se a grande altura. O grosso cabo
DR. VICTORINO DE PAULA RAMOS de reboque que os marujos, corp esforço sobrehumano, procuravam recolher
dificultava a manutenção do navio na rota certa, e os voluntários
homens. Entretanto, nos dias seguintes, alterou-se a situação de sorte blumenauenses passaram por momentos bastante críticos. Devagar
que o envIO de reforços não seria recomendáveI.N.R.21 ' conseguiram içar o cabo a bordo e a velocidade do veleiro aumentou e, em
pouco tempo de viagem, chegaram à baía de Porto Belo, onde; nas águas
d O primeiro grupo, entretanto, chegou a Itajaí na manhã de 28 de
tranqüilas do porto, o "1an" já estava ancorado.
ezembro de 1891, embarcando num veleiro da firma Assebur
Aos poucos, todos se refizeram e satisfeitos e alegres, em conseqüência
~~~:na carregado ~~m tábuas. Pela mercadoria, os empresários btl~~~
da forçada limpeza dos estômagos, sentiam tremenda fome. Sobre as pilhas de
a ses que p~rtlclpavam da expedição se responsabilizaram mediante
tábuas foi descoberta uma única caixa de biscoitos que os chefes guardaram
p bgamdento, a tItulo de caução garantidora. O veleiro foi engatado ao
re oca 01' "1" b para seu próprio consumo, e num abrir e fechar de olhos tudo foi devorado. As
uerra" an e, so. o comando do Capitão Stein, o "comboio de demais "provisões de boca" também sumiram como uma gota d'água sobre uma
gcomeçou sua vIagem a Porto Belo.
No início da viagem bl pedra quente, e esta circunstância provocou a decisão de irem a terra e lá
dos . - I ' os umenauenses estavam bastante anima- procurar algo mais nutritivo. especialmente porque, conforme comentavam, o
o qu' Peols ate a. tas ~oras da nOIte anterior beberam e farrearam à vontade prosseguimento da viagem seria retardado, em virtude de um defeito na
era pelceptlvel na h- . ,
man a seguInte. Uma interminável cantoria caldeira do "1an", e só largariam à tarde, algumas horas depois.
42)
Sem tardança, dividiram-se em grupos e desceram a terra, lá se espingarda e corre para Itajaí!"
dispersando. As armas foram deixadas a bordo. Também o DI'. Hercílio estava muito agitado. Mas certamente não era
Havia diversos chefes, mas o líder era Hercílio Luz, embora o comando medo. Ele acompanhava na retaguarda, cheio de dúvidas, cabisbaixo, com
direto fosse do veterano da Guerra do Paraguai, Capitão Von Seckendorff, e passos apressados, de cá para lá e incumbiu o capitão Von Seckendorff de pôr
sob a chefia do apelidado "Tenente Coronel" Francisco da Cunha Silveira em prática a organização estratégica, o que ele executou com a competência.
alguns desembarcaram, logo na chegada, e enviaram mensageiros a Tijucas segurança e a calma que lhe eram peculiares.
para de lá despacharem telegramas. Sem demora, lá estava uma coluna de homens em prontidão, com as
Nisto regressou um mensageiro trazendo aos blumenauenses a terrível armas apontadas, aguardando o momento azado de lanç~r, sobre os navios que
notícia: "Os inimigos esperam em mar alto e querem afundar-vos. " se aproximavam, uma saraivada de balas. <?s maIs ~edro~os foram removidos
para a retaguarda, certamente se sentIram mais coraJosos escudados pelos mais
Sucedeu-se, então, grande pânico: O corneteiro - pois também um desses valentes, e então se acalmaram.
havia na tropa, na pessoa do maestro da banda Karl Lingner _ deu o toque de
reunir aos que se achavam na praia, a fim de que buscassem suas armas a bordo. Enquanto isso, os navios se aproximavam. Eram ~equenos barc.os de
Protagonizaram enorme disputa por lugar durante o embarque nos botes. carga, chamados iates, em número de três, que se alInhavam em fIla e,
Afinal, conseguiram colocar alguma ordem na confusão formada: em cada passando ao largo do porto, rum aram novamente para o sul. Não se via vivalma
escaleI', ou bote, iriam somente dois homens até a bordo do "1an" buscar as no convés dos barcos e a sua passagem, dIante do porto, decorreu na mais
armas. completa calma e sepulcral silêncio. Aliás o silêncio foi tanto nas embarcações,
como em terra.
Parece que foi mesmo a tempo tomada a providência, pois mal
Quando o perigo passou, todos voltaram ao seu bom hun:or: até com
distribuiram as armas, quando ouviram os gritos de "esquadra inimiga à vista"!
crescente disposição. pois supunham que, nos barcos, os Il1lmlgos assustados
Realmente, naquele instante divisaram, provenientes do norte, as velas
enfunadas de algumas embarcações. tivessem se acovardado e temido medir forças com blumenauenses, pois do
contrário não passariam tão calados e ocultos, o que já podiam interpretar como
É difícil descrever o que aconteceu em seguida. Só mesmo tendo participado do uma pequena vitória. Mas pelo .lado do mar. o perigo continuava e o Conselho
episódio. Lá estava, por exemplo, um jovem encostado num rochedo - de Guerra resolveu pernoitar em Porto Belo e; no dia seguinte. prosseguir a
incorporara-se aos expedicionários, porque desta forma, e de maneira barata. marcha para Desterro. por te~a, via Tijucas. Depois que alguns garbosos
queria chegar a Desterro, para procurar emprego. Porém, durante o trajeto da subtenentes não ~u.deram del~ar de exercitar sua corporação e ensinar-lhes os
viagem, não deixou de gabar-se da sua valentia. E agora, lá jazia. encostado à segredos tatlC?S do exercito prussiano. postaram sentinelas em todos os cantos
pedra, as lágrimas escorrendo-lhe pela face e murmurava, com desespero na e esquInas, enquanto o resto da tropa descansava.
alma, um pouco de si para consigo e para um companheiro próximo: "Não, nunca
mais faço coisa igual!" Sobre outra pedra estava sentado um homem de meia Lamentavelmente, porém, os voluntários blumenauenses. que pouco
idade ao qual não faltou até então o ânimo. mas que agora falava alto, a bem dizer entendiam das coisas do mar, esqueceram-se de levar em conta a próxima maré
de si para si: "Afinal, o que queremos aqui?" E a sua voz se tornava chorosa: alta, e só se aperceberam quando as águas da preamar separaram os postos de
"Nós, pais de família, que temos em casa mulher e filhos, por que vamos nos sentinelas, isolando-os completamente, de form~ que um sargento, que fazia
expor deixando-nos matar à toa? Não, isso não é coisa que se faça". E ronda, ao atravessar uma ponte ~ue a _mare submergiu, tinha que fazê-Io com
aumentando a voz desafiadora: "Que os moços se metessem nisso, ainda se água pelo pescoço. A sltu~ça? de desconforto aumentava quando as guardas
compreende. Mas, a nós, deviam deixar fora disso". O pobre homem, diante do precisavam ser substitUI das, e o revezamento era impraticável, forçando as
perigo, havia perdido todo o entusiasmo e a coragem alardeada. primeiras a ficarem em
48 - Os legalista~reconheceram a imparcialidade do "Der Urwaldsbote" Como esse pseudo-tribunal se haveria com o processo, não é difícil de
porque, embora a folha na sua pa t d .I- . imaginar, mas no Rio não permitiram que chegassem a tanto. Por interferência
partidária - Ih'. r e re atona, nao se envolvesse nas questões
s, nao se e podia negar tendência faVorável aos federalistas. dos representantes de Santa Catarina, o Supremo Tribunal Federal avocou a
158 questão e determinou a transferência dos presos para o Rio, onde Ihes foi
concedido habeas corpus e libertados imediatamente.
A 8 de junho de 1893, os "mártires políticos" retomaram a Blumenau,
onde a população Ihes preparou festiva recepção. Lamentavelmente, à noite, no
Hotel Christian Schmidt, onde se realizava um grande baile, deu-se um
entrevero entre a polícia e populares, do qual saíram feridos o Oficial da
Polícia, alguns praças e seis civis. Enraivecidos, os soldados volveram ao
quartel, de lá retomando munidos de carabinas e, perfilados diante do salão,
dispararam, em sua direção, várias descargas. O tiroteio provocou imenso
pânico, e só por milagre não houve mortos nem feridos, embora as paredes do
hotel ficassem crivadas de perfurações dos projéteis. O governo de Machado
não puniu os soldados pelo bárbaro comportamento, nem sequer os removeu.
o Tenente Machado era um militar enérgico e brioso e estava longe de se
51)
50)
d ar-lhe o governo das mãos. Mas a ação não seria tão
Enquanto em Blumenau e demais regiões de Santa Catarina tais fatos preten esse .d
fácil como aquela a que submeteram Lau~oMüller. quan~o o govel na o~
se desenvolviam, a fervura política agravava-se em todo o Brasil, até que, no estava timidamente guarnecido pela poltcla da ~orça pu~hca. ~aquela ocasião
Rio Grande do Sul, uma fagulha incendiou os ânimos revolucionários. Rio não havia perigo iminente a temer, p?r~m Machado fOI, nesse sentido, mais
Grande foi um dos primeiros Estados que, com a queda de Deodoro, teve o prudente e elevou o efeti:o poltClal para 400 homens de . fantaria e J 50 de
seu governo substituído com o afastamento do governador eleito Dr. Júlio cavalaria. Não constltllla uma grande força, mas: em ~~do caso, esse
Prates de Castilhos, que em novembro de J 89 J teve que participar do mesmo contingente policial era suficiente para conter a ammosidade popular. Por esse
destino de Deodoro, mas a nova ordem não logrou consolidar-se. Os motivo. foi idealtzado novO plano dlstmto, log~
interventores substituíam-se seguidamente, até que em 17 de junho de 1892 o osto em execução. Naturalmente, antes, todos os c~rgos ocu~ados pOI
governador legal Dr. Júlio de Castilhos reassumiu o governo, nele se Pfederalistas foram substituídos por legalistas, e tambem encontl ou-se um . - f
mantendo com mão de ferro. Não pôde, porém, evitar que nas regiões das d 'al em Des
oficial legalista para exercer o comando da guarmçao e el, -
coxilhas os oposicionistas - à sua frente Silva Tavares - se reunissem e,
formando batalhões, com tropas bem armadas, se levantassem em terra.
pé-de-guerra contra a sua autoridade. O ímpeto da revolução, pelo grande No mês dejulho chegou de improviso, a Blumenau, o Ten~nte~Co~
vulto com que se formou, desde logo provocou enorme apreensão, e como o ronel Camisão, acompanhado de alguns soldados, a ~Im de Ol~anlZ~I.'
Estado do Rio Grande não estivesse em condições de sozinho debelá-Ia, 01' ordem do Governo Federal. um batalhão de. vol,untanos qu~ s~gullla p R'o
Grande e d'lria combate aos revoluclonanos. Antenol mente, para o I ' . _ .... .
tendo ainda a instigá-Ia a vizinha República do Uruguai. o Governo Federal outro oficial veio com o mesmo intlllto, m~s nao conseguIu ~I r~glment'~1
foi em seu auxílio, enviando tropas sob o comando do coronel Salgado. Mas voluntário algum, pois, para lutar no conflito contra ~s guen Ilhas no Su , os
esse coronel. que não possuía muita noção do que fosse ordem e disciplina, blumenauenses não <;e sentiam absolutamente dispostos. O mes~lo resultado
ao invés de combater o inimigo, a ele aderiu, assumindo o comando como colheria o Tenente Camisão se não sou?essem. com mu!ta antecipação. que o
chefe das forças revolucionárias. Esse fato, evidentemente, impulsionou objetivo do batalhão seria outro. E certo que. tamben~ desta vez. o povo em
ainda mais o entusiasmo dos revoltosos, e o caudilho Gomercindo Saraiva, geral não se entusiasmou ~m en~ergar a. far~,~
natural do Uruguai, com seus irmãos Cesário e Aparício vieram, com . T be'm n-ao haveri'\ necessIdade de tanta genh:. de SOl te ql t:
apreciável número de rebelados. engrossar as tropas sediciosas, que Imu t1cor. am' . .' d'
bastaram os 160 voluntários que se apresentaram. na sua malol Ia d
conquistaram várias vitórias em combates com os legalistas. A situação melhor sociedade, para completar a obra.
destes piorava a cada dia. O Marechal Presidente, porém, estava a par das Quando os voluntários estavam suficientemente treinados e prontos a
circunstâncias e depressa organizou grandes contingentes de tropas para marchar para Desterro. o partido legalista fez eclodlr a re~olta em 14 de julho.
enfrentar os revoltosos. Além disso, foram tomadas outras providências,
Em todos os municípios onde o partIdo era fOI temente representado. os
como a criação de batalhões de fronteira entre Santa Catarina e Rio Grande,
funcionários do Tenente Machado foram expurgad~s.e
com o propósito de evitar que os revoltosos invadissem o território
roclamado o "Restabelecimento da legalidade'.'. ~lumenau, sem dU\'I~a.
barriga-verde.
estava novamente à crista do movimento e fOI ate proclamada Ca~ltal
As relações entre o Tenente Machado e o Marechal Floriano
.,' d Estado Sobre o que aconteceu naquele dIa. I epol ta o
tornavam-se tensas e sempre mais críticas, dizendo-se por isso que Machado rovlsona o.
P"Blumenauer . .
Zeitung". de 19 de julho de 1893, o segutllte:
estava em contato com os revolucionários do Sul para, com estes, enfrentar
"EII/ rel/llic1o solelle do CftIlW/'{I MI/Ilicipal, a 22 (!e julho de '893~
Floriano, o que ele desmentia categoricamente. Finalmente as divergências
entre os dois tomaram-se tais, que Floriano não encontrou melhor solução
. .
, e I/a pre.I'I!Ilç'a de f? /'{lI/( e lI/a.\.la pOpl/ {//, o
fi' i o DI'. HerCl110 Pedro da LI/~I
I'
para aniquilá-Io, que dar a mão aos legalistas. Primeiramente, Machado foi imc!all/ado C()\'~l'IIador do Esrado e ao mesmo rempo emJ!ossa(!o pela
processado pelo Juiz Federal com fundamento em arbitrariedades praticadas, l , 'a O DI' PaI/Ia Ramos, em 'ol1go (ISCUrso,. e.\po.1 . '. os 1/10111'0\ (a
.
sendo pronunciado e suspenso de suas funções. Isso, entretanto, pouco
,
c allWI . . ."
revolução e comullicOI/ a adesão de rodos os 11ll(/l/CI~~OS, (e 50/.
, 're G71/e °.
adiantou, pois o primeiro Vice-Presidente, Eliseu Guilherme da ~ilva, ,
.. O D' HerCl110 Lu- em leguJ( a
assumiu o governo e ele. como era notório, rezava pela mesma cartilha de movimellto J'ri se cOllsider(/\'a 1'1101'10.1'0. /. ~:
. t Ilbém erpllc{/\'a os
Machado, talvez até com mais energia. e- uma !iwc!amaçcio ao po\'o caf{/rlllel1Se, em que ai .
f .~ - di' 'cio de Blwllellau
Havia, pois, necessidade de organizar um "putsch" (golpe), se IIlOtil'OS e os objetil'os da revoluç'ao e ecretou a e el aç
a Capiral Prol';sôria do Estado.
Todas as ocorrênciasforam comunicadas por telégrafo para Desterro, e ser um bom cavaleiro, mas que era, também, um péssimo atirador. Por fim
lá uma comissc7o se dirigiu a Palácio aconselhando o Vice-Presidente em desistiu do intento e, com a sua gente e os cavalosferidos, abandonou o campo
exercício, Eliseu Guilherme da Silva, a resignar ao GOI'emo em virtude da de batalha.
exigência da maioria dos municípios, Mas Eliseu respondeu que toda a Integravam o contingente da tropa policial aproximadamente duzellfos
revoluçc7o nc70 passava de uma brincadeira de crianças e que ele em quatro praças, aos quais se opunham, defendendo a legalidade, minguados
dias dominaria a situaçc7o. " blumenauenses que combateram - a maioria armados de frágeis "pica-paus"
Eliseu pretendeu dominar primeiramente a rebelada e irriquieta de curto alcance, que por isso nem chegaram a entrar em atividade. A polícia.
Blu~enau e fez marchar contr.a ela a sua polícia, para que subjugassem, elllre a qual se encontrava o deputado blumenauense Elesbc70 Pinto da Lu::.,
punindo e humilhando, a CapItal Provisória. tão logo estivesse desgarnecl~a do tel'e dois mortos, nove feridos mais gravemente e uns vinte receberam
batalhão de voluntários que se movimentava rumo a Desterro. Supos que a ação ferimentos leves. O Cabo de Cavalaria, também incluído nos gravemellfe
seria de facílimo desempenho _ na ausência do Batalhão dos revolucionários - feridos, teve seu cavalo morto com um balaço. Os blumenauenses apreenderam
enganou-se. nOve carabinas "comblain ", inúmeras baionetas, muita munição e fizeram um
prisioneiro. Não tiveram um único ferido sequer.
Em Blumenau logo se aperceberam do perigo que corriam, e, quando o
batalhão de voluntários deixou a cidade. jovens e velhos se reunlra~ para Deve-se agradecer, com reconhecimento, a lembrança de todos aqueles
defendê-Ia, cabendo salientar que mesmo os próprios antagOnistas. os alemães que, defendendo a sua cidade, sacrificaram-se na medida do possível, levando
partidários do Tenente Machado também contribuíram, pois sabiam muito bem ao "jront" tanto "munição de boca" (comida e bebida) como de guerra, e o
que não estariam livre~ das conseqüências retaliatórias do porvir, caso a tropa ::.elo com que 1/0.1' trataram e que por qualquer forma concorreram para a
policial conseguisse adentrar Blumenau, No final da Vorstadt. perto da segurança e persistência da defesa. Agradecimentos a todos aqueles que com
propriedade Radke, entre a estrada e o rio foi levantada uma trincheira de sua ajuda, nessa oportunidade, conquistaram tão grande benemerência."
madeira, um posto de guarda avançado e aguardou-se o que estava por A vitória dos blumenauenses nessa "batalha" de meia-hora - pois maior
acontecer. não foi sua duração - foi absoluta e as tropas da polícia foram tomadas de tal
E a tragédia ocorreu. mas, felizmente, favorecendo Blulllenau, O pânico, que empreenderam descontrolada fuga e desesperadamente jogavam
"Blumenauer Zeitung", de 29 de julho de 1893. consigna a respeito: fora as armas, desertando em massa. Cautel~samente em Blumenau,
, "Pelas 3 horas da tarde do dia 28 de julho, o nosso posto a\'(/IIçado IÇ:!U a permaneceu-se ainda algum tempo de sobreaVISo, pois não tinham certeza se a
bandeira branca. o sinal cOIII'encionado para {/\'isar a aproximaçao da Força polícia tentaria uma segunda investida. E só depois de baterem e vasculharem
Policial, Depois de mais ou menos uma hora, a tropa (a mfantar/{{ era toda a redondeza, nada encontrando,
N.R.27 foi que todos regressaram em paz aos seus ares.
empurrada à !,orça. pela c{/l'alaria) encontr{/\'a-se à altu~a (~a Ponte do I
WlochN.R._6 e, quando est{/\'a a 1II1S 400 passos de d~st~ncl(l do. nosso
pessoal. a il~fantaria abriu fogo que, apesar da {!Istanc/{{, fOI respondido de
nossa parte. Depois de I'iolenta /i'::.ilaria, parte da iJ~fan(({ria tentou nos
desalojar do morro, mas l/In d~)s nossos jlanco~ atacou com tanto l'igor que, Concomitantemente, a "Guarda Cívica", como passou a chamar-se o
depois de uma rápida troca de tiros, o Inlllngo pôs-se emfuga desabalada. batalhão de voluntários, chegava a Desterro e lá se desincumbia da sua missão
Apenas o comandante da c(/l'alaria tentou ainda reagir, determinando uma secreta. Para na~ar esses ~contec.imentos, co~ a ~~Iavra, desta vez, o próprio
carga de tiros de carabinas, c~m a qual e.lj!eral'a nos afugen/ar, Os seus Vice-PreSidente Ehseu GUIlherme da SIlva :
esforços, en/re/an/o, foram vaos. Nenhullla das balas di,ljJaradas pela polícia, "Enquallfo as forças policiais marchavam para Blumenall, os chefes
que foram ('alculadas em nLÍmero superior a mil, atingiram nossa trincheira. e relloltosos Hercílio Pedro da Luz, Victorino de Paula Ramos e
0.1' brados de nossa parte demonstra ram ao com{//Idante dos atacantes que ele
poderia
N.R.27) O Autor integrou o "Grupo de Resislência" dos blumenauenses.
49 - Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa em 7 de agosto de 1893.
N',R.26) Ponle do Wloch - atualmente. ponte situada no final da Rua ltajaí e IniCIO da RodOVIa
Jorge Lacerda. sobre o Ribeirão das Cabras. na altura da'Rua Pedro Kraus'i Senior.
