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Manifesto por uma escola filosófica popular

Títulos
Títulos
da Coleção
da Coleção
Ensaios
Ensaios

A escola
A escola
dos sentimentos:
dos sentimentos:
da alfabetização
da alfabetização
das emoções
das emoções
à educação
à educação
afetiva.
afetiva.
2018.2018.
Giuseppe
Giuseppe
Ferraro
Ferraro
Manifesto por uma
Manifesto por uma
escolaescola
filosófica
filosófica
popular.
popular.
2018.2018.
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;
Durán;
Walter
Walter
OmarOmar
Kohan
Kohan
Coleção
Coleção Ensaios
Ensaios

Manifesto
Manifesto
por por
umauma
escola
escola
filosófica
filosófica
popular
popular

Maximiliano
Maximiliano
Lionel
Lionel
Durán
Durán
Walter Omar
Walter Kohan
Omar Kohan

Prólogo: Miguel
Prólogo: Arroyo
Miguel Arroyo

Tradução
Tradução
do castelhano:
do castelhano:
Pamela
Pamela
A. Parra
A. Parra
G. G.
Revisão:
Revisão:
Ana Ana
Corina
Corina
SalasSalas
Correa
Correa

NEFINEFI
Edições
Edições
Universidade
Universidade
do Estadodo do
Estado
Rio de
do Janeiro
Rio de (UERJ)
Janeiro (UERJ)
Reitor: Ruy Garcia
Reitor: Ruy Marques
Garcia Marques
Vice-Reitora: Maria Georgina
Vice-Reitora: Muniz Washington
Maria Georgina Muniz Washington
Sub-Reitor de Pesquisa
Sub-Reitor e Pós-Graduação:
de Pesquisa EgbertoEgberto
e Pós-Graduação: Gaspar Gaspar
de Moura
de Moura
Programa de Pós-Graduação
Programa em Educação
de Pós-Graduação (PROPEd)
em Educação (PROPEd)
Coordenadora: Maria Isabel
Coordenadora: MariaRamalho OrtigãoOrtigão
Isabel Ramalho
Vice-Coordenadora: Fernando
Vice-Coordenadora: Pocahy Pocahy
Fernando

Núcleo Núcleo
de Estudos de Filosofias
de Estudos e Infâncias
de Filosofias (NEFI) (NEFI)
e Infâncias
Coordenador: Walter Omar
Coordenador: WalterKohan
Omar Kohan

Conselho
Conselho
Científico
Científico Conselho
Conselho
EditorialEditorial
(NEFI/UERJ)
(NEFI/UERJ)

Alejandro
Alejandro Ariel Cerletti,
Ariel Cerletti, Universidad
Universidad de Buenos
de Buenos Aires, Argentina
Aires, Argentina Alessandra
Alessandra Lopes Lopes
Alexandre
Alexandre
Filordi de
Filordi
Carvalho,
de Carvalho,
UNIFESP, UNIFESP,
Brasil Brasil Alice daAlice
Silvada Silva Peçanha
Peçanha
Alexandre
Alexandre Simão de Simão de Freitas,
Freitas, UFPE, Brasil
UFPE, Brasil Allan Rodrigues
Allan Rodrigues
BarbaraBarbara
Weber, Weber,
UniversityUniversity
of British
of Columbia
British Columbia FabianaFabiana
MartinsMartins
Beatriz Beatriz
FabianaFabiana
Olarieta,Olarieta, UERJ, Brasil
UERJ, Brasil MarcellyMarcelly
CustodioCustodio de Souza
de Souza
Carlos Bernardo
Carlos Bernardo Skliar, FLACSO,
Skliar, FLACSO, Argentina Argentina Simone Simone
Berle Berle
César Donizetti
César Donizetti Leite, UNESP
Leite, UNESP - RioBrasil
- Rio Claro, Claro, Brasil
Claire Cassidy,
Claire Cassidy,
University
University
of Strathclyde,
of Strathclyde,
ScotlandScotland Capa: Capa:
GregorioGregorio Valera-Villegas,
Valera-Villegas, Universidad
Universidad Experimental
Experimental Simón Rodríguez,
Simón Rodríguez, Venezuela
Venezuela Alessandra
Alessandra Lopes eLopes e Marcelly
Marcelly CustodioCustodio
de Souzade Souza
GustavoGustavo
Fischman,Fischman,
ArizonaArizona State University,
State University, EstadosEstados
Unidos Unidos da América
da América
Jason Wozniak,
Jason Wozniak,
West Chester
West Chester
University,
University,
EstadosEstados
Unidos Unidos
da América
da América Diagramação:
Diagramação:
Juliana Merçon,
Juliana Merçon, Universidad
Universidad Veracruzana,
Veracruzana, México México MarcellyMarcelly
CustodioCustodio
de SouzadeeSouza e Simone
Simone Berle Berle
Junot Cornelio
Junot Cornelio Matos,Brasil
Matos, UFPE, UFPE, Brasil
Karin Murris,
Karin Murris, Cape TownCapeUniversity,
Town University, África
África do Sul do Sul Tradução:
Tradução:
Magda Costa
MagdaCarvalho,
Costa Carvalho,
Universidade
Universidade
dos Açores,
dos Açores,
PortugalPortugal Pamela Pamela
A. ParraA.G.Parra G.
Maria Reilta
MariaDantas
Reilta Dantas
Cirino, UERN,
Cirino, Brasil
UERN, Brasil
Marina Marina Santi, Università
Santi, Università deglidiStudi
degli Studi di Padova,
Padova, Itália Itália Revisão Revisão
Técnica:Técnica:
Maximiliano
Maximiliano Durán, Universidad
Durán, Universidad de Buenosde Buenos Aires, Argentina
Aires, Argentina Ana Salas
Ana Corina CorinaCorrea
Salas Correa
OlgaUniversidad
Olga Grau, Grau, Universidad
de Chile,deChile
Chile, Chile
Óscar Pulido
Óscar Cortés,
Pulido Cortés,
Universidad
Universidad
Tecnológica
Tecnológica
y Pedagógica
y Pedagógica
de Colombia,
de Colombia,
Colômbia
Colômbia
Paula de
Paula Ramos Ramos de Oliveira,
Oliveira, UNESP UNESP – Araraquara,
– Araraquara, Brasil Brasil
PedroUNESP
Pedro Pagni, Pagni, UNESP
– Marília,– Marília,
Brasil Brasil
Rosana Rosana Fernandes,
Fernandes, UFRGS,UFRGS,
Brasil Brasil
Sílvio Donizetti
Sílvio Donizetti de Oliveira
de Oliveira Gallo, UNICAMP,
Gallo, UNICAMP, Brasil Brasil
Wanderson
Wanderson Flor do Flor do Nascimento,
Nascimento, UnB, Brasil
UnB, Brasil

"A comissão
"A comissão
para avaliação
para avaliação
cega dos
cegatrabalhos
dos trabalhos
da Coleção
da Coleção
EnsaiosEnsaios
em 2018
em foi
2018
integrada
foi integrada
por Carlos
por Carlos
Skliar Skliar
e e
Gregorio
Gregorio
Valera-Villegas"
Valera-Villegas"

D a d o sDIandtoe sr nIanctieornnaaicsi odnea iCs a dtael oCgaata ç ãl o gnaaç ãPou nb al i cPauçbã loi c(aCç IãPo) ( C I P )
( C â m a(rCaâ m B raarsai l Be irraas idl eoi rLai vdroo , L Si vPr, oB, rSaPs,i l B) r a s i l )
Maximiliano
Maximiliano
Lionel Lionel
Durán;Durán;
WalterWalter
Omar Omar
Kohan Kohan

Manifesto
Manifesto
por uma
porescola
uma escola
filosófica
filosófica
popular/
popular/
Maximiliano
Maximiliano
Lionel Lionel
Durán;Durán;
WalterWalter
Omar Omar
Kohan.Kohan.
– 1 ed –– 1Rio
ed de
– Rio
Janeiro:
de Janeiro:
NEFI, 2018
NEFI,–2018
(Coleção:
– (Coleção:
Ensaios;
Ensaios;
2). 2).

ISBN: 978-85-93057-12-0
ISBN: 978-85-93057-12-0

1. Escola
1. Escola
popular.
popular.
2. Filosofia.
2. Filosofia.
3. Simón
3. Simón
Rodríguez.
Rodríguez.
4. Manifesto.
4. Manifesto.
I. Título.
I. Título.
II II
Série. Série.

CDD 370.1
CDD 370.1

Índice para
Índicecatálogo
para catálogo
sistemático:
sistemático:
1. Educação:
1. Educação: FilosofiaFilosofia
370.1 370.1

© 2018©Maximiliano
2018 Maximiliano Lionel Durán;
Lionel Durán; Walter Walter Omar Kohan
Omar Kohan
© 2018©Núcleo
2018 Núcleo de Estudos
de Estudos de Filosofias
de Filosofias e Infâncias
e Infâncias (NEFI/UERJ)
(NEFI/UERJ)
Site: www.filoeduc.org
Site: www.filoeduc.org
Email: publicacoesnefi@gmail.com
Email: publicacoesnefi@gmail.com
Apresentação
Apresentação
da Coleção
da Coleção

O Núcleo
O Núcleo de Estudos
de Estudos de Filosofias
de Filosofias e Infâncias
e Infâncias da Universidade
da Universidade do do
Estado
Estado do Rio
do Rio de Janeiro
de Janeiro (NEFI/UERJ),
(NEFI/UERJ), comocomo qualquer
qualquer grupo
grupo de uma
de uma
universidade
universidade pública,
pública, trabalha
trabalha no ensino,
no ensino, na pesquisa
na pesquisa e nae extensão
na extensão
da da
universidade
universidade fora fora
dos dos
seusseus muros.
muros. Seu Seu
focofoco temático
temático são são as relações
as relações
entreentre infância,
infância, educação
educação e filosofia,
e filosofia, tantotanto
no no
que que
diz diz respeito
respeito a a
experiências
experiências filosóficas
filosóficas comcom crianças
crianças e à eformação
à formação de professoras
de professoras em em
escolas
escolas públicas
públicas quanto
quanto ao estudo
ao estudo e o eexercício
o exercício
maismais amplos
amplos possíveis
possíveis
da categoria
da categoria de infância.
de infância. Desde
Desde 20032003 o NEFI
o NEFI tem tem estabelecido
estabelecido parcerias
parcerias
de trabalho
de trabalho comcom grupos
grupos de distintos
de distintos países
países e acolhido
e acolhido as mais
as mais diversas
diversas
pesquisas
pesquisas comcom muitas
muitas formas
formas institucionais:
institucionais: trabalhos
trabalhos de fim
de fim de curso,
de curso,
ou ou
seja,seja, monografias,
monografias, dissertações
dissertações e teses
e teses de estudantes
de estudantes da UERJ,
da UERJ,
missões
missões de estudo
de estudo e dee trabalho
de trabalho
comcom outras
outras instituições
instituições nacionais
nacionais e e
internacionais;
internacionais; pesquisadores
pesquisadores visitantes;
visitantes; estâncias
estâncias de pós-doutorado…
de pós-doutorado… o o
NEFINEFI ensaia
ensaia umauma
vidavida acadêmica
acadêmica outraoutra e convida
e convida a errar
a errar no duplo
no duplo
sentido
sentido de sedeequivocar
se equivocar
e deevagar
de vagar em busca
em busca dessadessa
vidavida outra.
outra. Assim,
Assim, a a
Coleção
Coleção “Ensaios”
“Ensaios” é umé um convite
convite a ensaiar-se,
a ensaiar-se, na escrita,
na escrita, na leitura,
na leitura, na na
vida.vida.
Os trabalhos
Os trabalhos que que compõem
compõem esta esta coleção
coleção são são cheios
cheios de erros
de erros e dee de
errância
errância e chamam
e chamam leitores
leitores e leitoras
e leitoras a ensaiar
a ensaiar e ensaiar-se
e ensaiar-se na leitura
na leitura e e
também
também na escrita,
na escrita, confiando
confiando no valor
no valor educativo
educativo tantotanto do equivocar-se
do equivocar-se
quanto
quanto do andar
do andar atento
atento aos sinais
aos sinais do caminho.
do caminho.
Nesse
Nesse ano ano de 2018
de 2018 inauguramos
inauguramos a coleção
a coleção comcom
doisdois A A
Ensaios:
Ensaios:
escola
escola dos dos sentimentos
sentimentos e Manifesto
e Manifesto
por por
umauma
escola
escola
filosófica
filosófica
popular
popular
. .
São São
também
também
duasduas
testemunhas,
testemunhas,
doisdois
caminhos,
caminhos,
duasduas
chamadas.
chamadas. A A
Em Em
escola dos dos
escola sentimentos
sentimentos
, Giuseppe
, Giuseppe
Ferraro
Ferraro
diz que
diz que
a filosofia
a filosofia
não não
é umé um
sabersaber
sobre algo,algo,
sobre masmas
um um
sabersaber
daquilo que que
daquilo faltafalta
em em
algoalgo
parapara
que que
possa ser ser
possa o que é... Estamos
o que vivendo
é... Estamos tempos
vivendo em em
tempos que que
parece faltarfaltar
parece
muito parapara
muito que que
o mundo possa
o mundo ser ser
possa o que é. Tempos
o que de muita
é. Tempos de muita
necessidade de filosofia,
necessidade de educação
de filosofia, e dee infância.
de educação É nesses
de infância. tempos
É nesses tempos
que que
a coleção “Ensaios”
a coleção nasce.
“Ensaios” Longa
nasce. vidavida
Longa a elaa ela
e aos ensaios
e aos de de
ensaios
filosofia, educação
filosofia, e infância
educação que que
e infância ela acolher!
ela acolher!

Walter
Walter
OmarOmar
KohanKohan
Núcleo de Estudos
Núcleo de Filosofias
de Estudos e Infâncias
de Filosofias (NEFI)
e Infâncias (NEFI)
Vancouver, junhojunho
Vancouver, de 2018
de 2018
ParaPara
Vale,Vale,
Simón,
Simón,
Giuli,Giuli,
JuanJuan
e Mile
e Mile
Nenhuma
Nenhuma a menos
a menos
Agradecemos
Agradecemos

À generosidade da da
À generosidade Universidade Pública
Universidade latino-americana
Pública e das
latino-americana e das
Instituições de Amparo
Instituições à Pesquisa
de Amparo do Brasil
à Pesquisa (CNPq
do Brasil e FAPERJ)
(CNPq que que
e FAPERJ) nos nos
permitiram encontrar
permitiram as condições
encontrar parapara
as condições poder escrever
poder este este
escrever texto.
texto.
Aos Aos
companheiros e companheiras
companheiros do Núcleo
e companheiras de Estudos
do Núcleo de Filosofias
de Estudos de Filosofias
e Infâncias (NEFI)
e Infâncias da da
(NEFI) Universidade do do
Universidade Rio Rio
de de
Janeiro (UERJ),
Janeiro (UERJ),
igualmente participantes
igualmente destedeste
participantes texto, que que
texto, muito devedeve
muito a nossos
a nossos
encontros e diálogos.
encontros e diálogos.
À escola municipal
À escola Joaquim
municipal da Silva
Joaquim Peçanha,
da Silva Duque
Peçanha, de Caxias,
Duque Rio Rio
de Caxias, de de
Janeiro, comcom
Janeiro, a qual compartilhamos
a qual um um
compartilhamos mesmo esforço
mesmo por por
esforço dignificar
dignificar
nossa educação
nossa pública.
educação pública.
Aos Aos
colegas do Departamento
colegas de Estudos
do Departamento da Infância
de Estudos (DEDI)
da Infância e doe do
(DEDI)
Programa de Pós-graduação
Programa em em
de Pós-graduação Educação (PROPEd)
Educação da Universidade
(PROPEd) da Universidade
do Estado do Rio
do Estado de Janeiro
do Rio que,que,
de Janeiro no meio de uma
no meio indiferença
de uma sem sem
indiferença
precedente do Governo
precedente do Estado
do Governo do Rio
do Estado de Janeiro,
do Rio permitiram-nos
de Janeiro, permitiram-nos
focarfocar
na escrita do presente
na escrita texto.
do presente texto.
À Laura Agratti
À Laura e Gregorio
Agratti Valera-Villegas,
e Gregorio por por
Valera-Villegas, seusseus
significativos
significativos
comentários a versões
comentários preliminares
a versões destedeste
preliminares texto.
texto.

Buenos Aires,
Buenos Rio de
Aires, RioJaneiro e Vancouver,
de Janeiro e Vancouver,
maiomaio
de 2018
de 2018
Sumário
Sumário

Prólogo
Prólogo
UM MUANIFESTO
M MANIFESTO
ANÚNCIO
ANÚNCIO
-DENÚNCIA
-DENÚNCIA
................................................................................................
................................................................................................
13 13
Miguel
Miguel
Arroyo
Arroyo
Apresentação
Apresentação
........................................................................................................................................
........................................................................................................................................
21 21

I. O QUE
I. O ÉQUE
UM ÉMANIFESTO? .................................................................................................................
UM MANIFESTO ? .................................................................................................................
23 23

II. POR
II. QUE
POR UM
QUEMANIFESTO
UM MANIFESTO
POR UMA
POR UMA
ESCOLA
ESCOLA
FILOSÓFICA
FILOSÓFICA
POPULAR ?..........................................
POPULAR ?..........................................
35 35

III. AIII. A ESCOLA


ESCOLA POPULAR POPULAR: UMA: UMA INVENÇÃO INVENÇÃO LATINO -AMERICANA
LATINO -AMERICANA ........................................................
........................................................
39 39
1. As 1.origens
As origens da escola
da escola na Gréciana Grécia antiga: a scholé
antiga: a scholé
..................................................................
..................................................................
45 45
2. O 2.surgimento
O surgimento da escolada escola filosófica
filosófica popular popular na América
na América Latina Latina .......................................
....................................... 51 51
3. A 3. A escola
escola em tempos
em tempos de avaliação
de avaliação da qualidade
da qualidade da educação
da educação e do ecurrículo
do currículo por por
competências
competências .......................................................................................................................................
....................................................................................................................................... 55 55

IV. AIV. A ESCOLA


ESCOLA POPULAR . POVO
POPULAR . P: OVO : PALAVRA
PALAVRA E CONCEITO ....................................................................
E CONCEITO ....................................................................
63 63

V. O V. O PRINCÍPIO
PRINCÍPIO POLÍTICO
POLÍTICO
DA ESCOLA
DA ESCOLA
FILOSÓFICA
FILOSÓFICA
POPULAR ............................................................
POPULAR ............................................................
81 81

VI. AVI. A ESCOLA


ESCOLA FILOSÓFICA
FILOSÓFICA
POPULAR
POPULAR
E A EMANCIPAÇÃO ...................................................................
E A EMANCIPAÇÃO ...................................................................
87 87

VII. OVII. O CARÁTER


CARÁTER FILOSÓFICO
FILOSÓFICO
DA ESCOLA
DA ESCOLA
POPULAR ..........................................................................
POPULAR ..........................................................................
115 115

VIII. VIII.
PARAPFINALIZAR
ARA FINALIZAR : PRINCÍPIOS
: PRINCÍPIOS (INÍCIOS (INÍCIOS
) DE UMA ) DE UMAESCOLA ESCOLAFILOSÓFICA
FILOSÓFICA POPULAR POPULAR...................
...................
121 121
1. Hospitalidade
1. Hospitalidade ...................................................................................................................................
................................................................................................................................... 121 121
2 Irreverência
2 Irreverência .....................................................................................................................................
..................................................................................................................................... 125 125
3. Comunismo
3. Comunismo ....................................................................................................................................
.................................................................................................................................... 130 130
4. Pergunta
4. Pergunta ..........................................................................................................................................
.......................................................................................................................................... 133 133

POSTP-SCRIPTUM
OST-SCRIPTUM
: O TEMPO
: O TEMPO
DE UM
DEMANIFESTO ................................................................................
UM MANIFESTO ................................................................................
137 137

Referências
Referências
..........................................................................................................................................
..........................................................................................................................................
139 139
UM M
UMANIFESTO
MANIFESTO
ANÚNCIO
ANÚNCIO
-DENÚNCIA
-DENÚNCIA

* *
Miguel G. Arroyo
Miguel G. Arroyo

Um Um
Manifesto
Manifesto
que que
segura
segura
nas nas
mãosmãos
a escola
a escola
popular.
popular.
Escreve-a
Escreve-a
reafirmando a necessidade
reafirmando de dizer,
a necessidade escrever,
de dizer, pensar,
escrever, fazerfazer
pensar, a escola
a escola
popular,
popular, aindaainda
não não escrita.
escrita. Não Não
feita.feita.
Um Um Manifesto
Manifesto que que reconhece
reconhece que que
a escola
a escola popular
popular foi tentada
foi tentada e continua
e continua tentada
tentada nas nas Américas.
Américas.
UmaUma história-memória
história-memória que que
exigeexige ser contada,
ser contada, porque
porque ignorada
ignorada na na
história
história oficial
oficial da educação.
da educação. ExigeExige ser recontada
ser recontada porque
porque hojehoje em nossos
em nossos
países
países é reposta
é reposta a hostilidade
a hostilidade à escola
à escola popular
popular e o edireito
o direito do povo
do povo à à
educação
educação está está
longelonge
das das prioridades
prioridades das das políticas
políticas educativas
educativas estatais
estatais
latino-americanas.
latino-americanas. O Manifesto
O Manifesto que que pretende
pretende dar dar
vidavida a nosso
a nosso presente
presente
e denuncia
e denuncia essaessa não-prioridade
não-prioridade política
política da educação
da educação do povo,
do povo, masmas
se se
atreve
atreve a afirmar
a afirmar que que
“A “A escola
escola popular
popular é uma
é uma invenção
invenção latino-
latino-
americana”.
americana”.
Um Um Manifesto
Manifesto Anúncio
Anúncio de uma
de uma
história
história
ocultada
ocultada
na memória
na memória
hegemônica. MasMas
hegemônica. também um um
também Manifesto Denúncia
Manifesto Denúncia
da da
persistente
persistente
história
história de negação
de negação da escola
da escola popular.
popular. O Manifesto
O Manifesto repõe
repõe essaessa tensão
tensão
constante
constante na história
na história da educação
da educação popular
popular latino-americana:
latino-americana: teimosas
teimosas
tentativas
tentativas de Anunciar
de Anunciar que que
umauma
escola
escola
popular
popular
é uma
é uma
possibilidade-
possibilidade-
exigência político-pedagógica
exigência e Denunciar
político-pedagógica e Denunciar
que que
forças,
forças,
estruturas
estruturas
econômicas,
econômicas, políticas
políticas persistem
persistem emcontrapor
em se se contrapor a essa
a essa invenção
invenção latino-
latino-
americana
americana de uma
de uma escola
escola popular.
popular. Opõem-se
Opõem-se à educação
à educação do povo.
do povo.
Trazer
Trazer essaessa tentativa
tentativa histórica
histórica de uma
de uma escola,
escola, instituição
instituição comocomo
meiomeio de emancipação
de emancipação das das novas
novas repúblicas
repúblicas americanas,
americanas, comocomo
lócuslócus
de de
* *
DoutorDoutor
em Educação
em Educação
pela Stanford
pela Stanford
University.
University.
Professor
Professor
Titular
Titular
Emérito
Emérito
da Faculdade
da Faculdade
de de
Educação
Educação da Universidade
da Universidade Federal
Federal de Minas
de Minas GeraisGerais (UFMG).
(UFMG). Doutor Honoris
Doutor Honoris
CausaCausa
da da
Universidade
Universidade Federal
Federal Fluminense
Fluminense (UFF).(UFF).
13 13
Miguel
Miguel
Arroyo
Arroyo

revolução
revolução
educativa
educativa
se contrapunha
se contrapunha
às instituições
às instituições
educativas
educativas
da época.
da época.
O Manifesto Anuncia
O Manifesto a invenção
Anuncia a invenção
de receber
de receber
todastodas
as crianças,
as crianças,
meninos
meninos
e meninas
e meninas das das cidades
cidades sem sem exigir
exigir condição
condição identitária,
identitária, sem sem reproduzir
reproduzir
a ordens de castas:
a ordens escolas
de castas: parapara
escolas as elites brancas
as elites e outras
brancas parapara
e outras o o
comum dos dos
comum povos originários,
povos pobres.
originários, pobres.
O Manifesto Anuncia
O Manifesto que que
Anuncia o sonho
o sonho
de uma
de uma
escola
escola
popular
popular
igualitária nas nas
igualitária Américas, marcada
Américas, desde
marcada a colonização
desde por por
a colonização umauma
ordem
ordem
de castas,
de castas, era era de uma
de uma radicalidade
radicalidade político-pedagógica
político-pedagógica a merecer
a merecer ser ser
reconhecida
reconhecida comocomo invenção
invenção latino-americana.
latino-americana. Propor
Propor umauma escola
escola que que
quebre a ordem
quebre das das
a ordem hierarquias identitárias
hierarquias de castas
identitárias em em
de castas que que
são são
estruturadas as sociedades
estruturadas latino-americanas
as sociedades merece
latino-americanas ser ser
merece reconhecido
reconhecido
como umauma
como Outra escola.
Outra UmaUma
escola. invenção latino-americana.
invenção latino-americana.
O Manifesto Anuncia
O Manifesto que que
Anuncia as pressões
as pressões
por por
umauma
escola
escola
popular
popular
igualitária aindaainda
igualitária repostas em nossos
repostas dias dias
em nossos vêmvêm
de longe. QueQue
de longe. os ideais
os ideais
de igualdade cidadã
de igualdade vêmvêm
cidadã de longe e persistem.
de longe Não Não
e persistem. umauma
escola que que
escola se se
propõe educar
propõe os decretados
educar sub-cidadãos
os decretados parapara
sub-cidadãos a cidadania,
a cidadania,
nemnem
os os
decretados sub-humanos
decretados parapara
sub-humanos a humanidade,
a humanidade,
masmas
umauma
escola
escola
que que
os os
reconhece
reconhece cidadãos
cidadãos – que
– que reconhece
reconhece umauma cidadania
cidadania e humanidade
e humanidade
igualitária.
igualitária.
O não-reconhecimento da cidadania-humanidade
O não-reconhecimento tensiona
da cidadania-humanidade nossa
tensiona nossa
história e instigou
história e instiga
e instigou velhas
e instiga e novas
velhas lutaslutas
e novas por por
reconhecimento de de
reconhecimento
umauma
cidadania e humanidade
cidadania plena,
e humanidade não não
plena, condicionada nemnem
condicionada à igualdade
à igualdade
escolar. LutasLutas
escolar. postas não não
postas só por eliteselites
só por republicanas, masmas
republicanas, pelospelos
grupos
grupos
sociais, étnicos,
sociais, raciais
étnicos, vitimados
raciais por por
vitimados umauma
escola que que
escola continua a a
continua
reproduzir nossa
reproduzir sociedade
nossa de castas.
sociedade de castas.

14 14
Prólogo
Prólogo

Tensões
Tensões
repostas
repostas
na na
atualidade
atualidade
e que
e que
o Manifesto
o Manifesto
lembra
lembra
transpassaram
transpassaram a nossa
a nossa história
história política-educacional.
política-educacional. Tensões
Tensões ocultadas
ocultadas
a exigir
a exigir maior
maior centralidade
centralidade no escrever,
no escrever, lembrar
lembrar a história
a história de nossa
de nossa
educação.
educação. O Manifesto
O Manifesto deixadeixa explícito
explícito que que o direito
o direito do povo
do povo a uma
a uma
escola,
escola, a uma
a uma educação
educação popular
popular igualitária
igualitária coloca
coloca de manifesto
de manifesto as as
persistentes
persistentes tensões
tensões sociais,
sociais, políticas,
políticas, culturais
culturais das das sociedades
sociedades latino-
latino-
americanas.
americanas.
O Manifesto
O Manifesto Denuncia
Denuncia que que
essaessa
escola
escola
parapara
a igualdade
a igualdade
de todos
de todos
porque todos
porque são são
todos reconhecidos cidadãos
reconhecidos foi demolida
cidadãos somente
foi demolida uns uns
somente
meses
meses depois
depois de criada
de criada e a esegregação
a segregação do povo
do povo é reafirmada.
é reafirmada. ParaPara
a a
ínfima
ínfima plebe,
plebe, gente
gente comum,
comum, baixabaixa
são são respostas
respostas às escolas
às escolas por por castas.
castas.
Voltam
Voltam às escolas
às escolas parapara meninas,
meninas, pobres,
pobres, parapara órfãos.
órfãos. “A igualdade
“A igualdade
cidadã
cidadã é vista
é vista como
como ameaçadora
ameaçadora da da ordem
ordem maismais colonial
colonial que que
republicana
republicana imperante
imperante em nossas
em nossas terras.”
terras.”
A igualdade
A igualdade cidadã
cidadã e humana
e humana continuam
continuam temidas
temidas como
como
ameaçadoras
ameaçadoras até até
pelaspelas
eliteselites “democráticas”.
“democráticas”. Ameaçadoras
Ameaçadoras de de
privilégios,
privilégios, ameaçadoras
ameaçadoras das das estruturas
estruturas sociais,
sociais, econômicas,
econômicas, políticas,
políticas,
culturais,
culturais, classistas,
classistas, racistas,
racistas, sexistas,
sexistas, coloniais
coloniais e republicanas
e republicanas
estruturadas
estruturadas pelopelo capitalismo.
capitalismo.
O Manifesto
O Manifesto se pergunta
se pergunta se esse
se esse sonho
sonho de uma
de uma escola
escola popular
popular
nas nas Américas
Américas não não fracassou
fracassou por por
ser ser
um um sonho
sonho fora fora
do do tempo,
tempo,
“Intempestivo”.
“Intempestivo”. Tão Tão intempestivo,
intempestivo, fora fora do tempo
do tempo político
político e pedagógico
e pedagógico
há 200
há 200 anosanos quanto
quanto hoje.hoje. A leitura
A leitura do Manifesto
do Manifesto instiga
instiga o pensamento
o pensamento
educacional
educacional a optar
a optar por por
umauma “intempestiva”
“intempestiva” pressão
pressão por por
outraoutra escola
escola
justa,justa,igualitária,
igualitária, humana,cidadã
humana, cidadãparapara milhõesde de
milhões crianças,
crianças,
adolescentes,
adolescentes, jovens-adultos
jovens-adultos populares
populares condenados
condenados a uma um sobreviver
sobreviver tão tão

15 15
Miguel
Miguel
Arroyo
Arroyo

injusto,
injusto,
desumano.
desumano.
Pressões
Pressões
parapara
que que
o tempo-espaço
o tempo-espaço
da escola
da escola
sempre
sempre
sonhado pelospelos
sonhado setores populares
setores seja seja
populares um um
tempo-espaço igualitário
tempo-espaço de de
igualitário
umauma
vivência igualitária
vivência de um
igualitária justo,justo,
de um humano viver.viver.
humano
Realmente hojehoje
Realmente como 200 200
como anosanos
atrásatrás
é deé extrema radicalidade
de extrema radicalidade
política um um
política Manifesto por por
Manifesto umauma
“intempestiva” presença
“intempestiva” de uma
presença escola
de uma escola
popular igualitária
popular em em
igualitária nossas sociedades
nossas que que
sociedades continuam sendo
continuam tão tão
sendo
injustas, tão desiguais
injustas, parapara
tão desiguais os mesmos: os povos
os mesmos: originários,
os povos indígenas,
originários, indígenas,
quilombolas, negros.
quilombolas, Trabalhadores.
negros. Questões
Trabalhadores. persistentes
Questões em em
persistentes nossas
nossas
sociedades e que
sociedades o Manifesto
e que mostra
o Manifesto não não
mostra serem intempestivas.
serem Serem
intempestivas. Serem
de um tempo
de um social,
tempo político
social, tão persistente.
político tão persistente.
O Manifesto não não
O Manifesto é apenas tempestivo
é apenas ou revelador
tempestivo de um
ou revelador tempo
de um tempo
político de persistentes
político estruturas
de persistentes segregadoras.
estruturas É um
segregadoras. Manifesto
É um que que
Manifesto
revela umauma
revela constante política:
constante as lutas
política: por por
as lutas igualdade social,
igualdade étnica,
social, étnica,
racial, cidadã,
racial, humana.
cidadã, Revela
humana. que que
Revela as lutas por por
as lutas umauma
educação popular
educação popular
igualitária têm têm
igualitária persistido na história
persistido das das
na história Américas. Sobretudo,
Américas. lutaslutas
Sobretudo, de de
resistência, libertação
resistência, dos dos
libertação oprimidos da condição
oprimidos de sub-cidadãos.
da condição Sub-Sub-
de sub-cidadãos.
humanos.
humanos.
O O
Manifesto nos nos
Manifesto lembra de de
lembra que que
essaessa
invenção situada
invenção situada
historicamente possui
historicamente umauma
possui forçaforça
filosófica e política
filosófica que que
e política excede seu seu
excede
contexto histórico
contexto e see projeta
histórico a outros
se projeta tempos.
a outros A nossos
tempos. tempos,
A nossos o o
tempos,
que que
nos nos
deixadeixa
interrogações que que
interrogações exigem respostas:
exigem qualqual
respostas: o lugar dessadessa
o lugar
Outra história
Outra de Outros
história Sujeitos
de Outros em em
Sujeitos lutaslutas
por por
umauma
escola popular
escola popular
realmente igualitária?
realmente Da escola
igualitária? esperam
Da escola que que
esperam os invente como
os invente povo-
como povo-
cidadãos ou se
cidadãos ou afirmando povo,povo,
se afirmando cidadãos reinventam
cidadãos a escola?
reinventam Um Um
a escola?
convite a reconhecer
convite essaessa
a reconhecer Outra história
Outra e esses
história Outros
e esses Sujeitos
Outros dessadessa
Sujeitos
Outra história
Outra ocultada.
história A Denúncia
ocultada. das das
A Denúncia desigualdades
desigualdades
sociais,
sociais,
políticas,
políticas,

16 16
Prólogo
Prólogo

culturais
culturais
– dos
– dos
culturicídios
culturicídios
históricos
históricos
que que
padecem
padecem
– será
– será
feitafeita
comcom
especial
especial radicalidade
radicalidade pelospelos oprimidos
oprimidos que que as padecem.
as padecem. São São
eles eles
os os
sujeitos
sujeitos maismais denunciantes
denunciantes dessas
dessas injustiças.
injustiças.
Os oprimidos
Os oprimidos são são também
também os Anunciantes
os Anunciantes das das possibilidades
possibilidades de de
umauma escola
escola popular
popular igualitária
igualitária porque
porque sujeitos
sujeitos feitosfeitos tão desiguais;
tão desiguais; têm têm
consciência
consciência de que
de que umauma escola
escola popular
popular igualitária
igualitária é inseparável
é inseparável de uma
de uma
sociedade
sociedade menos
menos desigual.
desigual. TêmTêm consciência
consciência de que
de que as persistentes
as persistentes
tentativas
tentativas de igual
de igual educação
educação parapara a igualdade
a igualdade social
social têm têm
sidosido demolidas
demolidas
em nossa
em nossa história.
história.
O Manifesto
O Manifesto revela
revela que que a intempestiva
a intempestiva presença
presença e a eteimosia
a teimosia
do do
sonho
sonho de mudar
de mudar a ordem
a ordem social
social segmentada
segmentada desigual
desigual pelapela escola,
escola,
educação
educação igualitária
igualitária persiste,
persiste, masmas a realidade
a realidade social,
social, econômica,
econômica,
política,
política, cultural
cultural e atée pedagógica,
até pedagógica, classista,
classista, sexista,
sexista, racista
racista termina
termina se se
impondo,
impondo, deixando
deixando em em suspenso
suspenso a potência
a potência política
política e pedagógica
e pedagógica
sonhada
sonhada de uma
de uma escola
escola igualitária
igualitária popular
popular capaz
capaz de desconstruir
de desconstruir
sociedades
sociedades tão desiguais.
tão desiguais.
Também
Também no Manifesto
no Manifesto se destaca
se destaca o Anúncio
o Anúncio de Outra
de Outra
escola,
escola,
outraoutra
educação popular
educação anunciada
popular em em
anunciada nossa América
nossa Latina
América na na
Latina
pluralidade
pluralidade de resistências
de resistências populares,
populares, de lutas
de lutas por por libertação
libertação de tantos
de tantos
tratos
tratos opressores.
opressores. Por Por
lutaslutas de afirmação
de afirmação de serem
de serem sujeitos
sujeitos de sua
de sua
própria
própria formação.
formação. Sujeitos
Sujeitos oprimidos,
oprimidos, masmas afirmativos
afirmativos de de
suassuas
Pedagogias.
Pedagogias. Outra
Outra escola
escola popular
popular não não
no no sentido
sentido das das
eliteselites
– de– de
educação
educação do povo
do povo ignorante,
ignorante, de moralização
de moralização do povo
do povo semsem valores,
valores, de de
culturização
culturização do povo
do povo sem sem cultura.
cultura. MasMas
umauma escola
escola popular
popular porque
porque os os
reconhece
reconhece sujeitos
sujeitos de saberes,
de saberes, valores,
valores, culturas,
culturas, identidades
identidades e reforça
e reforça
essasessas identidades.
identidades. Um Um movimento
movimento de afirmação
de afirmação de Outra
de Outra escola,
escola, Outra
Outra

17 17
Miguel
Miguel
Arroyo
Arroyo

educação
educação
popular
popular
que que
vemvem
sendo
sendo
afirmada
afirmada
pelapela
diversidade
diversidade
de de
movimentos populares
movimentos nas nas
populares Américas.
Américas.
A escola popular:
A escola umauma
popular: invenção latino-americana
invenção tem tem
latino-americana sidosido
umauma
tentativa que que
tentativa perpassa nossa
perpassa história.
nossa Tentativa
história. que que
Tentativa teveteve
e tem como
e tem como
os sujeitos maismais
os sujeitos radicais os próprios
radicais coletivos
os próprios indígenas,
coletivos negros,
indígenas, negros,
quilombolas, camponeses,
quilombolas, trabalhadores
camponeses, que que
trabalhadores ao resistirem a históricas
ao resistirem a históricas
opressões se libertam,
opressões lutam
se libertam, por por
lutam Outro projeto
Outro de campo,
projeto de cidade,
de campo, de cidade,
de sociedade, de Estado
de sociedade, ondeonde
de Estado umauma
escola popular,
escola igualitária
popular, seja seja
igualitária
possível, como
possível, invenção
como real real
invenção latino-americana. Um Um
latino-americana. Manifesto Anúncio
Manifesto Anúncio
de que há Outros
de que Sujeitos
há Outros de Outra
Sujeitos história
de Outra a não
história ser esquecida.
a não Ser Ser
ser esquecida.
prioritária.
prioritária.

18 18
Manifesto
Manifesto
porpor
umauma
escola
escola
filosófica
filosófica
popular
popular
Apresentação
Apresentação

Vivemos
Vivemos tempos
tempos sombrios
sombrios na América
na América Latina.
Latina. Tempos
Tempos nos nos
quaisquais
quemquem
manda
manda é oé dinheiro
o dinheiro e não
e não o povo,
o povo, embora
embora as formas
as formas sejam
sejam
democráticas.
democráticas. Tempos
Tempos nos nos
quaisquais a educação
a educação é pautada
é pautada por por bancos
bancos e e
economistas.
economistas. Tempos
Tempos nos nos
quaisquais as prioridades
as prioridades são são estabelecidas
estabelecidas pelopelo
mercado
mercado e não
e não os desejos
os desejos e asenecessidades
as necessidades
das das pessoas.
pessoas. Tempos
Tempos nos nos
quaisquais
até até a verdade
a verdade está está
fora fora de moda
de moda e o epróprio
o próprio planeta
planeta parece
parece
indefeso
indefeso diante
diante das das enormes
enormes investidas
investidas do consumo
do consumo e a concorrência.
e a concorrência.
Nestes
Nestes tempos
tempos neoliberais,
neoliberais, a educação
a educação na na América
América Latina
Latina é é
tratada
tratada comocomo
um um negócio
negócio e, noe, melhor
no melhor
dos dos casos,
casos, comocomo investimento,
investimento,
masmas quase
quase nunca
nunca como
como um um direito
direito ou exigência.
ou exigência. A educação
A educação privada
privada
está está
cadacada
vez vez
maismais concentrada
concentrada em em grandes
grandes grupos
grupos econômicos.
econômicos. A A
educação
educação pública
pública é descuidada,
é descuidada, abandonada,
abandonada, relegada.
relegada. Parece
Parece o reino
o reino
do avesso.
do avesso. O prognóstico
O prognóstico de Discépolo
de Discépolo (1935)
(1935) foi insuficiente:
foi insuficiente: se ose o
século
século 20 um
20 foi foi um cambalacho,
cambalacho, o 21 oestá
21 está sendo
sendo demencial.
demencial.
Neste
Neste contexto,
contexto, afirmamos,
afirmamos, comcom
este este
livro,livro,
um um Manifesto
Manifesto por por
escola
umauma escola
filosófica
filosófica
popular
popular
. É . uma
É uma
tomada
tomada
de de
posição,
posição,
umauma
afirmação de pensamento
afirmação e dee mundo.
de pensamento O Manifesto
de mundo. é, aoé, mesmo
O Manifesto ao mesmo
tempo, propositivo
tempo, e aberto.
propositivo Estabelece
e aberto. princípios
Estabelece comcom
princípios o sentido de de
o sentido
inícios parapara
inícios outro mundo
outro educacional
mundo diferente
educacional ao ao
diferente vivenciado
vivenciado
atualmente.
atualmente. MasMas vamos
vamos por por partes.
partes. Antes,
Antes, são são necessárias
necessárias algumas
algumas
palavras
palavras sobre
sobre o que
o que entendemos
entendemos por por Manifesto.
Manifesto. E oferecemos
E oferecemos essasessas

21 21
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

palavras
palavras
pensando
pensando
algumas
algumas
perguntas
perguntas
como:
como:
O que
O que
é um
é um
manifesto?
manifesto?
Por Por
que que
queremos escrever
queremos um um
escrever manifesto?
manifesto?
Por Por
que que
um um
manifesto escola
pelapela
manifesto escola
filosófica
filosófica
popular
popular
? Que? Que
sentido
sentido
tem tem
parapara
nós nós
escrever um um
escrever manifesto escola
pelapela
manifesto escola
filosófica
filosófica
popular
popular
nesteneste
momento da educação
momento latino-americana?
da educação Por Por
latino-americana? que que
aquiaqui
e agora
e agora
um um
manifesto por por
manifesto escola
umauma escola
filosófica
filosófica
popular
popular
? Posteriormente,
? Posteriormente,
analisamos cadacada
analisamos um um
dos dos
termos que que
termos o compõem: escola,
o compõem: filosófica,
escola, filosófica,
popular.
popular. Percorremos
Percorremos alguns
alguns horizontes
horizontes históricos
históricos diferentes:
diferentes: a Atenas
a Atenas
clássica,
clássica, a Europa
a Europa do século
do século XIX, XIX, a América
a América Latina
Latina que que
luta luta
por por
sua sua
independência nessenesse
independência mesmo século.
mesmo EssaEssa
século. visitavisita
pelapela
história não não
história tem tem
a a
finalidade de rastrear
finalidade umauma
de rastrear origem, masmas
origem, buscar inspirações
buscar em em
inspirações outros
outros
tempos que que
tempos nos nos
ajudem a pensar
ajudem no presente.
a pensar O senso
no presente. principal
O senso é é
principal
colocar nossas
colocar mãosmãos
nossas parapara
pensar e viver
pensar outraoutra
e viver escola diferente
escola da atual,
diferente da atual,
umauma
escola hospitaleira,
escola igualitária,
hospitaleira, irreverente,
igualitária, emancipadora
irreverente, e e
emancipadora
comunista. MãosMãos
comunista. à obra.
à obra.

