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MALARD, M. L. As Aparências em arquitetura. Belo Horizonte: UFMG, 2006.

AS APARÊNCIAS COMO ELEMENTO COMPOSITOR DO ESPAÇO


ARQUITETÔNICO

Bruno Marcelo de Oliveira Chaves1


Thalia Teles Medeiros¹

O livro As Aparências em Arquitetura de Maria Lucia Mallard


apresenta-se como um estudo acerca da aparência do espaço arquitetônico e
suas concepções artísticas e como ela o modificou através dos séculos.
Estrutura-se em cinco capítulos, sendo três destes divididos em cinco
subcapítulos cada, com um total de quatorze figuras introduzidas no texto.
Mallard é arquiteta e urbanista formada pela UFMG (1966), possui título de
Doutora pela University of Sheffield (1962), além de possuir estágio pós-
doutoral pela University of Warwick. Atualmente, é docente no Departamento
de Projetos da Escola de Arquitetura da UFMG.
Na introdução da obra, a autora levanta a tese de que os cidadãos
contemporâneos conseguem distinguir facilmente o moderno do antigo, mas
têm dificuldade em distinguir as variações artísticas modernas e antigas.
Assim, ela objetiva o livro para apresentar a importância que as aparências
representam para a arquitetura.
A partir do capítulo inicial, “O Conceito de ‘Aparência’”, Mallard
apresenta a subjetividade relacionada à aparência, visto que ela é construída a
partir de um referencial criado na mente do indivíduo que observa a imagem,
elemento arquitetônico ou qualquer outro referencial. Utilizando Magritte,
Baudrillard e Foucault e os elementos apresentados em suas respectivas
obras, a autora difere semelhança e similitude revelando como as imagens são
construídas a partir da aparência criada na mente das pessoas. Sendo assim, a
autora define que a aparência se revela como construtora de significado para a
imagem, no entanto esse significado é pessoal, visto que a forma que uma
pessoa vê um objeto é diferente da forma que outra pessoa o vê.
1
Acadêmicos do curso de Arquitetura e Urbanismo – 1ª Fase, 2019.
Maria Lucia Mallard questiona a relação existente entre o espaço
arquitetônico e o ser humano e sua natureza no segundo capítulo “Entendendo
a natureza do espaço arquitetônico”. Citando Heidegger, a autora apresenta o
homem como integrante do espaço arquitetônico e vice-versa, visto que o
espaço se adequa a realidade dos indivíduos e eles adequam-se a realidade
do espaço, sendo os dois indissociáveis.
Referente aos subcapítulos subsequentes, a autora descreve que o
corpo é um sistema de possibilidades de ação e compreende as interações do
sujeito com os objetos para compreender o espaço arquitetônico. Além disso,
ela discorre que as aparências são construídas pela harmonização existente
entre as cores, texturas, materiais e formas que existem nos ambientes
relacionando este conceito com os padrões culturais dos indivíduos e o tempo
que estes ocupam para realização de suas atividades diárias. Partindo desse
pressuposto, é possível relacionar o pensamento da autora com “A Santa
Ceia”, quadro de Leonardo Da Vinci, visto que esta obra retrata um padrão
cultural que modifica o espaço, ou seja, as pessoas possuindo desde a
Antiguidade um espaço destinado para refeições em conjunto.
No último subcapítulo do segundo capítulo, O Espaço Arquitetônico,
Mallard expõe que o espaço é moldado devido a forma pela qual as pessoas
vivem. A autora indica conflitos que podem existir entre o espaço e o usuário,
buscando soluções para estes impasses com a criação de três diagramas que
representam situações possíveis de conflito.
Em “Sujeito moderno e sua expressão no ambiente construído”, a
escritora traça uma linha do tempo partindo do desenvolvimento do sujeito
moderno, no início da idade média, até o início do modernismo, citando os
movimentos artísticos vivenciados nesse período. Mallard descreve como o
desenvolvimento tecnológico e científico modificaram o espaço arquitetônico
influenciando o maior protagonismo do Estado em relação a Igreja Católica e
como a espacialização urbana modificou-se através desses avanços.
A autora retrata em “A atual polêmica: modernismo, pós-modernismo” o
movimento modernista e suas características apresentando estas como ponto
de crítica para parte dos profissionais da época visto que este movimento
possuiu regras estéticas firmes que, segundo estes profissionais,
possibilitariam a qualquer pessoa sem vocação obter um “bom” projeto. A partir
daí, Mallard apresenta o movimento pós-modernista e suas vertentes, tais
como o pós-modernismo historicista, o high-tech e o desconstrutivismo,
declarando suas características e como a aparências dentro destes passou a
ser mais relevantes que a funcionalidade.
De acordo com a escritora, no capítulo seguinte “O Mito das
Aparências”, os detalhes que diferem os movimentos artísticos e
arquitetônicos, como citados na “Introdução”, são mitos das aparências. Para
justiçar tal argumento, Maria Lucia retrata, como exemplo, três das principais
críticas utilizadas pelos pós-modernos à arquitetura moderna e discorre durante
o capítulo a respeito destas apresentando argumentos contra cada uma delas
justificando sua concepção.
Entende-se a arquitetura como uma manifestação cultural acessível e
exposta ao caráter de julgamento público, fazendo parte de um espaço fluido
por todos, ao contrário de outras expressões artísticas privativas. Dessa forma,
podemos constatar a coerência existente nos argumentos de Mallard, visto que
as aparências é elemento principal da composição arquitetônica sendo
fundamental para o conforto visual e psicológico dos indivíduos. A obra se
estrutura adequadamente apresentando linguagem acessível e imagens que
somadas as características apresentadas no corpo do livro torna-o de fácil
compreensão. Recomenda-se a leitura do exemplar, especialmente aos
estudantes e profissionais das áreas tratadas pelo mesmo, pois o assunto
exposto pela autora torna-se fundamental para abrangência de conhecimento
do indivíduo.

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