52)
Dr. José Bonifácio da Cunha, depois de terem organiz.ado o batalhão dos ditos mesmo tempo, sofreu dois gravesferimentos o prezado cidadâo João da
"cívicos alemães ", a sua frente e sob o comando do Teneme Camisão, deixaram Fonseca Póvoas, e ainda no mesmo instante caía no saguão do palácio,
Blumenau, em marcha para Porto Belo. Lá embarcaram no vapor "Itapemirim" gravemente ferido, o cidadâo Adolpho Maya. O guarda po/~cial d~ Palácio,
com destino a esra capita!. Os citados "Guardas Cívicos ", em nlÍmero inferior José Gomes, que se encontrava na rua, ao lado do predlo, fOI assassinado com
a 130, armados com carabinas Comblain, fizeram a sua ellfrada nesta capital 11111 tiro no peito. Os doutores Cordeiro Júnior e Paula Freiras, médicos
em trajes civis, em ordem unida, tendo à frente como guia o comandante do militares, que procuravam retomar ao quartel, foram traiçoeiramente
Distrito Militar, em pessoa, e foram alojados no quartel do 25!! Baralhão. all'ejados, diallfe do hotel onde se alojavam os alemães, por tiros procedellfes
Vm desses indil'Íduos, indagado sobre o objetivo da missão que os do seu interior. O Dr. Cordeiro JlÍnior caiu morro, pois a bala assassina
trazia à capital, declarou claramente que eles não se destina\'{/m ao serviço trespassou-lhe o coraçâo, enquanto o Dr. Paula Freitas foi {/fingido por um
militar nas fronteiras, como se diúa, mas sim para deporem o Governo do projétil na parte superior da coxa esquerda.
Estado e para providenciarem os imprescindÍl'eis "Vivas"! Concluída a tragédia, compareceram a Palácio dois oficiais do
Logo em seguida, recebi aviso de que, na mesma noite, dar-se-ia o comando do distrito, por intermédio dos quais o Comandante Serra Martins
ataque ao Palácio do Governo. pelo que resolvi nele pernoitar jUlltamente com mandm'a-me dizer que se responsabilizaria pela mW/l/tenção da ordem. Ao
amigos que se apresentaram voluntariamente para me defenderem. mesmo tempo o Capitâo- Tenente MOllI'âo dos Samos. enérgico e operoso
capitão dos portos, me transmitiu idêntica m~nsagem do comandante militar
FaltGl'alIl, entretallfo. as necessárias encenações, que se realizaram a
do distrito, com o qual entrara em entendllllentos. Eu aceitei o oferecimento e
30 de julho.
passei, confiantemente, ao Comandante Serra Martim a guarda das
Nesse dia, desfilaram em parada, pelas ruas da capital, algumas tropas, repartições públicas.
na retaguarda das quais peifilavam os "cívicos" de BIl/Illenau. Dessa
aparatosa exibição participavam também dois canheJes Krupp, pertencentes Ellfretanto - e é com grande pesar que o digo - poucas horas depois
àfortaleza de Sallf' Anna e que depois foram transportados e mOlltados na recebi a notícia de que o Tesouro do Estado, assim como a Câmara
praçafronteira a Palácio, atroando nos ares com os seus ribombos. Municipal.foram tomados pelos "cívicos" e populares. Permaneci, durante
todo o dia e o resto da noite de 31, em Palácio, sem que os "valentes" outores
Na noite do mesmo dia - conforme fui informado por um Gl'iso da covarde proez.a tivessem a coragem de se dirigir a mim ou me IIwndassem
confidencial do próprio quartel - a uma hora da madrugada, deveria ter início
qualquer illtimaçâo.
o {/faque.
Como. porém, eunâo desejasse sujeitar os meus amigos a IIInllOvo
Firme no meu posto e tendo ao meu lado o I'alente Tenente ManDeI banho (/e sallgue, com o risco de algum ataque traiçoeiro pela retaguarda, na
Joaquim Machado, digno Presidente do Estado que, me I'endo em perigo de noite seguinte, deixei Palácio às nove horas ... "
vida, Il(io quis me aballdonar, bem como o presidente da Câmara Municipal,
Germano Wendhausen. e respeitáveis cidadâos e moços do comércio, Seria muito exaustivo transcrever, na íntegra, o relatório de Eliseu,
permanecemos unidos aguardando o {/faque. máxime quando ele, insuflado pelos pérfidos inimigos dos blumenauenses, não
podia ser responsabilizado pela parcialidade das in~ormações. Percebe-se, logo
Às duas horas da madrugada começou afuzilaria contra o Palácio do no início, que o relato não é totalmente vendlco.
Governo. A esse {/fo de vandalismo não precedeu nenhum aviso ou intimaçâo,
Conforme suas assertiv.as, diz Eliseu que as tropas policiais foram
ma citados elementos. E como esses escaparam, dIrIgiram-se então até a entrada da
nda cidade para o reconhecimento das barricadas. Ele nega que suas tropas, muito ao
das contrário do que era de seu pleno conhecimento, foram mandadas a Blumenau
a com outros obJetiVOs. Omite também que a força policial foi tão facilmente posta
Blu e~ debanda~a e pode-se muito bem imaginar que nada de bom dela aquI se
me podena esperar, pois. no percurso do caminho, uma súcia de gentalha a e.la se
nau incorporou. e no trajeto já cometiam toda sorte de saques e arbltraneda-
.
so
me
nte
co
mo
fito
de
pre
nde
r os
che
fes
rev
ol-
tos
os e
que
elas
pret
end
iam
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des. Certamente não foi mais do que uma tentativa de justificar a fuga desabalada da Janeiro, onde Floriano concedeu-lhe um cargo de destaque e o Governo de
sua polícia que levou Eliseu a afirmar tê-Ia mandado a Blumenau. numa simples Desterro, num primeiro momento, deixou os blumenauenses em paz e foi até além:
missão de "reconhecimento". nomeou um comissário de polícia imparcial, na pessoa de Phillip Doerk.
Antes de Eliseu deixar Palácio na noite de 3 de julho. dirigiu ao comandante Mas quando se realizou a assembléia do Congresso Estadual, em agosto,
do distrito militar, Coronel Serra Martins. um comunicado em que lhe transferia a verificou-se com que "espécie" de boa vontade Blumenau era tratada. A Vila de
responsabilidade pela manutenção da ordem, esclarecendo que não resignaria à Gaspar foi desmembrada e anexada a Itajaí, e Indaial da mesma maneira excluída
presidência do Estado, enquanto o Governo Federal não decidisse a situação. O para ser elevada a um município autônomo. Com o fracionamento. a odiada
coronel assumiu o encargo. pois, como se afirmava no documento supra, "a Blumenau se tornou um município bem pequeno. Mas Blumenau ainda podia dar-se
situaç'âo no Estado era anormal e a ordem pública e.l·tm·a seriamente por satisfeita, pela moderação das medidas punitivas, haja vista que, no Congresso,
ameaç'ada. " formara-se um grande partido - que contava dentre suas fileiras representativo
Na continuidade de seu relato. ainda expressa Eliseu: número de obstinados germanófobos, como Leal e Sales Brasil. Desejavam esses
ver Blumenau riscada do mapa e o município retalhado, formando do seu território
"Pode-se muito bem imaginar o tamanho da minha Slll'flresa qual/do,
dois municípios, um em Indaial e o outro com sede na povoação de Gaspar.
ao regressar, 1/0 dia seguinte. a Palácio, encol/trei-o o(,lIj}(ulo por estranhos
armados. (' o famoso rebelde Hercílio PedI'() da Lu; nele instalado ". Pouco depois dos acontecimentos sediciosos de Desterro, Eliseu viajou para
o Rio de Janeiro, transferindo o governo ao 2º Vice-Presidente, Christovão Nunes
Realmente, durante a noite. os blumenauenses adentraram a Palácio e o DI'.
Pires. que logo foi alvo da atenção dos partidos, quando vetou várias proposições do
Hercílio Luz se apossou do governo.
Congresso, como a mudança da Capital para Lages e a elevação de Indaial a
Eliseu. porém, não descansou. Telegrafou novamente ao Presidente da República e Município. Evidentemente os seus vetos tiveram pouca eficácia, pois o Congresso
*
solicitou auxílio. com fundamento no Artigo 6. 3º da Constituição Federal. O auxílio não os homologou e, depois de nova discussão, os rejeitou e promulgou as leis.
federal, considerando-se os antel:edentes acima narrados. deveria ser denegado e, por A.instalação do novo município de Indaial, foi efetuada com muita pressa.
incrível que pareç·a. foi-lhe prontamente concedido. Hercílio teve que abandonar Não se designou data para a eleição da Câmara, mas nomeou-se, de pronto, uma
Palácio.juntamente com os blumenauenses. Intendência, que tomou a si a administração da nova unidade. Essa Intendência era
. Até hoje não se sabe exatamente por que Floriano. depois de ter IIlsuflado todo o composta pelos cidadãos Leopold Hoschl, August Keunecke. Friedrich von Ockel,
movimento e de ter feito com que as for~'as federais representassem. por muito tempo, Kleine, Reuter, Heidorn e Struwe.
uma comédia. retrocedeu tão repentinamente. Preponderante deveria ser sua motivação
porque. apesar de toda a ação de rebeldia aos quadros institucionais vigentes no Estado,
protagonizada no episódio pelos blumenauenses e legalistas. ele cOIHinuou a demonstrar
lealdade. Pode-se deduzir. como prova dessa qualificação, sua interferência na del:isão de
Nesse entretempo, a Revolução no Rio Grande do Sul crescia de intensidade
o batalhão de blumenauenses não ter seguido para o Rio Grande, como Eliseu e os seus
e não se lhe previa fim para breve. Os federalistas. como os revolucionários eram
partidários muito desejavam. Mas foi. "por castigo" de conduta. dissolvido e os seus
chamados, procuravam fugir o mais possível aos combates em campo aberto, a fim
integrantes mandados para casa. Além disso. foi de imediato decretada a anistia a todos os
envolvidos no mO\'imento, obstando que a Ira dos federalistas e seu desejo de vingança os de poupar os seus homens, ou. talvez, para cansar as tropas governistas. Na Capital
alcançassem. apenando-os. Federal, proliferavam os rumores de tentativas de sublevação que por várias vezes o
Certo tempo decorreu ate que os partidos litigantes se reconl:IJlassem e, objetivando governo teria sufocado. Emjulho, o Almirante Wandenkolk intentou revoltar a
esse desiderato, várias medidas foram tomadas. O DI'. Hercílio Pedro da Luz foi ao Rio de esquadra contra Floriano. Foi mal sucedido e teve que pagar caro pelo tentame,
54)
56)
55)
N.R.32) Elesbão Pinto da Luz foi sumariamente fuzilado na fortaleza Santa Cruz
(Anhatomirim). a mando do governo do Coronel Antônio Moreira Cesar, delegado do N.R.33) O AQUIDABÃ. torpedeado em 16/04/1894, foi seriamente avariado e
Governo Federal. chegado a Desterro em 19/0~/l89~. com assunção ao poder em 221O~/1 posteriormente recuperado. No séc. XX explodiu no cais do arsenal da Marinha em Cabo
Rl)~. Frio.
o emissário do Presidente Prudente de Morais, General Galvão. e o chefe como foi eleita de acordo
federalista "general" loca Tavares, estabelecendo a definitiva pacificação do
Rio Grande.
N.R.34) Coronel Moreira Cesar
O cavalheiresco e valente chefe federalista, Gomercindo Saraiva, já tombou na Campanha de Canudos
tombara a 10 de agosto de 1894. (Bahia) contra Antonio
Con,elhciro.
o MUNICÍPIO DE
BLUMENAU EA
HISTÓRIA DE SEU
DESENVOLVIMENTO
JOSÉDEEKE
Terceira Parte
1917
APÓS A REVOLUÇÃO a situação difícil, recebeu um adiantamento de 200 contos.
O empréstimo de 2000 contos desde logo foi considerado uma doação, a
fundo perdido, do Governo Federal, pois neste sentido fizeram
No dia 8 de setembro realizaram-se as eleições para a escolha dos várias promessas. Bem antes, quando a Revolução ainda grassava, falavam
deputados ao Congresso Estadual, do Governador e Vice-Governador. Foram numa recompensa a Blumenau em reconhecimento pela dedicação à causa, e
eleitos, o Dr. Hercílio Pedro da Luz para Governador e ó Dr. Polydoro Olavo de em todas as classes sociais havia convicção de que a cidade seria
Santiago para Vice-Governador. O Governador eleito assumiu o cargo em 28 generosamente gratificada por sua firme atitude legalista. Estavam prometidas
de setembro de 1894. melhorias como a rodovia para o planalto, outras estradas de ligação, uma ponte
Por Blumenau se elegeram deputados es~aduais os senhores: Dr. sobre o Itajaí e uma balsa a vapor em Indaial, além de muitos outros
José Bonifácio da Cunha, Luiz Abry e Manoel dos Santos Lostada, enquanto melhoramentos. Estas eram as razões por que nessa época, em Blumenau,
que o Dr. Paula Ramos foi eleito Deputado ao Congresso Nacional. aguardavam ansiosamente o início das obras anunciadas. Como a verba federal
Uma das primeiras providências do novo Congresso e Governo foi a continuasse pendente de liberação, neste ínterim, o Governador resolveu criar,
mudança de nome da capital Desterro, para "Florianópolis". A mudança foi em maio de 1895, uma diretoria de obras públicas e de transporte, cujos
uma homenagem ao Marechal Floriano, mas demorou muito até que a nova membros iniciaram os estudos preliminares para viabilizar as novas construções
denominação vingasse e até bem pouco tempo, freqüentemente, usava-se a planejadas e os melhoramentos. Em Blumenau, essa planificação coube ao
antiga denominação "Desterro". engenheiro Heinrich Krohberger, que foi nomeado "engenheiro ajudante",
qualificação que correspondia à de "diretor substituto".
O Dr. Cunha foi eleito o primeiro juiz de paz de Blumenau e, desde que
assumiu o cargo. nada cobrava pela realização dos casamentos civis, e os outros Como não era só em Blumenau que estavam realizando tais estudos
juízes de paz dos diversos distritos, secundando-o, adotaram idêntico preliminares, mas também em outras regiões - onde durante a Revolução nunca
procedimento. A Câmara Municipal tomou gratuito este ato civil e estabeleceu manifestaram opiniões divergentes às dos legalistas - começaram a suspeitar da
uma gratificação para os escrivães a fim de que estes não onerassem os destinação da dotação e do valor que prometeram atribuir a Blumenau. O chefe
contratos nupciais. O escrivão de Blumenau recebia anualmente Rs 600$000, o político Dr. Cunha insistiu, junto ao Dr. Hercílio, a fim de que fizesse promessa
de Indaial Rs 400$000 e o de Gaspar Rs 200$000. Estes valores vigoraram por assecuratória mais concreta relativa à quantia destinada a Blumenau. O
algum tempo. durante o qual, em Blumenau, os casamentos civis eram Congresso estranhamente não mencionava Blumenau entre os beneficiários dos
realizados graciosamente. Não demorou para modificarem tal sistema. Os 2000 contos. Mas o Dr. Hercílio não se comprometeu em garantir qualquer
escrivães que taxavam os contratos nupciais auferiam renda muito superior com detalhe e quando finalmente, em novembro de 1895, foi homologada, em
a cobrança direta dos emolumentos. comparativamente aos valores fixos definitivo, a concessão do empréstimo pela União, ele imediatamente decretou
estipulados pela Câmara, pois não concordavam que tal situação perdurasse. a partilha dos recursos financeiros, bem diversamente dos compromissos
anteriormente assumidos e em desacordo com as promessas feitas, cujas
dotações foram atribuídas às destinações seguintes:
Blumenau também foi, por algum tempo. uma Praça Militar, quando era
Ministro da Guerra o Marechal Hermes da Fonseca, que estruturou grande
A tão almejada ferrovia, a "Ferrovia Santa Catarina", apesar de sua organização militar, transferindo para cá, em maio de 1910, o 55º Batalhão de
sonora denominação. só foi implantada em pequeno trecho, da cidade de Caçadores.
Blumenau até a Hansa - cerca de 69 km. Sua construção foi projetada até Os blumenauenses prepararam ao batalhão uma festiva recepção e. por
Curitibanos e receberia na Hansa um ramal até o Rio Negro. Como a Cia. ocasião da primeira convocação dos voluntários para manobras, 20 jovens de
Ferroviária possuísse unicamente o direito da concessão estadual sem outros Blumenau fizeram sua inscrição. Mesmo considerando que o Batalhão fosse
subsídios ou garantia de juros, e nenhuma dotação recebesse além de pequena integrado de elementos selecionados, logo ocorreram desentendimentos entre o
ajuda do município de Blumenau, desinteressou-se, sob perspectivas povo e os soldados, que culminaram num violento ataque destes a uma
remuneratórias tão adversas, pela continuidade da construção. sociedade de Blumenau, onde se realizava um baile. Os oficiais e também os
suboficiais em sua maioria eram muito corretos, mas como não dispunham de
Felizmente foi possível persuadir o Governo Federal - sob a presidência
quartel, dificilmente podiam dominar a soldadesca. Por causa desse incidente,
do Marechal Hermes da Fonseca - a pactuar contrato, pelo qual a ferrovia foi
chegou-se ao total desentendimento entre civis e militares, e a situação
adquirida pelo Governo, ao mesmo tempo que era arrendada à Companhia
tornou-se insustentável. Foi quando no Rio eclodiu o motim da Marinha,
Ferroviária de Santa Catarina. Além disso, a Cia. foi aut~rizada a.construir a
ocasião em que o batalhão foi deslocado para lá e desde então não retornou.
linha férrea de Blumenau até o porto de Itajaí e tambem em dIreção do oeste, até
a fronteira com a Argentina. (* 18)
Ihada, pois, quando da primeira distribuição dos lotes, a numeração obedecia a
o SISTEMA DE DEMARCAÇÃO uma seqüência ordenada, e após surgiu uma numeração confusa, como por
DE TERRAS E A Q Q Q
exemplo: lote n 29-30A; lote n 30B, 31, 32; lote n 33B, 34, 35A, etc.
DISTRIBUIÇÃO DE LOTES NA Mais tarde foi adotada uma medida uniforme de comprimento e área,
COLÔNIA BLUMENAU tanto nos lotes coloniais em Blumenau, como em outras Colônias do Govern052,
que era: 100 braças de frente com 500 braças de profundidade, o que
corresponde a uma área de 100 morgen brasileiros. A adoção destas medidas foi
Uma das primeiras necessidades numa nova Colônia é sempre o conservada por muitos anos.
levantamento topográfico dos rios e riachos, a abertura de picadas e a Paulatinamente foram adotando o sistema métrico para aferição de pesos
demarcação dos lotes de terra a serem explorados. Inicialmente, em Blumenau,
e medidas e os novos padrões passaram a ser aplicados aos lotes das Colônias.
o trabalho de demarcação não teve razão de ser, já que Dr. Blumenau, nos
Assim, nos anos oitentas, a área para um lote colonial era, em média,
primeiros dois anos, visava, primordialmente, à instalação de grandes pastagens
estabelecida em 30 ha e suas linhas extremas geralmente mediam 275m de
e plantações. Posteriormente foi procedida a demarcação da cidade entre o
frente por I 100m de fundo. Porém, para facilitar as indicações da área e a fim
Morro do Aipim e a colina, onde mais tarde foi construída a Igreja Católica, e
de calcular o preço e a quantid!de de metros quadrados, mencionavam a
finalmente foram demarcados os lotes no Garcia.
superfície em braças quadradas, pois, apesar de adotarem oficialmente o
Naquele tempo não havia uma regra para definir o tamanho dos lotes,
sistema métrico, os preços eram determinados em razão das braças quadradas.
mas a conformação topográfica obrigou o colonizador, desde o princípio, a
Parece que os funcionários relacionados ao sistema de medição tinham muita
adotar o sistema de lotes, ainda hoje em vigência. Como o terreno é
dificuldade em se abster da utilização das velhas medidas. Mesmo depois de
montanhoso, em sua maior parte, e só apresenta relativas faixas planas nas
não ser mais permitida a indicação antiga nos documentos de terras,
margens dos rios e riachos, e tais planuras se prestavam sobremaneira para
implantar estradas e propriedades, essa peculiaridade foi condicionante desde o indiretamente ainda calculavam pelo sistema antigo. Vejamos, por exemplo,
início e a determinante da conformação dos lotes com a testada estreita para a como os preços eram estabelecidos em equivalência: para cálculo da superfície
estrada, principalmente junto ao vale do rio, e os fundos tão extensos que se sempre se referiam a 4,84 m2, que correspondiam exatamente a uma braça
confrontavam, nas tiefenN.R.38 com lotes de outros vales. Mediante tal prática, quadrada; e o preço da medição tinha por referência 2,20 m que correspondiam
se projetavam muitos lotes nos vales ou, contrariamente, a área montanhosa a uma braça corrida.
teria permanecido por muito tempo sem interessados na aquisição, e portanto Nas colonizações federais este método complicado foi definitivamente
sem demarcação. abandonado em todas as demarcações e, em 1890, substituído pelo sistema
A medida oficial naquela época ainda era a braça (2,20 m), por sua vez utilizado pela Companhia Brasileira Torrens. Esta companhia deveria demarcar
dividida em dez palmos (a 0,22 m). Como medida de área era utilizado o os lotes com 250 m de frente e em média com 1000m de fundo, onde se pode
morgen (geira) que abrangia 500 braças quadradas, e era a preferida. O tamanho verificar que o Governo Federal quase retomou a antiga medida de área de 100
dos lotes, que Dr. Blumenau inicialmente distribuíra, tinha como padrão uma morgen.
medida bem diferente. Parece, no entanto, que as frentes, pelo menos desde o Entretanto, o Governo de Santa Catarina continuou adotando a área de 30
início, correspondiam a uma certa medida, e era estabelecida de acordo com a ha para lote médio até os presentes dias, e foi abandonado, em definitivo, o
distância do centro da cidade, 20,50 ou 100 braças. Por ocasião da venda, os antigo sistema de medidas de braças, quando da introdução da Lei Torrens, em
terrenos eram parcelados, e muitas vezes estas medidas não eram observadas. 1897.