22 22
I. O I.QUE
O QUE
É UMÉ MANIFESTO ? ?
UM MANIFESTO

De acordo
De acordo
comcom
o Dicionário
o Dicionário
Michaelis,
Michaelis,
a palavra
a palavra
manifesto,
manifesto,
de origem
de origem
latina,
latina, é uma
é uma declaração
declaração pública
pública em que
em que um um grupo
grupo de pessoas
de pessoas ou um
ou um
único
único indivíduo
indivíduo esclarece
esclarece determinadas
determinadas posições
posições ou decisões
ou decisões (Michaelis,
(Michaelis,
1
. De1. De
2018)2018) acordo
acordo
comcom
este este
dicionário,
dicionário,
manifestar
manifestar
é tornar
é tornar
público,
público,
expressar,
expressar, revelar.
revelar.
Em Em latim,
latim, manifesto
a palavra
a palavra manifesto
é umé um
adjetivo
adjetivo
cujocujo
significado
significado
é: é:
evidente,
evidente, claro,claro, palpável
palpável (Lewis;
(Lewis; Short,
Short, 1879).
1879). EssesEsses significados
significados derivam
derivam
2 2
de um
de um maismais literal
literal : "aquele
: "aquele
que que
é golpeado
é golpeado
pelapela
mão",
mão",
"pego
"pego
comcom
a a
mão"mão"
ou "aquele que que
ou "aquele é alcançado comcom
é alcançado a mão" (Lewis;
a mão" Short,
(Lewis; 1879;1879;
Short,
Ernout;
Ernout; Millet,
Millet, 2001).
2001). Os dicionários
Os dicionários canônicos
canônicos de latim-inglês
de latim-inglês e latim-
e latim-
francês
francês como
como o Oxford
o Oxford
LatinLatin
Dictionary
Dictionary
(Lewis;
(Lewis;
Short,
Short,
1879)
1879)
e oe o
Dictionnaire
Dictionnaire
etymologique
etymologique
de de
la langue
la langue
latine.
latine.
Histoire
Histoire
des des
motsmots
(Ernout;
(Ernout;
Millet,
Millet,
2001)2001)
derivam
derivam
destadesta
tradução
tradução
literal
literal
o sentido
o sentido
de "pego
de "pego
no ato"
no ato" ou "pego
ou "pego em em flagrante".
flagrante". ParaPara os filólogos,
os filólogos, trata-se
trata-se de uma
de uma
palavra
palavra cujacuja etimologia
etimologia é muito
é muito difícil
difícil de reconstruir.
de reconstruir. Apesar
Apesar de não
de não
existir
existir um um consenso
consenso finalfinal sobre
sobre a suaa sua composição,
composição, a palavra
a palavra "manifesto"
"manifesto"
estaria
estaria composta
composta pelaspelas manus
palavras
palavras manus
(mão) e fendo
(mão) e fendo
(palavra
(palavra
antiga
antiga
que que
compõe offendo
compõe offendo
, defendo, infensum
, defendo, infensum
e infestus
e infestus
e seerefere
se refere
a certa
a certa
hostilidade).
hostilidade). O caráter
O caráter hostil
hostil de fendo
de fendo
proviria
proviria
da raiz
da raiz
indo-europeia
indo-europeia
dhers
dhers
, cujo
, cujo
significado
significado
poderia ser animar-se,
poderia ser animar-se,
atrever-se
atrever-se
. Essa
. Essa
raiz raiz
está está

1
N. T.1 N.Procuramos
T. Procuramos
o significado
o significado
da palavra
da palavra
em umemdicionário
um dicionário
em português
em português
para para
adaptar
adaptar
o o
texto texto ao leitor
ao leitor da presente
da presente edição.
edição.
2 2
N. T. N.Algumas
T. Algumas
das citações
das citações
bibliográficas
bibliográficas
não foram
não foram
encontradas
encontradas
em português,
em português,
portanto,
portanto,
foramforam
traduzidas
traduzidas
livremente.
livremente.
23 23
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

documentada
documentada
na na
entrada
entrada
408 408 Indogermanische
de de Indogermanische
Etymologische
Etymologische
Woerterbuch
Woerterbuch
(Pokorny,
(Pokorny,
1959,1959,
p. 259).
p. 259).
É interessante
É interessante
destacar
destacar
que que
nenhum
nenhum dos dos dicionários
dicionários consultados
consultados propõe
propõe umauma tradução
tradução explícita
explícita de de
fendo
fendo
; somente
; somente
fazem
fazem
referência
referência
ao ao
seu seu
caráter
caráter
hostil
hostil
e ae sua
a sua
participação nas nas
participação palavras mencionadas,
palavras cujacuja
mencionadas, semântica supõe
semântica sempre
supõe a a
sempre
presença de uma
presença hostilidade.
de uma hostilidade.
Talvez por por
Talvez causa destadesta
causa faltafalta
de clareza, a palavra
de clareza, manifesto
a palavra foi foi
manifesto
utilizada de diversas
utilizada formas
de diversas nas nas
formas linguagens romances.
linguagens No No
romances. casocaso
do do
castelhano, temos
castelhano, documentos
temos do do
documentos século XIII XIII
século (España, 2017).
(España, Na Na
2017).
maioria deles,
maioria a palavra
deles, aparece
a palavra em sua
aparece forma
em sua latina,
forma quase
latina, em todos
quase em todos
os casos consultados,
os casos como
consultados, um um
como adjetivo que que
adjetivo faz referência ao caráter
faz referência ao caráter
claro,claro,
palpável ou ou
palpável evidente de de
evidente umauma
coisa.coisa.
Battaglia Grande
no no
Battaglia Grande
dizionario delladella
dizionario lingua italiana
lingua italiana
(1975)
(1975)
afirma
afirma
que que
durante
durante
o século
o século
XVI XVI
a palavra manifesto
a palavra manifesto
era considerada
era considerada
umauma
folhafolha
escrita
escrita
à mão,
à mão,
impressa
impressa
ouvários
ou de de vários formatos,
formatos, apresentada
apresentada principalmente
principalmente em lugares
em lugares públicos
públicos
parapara
divulgar e propagar
divulgar questões
e propagar de interesse
questões parapara
de interesse a coletividade ou ou
a coletividade
notícias consideradas
notícias importantes
consideradas parapara
importantes o público. Durante
o público. os séculos
Durante os séculos
XVI XVI
a XVIII, alguns
a XVIII, territórios
alguns da atual
territórios Itália,Itália,
da atual como o Ducado
como de Milão,
o Ducado de Milão,
as províncias da Toscana
as províncias e ose reinos
da Toscana de Nápoles,
os reinos Sicília
de Nápoles, e Sardenha,
Sicília e Sardenha,
estiveram sob sob
estiveram a autoridade da monarquia
a autoridade espanhola;
da monarquia por por
espanhola; tanto, é é
tanto,
provável que que
provável por por
ali este sentido
ali este tenha
sentido entrado
tenha no reino
entrado da Espanha
no reino e, e,
da Espanha
assim, na língua
assim, castelhana.
na língua castelhana.
Daniel Chouinard
Daniel (1980),
Chouinard em em
(1980), seu seu
estudo sobre
estudo as origens
sobre e uso
as origens e uso
da palavra manifesto
da palavra entreentre
manifesto os séculos XVI XVI
os séculos e XIX na na
e XIX França, faz faz
França,
referência aos aos
referência diversos usosusos
diversos da palavra. ParaPara
da palavra. este este
autor, a palavra
autor, a palavra
manifesto experimentou
manifesto um um
experimentou processo gradativo
processo de substantivação
gradativo ao ao
de substantivação

24 24
O queOéque
um émanifesto?
um manifesto?

longo
longo
de sua
de sua
história.
história.
Antes
Antes
do ano
do ano
1550,1550,
o uso
o uso
da palavra
da palavra
manifesto
manifesto
como
como substantivo
substantivo era era extremamente
extremamente pouco
pouco frequente
frequente (Chouinard,
(Chouinard,
1980,1980, p. 22).
p. 22). Chouinard
Chouinard afirma
afirma que que
em em
15751575 acontece
acontece comcom maior
maior
frequência
frequência a substantivação
a substantivação da palavra
da palavra na língua
na língua francesa
francesa a partir
a partir do do
contato
contato comcom a palavra
a palavra italiana
italiana "manifesto"
"manifesto" (Chouinard,
(Chouinard, 1980,1980, p. 23).
p. 23).
Contudo,
Contudo, somente
somente no fim
no fim do século
do século XVII,XVII, a palavra
a palavra foi incluída
foi incluída nos nos
dicionários
dicionários franceses
franceses comocomo escrito
escrito público
público de caráter
de caráter justificativo
justificativo e e
declarativo
declarativo (Richelet,
(Richelet, 1679;1679; Furetière,
Furetière, 1694).
1694). A partir
A partir destadesta inclusão
inclusão nas nas
lexicografias
lexicografias da época,
da época, o sentido
o sentido da palavra
da palavra evoluiu
evoluiu até até chegar
chegar a seu
a seu
significado
significado atual.atual.
Durante
Durante a Revolução
a Revolução Francesa,
Francesa, o manifesto
o manifesto se torna
se torna um um
instrumento
instrumento de propaganda
de propaganda política,
política, de acordo
de acordo comcom a sua
a sua definição
definição
atualatual (Somigli,
(Somigli, 2003,
2003, p. 44).
p. 44). Ou seja,
Ou seja, o manifesto
o manifesto é utilizado
é utilizado comocomo
umauma
espécie
espécie de programa
de programa que que expressa
expressa os princípios
os princípios de ação
de ação de um
de um
determinado
determinado grupo.
grupo. Durante
Durante este este período,
período, estesestes textos
textos são são utilizados
utilizados
parapara divulgar
divulgar e apoiar
e apoiar as ideias
as ideias de cada
de cada setor.
setor. Dessa
Dessa forma,
forma, foram
foram
escritos
escritos o Noveau
e divulgados
e divulgados o Noveau
manifeste
manifeste
des des
Princes
Princes
émigrés,
émigrés,
et leur
et leur
profession de foi
profession de sur la Constitution
foi sur française
la Constitution française ), O),manifesto
(1791(1791 O manifesto
da da
cidade
cidade e o eestado
o estado de Avignon
de Avignon (1791) e O emanifesto
(1791) O manifesto
dos dos
iguais
iguais
(1796).
(1796).
Em Em
cadacada
um um deles,
deles, é possível
é possível ver ver as posturas
as posturas políticas
políticas daqueles
daqueles que que
escrevem,
escrevem, suassuas intenções
intenções e previsões
e previsões parapara o futuro
o futuro próximo
próximo e distante
e distante
do coletivo
do coletivo do qual
do qual surgem
surgem e o ecoletivo-alvo.
o coletivo-alvo. Através
Através deles,
deles, os autores
os autores
arengam
arengam o povo,
o povo, os cidadãos
os cidadãos influentes
influentes e aseautoridades
as autoridades a tomar
a tomar umauma
posição
posição em em
prolprol de sua
de sua proposta.
proposta. ParaPara Simogli
Simogli (2003),
(2003), o manifesto
o manifesto
moderno,
moderno, e especialmente
e especialmente o doo período
do período revolucionário,
revolucionário, é umé um escrito
escrito

25 25
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

comcom
umauma
função
função
pragmática
pragmática
que que
convida
convida
à ação
à ação
àqueles
àqueles
ao qual
ao qual
está está
voltado.
voltado.
(Somigli,
(Somigli,
2003,
2003,
p. 45).
p. 45).
Assim,
Assim, manifesto
a palavra
a palavra manifesto
experimenta
experimenta
um um
processo
processo
de de
substantivação e dee ampliação
substantivação do campo
de ampliação semântico
do campo ao longo
semântico de sua
ao longo de sua
história, na língua
história, francesa
na língua e nae língua
francesa castelhana.
na língua Nesse
castelhana. sentido,
Nesse sentido,
Chouinard escreve:
Chouinard "a evolução
escreve: semântica
"a evolução da da
semântica palavra podepode
palavra ser ser
compreendida como
compreendida a transição
como de uma
a transição especialização
de uma definida
especialização muito
definida muito
bembem
a uma extensão
a uma suscetível
extensão de ser
suscetível constantemente
de ser enriquecida"
constantemente enriquecida"
(Chouinard, 190, 190,
(Chouinard, p. 22). Dessa
p. 22). forma
Dessa são são
forma as palavras, circulam
as palavras, de boca
circulam de boca
em boca e deesignificado
em boca em significado.
de significado As palavras
em significado. viajam
As palavras e, com
viajam elas,elas,
e, com
seusseus
sentidos e significados.
sentidos A palavra
e significados. manifesto
A palavra manifesto
não não
poderia
poderia
ser ser
a a
exceção,
exceção, querquer
seja seja em sua
em sua forma
forma latina
latina originária,
originária, querquer
seja seja
nas nas línguas
línguas
romances que que
romances deladela
derivam.
derivam.
Do Do
mesmo modo,
mesmo durante
modo, a Baixa
durante IdadeIdade
a Baixa Média, começa
Média, a sera ser
começa
atribuído a uma
atribuído sériesérie
a uma de escritos, de índole
de escritos, diversa,
de índole completamente
diversa, completamente
diferentes entreentre
diferentes si, osi,título comum
o título de Manifesto
comum de Manifesto
. Da. mesma
Da mesma
forma,
forma,
os os
usosusos
contemporâneos da palavra
contemporâneos afirmam
da palavra produções
afirmam completamente
produções completamente
heterogêneas entreentre
heterogêneas si, ou
si, seja, encontramos
ou seja, no gênero
encontramos comum
no gênero de de
comum
"manifesto" escritos
"manifesto" que que
escritos não não
compartilham umauma
compartilham mesma estrutura
mesma estrutura
formal de escrita.
formal ComCom
de escrita. a intenção de resolver
a intenção essaessa
de resolver questão, Latouche
questão, e e
Latouche
Poliquin-Bourassa (1977)
Poliquin-Bourassa propõem,
(1977) afastados
propõem, dos dos
afastados significados maismais
significados
tradicionais, umauma
tradicionais, sériesérie
de seis critérios
de seis formais
critérios que,que,
formais segundo eles,eles,
segundo um um
manifesto deveria
manifesto atender
deveria parapara
atender ser ser
considerado como
considerado tal. tal.
como EssesEsses
critérios são: são:
critérios 1) transmitir umauma
1) transmitir mensagem; 2) existir
mensagem; em função
2) existir de um
em função de um
ambiente sociopolítico;
ambiente 3) referir-se
sociopolítico; sempre
3) referir-se a uma
sempre açãoação
a uma concreta; 4) 4)
concreta;
ter uma dimensão
ter uma coletiva;
dimensão 5) definir-se
coletiva; por por
5) definir-se sua sua
publicação e não
publicação por por
e não

26 26
O queOéque
um émanifesto?
um manifesto?

sua sua
escrita;
escrita;
e 6)e possuir
6) possuir
certocerto
graugrau
de violência
de violência
verbal
verbal
(Latouche;
(Latouche;
Poliquin-Bourassa,
Poliquin-Bourassa, 1977,1977, p. 15-16).
p. 15-16).
EstaEsta classificação
classificação ajudaajuda a perceber
a perceber alguns
alguns aspectos
aspectos comuns
comuns dos dos
manifestos,
manifestos, masmas
não não resolve
resolve o problema
o problema da pluralidade
da pluralidade de sentidos.
de sentidos.
AlémAlém disso,
disso, geragera outros.
outros. Por Por exemplo,
exemplo, é possível
é possível escrever
escrever um um manifesto
manifesto
sem sem recorrer
recorrer à violência
à violência verbal.
verbal. A afirmação
A afirmação criativa,
criativa, os princípios
os princípios de de
um um programa
programa ou aoudeclaração
a declaração de determinados
de determinados princípios
princípios não não
são são
necessariamente
necessariamente violentos,
violentos, embora
embora suassuas consequências
consequências ou aousuaa sua defesa
defesa
sejam.
sejam. Por Por exemplo,
exemplo, somente
somente em em
um um sentido
sentido muito
muito derivado
derivado e e
enfraquecido
enfraquecido da da palavra,
palavra, poderíamos
poderíamos considerar
considerar que que declarar
declarar a a
igualdade
igualdade comocomo
um um princípio
princípio de ação
de ação afirma
afirma umauma violência
violência verbal.
verbal. Em Em
qualqual sentido
sentido poderia
poderia ser considerado?
ser considerado? Ao contradizer
Ao contradizer as formas
as formas maismais
comuns
comuns às quais
às quais se contrapõe?
se contrapõe? Se assim
Se assim fosse,fosse, muitas
muitas outras
outras formas
formas
também
também o fariam,
o fariam, e este
e este critério
critério poderia
poderia se manter,
se manter, masmas perderia
perderia a suaa sua
forçaforça hermenêutica.
hermenêutica. O mesmo
O mesmo aconteceria
aconteceria comcom os outros
os outros critérios:
critérios: qualqual
ato ato de fala
de fala não não transmite
transmite umauma mensagem?
mensagem? QualQual
delesdeles
não não existe
existe em em
função
função de um
de um contexto
contexto sociopolítico?
sociopolítico?
Interessa-nos
Interessa-nos resgatar
resgatar outros
outros sentidos
sentidos parapara entender
entender o que
o que é umé um
manifesto
manifesto a partir
a partir de alguns
de alguns dos dos significados
significados maismais antigos
antigos da palavra.
da palavra.
Acreditamos
Acreditamos que que a aparente
a aparente ligação
ligação da palavra
da palavra latina fendo
latina fendo
comcom
a raiz
a raiz
indo-europeia
indo-europeia dhers
dhers
podepode
ser ser
um um
ponto
ponto
de partida
de partida
interessante.
interessante.
Na Na
basebase do que
do que entendemos
entendemos comocomo manifesto,
manifesto, encontramos
encontramos umauma espécie
espécie de de
atrever-se,
atrever-se, de dar-se
de dar-se a sia mesmo
si mesmo a capacidade
a capacidade de fazer
de fazer algo.algo.
EstaEsta
acepção
acepção permite
permite problematizar
problematizar um um estado
estado de coisas
de coisas hegemônico
hegemônico em em
nossas
nossas sociedades
sociedades contemporâneas,
contemporâneas, nas nas
quaisquais as capacidades
as capacidades pessoais
pessoais e e
coletivas
coletivas são são permanentemente
permanentemente avaliadas
avaliadas e certificadas
e certificadas por por
umauma

27 27
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

instância
instância
externa,
externa,
isto isto
é, parece
é, parece
que que
sempre
sempre
devemos
devemos
mostrar
mostrar
a nossa
a nossa
capacidade ou habilidade
capacidade parapara
ou habilidade realizar algo,algo,
realizar e somos premiados
e somos ou ou
premiados
castigados de acordo
castigados comcom
de acordo o mostrado.
o mostrado.
O sustento conceitual
O sustento destedeste
conceitual estado de coisas
estado encontra-se
de coisas nos nos
encontra-se
desenvolvimentos contemporâneos
desenvolvimentos das das
contemporâneos teorias do capital
teorias humano,
do capital que que
humano,
afirmam que que
afirmam (da (da
mesma forma
mesma que que
forma o capital físico)
o capital o capital
físico) humano
o capital humano
podepode
ser ser
adquirido, acumulado,
adquirido, medido,
acumulado, transmitido
medido, e desvalorizado.
transmitido e desvalorizado.
Por Por
isso,isso,
a certificação e medição
a certificação dos dos
e medição saberes e capacidades
saberes são são
e capacidades de de
extrema importância:
extrema parapara
importância: legitimar e estimular
legitimar umauma
e estimular determinada
determinada
formação comcom
formação relação à própria
relação forçaforça
à própria de trabalho. O prêmio
de trabalho. seriaseria
O prêmio umauma
compensação pelopelo
compensação esforço, a determinação
esforço, e o emérito.
a determinação O castigo,
o mérito. a a
O castigo,
natural consequência
natural dos dos
consequência seusseus
opostos.
opostos.
Nessa linha,linha,
Nessa comcom
basebase
nos nos
trabalhos clássicos
trabalhos de Smith
clássicos ([1776],
de Smith ([1776],
1794), Mill Mill
1794), ([1864], 1983)
([1864], e Say
1983) ([1880],
e Say 1964),
([1880], de acordo
1964), comcom
de acordo GaryGary
Becker (1993)
Becker os conhecimentos
(1993) que que
os conhecimentos umauma
pessoa adquire
pessoa ao longo
adquire de de
ao longo
sua sua
formação constituem
formação um um
constituem capital próprio
capital do indivíduo,
próprio já que
do indivíduo, já que
contribuem significativamente
contribuem comcom
significativamente o aumento da renda.
o aumento Segundo
da renda. Segundo
Blaug (1976),
Blaug o conceito
(1976), de capital
o conceito humano
de capital abrange
humano a ideia
abrange de que
a ideia as as
de que
pessoas investem
pessoas grande
investem parteparte
grande de seu tempo
de seu e dinheiro
tempo em em
e dinheiro adquirir
adquirir
determinadas competências
determinadas comcom
competências as quais aumentar
as quais a renda.
aumentar Ou seja,
a renda. o o
Ou seja,
dinheiro não não
dinheiro é utilizado em em
é utilizado um um
prazer imediato,
prazer masmas
imediato, comcom
a a
expectativa de obter
expectativa benefícios
de obter em longo
benefícios prazo:
em longo é "investido"
prazo: na mesma
é "investido" na mesma
pessoa. Nesse
pessoa. sentido,
Nesse de acordo
sentido, comcom
de acordo o autor, trata-se
o autor, maismais
trata-se de decisões
de decisões
de investimento do que
de investimento de consumo
do que (Blaug,
de consumo 1976,1976,
(Blaug, p. 828-830). Desta
p. 828-830). Desta
forma, as competências
forma, profissionais
as competências e ase competências
profissionais cognitivas
as competências cognitivas
adquiridas ao longo
adquiridas do tempo
ao longo seriam
do tempo o capital
seriam de cada
o capital indivíduo
de cada e e
indivíduo

28 28
O queOéque
um émanifesto?
um manifesto?

determinariam
determinariam
o valor
o valor
dessedesse
indivíduo
indivíduo
no mercado
no mercado
de trabalho:
de trabalho:
cadacada
um um
vale vale o tanto
o tanto que que tenha
tenha se capacitado
se capacitado no seu
no seu percurso
percurso de formação.
de formação.
Baudelot
Baudelot e Leclercq
e Leclercq (2005)
(2005) afirmam
afirmam que que o capital
o capital humano
humano é umé um
capital
capital móvel
móvel submetido
submetido a diversas
a diversas flutuações
flutuações e pode
e pode ser adquirido
ser adquirido de de
várias
várias formas
formas (por(por
meiomeio de capacitação
de capacitação profissional,
profissional, formação
formação escolar,
escolar,
por por herança,
herança, etc.),etc.), embora
embora não não possa
possa ser obtido
ser obtido de forma
de forma acabada
acabada ou ou
definitiva
definitiva (Baudelot;
(Baudelot; Leclerq,
Leclerq, 2005,
2005, p. 30-31).
p. 30-31).
Nesse
Nesse paradigma,
paradigma, as capacidades
as capacidades que que constituem
constituem o capital
o capital de um
de um
indivíduo
indivíduo são são reconhecidas,
reconhecidas, geralmente,
geralmente, por por
umauma instância
instância comcom
a a
autoridade
autoridade necessária
necessária parapara transmitir
transmitir e proporcionar
e proporcionar essasessas capacidades.
capacidades.
No No
casocaso
dos dos sistemas
sistemas de educação
de educação estatais
estatais (público
(público e privado),
e privado), os os
responsáveis
responsáveis por por
essaessa formação
formação são são capacitadores,
capacitadores, professores,
professores,
formadores
formadores de de formadores,
formadores, escolas
escolas de de formação
formação ou ou instituições
instituições
habilitadas,
habilitadas, comocomo
umauma universidade
universidade ou um
ou um instituto
instituto de formação.
de formação.
Ao mesmo
Ao mesmo tempo,
tempo, considera-se
considera-se que que
estasestas capacidades
capacidades têm têm
um um
valor.valor.
TodasTodas
elas elas representam
representam um um
valorvalor determinado
determinado parapara o indivíduo
o indivíduo e e
parapara a sociedade.
a sociedade. Em Em função
função destadesta
ideia,ideia, determinadas
determinadas capacidades
capacidades
intelectuais
intelectuais e profissionais
e profissionais transformaram-se,
transformaram-se, nos nos últimos
últimos cinquenta
cinquenta
anos,anos,
em em mercadorias.
mercadorias. ComCom relação
relação a este
a este processo,
processo, podemos
podemos afirmar
afirmar
que,que,
comocomo afirmou
afirmou MarxMarx no século
no século XIX XIX Contribuição
em em Contribuição
à crítica
à crítica
da da
economia
economia
política
política
(Marx,
(Marx,
2008,
2008,
p. 51),
p. 51),
o valor
o valor
de toda
de toda
mercadoria
mercadoria
é é
apresentado
apresentado por por
meiomeio de dois
de dois aspectos:
aspectos: valorvalor de uso
de uso e valor
e valor de troca;
de troca; e e
o valor
o valor de uso
de uso está está relacionado
relacionado comcom a aptidão
a aptidão do objeto
do objeto de satisfazer
de satisfazer
necessidades
necessidades específicas.
específicas. No caso
No caso dos dos cursos
cursos de formação
de formação profissional
profissional e e
acadêmica,
acadêmica, cadacada
um um
delesdeles existe
existe em em função
função de uma
de uma determinada
determinada
necessidade
necessidade técnico-profissional.
técnico-profissional. Seu Seu
valorvalor de uso
de uso é determinado
é determinado pelaspelas

29 29
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

características
características
próprias
próprias
do do
objeto
objeto
e é e obtido
é obtido
no no
processo
processo
de seu
de seu
consumo. Ou Ou
consumo. seja,seja,
o valor de uso
o valor só existe
de uso pelopelo
só existe uso uso
real real
do objeto
do objeto
(Marx,
(Marx,
2008,
2008,
p. 51).
p. 51).
Por Por
isso,isso,
o valor
o valor
de uso
de uso
está está
relacionado
relacionado
comcom
as as
propriedades específicas
propriedades do objeto.
específicas Nesse
do objeto. sentido,
Nesse MarxMarx
sentido, observa que que
observa o o
valorvalor
de uso não não
de uso podepode
ser ser
medido quantitativamente,
medido se não
quantitativamente, for for
se não
estabelecido um um
estabelecido padrão de medida
padrão arbitrário
de medida e abstrato
arbitrário parapara
e abstrato qualificar
qualificar
usosusos
diversos e incomparáveis.
diversos ParaPara
e incomparáveis. exemplificar, MarxMarx
exemplificar, utiliza o o
utiliza
diamante. O diamante,
diamante. em em
O diamante, função das das
função necessidades estéticas
necessidades ou ou
estéticas
técnicas, ou seja,
técnicas, como
ou seja, enfeite
como parapara
enfeite alguém ou material
alguém de trabalho
ou material de trabalho
parapara
um um
ourives,
ourives,
é umé um
diamante
diamante
e não
e não
umauma
mercadoria
mercadoria
(Marx,
(Marx,
2008,
2008,
p. 52).
p. 52).
ParaPara
o diamante
o diamante
se tornar
se tornar
mercadoria,
mercadoria,
é necessário
é necessário
algum
algum
tipo tipo
de determinação
de determinação econômica
econômica formal.
formal. Nesta
Nesta questão,
questão, MarxMarx introduz
introduz o o
conceito de valor
conceito de troca
de valor como
de troca elemento
como formal
elemento determinante.
formal determinante.
O valor de de
O valor trocatroca
é estabelecido comcom
é estabelecido relação ao ao
relação trabalho
trabalho
materializado como
materializado unidade
como de medida
unidade e permite
de medida que que
e permite os valores de de
os valores
uso uso
sejam
sejam
intercambiáveis.
intercambiáveis.
Nesse
Nesse
sentido,
sentido,
MarxMarx
afirma
afirma
que que
“como
“como
materialização
materializaçãode de
trabalho
trabalho
social,
social,
todastodasas asmercadorias
mercadoriassão são
cristalizações
cristalizações
da mesma
da mesma
unidade.”
unidade.”
(Marx,
(Marx,
2008,
2008,
p. 53).
p. 53).
Isto Isto
significa
significa
que que
a quantidade de de
a quantidade trabalho colocado
trabalho na na
colocado produção de de
produção umauma
mercadoria determina
mercadoria seu seu
determina valorvalor
de troca. MarxMarx
de troca. mostra como
mostra umauma
como
determinada quantidade
determinada de ouro,
quantidade ferro,ferro,
de ouro, trigotrigo
ou tecido representa
ou tecido representa
valores de troca
valores de mesma
de troca grandeza,
de mesma já que
grandeza, podem
já que ser ser
podem vendidos
vendidos
através da mesma
através unidade,
da mesma o trabalho.
unidade, Por Por
o trabalho. esseesse
motivo, afirma
motivo, que que
afirma
“como
“como
valores
valores
de troca,
de troca,
as mercadorias
as mercadorias
não não
são são
maismais
que que
medidas
medidas
determinadas
determinadas
de tempos
de tempos
de trabalho
de trabalho
cristalizado.”
cristalizado.”
(Marx,
(Marx,
2008,
2008,
p. 55).
p. 55).
Em Em outras
outras palavras,
palavras, os valores
os valores de troca
de troca das das mercadorias
mercadorias são são medidos
medidos

30 30
O queOéque
um émanifesto?
um manifesto?

pelopelo
tempo
tempo
de trabalho
de trabalho
contido,
contido,
o tempo
o tempo
de trabalho
de trabalho
necessário
necessário
parapara
a a
sua sua produção.
produção.
O mesmo
O mesmo acontece
acontece comcom os saberes
os saberes e asepráticas
as práticas de formação
de formação e e
capacitação.
capacitação. Eles Eles
têm têm valores
valores de de
uso uso e valores
e valores de de troca.
troca. ComoComo
elementos
elementos de estudo,
de estudo, de desfrute
de desfrute intelectual
intelectual ou leitura
ou de de leitura criativa
criativa
independente
independente de toda
de toda relação
relação econômica
econômica formal,
formal, têm têm
um um
valorvalor de uso.
de uso.
A filosofia,
A filosofia, por por exemplo,
exemplo, comocomo saber,
saber, não não é uma
é uma mercadoria,
mercadoria, como
como no no
casocaso
do do diamante.
diamante. Agora,
Agora, esseesse
sabersaber organizado
organizado em em disciplinas
disciplinas
constitui-se
constitui-se como
como mercadoria,
mercadoria, vistovisto
que que
lhe lhe é atribuído
é atribuído um um
determinado
determinado valorvalor de troca.
de troca. Por Por exemplo,
exemplo, passapassa
a sera uma
ser uma disciplina
disciplina de de
um um programa
programa de graduação
de graduação ou pós-graduação
ou pós-graduação de uma
de uma universidade
universidade
(seu(seu caráter
caráter público
público e privado
e privado é irrelevante
é irrelevante no no processo
processo de de
transformaçãodo dosabersaberem emmercadorias).
transformação mercadorias).Como
Comotrabalho
trabalho
materializado,
materializado, estasestas disciplinas
disciplinas contêm
contêm tempo
tempo de trabalho.
de trabalho. Isto Isto
é é
evidente,
evidente, por por exemplo,
exemplo, na estrita
na estrita relação
relação existente
existente entreentre créditos
créditos e e
horas
horas estudadas
estudadas em em
umauma universidade:
universidade: umauma disciplina
disciplina é medida
é medida em em
créditos,
créditos, ou seja,
ou seja, nas nas horas
horas de trabalho
de trabalho que que demora
demora concluí-la.
concluí-la. Neste
Neste
sentido,
sentido, aprovar
aprovar umauma disciplina
disciplina supõe
supõe um um investimento,
investimento, não não só de
só de
dinheiro,
dinheiro, masmas principalmente
principalmente de tempo.
de tempo. Considerada
Considerada de acordo
de acordo comcom
seu seu
valorvalor de troca,
de troca, umauma disciplina
disciplina condensa
condensa o tempo
o tempo de trabalho
de trabalho
coagulado
coagulado do professor
do professor responsável
responsável e o etempo
o tempo do aluno
do aluno que que estudou
estudou e e
aprovou
aprovou essaessa disciplina.
disciplina. Depois
Depois de aprovada,
de aprovada, passapassa
a sera ser propriedade
propriedade
do aluno,
do aluno, poispois foi um
foi um sabersaber adquirido
adquirido através
através de determinado
de determinado trabalho.
trabalho.
Também
Também no campo
no campo da educação,
da educação, os salários
os salários dos dos professores
professores
mudam
mudam de de acordo
acordo comcom a qualificação.
a qualificação. O O salário
salário aumenta
aumenta
progressivamente,
progressivamente, à medida
à medida que que
vai vai adquirindo
adquirindo a certificação
a certificação que que

31 31
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

acredita
acredita
a progressiva
a progressiva
conclusão
conclusão
dos dos
estudos.
estudos.
Isto Isto
é, o é,capital
o capital
somente
somente
produz efeitos
produz benéficos
efeitos quando
benéficos houver
quando condições
houver de oferecê-lo
condições parapara
de oferecê-lo
seu seu
consumo.
consumo.
A medição e certificação
A medição destes
e certificação saberes
destes são são
saberes concedidas por por
concedidas um um
órgão estatal
órgão competente
estatal (Ministério
competente da da
(Ministério Educação, Ministério
Educação, do do
Ministério
Trabalho, Ministério
Trabalho, da Saúde,
Ministério etc.)etc.)
da Saúde, através de uma
através complexa
de uma rederede
complexa de de
instâncias burocráticas.
instâncias Os Os
burocráticas. saberes só são
saberes concebidos
só são como
concebidos capital
como capital
quando
quando
puderem
puderem
ser objetivados
ser objetivados
através
através
de instrumentos
de instrumentos
de medição
de medição
estáveis (Baudelot;
estáveis Leclerq,
(Baudelot; 2008).
Leclerq, Por Por
2008). isso,isso,
a avaliação, como
a avaliação, medição,
como medição,
é umé um
elemento essencial
elemento na certificação
essencial dos dos
na certificação saberes que que
saberes constituem o o
constituem
capital
capital humano.
humano.
Segundo
Segundo esta esta lógica,
lógica, quemquem
diz diz se uma
se uma pessoa
pessoa sabesabe ou não
ou não é é
alguém
alguém externo
externo ao avaliado.
ao avaliado. A pessoa
A pessoa avaliada
avaliada ocupa
ocupa umauma posição,
posição,
geralmente,
geralmente, bastante
bastante passiva
passiva nessenesse processo
processo no qual,
no qual, rarasraras vezes,
vezes, podepode
participar
participar de outra
de outra forma
forma do que
do que cumprindo
cumprindo fielmente
fielmente as instruções
as instruções da da
avaliação
avaliação realizada
realizada comcom o objetivo
o objetivo de qualificar.
de se se qualificar. Dessa
Dessa forma,
forma, a a
teoria
teoria do capital
do capital humano
humano parece
parece se basear
se basear no que
no que Rancière
Rancière denomina
denomina
"ordem
"ordem explicadora"
explicadora" e a "sociedade
e a "sociedade pedagogizada"
pedagogizada" (Rancière,
(Rancière, 2007),
2007), na na
qualqual os dispositivos
os dispositivos escolares
escolares passam
passam a reger
a reger não não só dentro,
só dentro, masmas
também
também fora fora da escola.
da escola. De outra
De outra forma:
forma: a sociedade
a sociedade passapassa a funcionar
a funcionar
como
como se fosse
se fosse umauma escola,
escola, avaliando,
avaliando, premiando
premiando e castigando
e castigando àqueles
àqueles
que que a compõem
a compõem em qualidade
em qualidade de "alunos".
de "alunos". De acordo
De acordo comcom
esta esta ordem,
ordem,
na escola
na escola existe
existe umauma distância
distância entreentre os conteúdos
os conteúdos e a compreensão
e a compreensão dos dos
alunos
alunos destes
destes conteúdos
conteúdos que que é encurtada
é encurtada através
através da explicação
da explicação do do
professor,
professor, que que depois
depois avaliará
avaliará se estudantes
se os os estudantes os compreenderam
os compreenderam
corretamente.
corretamente. ParaPara Rancière,
Rancière, "o explicador
"o explicador é aquele
é aquele que que impõe
impõe e abole
e abole
a distância,
a distância, que que a desdobra
a desdobra e que
e que a reabsorve
a reabsorve no seio
no seio de sua
de sua palavra."
palavra."

32 32
O queOéque
um émanifesto?
um manifesto?

(Rancière,
(Rancière,
2007,
2007,
p. 17).
p. 17).
Nesse
Nesse
sentido,
sentido,
o professor
o professor
que que
explica
explica
recebe
recebe
umauma
autoridade fundamental
autoridade no processo
fundamental de aprendizado,
no processo vistovisto
de aprendizado, que que
se se
tornatorna
juiz juiz
que que
determina quando
determina a explicação
quando foi foi
a explicação corretamente
corretamente
compreendida. EstaEsta
compreendida. lógica supõe
lógica a existência
supõe de pessoas
a existência que que
de pessoas não não
são são
capazes de aprender
capazes e compreender
de aprender um um
e compreender conteúdo por por
conteúdo si mesmas, e e
si mesmas,
umauma
ordem hierárquica
ordem que que
hierárquica acompanha o modo
acompanha de compreensão,
o modo de compreensão,
apropriação e reprodução
apropriação desses
e reprodução saberes.
desses Trata-se
saberes. de capacitar
Trata-se os os
de capacitar
duplamente incapazes,
duplamente porque
incapazes, não não
porque têm têm
a capacidade, competência
a capacidade, nemnem
competência
conhecimento e não
conhecimento podem
e não provê-los
podem eles eles
provê-los próprios.
próprios.
Manifestamo-nos contra
Manifestamo-nos essaessa
contra ordem. ParaPara
ordem. nós, nós,
o atrever-se
o atrever-se
implícito na etimologia
implícito da palavra
na etimologia manifesto
da palavra manifesto
afirma
afirma
o contrário
o contrário
da da
ordem
ordem explicadora
explicadora e daquilo
e daquilo proposto
proposto pelaspelas atuais
atuais sociedades
sociedades
capitalistas.
capitalistas. Ou Ou
seja,seja, manifestar-se,
manifestar-se, comocomo
um um atrever-se,
atrever-se, neganega
a a
distância entreentre
distância o aprendiz e ose saberes.
o aprendiz Aquilo
os saberes. que que
Aquilo escrevemos,
escrevemos,
estudamos e aprendemos
estudamos é testemunho
e aprendemos de uma
é testemunho igualdade
de uma de princípio
igualdade de princípio
nas nas
capacidades e supõe
capacidades umauma
e supõe decisão de reduzir
decisão a distância
de reduzir comcom
a distância textos,
textos,
ideias, conceitos,
ideias, imagens,
conceitos, sem sem
imagens, recorrer ao saber
recorrer explicador
ao saber de um
explicador de um
terceiro que que
terceiro determine, avalie
determine, e legitime
avalie nosso
e legitime graugrau
nosso de saber.
de saber.
Quando nos nos
Quando relacionamos dessadessa
relacionamos forma comcom
forma o saber, afirmamos,
o saber, afirmamos,
manifestamos a nossa
manifestamos decisão
a nossa de fazer,
decisão a seguir,
de fazer, algoalgo
a seguir, comcom
as nossas
as nossas
mãos. ComCom
mãos. estasestas
palavras, também
palavras, estamos
também afirmando
estamos essaessa
afirmando decisão.
decisão.
Um Um
manifesto exigeexige
manifesto a decisão de sedesentir
a decisão capaz
se sentir (fendo
capaz (fendo
, atrever-se)
, atrever-se)
de de
fazerfazer
algoalgo
comcom
as mãos (manus
as mãos (manus
, mão),
, mão),
de afirmar-se
de afirmar-se
comocomo
um um
igual,igual,
que que vê nos
vê nos outros
outros acompanhantes
acompanhantes na vida
na vida social,
social, masmas nunca
nunca juízes
juízes de de
sua sua própria
própria capacidade.
capacidade. Neste
Neste caso,caso, decidimos
decidimos tomar
tomar comcom as mãos
as mãos a a
escola popular...
escola e escrevê-la.
popular... Ou Ou
e escrevê-la. seja,seja,
a seguir detalhamos
a seguir o que
detalhamos nos nos
o que
sentimos capazes
sentimos de dizer/escrever/pensar/fazer
capazes sobre
de dizer/escrever/pensar/fazer a escola
sobre popular.
a escola popular.

33 33
II. POR
II. PQUE
OR QUE
UM MANIFESTO
UM MANIFESTO
POR POR
UMAUMA
ESCOLA
ESCOLA
FILOSÓFICA
FILOSÓFICA
POPULAR ? ?
POPULAR

Um Um manifesto
manifesto tem tem
umauma relação
relação estreita
estreita comcom o ambiente
o ambiente sociopolítico
sociopolítico
no qual
no qual irrompe.
irrompe. Atualmente
Atualmente o ambiente,
o ambiente, nas nas políticas
políticas públicas
públicas parapara
a a
educação
educação de nossos
de nossos países,
países, é hostil
é hostil parapara a escola
a escola popular.
popular. No Brasil,
No Brasil, o o
governo
governo golpista
golpista instalado
instalado desde
desde agosto
agosto de 2016
de 2016 tentatenta consolidar
consolidar um um
projeto
projeto tecnicista
tecnicista que que dificulte
dificulte todatoda potência
potência transformadora
transformadora da da
educação.
educação. Ao invés
Ao invés de aumentar
de aumentar os recursos
os recursos disponíveis
disponíveis parapara melhorar
melhorar
as deficientes
as deficientes condições
condições dos dos docentes
docentes e das
e das instituições
instituições de educação,
de educação,
congela
congela o orçamento
o orçamento educativo
educativo durante
durante vintevinte
anos;anos; instaura
instaura umauma
política
política autoritária
autoritária comcom
umauma
sériesérie
de de medidas
medidas unilaterais,
unilaterais, sem sem
consultar
consultar as instituições
as instituições de ensino
de ensino nemnem as entidades
as entidades representativas
representativas
dos dos profissionais
profissionais da educação;
da educação; impõe
impõe umauma reforma
reforma do ensino
do ensino médio
médio
tecnocrática
tecnocrática e instrumentalizadora,
e instrumentalizadora, minimizando
minimizando os traços
os traços de arte
de arte e e
pensamento
pensamento crítico;
crítico; executa
executa um um plano
plano nacional
nacional de formação
de formação docente
docente
retrógrado
retrógrado que que
não não valoriza
valoriza os os profissionais,
profissionais, pelopelo contrário,
contrário,
responsabiliza-os
responsabiliza-os pelospelos resultados
resultados ruinsruins
e ase profundas
as profundas desigualdades
desigualdades
do sistema
do sistema educacional
educacional brasileiro.
brasileiro. No No âmbito
âmbito das das universidades,
universidades, os os
avanços
avanços dos dos últimos
últimos quinze
quinze anosanos
em em termos
termos de de ampliá-las
ampliá-las e e
popularizá-las
popularizá-las estãoestão ameaçados.
ameaçados. Na Argentina,
Na Argentina, o governo
o governo tomatoma medidas
medidas
igualmente
igualmente retrógradas.
retrógradas. O Ministro
O Ministro da Educação
da Educação afirma
afirma que que a educação
a educação
pública
pública fracassou
fracassou e compara
e compara a sua
a sua tarefa
tarefa comcom a devastadora
a devastadora

35 35
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

3
"Campanha
"Campanha
do Deserto"
do Deserto". O3.gerente
O gerente
de RH
de RH
da educação 4
da educação 4
afirma
afirma
que que
a a
escola pública
escola é uma
pública máquina
é uma de fazer
máquina salsicha
de fazer que que
salsicha não não
cumpre
cumpre
adequadamente comcom
adequadamente seusseus
objetivos. UmaUma
objetivos. das das
principais referentes
principais do do
referentes
partido governante
partido afirma
governante que que
afirma “ninguém que que
“ninguém nasceu na pobreza
nasceu chega
na pobreza chega
à universidade”, contrariando
à universidade”, os dados
contrariando sobre
os dados as novas
sobre universidades
as novas universidades
5
públicas na província
públicas de Buenos
na província Aires.
de Buenos O 5 presidente
Aires. O presidente
da República
da República
culpaculpa
seguidamente os grêmios
seguidamente docentes
os grêmios como
docentes responsáveis
como dos dos
responsáveis
problemas
problemas da educação
da educação argentina.
argentina.
TudoTudo indica
indica que,que,
em em nossa
nossa região,
região, comcom algumas
algumas exceções,
exceções, em em
países como
países Cuba,
como Venezuela
Cuba, ou Bolívia,
Venezuela a escola
ou Bolívia, popular
a escola está está
popular muito
muito
longelonge
das das
prioridades das das
prioridades atuais políticas
atuais educacionais
políticas estatais
educacionais latino-
estatais latino-
americanas, que que
americanas, concentram seusseus
concentram esforços na na
esforços promoção ou ou
promoção
administração de sistemas
administração de avaliação.
de sistemas EssasEssas
de avaliação. políticas públicas,
políticas ao ao
públicas,
invésinvés
de promover esforços
de promover parapara
esforços o fortalecimento e a e expansão,
o fortalecimento a expansão,
concentram-se na fiscalização
concentram-se (individual
na fiscalização e institucional)
(individual dos dos
e institucional) saberes
saberes
considerados mercadorias,
considerados e eme em
mercadorias, medições comparativas
medições que que
comparativas também
também
colocam seusseus
colocam sistemas e integrantes
sistemas como
e integrantes mercadorias
como em em
mercadorias um um
mercado maior.
mercado Acreditamos
maior. que que
Acreditamos nessenesse
contexto desfavorável,
contexto desfavorável,
decididamente tristetriste
decididamente e covarde pelospelos
e covarde efeitos econômicos
efeitos e sociais
econômicos destas
e sociais destas
políticas, é importante
políticas, se manifestar
é importante a favor
se manifestar de uma
a favor escola
de uma popular.
escola popular.
Não Não
se trata de uma
se trata oposição
de uma negativa,
oposição de afirmar
negativa, umauma
de afirmar contracorrente
contracorrente
ou uma causa
ou uma perdida.
causa PeloPelo
perdida. contrário, é uma
contrário, afirmação
é uma de novas
afirmação de novas
3 3
PrimeiroPrimeirogenocídio
genocídiodo doEstadoEstadoNacional
NacionalArgentino.
Argentino.Disponível
Disponívelem: em:
https://www.clarin.com/politica/ministro-bullrich-campana-desierto-desato_0_rycAGitn.html
https://www.clarin.com/politica/ministro-bullrich-campana-desierto-desato_0_rycAGitn.html
AcessoAcesso
em: 16-09-2016.
em: 16-09-2016.
4
Essa4 foi
Essaa definição
foi a definição
do próprio
do próprio
ministro
ministro
na reunião
na reunião
da indústria.
da indústria.
Disponível
Disponível
em: em:
www.pagina12.com.ar/4801-bullrich-ante-empresarios-no-les-hablo-como-ministro-de-educ
www.pagina12.com.ar/4801-bullrich-ante-empresarios-no-les-hablo-como-ministro-de-educ
AcessoAcesso
em: 16-12-2016.
em: 16-12-2016.
5 5
Declaração
Declaração
de María
de María
Eugenia
Eugenia
Vidal,Vidal,
governadora
governadora
do Estado
do Estado
de Buenos
de Buenos
Aires.Aires.
Disponível
Disponível
em: em:
https://www.pagina12.com.ar/118378-el-prejuicio-de-un-gobierno-para-ricos
https://www.pagina12.com.ar/118378-el-prejuicio-de-un-gobierno-para-ricos AcessoAcesso
em: 03-02-
em: 03-02-
2018. 2018.
36 36
Por que
Porum
quemanifesto
um manifesto
por uma
por escola
uma escola
filosófica
filosófica
popular?
popular?

formas
formas
de pensar
de pensar
e viver
e viver
a educação
a educação
institucionalizada,
institucionalizada,
de maneira
de maneira
formal
formal e informal,
e informal, em prol
em prol de uma
de uma escola
escola maismais sensível
sensível a outra
a outra forma
forma
de relação
de relação educacional
educacional e outra
e outra forma
forma de entender
de entender àqueles
àqueles que que fazem
fazem
parteparte
dela.dela. Valendo-nos
Valendo-nos de uma
de uma sériesérie de adjetivos
de adjetivos que que utilizaremos
utilizaremos a a
seguir:
seguir: é a afirmação
é a afirmação de uma
de uma escola
escola hospitaleira,
hospitaleira, igualitária,
igualitária, irreverente,
irreverente,
emancipadora
emancipadora e comunista.
e comunista.

