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Redação – 1º Ano

Professora Lupehuara Pires Vieira

Livro- Texto 2
Capítulo 5- Comunicação na era digital
1. O computador

Na canção “O silêncio”, Arnaldo Antunes observa que, antes de o computador existir, já


havia a televisão; antes da televisão, já havia a luz elétrica; antes dela, havia a bicicleta;
antes da bicicleta, existia a enciclopédia; antes da enciclopédia, havia o alfabeto; antes
dele, existia a voz e, antes dela, o silêncio. E quando você nasceu já existia tudo isso. Todas
essas coisas, que integram nosso cotidiano, parecem naturais. A televisão, por exemplo,
está de tal maneira presente em nossa vida, que é difícil pensar que já houve um tempo em
que ela não existia.

O mesmo ocorre com o computador: quando você nasceu, ele já era uma realidade.
Talvez por isso ele pareça tão natural para você – mas certamente não é assim para os seus
pais, menos ainda para os seus avós. Para quem viveu muito tempo sem esse aparelho, ele
não tem nada de natural: o mundo parecia funcionar muito bem sem ele.
É por isso que muitas vezes notamos que as pessoas mais velhas têm certa resistência
contra o computador ou precisam fazer esforço para integrá-lo em seu cotidiano; os jovens,
por sua vez, lidam muito melhor com ele e consideram tão normal aprender a usá-lo
quanto aprender a andar e a falar.

Imagine se, com um plano mirabolante, todos os computadores fossem eliminados da


face da Terra. Como você faria os trabalhos de colégio? Quem conheceu o mundo antes do
computador provavelmente usaria uma máquina de escrever. E você? Apresentaria o
trabalho datilografado? Aparentemente, nesse caso o computador não faria falta: em vez de
digitar, você datilografaria. No entanto, as coisas não são tão simples assim: se você
errasse uma parte, não teria como deletá-la. Imagine redigir tudo de novo! E, se você
quisesse usar
um excerto de determinado texto, não poderia copiar e colar, como faz em segundos no
computador: precisaria datilografar cada letra.

Como se costuma dizer, em geral só nos damos conta da importância de alguma coisa
quando somos privados dela: é difícil pensar o mundo de hoje sem a presença do
computador. Você não poderia mais mandar e-mails, por exemplo. Pode parecer que
também nesse caso não faria falta: o e-mail seria substituído por uma carta. Mas pense
nas diferenças entre a velocidade de um tipo de comunicação e a de outro: para mandar
um e-mail, não é preciso usar selo, ir ao correio, esperar a entrega – basta enviar o
conteúdo e esperar a resposta.

Se você é adepto das redes sociais, sabe que a conversa por telefone não substituiria
perfeitamente o computador: em primeiro lugar, porque não é possível falar ao mesmo
tempo com muitas pessoas, de muitos lugares diferentes , por tal meio ; em segundo ,
porque nas
redes sociais nossos pronunciamentos podem ser replicados por mais e mais pessoas,
atingindo indivíduos que estão muito além de nossas relações pessoais. Se você costuma
fazer pesquisas pela internet, imagine frequentar livrarias e bibliotecas atrás das
informações de que necessita: certamente gastaria muito mais tempo.
2. O mundo digital e a internet

Quando ouvimos a palavra “digital”, normalmente pensamos imediatamente nos


computadores, tablets e smartphones. Mas você sabe o que ela significa, isto é, por que é
empregada no contexto da informática? A razão é simples: computadores, em sua essência,
trabalham as informações em forma de dígitos (números ).

Por isso a palavra “digital” está quase sempre associada a computador e significa, em
um sentido mais vasto, um modo de processar, transferir ou guardar informações.

Se a palavra “digital” significa uma nova maneira de trabalhar com as informações,


então nos remete necessariamente à noção de “suporte”: o meio digital é o novo espaço em
que elas são produzidas, armazenadas e transmitidas. Nesse mundo digital, é impossível
não dar destaque especial à internet.

A popularização da internet pelo mundo começou no fim do século passado, nos anos
1990. Com isso, surgiram novos gêneros: os e-mails vieram concorrer com as cartas; os
sites de busca, com as enciclopédias; mensagens instantâneas enviadas e recebidas por
computadores ou celulares, com as conversas telefônicas. Há quinze anos, ninguém
pensaria em acessar um boletim escolar pelo celular ou pelo computador de casa. Mas hoje
isso é possível, e essa revolução na comunicação humana implicou o aparecimento de
novos gêneros, que passaram a fazer parte do dia a dia das pessoas.

Por isso dizemos que os gêneros textuais são fenômenos históricos, que nascem e se
desenvolvem no seio de dada cultura, de certa sociedade: a “bula de remédio” é um tipo de
texto que não existe, por exemplo, em comunidades em que não há a alopatia.