Assim, o plano de demarcação original e a sua simetria praticamente se Cumpre esclarecer que todas essas observações se referem às glebas
perdiam. Estas mudanças de demarcação se observavam na Itoupava, no Testo
oficiais, pois nas particularés ainda hoje, ao se estabel~cere~ preços de compra
até Pomerode, no Garcia, no Encano e no grande Vale do Itajaí acima até o
e venda, medições, etc., ainda preferem refenr-se as
Warnow. Nestes lugares a numeração dos lotes foi, na maioria, embara-
braças e aos morgen: bem como. além destas, no resto do Brasil. ainda vigoram as N.R."O) Conras: Rineirão Cohras na allura da localidade de Mat~ldor-Lonlras, na
medidas em léguas. mi lhas, quadras. varas e dl\ados, para as de comprimento, e margem esquerda cln Rio ltaJaí-r\çu, 8ra\'0 cio Sul.
alqueires. tarefas. ete. como medidas de :.írea. De\'e-se salientar qUl' a Cia. nào era obrigada a medir exatamente desta forma,
mas os agrimensores utilizavam este sistema. pois facilitava seu trabalho e os cálculos
Quando anteriormente expusemos que naquelas priscas eras existiam
lhes davJm menos dores de cabe~'a. Em outros lugares, como nos vales, pertencentes a
determinadas regras para as medidas de área e lineares dos lotes na Colônia. tais normas
Joinville, no Rio da Luz e Rio Serro, ondc a Cia. entregou as medições ao Engenheiro
se referem somente a uma observação média. Além disso havia plena liberdade quanto à
Heinrich Krohberger. ela, foram procedidas pelo velho sistema blumenauensc.
forma de os agrimensores medirem as terras conforme pactuassem, e as modalidades
eleitas. não raras vezes. conflitavam entre si. Quando se analisa o mapa cadastral de Além do sistema de demarcação ora descrito, havia ainda a demarcação das
Blumenau. percebem-se principalmente três formas diversas de lotes. terras das concessionárias. Os lotes que o Governo mandava medir eram desti nJdos aos
i migrantes. Se um nacionJ! desejasse um lote, deveria reljuerer ao Governo e, depois de
A primeira, que apresel1lamos na. fil,;ura I ,~19-.l1.era a forma usual de medição
receber a autorização. de\cria providenciar a demarcação por sua conta. Geralmente
da época do DI'. Blumenau. em que sempre se obser. vava somente a medida de frente, e
eram e ainda são outorgada, as concessões somcnte para fracionamcnto em lotes com 30
a profundidade variava Illuito. Era resultado do esforço em permitir na cabeceira. no
ha, e, se 0 agrimensor pudesse, faria a medição da mesma forma que procedia com os
assim chamado "tra\'essão" frontal. a obtenção do maior número de lotes em dire~'ão reta
lotes para os imigrantes. Acresce que esta modalidade de mediç'ão geralmente
na linha principal para a frente do rio ou riacho. Tal pr:.ítica naturalmente implica\'a em
apresentava vantagens para os colonos, pois se alguém quisesse estabelecer sua
que os lotes fossem todos de áreas diferentes. no entanto, correspondian1 sempre. em
concessão ao "longo" do Vale. restanam transvers<llmente apenas 1ll01TO, para os
média. à área estipulada.
demais. Não obstante. hou\e exceções, ljuando outorgaram concessões maiores e
Um segundo sistema (fil,;. 2 - pago 192)foi empregado em fins dos anos oitentas executaram as mediçõe, de tal forma que pnl\ocaram desvantJgem para outros
pela comissão de Paula Ramos e consistia em medir todos os limites por igual. onde isso concessionários. Espcculação e prote~'ão político-partid::ína anda\am de mãos dadas.
fosse possível. A frente era de 275 m. as linhas de fundo igual à outra sua confrontante de
As demarcaçôes dos lotes destinados à instalaçãl) de imigrantcs terminaram. em
I 100 metros. Com isto ocorria que a linh,.l de caheceira era sempre desigual. pois de\'eria
definiti\o, em I ~96. Entrementes, a Cia. Colonizadora Hansdtica Ltda. com ,,,,de em
ter a direção fa7endo a testada com o rio. Desta maneira eram as medidas no E~c~~,~
Hamburgo, ,em qualquer demma. en~'etou com delerlllina~'ão ,: coloniza~'ão de suas
Alto, Warnow, Ziegenbach <Ribeirão do Bode), Neisse, Sarmento . Areias, etc. No
terras concessionadas no BIA'o do Norte do ltajaí. o Rio Hercílio, ondc foi fund<lda a
entanto mUitas destas medi~'ões foram modificadas com o tempo. j::í que em sua maioria
Hansa blumenauense. E se for considerada a "concessão" ~'()mo inteneniência
- principalmcnte no que se refere às linhas de fund() e de eaheceira - só existiam no papel
governamental. então, de cert<l forma. prosseguiu a coloniz,l~'ãl) pelo Glwerno,
e () ~ouco
que foi medido estava. na realidade. profundamente errado. .
O terceir() sistema !.fig.....l- pag 192)foi introduzido pela "Companhia
BrasileirJ Torrens". ljuando em 1890-91 mandaram demarcar as terr~~l,~()alto Itajaí.
Braçll do,Sul. em Lontras. no Matador e no Cobras . em 4(){) lotes ele colonla, Estes Os instrumentos de Illcdiç'ão utilizados eram, ha\ia longa data. as "bússu!as à
lotes. na frente para o rio. t,:m todos 250 m ele largur~i. a linha de cabeceira faz um distància,NR.11 e as COITentes medidoras de aço. O des\'io magnético da agulha era
deS\'io emlinha ret<l na dire~'ão da linha dl)S fundos e cstas últimas têm () comprimento determinado com exatidão e sempre considerado na localila~'ão das linhas provisórias.
respecti\'o, (fe maneira que a área de um lote tcm cxatamente 25 h,i. de modo que as dist;-lIlcias registradas nos li\TOS e mapas correspondiam sempre ao
exato azimulé. Vez por outra eram empregados instrumentos maissofisllcados, mas
como as mcdiç'ôes tinham que ser feitas rJpidamente e não ultrapassar os custos
fix.ados. sempre tornavam a se utilizar da hÚssDla. Os cspecia-
N.R.39j Sarmcnlo: localidade no RineiràD Sarmenlo. ao norte da :.llual \'il~l fIoura\'a,
em dire\'~io ao municípin de Massaranduna.
em outros locais, o que naturalmente não correspondia sempre aos desejos do
listas que hoje se preocupam em verificar estas medições, certamente, irão se
colono e causava b(lstante desentendimento e fadiga.
admirar como tudo foi executado com exatidão. Naturalmente também
Na divisão dos vales dos rios em lotes, por vezes eram reservados locais
encontrarã\) erros, mas estes dificilmente poderão ser debitados à deficiência
para comportar o núcleo urbano. Tais centros foram inicialmente idealizados
ou errados instrumentos, tendo sim, em maior parte, origem na falta de
para conter as moradias com os colonos, pois imaginava-se que as pessoas
escrúpulos do respectivo agrimensor ou de seus ajudantes.
viveriam agrupadas, como na Europa, em aldeias e de lá partiriam para a jornada
Justamente, nçste sentido, se pecou muito em Blumenau bem como em de trabalho em seus lotes coloniais. Os colonos, por sua vez, não quiseram.
todo o Brasil. Os motivos desses desacertos seguem adiante relatados. absolutamente, admitir tais condições, mesmo porque as localidades estavam
Agrimensores não diplomados, mesmo que possuíssem as capacidades tão mal situadas, que não se prestavam à finalidade a que se destinavam.
necessárias, não podiam proceder essas demarcações e remetiam do Rio ou de Destarte a reserva das áreas para instalações de núcleos urbanos passou a ser
outro lugar qualquer, os ditos especialistas. Alguns desses senhores eram simples cumprimento de formalidade, sem escolha adequada do sítio para futura
realmente competentes, mas não a maioria. Nem passava pela c~beça dessas instalação de cidades, pois sua localização era estabeleci da de acordo com
pessoas ir ao mato e lá trabalhar por meses a fio. Prefenam permaneçer em parecer do respectivo funcionário, que dirigia os trabalhos. Em diversas
Blumenau e levar uma boa vida, enquanto o trabalho que lhes t'ompetia era oportunidades naturalmente s6 por interesse político - tais lugares foram
entregue aos serviçais. Se ao menos tivessem incumbid\) desse trabalho os vendidos a particulares ou outorgados em concessão a correligionários políticos
antigos práticos nos serviços de floresta, e~tão os verdadeiros engenheiros e para fins de fracionamento ao público, tudo a preço irris6rio. Além dessas
agrimensores bem que podenam fIcar em çasa. Mas tal era impraticável, em impropriedades, esses sítios eram tão mal escolhidos que, em especial, faltavam
virtude da remuneração, pois para Llm ajudante fora estipulada somente a soma até as vias de comunicação, que colocariam os locais em posição destacada, e,
de Rs 2$000 e por este v'llor homens experientes e principalmente conscien- como era inevitável, a evolução de tais áreas foi pura ilusão. Em Blumenau
cios.os, não trabalhavam. Exemplificando, ocorria que um desses "engenheIros foram escolhidas cerca de 20 localidades para estabelecer cidades. mas
de salão", mediante uma embarcação, se fazia conduzir pelo rio até a região que atualmente somente cinco merecem destaque. Ao contrário do projetado, em
seria colonizada. Munido de uma bússola de bolso e sem mais preliminares outros locais surgiram núcleos urbanos como: na Itoupava Seca, em Rodeio,
determinava o plano de demarcação. Posteriormente os trabalhadores etc., sem a intervenção de planificação por parte da direção da Colônia.
demarcavam as frentes conforme o "plano" - naturalmente medindo tudo a olho
nu, e do mesmo modo nos trechos das linhas extremas. Por fim, o engenheiro
mandava confeccionar, por qualquer um, um bonito mapa da medição e sem
mais considerava cumprido e encerrado o seu tn1balho, mesmo porque já havia
recebido o dinheiro relativo às mediçõc:s. Felizmente tais procedimentos não
aconteceram tão. freqüentemente. e com relação a tais geômetras, em desagravo
aos agnmensores brasileiros, devemos supor que obtiveram seus diplomas de
qualquer forma fraudulenta. As medições assim procedidas foram todas
posteriormente revistas, como no Ribeirão Sarmento, na Vargem Gra~d: e
assim p()r diante. Foi lá que se percebeu com que tipo de exatldao. trabalhanlm.
Uma frente inteira não possuía um lote sequer, mas haVIa alguns Qom somente QUADRO SINÓTICO - representativo da composição dos imigrantes
a metade e outros ainda tinham até um quarto mais. Foi difícil satisfazer os blumenauenses. Lista referente aos anos de 1850 a 1897.
colonos que previamente pagaram o seu lo~e, bem coma outros que já tinham Compilada por DI'. Hugo Gensch através antigos relatórios e completada
liquidado seus compromissos de medIção por slJperfície, cuja área não com informações de noticiários e periódicos por JOSÉ DEEKE.
corresponderia à realidade. Como não houvessv outra alternativa, foi necessário
abandonar completamente alguns lot~s e indenizar os proprietários com terras
ANO 1850 1851 1852 1853 1854 1855 1856 1857 1858 1859 1860 1861 1862 1863 1864 1865 1866
ALEMÃES 17 08 110 28 139 34 289 198 77 29 91 520 I 570 I 168 95 I 180 158
ITALIANOS -- -- --
-- -- -- -- -- -- -- -- -- --I -- -- -- --
AUSTRÍACOS
-- -- -- -- 07 -- -- DI 04 -- -- -- 05 -- 02 I 08 --
-- -- -- -- -- -- -- -- -- I -- I -- --
RUSSOS -- -- I -- -- -- I
TIROLESES -- -- -- I -- -- -- I -- -- I -- -- -- 14 03 I -- I 11
, I -- --
POLONESES -- -- --
I
--
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- I -- I -- --
BELGAS -- -- I -- -- -- -- 05 -- -- DI I 12
-- -- -- -- -- --
SUECOS -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
-- -- -- --
HÚNGAROS -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- 06 -- --
BRASILEIROS -- -- -- -- --
-- -- -- -- I -- -- -- DI
-- -- -- --
INGLESES
-- -- -- I -- -- -- I -- I -- -- -- -- -- -- I -- -- I -- --
I I
I
FRANCESES -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
-- --
i I I --
-- -- -- --
HOLANDESES -- -- -- -- -- -- I -- -- -- ! -- -- 06 -- -- I I O .•
I -- --
IRLANDESES -- I -- -- i -- -- --I -- -- __ I -- -- -- i -- I -- I -- --
I -- I
I
LUXEMBURGUESES -- __ I -- -- -- --I -- I -- -- li I
07
-- I -- -- I
NORTE-AMERICANOS -- I -- I -- -- -- -- I -- -- -- ---- --
-- -- -- -- -- 04 --
--
I -- -- 07 17
I I 01
SUÍCOS -- I -- -- -- i -- -- -- i -- -- -- --
I I --
ESPANHÓIS -- i I
-- -- I
-- , --
-- -- ! -- -- -- -- -- -- ---- -- I -- -- I
DINAMARQUESES -- -- I
-- -- I -- -- -- -- -- DI I -- -- -- !
I
-- I -- -- I
GREGOS -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- I -- -- -- --
-- -- I
PORTUGUESES
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- I -- --
11 08 59 18 83 21 164 120 54 17 52 312 326
I I
HOMENS I I
86 79 I 108 8 .•
MULHERES 06 -- : 51 10 63 13 130 79 28 12 39 236 281 I
82 48 I 91 78 1
I
I
SOMA 17 08 110 28 146 3 .• 294 I 199 82 29 91 5 .• 8 607 168 127 199 162
ANO 1867 1868 1869 1870 1871 1872 1873 1874 1875 1876 1877 1878 1879 1880 1881 1882 1883
ALEMÃES 186 1370 980 32 23 185 412 328 315 277 180 335 319 387 147 I ? ~
ITALIANOS -- -- -- -- -- -- -- -- 27 240 68 438 106 42 01 ? ~
AUSTRÍACOS 07 23 01 -- - 07 12 33 06 16 45 33 12 08 -- -- --
RUSSOS
-- -- -- -- -- -- -- --
-- -- -- -- -- -- -- -- --
TIROLESES -- DI -- -- -- -- -- -- 768 540 62 68 18 14 -- -- --
POLONESES -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- 06 -- 02 -- -- --
BELGAS -- -- -- -- -- DI -- 02 -- --
-- -- -- -- -- -- --
SUECOS
-- DI 01 01 -- 15 -- -- -- -- -- -- -- --
-- -- --
HÚNGAROS
-- DI -- -- -- -- -- DI -- -- -- -- -- -- -- -- --
BRASILEIROS -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
INGLESES -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- 03 05 04 -- -- -- --
FRANCESES -- -- -- -- -- -- -- -- 02 -- -- 05 01 -- -- -- --
HOLANDESES
-- OS -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
-- I
IRLANDESES
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
-- -- -- -- I -- --
LUXEMBURGUESES
-- 03 -- -- --
-- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
NORTE-AMERICANOS 30 02 -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
SUÍCOS
-- -- -- -- -- -- DI
-- 07 04 12 DI -- 04 -- -- --
ESPANHÓIS
-- -- -- -- -- -- -- -- 02 DI -- -- -- -- 03 -- --
DINAMAROUESES
-- DI
-- -- -- -- DI -- -- -- -- -- -- -- -- -- --
GREGOS -- -- -- -- -- -- -- -- DI -- -- -- -- -- -- -- --
PORTUGUESES
-- -- -- -- -- -- -- --
-- -- -- -- -- -- -- -- --
HOMENS 129 747 512 20 II 116 213 182 638 594 205 476 252 240 89 -- --
MULHERES 94 660 470 13 12 91 213 180 491 484 165 417 '208 217 62 -- --
SOMA 223 1407 982 33 23 207 426 362 1129 1078 370 893 460 457 151 -- --
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relata em seu comunicado referente à questão do Jubileu, o Dr. Blumenau vendeu,
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convencionado e acordado entre as partes, e nenhum pretendente cobriu o lance feito
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pelos demais. Poucos dias antes, conforme Müller relatou por escrito, ele, mais seu
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irmão, haviam adquirido seus lotes por R$ 100$000 cada unidade. Infelizmente não
consta que tamanho possuíam, mas sem dúvida eram baratos.
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Quando o governo assumiu a Colônia, os preços das terras foram estipulados,
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custava Rs 150$000. Esse preço perdurou por longo tempo, até que em 1890 foi
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- ...., metro quadrado, e conseqüentemente um lote de 25 ha, portanto 100 morgen
prussianos, custava Rs 250$00053.
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Atualmente o governo estadual de Santa Catarina faz a entrega de terras
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concessionários arcam com encargos, assumindo os custos da medição que, via de
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documentos de terras54.
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As terras particulares do Dr. Blumenau eram vendidas a preços bem mais
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elevados, em virtude de se situarem próximas à cidade, o mesmo acontecendo com
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- as propriedades privadas, como por exemplo. com a Cia. Hanseática que vendia por
preço superior ao dobro do praticado pelo Estado.
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00 Mas nesse preço estão incluídas as despesas das medições, e o colono recebe
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a estrada construída, enquanto o governo não se compromete na execução de
melhorias e só constrói estradas gerais, que considera de interesse público.
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- - 53 - O limite do prazo para que o imigrante saldasse o pagamento de seu lote era
geralmente de cinco anos, mas havia os que deixavam transcorrer 30-40 anos antes de
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liquidar a conta. Sob o Governo de Felippe Schmidt foi requerida a observância do
decreto assinado por Hercílio Luz (em 1895) que dispunha sobre a exigência da cobrança
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00 , , , do saldo devedor após transcorrido o prazo. com acréscimo de 6o/~ de juros.
-
54 - O prazo concedido para o pagamento. aqui raramente ultrapassa um ano.
11)
12)
Julius Ritscher que veio junto com dr. Blumenau, em 1850, se ocupasse desse
mister.
Posteriormente o agrimensor Johann Breithaupt encarregou-se das
medições e em 1861 quando Emil Odebrecht regressou da Alemanha onde foi
cumprir suas obrigações militares e completar seus estudos' também passou a
exercer a atividade de agrimensor. '
o cartógrafo
e
posteriormente, com os jornais locais, por José Deeke.* 23 '1894 i Fc\'crciro o Milaneses
I' I Curitibanos
I
4 1866 I Janeiro 6 i
I Viú\'a SehUI1 28 [1902 : Fc\'creiro i 13 Subida I
I
i Manoel Laurentino
5 1870 Março 16 I I Monos F. Brunkow, I 29 ! 1902 i Julho 1 lpiranga I 3
i I mulher e 1 filho
I I
6 1872 Fe\'ereiro: 19 :!
Nm'a Bremen 1 I i Zinke e Engelhardt
Novembro! 19
3I 1902 ! Julho
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12 Ribeirão dos I I
I A, Sehuhmann
Russos
I, i No Itrller, Illono um J
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I' , rapal e raptada lIll1a i o
i I I menina
32 I
1902 Dezembro I Guaricanas 2
I
9 1876 Outubro 14 i I 33 I 19031 Abril I o I Estrada 1 Franz Dettmer
I I I II i Curitibanos
lU I 1877 Fe\ereiro 24 Rio dos Cedros ! ,I
i I !' 2 i
I1 1877 Março Tatutiba I 34
19031 Setembro i
i
" Estrada
Curitibanos
1
I
12 1877! Maio 5 I I 35 I 190 .• 1 Março I 7 Estrada I Riehard Enke
13 11883/ Novembro I ?
! Danicl ficou II i Curitibanos
14 1883 [ Julho 18
I completamente mudo I 36 : 190 .• : Março I 13 Ribeirão Basilio,
I I
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I 37 Abril ! Saqueados 9 ,'olonos
I
1904 ! I PáSCOll Fundos- Wamow i
38 I 1905 ' i i
Julho ')
Estrada I I
! Curitibanos i
i
i morreram
! 22 ! 1890 ! sOiquead<:ts e os colonos I ' I
Abril I
10 Estrada 1
I afugentados
I
42 i
I
1906 : ! I Curitibanos
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I
Ii I
I colono Sehulze
43 1906 Outubro 23 I
i Seharlach-Hansaj I
*) Obs. do aUlar: O noticiário local. re1ali,'O ao passado. que estc\'c à minha disposi\'ào. era iIlL'lllllplcw. e
! I
29 i Índios Hansa I ! Assalto a Krause
44 1906 i Novembro :
talvez seja pos:-.í\·cl que hou\"cSSCIll mais assahos. além dos constantes desta rcla\~;1u. I
46 : 1908 i No\'embro i
I Pinhalsinho
i I I João Freiras
N· MÊS DIA LOCAL BRANCOS i 08SRVAÇÃO De acordo com Lucas Alexandre Boiteux57, a costa catarinense, quando
ANOI I
MORTOS'FERIOOS I do descobrimento do Brasil, era habitada por uma grande tribo de carijós. Este
47 1908 I NO"emhro i 17 Broço do Oeste 2 ! c. Brasil e espo>a ramo tribal pertence aos guaranis, que dominavam a costa desde o Amazonas
II
I
48 14 I até a Bacia do Prata, utilizando uma linguagem comum, o que levou até os
1910 I Dezemhro i Rafael·Hansa I
I
colono Plctz
próprios colonos portugueses a adotarem seu idioma. Provavelmente o idioma
I Senhora Pannol..'h c
i
49 11911 Fe\'ereiro i
iI
4 Pinheiros
I
3
!
I
filhos
guarani fosse atualmente a língua oficial brasileira, caso o governo português,
pelo Decreto de 12 de outubro de 1727, não proibisse o seu uso.
i 9
I I i
Segundo afirma José Vieira da Rosa58, a costa catarinense, por ocasião da
51
50 11911 Ahril
1911 I Setembro I
1 9
Estrada de Rio
Preto I
Índios-Hansa
i
I
I
No lote de Dorlitz e
Hahnen
descoberta, não era habitada por índios sedentários que, somente mais tarde,
foram introduzidos por colonizadores portugueses, trazidos do Norte. Francisco
I Dias Velho Monteiro, quando estabeleceu a primeira colonização na Ilha de
i NO"emhro!