37 37
III. AIII.ESCOLA
A ESCOLA
POPULAR : UMA: UMA
POPULAR INVENÇÃO
INVENÇÃO
LATINO -AMERICANA
LATINO -AMERICANA

A escola
A escola popular
popular é uma
é uma invenção
invenção latino-americana
latino-americana do século
do século XIX. XIX.
Simón
Simón Rodríguez
Rodríguez inventou
inventou escola
umauma escola
filosófica
filosófica
popular
popular
em em
18261826
na na
cidade
cidade de Chuquisaca,
de Chuquisaca, naquela
naquela época
época capital
capital da Bolívia,
da Bolívia, aonde
aonde chega
chega
acompanhado
acompanhado por por Simón
Simón Bolívar
Bolívar comocomo
seu seu Diretor
Diretor de Ensino
de Ensino Público.
Público.
Tal Tal instituição
instituição seriaseria
um um
meiomeio de emancipação
de emancipação das das novas
novas repúblicas
repúblicas
americanas,
americanas, umauma
espécie de lócus
espécie de lócus
parapara
umauma
revolução
revolução
educacional
educacional
necessária.
necessária. Ao contrário
Ao contrário das das outras
outras instituições
instituições de educação
de educação da época,
da época, a a
escola
escola de Rodríguez
de Rodríguez recebe
recebe todastodas as crianças
as crianças da cidade
da cidade sem sem exigir
exigir
nenhuma
nenhuma condição
condição identificadora.
identificadora.
Antes,
Antes, a chegada
a chegada dos dos Bourbons
Bourbons ao reino
ao reino da Espanha
da Espanha já tinha
já tinha
provocado
provocado na região
na região (em (em meados
meados do do século
século XVIII)
XVIII) umauma
sériesérie
de de
reformas
reformas que que visavam
visavam a modernização
a modernização do do império.
império. EntreEntre
elas,elas,
a a
educação
educação ocupa
ocupa um um
papelpapel central,
central, vistovisto
que,que,
parapara intelectuais,
intelectuais, políticos
políticos
e ministros,
e ministros, é um
é um dos dos meios
meios fundamentais
fundamentais parapara o progresso
o progresso
econômico,
econômico, social
social e cultural
e cultural de uma
de uma Espanha
Espanha que que perde
perde terreno
terreno diante
diante
de países
de países comocomo Inglaterra,
Inglaterra, França
França e ose Países
os Países Baixos.
Baixos. Diversos
Diversos autores
autores
fazem
fazem da educação
da educação um um
tematema central
central de suas
de suas reflexões,
reflexões, considerando
considerando
que que a capacidade
a capacidade das das massas
massas populares
populares podepode
gerargerar a mão
a mão de obra
de obra
necessária
necessária parapara a industrialização
a industrialização do império.
do império.
Agustín
Agustín Escolano
Escolano (1988)
(1988) observa
observa que,que,
parapara
os os ilustrados
ilustrados
espanhóis,
espanhóis, as causas
as causas do atraso
do atraso do império
do império não não obedecem
obedecem a motivos
a motivos
políticos
políticos nemnem sociais,
sociais, masmas a razões
a razões de de natureza
natureza econômica,
econômica, e e

39 39
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

consideram
consideram
que que
a regeneração
a regeneração
do do
país país
só pode
só pode
provir
provir
de de
umauma
promoção contínua
promoção da da
contínua economia e educação
economia ligada
e educação à produção
ligada à produção
(Escolano, 1988,1988,
(Escolano, p. 375). ComCom
p. 375). este este
propósito, acontece
propósito, umauma
acontece revisão e e
revisão
crítica da educação
crítica tradicional,
da educação ancorada
tradicional, na "esterilidade
ancorada literária
na "esterilidade e e
literária
especulativa" (Escolano,
especulativa" 1988,1988,
(Escolano, p. 376). A maioria
p. 376). dos dos
A maioria intelectuais da da
intelectuais
época concorda
época na necessidade
concorda de uma
na necessidade educação
de uma vinculada
educação ao trabalho
vinculada ao trabalho
e aoeuso das das
ao uso novas tecnologias.
novas tecnologias.
Na Na
América, são são
América, criadas diversas
criadas instituições
diversas educacionais
instituições em em
educacionais
todotodo
o continente que que
o continente reproduzem a ordem
reproduzem de castas
a ordem comcom
de castas a qual são são
a qual
constituídas: existem
constituídas: escolas
existem parapara
escolas a elite branca,
a elite outras
branca, parapara
outras as elites
as elites
dos dos
povos originários,
povos outras
originários, parapara
outras o comum dos dos
o comum povos originários,
povos originários,
outras parapara
outras crianças brancas
crianças pobres,
brancas outras
pobres, parapara
outras crianças cristãs
crianças e e
cristãs
outras parapara
outras órfãos. Por Por
órfãos. exemplo, o colégio
exemplo, São São
o colégio Cristóvão de de
Cristóvão
Chuquisaca acolhe
Chuquisaca exclusivamente
acolhe meninos
exclusivamente espanhóis
meninos ou ou
espanhóis filhosfilhos
de de
espanhóis (Vera
espanhóis Peñaranda,
(Vera 2009;
Peñaranda, Escobari
2009; De De
Escobari Querejazu, 2012).
Querejazu, O O
2012).
colégio do do
colégio Sol Sol
de Cuzco só recebe
de Cuzco filhosfilhos
só recebe da nobreza dos dos
da nobreza povos
povos
originários e filhos
originários de brancos
e filhos pobres
de brancos (Escobari
pobres de Querejazu,
(Escobari 2012).
de Querejazu, 2012).
Também existem
Também escolas
existem de doutrina
escolas parapara
de doutrina as crianças não não
as crianças nobres dos dos
nobres
6 6
povos originários
povos (García
originários Sánchez,
(García 2005).
Sánchez, As As
2005). escolas do do
escolas Cabildo
Cabildo
recebem crianças
recebem batizadas
crianças e reconhecidas
batizadas devidamente
e reconhecidas por por
devidamente seusseus
pais,pais,
geralmente crianças
geralmente pobres
crianças e mestiças
pobres (García
e mestiças Sánchez,
(García 2005).
Sánchez, 2005).
Finalmente, os órfãos
Finalmente, vão vão
os órfãos à escolas que que
à escolas funcionam no interior
funcionam de de
no interior
orfanatos.
orfanatos.
Em Em
todastodas
estasestas
escolas, o requisito
escolas, parapara
o requisito entrar depende
entrar da da
depende
condição social
condição das das
social crianças, em em
crianças, função de sua
função identidade.
de sua Dessa
identidade. Dessa

6
N. T.6 N.
O Cabildo
T. O Cabildo
era o era
órgão
o órgão
que seque
encarregava
se encarregava
da administração
da administração
geral geral
nas cidades
nas cidades
coloniais.
coloniais.
40 40
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

forma,
forma,
durante
durante
a colônia
a colônia
e os
e os
primeiros
primeiros
anosanos
dos dos
governos
governos
independentes
independentes na América,
na América, as instituições
as instituições educacionais
educacionais são são organizadas
organizadas
por por hierarquia
hierarquia identitária.
identitária. As melhores
As melhores escolas
escolas estãoestão reservadas
reservadas às às
crianças
crianças da elite
da elite e asepiores,
as piores, àquelas
àquelas que que ocupavam
ocupavam o nível
o nível maismais
baixobaixo
do sistema
do sistema de castas.
de castas.
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
criada
criada
por por
Simón
Simón
Rodríguez
Rodríguez
rompe
rompe
esta esta ordem
ordem hierárquica.
hierárquica. O “Colégio
O “Colégio de de Órfãos
Órfãos e Garotos
e Garotos de de
Carpintaria” é a ébase
Carpintaria” sobre
a base a qual
sobre o professor
a qual desenvolve
o professor seu seu
desenvolve projeto
projeto
de educação popular
de educação parapara
popular a república da Bolívia.
a república A escola
da Bolívia. recebe
A escola recebe
crianças
crianças de todas
de todas as castas
as castas comocomo iguais.
iguais. ValeVale a pena
a pena analisar
analisar o nome
o nome
da escola
da escola de Chuquisaca.
de Chuquisaca. A referência
A referência documental
documental é muito
é muito escassa:
escassa: a a
únicaúnica referência
referência ao título
ao título "Colégio
"Colégio de Órfãos
de Órfãos e Garotos
e Garotos de Carpintaria"
de Carpintaria"
é deé Vera
de Vera Peñaranda
Peñaranda em em
seu seu Simón
livrolivro Simón
Rodríguez
Rodríguez
y sus
y sus
ideasideas
de de
educación
educación popular
popular en Bolivia
en Bolivia (2009).
(2009).
ComCom
esseesse
senão,
senão,
assumimo-lo
assumimo-lo
como possível.
como possível.
Como
Como mencionamos,
mencionamos, esta esta instituição
instituição neganega o princípio
o princípio identitário
identitário
sobre
sobre o qual
o qual as escolas
as escolas da época
da época são são estruturadas.
estruturadas. No entanto,
No entanto, o título
o título
que que aparentemente
aparentemente Simón
Simón Rodríguez
Rodríguez dá àdáescola
à escola possui
possui umauma
sériesérie
de de
marcas
marcas identitárias
identitárias muito
muito fortes:
fortes: órfãos,
órfãos, garotos
garotos de carpintaria.
de carpintaria. ComoComo
é é
possível
possível que que quem
quem apaga
apaga todastodas as marcas
as marcas sociais
sociais identitárias
identitárias dessedesse
semelhante
semelhante à escola
nome
nome à escola
filosófica
filosófica
popular
popular
? ?
Trata-se
Trata-se de uma
de uma aposta
aposta que que desafia
desafia os setores
os setores abastados
abastados da da
cidade.
cidade. É umÉ um
títulotítulo
cujacuja potência
potência se afirma
se afirma maismais naquilo
naquilo não não
dito,dito,
do do
que que naquilo
naquilo dito.dito. Vejamos
Vejamos o porquê.
o porquê. Em Em
doisdois decretos
decretos de Bolívar,
de Bolívar, comcom
datadata
de 11de de11 dezembro
de dezembro de 1825,
de 1825, são são enunciadas
enunciadas as faculdades
as faculdades e e
obrigações
obrigações do Diretor
do Diretor de Ensino
de Ensino e a eadoção
a adoção
das das crianças
crianças órfãsórfãs
pelopelo

41 41
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

Estado.
Estado.
O primeiro
O primeiro
estabelece
estabelece
que que
o Diretor
o Diretor
de Ensino
de Ensino
devedeve
apresentar
apresentar
um um
plano "para"para
plano o estabelecimento de uma
o estabelecimento instituição
de uma que que
instituição abranja
abranja
todos os âmbitos
todos da instrução,
os âmbitos tornando-a
da instrução, geralgeral
tornando-a parapara
todos os povos
todos da da
os povos
República." (Salcedo
República." Bastardo,
(Salcedo 1973,1973,
Bastardo, p. 364). JuntoJunto
p. 364). comcom
essaessa
instituição,
instituição,
devedeve
ser ser
criada em em
criada cadacada
capital dos dos
capital Departamentos "uma"uma
Departamentos escola de de
escola
ensino fundamental
ensino comcom
fundamental as divisões correspondentes,
as divisões parapara
correspondentes, receber
receber
todastodas
as crianças de ambos
as crianças os sexos
de ambos que que
os sexos estejam em em
estejam idadeidade
de se
de se
instruir" (Salcedo
instruir" Bastardo,
(Salcedo 1973,1973,
Bastardo, p. 365). O segundo
p. 365). decreto
O segundo decreto
estabelece "proceder
estabelece a recolher
"proceder todos
a recolher os meninos
todos órfãos
os meninos de ambos
órfãos os os
de ambos
pais pais
ou de
ouum delesdeles
de um e reuni-los em escolas"
e reuni-los (Salcedo
em escolas" Bastardo,
(Salcedo 1973,1973,
Bastardo, p. p.
367).367).
Os dois decretos
Os dois mostram
decretos que,que,
mostram independentemente da intenção
independentemente da intenção
de promover umauma
de promover educação geralgeral
educação e uniforme, o Estado
e uniforme, republicano
o Estado republicano
mantém as diferenças
mantém específicas
as diferenças que que
específicas estruturam a sociedade.
estruturam Inclusive,
a sociedade. Inclusive,
estabelecem especificamente
estabelecem manter
especificamente "as "as
manter divisões correspondentes"
divisões e e
correspondentes"
organizar "escolas
organizar parapara
"escolas órfãos" no ensino
órfãos" fundamental.
no ensino Os trabalhos
fundamental. de de
Os trabalhos
Castellanos (2007)
Castellanos e Vera
(2007) Peñaranda
e Vera (2009)
Peñaranda afirmam
(2009) que que
afirmam os setores
os setores
abastados da cidade
abastados recebem
da cidade comcom
recebem bonsbons
olhosolhos
essesesses
doisdois
decretos
decretos
porque entendem
porque que que
entendem as escolas projetadas
as escolas são são
projetadas espaços parapara
espaços educar
educar
seusseus
filhos, reconhecendo
filhos, o lugar
reconhecendo social
o lugar e político
social das das
e político elites: "as pessoas
elites: "as pessoas
importantes estavam
importantes dispostas,
estavam até até
dispostas, entusiasmadas, de que
entusiasmadas, seusseus
de que filhosfilhos
estudassem nessanessa
estudassem escola" (Vera
escola" Peñaranda,
(Vera 2009,
Peñaranda, p. 103).
2009, Existiriam
p. 103). Existiriam
escolas parapara
escolas ricosricos
e outras parapara
e outras pobres. No entanto,
pobres. este este
No entanto, entusiasmo
entusiasmo
duradura
pouco.
pouco.
Em Em
18 de
18 novembro de 1825,
de novembro Rodríguez
de 1825, é nomeado
Rodríguez Diretor
é nomeado de de
Diretor
Ciências Físicas,
Ciências Matemáticas
Físicas, e Arte
Matemáticas por por
e Arte Bolívar (Vera
Bolívar Peñaranda,
(Vera Peñaranda,

42 42
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

2009,
2009,
p. 95).
p. 95).
EntreEntre
as funções
as funções
que que
deviadevia
exercer
exercer
estava
estava
a criação
a criação
de de
umauma escola
escola em em
cadacada capital
capital dos dos Departamentos.
Departamentos. A primeira,
A primeira, em em
Chuquisaca,
Chuquisaca, apresenta
apresenta modificações
modificações importantes
importantes comcom relação
relação aos aos
interessesda daoligarquia
interesses oligarquiada dacidade.
cidade.Longe
Longe
de de preservaras as
preservar
correspondentes
correspondentes divisões,
divisões, a escola
a escola as rejeita.
as rejeita. Rodríguez
Rodríguez aceita
aceita os os
meninos
meninos e meninas
e meninas das das diversas
diversas castas
castas no mesmo
no mesmo lugarlugar no qual
no qual os os
poderosos
poderosos pensavam
pensavam educar
educar exclusivamente
exclusivamente seusseus filhos.
filhos. Derruba
Derruba
paredes,
paredes, abreabre janelas
janelas parapara
que que as meninas
as meninas se comuniquem
se comuniquem comcom
os os
meninos,
meninos, recebe
recebe deficientes
deficientes físicos,
físicos, desamparados
desamparados e todos
e todos aqueles
aqueles que que
precisam
precisam
de proteção.
de proteção. O Libertador
Em Em O Libertador
do Meio-Dia
do Meio-Dia
da América
da América
e seus
e seus
companheiros
companheiros
de armas,
de armas,
defendidos
defendidos
por por
um um
amigo
amigo
da causa
da causa
socialsocial
, ,
7 7
escreve
escreve
: “Todos
: “Todos
deviam
deviam
estarestar
decentemente
decentemente
alojados,
alojados,
vestidos,
vestidos,
alimentados,
alimentados,
curados
curados
e receber
e receber
instrução
instrução
moral,
moral,
social
social
e religiosa.”
e religiosa.”
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 57).
p. 57).
A potência do suposto
A potência nome
do suposto da escola
nome podepode
da escola se encontrar no no
se encontrar
desafio
desafio de uma
de uma vidavida
novanova
que que afirma:
afirma: "Colégio
"Colégio de Órfãos
de Órfãos e Garotos
e Garotos de de
Carpintaria"
Carpintaria" anuncia
anuncia o fimo fim de tradições
de tradições injustas.
injustas. ComCom a palavra
a palavra "órfão"
"órfão"
afirma
afirma que que todos
todos são são bem-vindos,
bem-vindos, inclusive
inclusive aqueles
aqueles que que
até até então
então a a
sociedade
sociedade marcava
marcava como
como "os "os
não não queridos".
queridos". A expressão
A expressão "garotos
"garotos de de
carpintaria"
carpintaria" marca
marca outraoutra forma
forma de vida:
de vida: o valor
o valor do trabalho
do trabalho manual
manual
como
como forma
forma de sustento
de sustento e deeinstrução
de instrução
parapara todos,
todos, sem sem importar
importar a suaa sua
origem.
origem. É umÉ um nome
nome provocador
provocador parapara a elite
a elite que,que,
sem sem dúvida,
dúvida, não não
se vêse vê
representada
representada por por
ele, ele,
nemnem
pelapela identidade
identidade "órfãos"
"órfãos" e nem
e nem pelopelo mundo
mundo
do trabalho
do trabalho manual.
manual. É umÉ um nome
nome de uma
de uma escola
escola popular.
popular.

7
N. T.7 N.
NoT.caso
No das
casoreferências
das referências
a Simón
a Simón
Rodríguez,
Rodríguez,
quando
quando
elas estão
elas estão
incluídas
incluídas
na única
na única
ediçãoedição
publicada
publicada de obras
de suas suas obras em português
em português (2016)(2016) colocamos
colocamos essa tradução
essa tradução e referência.
e referência. QuandoQuando
não, não, traduzimos
traduzimos do original
do original em castelhano
em castelhano e mantemos
e mantemos a referência
a referência às Obras
às Obras completas
completas
(1999).
(1999).
43 43
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

Na escola
Na escola
popular,
popular,
pelapela
primeira
primeira
vez vez
na América,
na América,
a igualdade
a igualdade
cidadã é afirmada
cidadã como
é afirmada um um
como princípio geralgeral
princípio da escola e não
da escola como
e não um um
como
objetivo:
objetivo:
"escola
"escola
parapara
todos
todos
porque
porque
todos
todos
são são
cidadãos"
cidadãos"
(RODRÍGUEZ,
(RODRÍGUEZ,
1999,1999,
T.I, p.
T.I,284).
p. 284).
A escola
A escola
não não
é proposta
é proposta
comocomo
umauma
formação
formação
parapara
a a
cidadania, e afirma-se
cidadania, sobre
e afirma-se umauma
sobre cidadania igualitária
cidadania incondicional.
igualitária A A
incondicional.
escola
escola
filosófica
filosófica
popular
popular
não não
forma
forma
cidadãos
cidadãos
comocomo
dizem
dizem
pretender
pretender
as as
escolas da atualidade;
escolas os cidadãos,
da atualidade; semsem
os cidadãos, distinção de gênero,
distinção classe,
de gênero, classe,
etniaetnia e idade
e idade a escola
formam
formam a escola
filosófica
filosófica
popular
popular
. As . diferenças
As diferenças
sociais,
sociais,
culturais,
culturais, econômicas,
econômicas, religiosas
religiosas e dee gênero
de gênero
não não
têm têm relevância
relevância parapara
a a
aceitação ou não
aceitação do aluno,
ou não pelopelo
do aluno, contrário, ficam
contrário, suspensas
ficam em em
suspensas umauma
instituição que que
instituição não não
exigeexige
identidades específicas
identidades parapara
específicas a entrada. Todos,
a entrada. Todos,
8 8
todastodas
são são
bem-vindos, bem-vindas
bem-vindos, em em
bem-vindas um um
espaço comum
espaço que que
comum os(as)
os(as)
recebe e afirma
recebe como
e afirma cidadãos(ãs)
como iguais.
cidadãos(ãs) A igualdade
iguais. cidadã
A igualdade não não
cidadã é é
umauma
espécie de verdade
espécie de outro
de verdade mundo,
de outro modelo
mundo, unicamente
modelo presente
unicamente presente
em em
umauma
escola perfeita
escola ou uma
perfeita ideiaideia
ou uma reguladora. Também
reguladora. não não
Também é umé um
erroerro
útil útil
parapara
a vida diária.
a vida A igualdade
diária. cidadã
A igualdade é, para
cidadã Rodríguez,
é, para umauma
Rodríguez,
convicção afirmada
convicção como
afirmada princípio
como político
princípio parapara
político umauma
vidavida
em comum
em comum
que que
a escola deverá
a escola nutrir
deverá e experimentar.
nutrir e experimentar.
ParaPara
os setores conservadores
os setores da cidade,
conservadores é impossível
da cidade, aceitar
é impossível a a
aceitar
novidade destadesta
novidade decisão. A escola
decisão. de Rodríguez
A escola é derrubada
de Rodríguez apenas
é derrubada uns uns
apenas
meses depois
meses de criada,
depois enquanto
de criada, Simón
enquanto Rodríguez
Simón viajava
Rodríguez parapara
viajava criarcriar
outraoutra
escola na cidade
escola de Cochabamba
na cidade (Vera
de Cochabamba Peñaranda,
(Vera 2008).
Peñaranda, No No
2008).
da escola
lugarlugar da escola
filosófica
filosófica
popular
popular
, foi , aberta
foi aberta
umauma
Escola
Escola
Lancaster
Lancaster
parapara
meninos
meninos pobres,
pobres, umauma escola
escola de senhoritas
de senhoritas e um
e um lar lar
parapara idosos
idosos

8 8
Embora
Embora
a escrita
a escrita
possapossa
gerar gerar
incômodo,
incômodo,
ou talvez
ou talvez
por isso,
por isso,
preferimos
preferimos
não tomar
não tomar
o o
masculino comocomo
masculino genérico, a nãoa ser
genérico, nãoemser situações em que
em situações em respeitamos um texto
que respeitamos e/ou e/ou
um texto um um
contexto original.
contexto original.
44 44
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 61).
p. 61).
A igualdade
A igualdade
cidadã
cidadã
é vista
é vista
comocomo
umauma
ameaça
ameaça
à ordem
à ordem aindaainda
maismais colonial
colonial do que
do que republicana
republicana predominante
predominante em em
nossas
nossas terras.
terras.
a escola
Se recuperamos
Se recuperamos a escola
filosófica
filosófica
popular
popular
de Simón
de Simón
Rodríguez
Rodríguez
é é
porque,
porque, longelonge de uma
de ser ser uma proposta
proposta ingênua,
ingênua, utópica
utópica e artificial,
e artificial, é uma
é uma
contribuição
contribuição original
original não não só para
só para o pensamento
o pensamento educacional
educacional do século
do século
XIX, XIX,
masmas também
também um um poderoso
poderoso interlocutor
interlocutor parapara pensar
pensar a educação
a educação da da
atualidade
atualidade de uma
de uma forma
forma muito
muito diferente
diferente à promovida
à promovida pelaspelas políticas
políticas
neoliberais
neoliberais vigentes
vigentes que que
veemveem
na na educação
educação um um elemento
elemento de de
mercantilização
mercantilização e consumo,
e consumo, responsável,
responsável, principalmente,
principalmente, por por prover
prover a a
mãomão de obra
de obra exigida
exigida pelopelo mercado
mercado de trabalho.
de trabalho.

1. As1.origens
As origens
da escola
da escola
na Grécia
na Grécia
antiga: a scholé
antiga: a scholé

Alguns autores
Alguns contemporâneos
autores remontam
contemporâneos a origem
remontam da escola
a origem à à
da escola
antiguidade
antiguidade grega.
grega. Por Por exemplo,
exemplo, Jacques
Jacques Rancière,
Rancière, em em
um um breve
breve textotexto
escrito
escrito em em
1988,1988, afirma
afirma que que a escola
a escola não não
tem tem
nadanada
a vera ver
comcom o que
o que
geralmente
geralmente se entende
se entende por por escola
escola e que
e que as origens
as origens do do escolar
escolar
encontram-se na scholé
encontram-se na scholé
grega. A scholé
grega. A scholé
não não
seriaseria
um um
lugarlugar
ou uma
ou uma
instituição
instituição definida
definida por por
umauma função
função própria
própria do social,
do social, masmas
sim sim
umauma
forma
forma simbólica
simbólica caracterizada
caracterizada por por introduzir
introduzir umauma divisão
divisão e separação
e separação
do do tempo,
tempo, espaço
espaço e ocupações. A scholé
e ocupações. A scholé
grega,
grega,
de de
acordo
acordo
comcom
Rancière,
Rancière, introduz
introduz umauma distinção
distinção sobre
sobre doisdois
usosusos do tempo:
do tempo: o tempo
o tempo
da produção
da produção e o tempo
e o tempo do ócio.
do ócio. Ou seja,
Ou seja, diferencia,
diferencia, separa
separa aqueles
aqueles que que
não não
têm têm tempo
tempo alémalém do tempo
do tempo produtivo,
produtivo, daqueles
daqueles que que
têm têm tempo
tempo
livrelivre à disposição,
à disposição, alémalém do trabalho.
do trabalho.

45 45
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

Dessa
Dessa
forma,
forma,
a escola
a escola
como scholé
como scholé
diferenciaria
diferenciaria
em em
seu seu
interior
interior
aqueles que que
aqueles têm têm
tempo livrelivre
tempo daqueles que que
daqueles a obrigação, a necessidade,
a obrigação, o o
a necessidade,
serviço e a eprodução
serviço tiram,
a produção por por
tiram, definição, tempo
definição, parapara
tempo fazerfazer
outras
outras
coisas (Rancière,
coisas 1988,1988,
(Rancière, p. 2).
p. Neste sentido,
2). Neste afirma
sentido, a scholé
que que
afirma a scholé
é oé o
espaço por por
espaço excelência da igualdade,
excelência vistovisto
da igualdade, que que
aqueles que que
aqueles a habitam
a habitam
são iguais como
são iguais tais, tais,
como porque têm têm
porque tempo liberado
tempo do trabalho
liberado produtivo
do trabalho produtivo
e daeprodução em prol
da produção do prazer
em prol de aprender.
do prazer Os aprendizes,
de aprender. do Liceu,
Os aprendizes, do Liceu,
da Academia, do Pórtico,
da Academia, como
do Pórtico, de qualquer
como scholé
outraoutra
de qualquer scholé
, são, de
sãoacordo
de acordo
comcom
as suas
as suas
palavras
palavras
"os iguais
"os iguais
por por
excelência"
excelência"
(Rancière,
(Rancière,
1988,1988,
p. 2).
p. 2).
Todos eles eles
Todos pertencem ao setor
pertencem daqueles
ao setor que que
daqueles têm têm
tempo parapara
tempo usarusar
em em
si mesmos, parapara
si mesmos, aprender. Nenhum
aprender. delesdeles
Nenhum está está
sujeito à necessidade
sujeito da da
à necessidade
produção e doe trabalho.
produção Por Por
do trabalho. sua sua
condição, estãoestão
condição, livreslivres
parapara
dedicar seu seu
dedicar
tempo à aprendizagem.
tempo ParaPara
à aprendizagem. Rancière, a escola
Rancière, é, desde
a escola o começo,
é, desde o o
o começo,
lugarlugar
no qual se aprende
no qual pelopelo
se aprende prazer de aprender,
prazer fora fora
de aprender, e independente
e independente
do mundo do trabalho,
do mundo e noe qual
do trabalho, se materializa
no qual a igualdade
se materializa por por
a igualdade
excelência
excelência
(Rancière,
(Rancière,
1988).
1988).
Sobre esta esta
Sobre ideia,ideia,
Masschelein e Simons
Masschelein (2013)
e Simons realizam
(2013) umauma
realizam
análise e defesa
análise da forma
e defesa escola.
da forma De acordo
escola. comcom
De acordo os autores, a scholé
os autores, a scholé
é é
umauma
invenção política
invenção revolucionária
política da polis
revolucionária da polis
grega.
grega.
É umÉ um
espaço
espaço
no no
qualqual
os privilégios e prebendas
os privilégios são são
e prebendas anulados por por
anulados causa da operação
causa e e
da operação
materialização
materialização
da igualdade.
da igualdade.
A escola,
A escola,
afirmam,
afirmam,
"tornou
"tornou
inoperante
inoperante
a a
conexão
conexão
arcaica
arcaica
que que
liga liga
os marcadores
os marcadores
pessoais
pessoais
(raça,
(raça,
natureza,
natureza,
origem,
origem,
etc.)etc.)
à lista
à lista
de ocupações
de ocupações
correspondentes
correspondentes
aceitáveis
aceitáveis
(trabalhar
(trabalhar
a terra,
a terra,
engajar-se
engajar-se
no negócio
no negócio
e noe comércio,
no comércio,
estudar
estudar
e praticar)".
e praticar)".
(Masschelein;
(Masschelein;
Simons,
Simons,
2013,2013,
p. 26).
p. 26).
A escola
A escola
suspende
suspende
as hierarquias
as hierarquias
arcaicas próprias
arcaicas do do
próprias mundo aristocrático
mundo em em
aristocrático prolprol
de de
um um
gestogesto

46 46
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

igualitário
igualitário
maismais
condizente
condizente
comcom
o mundo
o mundo
democrático.
democrático.
O gesto
O gesto
democrático
democrático da scholé
da scholé
consiste
consiste
exatamente
exatamente
em em
dar dar
tempo
tempo
livrelivre
parapara
estudar a quem,
estudar até esse
a quem, momento,
até esse não não
momento, o tinha devido
o tinha a seua seu
devido lugarlugar
na na
sociedade:
sociedade: oferece
oferece um um tempo
tempo livre,livre,
longelonge
do do mundo
mundo produtivo
produtivo e e
indefinido
indefinido
que que
não não
podepode
ser ser
obtido
obtido
fora fora
da da
escola
escola
(Masschelein;
(Masschelein;
Simons,
Simons,
2013,2013,
p. 26). A scholé
p. 26). A scholé
é a ématerialização
a materialização
de um
de um
tempo
tempo
que que
separa
separa (tira(tira os alunos
os alunos do mundo
do mundo produtivo,
produtivo, econômico
econômico e social)
e social) e, aoe, ao
mesmo tempo,
mesmo une une
tempo, (inventa um um
(inventa tempo igualitário,
tempo independente
igualitário, do do
independente
mundo da casa,
mundo da comunidade
da casa, e doe trabalho,
da comunidade que que
do trabalho, transcende a ordem
transcende a ordem
social
social e suas
e suas respectivas
respectivas posições
posições hierarquizadas).
hierarquizadas).
Agora,
Agora, a partir
a partir da implementação
da implementação igualitária
igualitária do tempo,
do tempo, a escola
a escola é é
diferente
diferente de de qualquer
qualquer outro
outro espaço
espaço educacional:
educacional: introduz
introduz umauma
suspensão
suspensão que que coloca
coloca entreentre parêntese
parêntese o mundo
o mundo cotidiano
cotidiano no qual
no qual os os
participantes
participantes desenvolvem
desenvolvem suassuas rotinas,
rotinas, obrigações
obrigações e necessidades.
e necessidades.
Suspende
Suspende as as tarefas,
tarefas, regras,
regras, lugares,
lugares, papéis
papéis e obrigações
e obrigações que que
predominam
predominam em em espaços
espaços como
como a família,
a família, o trabalho
o trabalho ou rituais
ou os os rituais
religiosos.
religiosos. EsteEste
tipo tipo de suspensão
de suspensão não não elimina
elimina essasessas regras,
regras, papéis,
papéis,
obrigações,
obrigações, etc., etc.,
masmas as torna
as torna inoperantes,
inoperantes, suspende,
suspende, separando-as
separando-as de de
seu seu contexto
contexto de aplicação
de aplicação normal.
normal.
EstaEsta suspensão
suspensão de um
de um tempo
tempo e espaço
e espaço é, para
é, para os pedagogos
os pedagogos
belgas,
belgas, a abertura
a abertura afirmativa
afirmativa a outro
a outro tempo
tempo e espaço.
e espaço. ParaPara
isso,isso,
Masschelein
Masschelein e Simons
e Simons utilizam
utilizam o conceito de profanação
o conceito de profanação
. Na. escola,
Na escola,
as as
coisas
coisas do do mundo
mundo social
social estãoestão desligadas
desligadas de de
sua sua regularidade
regularidade e e
especificidade.
especificidade. Foram
Foram desapropriadas
desapropriadas de seu
de seu uso uso e âmbito
e âmbito de aplicação
de aplicação
específico,
específico, parapara tornar-se
tornar-se públicas,
públicas, ao alcance
ao alcance de todo
de todo mundo.
mundo. Os Os
estudantes
estudantes ganham
ganham conhecimentos
conhecimentos e destrezas
e destrezas ao reapropriar
ao se se reapropriar
e e

47 47
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

ressignificar
ressignificar
os usos
os usos
e valores
e valores
sociais.
sociais.
Desta
Desta
forma,
forma,
os conhecimentos
os conhecimentos
e e
matérias são são
matérias valorizados por por
valorizados si sós, independentemente
si sós, do uso
independentemente e valor
do uso e valor
social e produtivo.
social A escola
e produtivo. é uma
A escola espécie
é uma de ilha
espécie no mar
de ilha do social
no mar que que
do social
instala um um
instala tempo e um
tempo espaço
e um que que
espaço estãoestão
fora fora
dos dos
tempos e espaços
tempos e espaços
sociais. ParaPara
sociais. Masschelein e Simons,
Masschelein aquilo
e Simons, oferecido
aquilo aos aos
oferecido alunos na na
alunos
escola é o épróprio
escola mundo,
o próprio isolado
mundo, do uso
isolado produtivo
do uso e interessado.
produtivo Ou Ou
e interessado.
seja,seja,
as coisas que,que,
as coisas segundo eles,eles,
segundo depois de serem
depois desprovidas
de serem e e
desprovidas
desvinculadas de seus
desvinculadas usosusos
de seus privados, tornam-se
privados, reaisreais
tornam-se (Masschelein;
(Masschelein;
Simons, 2013,2013,
Simons, p. 51). O mundo
p. 51). aberto
O mundo pelapela
aberto escola é um
escola mundo
é um real,real,
mundo
feitofeito
de coisas reaisreais
de coisas colocadas a serviço
colocadas dos dos
a serviço alunos parapara
alunos que que
pensem e e
pensem
se apropriem delas.
se apropriem delas.
Nesse contexto,
Nesse Masschelein
contexto, e Simons
Masschelein veem,
e Simons na na
veem, figura de de
figura
Isócrates, a pedra
Isócrates, de toque
a pedra na criação
de toque destadesta
na criação forma denominada
forma escola.
denominada escola.
De acordo comcom
De acordo os autores, scholé
os autores, scholé
é uma
é uma
instituição
instituição
democrática,
democrática,
que que
rompe
rompe comcom os privilégios
os privilégios das das
eliteselites antigas
antigas (Masschelein;
(Masschelein; Simons,
Simons, 2013,2013,
p. 26). A forma
p. 26). scholé
A forma scholé
de Isócrates
de Isócrates
é umé um
espaço
espaço
democratizador
democratizador
no no
qualqual
as diferenças de origem
as diferenças são são
de origem anuladas parapara
anuladas possibilitar a igualdade,
possibilitar a igualdade,
que que
fornece tempo
fornece livrelivre
tempo àquele que que
àquele não não
o teria por por
o teria sua sua
posição na na
posição
sociedade. Na escola
sociedade. de Isócrates,
Na escola o tempo
de Isócrates, produtivo
o tempo do mundo
produtivo do do
do mundo
trabalho é apagado
trabalho e instala-se
é apagado um um
e instala-se tempo livrelivre
tempo parapara
o estudo e ae a
o estudo
aprendizagem. Aqueles
aprendizagem. que que
Aqueles vão vão
à escola são são
à escola iguais, vistovisto
iguais, que que
ali éali é
anulada a ordem
anulada da sociedade.
a ordem O gesto
da sociedade. político
O gesto e igualitário
político da scholé
e igualitário da scholé
, ,
em geral e eme Isócrates
em geral especialmente,
em Isócrates está está
especialmente, na doação de tempo
na doação livrelivre
de tempo
àqueles que que
àqueles não não
dispõem dele.dele.
dispõem
No No
entanto, a scholé
entanto, a scholé
de Isócrates
de Isócrates
cumpre
cumpre
parcialmente
parcialmente
essesesses
requisitos. Nela,Nela,
requisitos. ocorre umauma
ocorre suspensão parcial
suspensão da ordem
parcial da cidade,
da ordem já já
da cidade,

48 48
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

que que
essaessa
escola
escola
não não
recebe
recebe
todastodas
as pessoas
as pessoas
que que
querem
querem
obterobter
tempo
tempo
livre,livre,
masmas só aquelas
só aquelas que que podem
podem pagar
pagar pelaspelas aulas.
aulas. Abandona-se
Abandona-se a a
ordem
ordem natural
natural de sangue,
de sangue, masmas instala-se
instala-se outraoutra ordem
ordem naturalizada:
naturalizada:
daqueles
daqueles que que podem
podem pagar
pagar pelopelo tempo
tempo livre.livre. De fato,
De fato, aparentemente,
aparentemente,
os alunos
os alunos pagam
pagam altasaltas quantias
quantias pelaspelas
aulasaulas (Signes
(Signes Codoñer,
Codoñer, 2007).
2007).
EntreEntre
eles,eles, destacadas
destacadas personalidades
personalidades da cultura
da cultura e daepolítica
da política de Atenas
de Atenas
e outras
e outras cidades,
cidades, generais,
generais, dramaturgos,
dramaturgos, intelectuais,
intelectuais, políticos
políticos e filhos
e filhos
de hierarcas
de hierarcas como
como Nícocles,
Nícocles, dinasta
dinasta de Salamina
de Salamina no Chipre
no Chipre ([Plut.]
([Plut.]
Isoc.Isoc.
838.838. A). Nem
A). Nem todos
todos eles eles
são são aristocratas,
aristocratas, masmas
têm têm dinheiro
dinheiro parapara
pagar
pagar pelaspelas aulas.
aulas. Se não
Se não tivessem
tivessem dinheiro,
dinheiro, não não poderiam
poderiam assistir
assistir às às
aulasaulas
comocomo ilustrado
ilustrado por por
umauma anedota
anedota narrada
narrada por por Plutarco,
Plutarco, quemquem
conta
conta que que Demóstenes
Demóstenes desejava
desejava entrar
entrar na escola
na escola de Isócrates,
de Isócrates, masmas
não não
consegue
consegue devido
devido à sua
à sua pobreza
pobreza ([Plut.]
([Plut.] Isoc.Isoc.
837 837
D). D). Nesse
Nesse sentido,
sentido, a a
scholé
scholé
de de
Isócrates
Isócrates
é mais
é mais
ampla
ampla
do do
que que
as as
antigas
antigas
escolas
escolas
aristocráticas, masmas
aristocráticas, está está
longelonge
de ser
de um espaço
ser um aberto
espaço parapara
aberto qualquer
qualquer
um, um,
sem sem condições.
condições. É verdade:
É verdade: mudamuda o critério
o critério de seleção
de seleção e aumenta
e aumenta o o
número
número de alunos.
de alunos. No entanto,
No entanto, a suspensão
a suspensão da ordem
da ordem social
social é apenas
é apenas
parcial.
parcial. EstaEsta escola
escola iguala
iguala nobres
nobres e aqueles
e aqueles que que podem
podem pagar,
pagar, masmas
a a
possibilidade
possibilidade de entrar
de entrar na escola
na escola continua
continua sendo
sendo muito
muito limitada.
limitada. Só Só
entram
entram aqueles
aqueles que que podem
podem comprar
comprar um um tempo
tempo parapara estudar.
estudar.
Escravos
Escravos e classes
e classes baixas
baixas da sociedade
da sociedade ficam
ficam de fora
de fora dessadessa escola.
escola.
Eles Eles trabalham
trabalham o tempo
o tempo todo,todo, ou apenas
ou apenas têm têm tempo
tempo parapara trabalhar,
trabalhar,
parapara
que que os outros
os outros grupos
grupos possam
possam dispor
dispor de tempo
de tempo livrelivre
parapara estudar.
estudar.
Por Por outro
outro lado,lado, a escola
a escola de Isócrates
de Isócrates não não é uma
é uma escola
escola de ensino
de ensino
fundamental,
fundamental, masmas
umauma forma
forma de ensino
de ensino superior,
superior, o ponto
o ponto finalfinal
que que
completa
completa umauma educação
educação (Marrou,
(Marrou, 1998,1998, p. 274).
p. 274). Sua Sua importância
importância e e

49 49
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

prestígio
prestígio
são são
tão tão
vastos
vastos
que que
é considerada
é considerada
a rainha
a rainha
do ensino
do ensino
grego
grego
e e
do mundo antigo,
do mundo o objeto
antigo, de estudo
o objeto por por
de estudo excelência da alta
excelência cultura
da alta cultura
(Marrou, 1998,1998,
(Marrou, p. 273). Nela,Nela,
p. 273). a oratória é uma
a oratória disciplina
é uma extremamente
disciplina extremamente
prestigiosa durante
prestigiosa os séculos
durante VeV
os séculos IVea.IVC.a. C.
Valorizados e cotados
Valorizados pelopelo
e cotados mundo antigo
mundo inteiro
antigo em em
inteiro função de de
função
sua sua
relação comcom
relação os assuntos públicos,
os assuntos os professores
públicos, de retórica
os professores estãoestão
de retórica
espalhados por por
espalhados todastodas
as cidades gregas,
as cidades comcom
gregas, preferência naquelas
preferência que que
naquelas
têm têm
grandes centros
grandes de estudos
centros (Marrou,
de estudos 1998,1998,
(Marrou, p. 275). Os estudantes
p. 275). Os estudantes
seguem os os
seguem professores pelaspelas
professores diversas cidades,
diversas formando
cidades, grupos
formando grupos
bastante homogêneos
bastante comcom
homogêneos nomes diferentes.
nomes A educação
diferentes. é paga
A educação e ose os
é paga
professores maismais
professores reconhecidos conseguem
reconhecidos atingir
conseguem umauma
atingir boa boa
posição
posição
econômica e social.
econômica Isócrates
e social. é uma
Isócrates figura
é uma paradigmática
figura dentro
paradigmática destadesta
dentro
tradição. Preocupado
tradição. por por
Preocupado formar a elite
formar intelectual
a elite de Atenas,
intelectual abreabre
de Atenas, umauma
escola dedicada
escola a este
dedicada propósito.
a este A escola,
propósito. segundo
A escola, Plutarco,
segundo tem tem
Plutarco, um um
custocusto
anualanual
de mil dracmas
de mil ([Plut.]
dracmas Isoc.883
([Plut.] E; V.E; Isoc.
Isoc.883 43) 43)
V. Isoc. e oe o
pagamento é combinado
pagamento a priori.
é combinado A escola
a priori. tem tem
A escola muito sucesso
muito e ajuda
sucesso o o
e ajuda
professor a fazer
professor umauma
a fazer grande fortuna.
grande No ano
fortuna. 356 356
No ano a. C.,a. Isócrates é é
C., Isócrates
9 9
considerado um um
considerado dos dos
12001200
cidadãos maismais
cidadãos ricosricos
de Atenas
de Atenas(Marrou,
(Marrou,
1998,1998,
p. 126). EsteEste
p. 126). fato fato
é representado pelopelo
é representado próprio Isócrates,
próprio quem
Isócrates, se se
quem
gabagaba
por por
ter ter
tido tido
maismais
de uma centena
de uma de alunos
centena que que
de alunos fazem um um
fazem
grande esforço
grande por por
esforço viajarviajar
de todos os cantos
de todos da Grécia
os cantos (Marrou,
da Grécia 1998,1998,
(Marrou,
p. 126).
p. 126).
Finalmente, cabecabe
Finalmente, destacar a posição
destacar política
a posição de Isócrates,
política próximo
de Isócrates, próximo
à aristocracia ilustrada
à aristocracia que que
ilustrada "renuncia à conduta
"renuncia de oposição
à conduta facciosa
de oposição e e
facciosa
aceita a convivência
aceita comcom
a convivência os progressos da democracia,
os progressos não não
da democracia, sem sem
a a

9
Este9 dado
Este dado
está baseado
está baseado
em umaem ação
uma ação
judicial
judicial
por "troca
por "troca
de bens"
de bens"
que ele
queperde
ele perde
nessa nessa
data. data.
Marrou (1998)(1998)
Marrou pega pega
a referência de Ant.
de Isoc.
a referência Isoc. Ant.
224, 226.
224, 226.
50 50
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

esperança
esperança
de limitar
de limitar
seusseus
estragos
estragos
[…]" […]"
(Marrou,
(Marrou,
1998,1998,
p. 132).
p. 132).
A escola
A escola
de Isócrates
de Isócrates é uma
é uma escola
escola renomada,
renomada, famosa,
famosa, bem-sucedida,
bem-sucedida, masmas
está está
longelonge de ser
de ser umauma escola
escola popular,
popular, democrática
democrática em em
um um sentido
sentido que que
aindaainda precisamos
precisamos definir.
definir.

2. O2.surgimento
O surgimento
da escola
da escola
filosófica
filosófica
popular
popular
na América
na América
Latina
Latina

Escola filosófica
Escola popular
filosófica popular
é umé um
conceito
conceito
que que
tem tem
umauma
localização
localização
histórica, antropológica
histórica, e social.
antropológica Como
e social. já escrevemos,
Como trata-se
já escrevemos, de uma
trata-se de uma
invenção
invenção no no campo
campo da da educação
educação na na cidade
cidade de de Chuquisaca
Chuquisaca nas nas
primeiras
primeiras décadas
décadas do século
do século XIX. XIX.
Como Como
todatoda criação,
criação, insere-se
insere-se no devir
no devir
geralgeral do humano
do humano e estabelece
e estabelece relações
relações particulares
particulares e específicas
e específicas comcom
o o
restoresto
das das invenções
invenções dessedesse gênero.
gênero. Por Por exemplo,
exemplo, existe
existe um um vínculo
vínculo
muito
muito estreito
estreito entreentre de escola
os conceitos
os conceitos de escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e dee de
cidadão, como
cidadão, é expresso
como na constituição
é expresso do Haiti
na constituição de 1806:
do Haiti os dois
de 1806: os dois
geram
geram efeitos
efeitos políticos
políticos e filosóficos
e filosóficos comuns
comuns a partir
a partir da igualdade
da igualdade comocomo
princípio.
princípio.
Embora
Embora este este manifesto
manifesto enfatize
enfatize o caráter
o caráter filosófico,
filosófico, nesteneste
caso,caso,
impõem-se
impõem-se algumas
algumas pinceladas
pinceladas históricas
históricas parapara localizar
localizar o surgimento
o surgimento
da escola
da escola filosófica
filosófica popular
popular que que queremos
queremos manifestar
manifestar nesteneste trabalho.
trabalho.
Nesse
Nesse sentido,
sentido, ao ao avaliar
avaliar as influências
as influências teóricas
teóricas dos dos movimentos
movimentos
revolucionários
revolucionários latino-americanos
latino-americanos do do século
século XIX, XIX, a historiografia
a historiografia
acadêmica
acadêmica costuma
costuma estabelecer
estabelecer doisdois caminhos
caminhos possíveis.
possíveis. Em Em primeiro
primeiro
lugar,
lugar, alguns
alguns autores
autores (Lozano
(Lozano y Lozano,
y Lozano, 1913;1913; Mancini,
Mancini, 1914;1914; André,
André,
1924;1924; Cova,
Cova, 1947;1947; Rumazo
Rumazo González,
González, 1976)
1976) afirmam
afirmam que que os processos
os processos
emancipadores
emancipadores do império
do império espanhol
espanhol apoiaram-se,
apoiaram-se, principalmente,
principalmente, em em

51 51
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

construções
construçõesteóricas
teóricasderivadas
derivadasda darevolução
revoluçãofrancesa
francesae da
e da
independência dos dos
independência Estados Unidos
Estados da América,
Unidos e dão
da América, como
e dão exemplo
como a a
exemplo
presença de conceitos
presença como
de conceitos liberdade,
como soberania
liberdade, e igualdade
soberania nos nos
e igualdade textos
textos
dos dos
autores latino-americanos
autores de finais
latino-americanos do século
de finais XVIIIXVIII
do século e começo do do
e começo
século XIX. XIX.
século Grases (1949)
Grases e Ildefonso
(1949) Leal Leal
e Ildefonso (1979) mencionam
(1979) que que
mencionam a a
Declaração dos dos
Declaração Direitos do Homem
Direitos e a eCarta
do Homem de Independência
a Carta dos dos
de Independência
Estados Unidos
Estados circulam
Unidos amplamente
circulam nos nos
amplamente salões ilustrados
salões da época,
ilustrados da época,
fazendo parteparte
fazendo das das
bibliotecas latino-americanas.
bibliotecas latino-americanas.
Na Na
cidade de de
cidade Caracas, ondeonde
Caracas, Simón Rodríguez
Simón passapassa
Rodríguez seusseus
primeiros anosanos
primeiros de juventude, Manrique
de juventude, Figueroa
Manrique (2008)
Figueroa afirma
(2008) que que
afirma os os
livroslivros
europeus chegam
europeus regularmente.
chegam EntreEntre
regularmente. os títulos destacados,
os títulos destacados,
estãoestão
as obras proibidas
as obras pelopelo
proibidas Estado e a eInquisição
Estado e autores
a Inquisição como
e autores como
Rousseau, Raynal,
Rousseau, Voltaire,
Raynal, Montesquieu,
Voltaire, Campomanes,
Montesquieu, Feijoo,
Campomanes, o padre
Feijoo, o padre
Isla, Isla,
Uztariz e Malbrance,
Uztariz comcom
e Malbrance, muita frequência,
muita ocupam
frequência, as prateleiras
ocupam as prateleiras
das das
bibliotecas da cidade,
bibliotecas muitas
da cidade, propriedades
muitas de homens
propriedades da igreja
de homens e e
da igreja
juristas abastados
juristas socialmente.
abastados A maioria
socialmente. daqueles
A maioria autores
daqueles associam
autores o o
associam
pensamento moderno
pensamento ilustrado
moderno ao processo
ilustrado de independência
ao processo como
de independência como
sua sua
basebase
teórica. De acordo
teórica. comcom
De acordo esta esta
descrição, figuras
descrição, como
figuras Bolívar
como e e
Bolívar
Rodríguez são são
Rodríguez caracterizados como
caracterizados pensadores
como ilustrados
pensadores que que
ilustrados
constroem
constroemsua suaproposta
propostapolítica
políticaem emfunção
funçãodos dosprocessos
processos
revolucionários dos dos
revolucionários Estados Unidos
Estados e dae da
Unidos França em em
França oposição ao ao
oposição
pensamento espanhol,
pensamento caracterizado
espanhol, como
caracterizado tradicional,
como monárquico
tradicional, e e
monárquico
conservador.
conservador.
ParaPara
outro grupo
outro de autores
grupo (Guerra,
de autores 1999;1999;
(Guerra, Lasheras, 2004;
Lasheras, 2004;
Chiaramonte, 2004;
Chiaramonte, Donghi,
2004; 2010,2010,
Donghi, entreentre
outros), as influências
outros), teóricas
as influências teóricas
do pensamento emancipador
do pensamento latino-americano
emancipador não não
latino-americano podem se limitar
podem às às
se limitar

52 52
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

mencionadas;
mencionadas;
o pensamento
o pensamento
espanhol
espanhol
exerce
exerce
umauma
grande
grande
influência
influência
sobre
sobre a geração
a geração de pensadores
de pensadores latino-americanos
latino-americanos do fim
do fim do século
do século
XVIII,XVIII,
e ose conceitos
os conceitos de cidadania,
de cidadania, soberania
soberania e igualdade
e igualdade não não
são são
o o
produto
produto de uma
de uma irrupção
irrupção moderna
moderna no campo
no campo das das ideias
ideias americanas:
americanas:
vão vão sendo
sendo incorporados
incorporados de forma
de forma gradativa
gradativa elementos
elementos modernos
modernos sobre
sobre
a base
a base de de categorias
categorias tradicionais
tradicionais existentes.
existentes. Por Por
esseesse motivo,
motivo, o o
pensamento
pensamento dos dos emancipadores
emancipadores latino-americanos
latino-americanos deveria
deveria ser estudado
ser estudado
no contexto
no contexto de um
de um processo
processo de modernidade
de modernidade e radicalidade
e radicalidade relativa
relativa à à
sua sua situação
situação histórica
histórica e social
e social específica.
específica.
ParaPara Myers
Myers (2008),
(2008), a categoria
a categoria de "letrado
de "letrado patriota"
patriota" ajudaajuda
a a
explicar
explicar este este processo:
processo: no final
no final do século
do século XVIII,XVIII, os homens
os homens que que faziam
faziam
parteparte
das das instituições
instituições culturais
culturais e acadêmicas
e acadêmicas do do império
império espanhol
espanhol
passam
passam a defender
a defender as qualidades
as qualidades dos dos americanos
americanos diante
diante do desprezo
do desprezo
dos dos peninsulares,
peninsulares, a tornar-se
a tornar-se porta-vozes
porta-vozes dos dos interesses
interesses de sua
de sua pátria
pátria
diante
diante da invasão
da invasão napoleônica
napoleônica e a evacância
a vacância do poder
do poder real.real. O variável
O variável
contexto
contexto político
político e social
e social experimentado
experimentado pelaspelas colônias
colônias e metrópole,
e metrópole,
maismais do que
do que um um contexto
contexto ideológico
ideológico claroclaro e definido,
e definido, seriaseria a causa
a causa da da
mudança
mudança de perspectiva
de perspectiva daqueles
daqueles que,que, formados
formados no interior
no interior da colônia,
da colônia,
devem
devem definir
definir sua sua "identidade
"identidade ideológica
ideológica no campo
no campo de um
de um universo
universo
sociocultural
sociocultural e político,
e político, cujoscujos contornos
contornos se tornaram
se tornaram de de repente
repente
imprevisíveis
imprevisíveis e ambíguos"
e ambíguos" (Myers,
(Myers, 2008,
2008, p. 122).
p. 122). ComCom o passar
o passar do do
tempo
tempo e diante
e diante do do aprofundamento
aprofundamento da crise
da crise política,
política, os letrados
os letrados
patriotas
patriotas radicalizam
radicalizam o discurso
o discurso e diversificam
e diversificam suassuas fontes
fontes teóricas
teóricas
(Myers,
(Myers, 2008,
2008, p. 123).
p. 123). A figura
A figura de Rodríguez
de Rodríguez é incluída
é incluída nesteneste grupo
grupo de de
homens
homens que,que, formados
formados intelectualmente
intelectualmente no no interior
interior da da colônia,
colônia,
radicaliza
radicaliza seu seu discurso
discurso progressivamente,
progressivamente, na na medida
medida em em
que que
a a

53 53
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

conjuntura
conjuntura
o permite
o permite
(Myers,
(Myers,
2008,
2008,
p. 124).
p. 124).
De De
acordo
acordo
comcom
essesesses
autores, o conceito
autores, de educação
o conceito popular
de educação é uma
popular construção
é uma complexa
construção complexa
que que
reflete umauma
reflete evolução do pensamento
evolução de Rodríguez.
do pensamento de Rodríguez.
Finalmente, durante
Finalmente, os últimos
durante anos,anos,
os últimos muitos autores
muitos associam
autores o o
associam
projeto pedagógico
projeto de Rodríguez
pedagógico comcom
de Rodríguez o socialismo utópico.
o socialismo Daniela
utópico. Daniela
Rawicz (2003),
Rawicz Alejandra
(2003), Ciriza
Alejandra e Estela
Ciriza Fernández
e Estela (1999)
Fernández observam
(1999) observam
que,que,
ao contrário de outros
ao contrário projetos
de outros educacionais
projetos pensados
educacionais parapara
pensados os os
novos estados
novos independentes,
estados o projeto
independentes, de Rodríguez
o projeto caracterizou-se
de Rodríguez caracterizou-se
por por
umauma
inclusão radical
inclusão dos dos
radical setores maismais
setores desfavorecidos da sociedade
desfavorecidos da sociedade
daquele então,
daquele aproximando
então, a suaa sua
aproximando proposta ao socialismo
proposta utópico.
ao socialismo ParaPara
utópico.
estasestas
autoras, o projeto
autoras, de de
o projeto educação popular
educação é concebido
popular por por
é concebido
Rodríguez como
Rodríguez meiomeio
como idealideal
parapara
conseguir a reconciliação
conseguir social
a reconciliação e e
social
tornar efetiva
tornar a existência
efetiva de de
a existência umauma
sociedade republicana
sociedade sem sem
republicana
contradições. Tal Tal
contradições. projeto, segundo
projeto, elas,elas,
segundo é utópico e imaginário,
é utópico vistovisto
e imaginário,
que que
assume os conflitos
assume sociais
os conflitos como
sociais artificiais,
como desconhecendo
artificiais, a sua
desconhecendo a sua
raiz raiz
histórica. Desta
histórica. forma,
Desta afirmam
forma, que,que,
afirmam no no
projeto de educação
projeto de educação
popular do educador
popular caraquenho,
do educador "é apresentado
caraquenho, um um
"é apresentado desajuste teórico,
desajuste teórico,
pelopelo
qualqual
Rodríguez adverte
Rodríguez a diferença,
adverte enquanto
a diferença, lhe são
enquanto encobertas
lhe são encobertas
as relações conflituosas
as relações de opressão
conflituosas que que
de opressão a geram, e que
a geram, fazem
e que dessadessa
fazem
diferença um um
diferença enfrentamento antagônico,
enfrentamento impossível
antagônico, de resolver
impossível pelopelo
de resolver
caminho da 'regulação
caminho do abuso'
da 'regulação e por
do abuso' meiomeio
e por da solidariedade dos dos
da solidariedade
depositários da consciência
depositários social"
da consciência (Ciriza;
social" Fernández,
(Ciriza; 1993,1993,
Fernández, p. 79p. -80).
79 -80).
Em Em
síntese, parapara
síntese, as autoras, trata-se
as autoras, de de
trata-se um um
projeto inviável
projeto e e
inviável
condenado ao ao
condenado fracasso, devido
fracasso, a seu
devido caráter
a seu idealideal
caráter e seu
e seu
desconhecimento das das
desconhecimento contradições materiais
contradições da sociedade
materiais a que
da sociedade se se
a que
destinava.
destinava.

