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A VERTICALIZAÇÃO DA ARQUITETURA NO RIO GRANDE DO SUL

Bruno Marcelo de Oliveira Chaves

João Vitor Valcarenghi

RESUMO

O presente trabalho objetiva analisar, por meio de pesquisas em sites, a


questão da verticalização na arquitetura, levando em consideração o surgimento
da verticalização (como era as cidades antes), quais as vantagens e
desvantagens, o processo de verticalização, sua gênese e suas implicações no
espaço urbano. Além disso, será apresentado como foi a verticalização das
cidades no Rio Grande do Sul e suas consequências, juntamente com isso, o
artigo irá mostrar alguns estudos de caso nas cidades de Porto Alegre, Caxias
do Sul e Santa Cruz do Sul mostrando todo processo de verticalização que veio
com a linguagem moderna na arquitetura.

1 INTRODUÇÃO

Em um contexto global de urbanização crescente e de transformações


acentuadas no espaço das cidades, destaca-se a verticalização das cidades
brasileiras, que alteram substancialmente sua configuração. A verticalização das
cidades tem se tornado uma tendência mundial. Com a construção de prédios
cada vez mais altos, a verticalização urbana, como também é conhecida, é
considerada por especialistas um caminho sem volta, principalmente no Brasil
que possui a quarta maior população urbana do mundo.
A verticalização é um segmento de ocupação do solo urbano
caracterizado pela presença de edifícios que agregam uma quantidade maior de
área construída numa determinada área de uma cidade. Essa vertente nasce
com a consolidação da cidade moderna e de seus princípios capitalistas de
(re)produção espacial, onde o raciocínio quanto ao aproveitamento dos espaços
urbanos gerou também uma lógica no aproveitamento de seu uso, mediado pelo
desenvolvimento da tecnologia do concreto armado e pela arquitetura moderna.
Estas proporcionaram uma mudança na paisagem urbana imediatamente
apropriada por este sistema.

No Rio Grande do Sul a verticalização teve extrema importância na


década de 50, favorecendo fortemente o mercado imobiliário, porém como esse
processo era visto como uma perda na qualidade ambiental, por isso, um novo
plano diretor teve que ser elaborado para controlar esse crescimento imparável.

2 CONTEXTUALIZAÇÃO

Segundo Patrus (2023, apud Ramires 1997) “verticalizar significa criar


solos, sobrepostos, lugares devidos dispostos em andares múltiplos,
possibilitando, pois, o abrigo em um local determinado, de maiores contingentes
populacionais do que seria possível admitir em habitações horizontais e, por
conseguinte valorizar e revalorizar estas áreas urbanas pelo aumento potencial
de aproveitamento”.

Para muitos, a verticalização das cidades pode ser vista como uma
solução para a falta de território urbano que, não tendo mais por onde se
expandir horizontalmente acaba indo para cima. A verticalização das cidades
está diretamente ligada ao processo de urbanização, e representa mudanças
tanto sociais quanto econômicas. Essa é uma tendência mundial, um marco
revolucionário para a paisagem urbana e um símbolo de modernização. Nesse
cenário a presença de arranha-céus nas cidades também podem indicar riqueza,
modernização, grande densidade demográfica ou a junção desses três fatores.
Afinal de contas, eles passam a compor a paisagem urbana contemporânea.
Como os terrenos em determinadas localizações estão cada vez mais escassos,
a tendência da verticalização das cidades é uma forma de conseguir aproveitar
melhor esses pequenos espaços para construir (GALVÃO, 2020).

Patrus (2023) destaca que “o processo de verticalização foi viabilizado


devido ao:

• descoberta de novos materiais;


• invenção do elevador;
• equacionamento de problemas técnicos da atividade construtiva.

2.1 VERTICALIZAÇÃO URBANA: VANTAGENS E DESVANTAGENS

Patrus (2023) ressalta que é importante observar que a verticalização


pode trazer várias vantagens para as grandes cidades, como exemplo: evitar a
impermeabilização do solo, que pode prejudicar o ciclo natural da água. A
valorização das cidades é, também, um dos principais motivos para a
verticalização dos empreendimentos, por permitir que o custo dos terrenos seja
rateado por um número maior de empresas imobiliárias, além de possibilitar a
democratização do espaço urbano. O próprio mercado imobiliário sustenta o
princípio do adensamento, dizendo que é a maneira mais moderna e sustentável
para morar. Outro ponto a respeito das edificações verticais, é que elas são mais
bem planejadas e podem ser mais duradouras que construções horizontais
erguidas com pouco critério; com um impacto ambiental positivo a ser levado em
conta. Porém, para viabilizar o adensamento, o planejamento urbano é
fundamental.

por outro lado, pode trazer alguns problemas também. A infraestrutura


urbana tem que ser muito mais capilarizada, elevando seus custos de
implantação e manutenção e, é claro, trazendo problemas como:

• maior consumo de energia;


• aumento dos níveis de poluição;
• piores condições higiênico-sanitárias;
• poluição estética;
• congestionamentos do sistema viário, com efeitos no sistema de
transporte coletivo;
• saturação no sistema de abastecimento de água tratada;
• sobrecarga na coleta de lixo domiciliar, entre outras coisas.