... 52 1911
ii
3 Ribeirão dos
Russos
I No lote de \V.
Schuhmann Santa Catarina, a fez com o concurso de quinhentos índios provindos de Santos.
Após, veio de São Paulo, um certo Brito Peixoto, que fundou a localidade
•
I
I 53 11911 ; No,embro : Os bugre~ ll1<.itaram e )
ruuharalll i.Inimai<:o.
I
conhecida por "Enseada do Brito" lá assentando inúmeros índios, também
I;11912 i Junho: ---"I originários do Norte.
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';5 I 93' ------~ Embora os carijós nãá possuíssem morada fixa na costa catarinense,
1'1 Fevereiro 26 Braço do Oeste 1 Júlio AllllL'idJ j
I conheciam muito bem a região, que seguidamente perlustravam, orientando os
I I I
56 I 1913 Maio I 8 Bra~o do Oc~tL' : I , um bugn: lllurtu I pioneiros espanhóis e portugueses que se serviam de seus conhecimentos, em
I ! todas as oportunidades, no avanço para a conquista desse território. Por este
57 1913 Julho ,
I 15 Caminho Reuter ! 1 Jo:::.é MO~L'r I
! I motivo os topônimos locais, da maioria dos rios, enseadas, acidentes
58 1913 ! Agosto 10 Kraul-Hansa
I I
I
Horak
topográficos litorâneos, etc., são em linguagem
T
59 1913 ' Outubro ! 14
Braço do Oeste I I
I
Felix Leite
indígena.
•••••• 60 I 1914 ! Junho 9 Liberdade I i 5 ca:::.a;-, ~;j411('adas
O planalto de Santa Catarina, como constatou o espanhol "Cabeza de
61 I 19141 Junho 15 Liberdade I I I I Morto Knccht e ferido Vaca", durante sua travessia desde a costa de Santa Catarina até Assunção no ano
-- de 1541, era habitado por guaranis. Estes índios, de acordo com "Notas para a
História de Santa Catarina", plantavam milho , duas vezes ao ano, cultivavam a
mandioca, criavam galinhas e patos à } maneira espanhola e tinham em seus
acampamentos muitos papagaios. Comiam carne humana, tanto de seus
companheiros de tribo como a dos cristãos. Sintetizando: devoravam-se
reciprocamente!
A região da selva entre a costa e o planalto, aparentemente, sempre foi
habitada só por índios selvagens, ferozes e arredios, supondo-se que fossem os
botocudos.
Os botocudos, de acordo com o livro de Bruno Stysinski, descendiam da
tribo original dos tapuias, que, por sua vez, originavam-se dos aymorés. Estes -
conhecidos como os mais valentes e dentre todos os
I
I
I Pouso Redondo
H I
, I I I Krtigcr
TOTAL ................................... 41 42
Além desses 61 a~~altos. nos quais 41 brancos perderam a vida e dos 22 feridos lima grande parte morreu em
conseqüência do~ ferimentos. os \eh'agens manti\'eram·sc em algum, lugare:-, por muito tL'lllpu, prejudicando o~
colono ...• , como L'1ll Pou~o RcdonJo, onde permaneceram por ~clllana~ L' mc~c~ c. durank es~e tempo, mataram tropas
intL'íra~ ue gaJo c"lvalar C' bovino.
N.R.) Aditamento à lista de ataques indígenas, constantes do Acervo do "STAAT ARCHIV DE NJEDERSACHEN".
em \Volfenbuellel (Alemanha):
1)14/211856 - Alto Garcia· após o aparecimento. perseguiram os índios e enCUIHr<Jram 5 cahana~.
2) 2711 211 862· Alto Garcia - Frederico Chr, Holler - casa roubada - mulher de Hollcr gra\'l'lllL'ntL' ferida, Um índio
atingido por um tiro, porém fugiu,
3) 09/911870 - Aparecimento em Rio do Testo.
4).19/~11872 - Atacaram o colono mai~ retirado no Braço ltajaí do Sul - tudo foi rouhadu. JoJo Pi~ke fOI fendo
gravemente c após ser atendido por Carlos Guilherme Friedenreich. mon'cu 2 diJS dcpoi,
5) 22/4/1872 - Di~trito \\'arnow - mOl10 flechauo Luiz Klcin te\'L' casa rnubadét
6)03/3/1877 - Ataque no Vale do Itoupa\'a - LlJiz Manke atacado quando alllll)~·lJ.\'a l'lHll a mulher c 3 filhos - casa
saqueada. No mesmo ataque. o carpinteiro AdiJl1l. vizinho do primeiro. tC\'C a ca~i.1 roubada.
7) 0-1/511877 - Ataque na houpa\'a - 2 brancos monos.
8)13/ I 2/ 1877 - Comandante da Guard<.t de B<.ttC'dorc~. F. Decke. encontra pOll:-'O~ ue L'l'rl'a de I ~O ílldio~ a 57 _ Capitão-Tenente Lucas Alexandre Boiteux, "Notas para a História de Santa
sude~te da ~crfi.1 dlJ J<.traguá. peno 00 Rio Itaptxu.
Catarina" - Tip. Livraria Moderna, Florianópolis.
58 _ Viera da Rosa, "Chorografia de Santa Catarina" - Livraria Moderna, Florianópolis.
localidades com os efetivos adiante: em São Francisco um sargento, um
mais cruéis - possuíam a cor da pele mais clara e havia até mesmo alguns com
subtenente e 5 soldados,. em Itajaí um subtenente, 3 soldados, etc., além destes
olhos azuis que eram qualificados como dotados do mais elevado grau de
designados explicitava a necessidade de deverem contratar 20 voluntários, pelo
beleza. Na verdade, a palavra "Botocudo" não tem étimo de origem indígena, e
era como os portugueses denominavam aqueles que usavam "botoques" tempo que fosse necessário. O soldo diário para este destacamento foi
encravados no lábio inferior. Os ditos botocudos davam a si próprios estipulado em 330 réis.
denominação bem diferente. Talvez nos admiremos com o irrisório soldo e a insignificante guarnição
da tropa de proteção, mas era consentâneo e correspondia às condições da
De qualquer maneira é totalmente impróprio chamar-se a todos os
época. Toda a força armada da Província consistia da "Companhia dos
selvagens que usam "botoque" de botocudos, pois, se forem consultados os
Inválidos" com 85 homens que .eram empregados na guarda das repartições
antigos tratados nas suas descrições referentes àqueles idos, verificarse-á que
públicas, do quartel da Capital e dos fortes - e da Companhia de Pedestres com
em grande número de diferentes tribos havia criaturas com os lábios perfurados
31 homens. O soldo para cada Pedestre era Rs 13$000, e de um soldado de
usando botoques (cavilhas) ou discos. Verificava-se o costume entre os tapuias
e os tupis e igualmente os indígenas que Pedro Alvares Cabral encontrou, cavalaria Rs 20$2.0~ó Um sargento recebia Rs 22$000 e o comandante Rs
quando descobriu o Brasil, usavam "botoques" nos lábios59. 30$000 mensais .
Nos anos cinqüentas, os ataques dos selvagens, que em geral eram conhecidos
Portanto, não seria falso afirmar que nos tempos remotos todos os povos
como bugres, se tornaram freqüentes, e, apesar de a Companhia de Pedestres
primitivos do Brasil usavam botoques e só mais presentemente, e na medida em
contar com 70 homens em 1856, não foi possível preveni-Ios. O Presidente da
que a civilização deles se aproximava, abandonaram este costume. Atualmente
o uso do botoque é somente uma prova de que ainda são selvagensmas Província, na época, .0 Dr. Joã~ ~osé Coutinho, estava convicto de que somente
absolutamente não indica a que tribo original pertencem. com procedimentos drastlcos se conseguiria remediar o mal e exprimiu sua
opinião na "Fala" de 1856, mediante os seguintes termos: "Estes bárbaros que
não poupam mulheres nem crianças. que só se ocupam em roubar e em
assaltar-nos em emboscadas. não poderão. a meu ver, nunca ser tratados com
bondade e condescendência. Usar com eles desses meios e sofrer-Ihes as con-
~Quando se consultam as "Falas" e os "Relatórios" dos Presidentes da
seqüências é o mesmo que encorajá-Ios no seu barbarismo - com grand:
Província, dificilmente se encontrará alguma referência à tribo a que
prejuízo para a civilização - seria proteger o roubo ~o tr~~alho e_a
pertenciam os índios de Santa Catarina. São apenas designados como
propriedade! Eu sempre mais me convenço de que o maIs pratIco. senao mesmo
"selvagens" ou "gentio" (neste caso caracterizados como pagãos). (* 19)
o necessário, é arrancar os selvagens à força das fl~res~as e colocá-Ios em
A ameaça de assaltos pelos indígenas se agravou sobremodo desde os lugar de onde não possam escapar. Desta maneira livraríamos nossOS
fins da década dos anos quarentas, do século passado (XIX), quando resolveram agricultores desses assassinos e pelo menos dos filhos desses bárbaros faríamos
aumentar o número de integrantes da Companhia de Pedestres, criada por lei em
cidadãos úteis."
25 de abril de 1836 e manter destacamentos estacionados nas zonas periféricas,
onde o risco de ataques era maior. Sobre a incidência de surtidas dos bugres,
L Arrancar os silvícolas da enorme floresta. era mais fácil dizer do que
executar- mesmo porque naquele tempo sena tarefa cO~l~letamente
dizia o Presidente Dr. Severo Amorim do VaIle, em sua "Fala" referente ao ano
impossível- sem contar com as vultosas despesas que tal pra':lca demandaria.
1849, que na região
Esses fatores foram determinantes para a manutençao d? _velho sistema: só
.norte, nas proximidades de Três Barras, os índios acometeram, assaltando e
quando os bugres acometiam, enviavam em p~r.segUlçao um grupo de
assassinando.
"Batedores do Mato", para castigá-I?s ~u, no qllmmo, afugentá-Ios e sem mais
Durante trinta anos não se percebeu rastro dessa súcia. E como n~quele consideravam o problema liqUldado . ....J
ano repetiram-se vários assaltos, o Presidente resolveu prevemr-se, tomando a
Vez por outra, já naquele tempo, se tentava a catequese, - como
medida retromencionada, e fez aumentar o número de praças das Companhias
intentaram em 1868 os padres capuchinhos Virgilio de Amplar e Estevam
de Pedestres, estacionando-as nas seguintes
N.R.46
Dterrenos que ee e percorrera.
Os resultados que o serviço de guardas obteve com as batidas de mato foram Pelo aviso ministerial de 23 de agosto de 1879 a tropa de "Batedores do
pouco proveitosos, mormente em razão do efetivo da tropa que não era tão numeroso Mato" foi, por medida de "economia", dissolvida - custava anualmente sete contos
que comportasse o desmembramento em grupos destacados para todas as cercanias de réis - e tudo retomou à condição anterior.
da colônia, concorrendo com a impossibilidade de se fazerem presentes em todos os Sem a "guarda de batedores de mato" a situação continuava como dantes.
lugares concomitantemente. Vários destacamentos eram bastante "relaxados", pois Caso os selvagens surgissem em algum ponto da Colônia, todos ficavam
enquanto o Capitão, com poucos homens, inspecionava o interior da selva e efetuava alvoroçados e se reuniam para penetrar num curto trecho da selva. Em casos
as costumeiras batidas e rondas obrigatórias, aqueles simplesmente ficavam em casa. especiais o governo colocava à disposição uma pequena tropa para perseguir, por
trabalhando suas roças. Essas circunstâncias implicaram em que. apesar da alguns dias ou semanas, esses assaltantes
existência das tropas de batedores. os selvagens não deixaram de fazer várias
facínoras.
aparições, acometendo em di versas local idades.
Porém jamais foi possível que se Ihes alcançasse, por uma .única vez que
Sob todos os aspectos uma coisa porém é certa: os assaltos seriam muito mais fosse, porque geralmente se passavam dias até que, provl~o~ e municiados,
numerosos. caso inexistissem os caçadores de bugres. Friedrich Deeke prestou, não
finalmente se pusessem a caminho para a persegUlçao, tempo suficiente para que os
somente nesse mister. relevantes serviços à direção da Colônia. pois, enquanto
bugres se retirasse~ _para lugar seguro. Acresce que integrantes dos grupos de
percon'ia a floresta no desempenho de suas funções, sondava os terrenos
persegUl~ao raramente eram verdadeiros batedores experientes; pelo menos havIa
avaliando-os a fim de capacitar o prosseguimento e a ampliação da colonização.
alguns dentre eles que, já de antemão, providenciavam o "necessário" barulho que
Prestava ao diretor, DI'. Blumenau, relatórios orais e por escrito. acompanhados de
denun-
desenhos topográficos das suas observações. Isso facilitou em muito os trabalhos
preparatórios dos colonizadores nos
N.R.46) Veja a página correspondente às representações do Mapa Paisagístico do
Relevo Topográfico de 1877 e delineamento regional topográfico de 1878,
ambos de Friedrich Deeke.
61
também na cor da pele e estatura, diferiam dos outros bugres.
ciava aos selvagens sua aproximação, propositadamente afugentandoos, sendo
destarte impossível alcançá-los. Igualmente noticiou-se, com muita freqüência, sobre a existência de uma
grande aldeia no Braço do Norte do Itajaí, o atual Rio Hercílio e chegou-se
Os bugreiros conseguiram, em outras regiões próximas, além dos limites
de Blumenau, surpreender os selvagens em seu acampamento, matando os mesmo a acreditá-Ia verossímel. Colaborando na difu~ão.da crença dessa
adultos que não conseguiram escapar, apoderaram-se das crianças e grande aldeia, contavam que um poderoso grupo de mdIOs coroados do Paraná,
trouxeram-nas para fora da floresta. Resultante de uma destas expedições que estava em constante beligerância com os botocudos, teria encetado uma
persecutórias, havia já, em fins dos anos oitentas, uma bugrinha mansa em jornada de caça no alto Vale do Itajaí, quando repentinamente, do alto de uma
Blumenau, que o Dr. Wiegand Engelke adotou, trazida de Joinville quando lá colina, divisaram no outro lado do vale um "grande número de choupanas",
residia. Comumente as crianças bugras, aprisionadas no passado, pouca onde fervilhavam peles-vermelhas. O fato causou-lhes tamanho susto que,
informàção podiam fornecer a respeito da vida e costumes de seus parentes, mesmo bem armados e numerosos, empreenderam apressadamente a fuga.
pois eram capturadas muito jovens e com pouco entendimento do assuntoJAlém
disso, até que aprendessem o alemão ou português já tinham esquecido o idioma
de seus pais, junto com a lembrança da vida nos acampamentos indígenas.
Estranho é que tão logo essas crianças passassem a conviver com os brancos, Com o correr do tempo, os selvagens tornaram-se sempre mais ousados.
manifestavam grande pavor dos seus parentes de raça. Por esta razão nunca foi Os assaltos multiplicavam-se e os bandidos peles-vermelhas, depois da
possível aproveitá-Ias como mediadoras na catequese dos selvagens. } consumação de um ataque, ainda tinham a petulância de permanecer longo
Se até mesmo atualmente são escassas as informações acerca da vida e do tempo nas imediações, ameaçando. os c?lono.s a distância. Na estrada de
comportamento dos botocudos na selva, naquela época pouco se conhecia e Curitibanos construíram verdadeiras tnnchelras para poder, com sucesso, atacar
portanto criaram-se várias lendas a seu repeito. Algumas não desprovidas de as tropas de mulas que lá passavam,
romantismo, consoante comentavam, possuiriam bem nas profundezas da selva, destroçando-as.
no sopé do morro do Itayol, lima aldeia permanente onde residia o rei de todos Como os selvagens modificaram seu comportamento nos assaltos,
os botocudos. Lá existiriam grandes templos, que conteriam enormes ídolos contrariamente ao que ocorria antes - quando se retiravam o mais depressa
esculpidos em pedra. Porém o maior tesouro do rei seria um imenso pomar, possível depois de cometê-Ios - cheg.ou-~e à conclusão de que não mais se
provido de todas as árvores frutíferas do Brasil. Os bandos nômades, que tratava desses, mas sim dos semlpaclficados coroados do Paraná. E o que
percorriam a floresta, seriam os soldados do rei, deveriam impedir o avanço dos reforçava esta suposição era que, entre os índios as:altantes, muitas vezes, se
brancos e ao mesmo tempo apoderarem-se dos tão necessários artefatos de encontravam alguns que falavam o portugues.
ferro. Permaneceriam por anos seguidos longe do paço real e só poderiam
retomar por curto período, caso tivessem feito considerável presa,
r Por algum tempo acreditou-se até mesm? que não mais se tratasse de
verdadeiros bugres, mas de bandos de facmoras brancos, que adentravam o
preferentemente constituída por crianças brancas raptadas. Os selvagens, mato sob o pretexto de caçar, para, depois de camuflados, atacar, fingindo-se de
conforme imaginavam, pertenciam praticamente a duas raças que seriam "bugres", assaltando e roubando os colonos. Ist.o foi comprovado em Beneditto
divididas em castas. A superior, que tinha a pele mais clara vivia no quando, num ataque, reconheceram POSItivamente um caboclo brasileiro,
acampamento central em volta do rei, enquanto a casta inferior seria integrada contumaz caçador das redondezas, que chegou, inclusive, a conquistar a
pelos bandos de soldados que percorriam a floresta. Os caciques dos bandos hospitalidade dos colonos. O homem usava calças, enquanto os bugres estavam
seriam todos nomeados pelo rei e pertenceriam à casta superior. nus, e algumas flechas que perdera na fuga, estavam amarradas com barbante e
Segundo as explorações feitas até agora, nas imediações do Itayol, lá não não com casca de
somente inexiste a capital dos bugres, como também jamais se ouviu falar,
desde que se entrou em contato com os silvícolas, em rei dos botocudos. Mas é 61 _ Este fato se pode verificar na descrição do relat~ sobre o ataque aLontras, que se
realmente estranho que a narração fosse, no passado, freqüentemente repetida e fará adiante, além do mais, o cacique dos mdlOs, hOJe pratlc~mente domados. tem a
reforçada por diversas notícias e observações. aparência bem diferente da dos seus companheiros de tnbo.
Corroborando essas afirmações, observou-se, em diversas batidas a 225
acampamentos, que os caciques, não só com seu comportamento, como
cipó, como praticado pelos selvagens. Entretanto, supõe-se que os colonos se recebeu umajlechada nas costas efoi perseguido por dois bugres na sua
enganaram. pois a polícia que investigou o incidente poderia com facilidade tentativa de fuga, mas caiu e terminou massacrado a pauladas, ao mesmo
constatar se naquele dia o referido caboclo permaneceu em casa ou tempo seu filho Francisco de 15 anos, que se encontrava no
ausentou-se, pelo tempo necessário. ] moinho, erajlechado e morto.
A filha Tereza de 17 anos, que de casa assistiu ao assassinato do pai e do
Na maioria dos casos em que se afirmou ouvirem-se palavras em
irmão, tomou a espingarda e a cartuch~ir~ e ~aiu a cor~~r par~ a casa de
português, essa alegação foi bastante duvidosa. Deve-se considerar que, a
Giacomo Cipriani, a 600 metros de dlStancw, para laJunto a mulher deste
distância, facilmente se pode confundir os sons das palavras indígenas com os
procurar refúgio, (o homem viajara para Curitibanos), mas na corrida em
do português e, além disso, os que alegavam ter ouvido vocábulos em português
fuga foi interceptada por dois bugres desarmados, que estavam para
desconheciam o idioma.
agarrá-Ia no momento em que Joaquim Bese/~n com sua mulher, já em
Mas a possibilidade de que os selvagens soubessem pronunciar uma ou trajes masculinos, chegaram em seu socorro Juntamente com Luciano
outra palavra em vernáculo não pode ser desprezada, porque raptaram muitas Betrini que ocasionalmente lá se encontrava. A moça deve sua vida à ação
crianças brancas, das quais poderiam aprender algumas expressões. De corajosa da Senhora Beselin, uma brasileira decidida e de grande presença
qualquer maneira é bastante estranho que entre os índios pacificados, hoje de espírito, que pegou a espingarda que Tereza tinha nas mãos e, seguida
aldeados no Rio Plate, não se encontrasse sequer um que soubesse, mesmo mal, de seus companheiros, foi até o lugar onde jazia Antonio Cera ti, a cujo
algumas palavras de português. Em virtude das condicionantes referidas, que assassinato ela assistiu de sua casa na margem oposta do rio. Mas não foi
excluiriam os botocudos desses ataques, sempre mais fortemente se impunha a mais possível socorrê-lo.
sua execução à conta dos índios coroados. Evidentemente é necessário Faziam os preparativos para transportar o cadáver para ~asa,
investigar se, naqueles ataques, foram, com exatidão, ouvidas palavras em quando foram impedidos pelos bugres que entraram na. m?radw do morto,
português. Na maioria dos casos é duvidoso. Porém, houve um específico em saqueando-a e matando a criação. Não foram. at:ng~dos pelas jlechas que
que, dificilmente, pode haver dúvida, ou seja, no assalto a Lontras, quando os eram disparadas de uns 300 passos de d,stancw, nem os brancos
colonos italianos, conhecedores do português, não só ouviram dos bugres conseguiram acertar algum índio com a espingarda de chumbo, pela
palavras nessa língua, mas até puderam, a distância. conversar com eles. mesma razão. Além disto, os bugres logo ~e escondiam a~rás de u::z tronco
Transcrevemos aqui o interessante relatório: de árvore quando viam apon~a a espmgarda para SI, ou entao jogavam-se
"Na quinta-feira, 24 de setembro de 1885, à noite, as autoridades ao solo, sem, no entant~ostrar muito medo das armas de
policiais, desta cidade, receberam a notícia de que os bugres atacaram os fogo. J
moradores 110 Rio das Lontras, a 90 km de distância, onde mataram e Uma aproximação maior foi dificultada por uma derrubada recen-
saquearam os colonos. As autoridades dirigiram-se imediatamente ao te que se antepunha entre os dois grupos beligerantes.
local. para certificar-se do ocorrido e protocolar os depoimentos das O número de bugres que atacaram naquele dia era de 13 indivíduos
testemunhas visuais. dos atingidos e dos molestados na vi;:inhança. que é o como declararam unanimemente todos os participantes. Dentre eles havia
seguinte: um que falava, um pouco, o português com o qual a S~nhora Beselin se
Já oito dias antes do aparecimento dos índios, as 4 famílias envolveu numa violenta discussão. Depois que ele gntou a.o pessoal
residentes em Lontras perceberam sinais de fumaça no alto dos morros "Vai-te embora, cambada d'itali~nos" e .a .Senhora ~eselm respondeu que
próximos da desembocadura do Braço do Sul, no rio ltajaí, ficando assim não eram italianos mas sl/n braSileiros, ele nu com
cônscios da presença dos bugres. Entretanto, julgando-se em segurança, escárnio e batendo as mãos: "Não, italianos!" (* 20)
pela circunstância de que, mesmo completamente isolados dos demais Seguiucse entre os dois uma troca de xingações acerbas, . em
moradores e constituindo-se no posto mais avançado junto aos bugres, português, até esgotar-se o vocabulário. Por fim, ~ Senh~ra Beselm o
nunca foram importunados, e por isso não tomaram as devidas desafiou, dizendo que se tivesse coragem, se aproxl/nasse.
precauções, nem mesmo alertaram seus vi::.inhos mais próximos que, na
Ao que o índio respondeu batendo no peito com os punhos e
verdade, estavam a 18 ou 20 km de distância, abaixo da Subida.
gritando: "Aqui tem homem! - amanhã!" (* 21) ...