54 54
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

ParaPara
todastodas
as autoras
as autoras
e autores
e autores
mencionados,
mencionados,
o conceito
o conceito
de de
educação
educação popular
popular está está vinculado
vinculado comcom alguma
alguma corrente
corrente ou noção
ou noção teórica
teórica
de um
de um determinado
determinado momento
momento histórico.
histórico. Trata-se,
Trata-se, basicamente,
basicamente, de uma
de uma
análise
análise que que privilegia
privilegia umauma perspectiva
perspectiva histórica.
histórica. SemSem desmerecer
desmerecer o o
árduo
árduo trabalho
trabalho intelectual
intelectual que que
essasessas análises
análises supõem,
supõem, propomos
propomos pensar
pensar
este este conceito
conceito a partir
a partir de uma
de uma perspectiva
perspectiva filosófica.
filosófica. Concordamos
Concordamos em em
que,que,
comocomo escrevemos
escrevemos no começo
no começo do trabalho,
do trabalho, a educação
a educação popular
popular é é
umauma invenção
invenção localizada
localizada histórica
histórica e antropologicamente.
e antropologicamente.
Entretanto,
Entretanto, acreditamos
acreditamos que que
este este conceito
conceito possui
possui umauma
forçaforça
filosófica
filosófica e política
e política que que ultrapassa
ultrapassa seu seu contexto
contexto histórico
histórico e que
e que o o
estende
estende a outros
a outros tempos,
tempos, como
como o nosso.
o nosso. É criado,
É criado, surge,
surge, em em
um um
determinado
determinado momento
momento histórico:
histórico: Chuquisaca,
Chuquisaca, nascente
nascente República
República da da
Bolívia
Bolívia no ano
no ano de 1826,
de 1826, no interior
no interior criollo
do grupo
do grupo criollo
10 10
dominante
dominante
da da
cidade.
cidade. MasMas
podepode ser pensado
ser pensado em qualquer
em qualquer momento
momento da história
da história e tere ter
consequências;
consequências; podepode até romper
até romper comcom os modos
os modos dominantes
dominantes de pensar
de pensar
de outro
de outro tempo,
tempo, comocomo o nosso.
o nosso. Embora
Embora seja seja produzido
produzido em um
em um tempo
tempo
empírico
empírico mensurável
mensurável e inserido
e inserido em em
um um idioma
idioma particular,
particular, podepode
ser ser
resgatado
resgatado do do esquecimento
esquecimento e assumido
e assumido por por qualquer
qualquer pessoa,
pessoa, em em
qualquer
qualquer momento
momento (Badiou,
(Badiou, 2008,
2008, p. 51).
p. 51).

3. A3.escola
A escola
em tempos
em tempos
de avaliação
de avaliação
da qualidade
da qualidade
da educação
da educação
e doe do
currículo
currículo por por
competências
competências

Como
Como já afirmamos,
já afirmamos, atualmente
atualmente a educação
a educação dos dos diversos
diversos Estados
Estados
Nacionais
Nacionais é medida
é medida por por
umauma
sériesérie de provas
de provas padronizadas
padronizadas globais
globais que,que,

10
N. T.10 N.
Filho
T. Filho
de europeu
de europeu
nascido
nascido
na América.
na América.
55 55
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

de acordo
de acordo
comcom
a polícia
a polícia
da educação
da educação
denominada
denominada
ocidental
ocidental
sustentada
sustentada
pelapela
OCDE (Organização
OCDE parapara
(Organização a Cooperação e o e Desenvolvimento
a Cooperação o Desenvolvimento
Econômicos), define
Econômicos), a qualidade
define da da
a qualidade educação de de
educação cadacada
país.país.
TaisTais
avaliações apresentam
avaliações características
apresentam comuns
características relacionadas
comuns comcom
relacionadas o tipo
o tipo
de de
subjetividade (individual
subjetividade e coletiva)
(individual promovida,
e coletiva) o conceito
promovida, de de
o conceito
currículo
currículoem emque quese sesustentam
sustentame oe desconhecimento
o desconhecimentodas das
particularidades regionais,
particularidades econômicas
regionais, e sociais
econômicas que que
e sociais supõem.
supõem.
Nesse contexto,
Nesse as provas
contexto, padronizadas
as provas assumem
padronizadas um um
assumem conceito
conceito
tradicional e estreito
tradicional de inteligência,
e estreito considerada
de inteligência, um um
considerada valorvalor
estático e e
estático
quantificável, a partir
quantificável, da da
a partir capacidade dos dos
capacidade alunos de de
alunos absorver e e
absorver
reproduzir
reproduzirconteúdos
conteúdos(Barrenechea,
(Barrenechea,2010,2010,p. p.6), 6),estruturada
estruturada
principalmente sobre
principalmente o pensamento
sobre lógico-matemático
o pensamento e linguístico
lógico-matemático e linguístico
(Amstrong, 1999;1999;
(Amstrong, Dworkin, 2005).
Dworkin, Em Em
2005). função destadesta
função prioridade, são são
prioridade,
negligenciadas outras
negligenciadas formas
outras possíveis
formas de conhecer,
possíveis aprender
de conhecer, e sere que
aprender ser que
são são
efetivamente desenvolvidas
efetivamente pelospelos
desenvolvidas diversos povos
diversos que que
povos integram a a
integram
nossa região.
nossa região.
Por Por
outro lado,lado,
outro estasestas
avaliações têm têm
avaliações como ponto
como de partida
ponto um um
de partida
conceito de currículo
conceito muito
de currículo tendencioso
muito e específico.
tendencioso Sobre
e específico. este este
Sobre ponto,
ponto,
foram escritos
foram rios rios
escritos de tinta na literatura
de tinta pedagógica.
na literatura Basicamente,
pedagógica. Basicamente,
aceita-se amplamente
aceita-se que que
amplamente umauma
escola nemnem
escola sempre seja seja
sempre umauma
cópiacópia
fiel fiel
do programa de estudos
do programa oficial,
de estudos masmas
oficial, que que
o adapte à sua
o adapte realidade
à sua realidade
específica. Em Em
específica. outras palavras,
outras nemnem
palavras, todastodas
as escolas ensinam
as escolas o mesmo
ensinam o mesmo
conteúdo (Barrenechea,
conteúdo 2010).
(Barrenechea, Por Por
2010). isso,isso,
é praticamente impossível
é praticamente – e– e
impossível
inconveniente –homogeneizar
inconveniente os currículos
–homogeneizar reaisreais
os currículos das das
escolas. EstaEsta
escolas.
especificidade própria
especificidade de cada
própria escola
de cada não não
escola é considerada pelaspelas
é considerada avaliações
avaliações
padronizadas. EstasEstas
padronizadas. se sustentam na comparação
se sustentam de competências
na comparação de competências

56 56
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

prescritas
prescritas
em todos
em todos
os programas
os programas
educacionais
educacionais
estabelecidos
estabelecidos
por por
cadacada
um um
dos dos Estados
Estados Nacionais,
Nacionais, medidas
medidas comcom perguntas
perguntas e respostas
e respostas escritas.
escritas.
O que
O que elas elas avaliam
avaliam não não é o que,
é o que, na maioria
na maioria dos dos casos,
casos, os alunos
os alunos sabem
sabem
ou aprendem
ou aprendem nas nas escolas.
escolas.
Enfim,
Enfim, as provas
as provas padronizadas
padronizadas têm têm
umauma forma
forma homogênea
homogênea sem sem
considerar
considerar o contexto
o contexto social
social de de alunas
alunas e alunos,
e alunos, sua sua origem
origem ou ou
singularidade.
singularidade. Por Por exemplo,
exemplo, no caso
no caso das das habilidades
habilidades linguísticas,
linguísticas, não não
levam
levam em em consideração
consideração que que
essaessa mesma
mesma prova
prova é aplicada
é aplicada a falantes
a falantes
nativos
nativos e crianças
e crianças parapara as quais
as quais essaessa língua
língua não não
é suaé sua língua
língua materna.
materna.
Desta
Desta forma,
forma, baseado
baseado nos nos resultados
resultados destas
destas provas,
provas, é possível
é possível afirmar
afirmar
que que o nível
o nível de educação
de educação de uma
de uma escola
escola é ruim
é ruim comcom relação
relação às às
capacidades
capacidades linguísticas,
linguísticas, no entanto,
no entanto, o que
o que é muito
é muito deficiente
deficiente é oé o
instrumento
instrumento que que
medemede
essasessas capacidades
capacidades linguísticas.
linguísticas.
As provas
As provas padronizadas
padronizadas não não só partem
só partem de uma
de uma ideiaideia tradicional
tradicional
de inteligência,
de inteligência, um um conceito
conceito de currículo
de currículo limitado
limitado e uma
e uma negação
negação das das
particularidades
particularidades sociais
sociais e culturais;
e culturais; também
também criam
criam umauma indústria
indústria
associada
associada a elas
a elas e desenvolvem
e desenvolvem um um conceito
conceito meritocrático
meritocrático das das pessoas
pessoas
e dae sociedade.
da sociedade. Devido
Devido à sua
à sua importância
importância nacional
nacional e internacional,
e internacional,
alunas
alunas e alunos
e alunos recorrem
recorrem a livros,
a livros, professoras
professoras e professores
e professores e institutos
e institutos
à procura
à procura de ajuda.
de ajuda. SuenSuen (2006)
(2006) afirma
afirma que,que, em países
em países comocomo a Coreia
a Coreia
e o eJapão,
o Japão, os alunos
os alunos contratam
contratam professores
professores particulares
particulares parapara melhorar
melhorar
o desempenho
o desempenho e ter
e ter notasnotas
altasaltas
que que
lhes lhes permitam
permitam entrar
entrar nas nas
Universidades
Universidades maismais destacadas,
destacadas, e que
e que a indústria
a indústria relacionada
relacionada comcom
as as
provas
provas padronizadas
padronizadas cria cria
um um sistema
sistema de educação
de educação paralelo
paralelo ao oficial.
ao oficial.
Sobre
Sobre isso,isso, Rotberg
Rotberg (2006)
(2006) faz faz referência
referência à existência,
à existência, no Japão,
no Japão, de de
circuitos
circuitos de colégios
de colégios complementares,
complementares, denominados juku,juku,
denominados voltados
voltados
aos aos

57 57
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

alunos
alunos
e alunas
e alunas
maismais
abastadas
abastadas
que que
os frequentam
os frequentam
comcom
o objetivo
o objetivo
de de
ter ter
melhores resultados
melhores nessas
resultados provas.
nessas No No
provas. Chile, existem
Chile, empresas
existem empresas
dedicadas à preparação
dedicadas de alunas
à preparação e alunos
de alunas parapara
e alunos obterem as melhores
obterem as melhores
notasnotas
que que
permitam o acesso
permitam à educação
o acesso superior
à educação (Narodowski;
superior (Narodowski;
Andrada, 2004).
Andrada, Ali, Ali,
2004). as Provas de Seleção
as Provas Universitária
de Seleção (PSU)
Universitária são são
(PSU)
avaliações padronizadas
avaliações obrigatórias
padronizadas que que
obrigatórias não não
só determinam o acesso
só determinam à à
o acesso
Universidade, como
Universidade, também
como a escolha
também do curso
a escolha de graduação
do curso a realizar
de graduação a realizar
(Barrenechea, 2010,2010,
(Barrenechea, p. 4). Nos Nos
p. 4). espaços públicos
espaços das das
públicos cidades maismais
cidades
importantes do Chile,
importantes as empresas
do Chile, fazem
as empresas publicidade
fazem gabando-se
publicidade de de
gabando-se
ter ter
preparado as alunas
preparado e alunos
as alunas comcom
e alunos qualificações maismais
qualificações altasaltas
em em
diversos cursos
diversos e universidades.
cursos No Brasil,
e universidades. o mesmo
No Brasil, acontece
o mesmo comcom
acontece o o
ENEM, Exame
ENEM, Nacional
Exame do Ensino
Nacional Médio,
do Ensino e existe
Médio, todotodo
e existe um um
sistema de de
sistema
cooptação de de
cooptação alunas e alunos
alunas comcom
e alunos melhores notasnotas
melhores por por
colégios
colégios
particulares e institutos
particulares que que
e institutos oferecem pré-vestibulares
oferecem parapara
pré-vestibulares depois
depois
marketing
fazerfazer marketing
comcom
eles.eles.
Globalmente, corporações
Globalmente, financeiras
corporações e tecnológicas,
financeiras fundações,
e tecnológicas, fundações,
lobbies
lobbies
, consultoras
, consultoras
e empresários
e empresários
da educação
da educação
implementam
implementam
umauma
sériesérie de recursos
de recursos associados
associados comcom
estasestas provas
provas que que atingem
atingem espaços
espaços de de
poder e decisão
poder nacional
e decisão e transnacional.
nacional Um Um
e transnacional. desses grupos
desses é o éGlobal
grupos o Global
Educational Reform
Educational Movement
Reform (GERM
Movement (GERM
), relacionado
), relacionado
estreitamente
estreitamente
comcom
a introdução de reformas
a introdução educacionais
de reformas concebidas
educacionais em em
concebidas termos de de
termos
lucratividade, eficiência
lucratividade, e melhora
eficiência da relação
e melhora custo-benefício
da relação entreentre
custo-benefício o o
sistema de educação
sistema e o emercado.
de educação Tal Tal
o mercado. movimento exerce
movimento influência
exerce influência
transnacional em países
transnacional como
em países Estados
como Unidos,
Estados Reino
Unidos, Unido,
Reino Espanha
Unido, e e
Espanha
Indonésia.
Indonésia.

58 58
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

Também
Também
merece
merece
atenção
atenção
a relação
a relação
entreentre
as Provas
as Provas
padronizadas
padronizadas
PISA,PISA, a OCDE,
a OCDE, órgãos
órgãos públicos
públicos e grupos
e grupos empresariais.
empresariais. O Programa
O Programa
Internacional
Internacional de Avaliação
de Avaliação de Alunos,
de Alunos, ou Relatório
ou Relatório PISA,PISA, administrado
administrado
pelapela
OCDEOCDE e financiado
e financiado comcom fundos
fundos públicos
públicos e privados,
e privados, propõe
propõe a a
medição
medição da qualidade
da qualidade da educação
da educação dos dos diversos
diversos países
países por por
meiomeio
de de
umauma
sériesérie de avaliações
de avaliações padronizadas.
padronizadas. SeusSeus resultados
resultados são são mostrados
mostrados
em uma
em uma tabela,
tabela, da qual
da qual surge
surge umauma classificação
classificação por por níveis
níveis dos dos diversos
diversos
sistemas
sistemas de educação.
de educação. EstaEsta classificação
classificação serveserve
parapara
que que os governos
os governos
justifiquem
justifiquem suassuas reformas
reformas educacionais
educacionais e destinem
e destinem verbas
verbas de todo
de todo tipo tipo
parapara melhorar
melhorar sua sua posição
posição relativa
relativa nestanesta medição.
medição. ParaPara muitos
muitos
governos,
governos, o nível
o nível de educação
de educação está está estreitamente
estreitamente ligado
ligado à posição
à posição
designada
designada pelopelo Relatório
Relatório PISA.PISA.
EntreEntre outros,
outros, o Banco
o Banco Mundial,
Mundial, países
países
doadores
doadores membros
membros da OCDE,
da OCDE, UNICEF
UNICEF e UNESCO
e UNESCO financiam
financiam este este
relatório
relatório aplicado
aplicado igualmente
igualmente a realidades
a realidades tão variadas
tão variadas comocomo Argentina
Argentina
e Finlândia,
e Finlândia, Nigéria
Nigéria e França
e França ou Canadá
ou Canadá e Gana,
e Gana, e dae mesma
da mesma forma
forma no no
interior
interior de cada
de cada país.país. Os beneficiários
Os beneficiários destedeste financiamento
financiamento global
global são são
grupos
grupos privados
privados comocomo o conglomerado
o conglomerado britânico
britânico Pearson
Pearson PLC.PLC. Ao ter
Ao ter
sidosido escolhido
escolhido parapara o desenvolvimento
o desenvolvimento das das provas
provas PISAPISA
2018,2018, aplicará
aplicará
os exames,
os exames, administrará
administrará a plataforma
a plataforma digital
digital da prova
da prova e publicará
e publicará livroslivros
didáticos
didáticos parapara a preparação.
a preparação. A sua
A sua influência
influência global
global aumenta
aumenta e ée é
variada.
variada. Em Em países
países pobres,
pobres, vítimas
vítimas do colonialismo,
do colonialismo, primeiro,
primeiro, e doe do
liberalismo,
liberalismo, depois,
depois, financia
financia escolas
escolas privadas
privadas de de
baixobaixo
custocusto
parapara
crianças
crianças pobres
pobres por por
meiomeio do Fundo
do Fundo Pearson
Pearson parapara a Aprendizagem
a Aprendizagem
Acessível:
Acessível: em em (Omega
GanaGana (Omega
School
School
Franchise
Franchise
), no
), no
Quênia (Bridge
Quênia (Bridge
International
International Academies
Academies ), na), Índia (Sudiska
na Índia (Sudiska
, pré-escola; “Labkits
, pré-escola; “Labkits
” de” de
ZayaZaya Labs),
Labs), nas nas Filipinas
Filipinas (APEC,
(APEC, escolas
escolas de ensino
de ensino médio)
médio) e nae África
na África

59 59
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

do Sul eAdvance
do (Sul (eAdvance
– Spark
– Spark
Schools
Schools
). Outras
). Outras
consultoras
consultoras
comocomo
McKinsey
McKinsey
e o efundo de capital
o fundo de risco
de capital especializado
de risco em inovação
especializado educacional
em inovação e e
educacional
tecnologia Learn
tecnologia Learn
Capital
Capital
oferecem
oferecem
produtos
produtos
educacionais
educacionais
e recebem
e recebem
elevados contratos
elevados de órgãos
contratos públicos
de órgãos e privados
públicos no mundo
e privados todo.todo.
no mundo
Em Em
diversos países,
diversos o financiamento
países, da educação
o financiamento está está
da educação ligado
ligado
diretamente comcom
diretamente o resultado destas
o resultado provas.
destas Por Por
provas. exemplo, nos nos
exemplo, Estados
Estados
Unidos, as escolas
Unidos, que que
as escolas não não
atendem aos aos
atendem objetivos propostos
objetivos parapara
propostos essasessas
provas devem
provas permitir
devem que que
permitir seusseus
alunos troquem
alunos de instituição,
troquem arcararcar
de instituição,
comcom
os os
possíveis custos
possíveis de de
custos transferência e oferecer
transferência assistência
e oferecer assistência
pedagógica adicional
pedagógica parapara
adicional que que
os alunos melhorem
os alunos nas nas
melhorem avaliações (US (US
avaliações
Department of Education,
Department 2002,
of Education, p. 6).
2002, p. Barrenechea (2010,
6). Barrenechea p. 14)
(2010, p. afirma
14) afirma
que que
em em
vintevinte
estados dos dos
estados Estados Unidos
Estados existe
Unidos um um
existe sistema de de
sistema
incentivos, benefícios
incentivos, e punições
benefícios vinculado
e punições aos aos
vinculado resultados das das
resultados
avaliações padronizadas.
avaliações Em Em
padronizadas. Texas e Califórnia,
Texas de acordo
e Califórnia, comcom
de acordo KhonKhon
(2004), o financiamento
(2004), orçamental
o financiamento está está
orçamental estreitamente associado
estreitamente comcom
associado
os os
resultados destas
resultados provas:
destas melhores
provas: resultados
melhores implicam
resultados um um
implicam
financiamento maior
financiamento e, inversamente
maior proporcional,
e, inversamente resultados
proporcional, ruinsruins
resultados
geram a redução
geram do mesmo.
a redução do mesmo.
Como consequência
Como dessedesse
consequência sistema de prêmios
sistema e punições,
de prêmios em em
e punições,
alguns casos,
alguns o currículo
casos, é substituído
o currículo por por
é substituído estratégias de resolução
estratégias de resolução
destas provas.
destas Popham
provas. (2004)
Popham afirma
(2004) que que
afirma muitas escolas
muitas dedicam
escolas dedicam
grandes quantidades
grandes de tempo
quantidades escolar
de tempo a tarefas
escolar voltadas
a tarefas à resolução
voltadas à resolução
dos dos
exames. Muitas
exames. vezes,
Muitas essasessas
vezes, tarefas são são
tarefas incompatíveis comcom
incompatíveis a a
realidade da sala
realidade de aula
da sala ou são
de aula realizadas
ou são em em
realizadas detrimento de outras
detrimento de outras
matérias e atividades
matérias (Linn,
e atividades 2003;
(Linn, Mc Neil,
2003; 2000;
Mc Neil, Pophan,
2000; 2001;2001;
Pophan, Koretz,
Koretz,
2002; Lipman,
2002; 2004).
Lipman, Em Em
2004). outros casos,
outros os diretores
casos, modificam
os diretores os os
modificam

60 60
A escola
A escola
popular:
popular:
uma invenção
uma invenção
latino-americana
latino-americana

resultados.
resultados.
Haladyna
Haladyna
(1991)
(1991)
afirma
afirma
que que
utilizam
utilizam
diversos
diversos
meios
meios
fraudulentos
fraudulentos parapara melhorar
melhorar os resultados
os resultados coletivos
coletivos das das avaliações.
avaliações.
Como
Como exemplo,
exemplo, Koretz
Koretz (2002)
(2002) menciona
menciona que que 77 escolas
77 escolas do Michigan
do Michigan
foram
foram investigadas
investigadas por por
casoscasos
de de corrupção
corrupção vinculados
vinculados comcom
a a
modificação
modificação dos dos resultados
resultados das das provas
provas dos dos alunos.
alunos.
Dessa
Dessa forma,
forma, a educação
a educação se transforma
se transforma em em
um um mercado
mercado
emergente
emergente e as eprovas
as provas padronizadas
padronizadas ocupam
ocupam umauma posição
posição central
central nesteneste
mercado.
mercado. Recusamo-nos
Recusamo-nos a aceitar
a aceitar esseesse
lugarlugar
parapara a escola:
a escola: a escola
a escola não não
podepode
ser ser mercantilizada,
mercantilizada, justamente
justamente porque
porque a educação
a educação não não é uma
é uma
mercadoria.
mercadoria. A mercantilização
A mercantilização da da educação
educação em em massa
massa supõe
supõe a a
existência
existência de de direitos
direitos de de propriedade
propriedade sobre
sobre processos,
processos, saberes
saberes e e
vínculos
vínculos sociais
sociais aos aos
quaisquais é possível
é possível designar
designar um um preço
preço e sere objeto
ser objeto
de de
comércio,
comércio, ou seja,
ou seja, serem
serem comprados
comprados e vendidos
e vendidos (Harvey,
(Harvey, 2008).
2008).
As consequências
As consequências destedeste processo
processo de mercantilização
de mercantilização da educação
da educação
são são extremamente
extremamente complexas
complexas e perigosas.
e perigosas. São São
tematema de controvérsias
de controvérsias
desde
desde o começo
o começo do século
do século passado.
passado. Em Em
1914,1914,
KarlKarl Polanyi
Polanyi afirma
afirma em em
The The
greatgreat
transformation
transformation
que que
"permitir
"permitir
que que
o mecanismo
o mecanismo
de mercado
de mercado
administre por por
administre sua sua
conta e decida
conta a sorte
e decida dos dos
a sorte seresseres
humanos e dee seu
humanos de seu
meiomeio natural,
natural, e inclusive
e inclusive que que decida
decida sobre
sobre o nível
o nível e o euso
o uso do poder
do poder
aquisitivo,
aquisitivo, leva leva necessariamente
necessariamente à destruição
à destruição da sociedade"
da sociedade" (Polanyi,
(Polanyi,
1954,1954, p. 73).
p. 73). Segundo
Segundo Polanyi
Polanyi (1954),
(1954), as pessoas
as pessoas abandonadas
abandonadas à sorte
à sorte
do mercado
do mercado ficam
ficam desprotegidas
desprotegidas ao serem
ao serem eliminadas
eliminadas as coberturas
as coberturas
institucionais
institucionais culturais
culturais que que os apoiavam
os apoiavam e protegiam.
e protegiam. O caso
O caso da da
educação
educação e dae saúde
da saúde
são são exemplos
exemplos claros.
claros. A partir
A partir da década
da década dos dos
oitenta,
oitenta, impõe-se
impõe-se umauma tendência
tendência nos nos sistemas
sistemas de previdência
de previdência social
social que que
deixam
deixam de ser,
de ser, gradativamente,
gradativamente, responsabilidade
responsabilidade dos dos Estados
Estados parapara

61 61
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

serem
serem
substituídos
substituídos
por por
espaços
espaços
de responsabilidade
de responsabilidade
pessoal
pessoal
(Harvey,
(Harvey,
2008). Ou Ou
2008). seja,seja,
os indivíduos compram
os indivíduos e vendem
compram produtos
e vendem em em
produtos um um
mercado que que
mercado vende proteção
vende social.
proteção social.
O direito à educação
O direito é um
à educação elemento-chave
é um nos nos
elemento-chave processos de de
processos
formação dos dos
formação estados nacionais.
estados No caso
nacionais. da América
No caso Latina,
da América existe
Latina, umauma
existe
longalonga
tradição que que
tradição afirma que que
afirma o acesso à educação
o acesso é um
à educação direito
é um de de
direito
todos os seres
todos humanos
os seres e uma
humanos obrigação
e uma do Estado.
obrigação Por Por
do Estado. isso,isso,
desde o o
desde
começo do do
começo século XIX, XIX,
século os os
diversos estados
diversos latino-americanos
estados latino-americanos
promoveram projetos
promoveram educacionais
projetos comcom
educacionais o objetivo de de
o objetivo alfabetizar
alfabetizar
grandes massas
grandes da população.
massas da população.
O abandono da educação
O abandono diante
da educação das das
diante leis leis
do mercado transforma
do mercado transforma
umauma
responsabilidade do estado
responsabilidade em em
do estado umauma
questão de opção
questão pessoal
de opção pessoal
determinada pelapela
determinada acessibilidade econômica
acessibilidade e social
econômica de cada
e social indivíduo.
de cada indivíduo.
O acesso e aproveitamento
O acesso de uma
e aproveitamento mercadoria
de uma depende
mercadoria da capacidade
depende da capacidade
econômica do comprador.
econômica Se oSemercado
do comprador. regula
o mercado a educação,
regula suassuas
a educação, leis leis
definirão o quê
definirão e como
o quê devedeve
e como ser ensinado. Os sujeitos
ser ensinado. educacionais
Os sujeitos não não
educacionais
serãoserão
considerados na na
considerados singularidade de sua
singularidade complexa
de sua vidavida
complexa social,
social,
cultural e política,
cultural masmas
e política, como consumidores
como e fatores
consumidores de produção.
e fatores de produção.
Vemos comcom
Vemos muita preocupação
muita todotodo
preocupação este este
processo e, nas
processo e, nas
próximas páginas,
próximas manifestaremo-nos
páginas, em em
manifestaremo-nos prolprol
de de
umauma
educação
educação
diferente, que que
diferente, não não
se submete ao mercado
se submete e mantém
ao mercado umauma
e mantém escola comcom
escola
os princípios de igualdade,
os princípios hospitalidade,
de igualdade, irreverência,
hospitalidade, comunismo
irreverência, e e
comunismo
emancipação.
emancipação.

62 62
IV. AIV.ESCOLA
A ESCOLA
POPULAR . POVO
POPULAR . POVO
: PALAVRA
: PALAVRA
E CONCEITO
E CONCEITO

Até Até
aqui,aqui, estudamos
estudamos os conceitos
os conceitos de manifesto
de manifesto e escola.
e escola. Na sequência,
Na sequência,
apresentaremos
apresentaremos umauma forma
forma de entender
de entender a natureza
a natureza popular
popular destadesta
11 11
escola.
escola. Os diversos
Os diversos dicionários
dicionários consultados
consultados , em , em
todos
todos
os significados
os significados
de de popular,
popular, fazem
fazem referência
referência ao ao substantivo
substantivo povo.povo. Relativo
Relativo ou ou
pertencente
pertencente ao povo,
ao povo, o popular
o popular é definido
é definido sempre
sempre comcom relação
relação a esse
a esse
substantivo.
substantivo. Dessa
Dessa forma,
forma, tentaremos
tentaremos pensar
pensar o popular
o popular da escola
da escola a a
partir
partir do vínculo
do vínculo conceitual
conceitual comcom a categoria
a categoria de povo
de povo na América
na América
Latina.
Latina. Não Não faremos,
faremos, comocomo
é deé costume
de costume e poderia
e poderia se esperar,
se esperar, umauma
análise
análise antropológica
antropológica da categoria
da categoria "povo".
"povo". PeloPelo contrário,
contrário, faremos
faremos um um
breve
breve passeio
passeio histórico-conceitual
histórico-conceitual pelapela palavra
palavra "povo".
"povo".
De De
umauma forma
forma muito
muito geral,geral, é possível
é possível dizerdizer
que que o conceito
o conceito
"povo"
"povo" tem tem quatro
quatro tipostipos de acepções
de acepções utilizadas
utilizadas desde
desde o começo
o começo da da
modernidadeeuropeia.
modernidade europeia.Elas Elassão: são:como
comounidade
unidadeterritorial
territorial
administrativa,
administrativa, como
como dimensão
dimensão social,
social, comocomo instância
instância jurídico-política
jurídico-política
legitimadora
legitimadora de uma
de uma determinada
determinada ordem
ordem e como
e como fontefonte de soberania.
de soberania.
Em Em primeiro
primeiro lugar,
lugar, percorreremos,
percorreremos, rapidamente,
rapidamente, cadacada
umauma
delasdelas
parapara
definir
definir a sua
a sua relação
relação comcom a escola
a escola popular.
popular. Em Em segundo
segundo lugar,
lugar,
tentaremos
tentaremos mostrar
mostrar o que
o que entendemos
entendemos por por "popular".
"popular". Baseados
Baseados em em
umauma construção
construção conceitual
conceitual que que
tem tem
sua sua origem
origem no começo
no começo do século
do século
XIX XIX na América,
na América, afirmaremos
afirmaremos que que a educação
a educação é popular
é popular quando
quando a a
escola
escola inventa
inventa povo.povo. Mostraremos,
Mostraremos, então,
então, o que
o que entendemos
entendemos por por
povopovo
e e

11
N. T.11 N.
Aulete,
T. Aulete,
Michaelis
Michaelis
e Aurélio.
e Aurélio.
63 63
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

por por
inventar
inventar
povo.povo.
Finalmente,
Finalmente,
proporemos
proporemos
a possibilidade
a possibilidade
de pensar
de pensar
de uma forma
de uma diferente
forma o popular
diferente da educação.
o popular da educação.
A partir da segunda
A partir metade
da segunda do século
metade XVIII,XVIII,
do século devido às mudanças
devido às mudanças
políticas e sociais,
políticas a palavra
e sociais, povopovo
a palavra experimenta umauma
experimenta mudança semântica
mudança semântica
significativa na Espanha,
significativa Portugal
na Espanha, e seus
Portugal territórios
e seus ultramarinos.
territórios JavierJavier
ultramarinos.
Fernández Sebastián
Fernández e Juan
Sebastián Francisco
e Juan Fuentes
Francisco (2002)
Fuentes afirmam
(2002) que que
afirmam este este
conceito adquire
conceito umauma
adquire centralidade no léxico
centralidade político,
no léxico jurídico
político, e social
jurídico e social
da época, como
da época, instância
como legitimadora
instância das das
legitimadora refundações políticas
refundações que que
políticas
acontecem na Europa
acontecem e nae América.
na Europa Nesse
na América. sentido,
Nesse Fátima
sentido, Sá eSáMelo
Fátima e Melo
Ferreira (2009)
Ferreira afirmam
(2009) que que
afirmam alémalém
da convivência de elementos
da convivência antigos
de elementos antigos
no uso do conceito
no uso povo,povo,
do conceito é: é:
incontestável
incontestável
que que
o movimento
o movimentode ressemantização
de ressemantização do do
termo povopovo
termo – que o trouxe
– que até oatécentro
o trouxe do discurso
o centro do discurso
político – esteve
político intrinsecamente
– esteve ligadoligado
intrinsecamente à necessidade de de
à necessidade
dar legitimidade à ruptura
dar legitimidade com com
à ruptura o Antigo Regime
o Antigo com com
Regime a suaa sua
respectiva noçãonoção
respectiva de soberania (Sá e(Sá
de soberania Melo Ferreira,
e Melo 2009,2009,
Ferreira, p. p.
1118).1118).
No No
entanto,
entanto,
não não
se trata
se trata
de um
de um
processo
processo
linear
linear
que que
vai vai
de de
acepções e sentidos
acepções antigos
e sentidos a construções
antigos modernas.
a construções Como
modernas. em muitos
Como em muitos
outros conceitos
outros do espectro
conceitos político
do espectro e social
político (nação,
e social cidadão,
(nação, direitos,
cidadão, direitos,
etc.),etc.),
existe umauma
existe coexistência de elementos
coexistência antigos
de elementos e modernos.
antigos Dessa
e modernos. Dessa
forma, encontramos
forma, referências
encontramos ao povo
referências como
ao povo unidade
como territorial,
unidade territorial,
elemento de distinção
elemento social,
de distinção instância
social, legitimadora
instância do poder
legitimadora político
do poder e e
político
fontefonte
de soberania.
de soberania.
Os dicionários espanhóis
Os dicionários e portugueses
espanhóis da época
e portugueses referem-se
da época ao ao
referem-se
povopovo
de diversas formas.
de diversas O Dicionário
formas. O Dicionário
da Língua
da Língua
Castelhana
Castelhana
da Real
da Real
Academia
Academia Espanhola
Espanhola de 1780
de 1780
estabelece
estabelece
que que
o povo
o povo
podepode
ser entendido
ser entendido
como "lugar
como habitado
"lugar por por
habitado pessoas", "o conjunto
pessoas", dos dos
"o conjunto habitantes", "as "as
habitantes",
pessoas comuns
pessoas e ordinárias
comuns de alguma
e ordinárias cidade
de alguma ou ou
cidade povoado, comcom
povoado,

64 64
A escola
A escola
popular.
popular.
Povo: Povo:
palavra
palavra
e conceito
e conceito

exceção
exceção
dos dos
nobres"
nobres"
e "ase pessoas
"as pessoas
baixas
baixas
de pouca
de pouca
estimação,
estimação,
vulgovulgo
ou ou
plebeplebe
[...]".[...]".
Por Por outro
outro o Dicionário
lado,lado, o Dicionário
da Língua
da Língua
Portuguesa
Portuguesa
de de
Moraes SilvaSilva
Moraes de 1789 registra
de 1789 no começo
registra da entrada
no começo povo:povo:
da entrada "Moradores
"Moradores
de uma
de uma cidade,
cidade, vila vila ou lugar
ou lugar / Povo
/ Povo pequeno,
pequeno, plebe,
plebe, vulgovulgo / Nação
/ Nação de de
pessoas".
pessoas". Por Por
sua sua
vez, vez, Dicionário
no no Dicionário
Castelhano
Castelhano
comcom
as vozes
as vozes
de de
Ciências e Artes
Ciências e Artes
(1786-1788)
(1786-1788)
encontra-se
encontra-se
novamente
novamente
a acepção
a acepção
relativa
relativa
ao social.
ao social. E define:
E define: "Diz-se
"Diz-se da plebe,
da plebe, vulgovulgo e moradores
e moradores das das aldeias,
aldeias, e e
como contraposição
como daqueles
contraposição que que
daqueles são são
nobres, ricosricos
nobres, e esclarecidos".
e esclarecidos".
ComCom
exceção dos dos
exceção sentidos de fonte
sentidos de soberania
de fonte e legitimação
de soberania do do
e legitimação
poder
poder político,
político, encontram-se
encontram-se as outras
as outras acepções
acepções mencionadas.
mencionadas.
Como
Como unidade
unidade territorial,
territorial, povopovo coexistiu
coexistiu até até meados
meados do século
do século
XIX XIX
comcom o plural
o plural "povos".
"povos". Geralmente,
Geralmente, esta esta forma
forma pluralizada
pluralizada era era
utilizada
utilizada parapara se referir
se referir às comunidades
às comunidades locais
locais diferenciadas
diferenciadas por por etnias
etnias
e culturas.
e culturas. O sintagma
O sintagma povos
povos também
também era utilizado
era utilizado comocomo sinônimo
sinônimo de de
cidades,
cidades, vilasvilas e povoados
e povoados que,que,
comcom
basebase iusnaturalista
na tradição
na tradição iusnaturalista
hispânica,
hispânica, erameram considerados
considerados estruturas
estruturas políticas
políticas geradas
geradas a partir
a partir da da
natureza
natureza política
política do homem.
do homem. François-Xavier
François-Xavier Guerra
Guerra (1999)
(1999) afirma
afirma que que
o plural
o plural de povo
de povo é considerado
é considerado nestanesta tradição
tradição de pensamento
de pensamento umauma
entidade
entidade territorial
territorial e política
e política completa.
completa. Ou Ou
seja,seja,
umauma unidade
unidade que que
possui
possui terras,
terras, instituições
instituições e com
e com capacidade
capacidade de administrar
de administrar justiça.
justiça. EstaEsta
característica,
característica, observa
observa Chiaramonte
Chiaramonte (2004),
(2004), podepode ser rastreada
ser rastreada em uma
em uma
antiga
antiga tradição iusnaturalista
tradição iusnaturalista
de pactos
de pactos
e nae realidade
na realidade
comum
comum
da da
monarquia
monarquia castelhana,
castelhana, de acordo
de acordo comcom a qual
a qual "o poder
"o poder soberano
soberano era era
exercido
exercido sobre
sobre um um conjunto
conjunto de 'reinos'
de 'reinos' ou 'províncias',
ou 'províncias', muitas
muitas das das
quaisquais
conservavam
conservavam sua sua ordem
ordem jurídico-política
jurídico-política no no
seio seio
da da monarquia"
monarquia"
(Chiaramonte,
(Chiaramonte, 2004,
2004, p. 67).
p. 67).