Além disso, (Patrus, 2023) avisa que se a verticalização ocorrer sem


planejamento adequado pode gerar o fenômeno da “ilha de calor”, em que as
áreas urbanas ficam com temperaturas acima das zonas rurais mais próximas e
pode provocar a canalização de ventos. Ademais a verticalização também pode
interferir na questão da sustentabilidade e poluição, por exemplo, o que torna
absolutamente imperativo que a verticalização seja muito bem planejada.

2.2 VERTICALIZAÇÃO URBANA NO RIO GRANDE DO SUL

Segundo Pettersen (2019) o ‘’boom’’ verticalização do Rio Grande do Sul


acontece nas décadas de 40 e 50 na capital Porto Alegre assim como em outras
grandes cidades brasileiras, associadas à ideia de cidade “moderna”. A cidade
sofreu um intenso processo de metropolização e verticalização (Figura 1), no
qual pequenos edifícios de seis pavimentos deram lugar a arranha-céus e a
edifícios com onze a doze pavimentos no centro, nos bairros mais centrais e nas
principais avenidas. Isto só foi possível pois, em 1952, a legislação da cidade
determinava que nas vias da zona central da cidade o limite de altura dos prédios
poderia atingir duas vezes a largura das vias nas quais estavam inseridos. Após
esse limite, era permitido subir ainda mais os prédios recuando os andares
superiores (Figura 2).
Figura 1 - Porto Alegre em 1920, antes da verticalização

Fonte: Caos Planejado, 2019.

Figura 2 - Edifício Santa Cruz com 34 pavimentos

Fonte: Rodrigo Petersen, 2019.


Petersen (2019) também fala que recuos, pátios de iluminação e
ventilação e outros elementos externos costumavam ser remetidos aos fundos
do lote, mantendo a fachada inteira junto à calçada e contínua em relação aos
seus vizinhos. Tudo isso culminou na grande valorização imobiliária dos terrenos
que, ocasionando seu máximo aproveitamento, trouxe como produto
paralelepípedos tendentes à maior volumetria possível.

Petersen (2019) explica que essa ideia de verticalização significava uma


perda na qualidade ambiental foi preparado um caminho para a elaboração do
plano diretor que definiria uma nova ordenação no espaço urbano. Os índices de
aproveitamento, as taxas de ocupação e os recuos passaram a determinar a
forma das edificações nos lotes e, indiretamente, determinaram os limites da
altura das edificações por zona. O zoneamento proposto incentivava o maior
afastamento entre as construções, liberando maior altura para menor ocupação.

O plano diretor estabeleceu índices de aproveitamento através de


zoneamentos que dividiam a cidade e permitiam um potencial construtivo que
variava de três a doze vezes a área do terreno. Mesmo sendo muito superior ao
que é permitido hoje, na prática houve uma redução do potencial construtivo dos
terrenos pela metade em comparação à década anterior, quando se verificavam
índices muitas vezes superiores a vinte vezes a metragem do lote. A redução de
altura foi disfarçada: embora em alguns casos ambas as legislações previssem
alturas proporcionais até duas vezes a largura das vias, a permissão de
aumentar a altura dos prédios à medida que se recuasse os andares mais altos
se tornou mais restrita (PETERSEN, 2019).

O novo modelo aos poucos foi configurando a imagem das avenidas e


ruas da cidade. Além de um zoneamento mais restritivo que determinava os usos
residencial, comercial e industrial pela cidade, os recuos laterais, os índices de
aproveitamento e as taxas de ocupação estabeleceram como cada terreno
deveria ser fisicamente ocupado (PETERSEN,2019).

Por fim, Petersen (2019) conclui que o plano gerou rupturas importantes
que só seriam percebidas alguns anos mais tarde. Houve uma redução
significativa no potencial construtivo dos terrenos, fato que o mercado imobiliário
demorou a compreender devido à crise do setor, com inflação, falta de
financiamento e consequente paralisação de empreendimentos na época. A
indução tipológica marcou a configuração da forma e da paisagem urbana, na
medida em que seus dispositivos de controle se aplicavam de forma rígida sobre
as edificações, estabelecendo as tipologias e os limites volumétricos para as
construções que, de certa forma, geraram a cidade que conhecemos hoje (Figura
3).

Figura 3 - Porto Alegre atualmente

Fonte: Caos Planejado, 2019.