Aconteceu então que no domingo, dia 20 do corrente, à uma hora da
As pessoas então regressaram à casa de Giacomo C1pnalll que se
tarde, o italiano Antonio Cerati, que se encontrava em sua plantação
d(ficllld(/(Ies, ahrilldo cUlllilll/() (/Inl\'és du sell'a. 1('I'al/{lo (,I'ioll\·a.\ 110.1
locali:://I'a (/lIase 1/0 C('I/lro d(u//tele sítio colol/ial e CO//l/,rO/lWleIWI/-Se, sob f!alm'ru
bmços e IIUS COI·tOS, chegamll/. ollás acele/'{/do mOl'Cha, aos II/oradores
de !J()I/ra, a resistir, mio dei.rol/do n ('(///1/10 uos iJlIgres, ellqual/to hOIl\'esse
eswbelecidos aci/llo do rio Neisse. ondefora/ll ucolhidos e Iw,lped(/(los,
11111111\'110, aliús IIIl1ito Iwuca.
Ao 1/11'1'1110 telllf!o '/111' se de\'e recfmhecer a corajosa illlen'eliçiio da
Na '1IIilllo~(eiro, diu 2-1. 11m gmpo de 50 pessoas oIClIII\'(/\'U o teot/'ll do
SeI/hora Beselin e .\'1'11 111 a rido, Clllllpre f{/lIIbél/l (,ol/del/ar a atilllde il/digl/a de outro tmgédio, P(l1"l/ selJIIl({l1' os codál'el'es e recolhel olgll/ll gado Ijlle til'esse e,\'I·apado.
1110 1'(/(10 r daqllela regiiío, Este, 11111 IJrasileiro, de 1/01111' }al/llário qlle, el/qllal/fO O ('OIPO de Antollio Ce/'{/ti já estal'{/ e/ll odiolltwlo eswdo de plllrefaç'(/o,
(li' 01111'0.1' aClldialll .Ieus I'i~il/I/()s, cOIII!Jalel/do e (!fugel/wl/do os hugrn, jUllto CO//l el/(I//(lIlto () do Jilho despojado das rollpflS e jog(/(Io 110 Ileqllello represo do
sua //Iulher c()j'arde//lel/te illiciuu a fuga, Para sal\'(/r sua pele, pois outra coisa mio 1I101'1/{lo, oinda se ochm'a be/ll cOl/sen'ado. CO/l.I({Itoll-se Ijlll' todas as casas
til/ha a perder, alJOderou-se de ullla das dua.\' cOl/oas de qlle os colol/o,\' di.l'JIul/l/({//I fO/,{//II sOljlleadas, golillha.1 e pO/'l'OI /IIOrrOS, destes IÍllilllos S(i I,'\'al"l//II os de
Mas, ti\'(:,ra//l (/ue regrnsal' pois fora//l illlpedidos de prosseguir pelo., três pessoas II/aior porte e os outros (o/,{///I dei rui/o I, O lI/es//lO O('(II/tecell CO/ll as golillhas:
que os illterceplara//l. fO/,(//II II/ortal I//({S deI/Jl'e~(/(/as. Ailldo 111/1 ca\'(ilo fili /IIorto porj7ec/wda 11(/ colw/({
Os IJIIgres 11(/I'l'IIralll el/tt/o a festejar seu SIl(,I'I·.1'II CO//l gral/de alarido \'erteiJl'a/ e a pallludas, o 1'('\'((/1111' dos allilllois (lIgill,
de!;'ol/tl' da ('(/sa das l'ÍlilllUS, em I'olta de Ul//({ ,f!fl/ndeli!gul'ira, dal/çol/do, griwl/do e [ndogados a respeito da aparêllcia dos sel\'(/gells, injimna/,{/I/l os fllgitil'os serell/
de\'(l/w/(lo os al/imois obalidos, sem 1/0 el/lOl/lo tornar a molestar os sitiados dural/te lo(/() I', com I'.\ceç'(/() de dois, de es({lfllra boi.m e (/I({/'I'{Ic({do. pele !J1'on~e(/(la nc/(m:
o resto do noite, os OlltroS dois, altos, esbeltos e pele /11'11/ /IIoi.l' clam, seria/ll os caciqlles, pois Iloda
No /I/ul///(1 ,l'eguinle. olJlÍs /Ius.l'llrel/l U lIoite il/leil'(l em \'igílio, 01' colol/os. mais .f(I~ill/II Ijue tml/sll/itir ordells e sil/ois, O alldor, 'porte e POSllll'O de ({/IIbos
op(l\'ol'udos, perCell('IWII que o IIlímero de hllgres dobmfl/, tornal/do-se sempre muis dU'erellcia,'a-se ('ompletill/ll'lIte do pisor il/(llIieto, agitado e SIIltirallle dos dell/ois e
utrel'idos, ROl/d(l\'o//l e/ll IJequel/us t;l'IIfIOS, sel/tal'am-se 1/0.1' trol/CO,l' dus ún'ores. IIS(/\'(//n o caIJelo ojei({ldo 11(lm (I alto. ellqllol/lU os outros os tillh(//II CO/ll[Jrido.1 e
gritmwn, ete. }ú h (1\ 'ia 1/1 d/'SfJojado os ossossil/ado,l' de suus rOllllOs e um dos caíd()\'.
bugres \'e,l'Iiu um(1 ca//liso, outro U//l ('osaco, um terceiro 11m gorro e assim dOl/çol'am O chefe da polícia tili ill!i)/,/I/ado por telegml/w o re.l/wito do slIcedido, fiam Ijue
como IOIlCos diante dos sitiado,l'. selll, 1/0 ental/to . .ficar ao alcf/I/ce do,l' tiros e nem ,lilsSel/l tOll/ados (!s necessária,\' pr(!\'idêllcias de
se arriscar a LIIn o{({qlle, . 'f' I' ,. I
ajudo as 111 e I~C.I' \'/llIlIas (O a,\'sa to,
I ./>_
Os pobres COIOIlOI' mio oll.l'IIram pôr o péfora de caso elllhora 01' Portanto. especificamente neste caso. foi evidenciado que pelo menos um
lIIal/li//lel/lIJs já cO/lleçassf'1I/ ({ escassear. QII{{/U/(l !/O lerc{'Ír(J dia o nlÍmero de seh'3l:!elll falava n português. Mas seu vocabul5rio não era abundante, de sl;rte que
ílldio,l' (III/I/el/toll, _. os il/(ormes d(/O o IIlí//lem el/lre -JO e 60 - os siliodos, I'el/(IO-H' não se pode assegurar tratar-se de um branco que tiw""e se juntado aos bugres,
CI'lnulol' por todos os lodos al/leo\'odo,l' Ilela fOll/e e folIa de mllllÍ\'/;o e fll'('I'(flldo Ijlle T3mbém os pacificados e semici\'ililados coroados fala\'am melhor o português, o
0.1 IJIIgres 1'1' prepor(l\'om fI{/l'{i um sério o{({(//{(' - erulll el'idellles os sil/ais mesmo ocorrendo com as outras tribn". por i.;.;o O" bugres de Lontras devem
m{{/lIfcstwlol' 1/01' loi/O.I os ('(lIllos: imil(l\'(//II sons !lI' ol/ill/(/is rn'JIol/didos lIIai.1 wlial/le nece'isariamente pertencer ao grupo cios índios denominados "bOlocudos".
-, l'i/,{/lII-Se obrigados o oholldol/ar fIIdos 1/.1 f/erleI/Ce.1 para ,Ia/l'ol' a p/'{ípriu I'idu.
Esgueiral/do-se sorfl/teiralllel/te da caso I'igiadu au' a,l dllm callou.' e remal/do
OIJressadamellte. puseram-se em fuga pelo rio ltajaí aiJi/i.w, o LÍI/ico camillho que
til/hom para o soll'aç(/o. A maneira de agir. visando resolver b problema indígena, sofreu
. ,~ , ."c " ,. 'lIto
Mas. I/(!\'al/lellte, .l'Ii IJorll/ero acaso e,l'('ap(/rall/ de 1111/ U{(/(/I/(:,jillof, pois os radical mudan~'a apos o acometimento no Rlbl:lrao MII.mez. no ,
íl/dios. t(/ologo perceheram ufugu, os Ilerse!illi rall/, e já disWlltcs 11(/ II/urgell/ do rio Cedro. em fevereiro de I RLJ-+. Lá também apareeeram os ~eh'agens.
os !ilgilil'os os dil'isor(//II. u uiJsI'I'\'IÍ-Io.\ de 10llge, e (/lglIlIS cheguralll ({fé /IIes/llo à I saqueando tOla mente tres aml ". 'I'· 'd ) ltlll'lls Vooel se pos a caml-
iaS. qu.1I1 ( , é" ,
1Jeim do Rio, IIIUS !wr!i/ll dcsislimll/ du perseglliç(/(). nho com dez colonos Italianos e, perseguindo. surpreendeu-os no aC4lIll-
EII/ Salto Pih/o osfllgiti\'os (/eselll!J(/rCUr(//1I e. I'ellcelldo el/onll('\'
façanha de tempo de retirar a flecha da garganta de José Bento e, sob pesado ataque,
pamento. Quando os selvagens se viram ao alcance das armas de fogo, fugiram
José Bento sepultá-Io rapidamente, protegidos pelo fogo constante das espingardas, para
em pânico, abandonando quase todos os arcos, flechas, panelas, etc.
- ele não depois se colocarem a salvo em apressada retirada, sempre perseguidos,
Alguns bugres foram atingidos pelos projéteis disparados, mas nenhum regressou. exaustivamente, pelos bugres. A flecha fatídica o grupo de batedores trouxe
ficou em campo, já que esses índios têm por costume recolher, levando consigo, Sua gente, consigo para comprovar o que diziam. Ademais, todos os componentes do
sempre que possível, seus camaradas tombados. depois de grupo demonstravam tremendo pavor dos bugres e juraram que em hipótese
Quando Vogel e seus companheiros regressaram a Blumenau com as alguma retomariam as batidas, nem mesmo sob as mais vantajosas condições
armas e outros objetos apresados, causaram a mais profunda impressão. Afinal, que porventura Ihes oferecessem.
verificou-se que era possível punir os selvagens que constantemente Todo o relato desses bugreiros em fuga soava estranhamente, dando
ameaçavam os bens e a vida dos colonos. O desejo geral de aplicar uma breve margem à suposição de que aconteceu algo misterios~. Na oportunidade
derradeira lição nestes atormentadores, destruindo-Ihes os acampamentos, duvidava-se bastante de que realmente os fatos tivessem se desenrolado da
ausência,
passou a ser o objetivo a ser alcançado. maneira como contavam, ainda mais quando começaram a murmurar que na
retomou
Elaboraram uma subscrição para coletar fundos a fim de organizar uma em primeira incursão de José Bento contra os bugres n~o houvera combate algum.
expedição punitiva, e na primeira oportunidade o destemido conhecedor da Bento, na ocasião, teria ficado à espreita observando o movimento dos bugres e
pânico,
selva, Gottlieb Reif, partiu com um grupo selecionado em perseguição aos teria aproveitado o momento e~ que, com suas famílias. todos tinham se
trazendo
índios. Mas apesar de Reif, por várias vezes, ter chegado bem próximo aos seus afastado para a caça e extra.çao do mel de abelhas. e então arrebatado tudo
a notícia
calcanhares, não conseguiu surpreendê-Ios. razão por que desistiu da "caçada quanto encontrou no acam-
de que
dos bugres" depois de algumas incursões infrutíferas. tiveram pamento desguarnecido.
Novamente, por anos, deixaram o problema permanecer sem solução. de recuar Na hipótese de a ação ter se desenvolvido conforme sussurravam,
Assaltos e ataques sucediam-se e o resultado das expedições punitivas era e e que esclarecer-se-ia a razão por que só trouxe lanças e flechas, m.a~ nenhum único
continuava sendo negativo, para o que não deixavam de concorrer as foram arco, pois deste último o índio jamai~ se se~arava e dl~lcllmen.te o abandonaria
enérgicasTecomendações do Governo aos mateiros, a fim de que nessas batidas perseguid no acampamento. Essas partlculandades Jose Bento J~stificou, declarando que
não ferissem ou provocassem dano em qualquer bugre e que se limitassem os por queimara, no próprio acampame~to dos lndios, os arcos e muitas armas mais,
apenas a afugentá-Ios. grande por não poder transporta-los',E~tas alegações conflitam contraditoriamente
Quando os bugres em abril de 1904 voltaram a assaltar nos Fun- c.om a mais element~r 10gIC~, pois prestou-se ao trabalho de trazer mUltas
número
dos-Warnow, atacando e saqueando nove famílias de colonos, o batedor de outras tr~lhas Impresta-
de
mato José Bento, com 12 homens, partiu em sua perseguição. A expedição . asN.R.47 de flechas sem ponta Em razao desses ante-
bugres, e velS. como can .
conseguiu alcançar resultados positivos. pois retomaram com 52 flechas, 5 n~ cedentes suspeitáveis, também pairava grand~ dúvida sob~e o a:on: tecido
lanças e muitos objetos tomados aos índios. Naquela ocasião se comentou ocasião nessa segunda incursão. que custou a VIda do bugrelro. Nao e tão fácil extrair
muito sobre uma carnificina que teriam perpetrado no acampamento dos José uma flecha bem encravada (como a que trouxerem para prova) e, para arrematar
bugres, e o próprio José Bento, em seu círculo de amizades. se vangloriava, à Bento foi toda a enigmática histó~ia, não trou~eram nem a espingarda e as outras armas
boca pequena, de ter arrasado com todo o pouso, matando homens, mulheres e do chefe abatido, clrcunstan-
morto por
crianças I Mas teria dito que seria necessário ainda muito trabalho para derra- uma cia inexplicável e inusitada.
deiramente acabar com os selvagens, antes que se pudesse viver em paz diante f1echada Depois dessas ocorrências seguiu-se uma época ~errível para os
desses ladrões. pois toda a região fervilhava de bandos de bugres. no batedores do mato e para os colonos que moravam maIs a.fastados, no interior
O governo, depois do episódio, autorizou José Bento, a fim de que pescoço. da Colônia. Precedentemente os índios eram consIderados co-
desfechasse uma sortida na selva contra os bugres. O bugreiro partiu, So
imediatamente, com uma reforçada turma de 20 homens. Mas essa foi a última tiveram
vardes e se supunha que só ousassem levar a efeito um ataque a sítio onde não
se expusessem a perigo algum, após dias e talvez até semanas inteiras de
observações. Estavam piamente convencidos de que os peles-vermelhas nunca
atacariam um grupo de trabalhadores ou mesmo um caçador solitário. Mas o
sucedido com José Bento acabou com esta opinião, e parecia que os bugres
criaram coragem. Atacavam turmas e as perseguiam, tocaiavam caçadores e os
assaltavam, como no Braço do Oeste onde um caçador recebeu uma f1echada
na coxa. Enfim, a insegurança campeava, tanto na floresta como nas suas
imediações e o clamor popular, requerendo ação para enfrentar o perigo que os
índios representavam tornava-se cada vez mais vigoroso.
[Foi então que chegaram notícias das regiões do sul do Estado, dando conta
de que lá um certo Martinho Marcelino,N.R.48 de Angelina, cuja família foi
trucidada pelos bugres, jurou vingança eterna aos pelesvermelhas e Ihes fez
várias caçadas com sucesso. J
Logo as notícias se tornaram mais precisas, e quando Martinho
empreendeu uma batida aos bugres nas matas da vizinha Brusque, trazendo
como prova de seu sucesso um garoto índio e grande quantidade de armas,
MlJLHERES E CRIANÇAS BUGRES APRESADAS, QUE
começou-se a cogitar no seu aproveitamento também em Blumenau.
MARTINHO TROUXE DA BATIDA. DAS 8 CRIANÇAS SÓ 3
É claro que não faltava a propaganda contrária. Martinho era taxado, MENINOS FORAM CONSIDERADOS BOTOCUDOS, POIS
nos artigos de jornais, de genocida, e faziam descrições horripilantes de TINHAM UM BOTOQUE NO LÁBIO INFERIOR
suas batidas. Só em Brusque teria provocado uma hecatombe, trucidando
mais de 80 bugres. Os capturados eram, sem dúvida alguma, coroados, pois não tinham
Nos ditos círculos humanitários, formados comodamente ao resguardo e vestígios dos botoques, e o cabelo era cortado conforme o modelo de corte ao
longe das zonas ao alcance dos bugres, sempre mais intensivamente execravam qual esta tribo deve seu nome. Mas ao contrário dos dem~is membros dessa
o bugreiro Martinho qualificando-o de criminoso. Em contrapartida, nos sítios tribo, não entendiam uma só palavra de portugues, desconheciam o que fosse
expostos à ameaça constante do perigo que o indígena representava. o seu uma arma de fogo e não faziam idéia da utilização do sal, feijão ou farinha; pelo
prestígio crescia. Quando na segunda metade do ano 1905 os peles-vermelhas que concluíram .trat~r~se de coroados ainda selvagens, desgarrados dos mansos
tornaram a protagonizar um festim sanguinolento no Campo do Figueiredo, na ou semlpaclflCados coroados do Paraná. Os aprisionados foram entregues às
divisa oeste de Blumenau, chamaram Martinho, a fim de seguir até lá. irmãs do convento da Divina Providência, de onde, pouco depois, duas
Martinho subiu a serra com 20 caçadores e desmantelou um mulheres e quatro crianças tentaram fugir. Foram recapturadas uma mulher e
acampamento bugre. Depois atravessou em linha reta até Pouso Redondo de três crianças. As crianças foram entregues a diversas famílias que se com-
onde regressou em meados de novembro com 2 mulheres índias, 6 rapazes, 5 prometeram a educá-Ias, porém algumas faleceram.
meninas, grande quantidade de armas e 8 cachorros, também tomados aos Enganava-se completamente quem julgasse que os índios.' sob a pressão
bugres. Esta ação foi desastrosa para Martinho, pois ele perdeu seu cunhado das represálias, deixassem de praticar novos assaltos, P?~s estes repetiram-se
Ignácio, atingido por uma f1echada. continuadamente - primeiro na estrada para Cunubanos, depois no Rio
Scharlach na Hansa, onde saquearam o colono Sc.hulze, depois de o ferirem
com uma f1echada no braço. Pouco depOl~, em outubro de 1906, despontaram
na propriedade de Paul Krause no RIO ?OSÍndios onde assassinaram uma
menina ,de treze anos e roubaram mUItas
roupas, ferramentas e utensílios domésticos.
63 - A roupa de cama, colchões e travesseiros foram esvasiados das penas, na
beira da floresta; só levaram o tecido e as fronhas. .
Depois do assalto aos Krause, a direção da Colônia Hansa, através da
interveniência do Superintendente Schrader, convocou o caçador de bugres
Martinho. Ele chegou em novembro com alguns caçadores aos quais, na Hansa,
outros mais se incorporaram, e o grupo com vi~te homens adentrou a floresta.
Depois de percorrer a região do Krauel-Indios, retomou sem obter sucesso. Não
conseguiu alcançá-Ios porque tomaram grande dianteira. Além disso, Martinho
declarou-se satisfeito de não ter, desta feita. topado com os índios, porque pelos
indícios e vestígios de cinzas dos pousos abandonados, deveriam beirar os qui-
nhentos. e para enfrentar um número tão elevado de bugres o seu pequeno grupo não
estava capacitado.
Por isso, Martinho seguiu para a região do Braço do Oeste, onde encontrou
rastros dos bugres que passaram pela Hansa, e foi-lhes no encalço pela mata.
Desta vez teve mais sOl1e e, a 30 de dezembro de 1906, retomou, trazendo
capturadas 2 bugras, 5 meninas e 3 rapazes. Trouxe também apresados 7 cachorros,
muitos arcos, flechas, lanças e outros objetos. No pouso encontraram vários objetos
roubados aos Krause, que, recolhidos, comprovaram tratar-se do mesmo bando de
bugres que assaltara a Hansa, em Rio dos Índios. Esta incursão custou mais uma vez
uma vida ao grupo de Martinho.