65 65
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

A dimensão
A dimensão
social
social
de de
povopovo
é, muitas
é, muitas
vezes,
vezes,
utilizada
utilizada
parapara
diferenciar os setores
diferenciar abastados
os setores da da
abastados sociedade das das
sociedade classes menos
classes menos
favorecidas. Em Em
favorecidas. umauma
sociedade fortemente
sociedade segmentada
fortemente e estruturada
segmentada e estruturada
por por
sistemas de castas,
sistemas um um
de castas, setorsetor
social utiliza
social o conceito
utiliza de povo
o conceito parapara
de povo
se diferenciar de outro.
se diferenciar EstaEsta
de outro. diferenciação não não
diferenciação é concebida da mesma
é concebida da mesma
forma em todos
forma os casos
em todos e a tensão
os casos é exposta
e a tensão comcom
é exposta extrema clareza
extrema por por
clareza
JuanJuan
Manuel Beruti
Manuel em em
Beruti Memórias
suassuas Memórias
curiosas
curiosas
(Beruti,
(Beruti,
1960).
1960).
Ali, Ali,
o o
autorautor testemunha
testemunha as palavras
as palavras de um
de um integrante
integrante criolla
da elite
da elite criolla
durante
durante
1811, 1811, diante
diante de uma
de uma petição
petição apresentada
apresentada perante
perante o Cabildo
o Cabildo por por setores
setores
baixos da da
baixos sociedade em em
sociedade nome do do
nome "povo". Indignado
"povo". diante
Indignado de de
diante
semelhante confusão,
semelhante esta esta
confusão, personagem afirma:
personagem "supondo
afirma: povopovo
"supondo à à
insignificante plebeplebe
insignificante do campo, em detrimento
do campo, da verdadeira
em detrimento vizinhança
da verdadeira vizinhança
ilustre que que
ilustre foi ridicularizada [...], [...],
foi ridicularizada muito bembem
muito sabiam os facciosos
sabiam que que
os facciosos se se
tivessem chamado
tivessem o verdadeiro
chamado povo,povo,
o verdadeiro não não
teriam atingido
teriam seusseus
atingido
objetivos" (Beruti,
objetivos" 1960,1960,
(Beruti, p. 3786). ComCom
p. 3786). relação à composição
relação destedeste
à composição
povopovo
diante da plebe,
diante o frade
da plebe, Domingos
o frade Loretos
Domingos de Couto
Loretos escreve
de Couto em em
escreve
1757:1757:
não não
é fácil
é fácil
determinar
determinar
nestasnestas
Províncias
Províncias
quaisquaissejamsejam
os os
homens da Plebe;
homens porque
da Plebe; aquele
porque que que
aquele é branco
é branco na cor,
na cor,
entende estarestar
entende fora fora
da esfera vulgar.
da esfera Na sua
vulgar. Na sua opinião o o
opinião
mesmo é seré alvo,
mesmo que que
ser alvo, ser nobre, nem nem
ser nobre, porqueporqueexercitem
exercitem
ofícios mecânicos
ofícios perdem
mecânicos esta esta
perdem presunção [...]. (Couto,
presunção 1904,1904,
[...]. (Couto,
p.226).
p.226).
ParaPara
Fátima
Fátima
Sá eSáMelo
e Melo
Ferreira
Ferreira
(2009),
(2009),
o conceito
o conceito
de povo
de povo
na na
América está está
América reservado parapara
reservado os homens brancos,
os homens chefes
brancos, de família,
chefes de família,
capazes de fazer
capazes negócios
de fazer e responder
negócios comcom
e responder as suas propriedades.
as suas É umÉ um
propriedades.
conceito divisor
conceito do tecido
divisor social.
do tecido Nessa
social. época,
Nessa o campo
época, de aplicação
o campo de aplicação
destedeste
conceito está está
conceito vinculado à dificuldade
vinculado que que
à dificuldade existe na América
existe de de
na América
transpor o sentido
transpor de povo
o sentido como
de povo terceiro
como estado
terceiro da sociedade
estado de de
da sociedade

66 66
A escola
A escola
popular.
popular.
Povo: Povo:
palavra
palavra
e conceito
e conceito

estamentos
estamentoseuropeia
europeiaporque
porqueas asCortes
Cortesnão nãose seestabelecem
estabelecem
definitivamente
definitivamente nesteneste território.
território. LuizaLuiza Rauter
Rauter Pereira
Pereira (2009)
(2009) afirma
afirma
que que o povo,
o povo, no interior
no interior da sociedade
da sociedade de estamentos
de estamentos brasileira,
brasileira, é o setor
é o setor
que que
tem tem o dever
o dever e o edireito
o direito de trabalhar.
de trabalhar. Definitivamente,
Definitivamente, o conceito
o conceito
povopovo no interior
no interior destas
destas sociedades
sociedades é utilizado
é utilizado parapara diferenciar
diferenciar aqueles
aqueles
considerados
considerados dignos
dignos de participação
de participação e intervenção
e intervenção no sistema
no sistema político,
político,
daqueles
daqueles que,que,
por por
sua sua condição
condição social,
social, de seu
de seu tipo tipo de trabalho
de trabalho ou ou
origem
origem de sangue,
de sangue, não não
são. são.
EstaEsta diferenciação
diferenciação se mantém
se mantém ao longo
ao longo de de
todatoda a colônia
a colônia e durante
e durante os primeiros
os primeiros anosanos da vida
da vida republicana.
republicana. A A
dimensão
dimensão social
social de povo
de povo tem tem
umauma estreita
estreita relação
relação comcom
a suaa sua dimensão
dimensão
jurídico-política
jurídico-política vistovisto
que,que, a partir
a partir dela,dela, decide-se
decide-se quemquem
podepode participar
participar
da vida
da vida política,
política, as formas
as formas dessadessa participação
participação e quem
e quem fica fica excluído.
excluído.
Finalmente,
Finalmente, em em
seu seu aspecto
aspecto jurídico-político,
jurídico-político, o povo
o povo como
como
instância
instância legitimadora
legitimadora da ordem
da ordem política
política tem tem
umauma
longalonga tradição
tradição na na
península
península ibérica.
ibérica. Durante
Durante a Baixa
a Baixa IdadeIdade Média,
Média, tal conceito
tal conceito é utilizado
é utilizado
por por pensadores
pensadores comocomo Francisco
Francisco de Vitoria
de Vitoria e Francisco
e Francisco Suárez
Suárez comocomo
um um
elemento
elemento integral
integral da da origem
origem e fundamento
e fundamento do do poder
poder político.
político.
Integrantes
Integrantes de uma
de uma longalonga tradição
tradição jurídico-política
jurídico-política e com
e com fortes
fortes raízes
raízes
escolásticas,
escolásticas, os autores
os autores tentam
tentam dar dar
umauma resposta
resposta ao problema
ao problema da da
legitimação
legitimação e fundamento
e fundamento do poder
do poder político
político terreal.
terreal. No caso
No caso particular
particular
de Vitoria,
de Vitoria, baseado
baseado na tradição
na tradição aristotélica
aristotélica da escolástica
da escolástica tardia,
tardia, afirma
afirma
que que a estrutura
a estrutura do real
do real torna-se
torna-se inteligível
inteligível comcom relação
relação a suas
a suas causas
causas e e
finalidades.
finalidades. A sociedade,
A sociedade, comocomo elemento
elemento integral
integral da realidade,
da realidade, não não
está está
alheia
alheia a esta
a esta ordem
ordem e, por
e, por isso,isso, o autor
o autor explica
explica e justifica
e justifica a origem
a origem da da
sociedade
sociedade e doe poder
do poder político.
político. Considera
Considera que que o poder
o poder político
político surge
surge a a
partir
partir de um
de um pacto
pacto estabelecido
estabelecido entreentre aqueles
aqueles que que obedecem
obedecem e aqueles
e aqueles

67 67
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

que que
mandam.
mandam.
Trata-se
Trata-se
de um
de um
acordo
acordo
através
através
do qual
do qual
o povo
o povo
decide
decide
se se
submeter à autoridade
submeter do do
à autoridade governante em em
governante trocatroca
de uma sériesérie
de uma de de
limitações. EsteEste
limitações. acordo, conhecido
acordo, como
conhecido pactum
como pactum
subiectionis
subiectionis
, é um
, é um
ato ato
duplo, já que
duplo, o povo
já que jura jura
o povo fidelidade e obediência
fidelidade ao rei
e obediência ao ereieste, por por
e este, sua sua
vez, vez,
jura jura
respeitar os limites
respeitar e deveres
os limites impostos
e deveres pelapela
impostos tradição e ose os
tradição
costumes. EsteEste
costumes. tipo tipo
de pacto não não
de pacto é uma invenção
é uma de Vitoria.
invenção Halperín
de Vitoria. Halperín
Donghi (2010)
Donghi afirma
(2010) que que
afirma a sua presença
a sua podepode
presença ser ser
rastreada na na
rastreada
tradição latina,
tradição como
latina, um um
como elemento que que
elemento permite explicar
permite teoricamente
explicar a a
teoricamente
passagem da república
passagem ao principado
da república e doe principado
ao principado ao dominado
do principado ao dominado
(Halperín Donghi,
(Halperín 2010,2010,
Donghi, p. 41). É utilizado
p. 41). por por
É utilizado autores tão tão
autores diversos
diversos
como Moro,
como Erasmo,
Moro, Calvino,
Erasmo, Bodin,
Calvino, Hobbes
Bodin, e Bousset,
Hobbes entreentre
e Bousset, outros.
outros.
Vitoria utiliza
Vitoria este este
utiliza pacto especialmente
pacto De De
em em
especialmente potestate
potestate
civilicivili
(Vitoria, 1607).
(Vitoria, De acordo
1607). comcom
De acordo a suaa sua
interpretação, nelenele
interpretação, destacam-se os os
destacam-se
elementos encontrados
elementos alémalém
encontrados da livre vontade
da livre dos dos
vontade contratantes. ParaPara
contratantes.
Vitoria, como
Vitoria, a maioria
como dos dos
a maioria pensadores escolásticos,
pensadores o pacto
escolásticos, é é
o pacto
motivado por por
motivado umauma
necessidade natural,
necessidade baseada
natural, no poder
baseada divino,
no poder e não
divino, e não
por por
umauma
escolha livrelivre
escolha e voluntária daqueles
e voluntária que que
daqueles participam do pacto.
participam do pacto.
Por Por
sua sua
vez, vez,
a decisão de sedeentregar
a decisão a uma um
se entregar governante é irrevogável
governante e e
é irrevogável
tira tira
da sociedade inteira
da sociedade a autoridade
inteira política
a autoridade que que
política tinhatinha
no momento
no momento
da cessão (Vitoria,
da cessão 1607,1607,
(Vitoria, p 189). O pacto
p 189). de submissão
O pacto é considerado
de submissão é considerado
um um
elemento integral
elemento do poder
integral político
do poder que,que,
político depois de estabelecido,
depois de estabelecido,
não não
reconhece a comunidade
reconhece que que
a comunidade o tornou possível.
o tornou Os Os
possível. limites do do
limites
poder do governante
poder não não
do governante estãoestão
no povo, masmas
no povo, em direitos naturais
em direitos pré-pré-
naturais
políticos que que
políticos nenhuma autoridade
nenhuma pode,pode,
autoridade em teoria, ignorar.
em teoria, Poder-se-ia
ignorar. Poder-se-ia
dizer, então,
dizer, que que
então, os limites não não
os limites surgem do acordo,
surgem masmas
do acordo, de uma
de uma

68 68
A escola
A escola
popular.
popular.
Povo: Povo:
palavra
palavra
e conceito
e conceito

realidade
realidade
externa
externa
a este.
a este.
O único
O único
poder
poder
do povo
do povo
nestanesta
estrutura
estrutura
teórica
teórica
é se éentregar
se entregar
a uma um governante.
governante.
Suárez,
Suárez, assim
assim como
como Vitoria,
Vitoria, afirma
afirma que que a relação
a relação política
política por por
excelência
excelência acontece
acontece entreentre aqueles
aqueles que que mandam
mandam e aqueles
e aqueles que que
obedecem.
obedecem. ComCom
basebase
nestanesta relação,
relação, em em Tractatus
seu seu Tractatus
de legibus
de legibus
et et
legislatore DeoDeo
legislatore (Suárez,
(Suárez,
1856,1856,
p.181),
p.181),
divide
divide
a multidão
a multidão
de homens
de homens
em em
dois:dois: a) como
a) como um um agregado
agregado sem sem ordem
ordem nemnem moral
moral ou como
ou b) b) como
um um
corpo político.
corpo Afastando-se
político. das das
Afastando-se teorias escolásticas
teorias tradicionais,
escolásticas parapara
tradicionais,
as quais a sociedade,
as quais a ordem
a sociedade, política
a ordem é natural
política no homem,
é natural Suárez
no homem, Suárez
afirma
afirma a existência
a existência pactum
de um
de um pactum
societatis
societatis
, como
, como
hipótese
hipótese
lógica
lógica
e e
necessária
necessária parapara a criação
a criação da sociedade
da sociedade política.
política. Através
Através destadesta origem
origem
pactuada
pactuada da da sociedade
sociedade política,
política, Suárez
Suárez destaca
destaca o caráter
o caráter volitivo
volitivo
daqueles
daqueles que que participam
participam do do pacto.
pacto. Em Em outras
outras palavras,
palavras, parapara
o o
surgimento
surgimento da sociedade
da sociedade política,
política, torna-se
torna-se necessária
necessária a afluência
a afluência das das
vontades
vontades daqueles
daqueles que que decidem
decidem a sua
a sua criação.
criação. ParaPara
este este pensador,
pensador, a a
vontade
vontade dos dos pactuantes
pactuantes só intervém
só intervém e tem
e tem efeitos
efeitos ao constituir
ao constituir a a
sociedade
sociedade política.
política. ApósApós
sua sua constituição,
constituição, esta esta sociedade
sociedade podepode
ter ter
características
características e funções
e funções diferentes,
diferentes, que que superam
superam a vontade
a vontade daqueles
daqueles
que que a criaram.
a criaram. Suárez
Suárez tentatenta justificar
justificar que que a vontade,
a vontade, a expressão
a expressão do do
acordo
acordo semsem a qual
a qual não não
teriateria existido
existido nemnem a sociedade
a sociedade política
política e nem
e nem o o
poder
poder exercido
exercido por por
essaessa comunidade,
comunidade, não não
é a éfonte
a fonte do poder
do poder exercido
exercido
em em
seu seu interior,
interior, masmas nasce
nasce da mesma
da mesma associação:
associação: o poder
o poder não não existia
existia
espalhado
espalhado em cada
em cada um um
dos dos integrantes
integrantes da multidão
da multidão humana,
humana, este este surge
surge
do do pacto
pacto como
como um um elemento
elemento integral
integral da da sociedade
sociedade criada
criada nessenesse
momento
momento (Suárez,
(Suárez, 1856,1856, p. 182).
p. 182). A vontade
A vontade está está subordinada
subordinada à à
natureza
natureza nestanesta construção
construção teórica,
teórica, vistovisto
que que o poder
o poder é próprio
é próprio da da

69 69
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

natureza
natureza
da sociedade
da sociedade
política
política
que que
provém
provém
de Deus
de Deus
como
como
criador
criador
de de
todatoda
a natureza.
a natureza.
O povo, a comunidade,
O povo, no interior
a comunidade, destas
no interior construções
destas teóricas,
construções é é
teóricas,
(no (no
melhor dos dos
melhor casos) apenas
casos) um um
apenas elemento necessário
elemento parapara
necessário a geração
a geração
da ordem política
da ordem de uma
política sociedade.
de uma Antes,
sociedade. são são
Antes, somente indivíduos
somente indivíduos
espalhados sem sem
espalhados ordem, sem sem
ordem, moral e sem
moral poder.
e sem Sua Sua
poder. vontade só ésó é
vontade
levada em em
levada consideração como
consideração grupo
como que que
grupo decide constituir-se
decide em em
constituir-se
sociedade política.
sociedade As teorias
política. do pacto
As teorias dentro
do pacto do Império
dentro espanhol
do Império espanhol
foram amplamente
foram utilizadas
amplamente devido
utilizadas à suaà sua
devido capacidade de explicar
capacidade umauma
de explicar
variedade de situações
variedade de poder
de situações no interior
de poder de uma
no interior sociedade.
de uma Halperín
sociedade. Halperín
Donghi afirma
Donghi que,que,
afirma devido à ambiguidade
devido das das
à ambiguidade conclusões obtidas
conclusões das das
obtidas
construções dos dos
construções pactos, estasestas
pactos, são são
um um
recurso teórico
recurso utilizado
teórico por por
utilizado
muitos juristas
muitos parapara
juristas justificar monarquias
justificar absolutas,
monarquias monarquias
absolutas, monarquias
limitadas ou qualquer
limitadas tipo tipo
ou qualquer de governo misto
de governo (Halperín
misto Donghi,
(Halperín 2010).
Donghi, 2010).
Em Em
cadacada
um um
dos dos
casos, o componente-chave
casos, e determinante
o componente-chave parapara
e determinante
fundamentar a opção
fundamentar desejada
a opção é a noção
desejada de povo.
é a noção Se afirmarmos
de povo. que que
Se afirmarmos o o
pacto é derivado
pacto de uma
é derivado decisão
de uma da sociedade
decisão inteira,
da sociedade por por
inteira, meiomeio
da qual
da qual
esta esta
renuncia a todos
renuncia os seus
a todos poderes
os seus e direitos
poderes de forma
e direitos irrevogável
de forma irrevogável
em benefício de um
em benefício soberano,
de um então
soberano, estaríamos
então diante
estaríamos de uma
diante posição
de uma posição
que,que,
possivelmente, justificaria
possivelmente, o absolutismo
justificaria monárquico.
o absolutismo Se, Se,
monárquico. pelopelo
contrário, afirmarmos
contrário, que que
afirmarmos o pacto é o éresultado
o pacto de dois
o resultado sujeitos
de dois de de
sujeitos
direito independentes,
direito como
independentes, a comunidade
como e os
a comunidade governantes,
e os governantes,
estaríamos diante
estaríamos da da
diante possibilidade de de
possibilidade justificar umauma
justificar monarquia
monarquia
limitada. Finalmente,
limitada. se osepacto
Finalmente, for for
o pacto considerado o produto
considerado de uma
o produto de uma
vontade comum
vontade que que
comum entrega e cria
entrega o poder
e cria político
o poder e que
político poderia
e que ser ser
poderia
revogada por por
revogada outraoutra
vontade comum,
vontade então
comum, estaríamos
então diante
estaríamos da da
diante

70 70
A escola
A escola
popular.
popular.
Povo: Povo:
palavra
palavra
e conceito
e conceito

possibilidade
possibilidade
de de
justificar
justificar
a desobediência
a desobediência
e rebelião
e rebelião
dos dos
súditos
súditos
perante
perante o soberano.
o soberano.
Durante
Durante o começo
o começo dos dos processos
processos de independência
de independência americanos
americanos
no no
inícioinício
do do século
século XIX, XIX, muitas
muitas vezesvezes mencionou-se
mencionou-se o pacto
o pacto de de
submissão
submissão e ase noções
as noções de pacto
de pacto medievais.
medievais. Goldman
Goldman e Die Meglio
Di Meglio
afirmam
afirmam que que o pacto
o pacto de de submissão
submissão é utilizado
é utilizado parapara justificar
justificar a a
recuperação
recuperação do poder
do poder ao sido
ao ter ter sido suspensa
suspensa a autoridade
a autoridade do monarca
do monarca
quando
quando foi foi preso
preso pelopelo exército
exército napoleônico.
napoleônico. Nesse
Nesse sentido,
sentido, umauma
Circular
Circular da Junta
da Junta Provisória
Provisória Governamental
Governamental de Buenos
de Buenos AiresAires de de
de 27 27 de
maiomaio de 121810
de 1810 faz12 referência
faz referência
à comunidade
à comunidade
comocomo
sujeito
sujeito
de direito
de direito
que que
no pactum
intervém
intervém no pactum
subiectionis
subiectionis
e decide
e decide
se entregar
se entregar
a uma um
governante,
governante,
masmas
diante da impossibilidade
diante destedeste
da impossibilidade de seguir em em
de seguir suassuas
funções e e
funções
exercer
exercer a autoridade
a autoridade concedida
concedida pelopelo
povo,povo,
exigeexige voltar
voltar ao estado
ao estado prévio
prévio
ao pacto.
ao pacto.
O recurso
O recurso a teorias
a teorias medievais
medievais começa
começa a ceder
a ceder lugarlugar diante
diante de de
ferramentas
ferramentas teóricas
teóricas e políticas
e políticas que que
não não só justificam
só justificam umauma mudança
mudança de de
administração
administração à espera
à espera de realizar
de realizar novamente
novamente ou tornar
ou tornar efetivo
efetivo um um
novonovo pacto
pacto de submissão,
de submissão, masmas também
também umauma
novanova ordem
ordem política.
política.
Autores
Autores como
como Moreno
Moreno e Castelli
e Castelli falam
falam de "soberania
de "soberania popular"
popular" apoiados
apoiados
na ideia
na ideia de um
de um pacto
pacto de sociedade
de sociedade ao invés
ao invés de um
de um pacto
pacto de submissão.
de submissão.
O pacto
O pacto de sociedade,
de sociedade, como
como vimos,
vimos, estabelece
estabelece que que os vínculos
os vínculos que que
unem
unem os indivíduos
os indivíduos entreentre si têm
si têm umauma natureza
natureza diferente
diferente aos aos vínculos
vínculos
que que
unemunem
um um
povopovo
comcom aquele
aquele que que manda,
manda, e aoedesfazer
ao desfazer os laços
os laços que que
unem
unem umauma comunidade
comunidade comcom aquele
aquele que que manda
manda não não
são são desfeitos
desfeitos os os

12 "O12Povo
"O Povo
de Buenos
de Buenos
Aires,Aires,
consciente
consciente
do estado
do estado
lastimável
lastimável
dos domínios
dos domínios
europeus
europeus
de Suade Sua
Majestade
Majestade Católica
Católica o senhor
o senhor dom Fernando
dom Fernando VIImanifestou
VII [...] [...] manifestou os desejos
os desejos mais mais decididos
decididos para para
que osque os próprios
próprios povospovos recuperassem
recuperassem os direitos
os direitos originários
originários de representar
de representar o poder,
o poder, autoridade
autoridade
e faculdades
e faculdades do monarca
do monarca [...]"Leiva,
[...]" (cit. (cit. Leiva,
1982, 1982,
p. 7). p. 7).
71 71
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

laçoslaços
da comunidade
da comunidade
comcom
seusseus
integrantes.
integrantes.
Se aSeteoria
a teoria
do pacto
do pacto
de de
Suárez (1856)
Suárez afirma
(1856) que que
afirma no momento da realização
no momento do pacto
da realização de de
do pacto
sociedade o poder
sociedade não não
o poder é confiado a ninguém
é confiado em particular,
a ninguém poderíamos
em particular, poderíamos
pensar, como
pensar, muitos
como dos dos
muitos pensadores da independência
pensadores americana,
da independência que que
americana,
o poder reside
o poder no povo
reside em seu
no povo conjunto.
em seu conjunto.
EstaEsta
forma de entender
forma a soberania
de entender popular
a soberania comcom
popular basesbases
medievais
medievais
originou novas
originou interpretações
novas apoiadas
interpretações em pensadores
apoiadas modernos,
em pensadores parapara
modernos,
os quais a fonte
os quais última
a fonte da soberania
última de uma
da soberania sociedade
de uma política
sociedade reside
política reside
no povo em seu
no povo conjunto.
em seu conjunto.
ApósApós
a independência da Espanha,
a independência a soberania
da Espanha, popular
a soberania não não
popular é umé um
elemento
elemento
de discussão.
de discussão.
Ninguém
Ninguém
discute
discute
que que
o povo
o povo
é o ésoberano.
o soberano.
Porém,
Porém,
não não
está está
tão tão
claroclaro
quemquem
faz parte
faz parte
destedeste
soberano
soberano
nemnem
de que
de que
forma. Durante
forma. os primeiros
Durante anosanos
os primeiros da república, as divisões
da república, de castas
as divisões de castas
são são
eliminadas formalmente,
eliminadas masmas
formalmente, na prática continuam
na prática plenamente
continuam plenamente
vigentes. As antigas
vigentes. estratificações
As antigas são são
estratificações aparentemente diluídas
aparentemente em em
diluídas um um
suposto
suposto
coletivo
coletivo
homogêneo
homogêneo
denominado
denominado
povo.povo.
No entanto,
No entanto,
no interior
no interior
destedeste
coletivo surge
coletivo umauma
surge divisão parapara
divisão marcar as mesmas
marcar diferenças
as mesmas diferenças
sociais existentes
sociais durante
existentes o período
durante colonial.
o período Dessa
colonial. forma,
Dessa as elites
forma, as elites
governantes falam,
governantes por por
falam, um um
lado,lado,
de de
"povo", "parte
"povo", saudável
"parte da da
saudável
sociedade", "parte
sociedade", ilustrada"
"parte e, por
ilustrada" outro,
e, por "povão",
outro, "plebe",
"povão", "gentinha",
"plebe", "gentinha",
"povo baixo",
"povo de forma
baixo", análoga
de forma à colônia,
análoga que que
à colônia, diferencia entreentre
diferencia aqueles
aqueles
que que
mandam e aqueles
mandam que que
e aqueles obedecem. A diferença
obedecem. maismais
A diferença significativa é é
significativa
a redução da estratificação
a redução da sociedade.
da estratificação Enquanto
da sociedade. durante
Enquanto o período
durante o período
bourbônico as possíveis
bourbônico combinações
as possíveis raciais
combinações aumentam
raciais a mais
aumentam de cem
a mais de cem
tipos,tipos,
comcom
suassuas
correspondentes castas,
correspondentes na república
castas, essaessa
na república combinação
combinação

72 72
A escola
A escola
popular.
popular.
Povo: Povo:
palavra
palavra
e conceito
e conceito

é reduzida
é reduzida
a dois
a dois
tipos:tipos:
aqueles
aqueles
que que
mandam
mandam
(povo)
(povo)
e aqueles
e aqueles
que que
obedecem
obedecem (povão,
(povão, plebe,
plebe, gentinha).
gentinha).
O desafio,
O desafio, então,
então, transforma-se,
transforma-se, parapara muitos
muitos pensadores
pensadores e e
políticos
políticos da época,
da época, em em incluir
incluir no interior
no interior daquilo
daquilo que que se entende
se entende por por
povopovo setores
setores cadacada
vez vez
maismais amplos
amplos da sociedade.
da sociedade. A escola
A escola e a educação
e a educação
são são
um um lugar-chave
lugar-chave ondeonde se trava
se trava a batalha
a batalha de acesso
de acesso à soberania
à soberania real real
destes
destes setores.
setores.
Dentro
Dentro dos dos diversos
diversos projetos
projetos educacionais
educacionais existentes
existentes durante
durante a a
formação
formação dos dos vários
vários estados
estados nacionais
nacionais americanos,
americanos, interessa-nos
interessa-nos
destacar
destacar o daoRepública
da República da Bolívia,
da Bolívia, porque
porque é aliéonde
ali onde Simón
Simón Rodríguez
Rodríguez
inventa a escola
inventa a escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e sustenta
e sustenta
um um
conceito
conceito
de povo
de povo
inclusivo e igualitário.
inclusivo Em Em
e igualitário. um um
de seus textos
de seus maismais
textos bonitos, Simón
bonitos, Simón
Rodríguez
Rodríguez faz uma
faz uma referência
referência crítica
crítica ao que
ao que geralmente
geralmente se entende
se entende por por
povo:povo:
Por Por
se distinguir
se distinguir
pouco,pouco,
gostam
gostam
muitos
muitos
democratas
democratas
que que
existaexista
um umpovopovo
baixo:baixo:
por por
não não conhecer
conhecer seus seus interesses
interesses
acreditam
acreditam se enaltecer
se enaltecer abatendo-o.
abatendo-o.
Observe-se
Observe-se que que do amor
do amor ao conforto
ao conforto nascenasce o amor
o amor do do
poder,poder,
e quee que
dois dois
afetosafetos
tão tão em sintonia
em sintonia no indivíduo
no indivíduo
produzem
produzem uma uma discordância
discordância na sociedade
na sociedade –todos
–todos são são
rebaixados
rebaixados a sera ser
comunscomuns por por participar
participar dos dos
bensbens
da da
comunidade;
comunidade; mas mas
quandoquando se trata
se trata de reformular
de reformular méritos
méritos
particulares
particulares na massa,
na massa, para para lhe valor,
lhe dar dar valor,
cada cada
um seumafasta
se afasta
para para ser considerado
ser considerado um só. um só.
De acordo
De acordo com com o sentimento
o sentimento geral,geral,
PovoPovo
é umé estranho
um estranho
coletivo:
coletivo: os indivíduos
os indivíduos são todos
são todos bonsbons e o todo,
e o todo, detestável.
detestável.
(Rodríguez,
(Rodríguez, 1999,1999,
TI. p.TI.271).
p. 271).
ApósApós
esta esta
lúcida
lúcida
crítica
crítica
à ideia
à ideia
de povo
de povo
predominante
predominante
na América
na América
do século XIX, XIX,
do século propõe outraoutra
propõe forma de pensar,
forma sentir
de pensar, e viver
sentir o conceito
e viver o conceito
"povo".
"povo". Coerente
Coerente comcom
esta esta afirmação,
afirmação, Rodríguez
Rodríguez pensa
pensa um um projeto
projeto de de
educação
educação em em
que que
todastodas as crianças
as crianças da cidade
da cidade são são recebidas,
recebidas, comocomo
povo,povo,
em em qualidade
qualidade de iguais.
de iguais. VeraVera Peñaranda
Peñaranda (2009)
(2009) o descreve
o descreve

73 73
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

detalhadamente.
detalhadamente.
Afirma
Afirma
que que
"no "no
decorrer
decorrer
das das
primeiras
primeiras
semanas,
semanas,
Rodríguez manifestou
Rodríguez que que
manifestou sua sua
intenção era era
intenção romper comcom
romper a forma
a forma
tradicional de ver
tradicional a educação"
de ver (Vera
a educação" Peñaranda,
(Vera 2009,
Peñaranda, p. 103).
2009, Ao Ao
p. 103).
contrário
contrárioda daeducação
educaçãotradicional,
tradicional,diferenciada
diferenciadae organizada
e organizada
hierarquicamente de acordo
hierarquicamente comcom
de acordo a origem dos dos
a origem meninos, Rodríguez
meninos, Rodríguez
abriuabriu
umauma
escola na que
escola todos
na que – meninos
todos e meninas
– meninos - eram
e meninas recebidos
- eram recebidos
sem sem
distinção nemnem
distinção exigência alguma.
exigência ParaPara
alguma. o educador venezuelano,
o educador os os
venezuelano,
motivos erameram
motivos simples, ninguém
simples, ia àia escola
ninguém parapara
à escola aprender a ser
aprender a ser
cidadão, ia-seia-se
cidadão, à escola exatamente
à escola porque
exatamente se era
porque um um
se era cidadão, parapara
cidadão,
aprender a viver
aprender em em
a viver umauma
república. Nesse
república. sentido,
Nesse afirma,
sentido, como
afirma, já já
como
mencionamos, "escola
mencionamos, parapara
"escola todos porque
todos todos
porque são são
todos cidadãos"
cidadãos"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.I, T.I,
p. 284).
p. 284).
Em Em
outras
outras
palavras,
palavras,
umauma
escola
escola
é é
popular não não
popular porque nelanela
porque seja seja
formado um um
formado povo,povo,
masmas
é um povopovo
é um
inteiro, semsem
inteiro, excluídos, aquele
excluídos, que que
aquele faz uma escola
faz uma popular.
escola popular.
Desta forma,
Desta na escola
forma, na escola
filosófica
filosófica
popular
popular
de Simón
de Simón
Rodríguez,
Rodríguez,
a a
cidadania não não
cidadania é um resultado
é um obtido
resultado no final
obtido de um
no final longo
de um processo,
longo processo,
está está
no começo como
no começo umauma
como condição parapara
condição que que
exista escola.
exista As guerras
escola. As guerras
de independência significam
de independência umauma
significam ruptura comcom
ruptura a antiga ordem
a antiga política
ordem política
e dão origem
e dão a uma um
origem processo extremamente
processo complexo
extremamente de modernização,
complexo de modernização,
cujocujo
resultado é a écriação
resultado de uma
a criação novanova
de uma ordem política.
ordem Rodríguez
política. cria cria
Rodríguez
um um
conceito de cidadania
conceito parapara
de cidadania dar dar
nome e explicar
nome esta esta
e explicar revolução
revolução
política, que que
política, surge comcom
surge a derrota da monarquia
a derrota espanhola
da monarquia na América.
espanhola na América.
Rodríguez afirma
Rodríguez categoricamente
afirma que que
categoricamente parapara
que que
exista umauma
exista
república, é imprescindível
república, um um
é imprescindível povopovo
republicano, e isto
republicano, não não
e isto é possível
é possível
apenas comcom
apenas palavras. Daí Daí
palavras. a necessidade de agir:
a necessidade de agir:

74 74
A escola
A escola
popular.
popular.
Povo: Povo:
palavra
palavra
e conceito
e conceito

[...] embora
[...] embora
trabalhemos
trabalhemos
para para
tirar tirar
dos povos
dos povos a ideia
a ideia
que que
têm têmformada
formada
sobresobre
a suaa sorte,
sua sorte,
nadanadaserá seráconseguido,
conseguido,
se se
não nãosentemsentem
os efeitos
os efeitos
de uma
de uma mudança...
mudança... discorre-se,
discorre-se,
promete-se,
promete-se,são são
embelezadas
embelezadasas esperanças...
as esperanças... mas mas
nadanada
distodisto
é modificado!
é modificado!
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.I, p.T.I,271).
p. 271).
Na escola
Na escola
de Rodríguez,
de Rodríguez,
afirma-se
afirma-se
praticamente
praticamente
a inexistência
a inexistência
de de
doisdois
tipostipos
de povos, um um
de povos, superior e outro
superior inferior:
e outro ali sóaliexiste
inferior: um um
só existe povopovo
soberano
soberano formado
formado por por todos,
todos, semsem exceção,
exceção, em em
sua sua condição
condição de de
cidadãos
cidadãos iguais
iguais (Rodríguez,
(Rodríguez, 1999,1999,
T.I, T.I, p. 274-275).
p. 274-275). EsteEste caráter
caráter
inclusivo
inclusivo
podepode
se se
perceber
perceber
na na
edição
edição
de de
18421842 Sociedades
de de Sociedades
americanas.
americanas.
Onde
Onde
escreve
escreve
que:que:
Os homens
Os homens não não
estãoestão
em Sociedade
em Sociedadepara para
se dizer
se dizer
que que
possuem
possuem necessidades...
necessidades...
nem nem para para
se aconselhar
se aconselhar que que
busquem
busquem comocomo remediá-las...
remediá-las...
nem nempara para
se incentivar
se incentivara a
teremterem
paciência;
paciência;
mas mas
para para
se consultar
se consultar
sobresobre
os meios
os meios
de de
satisfazer
satisfazer
seus seus
desejos,
desejos,
porqueporque
não não
satisfazê-los
satisfazê-los
é padecer.
é padecer.
Para Para
tratartratar
de seu
de bem-estar,
seu bem-estar,
não devem
não devem
perder
perder
consultores
consultores
nem nemmeiosmeiosde consultar
de consultar= cada
= cada
homem homemexcluído
excluído
do do
conselho
conselhoé um é um voto voto
a menos,
a menos,
e um e um prejuízo
prejuízo
[...]. [...].
(Rodríguez,
(Rodríguez,2016,2016,
p. 137).
p. 137).
Isto Isto
é, não
é, não
apenas
apenas
na escola,
na escola,
masmas
nas nas
instituições
instituições
políticas,
políticas,
o o
povopovo
está está presente
presente inteiramente
inteiramente e com
e com igualdade.
igualdade. ComoComo muitos
muitos de de
seusseus contemporâneos,
contemporâneos, parapara Rodríguez,
Rodríguez, o conceito
o conceito de cidadão
de cidadão articula-se
articula-se
comcom os conceitos
os conceitos de universalidade
de universalidade e igualdade.
e igualdade. Porém,
Porém, o caraquenho
o caraquenho
os interpreta
os interpreta de modo
de modo singular,
singular, inédito.
inédito. A proposição
A proposição "todos
"todos são são
cidadãos"
cidadãos" (Rodríguez,
(Rodríguez, 1999,1999,
T.I, T.I, p. 284)
p. 284) não não expressa
expressa apenas
apenas umauma
propriedade
propriedade compartilhada.
compartilhada. É um
É um convite
convite irrestrito,
irrestrito, que que transcende
transcende
qualquer
qualquer condição
condição social,
social, étnica
étnica ou ou cultural
cultural das das pessoas.
pessoas. ParaPara
Rodríguez,
Rodríguez, independentemente
independentemente da condição
da condição de índio, criollo
de índio, criollo
, mameluco,
, mameluco,
negro,
negro, cafuzo,
cafuzo, mulato
mulato ou peninsular,
ou peninsular, umauma pessoa
pessoa é cidadã.
é cidadã. Muitos
Muitos
fragmentos
fragmentos
de sua
de sua
obraobra
apoiam
apoiam
esta esta
ideia,ideia,
por por
exemplo,
exemplo, Defesa
em em Defesa
a a
Bolívar
Bolívar
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999)
1999)
afirma,
afirma,
em referência
em referência
ao sistema
ao sistema
republicano:
republicano:

75 75
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

"pelo"pelo
povopovo
e para
e para
o povo
o povo
faz-se
faz-se
tudotudo
– todos
– todos
formam
formam
o povo
o povo
e cada
e cada
um um
devedeve
obedecer
obedecer
ao povo,
ao povo,
porque
porque
o povo
o povo
é soberano"
é soberano"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.II, T.II,
p. 289).
p. 289).
Na Na
proposta
proposta
de Rodríguez,
de Rodríguez,
existe
existe
umauma
relação
relação
muito
muito
estreita
estreita
entreentre
povopovo
e cidadania.
e cidadania.
ParaPara
ele, ele,
umauma
república
república
independente
independente
e e
soberana
soberana
só pode
só pode
existir
existir
na América
na América
se incluir
se incluir
um um
povopovo
inteiro
inteiro
de de
cidadãos.
cidadãos.
Em Em
umauma
verdadeira
verdadeira
república,
república,
ninguém
ninguém
podepode
ser ser
excluído.
excluído.
Nesse
Nesse
sentido,
sentido,
parapara
Rodríguez,
Rodríguez,
todos
todos
e cada
e cada
um um
dos dos
moradores
moradores
da da
Bolívia
Bolívia
são são
cidadãos
cidadãos
e, aoe, mesmo
ao mesmo
tempo,
tempo,
todos
todos
formam
formam
o povo
o povo
da da
república.
república.
Por Por
isso,isso,
é necessária
é necessária
umauma
escola
escola
parapara
todos,
todos,
porque
porque
nelanela
o o
povopovo
inteiro
inteiro
aprenderá
aprenderá
a viver
a viver
umauma
verdadeira
verdadeira
república.
república.
O projeto
O projeto
de Rodríguez
de Rodríguez
é tão
é tão
radical
radical
que,que,
em em
pouco
pouco
tempo,
tempo,
chove
chove
todotodo
tipo tipo
de críticas.
de críticas.
As elites,
As elites,
que que
inicialmente
inicialmente
o recebem
o recebem
comcom
agrado
agrado
porque
porque
acreditam
acreditam
que que
Rodríguez
Rodríguez
abriria
abriria
umauma
escola
escola
à moda
à moda
europeia
europeia
parapara
os filhos
os filhos
das das
novas
novas
eliteselites
republicanas
republicanas
(as (as
mesmas
mesmas
da da
colônia),
colônia),
protestam
protestam
veementemente. A escola
veementemente. A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
de de
Chuquisaca duradura
Chuquisaca apenas doisdois
apenas meses: é fundada
meses: em em
é fundada maiomaio
de 1826 e e
de 1826
fechada no final
fechada de junho
no final dessedesse
de junho mesmo ano,ano,
mesmo quando Rodríguez
quando viajaviaja
Rodríguez
parapara
criarcriar
outraoutra
escola semelhante
escola em Cochabamba.
semelhante Os promotores
em Cochabamba. do do
Os promotores
fechamento destedeste
fechamento estabelecimento são são
estabelecimento o Secretário-geral do Governo
o Secretário-geral e e
do Governo
Ministro de Governo
Ministro e Relações
de Governo Exteriores,
e Relações Facundo
Exteriores, Infante,
Facundo o Prefeito
Infante, o Prefeito
Calvo e o ePresidente
Calvo Sucre.
o Presidente Os motivos
Sucre. pelospelos
Os motivos quaisquais
se opõem a esta
se opõem a esta
instituição são são
instituição que que
a escola aceita
a escola qualquer
aceita pessoa,
qualquer sem sem
pessoa, exigência
exigência
alguma e que
alguma "estava
e que desperdiçando
"estava o dinheiro
desperdiçando em 'putas
o dinheiro e ladrões'
em 'putas e e
e ladrões'
mulheres perdidas
mulheres e garotos
perdidas desocupados"
e garotos (Vera
desocupados" Peñaranda,
(Vera 2009,
Peñaranda, p. p.
2009,
121). 121).

76 76
A escola
A escola
popular.
popular.
Povo: Povo:
palavra
palavra
e conceito
e conceito

A escola
A escola
é uma
é uma
novidade
novidade
semsem
precedentes
precedentes
na América.
na América. O O
Em Em
Libertador
Libertador
do Meio-Dia
do Meio-Dia
da América
da América
e seus
e seus
companheiros
companheiros
de armas,
de armas,
defendidos
defendidos
por por
um um
amigo
amigo
da causa
da causa
social,
social,
Rodríguez
Rodríguez
afirma
afirma
que que
seu seu
projeto
projeto
não não
podepode
ser ser
comparado
comparado
comcom
nenhuma
nenhuma
outraoutra
instituição
instituição
escolar
escolar
existente:
existente:
As fundações
As fundações são todas
são todas
piedosas...
piedosas...
UmasUmaspara para
expostos
expostos
– –
Outras
Outras
para para
órfãos
órfãos
– Outras
– Outras
para para
meninas
meninas
nobres
nobres
– Outras
– Outras
para para
filhosfilhos
de militares
de militares
– Outras
– Outras
para para
inválidos...
inválidos...
em todas
em todas
se fala
se de
falacaridade:
de caridade:
não senãofizeram
se fizeram
pelo pelo
bem bem
geral,geral,
mas maspela pela
salvação
salvação
do fundador
do fundador ou pela
ou pela
ostentação
ostentação
do Soberano.
do Soberano.
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p.62).p.62).
De acordo
De acordo
comcom
suassuas
próprias
próprias
palavras,
palavras,
"o Estabelecimento
"o Estabelecimento
que que
se se
empreendeu
empreendeu
na Bolívia
na Bolívia
é social,
é social,
sua sua
combinação
combinação
é nova,
é nova,
em em
umauma
palavra
palavra
é a érepública"
a república"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016).
2016).
Rodríguez
Rodríguez
denomina
denomina
o que
o que
é é
feitofeito
em em
sua sua
escola de "educação
escola popular",
de "educação o nome
popular", de uma
o nome novidade,
de uma novidade,
umauma educação
educação inédita
inédita no continente.
no continente.
Costuma-se
Costuma-se pensar
pensar que que popular
popular é um
é um adjetivo
adjetivo derivado
derivado do do
substantivo
substantivo povo.povo.
ComoComo já vimos,
já vimos, isso isso indicam
indicam as acepções
as acepções destedeste termo
termo
e a ehistória
a história
parece
parece
validá-lo.
validá-lo.
No entanto,
No entanto,
a partir
a partir
do pensamento
do pensamento
de de
Rodríguez,
Rodríguez, surge
surge outraoutra forma
forma de pensar
de pensar essaessa condição
condição da educação,
da educação,
maismais potente
potente e inovadora.
e inovadora. O popular
O popular é umé um verbo,
verbo, é a ação
é a ação de inventar
de inventar
povo.povo. A escola
A escola popular
popular é aquela
é aquela escola
escola que,que, ao assumir
ao assumir o povo
o povo comocomo
umauma totalidade
totalidade de iguais
de iguais sem sem exclusões,
exclusões, inventa
inventa povopovo a cada
a cada instante,
instante,
não não como
como um um objetivo
objetivo indeterminado,
indeterminado, masmas como
como umauma consequência
consequência
prática
prática cotidiana.
cotidiana.
Inventar
Inventar povopovo
não não significa
significa criarcriar cidadãos.
cidadãos. NemNem
dotardotar os homens
os homens
e mulheres
e mulheres dos dos conteúdos
conteúdos e ferramentas
e ferramentas necessárias
necessárias parapara
viverviver
em em
democracia.
democracia. É algo
É algo anterior.
anterior. UmaUma análise
análise do verbo
do verbo inventar
inventar podepode
nos nos
ajudar
ajudar nessenesse sentido.
sentido. EsseEsse verbo
verbo tem,tem,
pelopelo menos,
menos, doisdois sentidos:
sentidos: um um

77 77
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

maismais
comum,
comum,
relacionado
relacionado
comcom
a criação,
a criação,
em em
geral,geral,
individual.
individual.
Fala-se
Fala-se
de pessoas inventivas,
de pessoas criativas,
inventivas, e considera-se
criativas, a criação
e considera-se ou invenção
a criação ou invenção
como algoalgo
como que que
emana de uma
emana subjetividade,
de uma um um
subjetividade, movimento de dentro
movimento de dentro
parapara
fora.fora.
No entanto, se analisarmos
No entanto, a etimologia
se analisarmos da palavra
a etimologia invento,
da palavra invento,
derivado do do
derivado inventus
latimlatim inventus
, veremos
, veremos
outro
outro In-ventus
sinal.sinal. In-ventus
, da, da
in, "en",
preposição
preposição in, "en",
"dentro"
"dentro"
e doe particípio
do particípio
passado
passado
do verbo venire
do verbo venire
, ,
significa literalmente
significa "que"que
literalmente chegou, arribou,
chegou, veio veio
arribou, dentro", ou seja,
dentro", a a
ou seja,
invenção
invenção é uma
é uma açãoação de fora
de fora parapara dentro.
dentro. Inventar,
Inventar, nessenesse sentido,
sentido, exigeexige
a força
a força não não de emanar,
de emanar, masmas
de sedeabrir,
se abrir,
dar dar lugar,
lugar, dar dar espaço.
espaço.
Nesse sentido,
Nesse a ação
sentido, de inventar
a ação povo,povo,
de inventar o popular como
o popular verbo,
como é é
verbo,
um um
convite irrestrito
convite a todos
irrestrito e qualquer
a todos um um
e qualquer parapara
participar de um
participar de um
espaço comum,
espaço aonde
comum, todos
aonde são são
todos bem-vindos em qualidade
bem-vindos de iguais
em qualidade e e
de iguais
ninguém vale vale
ninguém mais.mais.
É um abrirabrir
É um as portas e janelas
as portas de de
e janelas forma
forma
incondicional a todas,
incondicional todos,
a todas, qualquer
todos, um um
qualquer no interior de uma
no interior escola.
de uma escola.
Todos(as) dentro
Todos(as) da escola,
dentro porque
da escola, todos(as)
porque são são
todos(as) cidadãos(ãs). Dessa
cidadãos(ãs). Dessa
forma, a educação
forma, inventa
a educação escola,
inventa inventa
escola, o povo
inventa na escola,
o povo abre-a
na escola, parapara
abre-a
todotodo
o povo. Isto Isto
o povo. não não
querquer
dizerdizer
que que
não não
existam outros
existam espaços
outros espaços
populares: políticas,
populares: músicas,
políticas, esportes,
músicas, culturas.
esportes, Porém,
culturas. a escola
Porém, tem tem
a escola
um um
lugarlugar
especial, porque
especial, é a éprópria
porque construção
a própria pelopelo
construção povopovo
de um
de um
espaço e tempo
espaço comum
e tempo parapara
comum pensar-se e viver
pensar-se como
e viver povo.povo.
como
A oferta é incondicional:
A oferta todas,
é incondicional: todos,
todas, qualquer
todos, um um
qualquer podepode
(tem(tem
poder para)para)
poder fazerfazer
parteparte
ativaativa
na problematização e construção
na problematização de uma
e construção de uma
novanova
forma de vida
forma comum,
de vida de um
comum, novonovo
de um presente. É um
presente. convite
É um parapara
convite
todas, todos,
todas, por por
todos, igual.igual.
Todas somos
Todas igualmente
somos convidadas.
igualmente É um
convidadas. É um
convite igualitário
convite das das
igualitário diversas identidades,
diversas sexualidades,
identidades, etnias,
sexualidades, etnias,
saberes, fortunas,
saberes, posições
fortunas, sociais,
posições religiões,
sociais, etc. etc.
religiões,

78 78
A escola
A escola
popular.
popular.
Povo: Povo:
palavra
palavra
e conceito
e conceito

No mundo
No mundo
desigual
desigual
em que
em que
vivemos,
vivemos,
este este
convite
convite
igualitário
igualitário
tem tem
um um caráter
caráter subversivo.
subversivo. Diante
Diante da evidência
da evidência das das desigualdades
desigualdades que que
inundam
inundam a realidade,
a realidade, afirma-se
afirma-se a igualdade
a igualdade sem sem condições,
condições, afirma-se
afirma-se
um um mundo
mundo educacional
educacional de iguais,
de iguais, comcom a igualdade
a igualdade comocomo princípio.
princípio.
Povo,Povo,
nesteneste contexto,
contexto, é o écoletivo
o coletivo formado
formado por por todos
todos os seres
os seres
humanos
humanos dispostos
dispostos a fazer
a fazer parteparte
ativaativa da invenção
da invenção de uma
de uma escola,
escola, da da
criação
criação do próprio
do próprio presente
presente a partir
a partir do oferecimento
do oferecimento de um
de um convite
convite
igualitário.
igualitário. É uma
É uma totalidade
totalidade aberta,
aberta, umauma
entreentre tantas
tantas possíveis.
possíveis. Não Não
é é
fechada
fechada como
como quando
quando é associada
é associada comcom
umauma nacionalidade,
nacionalidade, por por
exemplo,
exemplo, o povo
o povo brasileiro,
brasileiro, argentino,
argentino, venezuelano,
venezuelano, etc. etc.
EsseEsse
uso, uso,
segundo
segundo Badiou,
Badiou, "[…] "[…] arrasta
arrasta o lastro
o lastro de uma
de uma identidade
identidade fechada
fechada – –
sempre
sempre fictícia–
fictícia– de tipo
de tipo racional
racional ou nacional"
ou nacional" (Badiou,
(Badiou, 2014,2014, p. 18).
p. 18).
Aqueles
Aqueles que que
não não atendem
atendem à condição
à condição identitária
identitária ficam
ficam fora fora do povo.
do povo.
Diferentemente,
Diferentemente, povopovo na escola
na escola popular
popular é uma
é uma totalidade
totalidade não não
identitária,
identitária, aberta,
aberta, sempre
sempre disposta
disposta a se amodificar.
se modificar. O popular
O popular da escola
da escola
é essa
é essa ação,ação, na forma
na forma de abertura,
de abertura, um um convite
convite a todos
a todos e a qualquer
e a qualquer um um
de viver
de viver umauma
vidavida
em em comum,
comum, de serem
de serem autores
autores de seu
de seu próprio
próprio
presente.
presente.
Em Em
umauma
seçãoseção anterior,
anterior, apresentamos
apresentamos a análise
a análise que que Masschelein
Masschelein
e Simons
e Simons fazem
fazem da forma scholé,
da forma scholé,
retrocedendo
retrocedendo
até Isócrates.
até Isócrates.
ComoComo
já já
sugerimos,
sugerimos, vale vale a pena
a pena observar
observar na scholé
que que na scholé
grega
grega
a separação
a separação
e e
profanação
profanação são são parciais,
parciais, e se ebaseiam
se baseiam em uma
em uma lógica
lógica social
social que que a não
a não é é
questionada
questionada scholé
pelapela scholé
. Em. Em
última
última
análise,
análise,
a igualização
a igualização
através
através
do do
tempo livrelivre
tempo está está
restrita aos aos
restrita setores maismais
setores altosaltos
de uma sociedade
de uma sociedade
escravagista
escravagista e hierarquizada
e hierarquizada que que incorpora
incorpora a escola
a escola parapara
umauma
parteparte
de de
si mesma.
si mesma. Isto Isto
é, elaé, ignora
ela ignora grande
grande parteparte da população,
da população, aqueles
aqueles que que
de de

79 79
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

alguma
alguma
forma
forma
sustentam
sustentam
comcom
seu seu
trabalho
trabalho
manual
manual
o tempo
o tempo
livrelivre
daqueles que que
daqueles estãoestão
na escola. Desta
na escola. forma,
Desta a escola
forma, grega
a escola promove
grega um um
promove
princípio igualitário
princípio de forma
igualitário restrita
de forma e elitista.
restrita e elitista.
Em Em
contrapartida, a escola
contrapartida, a escola
filosófica
filosófica
popular
popular
de Chuquisaca,
de Chuquisaca,
criada por por
criada Simón Rodríguez
Simón em 1826,
Rodríguez não não
em 1826, responde à ordem
responde social
à ordem na na
social
qualqual
irrompe. Oferece
irrompe. um um
Oferece espaço de suspensão
espaço e profanação
de suspensão dessadessa
e profanação
ordem de maneira
ordem incondicional,
de maneira a todos,
incondicional, a todas,
a todos, a qualquer
a todas, um, um,
a qualquer
independentemente de sua
independentemente posição
de sua na ordem
posição social.
na ordem Nesse
social. sentido,
Nesse não não
sentido,
exclui ninguém:
exclui recebe
ninguém: todas(os),
recebe a partir
todas(os), de uma
a partir afirmação
de uma sem sem
afirmação
condições na igualdade.
condições Oferece
na igualdade. o tempo
Oferece livrelivre
o tempo de forma incondicional
de forma e e
incondicional
irrestrita.
irrestrita.