Da mesma maneira, não se pode falar no gênero “e-mail” nas organizações sociais que
desconhecem o computador. Aliás, o surgimento de novas tecnologias é um fator que
impulsiona a eclosão de novos gêneros: se não houvesse o rádio, não haveria o gênero
radionovela (que praticamente desapareceu com o nascimento da televisão e da telenovela);
se não existisse o telefone, não existiria o gênero conversa telefônica; se não existisse a
internet, não haveria redes sociais e nem os grupos de trocas de mensagens por celular.

Uma das grandes características desses gêneros é o sincretismo: neles se combinam


signos verbais, visuais e musicais. Um site, normalmente, mistura textos verbais com
imagens e música, numa espécie de vertigem sinestésica, como se fosse um videoclipe, que
convoca vários sentidos simultaneamente.

Essas transformações operadas no terreno da comunicação acabaram tendo efeitos


sobre a linguagem verbal, a ponto de, nas redes sociais, nos e-mails, nos blogs, nos grupos
de troca de mensagens por celular, surgir uma variedade de escrita compatível com essas
mudanças. Essa espécie de dialeto digital ficou conhecida como “internetês”.

3. A falsa polêmica do “internetês”


Principalmente por causa da velocidade que caracteriza a comunicação pela internet,
surgiu nas páginas da rede essa forma muito particular do português, o “internetês”. Trata-
se de uma maneira de escrever sobretudo por meio de abreviaturas, abolindo acentos e
simplificando a pontuação. Essa forma de escrita teve origem nas antigas salas de bate-
papo e rapidamente se espalhou, passando a ser usada de forma regular principalmente
pelo público jovem.

Na esteira do “internetês”, surgiu uma polêmica: até que ponto essa nova forma de
escrita seria uma ameaça à pureza do idioma? Até que ponto essas abreviaturas poderiam
representar uma descaracterização da língua? Até que ponto essa linguagem se espalharia
por outros gêneros?

A rigor, não existe polêmica nenhuma. Todo grupo social possui uma variante
linguística própria, com todas as suas particularidades: dos surfistas aos admiradores do
rap, dos adeptos dos movimentos políticos de esquerda aos estudantes de economia. A
origem do “internetês” é simples: os usuários da rede buscavam um modo mais prático de
se comunicar. Era uma tentativa de, simultaneamente, definir a identidade do grupo (por
meio de uma linguagem característica) e adequar a escrita à velocidade das conversas
virtuais.

O que não se deve é utilizar o “internetês” numa situação mais formal de comunicação
ou em um texto que simplesmente não faz parte das conversas virtuais – o que seria tão
inadequado quanto valer-se da linguagem jurídica fora dos tribunais ou recorrer a
conceitos da medicina para falar a quem não é estudioso da área.

Supor que o “internetês” possa descaracterizar o português é o mesmo equívoco


daqueles que acharam, no início do século XX, que a linguagem telegráfica seria perigosa
para o idioma. Quando o telégrafo surgiu, desenvolveu-se uma escrita específica para esse
gênero, valorizando verbos e substantivos e praticamente abolindo artigos, interjeições,
algumas preposições e algumas conjunções.
Essa forma de escrita não só não representou nenhuma ameaça à “pureza” linguística,
como também permitiu a certos escritores modernistas apropriar-se da linguagem
telegráfica no universo da literatura, produzindo efeitos bastante expressivos.

Nada impede que um grande escritor venha a incorporar o “internetês” em seus textos.
O que não se pode fazer – repita-se – é empregar essa linguagem num contexto
inadequado. Isso, sim, pode causar grandes constrangimentos e mal-entendidos.

4. O suporte digital versus o suporte impresso: ler e escrever na tela

Como vimos nos capítulos anteriores, as pessoas, ao longo de sua trajetória,


desenvolveram diferentes maneiras para se comunicar: primeiro, apenas por gestos; depois
passaram a utilizar a voz e, por fim, desenvolveram o alfabeto e a escrita. Ao longo dos
anos,
os seres humanos foram aperfeiçoando as formas de registros: a princípio, registravam
suas ideias nas paredes das cavernas, depois, passaram a utilizar as pranchas de barro, o
papiro, o pergaminho e o papel, até chegarem à tela do computador.

Do mesmo modo que o pergaminho sucedeu ao papiro, e este, às pranchas de barro,


hoje é a vez de a tela do computador ganhar espaço como novo suporte. Ela, na verdade,
não sucedeu ao papel, mas o substituiu em diversas situações. Isso leva à seguinte
pergunta: como o modelo digital difere do tradicional? Basicamente, em três fatores: tempo,
espaço e custo.