3 ESTUDOS DE CASO

Pesquisadores têm se dedicado ao tema da verticalização urbana nas


cidades do Rio Grande do Sul. Por exemplo, Silva (2015) analisou o processo
de verticalização em Rio Grande, destacando a influência do setor portuário e da
indústria naval nesse processo. O autor ressalta que a verticalização em Rio
Grande tem sido impulsionada pelo crescimento econômico e pela demanda por
moradias próximas aos locais de trabalho.

Segundo Costa e Arenhardt (2008), a verticalização em Caxias do Sul nas


décadas de 1940 a 1970 representou um símbolo de poder e modernidade para
os moradores da cidade. Os autores destacam que a mudança de
comportamento dos usuários em relação ao modo de viver em casas isoladas
em comparação a morar em apartamento foi significativa nesse período. Além
disso, a verticalização trouxe desafios para o planejamento urbano e regional,
uma vez que a infraestrutura da cidade precisou ser adaptada para atender às
novas demandas dos moradores. É possível identificar a mudança da paisagem
urbana na cidade gerada pela verticalização nas últimas décadas comparando
as imagens da Figura 4 e Figura 5.

Figura 4 - Centro de Caxias do Sul na década de 1960

Fonte: Fonte: Studio Geremia, 1962.

Figura 5 - Centro de Caxias do Sul no ano de 2019

Fonte: Prefeitura de Caxias do Sul, 2019.


Oliveira (2012) também destaca a importância de considerar os impactos
da verticalização nas cidades médias do Rio Grande do Sul. Em seu estudo
sobre o desenvolvimento do processo de verticalização em Santa Cruz do Sul,
o autor identifica os principais agentes envolvidos nesse processo, suas
estratégias de ação e o contexto do desenvolvimento urbano. Segundo Oliveira,
a verticalização em Santa Cruz do Sul foi impulsionada por fatores como a
expansão do setor industrial e a migração de pessoas do campo para a cidade
que uma característica apontada no Rio Grande do Sul conforme a Figura 6. No
entanto, o autor destaca que a verticalização também trouxe desafios para a
cidade, como a necessidade de ampliar a infraestrutura urbana e garantir o
acesso a serviços básicos para todos os moradores além de a falta de
legislações restritivas quanto a afastamentos e recuos mínimos e alturas
máximas pode gerar problemas dentro da paisagem urbana.

Figura 6 - Evolução da população urbana e rural no Rio Grande do Sul entre as


décadas de 1950 e 2010

Fonte: Cargnin, 2013.


4 CONCLUSÃO

A verticalização urbana é um fenômeno presente em muitas cidades


médias do Rio Grande do Sul, mas que ainda não há dados conclusivos sobre
sua extensão e impactos. No entanto, é importante destacar que a verticalização
pode interferir nas condições de apropriação dos espaços públicos urbanos, o
que pode afetar a qualidade de vida dos cidadãos. Nesse sentido, é necessário
que as legislações urbanísticas sejam revistas para garantir um desenvolvimento
urbano mais equilibrado e sustentável. Agentes como as prefeituras municipais,
órgãos de planejamento urbano e a sociedade civil organizada podem
desempenhar um papel fundamental nesse processo, promovendo debates e
discussões sobre o tema e propondo soluções que levem em conta as
necessidades e demandas da população.
REFERÊNCIAS

COSTA, A. M.; ARENHARDT, R. Verticalização urbana em Caxias do Sul:


mudanças de comportamento e representações sociais. In: Anais do XX
Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada (p. 123-135). Porto Alegre:
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008.

OLIVEIRA, J. Desenvolvimento do processo de verticalização em Santa


Cruz do Sul: agentes, estratégias de ação e contexto do desenvolvimento
urbano. In: Anais do Congresso Brasileiro de Geógrafos (p. 456-468). São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2012.

SANTOS, L. A. dos; SILVA, R. C. da; OLIVEIRA, J. Verticalização em Santa


Maria/RS: análise do processo de transformação urbana. Revista Geográfica
de América Central, 61. p. 1-18, 2018.

SILVA, R. C. A verticalização em Rio Grande/RS: análise do processo de


transformação urbana. Revista Geográfica de América Central, 57. 1-16, 2015.

PATRUS, B. Verticalização das cidades: o que é, vantagens e desvantagens,


23 de mar. de 2023. Disponível em: https://blog.inco.vc/imobiliario/verticalizacao-
das-cidades-o-que-significa-este-processo/. Acesso em 08 de jul. de 2023.

PETERSEN, R. Porto Alegre nas alturas: quando a cidade era vertical, 26 de


mar. de 2019. Disponível em: https://caosplanejado.com/porto-alegre-nas-
alturas-quando-a-cidade-era-vertical/. Acesso em 08 de jul. de 2023.

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