80 80
V. OV.PRINCÍPIO
O PRINCÍPIO
POLÍTICO
POLÍTICO
DA ESCOLA
DA ESCOLA
FILOSÓFICA
FILOSÓFICA
POPULAR
POPULAR

Na Na sequência,
sequência, mostramos
mostramos o contexto
o contexto no no
qualqual surge
surge escola
esta esta escola
filosófica
filosófica popular
popular . Na. Na
cidade
cidade
de Chuquisaca,
de Chuquisaca,
pelapela
primeira
primeira
vez vez
na na
história
história dessadessa cidade
cidade –e continente–
–e do do continente– juntam-se
juntam-se em em
umauma
sala sala
de de
aula,aula, em qualidade
em qualidade de iguais,
de iguais, os meninos
os meninos e meninas
e meninas de diversas
de diversas castas.
castas.
EsteEste simples
simples fato fato
geragera
um um escândalo
escândalo entreentre os vizinhos
os vizinhos destadesta cidade
cidade
aristocrática,
aristocrática, que que
veemveem alterada
alterada a sua
a sua representação
representação da considerada
da considerada
boa boa ordem
ordem social
social e moral.
e moral. A sociedade
A sociedade de Chuquisaca,
de Chuquisaca, assim
assim como
como a a
maioria
maioria das das cidades
cidades latino-americanas
latino-americanas dos dos séculos
séculos XVIIIXVIII e XIX,
e XIX, está está
fortemente
fortemente dividida.
dividida. Démelas
Démelas afirma
afirma que que as sociedades
as sociedades coloniais
coloniais estãoestão
fundadas
fundadas em em
umauma complexa
complexa rederede de vínculos
de vínculos sociais
sociais verticais,
verticais, comcom
normas
normas tácitas
tácitas que que faziam
faziam referência
referência aos aos vínculos
vínculos de parentesco,
de parentesco, o o
conhecimento
conhecimento mútuo
mútuo e o erespeito
o respeito
das das hierarquias
hierarquias próprias
próprias de cada
de cada
grupo
grupo (Démelas,
(Démelas, 2003,
2003, p. 54-55).
p. 54-55). AlémAlém da flexibilidade
da flexibilidade existente
existente parapara
mudar
mudar de um
de um grupo
grupo a outro
a outro e dae ambiguidade
da ambiguidade
comcom a qual
a qual as as
autoridades
autoridades interpretam
interpretam as definições
as definições étnico-sociais,
étnico-sociais, a autora
a autora afirma
afirma
que que as hierarquias
as hierarquias são são
um um elemento-chave
elemento-chave da vida
da vida andina
andina (Démelas,
(Démelas,
2003,
2003, p. 64).
p. 64). A fragmentação
A fragmentação social,
social, comcom
basebase na distinção
na distinção racial,
racial, é umé um
padrão
padrão comum
comum comcom o qual
o qual é desenvolvida
é desenvolvida a vida
a vida cotidiana
cotidiana dentro
dentro dos dos
territórios
territórios do império
do império espanhol.
espanhol.
No caso
No caso da educação,
da educação, a desigualdade
a desigualdade é muito
é muito maismais perceptível,
perceptível,
degradante
degradante e extrema.
e extrema. As primeiras
As primeiras letras
letras são são oferecidas
oferecidas àqueles
àqueles que que
podem
podem pagar,
pagar, por por professores
professores particulares
particulares nos nos
lareslares
das das pessoas
pessoas

81 81
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

abastadas
abastadas
ou em
ou em
instituições
instituições
exclusivas
exclusivas
comocomo
o colégio
o colégio
São São
Cristóvão
Cristóvão
de de
Chuquisaca. Por Por
Chuquisaca. sua sua
vez, vez,
em em
todotodo
o território das das
o território colônias
colônias
espanholas na América,
espanholas juntojunto
na América, comcom
o ensino privado,
o ensino existem
privado, diversos
existem diversos
tipostipos
de instituições escolares
de instituições de primeiras
escolares letras
de primeiras de acordo
letras comcom
de acordo a a
posição social
posição das das
social crianças. As As
crianças. ordens religiosas
ordens desenvolvem
religiosas um um
desenvolvem
trabalho pedagógico
trabalho extraordinário
pedagógico no território
extraordinário americano.
no território Criam
americano. e e
Criam
administram diversos
administram tipostipos
diversos de de
escolas que que
escolas recebem de de
recebem forma
forma
diferenciada índios,
diferenciada mestiços
índios, e brancos.
mestiços Também
e brancos. existem
Também escolas
existem escolas
municipais, sustentadas
municipais, pelospelos
sustentadas Cabildos que,que,
Cabildos em em
teoria, recebem
teoria, todastodas
recebem
as crianças católicas.
as crianças No No
católicas. entanto, a maioria
entanto, da população
a maioria escolar
da população se se
escolar
adapta a uma
adapta sériesérie
a uma de condições, relacionadas
de condições, comcom
relacionadas a pureza do sangue
a pureza do sangue
e a posição ocupada
e a posição na sociedade.
ocupada Em Em
na sociedade. resumo, as escolas
resumo, impõem
as escolas umauma
impõem
sériesérie
de condições de todo
de condições tipo tipo
de todo àqueles e àquelas
àqueles que que
e àquelas querem estudar
querem estudar
nelas.
nelas.
No interior destedeste
No interior tipo tipo
de sociedades fragmentadas
de sociedades e organizadas
fragmentadas e organizadas
hierarquicamente ao redor
hierarquicamente de um
ao redor sistema
de um de castas,
sistema Rodríguez
de castas, tomatoma
Rodríguez
umauma
decisão radical.
decisão Na capital
radical. da Bolívia,
Na capital Chuquisaca,
da Bolívia, ondeonde
Chuquisaca, moram os os
moram
proprietários dos dos
proprietários complexos mineiros
complexos do Potosí,
mineiros Rodríguez,
do Potosí, em em
Rodríguez, seu seu
papelpapel
equivalente atualmente
equivalente a um
atualmente ministro
a um da educação
ministro de Bolívar,
da educação de Bolívar,
abreabre
umauma
escola modelo
escola parapara
modelo todastodas
as crianças em qualidade
as crianças de iguais.
em qualidade de iguais.
Tal atitude
Tal atitude
fica fica
consagrada
consagrada
na jánamencionada
já mencionada
proposição de Sociedades
proposição de Sociedades
Americanas:
Americanas:
"escola
"escola
parapara
todos,
todos,
porque
porque
todos
todos
são são
cidadãos"
cidadãos"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.I, T.I,
p. 284).
p. 284).
Sim,Sim,
todos,
todos,
sem sem
exceção
exceção
nemnem
condição
condição
que que
limite
limite
sua sua entrada.
entrada. PelaPela primeira
primeira vez, vez, meninas
meninas e meninos
e meninos pobres,
pobres, índios,
índios,
negros, mestiços
negros, e seus
mestiços pais pais
e seus são são
hospedados, por por
hospedados, conta do Estado,
conta em em
do Estado,
casascasas
limpas
limpas
e espaçosas
e espaçosas
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 57).
p. 57).
AquiAqui
sim,sim,
o tempo
o tempo

82 82
O princípio
O princípio
político
político
da escola
da escola
filosófica
filosófica
popular
popular

scholé
livre,livre, scholé
, está
, está
disponível
disponível
parapara
todastodas
e todos,
e todos,
comocomo
iguais,
iguais,
sem sem
condições.
condições. É nesse
É nesse sentido
sentido que que a escola
a escola modelo
modelo de de Chuquisaca
Chuquisaca
representa
representa umauma ampliação
ampliação da escola
da escola democrática
democrática grega
grega scholé
e sua
e sua scholé
: :
em uma
em uma sociedade
sociedade segmentada
segmentada e excludente,
e excludente, abreabre
suassuas portas
portas aos aos
sem sem
nome,
nome, aos aos marginais
marginais da cidade,
da cidade, suspendendo
suspendendo (pelo(pelo menos
menos no interior
no interior
da escola)
da escola) aquilo
aquilo que que os separa
os separa e divide
e divide do lado
do lado de fora.
de fora. Em Em outras
outras
palavras,
palavras, não não existe
existe discriminação
discriminação social
social que que a escola
a escola popular
popular não não
consiga
consiga profanar
profanar e suspender.
e suspender.
A escola
A escola defendida
defendida por por Rodríguez,
Rodríguez, longelonge de um
de ser ser um
gestogesto ingênuo
ingênuo
e utópico,
e utópico, como
como é afirmado
é afirmado por por alguns
alguns (Rawicz,
(Rawicz, 2003;
2003; Ciriza;
Ciriza;
Fernández,
Fernández, 1999),
1999), representa
representa umauma contribuição
contribuição original
original não não
só àsó à
história
história da instituição
da instituição escolar,
escolar, masmas também
também ao pensamento
ao pensamento educacional
educacional
de todos
de todos os tempos.
os tempos. ComCom
sua sua "Educação
"Educação parapara todos
todos porque
porque todos
todos são são
cidadãos"
cidadãos" comocomo princípio
princípio de sua
de sua escola
escola real,real,
que que Rodríguez
Rodríguez ajudaajuda
a a
construir
construir comcom
suassuas próprias
próprias mãos,
mãos, rompe,
rompe, concreta
concreta e materialmente,
e materialmente,
comcom as condições
as condições da exclusão
da exclusão educacional
educacional da época.
da época. A escola
A escola é tão
é tão
disruptiva
disruptiva da ordem
da ordem estabelecida,
estabelecida, que que é impossível
é impossível de assimilar
de assimilar pelapela
eliteelite da cidade.
da cidade. ComoComo vimos,
vimos, a escola
a escola duradura
doisdois meses
meses em em pé. Poucas
pé. Poucas
vezesvezes na história
na história da humanidade,
da humanidade, umauma escola
escola geragera tal reação
tal reação daqueles
daqueles
que que se sentem
se sentem ameaçados
ameaçados por por
ela. ela.
A "igualdade"
A "igualdade" defendida
defendida por por Rodríguez
Rodríguez é umé um princípio
princípio aplicado
aplicado
em uma
em uma vidavida escolar
escolar concreta
concreta e não
e não apenas
apenas em um
em um programa
programa ou uma
ou uma
teoria.
teoria. ParaPara Rodríguez,
Rodríguez, a igualdade
a igualdade não não é algo
é algo conseguido
conseguido pelospelos
supostamente
supostamente desiguais,
desiguais, masmas
um um princípio
princípio a partir
a partir do qual
do qual se abre
se abre
umauma
vidavida escolar
escolar comum
comum parapara
todastodas e todos.
e todos. Da Da igualdade
igualdade nasce
nasce a a
escola,
escola, e não
e não ao contrário.
ao contrário. A partir
A partir dela,dela, Rodríguez
Rodríguez se pergunta:
se pergunta:

83 83
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

ComoComo podemos
podemos
fazerfazer
um um homem homem
acreditar,
acreditar,
distinto
distinto
por por
vantagens
vantagens naturais,
naturais, adquiridas
adquiridas ou fortuitas,
ou fortuitas, que aquele
que aquele que que
carece delasdelas
carece é seué igual? Como,
seu igual? em contrapartida,
Como, outrooutro
em contrapartida,
acreditará que que
acreditará nadanada
lhe falta, quando
lhe falta, vê que
quando carece
vê que de de
carece
tudo?... E ambos,
tudo?... comocomo
E ambos, se persuadirão de que
se persuadirão passaram
de que a a
passaram
outrooutro
estado, se percebem
estado, se percebem que que
estãoestão
sempre no mesmo?
sempre no mesmo?
(Rodríguez, 1999,1999,
(Rodríguez, T.I, p.271).
T.I, p.271).
O que
O que
podemos
podemos
analisar
analisar
destedeste
fragmento?
fragmento?
QueQue
a igualdade
a igualdade
devedeve
ser vivida parapara
ser vivida poder ser incorporada,
poder que que
ser incorporada, precisamos de instituições
precisamos de instituições
que que
a verifiquem e não
a verifiquem que que
e não tentem alcançá-la,
tentem porque
alcançá-la, nessenesse
porque casocaso
seráserá
umauma
quimera. A igualdade,
quimera. parapara
A igualdade, Rodríguez, não não
Rodríguez, é um conceito
é um que que
conceito
devedeve
ser ser
alcançado ou ou
alcançado demonstrado, masmas
demonstrado, sim sim
umauma
crença cujascujas
crença
consequências são são
consequências comprovadas em cada
comprovadas ato educacional.
em cada A vida
ato educacional. vivida
A vida vivida
na escola de primeiras
na escola letras
de primeiras de Chuquisaca
letras é uma
de Chuquisaca aplicação
é uma prática
aplicação prática
destadesta
afirmação igualitária:
afirmação ali, ali,
igualitária: meninas e meninos
meninas de de
e meninos todos os os
todos
segmentos sociais,
segmentos de todas
sociais, as etnias
de todas que que
as etnias habitam essaessa
habitam região da da
região
América, aproveitam
América, igualmente
aproveitam o mesmo
igualmente tempo
o mesmo e espaço
tempo escolar.
e espaço escolar.
Ninguém vale vale
Ninguém maismais
do que ninguém,
do que tem tem
ninguém, privilégios ou obrigações
privilégios ou obrigações
especiais por por
especiais sua sua
posição na estrutura
posição social.
na estrutura social.
Ao contrário do que
Ao contrário Rodríguez
do que pensa,
Rodríguez desde
pensa, os primeiros
desde tempos
os primeiros tempos
da colônia, a suposta
da colônia, igualdade
a suposta entreentre
igualdade seresseres
humanos está está
humanos relacionada
relacionada
comcom
a condição racional
a condição presente
racional na sua
presente alma.alma.
na sua ComCom
basebase
no direito
no direito
natural, alguns
natural, religiosos
alguns e homens
religiosos de letras
e homens espanhóis
de letras afirmam
espanhóis a a
afirmam
necessidade de tratar
necessidade comcom
de tratar dignidade e humanidade
dignidade os índios,
e humanidade vistovisto
os índios, que que
todos possuem
todos a capacidade
possuem de acordo
a capacidade comcom
de acordo a Leia Natural, em virtude
Lei Natural, em virtude
de de
sua sua
forma racional.
forma Ou Ou
racional. seja,seja,
a igualdade surge
a igualdade não não
surge só só
da da
universalidade da Lei
universalidade da Natural, e dee sua
Lei Natural, possibilidade
de sua de ser
possibilidade de conhecida
ser conhecida
por por
todas(os), masmas
todas(os), também da natureza
também racional
da natureza dos dos
racional seresseres
humanos.
humanos.

84 84
O princípio
O princípio
político
político
da escola
da escola
filosófica
filosófica
popular
popular

A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
é verdadeiramente
é verdadeiramente
inovadora
inovadora
e e
transformadora
transformadora não não
pelapela inclusão
inclusão de de
maismais pessoas
pessoas de de diversas
diversas
estratificações,
estratificações, masmas
pelapela forma
forma como
como isso isso é feito.
é feito. A função
A função política
política da da
escola
escola filosófica
filosófica popular
popular é apresentar
é apresentar a igualdade
a igualdade como
como princípio
princípio
indemonstrável,
indemonstrável, masmas também
também inegociável,
inegociável, e seguir
e seguir todastodas
as as
consequências
consequências que que surgem
surgem dessadessa afirmação.
afirmação. Nela,Nela,
são são orientadas
orientadas todastodas
as ações
as ações políticas
políticas e pedagógicas.
e pedagógicas. O posicionamento
O posicionamento de Rodríguez
de Rodríguez não não
é é
limitado
limitado à escola
à escola criada
criada em Chuquisaca.
em Chuquisaca. Sabendo
Sabendo que que a República
a República não não
vai vai se formar
se formar exclusivamente
exclusivamente no no interior
interior dos dos salões
salões das das pessoas
pessoas
decentes,
decentes, decide
decide colocar
colocar em em prática
prática um um projeto
projeto de educação
de educação popular
popular
sem sem precedentes
precedentes na América.
na América. ComCom a aprovação
a aprovação de Bolívar,
de Bolívar, projeta
projeta
muitas
muitas maismais escolas
escolas parapara receber
receber todastodas as crianças
as crianças destadesta
terra.terra.
O O
projeto
projeto de de Rodríguez
Rodríguez é tão
é tão revolucionário
revolucionário que,que, quando
quando sai sai
de de
Chuquisaca
Chuquisaca parapara fundar
fundar outraoutra escola,
escola, os sustentadores
os sustentadores da ordem
da ordem
existente
existente destroem
destroem a escola,
a escola, que que é demolida.
é demolida.
De certa
De certa forma,
forma, essaessa reação
reação confirma
confirma a radicalidade
a radicalidade da invenção
da invenção
de Rodríguez:
de Rodríguez: é inadmissível
é inadmissível a irrupção
a irrupção de cafuzos,
de cafuzos, índios,
índios, negros
negros e e
mamelucos
mamelucos em uma
em uma mesma
mesma sala,sala,
juntojunto
aos aos brancos
brancos e eme qualidade
em qualidade
de de
iguais.
iguais. A sua
A sua presença
presença perturba
perturba a representação
a representação da ordem
da ordem social
social
naturalizada
naturalizada pelaspelas oligarquias
oligarquias durante
durante maismais de trezentos
de trezentos anos.anos. A escola
A escola
filosófica
filosófica popular
popular é vista
é vista comocomo antinatural,
antinatural, produto
produto de um
de um demente,
demente,
estrangeiro,
estrangeiro, perigosa
perigosa demais
demais porque
porque não não só transforma
só transforma a normalidade
a normalidade
da representação
da representação social
social da escola,
da escola, masmas também
também a sociedade
a sociedade comocomo
um um
todo.todo. O que
O que nasce
nasce ali éaliuma
é uma
novanova forma
forma das das pessoas
pessoas se relacionarem,
se relacionarem,
outraoutra forma
forma de vida
de vida em em comum,
comum, impossível
impossível de ser
de ser vivida
vivida nas nas ordens
ordens
sociais
sociais americanas.
americanas.

85 85
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

Denominamos escola
Denominamos escola
filosófica
filosófica
popular
popular
essaessa
criação
criação
de Rodríguez,
de Rodríguez,
umauma
implantação inusitada
implantação na instituição
inusitada educacional
na instituição por por
educacional excelência (a (a
excelência
escola básica)
escola da afirmação
básica) "os "os
da afirmação seresseres
humanos são são
humanos iguais". AlgoAlgo
iguais". que que
não não
existia antes,
existia nasce:
antes, a escola
nasce: a escola
filosófica
filosófica
popular
popular
desdobra
desdobra
a potência
a potência
inédita da instituição
inédita da igualdade
da instituição como
da igualdade princípio
como parapara
princípio educar umauma
educar
realidade que que
realidade a pede urgentemente.
a pede Designa
urgentemente. a potência
Designa inédita
a potência da da
inédita
instituição escolar
instituição quando
escolar a igualdade
quando é seué seu
a igualdade princípio.
princípio.
A escola criada
A escola por por
criada Simón Rodríguez
Simón oferece
Rodríguez um um
oferece tempo livrelivre
tempo da da
produção e dae sociedade.
produção O movimento
da sociedade. igualitário
O movimento de suspensão
igualitário e e
de suspensão
profanação que que
profanação afirma, não não
afirma, apenas interrompe,
apenas masmas
interrompe, altera e e
altera
transforma a ordem
transforma social
a ordem da cidade.
social Aqueles
da cidade. que que
Aqueles devem passar
devem o o
passar
tempo a serviço
tempo e trabalho
a serviço das das
e trabalho famílias da elite
famílias experimentam
da elite o o
experimentam
mesmo tempo
mesmo livrelivre
tempo das das
crianças abastadas.
crianças A escola
abastadas. A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
tira tira
do mundo e doe tempo
do mundo de trabalho
do tempo crianças
de trabalho que,que,
crianças por por
sua sua
origem e e
origem
posição social,
posição deviam
social, trabalhar
deviam ao invés
trabalhar de estudar,
ao invés e oferece
de estudar, um um
e oferece
tempo diferente,
tempo outro
diferente, tempo,
outro um um
tempo, tempo livre.livre.
tempo

86 86
VI. AVI.ESCOLA
A ESCOLA
FILOSÓFICA
FILOSÓFICA
POPULAR
POPULAR
E A EMANCIPAÇÃO
E A EMANCIPAÇÃO

A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
tem tem
um um
caráter
caráter
emancipador
emancipador
que que
estudaremos
estudaremos em em
doisdois sentidos.
sentidos. Um Um é etimológico-filosófico
é etimológico-filosófico e outro,
e outro,
político-filosófico.
político-filosófico. Apresentaremos
Apresentaremos o primeiro
o primeiro a partir
a partir da etimologia
da etimologia da da
palavra
palavra emancipação,
emancipação, parapara
obterobter
deladela algumas
algumas implicações
implicações conceituais
conceituais
na escola
na escola popular.
popular. O segundo
O segundo se sustenta
se sustenta em uma
em uma definição
definição específica
específica
obtida
obtida de certa
de certa tradição
tradição filosófica,
filosófica, a partir
a partir da qual
da qual desdobraremos
desdobraremos
alguns
alguns sentidos
sentidos políticos
políticos parapara a emancipação
a emancipação escola
em uma
em uma escola
filosófica
filosófica
popular
popular . .
O termo emancipação
O termo surge
emancipação na língua
surge latina.
na língua De acordo
latina. comcom
De acordo o o
OLD,OLD, a palavra
a palavra significa,
significa, estritamente,
estritamente, "tirar"tirar
das das
mãosmãos ou poder
ou do do poder
do do
paterfamilias
paterfamilias
". Ou
". Ou
seja,seja,
trata-se
trata-se
da suspensão
da suspensão
do pátrio
do pátrio
poder
poder
(Lewis;
(Lewis;
Short, 1879).
Short, É um
1879). termo
É um jurídico
termo aplicado
jurídico quando
aplicado os menores
quando os menores
atingiam
atingiam a maioridade
a maioridade e como
e como castigo
castigo aos aos
pais pais
por por
umauma
açãoação contrária
contrária
ao direito.
ao direito.
13
O pátrio
O pátrio poder
poder é uma
é uma antiga
antiga instituição
instituição do direito
do direito quiritário
quiritário . 13.
Trata-se de um
Trata-se direito
de um absoluto,
direito que que
absoluto, tem tem
conotações políticas,
conotações jurídicas
políticas, jurídicas
e sociais. De acordo
e sociais. comcom
De acordo o direito romano,
o direito o pátrio
romano, poder
o pátrio é umé um
poder direito
direito
que que
beneficia todos
beneficia os cidadãos
todos homens
os cidadãos e pertence
homens ao paterfamilias
e pertence ao paterfamilias
sobre
sobre a suaa sua família
família em geral
em geral e, especialmente,
e, especialmente, seusseus filhos.
filhos.
A família
A família romana
romana é uma
é uma instituição
instituição patriarcal,
patriarcal, ou seja,
ou seja, nelanela
o o
poder
poder paterpater
é doé do , o , homem
o homem
sem sem
ascendentes
ascendentes
masculinos
masculinos
de um
de um
13 13
Trata-se
Trata-se
de umade antiga
uma antiga
expressão
expressão
do direito
do direito
romanoromano
que faz
quereferência
faz referência
aos quirites
aos quirites
(cidadãos
(cidadãos
romanos).
romanos). Ver Charlton
Ver Charlton T. Lewis
T. Lewis & Charles
& Charles Short,Short,
1879. 1879.
87 87
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

determinado
determinado
grupo
grupo
humano
humano
unido
unido
por por
laçoslaços
sanguíneos
sanguíneos
ou ou
convencionais. Somente
convencionais. o homem
Somente maismais
o homem veterano podepode
veterano exercer o poder
exercer o poder
jurídico civil civil
jurídico e oficiar cerimônias
e oficiar religiosas
cerimônias em sua
religiosas família.
em sua Desta
família. forma,
Desta forma,
de acordo comcom
de acordo o direito romano,
o direito o paterfamilias
romano, o paterfamilias
é a ésede
a sede
do governo
do governo
de todos os vínculos
de todos aos aos
os vínculos quaisquais
os membros de um
os membros grupo
de um familiar
grupo estãoestão
familiar
submetidos (Suárez
submetidos Blázquez,
(Suárez 2014).
Blázquez, Nesse
2014). sentido,
Nesse o pátrio
sentido, poder
o pátrio é é
poder
um um
meiomeio
jurídico de submissão
jurídico absoluta
de submissão dos dos
absoluta filhosfilhos
aos aos
pais.pais.
O jurista
O jurista
romano GaioGaio
romano observa que que
observa esta esta
instituição permite
instituição a submissão
permite material
a submissão material
e corporal de diversas
e corporal pessoas
de diversas ao direito
pessoas e governo
ao direito do pai
e governo do (Gaio, Inst.,Inst.,
pai (Gaio,
1,48).1,48).
Fernández Buján
Fernández (2011)
Buján observa
(2011) que que
observa se trata de um
se trata direito
de um de de
direito
caráter unitário
caráter e patrilineal.
unitário Transmite-se
e patrilineal. de homem
Transmite-se a homem
de homem em em
a homem
linhalinha
descendente, nascido
descendente, de um
nascido casamento
de um justojusto
casamento ou adotado.
ou adotado.
A maioria dos dos
A maioria juristas concorda
juristas no caráter
concorda polivalente
no caráter do pátrio
polivalente do pátrio
poder. Na história
poder. de Roma,
Na história ele cumpre
de Roma, diversas
ele cumpre funções.
diversas Em Em
funções. primeiro
primeiro
lugar, é umé um
lugar, direito pessoal,
direito de natureza
pessoal, privada
de natureza porque
privada é aplicado
porque de de
é aplicado
pais pais
parapara
filhosfilhos
no âmbito familiar
no âmbito e doe domus
familiar do domus
paterno.
paterno.
Também
Também
é deé de
natureza pública,
natureza umauma
pública, vez vez
que que
geragera
efeitos relativos
efeitos à aquisição
relativos da da
à aquisição
cidadania romana.
cidadania Ao Ao
romana. mesmo tempo,
mesmo é deé caráter
tempo, jurisdicional
de caráter e e
jurisdicional
coercivo porque
coercivo o paterfamilias
porque o paterfamilias
podepode
julgar
julgar
crimes
crimes
e ofensas
e ofensas
cometidos
cometidos
por por
seusseus
filhosfilhos
e aplicar as penas.
e aplicar Em Em
as penas. alguns casos,
alguns podepode
casos, até declarar a a
até declarar
penapena
de morte. Finalmente,
de morte. é umé um
Finalmente, direito pessoal
direito de caráter
pessoal religioso
de caráter e e
religioso
econômico. O paterfamilias
econômico. O paterfamilias
é o éencarregado
o encarregado
de oficiar
de oficiar
a cerimônia
a cerimônia
religiosa e é eproprietário
religiosa dos dos
é proprietário bensbens
de seu clã. clã.
de seu Segundo Dioniso
Segundo de de
Dioniso
Helicarnasso, dispõe
Helicarnasso, de forma
dispõe absoluta
de forma de seus
absoluta filhos,
de seus podepode
filhos, vendê-los
vendê-los
como escravos,
como dá-los
escravos, em adoção,
dá-los expulsá-los
em adoção, e atée matá-los
expulsá-los (Fernández
até matá-los (Fernández
Buján, 2012,2012,
Buján, p. 144).
p. 144).

88 88
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

O paterfamilias
O paterfamilias
exerce
exerce
o poder
o poder
no interior
no interior
da família,
da família,
assim
assim
comocomo
o imperador
o imperador o exerce
o exerce no interior
no interior de seus
de seus domínios.
domínios. Paulo,
Paulo, jurista
jurista
romano,
romano, faz faz referência
referência ao ao caráter
caráter político
político destadesta instituição
instituição e àse às
semelhanças
semelhanças entreentre o exercício
o exercício do do poder
poder na na família
família e nae na cidade
cidade
(Fernández
(Fernández Buján,
Buján, 2012,2012, p. 145).
p. 145). ComCom o decorrer
o decorrer do tempo,
do tempo, estesestes
direitos
direitos foram
foram desaparecendo.
desaparecendo. No começo,
No começo, era um
era um direito
direito unilateral
unilateral do do
pai sobre
pai sobre os filhos,
os filhos, umauma
vez vez
que que
o paio não
pai não
tinhatinha nenhum
nenhum tipo tipo de dever
de dever
parapara
comcom
eles.eles. No entanto,
No entanto, comcom o passar
o passar do tempo,
do tempo, o surgimento
o surgimento de de
novos
novos conceitos
conceitos filosóficos
filosóficos e a e consolidação
a consolidação
do do cristianismo
cristianismo como
como
religião
religião oficial
oficial do Império,
do Império, o pátrio
o pátrio poder
poder começou
começou a sera controlado
ser controlado
e e
limitado.
limitado. Suárez
Suárez Bálaquez
Bálaquez (2014,
(2014, p. 167)
p. 167) afirma
afirma que que durante
durante o baixo
o baixo
império
império romano
romano e ae Alta
a Alta
IdadeIdade Média,
Média, o pátrio
o pátrio poder
poder sofreu
sofreu
importantes
importantes modificações:
modificações: a) passou
a) passou a ser
a ser considerado
considerado um um poder
poder
jurídico
jurídico que que
deviadevia
ser ser exercido
exercido de acordo
de acordo comcom os deveres.
os deveres. Trajano
Trajano
impôs
impôs a emancipação
a emancipação a um
a um pai pai
que que
não não cumpriu
cumpriu seusseus deveres
deveres e e
maltratou
maltratou o filho
o filho (Suárez
(Suárez Bálaquez,
Bálaquez, 2014,2014, p. 171);
p. 171); b) ob)direito
o direito de matar
de matar
o filho
o filho é revogado
é revogado e passa
e passa a sera considerado
ser considerado filicídio
filicídio (Suárez
(Suárez Bálaquez,
Bálaquez,
2014,2014, p. 172)
p. 172) e c)e ac) chegada
a chegada
dos dos valores
valores cristãos
cristãos nos nos âmbitos
âmbitos
administrativos
administrativos e políticos
e políticos do império
do império produz
produz açõesações de controle,
de controle, limite
limite
e ajuste
e ajuste sobre
sobre o pátrio
o pátrio poder.
poder.
O paterfamilias
O paterfamilias
da Alta
da Alta
IdadeIdade
Média
Média
continua
continua
sendo
sendo
considerado
considerado
a cabeça
a cabeça de de
um um grupo
grupo unido
unido por por vínculos
vínculos e sentimentos
e sentimentos de de
consanguinidade.
consanguinidade. Assim
Assim como
como na antiguidade,
na antiguidade, é a éautoridade
a autoridade máxima
máxima
da família,
da família, embora
embora seusseus direitos
direitos estejam
estejam fortemente
fortemente limitados
limitados pelopelo
cristianismo,
cristianismo, que que invade
invade cadacada
vez vez
maismais esferas
esferas no no interior
interior dos dos
territórios
territórios daquilo
daquilo que que
era era o império
o império romano.
romano. Independentemente
Independentemente das das

89 89
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

variações
variações
produzidas
produzidas
no interior
no interior
do conceito
do conceito
de família,
de família,
esta esta
mantém
mantém
umauma
característica marcada
característica no poder
marcada do homem.
no poder Nela,Nela,
do homem. o homem é aé a
o homem
figura que que
figura encarna o poder
encarna social,
o poder econômico
social, e político
econômico de um
e político grupo
de um grupo
humano unido
humano por por
unido laçoslaços
de sangue e parentesco.
de sangue e parentesco.
O Concílio de Trento
O Concílio consolidou
de Trento umauma
consolidou figura de família
figura baseada
de família baseada
no poder do homem
no poder sobre
do homem a mulher
sobre e ose filhos.
a mulher De acordo
os filhos. comcom
De acordo o o
ideário cristão,
ideário o casamento
cristão, é considerado
o casamento um um
é considerado espelho do quadro
espelho do quadro
monárquico no qual
monárquico o poder
no qual é exercido
o poder de forma
é exercido vertical
de forma por por
vertical umauma
únicaúnica
pessoa, respeitando,
pessoa, valorizando
respeitando, e transmitindo
valorizando os preceitos
e transmitindo os preceitos
religiosos impostos
religiosos pelapela
impostos igreja católica.
igreja No No
católica. casocaso
das das
sociedades
sociedades
coloniais nas nas
coloniais quaisquais
nasce a escola
nasce a escola
filosófica
filosófica
popular,
popular,
o poder
o poder
do padre
do padre
se baseia
se baseia em uma
em uma sériesérie de complexas
de complexas relações.
relações. Assim
Assim comocomo na família
na família
antiga, a família
antiga, colonial
a família latino-americana
colonial supera
latino-americana os os
supera limites da da
limites
consanguinidade e inclui
consanguinidade laçoslaços
e inclui espirituais, rituais,
espirituais, políticos,
rituais, da da
políticos,
vizinhança, amizade,
vizinhança, apadrinhamento
amizade, e outras
apadrinhamento relações
e outras que que
relações implicam
implicam
deveres e obrigações
deveres recíprocas.
e obrigações recíprocas.
Salinas MezaMeza
Salinas (1998) é a éfavor
(1998) da hipótese
a favor da inexistência
da hipótese de um
da inexistência de um
conceito homogêneo
conceito e constante
homogêneo de família
e constante latino-americana
de família colonial.
latino-americana colonial.
Segundo a autora,
Segundo em todo
a autora, o território
em todo americano
o território é possível
americano diferenciar
é possível diferenciar
diversos tipostipos
diversos de famílias. Durante
de famílias. os séculos
Durante 18 e1819,e existem
os séculos famílias
19, existem famílias
urbanas, camponesas,
urbanas, populares
camponesas, ou principais,
populares pertencentes
ou principais, a grandes
pertencentes a grandes
fazendeiros
fazendeirosou oupequenos
pequenosproprietários.
proprietários.Todas
Todaselas elaspossuem
possuem
características específicas.
características No No
específicas. entanto, todastodas
entanto, elas elas
possuem umauma
possuem
estrutura patriarcal
estrutura e vertical.
patriarcal ComCom
e vertical. a chegada dos dos
a chegada bourbons ao poder,
bourbons ao poder,
a figura
a figura paterfamilias
do do paterfamilias
ganhou
ganhou
poder
poder
e preponderância
e preponderância
como
como
assegurador da ordem
assegurador social,
da ordem vistovisto
social, que que
ele decide, não não
ele decide, só sobre os bens
só sobre os bens

90 90
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

da família,
da família,
masmas
também
também
sobre
sobre
as ações
as ações
e políticas
e políticas
de seus
de seus
membros.
membros.
Sob Sob o seu
o seu poder
poder estãoestão a esposa,
a esposa, filhos,
filhos, parentes
parentes e pessoal
e pessoal de serviço.
de serviço.
Como
Como assegurador
assegurador do sustento
do sustento material,
material, da educação
da educação e dae honra
da honra
da da
família, o paterfamilias
família, o paterfamilias
se coloca
se coloca
nas nas
sociedades
sociedades
coloniais
coloniais
comocomo
figura
figura
exemplificadora
exemplificadora e custódia
e custódia da sociedade.
da sociedade. Nesse
Nesse contexto,
contexto, este este caráter
caráter
controlador
controlador e disciplinador
e disciplinador do líder
do líder da família
da família faz dele
faz dele um um elemento-
elemento-
chave
chave na negociação
na negociação entreentre a esfera
a esfera pública
pública do governo
do governo e a eesfera
a esfera
doméstica.
doméstica. ParaPara as autoridades
as autoridades o paterfamilias
espanholas,
espanholas, o paterfamilias
é oé o
encarregado, em virtude
encarregado, de suas
em virtude funções,
de suas da reprodução
funções, do status
da reprodução do status
quo quo
social
social e político
e político dos dos territórios
territórios ultramarinos.
ultramarinos.
Os filhos
Os filhos deviam
deviam obediência
obediência e respeito
e respeito ao pai,
ao pai, dentro
dentro e fora
e fora do do
lar. lar. As ações
As ações dos dos
filhosfilhos legítimos
legítimos erameram consideradas
consideradas em em nome
nome do pai.
do pai.
Ou seja,
Ou seja, como
como se fossem
se fossem feitasfeitas
pelopelo
próprio paterfamilias
próprio paterfamilias
. Desta
. Desta
forma,
forma,
as ações
as ações legais
legais e aseilegais
as ilegais recaíam
recaíam sobre
sobre a figura
a figura do pai.
do pai. Por Por exemplo,
exemplo,
a ofensa
a ofensa ou injúria
ou injúria realizada
realizada a um
a um filhofilho
era era considerada
considerada umauma injúria
injúria
direta
direta ao epaià família
ao pai e à família
comocomo
um um
todo.todo. Nestes
Nestes casos,
casos, os filhos
os filhos estavam
estavam
autorizados
autorizados a processar
a processar civil civil e penalmente
e penalmente em em
seu seu
nomenome
pelapela ofensa
ofensa
recebida.
recebida. Baseados
Baseados nesteneste conceito
conceito de poder
de poder patriarcal,
patriarcal, a pertença
a pertença e e
parentesco
parentesco são centrais
são centrais na vida
na vida política,
política, social
social e econômica
e econômica da colônia.
da colônia.
No mundo
No mundo escolar
escolar latino-americano,
latino-americano, o pátrio
o pátrio poder
poder era essencial
era essencial
parapara a entrada
a entrada e formatura
e formatura das das crianças
crianças nas nas instituições
instituições escolares.
escolares. A A
identidade
identidade era uma
era uma característica
característica indispensável
indispensável e fundadora
e fundadora das das escolas
escolas
latino-americanas
latino-americanas destadesta época.
época. Em Em
todotodo o continente
o continente americano,
americano, comocomo
mencionado,
mencionado, existia
existia umauma variedade
variedade de instituições
de instituições dedicadas
dedicadas à educação
à educação
e formação
e formação de de todos
todos os os súditos.
súditos. Tratava-se
Tratava-se de de
umauma educação
educação
diferenciada
diferenciada comcom relação
relação ao sistema
ao sistema de castas.
de castas. A partir
A partir do século
do século XVIII,XVIII,

91 91
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

era possível
era possível
diferenciar
diferenciar
as escolas
as escolas
destinadas
destinadas
a cada
a cada
setorsetor
da população:
da população:
escolas parapara
escolas as elites espanholas
as elites e criollas
espanholas e criollas
(Vera
(Vera
Peñaranda,
Peñaranda,
2009;
2009;
Escobari
Escobari de Querejazu,
de Querejazu, 2012),
2012), escolas
escolas parapara brancos
brancos pobres,
pobres, mulatos
mulatos eaea
nobreza dos dos
nobreza povos originários
povos (Escobari
originários de Querejazu,
(Escobari 2012),
de Querejazu, parapara
2012), o o
comum dos dos
comum povos originários,
povos meninas
originários, órfãsórfãs
meninas e órfãos em geral
e órfãos (García
em geral (García
Sánchez, 2005).
Sánchez, Até Até
2005). os negros, a casta
os negros, maismais
a casta baixa, podiam
baixa, ter acesso
podiam à à
ter acesso
educação por por
educação meiomeio
de uma pequena
de uma trapaça
pequena legallegal
trapaça porque, embora
porque, os os
embora
negros estivessem
negros proibidos
estivessem expressamente
proibidos de ler
expressamente de elerescrever sob sob
e escrever penapena
de morte, existia
de morte, um um
existia decreto real real
decreto que que
estabelecia que que
estabelecia todos os órfãos
todos e e
os órfãos
órfãsórfãs
erameram
considerados homens
considerados e mulheres
homens livres.
e mulheres Desta
livres. forma,
Desta forma,
muitas mulheres
muitas negras
mulheres abandonavam
negras seusseus
abandonavam filhosfilhos
recém-nascidos em em
recém-nascidos
abrigos parapara
abrigos que que
fossem livres.
fossem Assim,
livres. muitos
Assim, meninos
muitos negros
meninos erameram
negros
acolhidos nos nos
acolhidos orfanatos como
orfanatos homens
como livres.
homens livres.
Vamos nos nos
Vamos deterdeter
um um
pouco na análise
pouco destadesta
na análise instituição, umauma
instituição, vez vez
que que
foi foi
o meio comcom
o meio o qual os poderes
o qual centrais
os poderes administraram
centrais e e
administraram
geriram a educação
geriram da pobreza,
a educação na Europa
da pobreza, e nae América.
na Europa Como
na América. já já
Como
escrevemos, a partir
escrevemos, do do
a partir século XVIII,XVIII,
século a realidade educacional
a realidade do do
educacional
império espanhol
império experimenta
espanhol umauma
experimenta sériesérie
de de
mudanças, devido
mudanças, à à
devido
chegada ao trono
chegada de uma
ao trono novanova
de uma casacasa
monárquica de origem
monárquica francesa,
de origem os os
francesa,
bourbons que,que,
bourbons através de seus
através funcionários,
de seus realizam
funcionários, umauma
realizam sériesérie
de de
reformas destinadas
reformas à modernização
destinadas e desenvolvimento
à modernização do império.
e desenvolvimento do império.
EstasEstas
reformas conhecidas
reformas pelopelo
conhecidas nome da casa
nome reinante
da casa assumem
reinante a a
assumem
educação do povo
educação como
do povo um um
como meiomeio
parapara
atingir o objetivo
atingir proposto.
o objetivo A A
proposto.
partir das das
partir açõesações
dos dos
ministros ilustrados,
ministros a educação
ilustrados, adquire
a educação um um
adquire papelpapel
principal na tarefa
principal de modernização
na tarefa do império
de modernização espanhol.
do império ParaPara
espanhol. Sánchez
Sánchez
Blanco (2007),
Blanco é possível
(2007), falarfalar
é possível de de
umauma
autêntica reforma
autêntica e e
reforma

92 92
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

modernização
modernização
dos dos
estudos
estudos
na Espanha.
na Espanha.
A educação
A educação
é considerada
é considerada
pelapela
monarquia
monarquia umauma
das das
basesbases institucionais
institucionais da mudança
da mudança (Sánchez
(Sánchez Blanco,
Blanco,
2007,
2007, p. 237).
p. 237). A ideia
A ideia de um
de um império
império eficiente
eficiente e moderno
e moderno em todos
em todos os os
níveis,
níveis, supõe,
supõe, entreentre outros
outros pontos
pontos importantes
importantes parapara a coroa,
a coroa, umauma
maior
maior produtividade
produtividade e arrecadação
e arrecadação de impostos
de impostos parapara financiar
financiar novas
novas
empresas.
empresas. ParaPara
isso,isso,
são são necessários
necessários trabalhadores
trabalhadores úteisúteis e ilustrados
e ilustrados
que que aumentarão
aumentarão o volume
o volume de trabalho,
de trabalho, comcom o qual
o qual seráserá nutrida
nutrida a renda
a renda
do reino.
do reino. O Marquês
O Marquês de Ensenada,
de Ensenada, em suas
em suas Representações,
Representações, expõe
expõe esta esta
questão
questão comcom clareza
clareza ao Rei
ao Rei Fernando
Fernando VI. VI.
Ali, Ali, afirma,
afirma, é impossível
é impossível
promover
promover a felicidade
a felicidade entreentre os súditos
os súditos do reino,
do reino, nemnem
umauma maior
maior
arrecadação
arrecadação do fundo
do fundo público,
público, se não
se não atendem
atendem a uma
a uma racionalização
racionalização
dos dos recursos,
recursos, à eliminação
à eliminação da ociosidade
da ociosidade e à epromoção
à promoção do trabalho
do trabalho
(Ozanam,
(Ozanam, 1980,1980, p. 67-124).
p. 67-124). O projeto
O projeto de Ensenada
de Ensenada supõe
supõe fortalecer
fortalecer a a
economia
economia e potencializar
e potencializar o exército
o exército e a marinha.
e a marinha. ParaPara
isso,isso, é necessária
é necessária
a formação,
a formação, não não apenas
apenas de de grupos
grupos de de
elite,elite,
masmas também
também de de
trabalhadores
trabalhadores e soldados
e soldados que que possam
possam executar
executar a tarefa
a tarefa (Varela;
(Varela; Uría,Uría,
1999,1999,
p. 95p. -95 - 96).
96).
No No
casocaso da América
da América Latina,
Latina, não não poucos
poucos intelectuais
intelectuais refletem
refletem
essasessas ideias
ideias da metrópole.
da metrópole. O primeiro
O primeiro textotexto de Simón
de Simón Rodríguez
Rodríguez em em
17941794 (1999)
(1999) é um
é um exemplo
exemplo disso.
disso. Nesse
Nesse texto,
texto, existe
existe umauma
sériesérie
de de
referências
referências ao papel
ao papel da educação
da educação no desenvolvimento
no desenvolvimento dos dos indivíduos
indivíduos e e
da sociedade
da sociedade comocomo
um um
todo.todo. Manuel
Manuel Cuero
Cuero escreve
escreve em em
17871787 sobre
sobre a a
necessidade
necessidade de escolas
de escolas públicas
públicas e gratuitas
e gratuitas parapara as diversas
as diversas castas
castas
(García
(García Sánchez,
Sánchez, 2005,
2005, p. 222).
p. 222). Francisco
Francisco Caldas
Caldas propõe
propõe a criação
a criação de de
novas
novas escolas
escolas em 1768
em 1768 comcom o desejo
o desejo de melhorar
de melhorar a educação
a educação básica
básica dos dos
meninos
meninos do do império
império (García
(García Sánchez,
Sánchez, 2005,
2005, p. 231).
p. 231). Moreno
Moreno e e

93 93
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

Escandón,
Escandón,
em em
1774,1774,
e Cabello
e Cabello
e Góngora,
e Góngora,
em em
1784,1784,
propõem
propõem
novos
novos
currículos parapara
currículos as escolas básicas
as escolas da colônia
básicas (García
da colônia Sánchez,
(García 2005,
Sánchez, p. p.
2005,
232).232).
A partir do século
A partir XVIII,XVIII,
do século as elites ilustradas
as elites começam
ilustradas a sea se
começam
interessar pelapela
interessar educação do do
educação povo.povo.
EsseEsse
interesse focafoca
interesse em em
levarlevar
a a
educação à maior
educação quantidade
à maior possível
quantidade de pessoas.
possível de pessoas.
O caso maismais
O caso paradigmático de todos
paradigmático é dos
de todos orfanatos.
é dos EstasEstas
orfanatos.
instituições, originalmente
instituições, criadas
originalmente como
criadas espaços
como de de
espaços caridade,
caridade,
transformam-se a partir
transformam-se do século
a partir XVIIIXVIII
do século em eminstituições de formação
instituições de formação
dos dos
setores maismais
setores baixos da sociedade.
baixos No caso
da sociedade. particular
No caso do território
particular do território
americano, PilarPilar
americano, Gonzalbo Aizpurú
Gonzalbo (1992),
Aizpurú Mancera
(1992), Carrero
Mancera (2012)
Carrero e e
(2012)
Escobari de Querejazu
Escobari (2012)
de Querejazu descrevem
(2012) as atividades
descrevem e medidas
as atividades e medidas
destinadas à formação
destinadas e o ecuidado
à formação da infância
o cuidado enjeitada
da infância nos nos
enjeitada orfanatos.
orfanatos.
ParaPara
eles,eles,
estasestas
instituições são são
instituições criadas no território
criadas americano
no território como
americano como
reflexo das das
reflexo instituições peninsulares.
instituições peninsulares.
As diversas constituições
As diversas dos dos
constituições vários orfanatos
vários evidenciam
orfanatos o fim
evidenciam o fim
educacional da instituição,
educacional assim
da instituição, como
assim os meios
como através
os meios dos dos
através quaisquais
se se
pretende alcançar
pretende a formação
alcançar dos dos
a formação meninos. Os orfanatos
meninos. na América
Os orfanatos na América
são são
considerados espaços
considerados de controle,
espaços gestão
de controle, e educação
gestão dos dos
e educação setores
setores
maismais
pobres da cidade.
pobres As constituições
da cidade. do orfanato
As constituições da Cidade
do orfanato do do
da Cidade
México expõem
México explicitamente
expõem a necessidade
explicitamente de formação
a necessidade espiritual
de formação e e
espiritual
material dos dos
material meninos (Gonzalbo
meninos Aizpurú,
(Gonzalbo 1992,1992,
Aizpurú, p. 424). Acontece
p. 424). o o
Acontece
mesmo comcom
mesmo os orfanatos da cidade
os orfanatos de Buenos
da cidade AiresAires
de Buenos (Moreno, 2000),
(Moreno, 2000),
de de
Mérida (Castillo
Mérida Canché,
(Castillo 2016)2016)
Canché, e de Chuquisaca
e de (Escobari
Chuquisaca (Escobari
Querejazu, 2012).
Querejazu, Em Em
2012). todos estesestes
todos casos, faz-se
casos, referência
faz-se ao caráter
referência ao caráter
educador destas
educador instituições.
destas ParaPara
instituições. levarlevar
adiante a sua
adiante tarefa
a sua de de
tarefa
formação, as constituições
formação, descrevem
as constituições o mesmo
descrevem conjunto
o mesmo de práticas
conjunto de práticas