Quanto ao tempo, como dissemos, é mais rápido escrever um texto no computador do


que à mão ou à máquina de escrever. Quanto aos outros dois fatores, veja o que diz um
especialista no assunto:

Pode-se então dizer que o suporte digital, comparado com o suporte impresso, exige
menos tempo, espaço e dinheiro. Não se pode, porém, esquecer que o computador ainda é
um artigo de luxo em muitas partes do mundo. É por isso que hoje existe um novo tipo de
exclusão social: a chamada exclusão digital.

5. Os novos gêneros digitais

A mudança de suportes teve impactos nas maneiras de ler e de escrever. Com novas
tecnologias, surgem novos suportes e, com eles, novos gêneros.
Você saberia dizer quais gêneros são exclusivos do suporte digital, ou seja, quais formas
de comunicação nasceram com o computador e a internet? Veja alguns exemplos:

• Portais de notícias ou de informações sobre temas específicos.


• E-mails.
• Postagens em rede social com textos longos ou de poucos caracteres, com fotografias ou
vídeos.
• Vídeos veiculados nos portais de compartilhamento de vídeos.
• Abaixo-assinados virtuais.
• Blogs.
6. O e-mail é meio ou mensagem?

O modo como as pessoas se relacionam por meio do computador não é igual ao modo
como elas se comunicavam face a face ou por meio de cartas. As novas tecnologias
propõem – ou, melhor dizendo, impõem – novas formas de relação entre as pessoas.

Você provavelmente conhece alguém que trocou o próprio telefone celular por um
modelo mais moderno apenas para poder ter acesso a determinado aplicativo de
comunicação – e, assim, conseguir comunicar-se mais rapidamente com amigos ou grupos.

A dificuldade em determinar se o e-mail é gênero ou suporte se pode explicar pelo fato


de o termo e-mail ser empregado com sentidos diversos: em inglês (eletronic mail),
denomina o sistema de transmissão de mensagens; ao mesmo tempo, significa o texto
produzido e veiculado pela internet e também pode significar o endereço eletrônico de cada
usuário da rede.

Como se pode notar, o e-mail é um caso muito curioso: sob um aspecto é um meio; sob
outro, uma mensagem. Por isso, dependendo da perspectiva que adotamos para analisá-lo,
ele pode ser considerado tanto um gênero quanto um suporte de gêneros.

Em todo caso, mais importante do que conseguir defini-lo com precisão é saber utilizá-
lo com competência.

7. O e-mail e a “netiqueta”

Todo gênero tem suas regras: com o e-mail não é diferente. Para que a comunicação
seja bem-sucedida, é fundamental que o usuário da rede obedeça a certas normas típicas
dessa forma de interação. A chamada “netiqueta” (neologismo nascido da contração de net
(rede) + etiqueta) é o conjunto dessas regras de etiqueta na internet – isto é, normas de
“bom comportamento” no suporte digital. Elas podem ser assim resumidas:

• Evitar escrever a mensagem inteira em caixa alta. Letras maiúsculas indicam que se está
gritando ou enfatizando algum termo ou expressão.
• Sempre especificar o assunto da mensagem. Isso ajuda o destinatário a selecionar
criteriosamente as mensagens a serem lidas.
• Ser claro, breve e objetivo. Evite mandar mensagens muito grandes.
• Não mandar e-mails não solicitados: correntes, avisos de vírus, propagandas, etc., pois
elas geram tráfego inútil na rede.
• Usar os smileys (ícones que denotam emoções) para tentar demonstrar mais claramente o
tom de sua mensagem: na interação face a face, em uma conversa, é possível saber se a
pessoa está falando em tom de brincadeira, se está falando sério, etc.; mas no e-mail, por
se tratar de um texto escrito, nem sempre isso fica claro.
• Ao responder a um e-mail, apagar as linhas da mensagem recebida, deixando apenas as
partes essenciais da mensagem referenciada.

8. O e-mail: estrutura composicional, temática e estilo


O e-mail, como todo gênero, é reconhecido por meio de certa estrutura composicional,
temática e estilo.

A estrutura dessa espécie de texto apresenta as seguintes características: endereço do


remetente; data e hora, automaticamente preenchidas; endereço do receptor, que deve ser
inserido (caso não seja uma resposta); corpo da mensagem, que pode ou não conter
vocativo e assinatura. Considerando que é um gênero mais rápido, ágil, o texto costuma ser
mais conciso, breve, como vimos na “netiqueta” (“Seja claro, breve e objetivo. E evite
mandar mensagens muito grandes”).