Os índios capturados, ajulgar-se pela cabeleira, pertenciam, como na batida
anterior, aos coroados. Só três dos rapazes, com mais idade, tinham os lábios
perfurados e conseqüentemente pertenceriam à tribo dos botocudos. Martinho
explicou a singularidade com o seguinte argumento: os coroados como inimigos
mortais dos botocudos provavelmente, num entrevero, os capturaram e
retiveram-nos em sua companhia.
Os bugres aprisionados foram igualmente entregues ao convento, onde se
Aliás, no último assalto, novamente se pôde verificar que o principal objetivo encontravam as mulheres anteriormente capturadas, e todos se reconheceram.
dos bugres não era, primordialmente, o assassinato. O ódio ao branco e a sangrenta Interessante foi que a mulher, até então muito dócil e jeitosa. desde a chegada dos
vingança contra ele jurada pelo índio nada mais é do que apenas invencionice e novos se tornou rebelde e desobediente e, segundo deixava transparecer, só pensava
lenda de literatura. em fugir. Provavelmente supunha que seu marido morrera no combate com
Ao índio interessava somente apossar-se de objetos que lhe eram necessários, Martinho e, informada de que continuava vivo e que tomara outra companheira,
tais como ferramentas, tecidos, etc. Indiferentemente, pouco se lhe dá, em absoluto, ficou contrariada, razão por que mudou seu comportamento. Porém, nada se conse-
liquidar um branco, mas não é essa a finalidade de seus assaltos. Exemplificando, guiu saber sobre o real motivo de sua rebeldia, embora já dominasse suficientemente
mataram a menina dos Krause apenas porque ela correu em direção à roça para o alemão para dá-Io a conhecer, nesse idioma.
avisar seus pais, os quais obstariam o roubo, o que os índios queriam impedir. Ao Entrementes o clamor contra os "massacres dos índios" aumentava sempre, e
bebê que estava no berço nada fizeram de mal, retiraram-no e o deitaram no chão e em Florianópolis organizaram uma d~te~minada "Liga Patr~ótica" que tomou a si a
só levaram a roupa de cama.63 proteção destes pobres sI1vlcolas. Essa proteçao, entretanto, a Liga dava
unilateralmente, e consistia apenas em desculpar os bugres por seus assaltos e pela
matança de colonos; e tentava, por todos
os meios, impedir sua perseguição e evitar a aplicação das merecidas pistolas (garruchas), que são mais f~cilmente manuseáveis que as es-
represálias. Quando um grupo de colonos se punha a caminho na selva, após o pingardas. Este é o sinal para que.mm~a gente, por sua vez, comece a
aparecimento dos bugres, só para afugentá-los das imediações, logo disparar e gritar, avançando em dlreçao do rancho de armas.
esbravejavam contra a "carnificina de bugres". Se porventura somassem todos Sobressaltados com tão terrível pandemônio, os índios acordam de
os bugres mortos por Martinho e outros bugreiros, conforme alegavam os seu sono profundo, pulam correndo para o rancho das armas, que
simpatizantes da dita Liga, a floresta teria fervilhado de tantos selvagens quanto encontram tomado, então abandonam tudo e fogem, tão celeremente
um formigueiro. E isto, absolutamente, não era verdade, pois experientes quanto possível, para a escuridão da floresta.
autoridades conhecedoras eméritas das selvas, como Emil Odebrecht e As mulheres, que têm crianças pequenas e aquelas que não des-
Friedrich Deeke, muitos anos antes dos feitos de Martinho, estimaram o número pertaram tão rapidamente, se jogam no chão erguen_do as mãos e pedindo
total de índios, na região do Itajaí, em 150 e no máximo até 200 indivíduos. E clemência. Tão logo são levantadas, lhes dao U~l. tap~ no ombro, gesto
como mais tarde, por ocasião do seu aldeamento, realmente este número mais que para elas significa serem declaradas priSIOneiras, passam a
ou menos coincidia, a quantidade dos abatidos não podia sertão elevada, tanto
comportar-se como tal e obedecem a cada aceno meu, de modo que não é
mais é sabido que nessa raça é quase nulo o acréscimo populacional, mediante o
difícil tirá-Ias da floresta. Com a gritaria e os tiros, os outros
incremento da taxa de natalidade.
companheiros da retaguarda se aproximam. Com isto se encerra a
Tempos depois soube-se que, nestas caçadas aos bugres, mataram
tarefa.
pouquíssimos índios e só em raras ocasiões. O famoso bugreiro Martinho, certa
vez, me contou a seguinte aventura: Quando muito ainda olhamos por baixo das tranqueiras e em~ra-
nhado de galhos para ver se lá não ficou, eventualmente escondld~, alguma
"Quando entro na floresta, acompanhado de cerca de 20 homens.
criança e exploramos as redondezas do acampamento. De~01s juntamos
não se pense que eu caía com essa tropa sobre os bugres para aniquilá-los,
todas as armas, como arcos, flechas, lanças e outros objetos que são
como a maioria do povo julga. A maior parte dos homens do grupo é
ocupada no transporte da munição, equipamentos e mantimentos e, amarrados da melhor forma possível p~ra se:e~l.transpo~tados. O que não
somente eu com poucos companheiros, seguimos quase sempre bem na se pode carregar é queimado e entao se IIllC/(/ a cammhada de regresso
dianteira, de sorte que sou obrigado a passar noites inteiras sem comer, para casa, com toda a presa.
nem beber, acocorado atrás de algum tronco de árvore. Quando pressinto Eu interrompi perguntando: _ Os selvagens que fugi~am n~o tentam
a proximidade dos índios, então deixo para trás o mais próximo interceptá-Ios para, ao menos, resgatar as mulheres e cnanças.
companheiro e vou sorrateiramente me esgueirando, so::inho, até próximo _ Elesjá não podemfazercoisa alguma, respondeu-me Martinho, pois
do acampamento para observar-lhe a situação e avaliar, mais ou menos, o não têm mais armas e além disto é enorme seu pavor das arma~ de fogo.
nlÍmero de seus ocupantes. Depois retorno, furtivamente, para junto de Contentam-se em, de uma distâ~cia segura, com grande alarido,
minha gente. insultar-nós com seu palavreado, multas vezes acompanhando-nos por
No dia seguinte ao amanhecer, com poucos homens, volto, cuida- dias seguidos. .
dosamente, até próximo do acampamento e, para encontrar o carreiro, Mas, então perguntei: - Como você consegue, sem ser pressentI-
basta-nos a luz das pequenas velas de cera. Depois posiciono os homens em do, descobrir e espreitar o acampamento? .
redor do pouso, pouco distanciados um do outro, e aguardo até que a _ Bem esta arte é minha maior especialidade, disse-me sorn~do.
claridade seja suficiente para dispensar a luz da vela. Nisso eu vou, ,. .b d 't ldo todos estão reullldos
absolutamente só, até o rancho e em corrida pulo saltando para o local Rastejo sorrateiramente, a oca a n01 e, qU(// .d
m cedo quando todos am a
onde estão as armas. Os bugres têm o hábito de pendurar à noite todas as d no acampamento ou e ma ruga a, e .
dormem - por causa das danças noturnas deitam-se tã~ cansados, q~:
suas armas num cavalete específico, isto se o acampamento for pequeno, se
dormem até dia claro. Além do mais, não tenho necessld~de de apr~xI-
maior, certamente haverá mais de um lugar para abrigar as armas e
mar-me muito, posso igualmente fazer minhas observaçoes de razoavel
precisaria de outro homem de confiança, como meu irmão, que se
apossaria do outro depósito de armas. distância.
Em seguida derrubo o arsenal e inicio uma grande gritaria, P'sobre
ma coisa me parecia enigmática, e continuei indagando orem, u , V
o comportamento dos cães que os bugres possUlam: - oce
A
Foi só então que se descobriu por que é tão difícil o entendimento Por isso a Eduardo não restou alternativa, e teve que suportar as atitudes
,
I na 1Il§;:a k' NR.51 . - . dk. de insubordinação dos atrevidos indígenas, para primeiramente aprender-lhes a
'{//ngang - pOIS nao se trata proprIamente e '{//n-
língua e mais tarde, com a experiência adquirida, da: outros passos, progredindo
gangs como se supunha, /lias de botocudos, e todos os homens possuem o
famoso furo 110 lábio, onde colocam um pedaço de pau ou um osso. Só um na almejada catequese. Não se pense que fOI fácil a Eduardo tolerar o
deles fala. sofril'elmente, o idioma kaingang, enquanto alguns só ellfendem comportamento rebelde dos bugres e manter sua posição. Era muito difícil
poucas palr/I'ras. contentar os selvagens COl~ presentes, satisfazendo-os. Mal terminava a
distribuição de uma recem chegada remessa com objetos como: ferramentas,
Sobre a quantidade de selvagens ainda nada se sabe com precisão.
roupas, cobertor~s, tornava:n a exigir coisas novas e se não recebess~m rápido:
Não foi possível recenceá-Ios, porque da floresta não saem todos juntos
como desejavam, entao Eduardo teria que pagar pelo fato mediante castIgo.
nUIlW mesma oportunidade, e a informação que eles própriosfornecem do
Colocavam-no num canto e era xingado, apupado, insultado com palavrões: e
nlÍmero que representam lIão corresponde absolutamente à realidade. Os
botocudos só sabem Comar até cinco, quando muito até de;:, tudo que cutuc~do com a ponta de suas afiadas lan~as, de modo que Eduardo vIa a cad~
ultrapassa esse número é dito como "muito" ou então no superlativo. Daí Instan~e a morte diante de si.N.R.5 Com relação aos alimentos tambem .havla
também não poderem di;:er quantos indivíduos são ao todo. dificuldades, pois os bugres levaram no início só um ~ou.co de fannha e milho,
mas o resto como arroz, feijão, carne sec~, ~nnclpalmente tu~o que fosse
Eis, portanto, dado o início. Espera-se que consigam manter os
salgado, rejeitavam. Contudo, em relaçao a carne de gado, nao havia quanto
silvícolas seguros na localidade, para que terminem, de ve;:, os horrorosos
massacres de colonos - pelo menos 1/0 que se levou à conta dos botocudos. chegasse. Ao gado chamavam "cavallú" e quan~o lhes entregavam uma cabeça,
praticamente se atiravam sobre o ammal e, ainda vivo, retalhavam o corpo
cortando-o em pedaços com couro e tudo.
Depois de Eduardo, por muito tempo, suportar essa difícil situação, quase
insustentável, ela se agravou com o concurso da indisciplina e do
o Sucesso deste contato é incontestável e seu protagonista Eduardo comportamento intolerável dos índios mansos, a tal ponto que resolveu
HoerhannNR.52 tinha justas razões para ficar mais do que satisfeito. No entanto, abandonar a Estação. o que fez, durante um curto período em que os silvícolas
se ele supôs que cedo concluiria a realização da completa e definitiva se ausentaram. As conseqüências não tardaram a aparecer, quando os bugres
pacificação dos selvagens, estava redondamente enganado. Como já foi dito, os surgiram na localidade de "Índios"N.R .. 54 s~queando o milharal de um colono
bugres tornaram-se sempre mais confiantes e dirigiam-se, com mulheres e e, perseguidos, desapareceram na dlreçao noroeste.
crianças, ao Posto.
66 - Assim se denominam os coroados. (* 22) N.R.53) Conforme relatos verbais do autor à sua família, as. mulheres índias
dficavam a escarrar sobre E uar o oer ann, qu e permanecIa
. acocorado no
N.R.51l Os botocudos do Rio Plate pertenciam à tribo xokleng. de língua
centro do pátio do Posto Indígena. quando as mesmas não obtll1ham os
kaingang. ligeiramente diferenciada da língua utilizada pelas outras tribos. presentes
N.R.52) Eduardo Hoerhann e José Deeke mantiveram em toda a vida do autor. que desejavam. ..
estreitos laços de amizade.
N.R.54) Índios: localidade ao norte do município de Presidente GetulIo.
Mas, subjacente essa sua confiança, praticavam as mais desmedid~s ações
13)
mostrado, de modo plausível. que as coisas eram muitíssimo diferen-
Nesse entretempo, Eduardo recambiou os índios mansos ao Paraná e
trouxe outros em substituição, reocupando o Posto no Plate. Passou-se muito
67 - Estes selvagens só consideravam a si próprios por gente, tinham os brancos por animais
tempo sem que os silvícolas aparecessem, mas finalmente retornaram e, o que
monstruosos.
foi mais interessante, trataram Eduardo e a sua gente muito melhor, certamente tes das que imaginavam. E Eduardo que, "pari passu", tinha-se imposto
temerosos de que seus fornecedores de mercadorias e gêneros alimentícios . 1 d 1 PI N.R.55
fossem novamente embora. ao respeito, evou-os e vo ta ao ate.
o "QUARTEL GENERAL" COM A TORRE DO
Lamentavelmente o Governo reduziu a tal ponto o orçamento para o GRAMOFONE NO POSTO PLATE
Posto de catequese, que se tornou quase impossível continuar mantendo a
Estação a cujas dificuldades ainda se somavam as caluniosas notícias que por
toda parte corriam, de que o sucesso lá alcançado seria inverídico. Estavam
convencidos de que se representava uma comédia no Plate. idêntica àquela
ocorrida tempos atrás, no Ribeirão da Liberdade. Imaginavam que a encenação
era obra dos funcionários da catequese em conluio com o Diretor da Colônia
Hansa, para obter, mediante tal artifício. vultosos créditos do Governo e
impedir que cessassem as atividades do Serviço de Proteção aos Índios. que
naquela época o governo se dispunha a suspender.
Foi quando. por iniciativa do autor desta obra (José Deeke), diversas
personalidades com influência e responsabilidade em Blumenau foram
convidadas a visitar a Estação e se certificaram da veracidade a respeito dos
indígenas, dissipando as dúvidas e constatando que só faltavam os meios
financeiros para proceder às melhorias, adequando o Posto às reais
necessidades para abrigar o aldeamento definitivo. Mas isso demorou longo
tempo. e houve um período de muita carência. Os índios tangidos pela fome
desceram o Rio Hercílio e despontaram na direção do Scharlach. Os tão
temidos botocudos, que resistiram por séculos a todas as tentativas de catequese
e aproximação do branco, eram considerados, em toda parte, como
decididamente arredios e insociáveis. Só depois que Eduardo Hoerhann. com
sua atitude corajosa, os convenceu provando de que os brancos também eram
gente67, tornaram-se tão confiados. que pretendiam visitar o "acampamento
principal dos brancos". Compreenda-se que o selvagem não tinha noção alguma
do que fosse propriedade. lavoura ou criação de animais domésticos. Acredita-
vam que tudo quanto crescia nas plantações dos brancos, como batatas, aipim, d "KATHAN-GÁ.
5) Os botocudos deram a Eduardo Hoerhann o nome e ., ,. "
etc .. germinasse nos campos expontaneamente, o mesmo acontecendo com o N . . . 'd' "cabnuva .
CUJa
gado que pensavam existir vagando à solta. em grande quantidade, e que RA" madeira assim denomlOada, comumente conheCI a por
, ,. . "d d ., d Dessa forma destacando sua
característica principal e IOflexlbth a e e ngl ez, •
poderiam caçá-Ios como faziam com a caça no mato. firmeza e coragem, não se curvando diante dos obstáculos.
Mas depois que no Scharlach mataram os primeiros leitões, Ihes foi
no-lo asseguram agora.
A teoria da tribo selvagem dos coroados não mais subsiste. e todas as
mulheres e crianças trazidas da floresta por Martinho, em suas batidas,
eram botocudos. Seus parentes encontram-se no Plate - entre eles também estão
as mulheres que fugiram. Naquele tempo não se sabia que só os homens dessa
tribo usavam botoques, e os rapazes só o recebiam em certas cerimônias quando
ingressavam na puberdade. As mulheres, no entanto. têm o mesmo corte de
cabelo dos homens. O engano de Martinho é desculpável pelo fato de jamais ter
observado botoques nos bugres, pois ele nunca viu os homens que outros
alegavam ter ele massacrado, o que é uma prova de que em tempo algum
observou, pelo menos de perto, homens indígenas adultos. Sem embargo, seria
imperdoável a matança, caso verdadeira a afirmação de alguns de que durante a
chacina não observava mais atentamente as vítimas, o que indubitavelmente
aconteceria se realmente as tivesse degolado.
Atualmente prossegue lentamente a pacificação dos índios no Piate, e
Eduardo já conseguiu fazer com que não tenham mais necessidade de assaltar
14)
nas redondezas, pois tudo do que precisam lhes é fornecido pela Estação.
OS BOTOCUDOS DO PLATE ENTRE OS COLONOS NO Ademais, até hoje não se sabe a quantidade exata de silvícolas existentes,
porque nunca é possível reunir todos na Estação. De tempos em tempos se
SCHARLACH.
observam caras novas entre os bandos que regressam ao Plate das grandes
incursões venatórias que empreendem. Em todo caso. estima-se o número total
Os botocudos no Plate denominavam a si próprios de kaingangs. da da população silvícola, em 150 a 200 indivíduos.
mesma forma que os coroados. Os seus idiomas se assemelham em muitos No que diz respeito à catequese propriamente dita, ela não está se
fonemas, bem como o modo do corte do cabelo, de maneira que se deve supor demonstrando tão proveitosa quanto deveria, pois são minguados os recursos
serem os botocudos, coroados ainda bravios, ou que pertenceram originalmente aplicados. E atualmente isto também não tem muita importância para os
a esta tribo e com o tempo se misturaram com os kaingangs, conservando ainda selvagens, pois mesmo que se dispusessem a permanecer, perpetuamente, na
algumas características tribais. Tal miscigenação é bem compreensível quando Estação, tal não seria possível, por faltarem os principais meios de subsistência.
duas tribos inimigas se enfrentam, pois esses povos selvagens, quando Destarte são compelidos a empreender suas demoradas incursões de caça. Seja
vencedores, têm por hábito sempre matar somente os homens. apoderando-se como for, aos poucos e com o tempo eles aprenderão os preceitos do mundo
das mulheres e crianças. Dessa forma introduzem o idioma inimigo civilizado e o significado exato do "meu" e do "teu", etc. Quando no futuro o
incorporando-o em seu próprio, ao mesmo tempo absorvem, paulatinamente, assunto despertar maior interesse. pode ser que se consiga fixá-Ios em alguma
usos e costumes dos vencidos de tal maneira que tais procederes. antes região.
estranhos. passam a tornar-se dominantes em seu meio. Contudo. descendam No que concerne. porém, à colonização, se o rumo dos acontecimentos se
ou não os botocudos dos primitivos coroados, ou provenham de qualquer outra mantiver direcionado conforme as projeções, o problema que a questão
ascendência. uma coisa é certa: constituem um grupo racial próprio e indígena representava, ora já está solucionado, pois desde o "encontro" havido
representam a única raça indígena que ainda existe em toda essa região. Talvez no Plate, cessaram os assaltos e latrocínios, que anualmente os selvagens
seja possível que ataques anteriores fossem praticados por bandos de cometiam contra os colonos.
criminosos semi-selvagens, mas todos os males ou roubos sucedidos nos
últimos anos só podem ser atribuídos a estes botocudos do Plate, eles próprios
Niels Deeke - descendente em 2º grau, na linha reta, do autor. TRANSCRIÇÃO, COORDENAÇÃO E
Blumenau (1995) ORGANIZAÇÃO:
Cristina Ferreira - Historiadora (Título registrado na U.F.S.c., nº 0715);
Mestranda do Depto. de Pós-Graduação em
História da U.F.S.C.
Blumenau (1995)
1º Tomo:
- Dr. Hermann BJumenau (Estampa Inicial). A presente obra, após a sua edição, foi revista, corrigida e
- Vistas Panorâmicas de Blumenau. atualizada pelo autor, em época ignorada, estando o texto manuscrito
- Hermann Wendeburg. original inserido num exemplar da mesma, constante do acervo do A
- Mapas do Município de Blumenau. rquivo Histórico "José Ferreira da Silva ", sob registro n'1 6.743 (V 981
D311m).
- Esquema dos divisores de águas -delineamento de 1877, por Friedrich
Deeke. Seguem-se as observações supracitadas, através de substituições,
acréscimos e supressões, referentes aos seguintes símbolos convencionados no
decorrer do texto:
- Hermann Baumgarten. * I) Ao norte, Blumenau limita-se com os municípios de Joinville, São Bento e
- A "Comissão Antunes". Itayopolis.
- Dr. Fritz Müller (Foto I e Foto 2). * 2) Confronta-se com São Bento através do Alto Benedito Novo e região do
- C. W. Friedenreich. Cedro, enquanto que em ltayopoJis, o Governo do Paraná já instalou
- Dr. José Bonifácio da Cunha (1886). maiores povoados na região do Alto Rio Hercílio.
- Dr. José Bonifácio da Cunha (em seus últimos anos de vida). * 3) A precipitação pluviométrica atinge a marca média de 1256 mm.
- DI'. Victorino de Paula Ramos.
* 4) Dessa área quase 4000 km2 foram cedidos aos colonos, enquanto 6000 km2
- Os Federalistas em Blumenau (2 fotos).
ainda pertencem ao Governo.
- As Tropas do Governo em Blumenau (3 fotos).
* 5) A terra não cultivada do total da área do município corresponde a SQ%.
3ºTomo: * 6) O município está dividido em Q.ilQ Distritos Administrativos Blumenau,
- ESBOÇOS - Métodos adotados nas medições. Gaspar, Indaial, Encruzilhada, Hammonia, Bella Aliança, Rodeio e
- ESBOÇO - Delineamento topográfico de 1877: Perfil paisagístico, por Ascurra, que têm área e população diferenciadas.