94 94
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

dos dos
orfanatos
orfanatos
europeus.
europeus.
Ou Ou
seja,seja,
confinamento,
confinamento,
classificação,
classificação,
supervisão
supervisão e controle
e controle do tempo
do tempo e espaço;
e espaço; as atividades
as atividades dos dos internados
internados
são são consideradas
consideradas os meios
os meios ideais
ideais parapara a formação
a formação material
material e espiritual
e espiritual
das das crianças
crianças abandonadas
abandonadas no continente
no continente americano.
americano.
A supervisão
A supervisão dos dos meninos
meninos é uma
é uma condição
condição necessária
necessária de sua
de sua
formação
formação e cuidado.
e cuidado. Assim
Assim como
como na Europa,
na Europa, as casas
as casas de enjeitados
de enjeitados
americanas
americanas têm têm
um um pessoal
pessoal dedicado
dedicado especificamente
especificamente ao cuidado,
ao cuidado,
supervisão
supervisão e controle
e controle das das crianças.
crianças. Em Em
cadacada
umauma delas,
delas, o pessoal
o pessoal
inteiro
inteiro cumpre
cumpre tarefas
tarefas de controle
de controle e cuidado
e cuidado dos dos internados.
internados. Desde
Desde o o
diretor
diretor do orfanato
do orfanato até oatéempregado
o empregado de menor
de menor hierarquia,
hierarquia, eles eles
têm têm
em em
suassuas funções
funções cuidar
cuidar da ordem
da ordem e a edisciplina
a disciplina dentro
dentro da instituição.
da instituição.
Nesse
Nesse sentido,
sentido, Mancera
Mancera Carrero
Carrero afirma
afirma que que no Orfanato
no Orfanato de Santa
de Santa Fé deFé de
Bogotá,
Bogotá, o pessoal
o pessoal inteiro
inteiro considera
considera em em
suassuas responsabilidades
responsabilidades diárias
diárias
"manter
"manter a ordem
a ordem e a e disciplina
a disciplina verificando
verificando que que os internados
os internados ou ou
refugiados...
refugiados... estivessem
estivessem bembem vestidos,
vestidos, limpos,
limpos, saudáveis
saudáveis e com
e com atitude
atitude
parapara trabalhar"
trabalhar" (Mancera
(Mancera Carrero,
Carrero, 2012,2012, p. 229).
p. 229). San San Alberto,
Alberto, bispobispo
de de
Tucumán,
Tucumán, menciona
menciona a responsabilidade
a responsabilidade das das professoras
professoras e doe pessoal
do pessoal
da da
instituição
instituição na na manutenção
manutenção da da ordem:
ordem: os os professores
professores são são
os os
responsáveis
responsáveis de educar,
de educar, cuidar,
cuidar, supervisionar
supervisionar e, see,necessário,
se necessário, castigar
castigar
as alunas
as alunas sob sob
sua sua responsabilidade
responsabilidade (Corbella,
(Corbella, 2008,
2008, p. 35).
p. 35). Castillo
Castillo
Canché
Canché (2008)
(2008) afirma
afirma que que
no no
casocaso
do do Orfanato
Orfanato de de Mérida,
Mérida, a a
supervisão,
supervisão, controle
controle e castigo
e castigo dos dos internados
internados são são cuidadosamente
cuidadosamente
observados
observados pelopelo pessoal
pessoal inteiro.
inteiro. De acordo
De acordo comcom os seus
os seus regulamentos,
regulamentos,
todastodas as atividades
as atividades diurnas
diurnas são são controladas
controladas pelopelo pessoal
pessoal da instituição,
da instituição,
durante
durante o diao dia
está está expressamente
expressamente proibido
proibido se comunicar
se comunicar comcom outro
outro
internado.
internado. Zeladores
Zeladores e professores
e professores são são os responsáveis
os responsáveis de controlar
de controlar o o

95 95
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

cumprimento
cumprimento
destadesta
regraregra
no refeitório
no refeitório
e durante
e durante
as tarefas
as tarefas
diurnas.
diurnas.
(Castillo Canché,
(Castillo 2008).
Canché, 2008).
ComCom
relação ao ao
relação controle do do
controle tempo e ase as
tempo atividades dos dos
atividades
internados, Mancera
internados, Carrero
Mancera (2012)
Carrero afirma
(2012) que que
afirma no orfanato de Bogotá
no orfanato de Bogotá
o tempo está está
o tempo minuciosamente administrado
minuciosamente de acordo
administrado comcom
de acordo as tarefas
as tarefas
determinadas. Desde
determinadas. as primeiras
Desde horas
as primeiras do dia
horas até até
do dia a retirada, as as
a retirada,
autoridades da instituição
autoridades controlam
da instituição as atividades
controlam previstas
as atividades parapara
previstas os os
internados. De seis
internados. a sete
De seis anos,anos,
a sete observa Mancera
observa Carrero,
Mancera os meninos
Carrero, os meninos
recebem lições
recebem de moral,
lições religião,
de moral, primeiras
religião, letras
primeiras e dee um
letras ofício
de um que que
ofício
demonstrem serem
demonstrem capazes
serem de desempenhar.
capazes Geralmente,
de desempenhar. estesestes
Geralmente, variam
variam
entreentre
sapataria e tricotar
sapataria (2012,
e tricotar p. 229).
(2012, EstasEstas
p. 229). orientações pedagógicas
orientações pedagógicas
na casa de enjeitados
na casa e noe Orfanato
de enjeitados RealReal
no Orfanato continuam vigentes
continuam até até
vigentes
meados do do
meados século XIX. XIX.
século Os Os
internados de de
internados Lima,Lima,
assim como
assim os os
como
internados dos dos
internados outros orfanatos,
outros passam
orfanatos, o tempo
passam comcom
o tempo atividades
atividades
pensadas e controladas
pensadas pelaspelas
e controladas autoridades. Chuhue
autoridades. Huaman
Chuhue (2004)
Huaman (2004)
afirma que,que,
afirma a partir da segunda
a partir metade
da segunda do século
metade XVIII,XVIII,
do século propõe-se que que
propõe-se
os internados aprendam
os internados ofícios
aprendam que que
ofícios lhes lhes
permitam se sustentar
permitam e e
se sustentar
formar como
formar trabalhadores
como úteisúteis
trabalhadores parapara
eles eles
mesmos e a sociedade.
mesmos e a sociedade.
Em Em
1765,1765,
no vice-reinado de Manuel
no vice-reinado de Amat,
de Manuel por por
de Amat, decreto de 20
decreto de 20
14
de junho, estabelece-se
de junho, o planejamento
estabelece-se de um
o planejamento seminário
de um de "tocuyos
seminário de "tocuyose 14 e
tecidos ásperos
tecidos de lãdepara
ásperos que que
lã para os pobres se exercitassem
os pobres em em
se exercitassem tarefas
tarefas
adequadas" (Chuhue
adequadas" Huaman,
(Chuhue 2004,
Huaman, p. 156).
2004, Por Por
p. 156). outro lado,lado,
outro comcom
a a
compra da imprensa
compra em em
da imprensa 17481748
e o efavor RealReal
o favor que que
atribui à casa
atribui de de
à casa
enjeitados de Lima
enjeitados o lucro
de Lima pelapela
o lucro impressão de folhetos
impressão oficiais,
de folhetos os os
oficiais,
internados encontram
internados umauma
encontram forma de integração
forma social
de integração por por
social meiomeio
do do

14 14
N. T. N.
Tecido
T. Tecido
de algodão.
de algodão.
96 96
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

trabalho
trabalho
(Chuhue
(Chuhue
Huaman,
Huaman,
2004,
2004,
p. 158).
p. 158).
AlémAlém
destas
destas
atividades,
atividades,
durante
durante a última
a última década
década do século
do século 18, por
18, por iniciativa
iniciativa de Juan
de Juan José José
Cavero,
Cavero, inicia-se
inicia-se o ensino
o ensino das das primeiras
primeiras letras
letras (Chuhue
(Chuhue Huaman,
Huaman, 2004,
2004,
p. 162).
p. 162). De acordo
De acordo comcom Medina
Medina (1965,
(1965, p. 57),
p. 57), todastodas
estasestas atividades
atividades são são
planejadas,
planejadas, principalmente,
principalmente, parapara manter
manter a ordem
a ordem através
através de uma
de uma
atividade
atividade que que permitisse
permitisse ocupar
ocupar os internados
os internados em em
umauma atividade
atividade
proveitosa.
proveitosa. Nesse
Nesse sentido,
sentido, Castillo
Castillo Canché
Canché (2008)
(2008) afirma
afirma que que
no no
orfanato
orfanato de Mérida,
de Mérida, a distribuição
a distribuição do do tempo
tempo e ase atividades
as atividades
dos dos
internados
internados têm têm como
como finalidade
finalidade a formação
a formação e controle
e controle dos dos órfãos.
órfãos. As As
atividades
atividades dos dos internados
internados estãoestão distribuídas
distribuídas ao longo
ao longo do de
do dia dia acordo
de acordo
comcom
um um critério
critério religioso.
religioso. Os Os regulamentos
regulamentos organizam
organizam o dia,
o dia, assim
assim
como
como nos nos conventos
conventos religiosos.
religiosos.
A secularização
A secularização dos dos orfanatos
orfanatos espanhóis
espanhóis do século
do século XVIIIXVIII
é umé um
passo
passo decisivo
decisivo na institucionalização
na institucionalização da educação
da educação dos dos setores
setores maismais
baixos
baixos da da sociedade.
sociedade. O O incentivo
incentivo da da coroa
coroa à criação
à criação e oe o
desenvolvimento
desenvolvimento destas
destas instituições
instituições é uma
é uma indicação
indicação claraclara da decisão
da decisão
estatal
estatal de intervir,
de intervir, não não só problema
só no no problema da pobreza,
da pobreza, masmas também
também em em
sua sua educação.
educação. De De
fato,fato,
comocomo já mencionamos,
já mencionamos, parapara os ilustrados
os ilustrados
espanhóis,
espanhóis, a superação
a superação da pobreza
da pobreza é emé grande
em grande
parteparte
um um problema
problema de de
educação.
educação. A este
A este respeito,
respeito, todos
todos os autores
os autores da época
da época coincidem
coincidem em em
afirmar
afirmar que que a prosperidade
a prosperidade e felicidade
e felicidade do povo
do povo são são possíveis
possíveis por por
meiomeio
de uma
de uma transformação
transformação cultural
cultural e pedagógica
e pedagógica que que infunda
infunda nos nos
maismais
necessitados
necessitados o amor
o amor pelopelo trabalho.
trabalho. Nesse
Nesse sentido,
sentido, os orfanatos
os orfanatos são são
instituições
instituições educacionais,
educacionais, promovidas
promovidas pelopelo estado
estado bourbônico
bourbônico parapara
educar
educar e gerir
e gerir a pobreza
a pobreza a partir
a partir de de valores
valores como
como trabalho,
trabalho,
prosperidade,
prosperidade, felicidade
felicidade e fidelidade.
e fidelidade.

97 97
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

É possível
É possível
afirmar
afirmar
que que
na na
colônia
colônia
existem
existem
instituições
instituições
educacionais voltadas
educacionais a todos
voltadas os setores
a todos da população.
os setores EsteEste
da população. panorama
panorama
é estruturado, principalmente,
é estruturado, na exigência
principalmente, identitária
na exigência das das
identitária pessoas. Ou Ou
pessoas.
seja,seja,
entrar na escola
entrar dependia
na escola do setor
dependia da sociedade
do setor e dae família
da sociedade aos aos
da família
quaisquais
se pertencia. De acordo
se pertencia. comcom
De acordo o nome do pai,
o nome e a posição
do pai, que que
e a posição este este
ocupava na sociedade,
ocupava era era
na sociedade, o lugar do menino
o lugar na estrutura
do menino escolar.
na estrutura escolar.
CadaCada
menino era era
menino considerado umauma
considerado extensão do do
extensão poder do do
poder pai pai
e, e,
dependendo da proeminência
dependendo ou não
da proeminência dessedesse
ou não nome, era recebido
nome, em uma
era recebido em uma
ou outra instituição.
ou outra instituição.
A família e o epoder
A família do pai
o poder do não só tinham
pai não influência
só tinham parapara
influência entrar
entrar
nas nas
escolas,
escolas,
masmas
também
também
em em
sua sua
permanência
permanência
e formatura.
e formatura.
Sobre
Sobre
a a
ingerência
ingerência
e poder
e poder
dos dos
pais pais
no interior
no interior
das das
escolas,
escolas,
Simón
Simón
Rodríguez
Rodríguez
escreve
escreve
em em
seu seu
primeiro
primeiro
textotexto
conhecido, Reflexões
conhecido, Reflexões
sobresobre
os defeitos
os defeitos
que que
corrompem
corrompem
a Escola
a Escola
de Primeiras
de Primeiras
Letras
Letras
de Caracas
de Caracas
e meios
e meios
de de
alcançar
alcançar
sua sua
reforma
reforma
por por
umauma
novanova
instituição
instituição
: "Como
: "Como
isso isso
de fazer
de fazer
qualquer
qualquer
um um
professor
professor
de crianças
de crianças
tem tem
sidosido
livrelivre
escolha
escolha
de cada
de cada
pai pai
de família
de família
parapara
seusseus
filhos,
filhos,
não não
tem tem
sidosido
menos
menos
livrelivre
a ação
a ação
que que
se tem
se tem
reservado
reservado
parapara
dispor
dispor
a seua seu
arbítrio
arbítrio
comocomo
fundadores
fundadores
[...]"[...]"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 44).
p. 44).
E também
E também
afirma
afirma
que,que,
diante
diante
da menor
da menor
discrepância
discrepância
comcom
o professor,
o professor,
os pais
os pais
retiravam
retiravam
o menino
o menino
da escola
da escola
e o enviavam
e o enviavam
a outra
a outra
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016).
2016).
Então,
Então,
o professor
o professor
é uma
é uma
espécie
espécie
de brinquedo
de brinquedo
dos dos
meninos
meninos
e seus
e seus
pais,pais,
que que
se submete
se submete
à vontade
à vontade
destes
destes
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 44).
p. 44).
Como
Como já vimos,
já vimos, o significado
o significado literal
literal de emancipação
de emancipação é sair
é sair do do
poder do paterfamilias
poder do paterfamilias
. É a. Éliberação
a liberação
de um
de um
poder
poder
absoluto,
absoluto,
opressivo,
opressivo,
tirânico e cruel
tirânico exercido
e cruel por por
exercido umauma
pessoa sobre
pessoa outras,
sobre dentro
outras, de um
dentro de um

98 98
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

grupo
grupo
humano
humano
denominado
denominado
família.
família.
Nesse
Nesse
contexto,
contexto,
interessa-nos
interessa-nos
mostrar
mostrar até até
que que ponto
ponto a escola
a escola é emancipadora.
é emancipadora. De De acordo
acordo comcom
Masschelein
Masschelein e Simons
e Simons (2013),
(2013), a escola
a escola (com(com relação
relação ao tempo
ao tempo livre)livre)
produz
produz umauma interrupção
interrupção da ordem
da ordem social.
social. Na escola,
Na escola, a família
a família fica fica
do do
ladolado de fora:
de fora: os meninos
os meninos são são recebidos
recebidos comocomo alunos
alunos e não
e não comocomo "filhos
"filhos
de" de"
por por
um um
curtocurto período
período de tempo
de tempo parapara poder
poder ser ser
outraoutra
coisacoisa
(Masschelein;
(Masschelein; Simons,
Simons, 2013).
2013). No mundo
No mundo escolar,
escolar, a família
a família e o eambiente
o ambiente
social
social são são deixados
deixados parapara
trás trás
parapara ser um
ser um aluno
aluno como
como qualquer
qualquer outro.
outro.
O pátrio
O pátrio poder
poder não não
tem tem efeitos
efeitos nesteneste espaço.
espaço. A escola
A escola é umé um espaço
espaço no no
qualqual as crianças
as crianças têm têm a possibilidade
a possibilidade de sedeemancipar,
se emancipar, embora
embora seja seja
por por
um um breve,
breve, brevíssimo
brevíssimo espaço
espaço de tempo,
de tempo, do pátrio
do pátrio poder,
poder, do poder
do poder do do
pai. pai.
A escola
A escola popular
popular de Simón
de Simón Rodríguez
Rodríguez é emancipadora
é emancipadora nessenesse
sentido.
sentido. Nela,Nela, a ordem
a ordem social
social e familiar
e familiar é suspensa.
é suspensa. EstaEsta suspensão
suspensão é é
implícita
implícita e explícita.
e explícita. Em Em primeiro
primeiro lugar,
lugar, anula-se
anula-se implicitamente
implicitamente a a
exigência
exigência identitária,
identitária, que que as outras
as outras escolas
escolas da época
da época exigiam
exigiam parapara poder
poder
entrar.
entrar. A escola
A escola de Órfãos
de Órfãos e Garotos
e Garotos de Carpintaria
de Carpintaria de Chuquisaca
de Chuquisaca
recebe
recebe as crianças
as crianças sem sem importar
importar a sua
a sua família,
família, sexosexo e posição
e posição na na
estrutura
estrutura social.
social. Ali, Ali,
todostodos e todas
e todas são são estudantes.
estudantes. ComoComo vimos,
vimos, este este
gestogesto
foi foi criticado
criticado duramente
duramente pelapela oligarquia
oligarquia da cidade,
da cidade, vistovisto
que que
atentava
atentava contra
contra os valores
os valores e tradições
e tradições da sociedade.
da sociedade. EntreEntre
eles,eles, o pátrio
o pátrio
do paterfamilias
poder
poder do paterfamilias
. .
Por Por outro
outro lado,lado, Rodríguez
Rodríguez afirma,
afirma, explicitamente,
explicitamente, a necessidade
a necessidade
dos dos
pais pais
não não intervirem
intervirem na educação
na educação dos dos
filhosfilhos
e see limitarem
se limitarem
ao ao
respeito
respeito e obediência
e obediência dos dos professores.
professores. Em Em outras
outras palavras,
palavras, na escola
na escola
quem
quem manda
manda é o professor.
é o professor. O poder
O poder do chega
do pai pai chega
até aatéporta
a porta da escola
da escola

99 99
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

e não
e não
entra.
entra.
ParaPara
Rodríguez,
Rodríguez,
a instituição
a instituição
escolar
escolar
é a instância
é a instância
na qual
na qual
são são
corrigidas
corrigidas
as falhas
as falhas
dos dos
pais pais
em em
matéria
matéria
de educação
de educação
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 44-45).
p. 44-45).
O poder
O poder
do professor
do professor
é muito
é muito
grande
grande
comcom
relação
relação
aos aos
pais pais
e, aoe,receber um um
ao receber discípulo, o professor
discípulo, devedeve
o professor se reunir comcom
se reunir o paio epai e
informar
informar
o método
o método
e governo
e governo
da instituição
da instituição
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016).
2016).
EntreEntre
os os
motivos
motivos pelospelos
quaisquais
um um aluno
aluno podepode
ser ser expulso
expulso da instituição
da instituição está está
o o
fato fato
dos dos
pais pais
quererem
quererem
intervir
intervir
na educação
na educação
dos dos
filhosfilhos
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.I, p.
T.I,220).
p. 220).
A escola
A escola de Chuquisaca
de Chuquisaca é emancipadora
é emancipadora não não só porque
só porque ali oali o
paterfamilias
paterfamilias
não não
tem tem
autoridade.
autoridade.
ParaPara
Rodríguez,
Rodríguez,
o trabalho
o trabalho
e seus
e seus
produtos
produtos
desempenham
desempenham
um um
papelpapel
essencial
essencial
na criação
na criação
de seres
de seres
livreslivres
e e
soberanos
soberanos
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.II, T.II,
p.20,p.20,
p.35,p.35,
p. 126;
p. 126;
Rodríguez,
Rodríguez,
2016,2016,
p. p.
57, 57,
p. 228,
p. 228,
232)232)
porque
porque
podem
podem
contribuir
contribuir
na ruptura
na ruptura
da ordem
da ordem
colonial
colonial
pré-existente,
pré-existente,
tirando
tirando
do do
serviço
serviço
pessoal
pessoal
todos
todos
aqueles
aqueles
esquecidos
esquecidos
pelapela
república
república
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.II, T.II,
p. 331;
p. 331;
Rodríguez,
Rodríguez,
2016,2016,
p. 58-59,
p. 58-59,
p. 67-68).
p. 67-68).
ParaPara
mostrar
mostrar
esseesse
aspecto
aspecto
da escola
da escola
de Rodríguez,
de Rodríguez,
apoiamo-nos
apoiamo-nos
Manuscritos
nos nos Manuscritos
econômico-filosóficos
econômico-filosóficos
de 1844
de 1844
(Marx,
(Marx,
2004),
2004),
um um
textotexto
da juventude
da juventude
de Marx
de Marx
que que
descreve
descreve
comcom
clareza
clareza
umauma
situação
situação
na qual
na qual
o produto
o produto
do trabalho
do trabalho
é arrebatado
é arrebatado
do produtor
do produtor
por por
aqueles
aqueles
que que
usufruem
usufruem
de uma
de uma
posição
posição
vantajosa.
vantajosa.
A descrição
A descrição
da situação
da situação
capitalista
capitalista
de de
exploração
exploração
conserva,
conserva,
atualmente,
atualmente,
todatoda
a sua
a sua
potência:
potência:
a a
emancipação
emancipação
tem tem
relação
relação
comcom
a saída
a saída
dessadessa
situação
situação
injusta
injusta
e e
degradante
degradante
de exploração.
de exploração.
A propriedade
A propriedade
privada
privada
é percebida,
é percebida,
por por
Marx,
Marx,
como
como
um um
elemento-chave
elemento-chave
no processo
no processo
de dominação
de dominação
do homem:
do homem:
"A propriedade
"A propriedade

100 100
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

privada
privada
é, portanto,
é, portanto,
o produto,
o produto,
o resultado,
o resultado,
a consequência
a consequência
necessária
necessária
do trabalho
do trabalho
exteriorizado,
exteriorizado,
da relação
da relação
externa
externa
do trabalhador
do trabalhador
comcom
a a
natureza
natureza
e consigo
e consigo
mesmo."
mesmo."
(Marx,
(Marx,
2004,
2004,
p. 87).
p. 87).
A propriedade
A propriedade
privada
privada é o éresultado
o resultado
e, aoe, mesmo
ao mesmo tempo,
tempo, o meio
o meio através
através do qual
do qual o o
trabalho
trabalho se aliena.
se aliena. É a Épeça-chave
a peça-chave na alienação
na alienação (e a (eeventual
a eventual liberação)
liberação)
do trabalho
do trabalho e doe ser
do humano.
ser humano. Afirma
Afirma que que a emancipação
a emancipação da sociedade
da sociedade
comcom relação
relação à suaà sua condição
condição servilservil e submissa
e submissa se expressa
se expressa por por
meiomeio
da da
emancipação
emancipação dos dos trabalhadores
trabalhadores da da propriedade
propriedade privada
privada e dee de
sua sua
associação
associação
comcom
o trabalho
o trabalho
alienado
alienado
(Marx,
(Marx,
2004,
2004,
p. 89).
p. 89).
Nesse
Nesse sentido
sentido preciso,
preciso, a escola
a escola de Chuquisaca
de Chuquisaca é emancipadora
é emancipadora
vistovisto
que:que: a) propõe
a) propõe a ruptura
a ruptura dessadessa ordem
ordem injusta
injusta e degradante
e degradante
representada
representada pelopelo capitalismo;
capitalismo; e b)e nega
b) nega a propriedade
a propriedade privada
privada e e
afirma
afirma um um
tipo tipo de propriedade
de propriedade diferente.
diferente.
Em Em diversas
diversas ocasiões,
ocasiões, Simón
Simón Rodríguez
Rodríguez faz referência
faz referência explícita
explícita à à
ordem
ordem degradante
degradante do sistema
do sistema econômico
econômico da época
da época e dee suas
de suas relações
relações
sociais:
sociais: tal sistema
tal sistema só traz
só traz individualismo,
individualismo, concorrência
concorrência desmedida,
desmedida,
miséria
miséria e exploração.
e exploração. Em Em nome
nome de um
de um suposto
suposto progresso,
progresso, homens
homens e e
mulheres
mulheres são são submetidos
submetidos e humilhados.
e humilhados. Diante
Diante da admiração
da admiração que que
muitos
muitos sul-americanos
sul-americanos têm têm
por por
esseesse sistema
sistema econômico
econômico desenvolvido
desenvolvido
na Europa
na Europa e Estados
e Estados Unidos
Unidos da América,
da América, Rodríguez
Rodríguez escreve:
escreve:
quanto
quanto
ao conjunto
ao conjuntode procedimentos
de procedimentos que que
favorece
favorece
a a
produção
produção
de coisas,
de coisas,
está está
muitomuito
perfeita
perfeita
na Europa
na Europa
– não– não
está está
tantotanto
a quea rege
que rege
a conduta
a conduta
dos empresários
dos empresárioscom com
seus seus
operários.
operários.
Fora Fora
do direito
do direito
de vender
de vender
gente,gente,
de açoitá-la
de açoitá-la
e de e de
lhe lhe
reduzir
reduzir
o salário
o salário
a um a umpedaço
pedaçode ração
de ração
de mal
de mal
alimento...
alimento...
a sorte
a sorte
de um
de jornaleiro
um jornaleiro
diferedifere
muitomuito
pouco pouco
da da
de umde escravo.
um escravo.
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p.81).p.81).
Luzes
Em Em Luzes
e virtudes
e virtudes
sociais
sociais
, acrescenta
, acrescenta
que que
este este
sistema
sistema
injusto
injusto
e e
degradante
degradante
"[...]"[...]
chamam
chamam
prosperidade
prosperidade
umauma
opulência,
opulência,
fundada
fundada
no no

101 101
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

empobrecimento
empobrecimento
das das
classes
classes
que que
são são
oprimidas
oprimidas
[...]"[...]"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 90).
p. 90).
Por Por
trás trás
da falsa
da falsa
ideiaideia
de progresso,
de progresso,
prosperidade
prosperidade
e abundância,
e abundância,
esconde-se
esconde-se
a exploração,
a exploração,
a injustiça
a injustiça
e a edependência
a dependência
de milhões
de milhões
de de
seresseres
humanos
humanos
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 178).
p. 178).
Considera
Considera
que que
as novas
as novas
repúblicas
repúblicas
independentes
independentes
do do
poder
poder
espanhol
espanhol
não não
devem
devem
adotar
adotar
o o
sistema
sistema
econômico
econômico
hegemônico,
hegemônico,
masmas
se afastar
se afastar
do capitalismo
do capitalismo
parapara
formar
formar
repúblicas
repúblicas
livres,
livres,
justas
justas
e soberanas.
e soberanas.
Nesse
Nesse
sentido, em Extrato
sentido, em Extrato
sucinto
sucinto
da minha
da minha
obraobra
Sobre
Sobre
a Educação
a Educação
Republicana
Republicana
escreve:
escreve:
Se osSeamericanos
os americanos querem
querem
que que
a revolução
a revolução
política,
política,
que que
o o
peso peso
das das
coisascoisas
fez efezque
e que
as circunstâncias
as circunstâncias
protegeram,
protegeram,
traga-lhes
traga-lhes
verdadeiros
verdadeiros bens,bens,
façamfaçam
uma uma revolução
revolução
econômica
econômica
[...] Vençam
[...] Vençam
a repugnância
a repugnânciaem se
emassociar
se associar
para para
empreender
empreendere o etemor
o temor
de sede aconselhar
se aconselhar
para para
proceder.
proceder.
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 206-207)
p. 206-207)
A revolução
A revolução
econômica
econômica
apoiada
apoiada
por por
Rodríguez
Rodríguez
parapara
a América
a América
baseia-se em uma
baseia-se ideiaideia
em uma particular de trabalho,
particular fundamentada
de trabalho, em uma
fundamentada em uma
propriedade diferente
propriedade da propriedade
diferente privada.
da propriedade Como
privada. Marx,
Como Rodríguez
Marx, Rodríguez
observa que que
observa a propriedade privada
a propriedade é umé um
privada elemento-chave na instituição
elemento-chave na instituição
destadesta
ordem
ordem
injusta
injusta
e degradante.
e degradante. Luzes
Em Em Luzes
e virtudes
e virtudes
sociais
sociais
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016)
2016)
escreve
escreve
explicitamente
explicitamente
contra
contra
a propriedade
a propriedade
privada.
privada.
Rodríguez
Rodríguez
afirma
afirma
que que
aqueles
aqueles
que que
exigem
exigem
o direito
o direito
à propriedade
à propriedade
fazem
fazem
isso:isso:
para para
converter
convertera usurpação
a usurpação
em posse
em posse
(natural
(natural
ou civil)
ou civil)
–a –a
posseposse
em propriedade
em propriedade e, dee,qualquer
de qualquer
modo,modo,
APROVEITAR
APROVEITAR
com com
prejuízo
prejuízo
de terceiros
de terceiros
(quem(quem
querquer
que que
seja seja
o terceiro)
o terceiro)
por por
meiomeiode legitimidade
de legitimidade(e legitimidade
(e legitimidade
é um é um
abusoabuso
tolerado) [...]. (Rodríguez,
tolerado) [...]. (Rodríguez,
2016,2016,
p. 85).
p. 85).
Imediatamente
Imediatamente
depois,
depois,
afirma
afirma
que que
"As "As
coisas,
coisas,
no estado
no estado
social,
social,
não não
são são
propriedade
propriedade
de um,
de um,
masmas
sim sim
por por
consentimento
consentimento
de todos
de todos
[...]"[...]"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 87).
p. 87). Sociedades
Em Em Sociedades
americanas
americanas
escreve
escreve
que que
até "o
até "o
homem
homem menos
menos instruído
instruído em assuntos
em assuntos civiscivis
sabesabe
que que
não não
tem tem direito
direito de de

102 102
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

usurpar
usurpar
um um
lugarlugar
que que
outro
outro
precisa
precisa
e que
e que
ele ele
não não
podepode
ocupar"(Rodríguez,
ocupar"(Rodríguez,
T.I, 1999,
T.I, 1999,
p. 388).
p. 388).
Rodríguez
Rodríguez
propõe
propõe
umauma
espécie
espécie
de propriedade
de propriedade
coletivo-social
coletivo-social
como
como
basebase
de uma
de uma
república
república
independente
independente
e soberana.
e soberana.
EstaEsta
forma
forma
de de
propriedade
propriedade
se sustenta
se sustenta
em em
umauma
noção
noção
específica
específica
do trabalho:
do trabalho:
um um
processo
processo
no qual
no qual
duasduas
ou mais
ou mais
pessoas
pessoas
se relacionam.
se relacionam.
Não Não
se trata
se trata
de de
algoalgo
abstrato,
abstrato,
independente
independente
de cada
de cada
indivíduo,
indivíduo,
masmas
de um
de um
processo
processo
intersubjetivo
intersubjetivo
no qual
no qual
cadacada
homem
homem
se constitui
se constitui
a partir
a partir
do vínculo
do vínculo
que que
estabelece
estabelece
comcom
os outros.
os outros.
É dentro
É dentro
destas
destas
relações
relações
que que
cadacada
um um
dos dos
termos
termos
adquire
adquire
sentido
sentido
e forma.
e forma.
Trata-se
Trata-se
de um
de um
processo
processo
de abertura
de abertura
e e
contato
contato
comcom
outros,
outros,
no qual
no qual
as identidades
as identidades
são são
construídas
construídas
de forma
de forma
aberta
aberta
e descentralizada.
e descentralizada.
Rodríguez
Rodríguez
se baseia
se baseia
no no
trabalho,
trabalho,
entendido
entendido
como
como
processo
processo
relacional
relacional
intersubjetivo,
intersubjetivo,
como
como
um um
dos dos
elementos-chave
elementos-chave
parapara
o o
desenvolvimento
desenvolvimento
de homens
de homens
e mulheres
e mulheres
livreslivres
e independentes
e independentes
nas nas
novas
novas
repúblicas
repúblicas
americanas
americanas
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.I; T.I;
T.II).T.II).
Considera
Considera
que que
o trabalho
o trabalho devedeve ser livre,
ser livre, social
social e capaz
e capaz de desdobrar
de desdobrar as potencialidades
as potencialidades
dos dos
seresseres humanos.
humanos. Em Em
seu seu projeto
projeto de educação,
de educação, o trabalho
o trabalho manual
manual e e
intelectual
intelectual ocupam
ocupam um um
papelpapel fundamental
fundamental na na formação
formação de de
umauma
sociedade
sociedade republicana:
republicana: só pode
só pode ser ser
umauma ferramenta
ferramenta de formação
de formação de de
cidadãos
cidadãos livreslivres e soberanos
e soberanos desde
desde que que
seja seja
livre,livre, social
social e de
e de
colaboração.
colaboração.
Rodríguez
Rodríguez considera
considera o trabalho
o trabalho livrelivre
por por
doisdois motivos.
motivos. O O
primeiroestá estárelacionado
primeiro relacionadocomcomo otrabalho
trabalhoescravo.
escravo.Afirma
Afirma
explicitamente
explicitamente
que que
"não"não
há convenção
há convenção
que que
dê um
dê um
homem
homem
a outro
a outro
homem
homem
em em
propriedade
propriedade
– nem
– nem
conveniência
conveniência
que que
o faça
o faça
donodono
da da

103 103
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

indústria
indústria
alheia"
alheia"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p.87).
p.87).
Devido
Devido
às às
estruturas
estruturas
tradicionais da sociedade
tradicionais colonial,
da sociedade a grande
colonial, maioria
a grande da população
maioria da da
da população
cidade de Chuquisaca
cidade subsistia
de Chuquisaca comcom
subsistia atividades ligadas
atividades à servidão.
ligadas No No
à servidão.
século XVIII,XVIII,
século a miscigenação nos nos
a miscigenação territórios americanos
territórios é umé um
americanos fenômeno
fenômeno
generalizado. A mistura
generalizado. racialracial
A mistura geragera
um um
quadro variado
quadro que que
variado recebe o o
recebe
nome
nome
de castas.
de castas.
EssesEsses
grupos,
grupos,
observa
observa
O’ Phelan
O’ Phelan
(2005),
(2005),
são são
incluídos
incluídos
em um conjunto
em um maior,
conjunto juntojunto
maior, comcom
os setores maismais
os setores baixos da sociedade,
baixos da sociedade,
comcom de plebe
o nome
o nome de plebe
. Casta
. Casta
e plebe
e plebe
são são
considerados
considerados
pelospelos
brancos
brancos
como
como "perturbadores
"perturbadores da ordem
da ordem pública,
pública, propensos
propensos à preguiça,
à preguiça, furto,
furto,
violência
violência
(e) (e)
à insubordinação"(O’
à insubordinação"(O’
Phelan,
Phelan,
2005,
2005,
p. p.
125).125).
As As
autoridades, juntojunto
autoridades, comcom
os setores abastados,
os setores compartilham
abastados, umauma
compartilham
atitude de desprezo
atitude e temor
de desprezo parapara
e temor comcom
essesesses
grupos. EsseEsse
grupos. sentimento
sentimento
surge pelopelo
surge papelpapel
destacado que que
destacado muitos dos dos
muitos integrantes da plebe
integrantes da plebe
desempenham nas nas
desempenham rebeliões que que
rebeliões aconteceram no no
aconteceram século XVIIIXVIII
século nas nas
colônias da Espanha
colônias na América.
da Espanha na América.
A combinação de desprezo
A combinação e temor
de desprezo manifestada
e temor pelapela
manifestada eliteelite
parapara
comcom
as castas evidencia-se
as castas no no
evidencia-se tratamento diferente,
tratamento degradante
diferente, e e
degradante
humilhante que que
humilhante estasestas
recebem. Na região
recebem. de Caracas,
Na região o trabalho
de Caracas, dos dos
o trabalho
negros e pardos
negros está está
e pardos voltado às tarefas
voltado agrícolas
às tarefas nas nas
agrícolas áreasáreas
rurais e e
rurais
domésticas
domésticas
na cidade.
na cidade.
Zambrano
Zambrano
(2008)
(2008)
afirma
afirma
que que
durante
durante
o século
o século
XVIII,XVIII,
existe umauma
existe especialização de ofícios
especialização entreentre
de ofícios os negros e pardos.
os negros Os Os
e pardos.
homens desempenhavam
homens tarefas
desempenhavam como
tarefas cozinheiros,
como ferreiros,
cozinheiros, peões,
ferreiros, peões,
pedreiros, carregadores
pedreiros, de cacau,
carregadores cocheiros
de cacau, e alfaiates.
cocheiros Enquanto
e alfaiates. que que
Enquanto
parapara
as mulheres os ofícios
as mulheres maismais
os ofícios comuns erameram
comuns lavadeiras, cozinheiras,
lavadeiras, cozinheiras,
amasamas
de leite
de leite
e babás
e babás
(Zambrano,
(Zambrano,
2008,
2008,
p. 7).
p. 7).
Embora
Embora
existam
existam
decretos, como
decretos, o deo 31dede31 maio
como de 1784,
de maio que que
de 1784, recomendam cuidar
recomendam da da
cuidar

104 104
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

população
população
escrava,
escrava,
estesestes
são são
ignorados.
ignorados.
Em Em
umauma
sociedade
sociedade
organizada
organizada
hierarquicamente,
hierarquicamente, na qual
na qual predomina
predomina o interesse
o interesse mercantilista
mercantilista do lucro
do lucro
econômico
econômico e a eascensão
a ascensão no poder,
no poder, a solidariedade
a solidariedade e o e tratamento
o tratamento
humano
humano são são alheios
alheios parapara
um um
setorsetor considerado
considerado inferior.
inferior. ParaPara
os os
brancos,
brancos, os negros
os negros escravos
escravos são são mercadorias,
mercadorias, simples
simples instrumentos
instrumentos de de
trabalho.
trabalho. Durante
Durante a colônia,
a colônia, os setores
os setores subalternos
subalternos da sociedade
da sociedade têm têm
um um vínculo
vínculo de servidão
de servidão comcom os grupos
os grupos oligárquicos.
oligárquicos. EstaEsta situação
situação
muda
muda muito
muito levemente
levemente durante
durante os primeiros
os primeiros anosanos da república.
da república. Os Os
antigos
antigos integrantes
integrantes das das castas
castas inferiores
inferiores continuam
continuam sendo
sendo tratados
tratados
como
como "coisas"
"coisas" pelospelos novos
novos "amos",
"amos", que que sãoantigos
são os os antigos "servos".
"servos".
Simón
Simón Rodríguez
Rodríguez se propõe
se propõe acabar
acabar comcom
esta esta situação
situação por por
meiomeio
de um
de um projeto
projeto educacional,
educacional, no qual
no qual o trabalho
o trabalho é uma
é uma ferramenta
ferramenta
fundamental
fundamental parapara a liberação
a liberação das das massas
massas populares.
populares. As As crianças
crianças
recebem
recebem
instrução
instrução
no trabalho
no trabalho
parapara
evitar
evitar
que que
vivam
vivam
seusseus
"primeiros
"primeiros
anosanos
aprendendo
aprendendo
a servir,
a servir,
parapara
merecerem
merecerem
a preferência
a preferência
de de
ser ser
vendidos
vendidos
aos aos
que que
buscam
buscam
criados
criados
fiéis fiéis
ou ou
esposas
esposas
inocentes"
inocentes"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 56).
p. 56).
A aplicação do projeto
A aplicação de educação
do projeto popular
de educação em em
popular Chuquisaca
Chuquisaca
transformaria
transformaria radicalmente
radicalmente a situação
a situação política
política e social
e social dos dos menos
menos
favorecidos.
favorecidos. Nesse
Nesse sentido,
sentido, afirma:
afirma:
Da gente
Da gente
novanova
não senãotiraria
se tiraria
pongospongos
para para
as cozinhas
as cozinhas
nem nem
cholascholas
para para
levarem
levarem
o tapete
o tapete
atrásatrás
das Senhoras
das Senhoras
– ao –entrar
ao entrar
nas nas
cidades
cidades
não não
se deixariam
se deixariam agarrar
agarrar
pelo pelo
pescoço
pescoço
(pela(pela
falta falta
de camisa)
de camisa)
para para
ir pela
ir pela
ordemordem
dos assistentes
dos assistentes
limparlimpar
as cavalarias
as cavalarias
dos dos
oficiais,
oficiais,
nem nemvarrervarrer
praças,
praças,
nem nem
marcarmarcar
cachorros,
cachorros,
aindaainda
que que
fossemfossem
artesãos
artesãos
– os–cavalheiros
os cavalheiros
das das
cidades
cidades
não não
encarregariam
encarregariamindiozinhos
indiozinhos
aos padres
aos padres
e comoe como
não veriam
não veriam
os tropeiros
os tropeiros
não osnãovenderiam
os venderiam
no caminho
no caminho
[...] [...]
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 67).
p. 67).

105 105
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

O segundo
O segundo
motivo
motivo
comcom
respeito
respeito
à liberdade
à liberdade
do trabalho
do trabalho
tem tem
relação comcom
relação o anterior, já que
o anterior, não não
já que está está
associado exclusivamente
associado à à
exclusivamente
subsistência. ParaPara
subsistência. Rodríguez, nas nas
Rodríguez, sociedades capitalistas,
sociedades o homem
capitalistas, o homem
trabalha por por
trabalha um um
salário que,que,
salário muito raramente,
muito é suficiente
raramente, parapara
é suficiente a suaa sua
subsistência. PeloPelo
subsistência. contrário, o trabalho
contrário, em si
o trabalho emsesiconstitui precisamente
se constitui precisamente
quando está está
quando livrelivre
dessadessa
necessidade. Ou Ou
necessidade. seja,seja,
estamos diante
estamos de um
diante de um
trabalho livrelivre
trabalho quando este este
quando está está
liberado de toda
liberado relação
de toda de dependência
relação de dependência
e quando se libera
e quando das das
se libera necessidades físicas
necessidades associadas
físicas à subsistência
associadas de de
à subsistência
quem trabalha,
quem quando
trabalha, a pessoa
quando não não
a pessoa trabalha exclusivamente
trabalha parapara
exclusivamente
sobreviver.
sobreviver.
O caráter social
O caráter e deecolaboração
social do trabalho,
de colaboração no pensamento
do trabalho, de de
no pensamento
Rodríguez, podepode
Rodríguez, se observar em em
se observar doisdois
pontos. O primeiro
pontos. se refere
O primeiro à à
se refere
relação entreentre
relação a ação dos dos
a ação homens e mulheres
homens e a esociedade
e mulheres da qual
a sociedade da qual
fazem parte:
fazem o objetivo
parte: de formar
o objetivo trabalhadores
de formar e trabalhadoras
trabalhadores na na
e trabalhadoras
escola se sustenta
escola em princípios
se sustenta sociais
em princípios que que
sociais promovem o bem
promovem comum
o bem comum
e não
e não
a concorrência.
a concorrência. O Libertador
Em Em O Libertador
do Meio-Dia
do Meio-Dia
da América
da América
e seus
e seus
companheiros
companheiros
de armas,
de armas,
defendidos
defendidos
por por
um um
amigo
amigo
da causa
da causa
socialsocial
afirma
afirma
que:que:
"A intenção
"A intenção
não não
era era
(como
(como
se pensou)
se pensou)
encher
encher
o país
o país
de de
artesãos
artesãos
rivaisrivais
ou miseráveis,
ou miseráveis,
masmas
instruir,
instruir,
e acostumar
e acostumar
ao trabalho,
ao trabalho,
parapara
fazerfazer
homens
homens
úteisúteis
[...]"[...]"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 58).
p. 58).
ParaPara
Rodríguez,
Rodríguez,
o trabalho
o trabalho
e a economia
e a economia
comocomo
um um
todotodo
devem
devem
ser regidos
ser regidos
pelapela
ideiaideia
de de
sociabilidade
sociabilidade
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 234).
p. 234).
EstaEsta
ideiaideia
é definida
é definida
por por
Rodríguez
Rodríguez
como
como
a necessidade
a necessidade
de todos
de todos
e cada
e cada
um um
de sedesentir
se sentir
parteparte
integral
integral
de uma
de uma
comunidade,
comunidade,
na qual
na qual
os homens
os homens
e mulheres
e mulheres
se ajudem
se ajudem
mutuamente.
mutuamente. Conselhos
Em Em Conselhos
de amigo,
de amigo,
dados
dados
ao Colégio
ao Colégio
de Latacunga
de Latacunga
define
define
esta esta
ideiaideia
da seguinte
da seguinte
forma:
forma:
"[...]"[...]
pensarpensar
cadacada
um um
em em
todos,
todos,

106 106
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

parapara
que que
todos
todos
pensem
pensem
nele"nele"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 139).
p. 139).
Por Por
isso,isso,
a a
internalização
internalização
destadesta
premissa
premissa
é a ébase
a base
fundamental
fundamental
parapara
construir
construir
um um
povopovo
sociável,
sociável,
um um
povopovo
que que
"enxerga
"enxerga
sua sua
pátria
pátria
ondeonde
se encontra
se encontra
e e
compatriotas
compatriotas
nos nos
que que
o rodeiam"
o rodeiam"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 236).
p. 236).
EstaEsta forma
forma de conceber
de conceber o trabalho
o trabalho está está associada
associada a uma
a uma forma
forma
particular
particular de propriedade.
de propriedade. ParaPara Rodríguez,
Rodríguez, o trabalho
o trabalho e o eproduto
o produto
do do
trabalho
trabalho são são
parteparte integral
integral daquele
daquele ou daquela
ou daquela que que o realiza,
o realiza, e não
e não de de
outraoutra pessoa.
pessoa. Ou Ou
seja,seja, o trabalhador
o trabalhador ou trabalhadora
ou trabalhadora é dono
é dono daquilo
daquilo
que que produz
produz comcom
a suaa sua atividade.
atividade. Sobre
Sobre esta esta questão,
questão, é interessante
é interessante ver ver
de que
de que forma
forma propõe
propõe a criação
a criação dos dos estabelecimentos
estabelecimentos de trabalho
de trabalho ao ao
longo
longo
de sua
de sua
obra.obra. Conselhos
Em Em Conselhos
de amigo,
de amigo,
dados
dados
ao Colégio
ao Colégio
de de
Latacunga
Latacunga
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016)2016)
e em O Libertador
e em O Libertador
do do
Meio-Dia
Meio-Dia
da da
América
América
e seus
e seus
companheiros
companheiros
de armas,
de armas,
defendidos
defendidos
por por
um um
amigo
amigo
da da
causacausa
socialsocial
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016)2016)
projeta
projeta
a criação
a criação
de oficinas
de oficinas
e fábricas
e fábricas
sem sem
a figura de um
a figura donodono
de um dos dos
meios de produção.
meios No melhor
de produção. dos dos
No melhor casos,
casos,
existe
existe um um sócio,
sócio, representado
representado sempre
sempre pelapela figura
figura do do Estado,
Estado, que que
proporciona
proporciona o capital
o capital inicial
inicial parapara colocar
colocar em funcionamento
em funcionamento as oficinas
as oficinas
e, por
e, por isso,isso, recebe
recebe jurosjuros muito
muito baixos
baixos até receber
até receber o dinheiro
o dinheiro adiantado
adiantado
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016).
2016).
Rodríguez
Rodríguez
propõe
propõe
umauma
propriedade
propriedade
coletiva,
coletiva,
dividida
dividida equitativamente
equitativamente entreentre aqueles
aqueles que que intervêm
intervêm no processo
no processo de de
produção.
produção. Trata-se
Trata-se de uma
de uma produção
produção comunitária
comunitária controlada
controlada de acordo
de acordo
comcom
seusseus interesses.
interesses.
No No
casocaso do trabalho
do trabalho intelectual,
intelectual, radicaliza
radicaliza aindaainda
maismais a sua
a sua
posição.
posição. ParaPara Rodríguez,
Rodríguez, o saber
o saber não não é uma
é uma mercadoria
mercadoria nemnem
um um
capital;
capital; portanto,
portanto, não não é uma
é uma propriedade:
propriedade: não não pertence
pertence a alguém
a alguém em em
especial.
especial. Aliás,Aliás,
não não pertence
pertence a ninguém.
a ninguém. Em Em função
função disso,
disso, afirma
afirma que que

107 107
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

ninguém
ninguém
tem tem
o direito
o direito
de se
de vangloriar
se vangloriar
de sua
de sua
posse,
posse,
nemnem
muito
muito
menos de humilhar
menos aqueles
de humilhar que que
aqueles supostamente não não
supostamente o tem. Em Em
o tem. diversos
diversos
fragmentos de seus
fragmentos textos,
de seus faz referência
textos, a esta
faz referência situação.
a esta Conselhos
Em Em
situação. Conselhos
de de
amigo, dados
amigo, ao ao
dados Colégio de de
Colégio Latacunga
Latacunga
escreve
escreve
sobre
sobre
o o
comportamento que que
comportamento devem ter os
devem ter alunos em em
os alunos umauma
escola republicana:
escola republicana:
"nem"nem
se acreditando
se acreditando
merecedores
merecedores
de Prêmios,
de Prêmios,
pelapela
sua sua
dedicação,
dedicação,
porque
porque
se lhes
se lhes
terá terá
feitofeito
entender
entender
que,que,
comocomo
não não
se lhes
se lhes
PAGAPAGA
por por
ter ter
comido
comido
bem,bem,
também
também
não não
se lhes
se lhes
pagará
pagará
por por
terem
terem
aprendido
aprendido
o que
o que
devem
devem
saber"
saber"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 217).
p. 217).
Por Por
sua sua em Sociedades
vez, vez, em Sociedades
americanas
americanas
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016)2016)
critica
critica
duramente todos
duramente aqueles
todos que,que,
aqueles por por
umauma
posição abastada,
posição ostentam
abastada, ostentam
sabersaber
e see distinguem diante
se distinguem de um
diante povopovo
de um que que
os sustenta comcom
os sustenta seu seu
trabalho.
trabalho.
E escreve:
E escreve:
“[...]“[...]
o número
o número
é… considerável!
é… considerável!
e... muito
e... muito
maior!
maior!
que que
o que
o que
pensam
pensam
os que
os que
andam,
andam,
de salão
de salão
em salão,
em salão,
ostentando
ostentando
Luzes
Luzes
e Riquezas,
e Riquezas,
e falando,
e falando,
comcom
o mais
o mais
alto alto
desprezo,
desprezo,
dos dos
que que
lhes lhes
enchem
enchem
a bolsa
a bolsa
ou os
oumantêm
os mantêm
como
como
Estudantes
Estudantes
[...]”[...]”
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 136).
p. 136).
ParaPara
Rodríguez, aqueles
Rodríguez, que que
aqueles afirmam que que
afirmam o saber é uma
o saber é uma
propriedade pelapela
propriedade qualqual
têm têm
o direito legítimo
o direito de ter
legítimo de uma vidavida
ter uma melhor
melhor
em em
comparação comcom
comparação aqueles que que
aqueles não não
o têm, sustentam-se
o têm, em em
sustentam-se umauma
premissa egoísta
premissa e individualista
egoísta que que
e individualista atenta contra
atenta o bem-estar
contra o bem-estar
comum.
comum.
Trata-se
Trata-se
de um
de um
sabersaber
que que
só serve
só serve
parapara
"[...]"[...]
o aumento
o aumento
da da
comodidade
comodidade
das das
classes
classes
já acomodadas"
já acomodadas"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 185).
p. 185).
Assim como
Assim comcom
como o trabalho manual,
o trabalho propõe
manual, um um
propõe sabersaber
social,
social,
coletivo, de todas(os)
coletivo, e para
de todas(os) todas(os).
e para Trata-se
todas(os). de um
Trata-se sabersaber
de um que que
serveserve
parapara
a comunicação e ajuda
a comunicação mútua
e ajuda dos dos
mútua homens e mulheres
homens reunidos
e mulheres reunidos
em uma sociedade
em uma fraterna,
sociedade justajusta
fraterna, e independente. Em Em
e independente. outras palavras,
outras palavras,

108 108
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

o saber
o saber
produzido
produzido
dentro
dentro
daquilo
daquilo
que que
ele entende
ele entende
por por
escola
escola
popular
popular
é é
um um
sabersaber
que que pertence
pertence a todas(os)
a todas(os) e a e ninguém.
a ninguém. Nesse
Nesse sentido,
sentido,
poderíamos
poderíamos dizerdizer
que que o saber
o saber não não é propriedade
é propriedade de ninguém
de ninguém em em
especial.
especial.
Por Por
isso,isso, podemos
podemos dizerdizer a escola
que que a escola
filosófica
filosófica
popular
popular
comocomo
pensada por por
pensada Rodríguez é emancipadora
Rodríguez de de
é emancipadora umauma
ordem injusta,
ordem injusta,
exploradora
exploradora e humilhante,
e humilhante, porque
porque afirma
afirma outraoutra forma
forma de posse
de posse do do
trabalho manual
trabalho e intelectual.
manual Ela nega
e intelectual. e combate
Ela nega o elemento-chave
e combate da da
o elemento-chave
exploração. Assim
exploração. como
Assim MarxMarx
como Manuscritos
nos nos Manuscritos
, Rodríguez
, Rodríguez
acredita
acredita
que que
a emancipação
a emancipação dos dos
seresseres humanos
humanos está está relacionada
relacionada comcom a aquisição
a aquisição de de
conhecimentos
conhecimentos e práticas
e práticas que que permitam
permitam modificar
modificar as relações
as relações sociais
sociais
da produção
da produção
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 85-88,
p. 85-88,
p. 57-68).
p. 57-68).
Em Em
seu seu
último
último
Extracto
textotexto Extracto
sobresobre
la obra
la obra
Educación
Educación
Republicana
Republicana
afirma
afirma
que:que:
"a "a
divisão
divisão
de trabalhos,
de trabalhos,
na execução
na execução
das das
obras,
obras,
embrutece
embrutece
os operários;
os operários;
e e
se por ter tesouras
se por superfinas
ter tesouras e baratas,
superfinas devemos
e baratas, reduzir
devemos ao estado
reduzir de de
ao estado
máquinas
máquinas àqueles
àqueles que que as fazem,
as fazem, seriaseria melhor
melhor cortar
cortar as unhas
as unhas comcom
os os
dentes
dentes
[...]"[...]"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.I, T.I,
p. 237).
p. 237).
ParaPara
Rodríguez,
Rodríguez,
as novas
as novas
repúblicas não não
repúblicas devem promover
devem este este
promover tipo tipo
de propriedade e, para
de propriedade isso,isso,
e, para
oferece
oferece um um projeto
projeto educacional
educacional alternativo
alternativo no no
qual,qual,
comocomo
já já
escrevemos,
escrevemos, a propriedade
a propriedade privada
privada não não tenha
tenha espaço
espaço algum.
algum.
Se aSeemancipação
a emancipação
dos dos homens
homens e mulheres
e mulheres está está relacionada
relacionada comcom
a a
sua sua
saídasaída do estado
do estado injusto
injusto e degradante
e degradante no qual
no qual se encontram,
se encontram, torna-
torna-
se necessário
se necessário combater
combater e negar
e negar a propriedade
a propriedade privada
privada comocomo elemento-
elemento-
chave
chave dessedesse estado.
estado. Em Em outras
outras palavras,
palavras, a saída
a saída do estado
do estado de opressão
de opressão
é possível
é possível comcom a eliminação
a eliminação da propriedade
da propriedade privada,
privada, comcom relação
relação ao ao
trabalho
trabalho material
material e imaterial.
e imaterial.