A temática pode variar bastante, como ocorre em uma carta: assuntos familiares,
amorosos, comerciais, etc. Claro que isso é determinado de acordo com a pessoa a quem
você escreve: numa relação de trabalho, por exemplo, não é pertinente tratar de assuntos
amorosos.

O estilo também pode variar muito: é mais formal nas relações comerciais, por exemplo,
e mais informal nas relações afetivas. Isso quer dizer que, se você for um empresário
escrevendo a outro empresário, para discutir assuntos relacionados ao trabalho, deverá ser
mais cuidadoso no uso da linguagem: o e-mail, nesse contexto, deve ser mais formal,
obedecendo à norma-padrão – um texto mal escrito pode prejudicar a sua relação com o
outro. Se, por outro lado, você estiver escrevendo a um amigo, para discutir assuntos
pessoais, poderá empregar uma linguagem mais informal. A sua amizade não será abalada
se o texto tiver abreviações ou algum problema gramatical.

9. Como evitar os erros mais comuns ao enviar o e-mail

Uma vez que o envio da mensagem eletrônica é imediato e irreversível, é necessário


tomar alguns cuidados antes de concluir a operação. Antes de clicar em “enviar”, verifique:

• se a mensagem está completa; de preferência, revise-a – como se deve fazer com qualquer
texto a ser entregue para avaliação ou publicação;
• se o destinatário está correto – com as sugestões automaticamente geradas ao digitar as
primeiras letras do nome desejado, você corre o risco de enviar a mensagem para outra
pessoa de nome igual ou parecido;
• se você realmente anexou os arquivos que pretende enviar.

10. Vantagens e desvantagens do e-mail

Como todo gênero, o e-mail tem suas virtudes e limitações, que decorrem em grande
parte do suporte em que se dá a comunicação. Veja a seguir algumas conveniências e
inconveniências dessa forma de comunicação em suporte digital:
11. O blog

O termo “blog” é uma aférese da expressão em inglês web log, que significa “registro na
rede” e deu origem à expressão weblog, que depois se tornou simplesmente blog.

O blog é uma espécie de diário eletrônico. Trata-se de uma página de internet


atualizada regularmente, com informações dispostas em ordem cronológica. A
periodicidade dessas atualizações pode variar muito, mas a existência do blog depende de
uma contínua publicação de novos textos.

Aliás, os blogs não podem ser tomados apenas como manifestações da linguagem
verbal, como era comum nos diários em papel. Uma das grandes características dos blogs é
que, além dos textos, eles podem apresentar imagens, áudios e vídeos. Atualmente, existe
um tipo de blog, o vlog, em que só vídeos são postados.

Outra diferença entre blog e diário é o tipo de informação que ele veicula: no blog, além
de informações pessoais, marcadas pela completa subjetividade, é comum publicar
também notícias, poemas, ideias soltas, relatos de viagem, piadas, imagens, charges,
fotografias e até links para outros sites considerados interessantes. Essa mudança no tipo
de informação ocorre principalmente pela diferença de leitor entre diário e blog: enquanto o
diário é escrito e lido pelo seu próprio autor, o blog fica disponível para qualquer leitor da
internet.

Nesse sentido, o blog é muito utilizado como um espaço de diálogo e troca de


informação, diferente do diário, em que o autor registra seus sentimentos e experiências
sem o medo de ser julgado, pois o faz em uma esfera privada.
Como o blog é, normalmente, gratuito e não exige grandes conhecimentos de
informática para ser criado, pessoas das mais variadas idades podem mantê-lo. O que une
todos esses textos é a velocidade da sua publicação e a possibilidade de interação: se o
blogueiro permitir, qualquer pessoa com acesso à internet pode deixar comentários sobre o
conteúdo veiculado.

O grande benefício do blog, gênero típico da contemporaneidade, é o mesmo da internet:


facilitar a comunicação entre as pessoas, tornando-a mais eficaz e mais rápida, diminuindo
distâncias e aproximando indivíduos (que muitas vezes nem se conhecem) por interesses
comuns.

12. As redes sociais

Os blogs claramente perderam espaço para as redes sociais como suporte para troca de
mensagens. Assim como eles, as redes sociais servem de veículo para a expressão de todo
tipo de opinião, das mais subjetivas e, às vezes, íntimas, até debates de alcance mais
abrangente.

13. A inevitável efemeridade dos gêneros digitais

Como as inovações tecnológicas são muito frequentes, suportes e gêneros surgem e


desaparecem como se fossem meros modismos. Mas o fato é que comunicar, transmitir
informações, noticiar sempre será uma necessidade da vida em sociedade, por isso as
pessoas sempre encontrarão outras maneiras de se relacionar por meio da linguagem.

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