Friedrich Deeke. * 7) Em cada um dos Q.ilQ Distritos há um Juiz de Paz, o qual por sua vez é um
- Engenheiro EMIL ODEBRECHT. representante do Cartório de Blumenau (Sede), exercendo as funções de
- Engenheiro HEINRICH KROHBERGER. escrivão e competindo-lhe a lavratura dos atos junto ao Registro Civil.
- PAUL SCHW ARZER - Primeiro "Juiz Comissário". * 8) Precipitação Pluviométrica ...................................................... 125.6 mm.
- FRIEDRICH DEEKE * 9) Pelo Decreto Provincial nº I J de 05 de maio de 1835, foram criadas
- LANÇAMENTO DA PEDRA FUNDAMENTAL DA FERROVIA Colônias no Vale do Itajaí e do Itajaí Mirim, cujas povoações
DE V. OCKEL de Blumenau - Hammonia. localizavam-se em "Pocinhos", no Itajaí e Taboleiro no Itajaí Mirim.
- VOLUNTÁRIOS PARA MANOBRAS - Blumenauenses do 55'1 Batalhão de Para dirigir estas Colônias não foram especificamente criadas
Caçadores. "Diretorias Coloniais", pois a respectiva administração era exercida pelo
- MULHERES E CRIANÇAS BUGRAS APRESADAS POR MARTI- Juiz de Paz da Freguesia do Santíssimo Sacramento (Itajahy). Como
NHO. todos os colonos eram nacionais e observavam o comportamento
-ARMAS DOS BUGRES. regional, foram deixados estabelecerem-se livreme~te e ~ maneira que
- Falsos índios botocudos no Ribeirão Liberdade. melhor Ihes agradasse. A cada colono solteiro fOi concedida parcela de
- O "Posto de Atração" no Rio Plate. terra com 200 braças (440 m) de fr:nte. O colono casado recebia 300
- O Quartel General com a Torre do Gramofone - Posto Plate. braças (660 m) e caso tivesse 3 filhos. a
medida de frente alcançaria até mesmo 400 braças (880 m) de extensão. pertencer. Porém não era o que se verificava, pois as juntas legislativas
Quantas braças de profundidade possuíam os complexos territo- regulavam sua distribuição através de leis de sua autoria.
.. ?
nms Exemplificando, no parágrafo anterior relatou-se que a fundação das colônias,
.
no grande e pequeno Itajaí foi ordenada pela Assembléia Provincial de Santa
A profundidade de um complexo de terras era medida com 500 braças, de modo
Catarina, e um ano mais tarde, em 10 de junho de 1836, esta mesma
que as dimensões da superfície, para as 3 séries de testadas frontais,
Assembléia que elaborava as leis adiantou-se ainda mais quando instituiu
correspondessem respectivamente a 200, 300 e 400 morgen. Os colonos
normas regulando a colonização particular, em cujo texto dispunha livremente
posseiros podiam ocupar a terra que melhor lhes aprouvesse, e a medição era
sobre as terras devolutas. Esta lei determinava que a colonização, mediante o
executada pelo Juiz de Paz, com o pagamento a cargo do Governo. Durante os
assentamento de cada indivíduo em particular, ou por qualquer sociedade,
três primeiros a~os de vigência do Decreto nº 11, as terras eram gratuitas e além
fosse ela nacional ou pertencente a uma entidade estrangeira, deveria obedecer
disso os colonos estavam isentos de impostos por dez anos. No início, a
às seguintes regras:
colonização dirigiu-se principalmente para as duas fundações, porém, no Itajaí
A terra poderia ser escolhida onde houvesse, desde que fosse devoluta, ou
Grande, os colonos, a fim de salvaguardaremse dos constantes ataques dos
eventualmente através de concessões já prescritas, retomadas ao domínio do
selvagens, que 'ocorreram na vizinha localidade de Camboriú, com saques e
Estado Provincial. A colonização seria procedida da seguinte forma: 200
morte de moradores, resolveram, em sua maioria, abandonar suas novas casas.
braças (440 m) de frente para um solteiro, 250 para o casado sem filhos, 350 se
Assim em 1837, em Pocinhos, permaneciam somente 6 colonos estrangeiros e
tivesse até três filhos e 400 aos que tivessem mais de três filhos. As
2 colonos luso-brasileiros. Ano após, em 1838, em Belchior foi estaciona?o um
profundidades destas parcelas deveriam ter 1000 braças, de modo que as áreas
destacamento de Pedestres, com o objeti vo de obstar as lI1vestldas dos índios.
totalizassem 400,500, 700 e 800 morgen, respectivamente.
E por esse motivo, no mesmo ano. os colonos regressaram às glebas
Com a fixação de um colono, imediatamente metade da teITa que lhe
abandonadas e passaram a sentirse mais assegurados.
indicavam passava a integrar a propriedade da empresa, a outra, decorridos
No ano de 1839. contavam-se nos lugares denominados Arraiais de Pocinho e
dez anos, seria propriedade do referido colono. Durante tais dez anos e
Belchior 65 famílias, sendo 48 nacionais e 17 estrangeiras, totalJzando 141
também após, a metade pertencente ao colono persistia hipotecada à Empresa
pessoas. No ano de 1845, o Engenheiro van Lede conduziu para Ilhota um
Colonizadora, que desta forma considerava a terra vinculada a obrigações
assentamento com 90 belgas. Seguiuse, maiS tarde, a vInda de 60 imigrantes,
pendentes de cumprimento, incluindo nessa garantia, todas as melhorias e
também belgas. Somente quando a Colônia Blumenau foi fundada é que foi
benfeitorias feitas no terreno. Somente quando as obrigações em trabalhos
demarcada a "~olôni~ Itajaí" e a sua homônima, estabelecida no Itajaí-Mirim,
prestados fosse cumprida pelo colono, a hipoteca seria cancelada, porquanto
fOI Inscnta como uma fundação colonial existente. Esta última foi
então os preceitos regulamentadores transferiam-se aos constantes da Lei do
pos~er~orm:nt.e denominada de São Luiz Gonzaga que junto com a Col~ma
Pnnclpe D. Pedro formaram uma nova Colônia na Margem Dlrella do Itajaí Governo Imperial, de 13 de setembro de 1830. Se um colono falecesse antes
Mirim, de cuja fusão surgiu, finalmente. o atual município de Brusque. do decurso dos dez anos, e as obrigações, perante o empresário, acussassem
inadimplência e não havendo herdeiros, o Bem poderia ser transferido a quem
* I O) Os respecti,:,~s funcionários favoreciam sobremaneira quem pretendesse considerassem apto no cumprimento das obrigações pendentes, ou então
leglllmar teITas, pois assim procedendo aumentavam suas renda~ retomava ao domínio do empresário. Contrariamente, o colono entraria de
consideravelmente, e também o Governo possuía suficiente capaCidade para imediato na posse definitiva da metade da terra, se o empresário morresse sem
constatar a licissitude das pretensões, através das provas exigi~a:s para deixar herdeiros que pudessem continuar a exigir o cumprimento das
comprovação da manutenção da posse pelo prazo necessano, porém fazia obrigações assumidas pelo colono.
vista grossa. concedendo indistintamente o direito à legitimação das terras dos A extensão de uma Colônia particular, que se fundasse de acordo com a última
requerentes. lei deveria ter - considerada em quadrado - duas
As terras devolutas naquela época encontravam-se jurisdicionadas
ao Governo Imperial, e, em decorrência desse domínio, os direitos deveriam lhe
léguas (1 légua = 6600 m) em todos os lados. Ao empresário competiria rodapé)
fazer as medições de todo o terreno no espaço de dois anos; e a * 16) Destarte mu.i.t.Qs resolveram abandonar suas casas e recolherem-se à
colonização deveria ser completada em até quatro anos, do contrário as selva, onde se sentiam mais seguros da perseguição.
parcelas, ainda não ocupadas, tornar-se-iam novamente devolutas. Os
colonos, bem como os demais habitantes das colônias da fundação no * 17) Não obstante, mais tarde, principalmente durante o Governo do Dr.
grande e pequeno Itajaí, estavam isentos de impostos por dez anos. Hercílio Luz, (referindo-se ao seu I º mandato de 1895 a 1899),
Esta lei talvez contivesse bons propósitos, mas não propiciou o resultado terem aplicado consideráveis recursos para a remoção do obstáculo, nào
desejado e também poucos foram encontrados que se propusessem a iograram suprimi-lo. Como é notório. embarcações de calado mais
colonizar sob tais princípios legais. Para regular as futuras colonizações, profundo não conseguem, nem mesmo hoje, chegar a Blume-
celebraram, quase sempre, contratos especiais. Mais tarde as nau.
determinações, para serem observadas numa colonização, foram várias * 18) Além disso a Cia. foi autorizada a constituir a Linha Férrea de Blumenau
vezes modificadas, mas nestas ocasiões o governo provincial foi sendo até o Porto de Itajaí e também em direção do oeste, até a fronteira com a
sempre postergado, e o Governo Imperial assumiu esses interesses, Argentina. Porém durante o decurso da Primeira Guerra Mundial a
fundando Colônias do governo e auxiliando empreendimentos de execução foi paralizada novamente.
colonização.
* 19) E depois a maneira corno faziam estes ataques. e também estavam
* 11) Em 1850 as terras do Dr. Blumenau tinham a área de 155000 morgen e até seguros dos mesmos.
1856 alcançaram 350000 morgen. Assim. já em 5 de novembro de 1808. ordenou o Rei João VI ao governo
*12) Pelo restante, transferido para o domínio do Governo Imperial, recebeu a de São paulo que tomasse medidas de .guerra contra os índios que
indenização de Rs 75:000$000 - Setenta e cinco contos de réis - e, além constantemente atacavam Lages e vlZlnhanças e que eram chamados de
disso, foi nomeado para exercer o cargo de diretor da Colônia, com "Bugres",
vencimentos mensais de Rs 500$000 - Quinhentos mil réis - (4 contos * L Boiteux Notas para a História Catarinense.
anualmente) com garantia de sua permanência na diretoria, pelo tempo *20) Dentre eles havia um que falava, um pouco, o português com o qual a
que durasse a Colonização. Senhora Beselin se envolveu numa violenta discussão. DepOIS que ele
*13) É óbvio que, de acordo com a concepção de hoje, o empenho do Governo gritou ao pessoal "Vai te embora, cambada d'italianos" - agora sabe-se
não foi tanto - pois no primeiro ano correspondia a Rs 12:912$506 - mas, que as pessoas efetivamente ouviram mal pois os botocudos. em suas
considerando que Blumenau durante toda a administração autônoma conversas. nunca utilizaram o idioma português - e a Senhora Beselin
precedente, exercida por seu fundador durante 10 anos, dispendeu no respondeu que não eram italianos mas sIm braSIleiros. ele riu com
período minguados recursos de cerca de Rs 25:000$000 (vinte e cinco escárnio e batendo as mãos: "Não, italianos!"
contos de réis), do dinheiro concedido pelo Governo como empréstimo, *2 I ) Replicando. auto-afirmando sua valentia.
pode-se muito bem imaginar quanto representava para a Colônia essa
nova situação. *22) Assim se denominam os coroados. Na verdade. naquela época a minha
concepção era errônea pois os selvagens não eram coroados. mesmo que
* 14) Quando, no ano de 1864, o Brasil iniciou a mobilização das suas tropas no estranhamente também se autodenomlOassem kalO-
Uruguai,não se supunha que a campanha de guerra durasse cinco anos.
g;.lIJ.gS.
* 15) Extraído do diário da Diretoria da Colônia. (Destinada a constituir nota de
MUOÇI;O dt'SeIIl'OiI'icla
pelo ComiHâo de FestejOJ. elol>Ol'<Ido por leué Deeke - Di1'l'ror do
RELAÇÃO PARCIAL DAS OBRAS DE Coml'ollllia Cololli~adora Hallseâtico em Homllumio1897-1922;.
AUTORIA DE JOSÉ DEEKE Alemão - Impresso - Blumenau. Tip. Baumgarten, 1922 -Traduzida - 1 12 p.
Loc.: A.H.J.F.S. - V 981 DEE-DlE
~: A.H.J.F.S. in "Blumenau em Cadernos" - Tomo XXIX - nO 11112 - p. 318-333 - 1988.
08 -DEEKE,JOSÉ. EIN FAI I. A!!S DER TYRANNENZEIT. (UIII Episódio da Época da Tirallia)
Alemão - Manuscrito - Traduzida -Inédita - 7 p.
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.D.7.3 - doc. 29. Obs.: Época
01 - DEEKE,JOSÉ. EIN KIND DER KOLONIE. rulll Filho da Coliillia) Alemão - aproximada: 1922.
Datilografado - Inédita - 162 p.
09 - DEEKE, JOSÉ. RELAÇÃO DAS DATAS HISTÓRICAS E INFORMAÇÕES SOBRE A
Loc.: Arquivo Histórico "José Ferreira da Silva" IA.H.J.F.S.I- V 1569 D295e 00'.: Descri,ão da
FUNDAÇÃO DA COLÔNIA BLUMENAU- Até o ano' de 1925. Português - Manuscrito
infãncia.juvenlLlde, iniciação profis.,ional e recordações íntimas do autor nu c'otidiano da (existente no Instituto Hans Staden) - São Paulo - 27 p. Loc.: A.H.J.F.S. - V 981 D3 J Id
Colilma Blumenau. utilizando nomes liClícios.· 10- DEEKE, JOSÉ. DIE KOLONISATION DES ITAJAHY -GEBIHES' Betrachtuol:eo zum 75
Época aprox imilda: 191.\. Jahril:eo Jubilaym der GriiodY0l: der Kolooie Blymeoay. (A Cololli~ação da Região do
02 - DEEKE, JOSÉ DIE HANSEATISCHEN KOLONIE IN STAATE SANTA CATHARINA Itajaí, cOllsiderações para o Jubileu dos 75 Allos da FUlldação da Colôllia Blulllellau)
BRASILlEN ZliR AUSKUNFTERTEILUNG AN AUSWANDERUNGSLUSTIGE. Alemão - Impresso io "Der Urwaldsbote" - Blumeoau, fevereiro/l926 (edição
VEROFFENTl INCHUNG DER HANSEATlSCHEN KOLONISAIIONSGESEll SCHAFT m festiva) - 6 p.
b H BI lIMENAIJ.(AsColiilliasHall.\I'iÍticm 110 Es/(/d" de 501110 Cmarilla. Brasil. Loc.: A.H.J.F.S. - UR 52IUR 53 (Seção de Periódicos)
Publicação da Colol/i~udora Hallseâtica "isalld" j'Jmelltur a Emigração)
Sybtítulos:
Alemão -lmpre''l' - Blumenau. Tip. Baumgarten. 1920 -11 P Oos.: A
mesma obra foi impressa I ano depois (1921 ). 1- Die Kolonisation des Itajahy-Gebietes (A Colonização da Região do Itaja/) 2- Die
Mitarbeiter Dr. Blumenaus (Os Colaboradores do DI'. Blumellau)
Loc.: A H.J.F.S.- Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.D.7.3 - doe. 07
3- Politisches, Wirtschaftliches und Soziales (Políticas, Administrativo-Econômicas e Assistellciais)
03 - DEEKE, JOSÉ DIE HANSEATISCHEN KOLONIE lN STAATE SANTA CATHARINA 4- Dir Wirtschaftliches Entwickelung Blumenaus (A Evolução Econômico-Adminis-
BRASILlEN ZUR AUSKUNFTERTEILUNG AN AUSWANDERUNGSl OSTIGE. trativa de Blulllellau)
VEROFFENTLlNCH!JNG DER HANSEATISCHEN KOLONlSATIONS GESFI I SCHAFT 5- Übersicht iiber die Entwickelung des evangelischen Gemeidelebens in Blumenau (Aspectos
m b H Bl lIMENA!!. (As Coliillias Hallsl'Cíticas 110 Estudo de sUllta Ca/(/rilla. Brasil. sobre o Desem'oll'Ímelllo da Comullidade Evallgélica em Blumellau) 6- Geschichte der
Publicação do Cololli~(/{Iora Hallseâtico \'isalldo jÓlllelllar a Emigraçtiu) Evangelich-Lutherischen Pfarrgemeinde Indayal (História da Paróquia Evallgélica LlIIerana
de Indaial)
Alemão-lmpre,,0-1921-lóp.
Loc.: A.H.J.ES. - V 9H I DJII b 7- Kurze statistische und historische Ausstellung iiber die Einwanderung deutscher Kolonisten
Obs.: A mesma obra foi impressa com aditivos e completada, aumentada e puolicada 5 ano, Katholiscber Konfession in Blumenau (Resumido Exposição Histórica e Estatística
sobre o Imigração dos Colonos Alemães de COllfissão Carólica em Blumellau)
depois (1927).
8- Unsere Kolonie Schulen (Nossas Escolas Cololliais)
0-1 - DEEKE, JOSÉ. DIE HANSEATISCHEN KOI ONIE. (As Col(mias Hallseâticm) Alemão - 9- Ein Besuch bei den Botokuden am Rio Plate (Uma Visita aos Borocudos 110 Rio
Impresso in "Uhle's Kalender" - Curitiba - 1921 - p. 73-75 Piare).
Loc.: A.H.J.ES. - V 059 UHL KAL Obs.: Contém 39 estampas.
05 - DEEKE, JOSÉ ZUR GESCHICHTE DER KOLONISATION MIT DEUTSCHEN AM 11 _ DEEKE, JOSÉ PIE HANSEATISCHEN KOLONIE IN STAATE SANTA CATHARINA
UNIEREN IIAJAHY- vor der GrÜndun~ Blumenaus.(subsídieu paro a História da BRASILIEN ZUR AUSKUNEfERIEII UNG AN AUSWANDERUNGSLOSIIGE.
Cnlcl/li~arâo Alemti 110 Boixo-ltajaí - Allles da FUlldartio de Bllllllellou) Alemiio - Impresso VEROFFENTLINCHUNG DER HANSEATISCHEN KOLQNISAIIONS GESFI I
in "BLUMENAUER ZEJIUNG" -n· 8 - Ano -I I ··26 de janeiro de 1922 - p. 2. SCHAEf m b H RI! JMENAU. (As Colôllias Hallseâucas 110 Estado de sall1a Catarillo,
Loc.: A.H.J.F.S. - BZ 25 (Seção de Periódicos) Brasil, Publicação visalldo fomentar o Emigraçtio)
Alemão _ Impresso - 1927 - 19 p. - 2 mapas - sem citação do nome do autor. .
06 - DEEKE, JOSÉ. WAS AI TE ZEIIUNGEN ERZAEHI EN.(O 'IU<' CO'"l1/l1 0.1 alltigosjol'llois)
Loc.: A.H.J.F.S. -Coleção COLONIZAÇÃOIIMIGRAÇÃO- Sociedade Colomzadora
Alemão -Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com o Jornal "Der Urwald,bote") -
Hanseática - Diversos - 2.3.5.7. - doc. 08.
nº.\O - Blumenau. 711 011922 - Série "Erinnerungen" = "Recorda,'ões" Loc.: A.H.J.F.S. - Obs.: Contém 2 mapas: livro sem citação do nome do autor.
Cole,ão FA\IÍLlAS - Família Deeke -3.D.7.3 - doe. 06 12 - DEEKE,JOSÉ. PERTAYÓ BERG. (O Morro Taió)
07 - DEEKE, JOSÉ DIE KOLONIE HAMMONIA ZU IHREN 2S JAHRIGEN BESTEHEN: Alemão -Impresso in "Der Urwaldsbote" - nO 8 - Blumenau, 261711929 - 1 p.
AufVeranlassun~ der Festkomission bearbeitet von José Deeke Direktor Der Hansealischen Loc.: A.H.J.F.S. - UR 63/UR 64 (Seção de Periódicos)
Ko!onien Hammonjo - J 897- J 911.(A Colôllio HOIIIIIIOllill 110 seu 25" (mo de FUlldaçâo: o
Loc.: A.H.J.f.S. - Coleção FAMÍLIAS - famflia Deeke -3.D.7.3 - doc. 09. Obs.:
13 - DEEKE, JOSÉ. ERHAI.T!!NG DES DE!!TSCHTIIMS IN BRASIl IEN. (Preservação da Época aproximada da obra - 1926.
Cullllra e costumes alemães 110 Brasil) 24 _ DEEKE, JOSÉ. CARLOS DA CAPA BLANCA: Die Geschjchte ejnes Yerschollenen.
Alemão - Impresso in "Der Urwaldsbote" - Blumenau, 17 setembro de 1929 - p. I
(Carlos da Capa Blanca: a História de um Expatriado - olvidado pelos seus
Loc.: A.H.J.F.S. - UR 65 (Seção de Periódicos)
conterrâneos)
14 - DEEKE,JOSÉ. DEM ANDENKEN DER fRAUEN.(À Memória das Mulheres) Alemão -
Alemão - Datilografado - Inédita - 256 p.
Impresso in "Der Urwaldsbote" - Blumenau, 15 novembro de 1929 - nO 40-p.3
Loc.: A.H.J.f.S. - UR 65 (Seção de Periódicos) Loc.: A.H.J.F.S. - V 869 D3llc
Obs.: Época aproximada da obra - 1930.
15 - DEEKE, JOSÉ. 100 JAHRE KOLONISATION IN SANTA CATHARINA.(100 Anos da
Colonização em Santa Catarina)
Alemão -Impresso in "Der Urwaldsbote" - Blumenau, 15 novembro de 1929 - nO 40 A
-p. I
Loc.: A.H.J.f.S. - UR 65 (Seção de Periódicos)
16 - DEEKE, JOSÉ. DOKUMENTE ZlJR DEUTSCHEN KOLONISATlON IN SANTA 25 - DEEKE,JOSÉ. OKKUl.TISMUS.(Ocultismo)
CATHARINA.(Documelltos Relativos à Colonização Alemã em Sallta Catarina) Alemão - Manuscrito - Inédita - 30 p.
Alemão - Impresso in "Der Urwaldsbote" - Blumenau, 15 novembro de 1929 - nO 40 Loc.: A.H.J.f.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke - 3.0.7.3 - doc. lI.
A -p. 3-4 Obs.: Época aproximada da obra - 1927
Loc.: A.H.J.f.S. - UR 65 (Seção de Periódicos) 26 - DEEKE, JOSÉ. ALBERTO KORfELD.(Alberto Korfeld)
17 - DEEKE, JOSÉ. DER DEUTSCHSTAMMIGE BEYOI.KER!!NGSANTEII. IN SANTA Alemão _ Impresso in "Kalender für die Deutschen in Brasilien - 1929" - São
CATARINA' Kurze Daten.(O Percelltual de Alemães na População em Santa catarina) Leopoldo - Rotermund & Co. - p. 80-96.
Alemão - Impresso in "Der Urwaldsbote" - Blumenau, 15 novembro de 1929 - nO 40 Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 KI4k
A - p. 5 27 - DEEKE, JOSÉ. ESPERANTO. (Esperanto)
Loc.: A.H.J.f.S. - UR 65 (Seção de Periódicos) Alemão _ Impresso in "Kalender für die Deutschen in Brasilien - 1931" - São
18 - DEEKE, JOSÉ. GESCHICHTE DES BUNDESSTAATES SANTA CATHARINA - Leopoldo - Rotermund & Co. - p. 87-104.
Kurzer Uberbhck von José Deeke.(História do Estado de Santa Catarina - Sinopse de Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 KI4k
José Deeke)
Alemão - Impresso in "Aus Zur Jahrhunder-feier, Herausgegeben von G. Artur
Koehler" - (2 Heft) - ("folheto Comemorativo das Festividades do Centenário da Assunto: í&nro
ImIgração Alemã" - publicação d~ G. Arthur Koehler) - Blumenau. 1929 - p. 2-8 Loc.:
A.H.J.f.S. - Coleção FAMILIAS - famflia Deeke -3.0.7.3 - doc. 14 28 - DEEKE, JOSÉ. GEORG KNOLL.(Georg Knoll)
19 - DEEKE,JOSÉ. YOR 37 JAHREN. (Há 37 Anos) Alemão- Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuídocom·o Jornal "Der Urwalds-
Alemão-Impresso in "Der Urwaldsbote" - Blumenau, 01 agosto de 1930- nº 10-p. I bote") São Paulo, 23/911921 -p. 3-4.
Loc.: A.H.J.f.S. - UR 65 (Seção de Periódicos) Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - famflia Deeke -3.0.7.3 - doc. 06
20 - DEEKE, JOSÉ. HUNDERT JAHRE DEUTSCHTIIM IN SANTA CATHARINA. (Cem 29 _ DEEKE, JOSÉ. W AHRE TRAUME - "Erinnerungen von José Deeke". (Sonhos Reais -
Anos de reuto-Brasileiros em Santa Catarina) Recordações por José Deeke)
Alemão - Impresso in "Kalender für die Deutschen in Brasilien - 1930" - São Leopoldo Alemão- Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com o Jornal "Der Urwalds-
- Rotermund & Co. - p. 39-48. bote") - São Paulo, 30/911922 -p. 5-8
Loc.: A.H.J.f.S. - V 059 KI4k Loc.: Arquivo "Niels Deeke" (A.N.D.)
21 - DEEKE, JOSÉ. BLUMENAUER UNKUEMER.(Excêlltricos Blulllenauenses) 30 _ DEEKE, JOSÉ. NEULINGSPLANE.(Projetos de Principiante)
Alemão - Manuscrito - Inédita - 9 p. Alemão -Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com o Jornal "Der Urwalds-
Loc .. : A.H.J.f.S. - Coleção FAMÍLIAS- famflia Deeke -3.0.7.3 - doc. 30. bote") _ n049 - São Paulo, 9/12/1922 - I' parte e nO 50 - São Paulo, 1611211922 -2'
ReVista "Blumenau em Cadernos" - Tomo XXXII- Agostol199I - p. 237 Obs.:
parte) •
Sem data. Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMILIAS - Família Deeke -3.D.7.3 - doc. 06
Obs.: Projetos de um iniciante na vida profissional.
31 _ DEEKE, JOSÉ. SONNTAGSJAGEREI.(Caçadas de Domingo) Alemão-Impresso in
Assunto: Romance "Hausfreund" (Encartedistribuído com o Jornal "Der Urwaldsbote") _ nO 63 _ São
Paulo, 1010211923 _I' parte e nO 64 - 2' parte.
22 - DEEKE, JosÉ. SILYANA.(Si/vana) Loc.: A.H.J.F.S. _ Coleção FAMÍLIAS - Famflia Deeke -3.D.7.3 - doc. 06
Alemão - Impresso in "Kalender für die Deutschen in Brasilien - 1925" - São Leopoldo 32 _ DEEKE JOSÉ. DER JABOTICABABAllM. (A Jaboticabeira)
- Rotermund & Co. - p. 149-169. Alemão'- Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com o Jornal "Der Urwalds-
Loc.: A.H.J.f.S. - V 059 KI4k
bote") - São Paulo, 26/511923 - 2 p.
23 - DEEKE, JOSÉ. DIE INDIANERIN. (A India)
Loc.: A.H.J.F.S. _ Coleção FAMÍLIAS- Família Deeke -3.0.7.3 - doc. 06
Alemão - Manuscrito - Inédita - 191 p.
33 - DEEKE, JOSÉ. GESPENSTER.(Fali/asma) Alemão-Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com oJornal "Der Urwaldsbote")
Alemão -Impresso in "Die Neue ,Heimat" - Curitiba, julho de 1923 - p. 288-29 I. Loc.: - São Paulo, s.d. - I' parte ,4 p. - 2' parte 3 p.
A.H.J.F.S. - Coleção FAMILIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 06 Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMILIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 06
34 - DEEKE, JOSÉ. DER WAl PNARR.(O Bobo da Floresta)
Alemão -Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com o Jornal "Der Urwalds-
bote") - nO 47 - São Paulo, 2411 111923 - 4 p.
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 06
35 - DEEKE, JOSÉ. EINE JApGESCHICHTE. (Um COll/O de Caçada) Alemão-Impresso in 46 - DEEKE, JOSÉ. PEUTSCHBRASILlANISCH. (Assumos Teuto-brasileiros) Alemão -
"Hausfreund" (Encarte distribuído com oJornal "Der Urwaldsbote") - São Paulo, s.d Impresso in "Hausfreund" - Encarte distribuído com o Jornal "Der Urwaldsbote" - nO 46
Loc.: A.N.D. - São Paulo, 1811111922 - I' parte e nO 47 - 2' parte.
Obs.: Época aproximada - 1923. Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 06
36 - DEEKE, JOSÉ. WAI DESZAUBER- Skisse von José Deeke. !O Encanto das Florestas - 47 - DEEKE, JOSÉ. DEUTSCHBRASILlANlSCH.(Assuntos Teuto-brasileiros) Alemão
ReSl/mo de José Deeke) -Impresso in "Die Neue Heimat" - Curitiba, 311811923 - p. 346-350. Loc.:
Alemão - Impresso in "Kalender für die Deutschen in Brasilien - 1924" _ São Leopoldo - A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 06
Rotermund & Co. - p. I 13- I 17. 48 - DEEKE, JOSÉ. AUF PEM WEGE DER POLITIK - Was ejn "poljtjscher Anhaeni:er"
Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 K 14k erlebte. (A Trajet6ria da Política - Vivência de um Cidadão Submetido às Diretri~es da
37 - DEEKE, JOSÉ. DOPPELSINNIGE WORIE.(Palavras de Duplo Ellfendimellfo) Alemão - Política).
Impresso in "Kalender für die Deutschen in Brasilien - 1924" _ São Leopoldo - Alemão - Impresso in "Kalender für die Deutschen in Brasiljen - 1923" - São Leopoldo -
Rotermund & Co, - p. 235-243. Rotermund & Co - p. 231-261.
Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 KI4k Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 KI4k
38 - DEEKE,JOSÉ. DlE FREUNDSCHAfT.(A Ami~ade) Obs.: História da última década do século XIX.
Alemão - Impresso in "Kalender für die Deutschen in Brasilien - 1927" - São Leopoldo - 49 - DEEKE, JOSÉ. ERHALIllNG PES pEJ!TSCHTlJMS IN BRASII.IEN. (Preservação da
Rotermund & Co. - p. 16 J -209. Culfllra Tellfo-Brasileira no Brasil)
Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 KI4k Alemão -Impresso in "Der Urwaldsbote" - N° 23 - Blumenau, 17/911929 - p. I Loc.:
A.H.J.F.S. - UR 63IUR 64 (Seção de Periódicos)
39 - DEEKE, JOSÉ. IEDEM DAS SEINE.(A cada qual o que é seu) Alemão 50 - DEEKE, JOSÉ. PREI STERNE PES BRASIL - PElJISCHIllMS IN SANTA
- Manuscrito -Inédita - 15 p. CATHARINA.(Três Estrelas Teuto-Brasileiras em Santa Catarina)
Loc.: ~.H.J,F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 _ doe. 24. Obs.: Alemão - Impresso in "Aus zur Jahrhundert-Feir, Heraus gegebem von G. Arthur
Epoca aproximada da obra - 1928. Koehler" - 2 Heft ("Folheto comemorativo das festividades do Centenário da Imigração
40 - DEE~E, JOSÉ. REISEUNANNEHMIICHKEIIEN.(Aborrecimentos da Viagem) Alemao - Alemã, publjcado por G. Arthur Koehler" - 2 Cadernos) - Blumenau, 1929 - p. 22-23.
Impresso Jn "Kalender fiir die Deutschen in Brasilien - 193 J" - São Leopoldo - Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 15
Rotermund & Co. - p. 195-229. Obs.: Três estrelas: Victor, Adolpho e Marcos Konder.
Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 K 14k
41 - DEEKE, JOSÉ. UM DAS BRASIL-DEUTSCHTUM. (Em Defesa do Patrimônio Cultural
Teuto-Brasileiro) Assunto: Genealogia
Alemão - Impresso in "Kalender für die Deutschen in Brasilien - 1932" _ São Leopoldo,
Rotermund & Co - p. 49- 71. 51 - DEEKE, JOSÉ. CHRONIK DER FAMILlE DEEKE - Zusammeni:esteJlt von José peeke
Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 KI4k (1662 a 1925).(Crônica da Famflia Deeke - organizada por José Deeke1662 a 1925)
Obs.: Abordagem dos aspectos dualistas, políticos, ideológicos e raciais. 42 - Alemão - Datilografado -Inédita - Hammonia, 1925 - 41 p. Loc.:
A.N.D.
DEEKE,JOSÉ. DlE HEXE. (A Bruxa)
Alemão - Manuscrito - Inédita - 21 p.
Loc.: A.H.J,F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 23.
43 - DEEKE, JOSÉ. DER FALSCHE HUNDERTER.(O Falso Milionário) Alemão-Impresso
in "Hausfreund" (Encarte distribuído com oJornal "Der Urwaldsbote") - São Paulo, s.d.
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 06. 52 - DEEKE, JOSÉ. AM 7 SEPTEMBER 2022.(Em 7 de Setembro de 2022)
Alemão -Impresso in "Uhle's Jahrbuch - 1923" - São Paulo - p. 49-53. Loc.:
44 - DEEKE, JOSÉ. HERMANN WOLIERTS KUNSTREISE_ Humoreske. (Hermann
Wo!terts e sua proveitosa viagem) A.H.J.F.S. - V 059 UHL KAL
Alemão-Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com oJornal "Der Urwaldsbote") 53 - DEEKE, JOSÉ. KI 10 NEMJ)S:Skim. (Klio Nemus: Ensaio)
- I' parte 2 p. - 2' parte 3p. - São Paulo, s.d. Alemão - Manuscrito -Inédita - 15 p.
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 _ doe. 06 Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 21. Obs.:
45 - DEEKE, JOSÉ. PAClENClA.(Paciência) Época aproximada da obra - 1925.
54 - DEEKE,JOSÉ. DER BllERGERMEISTER(O Prefeito) Alemão Alemão - Impresso in "Uhle's Jahrbuch 1923 - São Paulo - p. 77-80 - com seis estampas
- Manuscrito -In~cllta - 18 p. - Traduzida.
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 22. Obs.: Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 UHL KAL
Época aproximada da obra - 1930. Ii:adação: A.H.J.F.S. in "Blumenau em Cadernos" - Tomo XXIX - janeiro de 1988
55 - DEEKE, JOSÉ. PIE LEBENSVERSICHERUNG.(O Seguro de Vida) -p.17-21
Alemão - Manuscrito - Inédita - 7 p. 64 - DEEKE, JOSÉ. ETWAS VON DEN BOTOKUDEN.(Algo dos Borocudos)
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLlAS- Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 25. Obs.: Alemão - Impresso in "Der Urwaldsbote" - Blumenau 06/8/1929 - p. 02 Loc.:
Época aproximada da obra - ! 930. A.H.J.F.S. - UR 63/ UR 64 (Seção de Periódicos)
56 - DEEKE, JOSÉ. PIE SCHMAROTZERPFLANZE.(A Parasita - Ervas de Passarinho) 65 - DEEKE, JOSÉ. A SERENATA DO TROPEIRO(ToadaIPoema)
Alemão - Impresso in "Kalender fúr Pie Deutschen in Brasilien - 1928" - São Leopoldo - Português - Datilografado - 1 p. .
Rotennund & Co- p. 161-163 Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLlAS- Famíha Deeke -3.0.7.3 - doe. 27.
Loc.: A.H.J.F.S. - V 059 KI4k Obs.: Elaborada por volta de 1897. com motivos regionais do planalto de Santa Catarina.
57 - DEEKE, JOSÉ. SCHÚNE ORCHIPEN.(As Belas Orqufdeas) 66 - DEEKE, JOSÉ. PROTESIQ.
Alemão -Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com oJomal "Der Urwaldsbote") Alemão - Impresso in "Blumenauer Zeitung" - Ano 18 - n' 40 - Blumenau.
- São Paulo. s.d. - 2 p. 0711011899 - p. 3 ~
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLlAS- Família Deeke -3.D.7.3 - doe. 06 Obs.: Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.D.7.3 - doe. 01.
Época aproximada - 1928. Obs.: Protesto asseverando cumprimento de fonnalidades legais - suposto I' artigo
58 - DEEKE,JOSÉ. DER NATJIRFORSCHER,(O Pesquisador da Natureza) ~impresso do autor. r
Alemão -Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com o Jornal "Der Urwalds- 67 - OEEKE, JOSÉ. MEMORANOUM ZUR AUSTELLUNG UND UNTERHALTUNG
bote") - São Paulo. s.d. - 3 p. EINER KRANKENSCHWESTER 1M HOSPITAL ZU HAMMONIA 1914.
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 06 Obs.: (Memorando para Apreciação e discussão por parre das EnfermeIras do Hospiral de
Época aproximada - 1928. Hammonia)
59 - DEEKE, JOSÉ. HERVA MATE UNO SEINE KULTUR. (A Erva Mate e aSila Cultura) Alemão - Datilografado - Original- 3 p.
Alemão -Impresso - (sem indicll5ão de fonte) Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.D.7.3.- doc. 28. Obs.:
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMILlAS- Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 19 Obs.: Circular de sugestões para o entretenimento de uma enfermeira.
Época aproximada - 1928. 68 - DEEKE, JOSÉ. PlÁRIOS.
60 - DEEKE, JOSÉ. RESERVAS FLORESTAIS E REFLORESTAMENTO. Parcial AlemãolParcial Português - Manuscrito-1919 (211/1919). 1920,1921. 19~2.
=
Português - Impresso in "Der Holzmarkt" "Mercado de Madeiras" (Periódico da "Liga 1923.1924.1925.1926.1927.1929.1930.1931 (l6l8-últimaanotação)-lnédJta.
das Serrarias de Blumenau") - Ano 1 - nl 3 - Blumenau. seI. 1930. Loc.: A.N.D. ' .
Loc.: A.H.J.F.S. - V 553 H763h Obs.: Em 25/8/) 931 sua esposa Emma Deeke encerra o diário com o relato circuns-
Revista "Blumenau em Cadernos" - Tomo XXXI- Março/I 990 - p. 87 tanciado do seu passamento. em 24/811931.
69 _ DEEKE, JOSÉ. PROJETO AROUlTETÓ!"!ICO DA SEDE DO PRÉPlO DA
"COMPANHIA COLONIZADORA HANSEATICA". _.
Projeção frontal da fachada e planta baixa com estrutura das fundaçoes (alIcerces).
Obs.: Época presumida: 1920-) 9~3. . '
61 - DEEKE, JOSÉ. EIN ERFOI G DER I AJENKATECHESE.(Um Sucesso da Cate- Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMILlAS - Fanulla Deeke - 3.D.7.3 - doc. 32.
queseÚ!iga) 70 - DEEKE, JOSÉ. PROJETO AROUlTETÓNICO DA "EVANGELlSCHE KIRCHE
Alemão -Impresso in "Blumenauer Zeitung" - Blumenau. 03 de outubro de 1914N'57 -p.
1 HAMMONIA·'.(Igreja Evangélica de Hammo~ia) . . .
Desenho da fachada e interior - projeções arqUltetônlco-estruturals - planta baixa e
Loe.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLlAS- Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 03
Obs.: Artigo citado na íntegra no capítulo referente à "Questão Indígena" do livro "O disposição solar - 01/0211927.
Município de Blumenau e a Hist6rla de seu Desenvolvimento". Original - feito a mão - tinta nanquim.
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMILlAS - Família Deeke -3.D.7.3 - doc. 10.
62 - DEEKE, JOSÉ. FAl.SCHE INDEANERGRABER (Falso Cemirério Indfgena) Alemão- 71 - DEEKE JOSÉ. AUS MEINER SCHULZEIT.(Do meu Período Escolar) Alemão'-
Impresso in "Hausfreund" (Encarte distribuído com o Jornal "Der Urwaldsbote") - n' 37 -
Impresso in "Polyanthea do Colégio Santo Antônio" -1927 -7 p.
São Paulo. 1619/1922.
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 06 Loc.: A.H.J.F.S. - V 981 COL POL .
63 - DEEKE,JOSÉ. PIE BOTOKIJDEN AM RIO PI ATE.(Os Bor~cudos no Rio Piare)
72 - DEEKE, JOSÉ. SINNSPROCHE.(Provérbios) 769 - DJE EMANZIPATION DER KOI ONIE BI UMENAU DAS VORSPIEI UNO DJE
Alemão - Manuscrito - Hammon!a, dezembro/1928. - 2 p. NACHWEHEN. (A Emallcipação da Colônia Bllllllellall: o Prólogo e as COllseqüêllcias) -
Loe.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMILlAS - FamOia Deeke -3.0.7.3 - doe. 17 p. 05-12.
73 - DEEKE, JOSÉ. DESENHOS A NANQI !1M. 76.10- DAS HOCHWASSER VON 1880. (A Ellchente de 1880) - p. 12-29.
Anta (Tapir), 1/17 nal. Grosse (Tamanho //17 do nall/ral adulto)
Jacaré, bras. Krokodil. 1124 - 1148 nal. Grosse (Tamanho 1124 - 1/48 do natural adulto) 76.11- DAS MUNIZIP BLUMENAU BIS ZUM STURZE DER MONARCH1E. (O MlInicípio
de BllIme/lall até a QlIeda da Monarqllia) - p. 30-56.
Loe.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLlAS- Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 26.
74 - DEEKE, JOSÉ. CIRCULAR AN KRANKENHAUS - HAMMONIA.(Circular para o 76.12- DJE ERKI ARI !NG DER REPIJBIlK' VORK1 ANGE UNO IHRE W1RKUNG AUF
Hospital de Hammonia)
DAS MUNIZIP BUIMENAU. (A Proclamação da ReplÍblica: Callsas e COllseqüêllcias
110 MlInicípio de Bllllllellall) - p. 56-81.
Alemão - Datilografado - Original - 2 p.
Loc.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMÍLIAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 02. 76.13- DJE REVOLUTIONNSJAHRE. (O Período da Revolllção) - p. 82-160.
75 - DEEK.~, JOSÉ. SATZUNGEN ruR DAS KRANKENHAUS "SANTA CATHARINA IN
BLlIMENAU.(Estatutos para o Hospital "Sallta CariJarina" em 8lume· nau) - Janeiro de
1920.
Alemão - Datilografado - Origin~1 - 2 p.
Loe.: A.H.J.F.S. - Coleção FAMILlAS - Família Deeke -3.0.7.3 - doe. 05. 76.14- NACH DER REVOLUTION.(Após a Rel'olllçeio) - p. 05-15.
76.15- DIE NEUERE ZEIT.(Os Tempos mais Recelltes) - p. 16-25.
76.16- DAS VERMESSUNGSWESEN UNO DIE LANDVERTEILUNG IN DER KOLONIE
BLUMENAU. (O Sistema de Demarcação de Terras e a Distribllição de LoTes lia
Colôllia Bllllllellall)- p. 25-42.
76.17- DJE INDJANERFRAGE. (A QlIesTão fI/dígella) - p. 42·109.
'!fcorbt e eêcuta:
O ~rolJdro fala
~rina a tJiola na canção gentil ~ aê lJorlJoletaêt
~eêlJertanbo fogem
~oê êeuê refúgioê na man~ã be alJril.
'!fmor é onba
Que beêcai êerenat
'!fmor - '!fê notaê be cantiga tJã ~mor é i1!fândat ~
~ aboraçao ao lJerçot
'!fmar - :O êonJJo ba gentil irmã.
~ dêt --~eêlJma!
Que d ln3 êe eêlJalfJat .
'!furora tJoltJet redamanbo o céu! - ~u éê a roêat
'!fo êOlJrar ba lJriêa
'!fcorbt e eêcuta! '8en~a outJir: êou eu!