109 109
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

O saber
O saber
da escola
da escola
popular
popular
é muito
é muito
diferente
diferente
ao promovido
ao promovido
hojehoje
em dia
em em
dia nossas escolas
em nossas e nae educação
escolas em geral.
na educação Sobre
em geral. esta esta
Sobre questão
questão
específica, SilvaSilva
específica, e Fernández Vaz Vaz
e Fernández (2016) afirmam
(2016) que,que,
afirmam em em
nosso
nosso
contexto ocidental
contexto e contemporâneo,
ocidental as pessoas
e contemporâneo, são são
as pessoas permanentemente
permanentemente
instadas a conhecer
instadas as demandas
a conhecer competitivas
as demandas do mundo
competitivas do trabalho
do mundo e e
do trabalho
a necessidade de investir
a necessidade constantemente
de investir em em
constantemente si mesmas parapara
si mesmas se se
manterem atualizadas
manterem nessenesse
atualizadas mundo. EstasEstas
mundo. demandas/imposições
demandas/imposições
transformam as pessoas
transformam em "pequenas
as pessoas empresárias
em "pequenas de sidemesmas",
empresárias cujacuja
si mesmas",
propriedade e capital
propriedade principal
e capital é o cérebro
principal (Silva;
é o cérebro Fernández
(Silva; Vaz,Vaz,
Fernández 2016,2016,
p. 211). EsteEste
p. 211). órgão, que que
órgão, até até
não não
maismais
de cem anosanos
de cem atrásatrás
era era
um um
mistério, transformou-se
mistério, no objeto
transformou-se de estudos
no objeto e análises
de estudos de múltiplos
e análises de múltiplos
especialistas (cientistas,
especialistas médicos,
(cientistas, educadores,
médicos, economistas,
educadores, sociólogos,
economistas, sociólogos,
etc.).etc.).
Os Osnovos saberes
novos sobre
saberes o cérebro
sobre colocam-no
o cérebro em em
colocam-no um um
lugarlugar
privilegiado comcom
privilegiado relação à individualidade
relação e subjetividade
à individualidade das das
e subjetividade pessoas.
pessoas.
O cérebro é tão
O cérebro valorizado
é tão hojehoje
valorizado em em
dia dia
que,que,
de acordo comcom
de acordo José José
e e
Alexandre, tornou-se
Alexandre, "[...]"[...]
tornou-se a parte do corpo
a parte ondeonde
do corpo está está
localizado aquilo
localizado aquilo
que que
nos nos
define como
define pessoas"
como (Silva;
pessoas" Fernández
(Silva; Vaz,Vaz,
Fernández 2016,2016,
p. 215). Ou Ou
p. 215).
seja,seja,
nosso cérebro
nosso é o éguardião
cérebro daquilo
o guardião que que
daquilo somos. O estudo
somos. disso,
O estudo disso,
que que
nos nos
diz diz
o que somos
o que e que
somos tipo tipo
e que específico de entidade
específico somos,
de entidade somos,
tornou-se extremamente
tornou-se atraente.
extremamente atraente.
Desta forma,
Desta o vínculo
forma, e a eassociação
o vínculo das das
a associação neurociências e ae a
neurociências
neuroeducação reforçam
neuroeducação as formas
reforçam de controle
as formas e administração
de controle da vida
e administração da vida
escolar, vistovisto
escolar, que que
os novos saberes
os novos podem
saberes ser ser
podem usados parapara
usados tornar as as
tornar
pessoas maismais
pessoas eficientes, úteisúteis
eficientes, e adaptadas. O cérebro
e adaptadas. é um
O cérebro recurso
é um recurso
social fundamental.
social Atualmente
fundamental. em em
Atualmente muitos países,
muitos fala-se
países, de capital
fala-se de capital

110 110
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

mental
mental
e a maximização
e a maximização
dessedesse
capital
capital
se torna
se torna
um um
objetivo
objetivo
essencial
essencial
de de
muitas
muitas políticas
políticas de Estado
de Estado (Silva;
(Silva; Fernández
Fernández Vaz,Vaz,
2016,2016, p. 224).
p. 224).
O avanço
O avanço do discurso
do discurso biologicista
biologicista no âmbito
no âmbito das das humanas
humanas em em
geral,geral,
e dae da educação
educação especialmente,
especialmente, contribuiu
contribuiu comcom a crescente
a crescente
mercantilização
mercantilização da vida
da vida social.
social. O cérebro
O cérebro é umé um
casocaso paradigmático
paradigmático nos nos
últimosanos,anos,porque
últimos porqueé apontado
é apontadocomo
comoo receptáculo
o receptáculode de
comportamentos,
comportamentos, doenças,
doenças, emoções
emoções e saberes.
e saberes. Poderíamos
Poderíamos dizerdizer
que que
representa
representa nossa
nossa propriedade
propriedade maismais prezada
prezada e a chave
e a chave de nosso
de nosso possível
possível
sucesso
sucesso ou fracasso
ou fracasso econômico,
econômico, social
social e individual.
e individual. MasMas
não não só isso,
só isso, a a
propriedade
propriedade do cérebro,
do cérebro, juntojunto
comcom os saberes,
os saberes, imagens,
imagens, informações
informações e e
emoções
emoções armazenadas
armazenadas ali, leva-nos
ali, leva-nos a pensar
a pensar na possibilidade
na possibilidade de novas
de novas e e
maismais potentes
potentes formas
formas de propriedade
de propriedade privada
privada diferentes
diferentes daquelas
daquelas que que
conhecemos.
conhecemos.
ComCom relação
relação a esta
a esta questão,
questão, MarxMarx realiza
realiza um um estudo,
estudo, nos nos
Manuscritos
Manuscritos
econômico-filosóficos
econômico-filosóficos
de 1844,
de 1844,
sobre
sobre
o processo
o processo
histórico
histórico
de ascensão
de ascensão da propriedade
da propriedade móvel
móvel comcom relação
relação à propriedade
à propriedade imóvel.
imóvel.
Na seção
Na seção sobre
sobre "a relação
"a relação da propriedade
da propriedade privada",
privada", mostra
mostra comocomo
as as
sociedades
sociedades europeias
europeias do século
do século XIX XIX começam
começam a seareger
se reger
por por formas
formas de de
propriedade
propriedade móveis
móveis geradas
geradas na produção
na produção industrial.
industrial. Assim,
Assim, durante
durante
esseesse período,
período, as sociedades
as sociedades europeias
europeias experimentam
experimentam umauma mudança
mudança
crucial:
crucial: acontece
acontece umauma transformação
transformação do lugar
do lugar hegemônico
hegemônico de um
de um tipo tipo
específico
específico de propriedade
de propriedade comcom relação
relação a outro.
a outro. Enquanto
Enquanto os grandes
os grandes
latifundiários
latifundiários promovem
promovem a produção
a produção a partir
a partir da da
terraterra como
como um um
elemento
elemento vitalvital
parapara a sociedade,
a sociedade, os empresários
os empresários defendem
defendem e exigem
e exigem a a
mesma
mesma importância
importância vitalvital
parapara a propriedade
a propriedade móvel.
móvel. Em Em outras
outras
palavras,
palavras, trata-se
trata-se da disputa
da disputa pelopelo domínio
domínio econômico
econômico entreentre a renda
a renda eaea

111 111
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

utilidade,
utilidade,
o lucro.
o lucro.
EntreEntre
a terra
a terra
e ase as
mercadorias.
mercadorias.
EntreEntre
os os
latifundiários e osecapitalistas.
latifundiários os capitalistas.
A imposição da propriedade
A imposição móvel
da propriedade sobre
móvel a imóvel
sobre já era
a imóvel umauma
já era
realidade quando
realidade MarxMarx
quando escreve, não não
escreve, quantitativamente, masmas
quantitativamente, sim sim
qualitativamente. Durante
qualitativamente. esseesse
Durante período histórico,
período a produção
histórico, industrial
a produção industrial
representava umauma
representava pequena parteparte
pequena da da
produção geralgeral
produção dos dos
estados.
estados.
Maiores quantidades
Maiores de pessoas
quantidades trabalhavam
de pessoas na terra,
trabalhavam em comparação
na terra, em comparação
comcom
a quantidade de pessoas
a quantidade empregada
de pessoas nas nas
empregada fábricas. No entanto,
fábricas. comcom
No entanto,
o decorrer dos dos
o decorrer anos,anos,
todastodas
as esferas da produção
as esferas começaram
da produção a adotar
começaram a adotar
características da produção
características industrial
da produção (regimes
industrial salariais,
(regimes mecanização,
salariais, mecanização,
disciplinamento trabalhista,
disciplinamento controle
trabalhista, e distribuição
controle do tempo).
e distribuição Dessa
do tempo). Dessa
forma, a produção
forma, industrial
a produção foi foi
industrial se consolidando até até
se consolidando atingir umauma
atingir
posição hegemônica
posição e indiscutível.
hegemônica e indiscutível.
Atualmente, este este
Atualmente, lugarlugar
privilegiado da da
privilegiado propriedade móvel,
propriedade móvel,
originada da produção
originada industrial,
da produção é menos
industrial, claro.claro.
é menos A indústria, assim
A indústria, assim
como a economia
como agrária
a economia um um
agrária século antes,
século não não
antes, impõe maismais
impõe suassuas
formas
formas
aos aos
outros setores
outros da economia
setores e, dee, maneira
da economia maismais
de maneira abrangente, às às
abrangente,
relações sociais.
relações Michael
sociais. Hardt
Michael (2010)
Hardt apresenta
(2010) o surgimento
apresenta de um
o surgimento de um
novonovo
tipo tipo
de propriedade, numnum
de propriedade, processo de disputa
processo do do
de disputa lugarlugar
da da
propriedade móvel.
propriedade ParaPara
móvel. o autor, atualmente,
o autor, a produção
atualmente, de ideias,
a produção de ideias,
informações, imagens,
informações, conhecimentos,
imagens, linguagens
conhecimentos, e relações
linguagens sociais
e relações dá dá
sociais
origem a um
origem tipo tipo
a um de produção que que
de produção se diferenciaria das das
se diferenciaria propriedades
propriedades
móveis por por
móveis seu seu
caráter imaterial
caráter (Hardt,
imaterial 2010,2010,
(Hardt, p. 133). A disputa
p. 133). de de
A disputa
nossos dias dias
nossos seriaseria
entreentre
umauma
propriedade material
propriedade e uma
material propriedade
e uma propriedade
imaterial. A prioridade
imaterial. destedeste
A prioridade novonovo
tipo tipo
de produção podepode
de produção se observar,
se observar,
escreve Hardt,
escreve nas nas
Hardt, diversas legislações
diversas relacionadas
legislações comcom
relacionadas a propriedade
a propriedade

112 112
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
e a emancipação
e a emancipação

privada.
privada.
Na maioria
Na maioria
dos dos
Estados
Estados
Nacionais,
Nacionais,
os campos
os campos
maismais
analisados
analisados
estãoestão relacionados
relacionados comcom os direitos
os direitos autorais,
autorais, patentes,
patentes, códigos
códigos genéticos
genéticos
aplicados
aplicados à saúde
à saúde e à ealimentação
à alimentação (Hardt,
(Hardt, 2010,2010, p. 134).
p. 134). Existe
Existe umauma
constante
constante supervisão
supervisão e desejo
e desejo de transformar
de transformar em propriedade
em propriedade privada,
privada,
alémalém de custodiar,
de custodiar, todastodas
estasestas construções
construções imateriais.
imateriais.
No No âmbito
âmbito do conhecimento,
do conhecimento, a estratégia
a estratégia capitalista
capitalista é muito
é muito
evidente.
evidente. Não Não
só só
pelospelos direitos
direitos autorais,
autorais, masmas
pelapela necessidade
necessidade
acadêmica
acadêmica de produzir
de produzir trabalhos
trabalhos em em massa
massa como
como elementos
elementos integrais
integrais
do capital
do capital de um
de um intelectual,
intelectual, e pore por
comocomo alguns
alguns órgãos
órgãos se apropriam
se apropriam e e
usamusam
essaessa produção
produção do intelectual.
do intelectual. Hoje,Hoje, muitas
muitas das das
maismais prestigiosas
prestigiosas
revistas
revistas acadêmicas
acadêmicas não não só tiram
só tiram proveito
proveito do trabalho
do trabalho dos dos intelectuais,
intelectuais,
não não pagam
pagam pelospelos trabalhos
trabalhos publicados,
publicados, e cobram
e cobram de forma
de forma explícita
explícita ou ou
implícita
implícita por por
sua sua publicação.
publicação. A privatização
A privatização das das ideias
ideias e ose saberes
os saberes
diminui
diminui a sua
a sua produtividade.
produtividade. Por Por exemplo,
exemplo, umauma
ideiaideia
podepode se tornar
se tornar
pública
pública e isso
e isso não não reduz
reduz a sua
a sua utilidade
utilidade parapara a pessoa
a pessoa que que
a a
compartilha.
compartilha. Aliás,Aliás,
sua sua utilidade
utilidade geralmente
geralmente aumenta.
aumenta. ParaPara atingir
atingir a a
máxima
máxima produtividade,
produtividade, os saberes,
os saberes, ideias
ideias e afetos
e afetos devem
devem ser comuns
ser comuns e e
compartilhados
compartilhados (Hardt,
(Hardt, 2010,2010, p. 134).
p. 134). Assim,
Assim, é possível
é possível observar
observar que,que,
quanto
quanto maismais é reduzido
é reduzido o comum
o comum comcom o objetivo
o objetivo de transformá-lo
de transformá-lo em em
propriedade,
propriedade, maismais é reduzida
é reduzida a suaa sua produtividade.
produtividade.

113 113
VII. O
VII.CARÁTER
O CARÁTER
FILOSÓFICO
FILOSÓFICO
DA ESCOLA
DA ESCOLA
POPULAR
POPULAR

Rodríguez
Rodríguez afirma
afirma a necessidade
a necessidade de que
de que a filosofia
a filosofia faça faça
parteparte da escola
da escola
primária
primária (Rodríguez,
(Rodríguez, 1999,1999,
T.I, T.I, p. 234),
p. 234), porque
porque é uma
é uma parteparte
insubstituível
insubstituível se pensarmos
se pensarmos em um
em um modo
modo de vida
de vida comum.
comum. Talvez
Talvez seja seja
um um espaço
espaço propício
propício parapara pensar
pensar e experimentar
e experimentar um um
novonovo significado
significado
dessadessa presença
presença inédita
inédita na sala
na sala de aula,
de aula, de mamelucos,
de mamelucos, negros
negros e cafuzos
e cafuzos
juntojunto
comcom meninos
meninos brancos.
brancos. Presença
Presença também
também de gêneros,
de gêneros, porque
porque a a
escola
escola de Chuquisaca
de Chuquisaca recebe
recebe todastodas as crianças
as crianças por por
igual.igual.
Achamos
Achamos significativo
significativo que que Rodríguez
Rodríguez não não só apresenta
só apresenta ou escreve
ou escreve
a suaa sua criação,
criação, masmas
vive vive
e lhee dá
lhe forma
dá forma como
como ministro
ministro da educação
da educação de de
Bolívar.
Bolívar. Faz Faz
umauma escola,
escola, inventa-a
inventa-a e vive-a,
e vive-a, habita-a
habita-a parapara
fazerfazer
a a
revolução
revolução educacional
educacional exigida
exigida pelapela revolução
revolução militar
militar bolivariana.
bolivariana. SemSem
ela, não
ela, não existe
existe república.
república.
A escola
A escola de Chuquisaca
de Chuquisaca é uma
é uma escola
escola de filosofia
de filosofia e Rodríguez
e Rodríguez é é
um um filósofo-educador
filósofo-educador de acordo
de acordo comcom
umauma tradição
tradição da filosofia
da filosofia que que
remonta
remonta a Sócrates
a Sócrates de Atenas
de Atenas (lembremos
(lembremos que que Bolívar
Bolívar chama
chama Simón
Simón
Rodríguez
Rodríguez de Sócrates
de "O "O Sócrates de Caracas"
de Caracas" (Rodríguez,
(Rodríguez, 2001,2001, p. p.
p. 117, 117,122).
p. 122).
EssaEssa
tradição
tradição
é recriada
é recriada
por por
M. Foucault
M. Foucault
(2011)
(2011)
em em
seu seu
último
último
curso
curso
sobre a noção
sobre parresía
de de
a noção parresía
. Estamos
. Estamos
acostumados,
acostumados,
no no
mundo
mundo
acadêmico,
acadêmico, a uma
a uma forma
forma dominante
dominante de filosofia,
de filosofia, feitafeita
por por
um um conjunto
conjunto
de ideias,
de ideias, doutrinas
doutrinas e posições
e posições teóricas
teóricas sobre
sobre determinados
determinados temas
temas ou ou
problemas.
problemas. Em Em nossas
nossas universidades
universidades e institutos
e institutos de formação
de formação docente,
docente,
trata-se
trata-se
a história
a história
da filosofia,
da filosofia,
narrativas
narrativas
de algumas
de algumas
ideias,
ideias,
doutrinas
doutrinas
e e

115 115
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

posições
posições
privilegiadas
privilegiadas
nessanessa
linha,linha,
de forma
de forma
bastante
bastante
específica
específica
e e
delimitada.
delimitada. A coragem
Em Em A coragem
da verdade,
da verdade,
M. Foucault
M. Foucault
(2009)
(2009)
destaca
destaca
outraoutra
possibilidade
possibilidade
parapara
a história
a história
da filosofia:
da filosofia:
não não
comocomo
um um
grupo
grupo
de de
doutrinas,
doutrinas,
problemas
problemas
ou conceitos,
ou conceitos,
e sim
e sim
a "história
a "história
da vida
da vida
filosófica
filosófica
como
como
problema
problema
filosófico,
filosófico,
masmas
também
também
como
como
modo
modo
de ser
de ser
e como
e como
forma
forma
ao mesmo
ao mesmo
tempo
tempo
de ética
de ética
e dee heroísmo"
de heroísmo"
(Foucault,
(Foucault,
2011,2011,
p. p.
187).187).
Isso Isso
é o éque
o que
Foucault
Foucault
busca
busca
em em
Sócrates
Sócrates
e nos
e nos
cínicos
cínicos
nessenesse
último
último curso:
curso: a história
a história de heróis
de heróis filosóficos,
filosóficos, não não
pelopelo suposto
suposto brilho
brilho de de
suassuas doutrinas,
doutrinas, masmas
pelopelo caráter
caráter éticoético de suas
de suas formas
formas de vida,
de vida, pelapela
potência
potência explosiva,
explosiva, militante
militante e revolucionária
e revolucionária de seus
de seus modos
modos e estilos
e estilos
de vida; por por
de vida; sua sua
forçaforça
parapara
se inserir, crítica
se inserir, e devastadoramente,
crítica na na
e devastadoramente,
tradição de como
tradição devedeve
de como ser ser
vivida umauma
vivida vidavida
filosófica e, inclusive,
filosófica do do
e, inclusive,
que que
é feito em nome
é feito da filosofia.
em nome São São
da filosofia. heróis de uma
heróis vidavida
de uma filosófica. Não Não
filosófica.
só heróis teóricos,
só heróis masmas
teóricos, militantes de uma
militantes vidavida
de uma heroicamente filosófica.
heroicamente filosófica.
Dessa forma,
Dessa Foucault
forma, faz faz
Foucault sua sua
própria filosofia
própria da história
filosofia da da
da história
filosofia comcom
filosofia o problema filosófico
o problema que que
filosófico o angustia vitalmente
o angustia em seus
vitalmente em seus
últimos momentos:
últimos como
momentos: viverviver
como umauma
vidavida
que que
valhavalha
a pena de ser
a pena de vivida
ser vivida
e como colocar
e como a própria
colocar vidavida
a própria em uma tradição
em uma de pensamento
tradição que que
de pensamento dê dê
sentido e razão
sentido de ser
e razão de ao
ser próprio estiloestilo
ao próprio de vida. Em Em
de vida. outras palavras,
outras palavras,
como inserir
como sua sua
inserir forma de fazer
forma filosofia,
de fazer umauma
filosofia, filosofia viva,viva,
filosofia em em
umauma
história dessedesse
história modo de de
modo fazerfazer
filosofia dentro
filosofia da da
dentro tradição de de
tradição
pensamento que que
pensamento chamamos filosofia
chamamos ocidental.
filosofia Foucault
ocidental. encontra
Foucault na na
encontra
vidavida
(e morte) de de
(e morte) Sócrates o início
Sócrates dessadessa
o início tradição. Os Os
tradição. cínicos
cínicos
continuam e aprofundam
continuam esseesse
e aprofundam modo de viver
modo (e morrer):
de viver sua sua
(e morrer): vidavida
é é
um um
escândalo. É a Évida
escândalo. da filosofia
a vida em em
da filosofia sua sua
expressão maismais
expressão profunda,
profunda,
coerente, radical:
coerente, a filosofia
radical: feitafeita
a filosofia forma de vida
forma ética,ética,
de vida heroica. EsseEsse
heroica.

116 116
O caráter
O caráter
filosófico
filosófico
da escola
da escola
popular
popular

inícioinício
socrático
socrático
está está
registrado,
registrado,
parapara
Foucault,
Foucault,
em em
alguns diálogos
alguns diálogos
de de
Platão,
Platão, especialmente
especialmente aqueles
aqueles primeiros
primeiros nos nos
quaisquais
não não existem
existem
respostas
respostas categóricas
categóricas sobre
sobre as perguntas
as perguntas analisadas.
analisadas.
A linha
A linha maismais tradicional,
tradicional, e ainda
e ainda dominante,
dominante, da filosofia
da filosofia também
também
nasce
nasce diálogos
nos nos diálogos
de Platão.
de Platão.
EstaEsta
filosofia
filosofia
é umé um
exercício
exercício
intelectual,
intelectual,
um um
sabersaber
de de
perguntas e respostas.
perguntas EstaEsta
e respostas. história continua
história continua
exemplarmente
exemplarmente comcom Aristóteles
Aristóteles e ose os sucessores.
sucessores. Assim,
Assim, quando
quando
Aristóteles é recuperado
Aristóteles no mundo
é recuperado da filosofia
no mundo acadêmica,
da filosofia geralmente
acadêmica, geralmente
é para remeter
é para a algum
remeter aspecto
a algum de suas
aspecto doutrinas
de suas éticas,
doutrinas políticas,
éticas, políticas,
lógicas,
lógicas, físicas,
físicas, metafísicas
metafísicas ou qualquer
ou qualquer outra,
outra, masmas
rararara
vez vez faz-se
faz-se
referência
referência a algum
a algum aspecto
aspecto de sua
de sua vida,vida, de seu
de seu caráter
caráter ou não
ou não éticoético
ou ou
heroico.
heroico.
SemSem dúvida,
dúvida, estasestas
duasduas linhas
linhas não não
estãoestão desconectadas
desconectadas e existem
e existem
muitas
muitas formas
formas de relacioná-las.
de relacioná-las. Sócrates
Sócrates e ose cínicos
os cínicos
são, são, talvez,
talvez,
exemplos
exemplos limites
limites e míticos
e míticos de pensadores
de pensadores e vidas
e vidas que que podem
podem se se
localizar
localizar exclusivamente
exclusivamente do do
ladolado
da da
vida,vida, o primeiro
o primeiro por por
sua sua
característica
característica forma
forma de afirmar
de afirmar umauma
vidavida filosófica
filosófica a partir
a partir de uma
de uma
relação
relação comcom o saber
o saber sustentada
sustentada no não
no não saber,
saber, em em
certacerta ausência
ausência de de
doutrina;
doutrina; os segundos,
os segundos, por por
seu seu
modomodo de entender
de entender a filosofia
a filosofia justamente
justamente
como
como vidavida e apenas
e apenas vida.vida. A filosofia
A filosofia cínica
cínica prescinde
prescinde dos dos tratados
tratados
teóricos,
teóricos, expressa-se
expressa-se no próprio
no próprio corpo
corpo dos dos filósofos
filósofos que que a praticam.
a praticam. Em Em
comum,
comum, entreentre Sócrates
Sócrates e cínicos,
e cínicos, está está a ausência
a ausência de registros
de registros diretos
diretos
por por escrito,
escrito, um um
vaziovazio
que que potencia
potencia a possibilidade
a possibilidade de inspirar
de inspirar sentidos
sentidos
sempre
sempre renovados.
renovados.
A vida
A vida filosófica
filosófica que que nasce
nasce comcom Sócrates
Sócrates e ose cínicos
os cínicos
é, aoé, ao
mesmo
mesmo tempo,
tempo, umauma
vidavida educadora.
educadora. O herói
O herói da filosofia
da filosofia educa
educa comcom
o o

117 117
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

próprio
próprio
exemplo,
exemplo,
comcom
a sua
a sua
vida.vida.
A ética
A ética
comcom
a qual
a qual
vive vive
educa,
educa,
inspira outras
inspira vidas.
outras Por Por
vidas. isso,isso,
é muito difícil
é muito diferenciar
difícil até que
diferenciar ponto
até que ponto
essaessa
vidavida
ética,ética,
heroica, é uma
heroica, vidavida
é uma filosófica ou educadora.
filosófica Sócrates
ou educadora. é, é,
Sócrates
de novo, um um
de novo, bombom
exemplo, umauma
exemplo, vez que as acusações
vez que contra
as acusações ele são
contra ele de
são de
tipo tipo
religioso ("introduz
religioso novos
("introduz deuses")
novos e educacional-política
deuses") e educacional-política
("corrompe os jovens");
("corrompe sua sua
os jovens"); forma de se
forma de defender é identificando
se defender as as
é identificando
acusações contra
acusações ele ele
contra como acusações
como contra
acusações "todos
contra aqueles
"todos que que
aqueles
filosofam"
filosofam"
(Platão, Apologia
(Platão, Apologia
23d).23d).
Ou Ou
seja,seja,
é acusado
é acusado
pelospelos
efeitos
efeitos
educacionais
educacionais de sua
de sua vidavida filosófica
filosófica e Sócrates
e Sócrates responde
responde identificando
identificando
essaessa
acusação como
acusação não não
como sendo apenas
sendo contra
apenas ele, ele,
contra masmas
contra um um
contra
determinado modo
determinado de levar
modo a vida,
de levar que que
a vida, chama de filosófico.
chama ComCom
de filosófico. essaessa
resposta, está está
resposta, Sócrates filosofando?
Sócrates Ou Ou
filosofando? educando? É Sócrates
educando? um um
É Sócrates
filósofo? É um
filósofo? professor
É um de filosofia?
professor É um
de filosofia? educador
É um em ou
educador em através da da
ou através
filosofia? A intensidade
filosofia? destas
A intensidade perguntas
destas é mais
perguntas importante
é mais que que
importante sua sua
possível resposta:
possível a filosofia
resposta: e a eeducação
a filosofia não não
a educação são são
fáceis de separar
fáceis na na
de separar
tradição de uma
tradição vidavida
de uma éticaética
e heroica que que
e heroica se inicia comcom
se inicia Sócrates.
Sócrates.
Nessa
Nessatradição,
tradição,gostaríamos
gostaríamostambém de decolocar
também colocarSimón
Simón
Rodríguez, o Sócrates
Rodríguez, de Caracas,
o Sócrates quem
de Caracas, introduz
quem notasnotas
introduz singulares a a
singulares
essaessa
éticaética
filosófica heroica.
filosófica Especialmente,
heroica. a ideia
Especialmente, de de
a ideia ensaio
ensaio
(Rodríguez, 1999,1999,
(Rodríguez, T.I).T.I).
ParaPara
Rodríguez, ensaiar
Rodríguez, não não
ensaiar é sóéuma forma
só uma de de
forma
escrever, masmas
escrever, também umauma
também marca do pensamento
marca e doe viver:
do pensamento ensaiar
do viver: ensaiar
parapara
viverviver
e viver parapara
e viver ensaiar, fazerfazer
ensaiar, da da
vidavida
um um
ensaio, umauma
ensaio,
experiência não não
experiência sabida, masmas
sabida, aberta ao encontro
aberta do outro,
ao encontro ao outro
do outro, no no
ao outro
encontro; ensaiar
encontro; também
ensaiar parapara
também inventar e não
inventar imitar
e não os modos
imitar de de
os modos
conhecer e dee habitar
conhecer umauma
de habitar terraterra
propícia como
propícia poucas
como parapara
poucas as as

118 118
O caráter
O caráter
filosófico
filosófico
da escola
da escola
popular
popular

invenções;
invenções;
finalmente,
finalmente,
ensaiar
ensaiar
comocomo
errância
errância
de uma
de uma
vidavida
que que
se sabe
se sabe
aberta,
aberta, curiosa,
curiosa, inacabada,
inacabada, em movimento.
em movimento.
Nesse
Nesse sentido,
sentido, a escola
a escola de Chuquisaca
de Chuquisaca é o éensaio
o ensaio
maismais ousado
ousado e e
radical
radical de Rodríguez.
de Rodríguez. É a Éexpressão
a expressão culminante
culminante de sua
de sua vidavida filosófica.
filosófica.
Por Por
isso,isso, talvez,
talvez, o que
o que provoca
provoca a mais
a mais violenta
violenta reação
reação que que interrompe,
interrompe,
inclusive,
inclusive, a sua
a sua comunicação
comunicação comcom Bolívar:
Bolívar: o Libertador
o Libertador não não recebe
recebe as as
suassuas cartas,
cartas, vistovisto
que que
este este deixou
deixou a Bolívia
a Bolívia quando
quando a campanha
a campanha militar
militar
o solicita
o solicita no Peru:
no Peru: são interceptadas
são interceptadas e não
e não entregues
entregues a Bolívar.
a Bolívar.
Não Não existe
existe na vida
na vida de Rodríguez
de Rodríguez nenhuma
nenhuma fé transcendental,
fé transcendental, masmas
umauma aposta
aposta na invenção
na invenção de uma
de uma escola
escola que que permita
permita a construção
a construção
coletiva
coletiva de formas
de formas de saber
de saber e poder
e poder que que contribuam
contribuam comcom
umauma
vidavida
maismais propriamente
propriamente vidavida
nestanesta região
região do mundo,
do mundo, umauma
vidavida inédita,
inédita, umauma
forma
forma de vida
de vida individual
individual e social
e social desconhecidas
desconhecidas aquiaqui
e eme em qualquer
qualquer
outro
outro lugarlugar do planeta.
do planeta.

119 119
VIII.VIII.
PARAPARA
FINALIZAR : PRINCÍPIOS
FINALIZAR : PRINCÍPIOS
(INÍCIOS
(INÍCIOS
) DE )UMA
DE UMA
ESCOLA
ESCOLA
FILOSÓFICA
FILOSÓFICA

POPULAR
POPULAR

Manifestamo-nos
Manifestamo-nos em em
prolprol escola
de uma
de uma escola
filosófica
filosófica
popular
popular
comocomo
a a
inventada em em
inventada Chuquisaca por por
Chuquisaca Simón Rodríguez
Simón no no
Rodríguez século XIX. XIX.
século
Sintetizamos seusseus
Sintetizamos princípios em em
princípios quatro: hospitalidade,
quatro: irreverência,
hospitalidade, irreverência,
comunismo e pergunta.
comunismo e pergunta.

1. Hospitalidade
1. Hospitalidade

Como
Como escrevemos
escrevemos numa
numa seçãoseção anterior,
anterior, escola
umauma escola
filosófica
filosófica
popular
popular
suspende
suspende
e profana
e profana
as hierarquias
as hierarquias
do mundo
do mundo
social
social
e oferece
e oferece
tempo
tempo livrelivre a todos
a todos e qualquer
e qualquer um. um.
EsteEste movimento
movimento tornatorna a escola
a escola um um
espaço
espaço acolhedor,
acolhedor, que que é oferecido
é oferecido semsem exigir
exigir nadanada
em em troca.
troca. Talvez
Talvez
valhavalha
a pena
a pena
lembrar
lembrar
aquiaqui
o conhecido
o conhecido
seminário
seminário
de Derrida
de Derrida
(2003)
(2003)
sobre
sobre
a hospitalidade.
a hospitalidade.
Derrida
Derrida
diferencia
diferencia
entreentre
umauma
hospitalidade
hospitalidade
própria
própria do direito,
do direito, relativa
relativa e outra
e outra da filosofia,
da filosofia, absoluta.
absoluta. Enquanto
Enquanto a a
primeira
primeira é estruturada
é estruturada em relação
em relação a uma
a uma sériesérie de condições
de condições específicas
específicas
que que formam
formam as regras
as regras da hospitalidade,
da hospitalidade, a segunda
a segunda é incondicional.
é incondicional. A A
hospitalidade
hospitalidade filosófica
filosófica é simplesmente
é simplesmente oferecida,
oferecida, é fornecida
é fornecida
incondicionalmente
incondicionalmente a todos
a todos e qualquer
e qualquer um. um.
Não Não pergunta
pergunta o nome,
o nome, o o
idioma
idioma nemnem a identidade.
a identidade. Trata-se
Trata-se de uma
de uma abertura
abertura cuidadosa
cuidadosa e sem
e sem
condições
condições parapara quem
quem quiser
quiser recebê-la.
recebê-la. No No sentido
sentido filosófico,
filosófico, a a
hospitalidade
hospitalidade acolhe
acolhe todastodas as diferenças,
as diferenças, vistovisto
que que assume
assume na base
na base de de

121 121
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

sua sua
própria
própria
operação
operação
a igualdade.
a igualdade.
Por Por
princípio,
princípio,
não não
exclui
exclui
ninguém.
ninguém.
Parece impossível,
Parece desumana,
impossível, irreal.
desumana, irreal.
A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
de Rodríguez
de Rodríguez
é justamente
é justamente
hospitaleira
hospitaleira
nessenesse
sentido forte,forte,
sentido radical, absoluto.
radical, EsseEsse
absoluto. caráter lhe permite
caráter receber
lhe permite a a
receber
qualquer um, um,
qualquer sem sem
importar a suaa sua
importar condição social.
condição A escola
social. é o éespaço
A escola o espaço
comum no qual
comum as diferenças
no qual não não
as diferenças são são
submetidas a condição
submetidas nenhuma
a condição nenhuma
parapara
a sua entrada.
a sua Contrapondo-se
entrada. ao mundo
Contrapondo-se escolar
ao mundo de final
escolar do do
de final
século XVIIIXVIII
século e começo do século
e começo XIX, XIX,
do século reinventando a scholé
reinventando a scholé
da Grécia
da Grécia
Antiga,
Antiga, a escola
a escola
filosófica
filosófica
popular
popular
não não
exigeexige
condição
condição
identitária
identitária
nenhuma. Todos
nenhuma. e todas
Todos são são
e todas recebidos em em
recebidos nome da igualdade
nome e dae da
da igualdade
hospitalidade.
hospitalidade.
Talvez seja seja
Talvez interessante compreender
interessante certacerta
compreender dimensão do contexto
dimensão do contexto
da época. Como
da época. já mencionamos,
Como a partir
já mencionamos, do século
a partir XVIII,XVIII,
do século a coroa
a coroa
espanhola, através
espanhola, de seus
através funcionários
de seus ilustrados,
funcionários desenvolve
ilustrados, umauma
desenvolve
política voltada
política à promoção
voltada da educação.
à promoção Durante
da educação. esta esta
Durante época, são são
época,
criadas escolas
criadas especiais,
escolas são são
especiais, escritos e traduzidos
escritos muitos
e traduzidos textos
muitos textos
educativos e são
educativos criadas
e são instituições
criadas comcom
instituições fins fins
educativos, como
educativos, as as
como
sociedades de promoção
sociedades à economia.
de promoção Ao mesmo
à economia. tempo,
Ao mesmo durante
tempo, este este
durante
período,
período,os osorfanatos
orfanatossão sãosecularizados.
secularizados.O Oestado intervém
estado intervém
decididamente nestanesta
decididamente questão parapara
questão proporcionar a mão
proporcionar de de
a mão obraobra
necessária parapara
necessária a industrialização da Espanha.
a industrialização As(Os)
da Espanha. sem sem
As(Os) nome, as(os)
nome, as(os)
não não
desejadas(os) encontram
desejadas(os) abrigo
encontram nestas
abrigo instituições,
nestas justamente
instituições, por por
justamente
sua sua
potencial forçaforça
potencial de trabalho. ParaPara
de trabalho. os funcionários ilustrados,
os funcionários as as
ilustrados,
meninas e meninos
meninas podem
e meninos ser ser
podem educados e formados
educados parapara
e formados servir à à
servir
grandeza do Reino
grandeza da Espanha.
do Reino ParaPara
da Espanha. isso,isso,
são são
recolhidas(os) das das
recolhidas(os) ruasruas
e e
levados aos aos
levados orfanatos. Na maioria
orfanatos. destas
Na maioria instituições,
destas funciona
instituições, algum
funciona algum

122 122
Para finalizar:
Para finalizar:
princípios
princípios
(inícios)
(inícios)
de umade escola
uma escola
filosófica
filosófica
popular
popular

tipo tipo
de fábrica
de fábrica
e, em
e, algumas,
em algumas,
escolas
escolas
de primeiras
de primeiras
letras.
letras.
DessaDessa
forma,
forma,
vai vai surgindo
surgindo a estrutura
a estrutura de instituições
de instituições que que atende
atende à educação
à educação dos dos
diversos
diversos setores
setores da população.
da população.
Nos Nos territórios
territórios coloniais
coloniais americanos,
americanos, em todo
em todo o território,
o território, comocomo
já mencionamos,
já mencionamos, existem
existem diversos
diversos tipostipos de escolas:
de escolas: escolas
escolas de primeiras
de primeiras
letras
letras dependentes
dependentes do Cabildo;
do Cabildo; escolas
escolas regidas
regidas pelaspelas diversas
diversas ordens
ordens
religiosas;
religiosas; escolas
escolas dependentes
dependentes das das Universidades;
Universidades; orfanatos
orfanatos comocomo
o deo de
Mérida
Mérida e dee Caracas,
de Caracas,
nos nos
quaisquais os órfãos
os órfãos aprendem
aprendem um um ofício
ofício e, em
e, em
alguns
alguns casos,
casos, os primeiros
os primeiros conhecimentos
conhecimentos de leitura
de leitura e escritura;
e escritura; escolas
escolas
parapara índios
índios comocomo as escolas
as escolas de doutrina
de doutrina e escolas
e escolas parapara caciques,
caciques, comocomo
o colégio
o colégio do Sol.
do Sol. ComCom exceção
exceção dos dos negros,
negros, todos,
todos, pelopelo menos
menos em em
teoria,
teoria, podem
podem ter ter acesso
acesso a um
a um tipo tipo de educação
de educação institucionalizada
institucionalizada
oferecida
oferecida pelopelo Estado
Estado colonial.
colonial.
Dessa
Dessa forma,
forma, assim
assim como
como na metrópole,
na metrópole, na América
na América existem
existem
diversas
diversas instituições
instituições dedicadas
dedicadas à atenção
à atenção e cuidado
e cuidado de cada
de cada setorsetor
da da
sociedade.
sociedade. De acordo
De acordo comcom o regime
o regime de castas
de castas regulado
regulado pelospelos bourbons,
bourbons,
cadacada escola
escola está está destinada
destinada a um
a um setor.
setor. Todas
Todas exigem
exigem condições
condições
específicas.
específicas. De acordo
De acordo comcom o nome,
o nome, a cultura,
a cultura, o sexo
o sexo e a eposição
a posição
que que
ocupam
ocupam na estrutura
na estrutura social,
social, meninas
meninas e meninos
e meninos são são recebidos
recebidos em uma
em uma
escola
escola específica.
específica. Em Em função
função desses
desses mesmos
mesmos critérios,
critérios, é permitido
é permitido o o
acesso
acesso aos aos diversos
diversos níveis
níveis da educação.
da educação. Alguns
Alguns Colégios
Colégios Superiores
Superiores e e
Universidades,
Universidades, como
como o colégio
o colégio São São Cristóvão
Cristóvão de de Chuquisaca
Chuquisaca e ae a
Universidade
Universidade de Caracas,
de Caracas, só aceitam
só aceitam pessoas
pessoas brancas
brancas cujacuja pureza
pureza de de
sangue,
sangue, batismo
batismo e bom
e bom nome
nome estejam
estejam comprovados.
comprovados.
Poderíamos
Poderíamos dizer,
dizer, então,
então, que que as escolas
as escolas espanholas
espanholas são são também
também
hospitaleiras,
hospitaleiras, masmas
em em
um um sentido
sentido jurídico,
jurídico, não não filosófico.
filosófico. EssaEssa

123 123
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

hospitalidade
hospitalidade
está está
estruturada
estruturada
a partir
a partir
de um
de um
conjunto
conjunto
de pressupostos
de pressupostos
e condições, em estritas
e condições, regras
em estritas de entrada
regras e permanência.
de entrada EstasEstas
e permanência. regras
regras
se sustentam, em em
se sustentam, primeiro lugar,
primeiro no no
lugar, nome de cada
nome um, um,
de cada em em
seu seu
pertencimento a uma
pertencimento família.
a uma Estabelecem
família. umauma
Estabelecem relação comcom
relação o o
pertencimento a uma
pertencimento linhagem
a uma comum
linhagem sustentada
comum em em
sustentada umauma
tradição
tradição
hierárquica e desigual:
hierárquica se baseiam
e desigual: no direito
se baseiam societário.
no direito De De
societário. acordo
acordo
como
comocadacadaum umencaixar,
encaixar,receberá
receberáa hospitalidade
a hospitalidadejurídica
jurídica
correspondente. As condições
correspondente. são são
As condições impostas pelopelo
impostas donodono
da casa. Ele Ele
da casa.
decide quem
decide entraentra
quem e quem não,não,
e quem aonde cadacada
aonde um um
entra, em em
entra, função das das
função
condições impostas
condições por por
impostas ele mesmo. A porta,
ele mesmo. o laro só
A porta, lar ésóaberto parapara
é aberto
aqueles que,que,
aqueles em em
última análise,
última compartilham
análise, umauma
compartilham mesma posição
mesma posição
social. Nesse
social. sentido,
Nesse a hospitalidade
sentido, jurídica
a hospitalidade desdobra
jurídica compartimentos
desdobra compartimentos
estanques
estanquesestabelecidos
estabelecidoshierarquicamente.
hierarquicamente.Precisa
Precisapartir
partirda da
desigualdade para,para,
desigualdade a partir dela,dela,
a partir justificar umauma
justificar condição identitária.
condição identitária.
Simón Rodríguez
Simón rompe
Rodríguez comcom
rompe esta esta
lógica hospitaleira
lógica e abre
hospitaleira a suaa sua
e abre
escola
escola
filosófica
filosófica
popular
popular
a outra
a outra
forma
forma
de hospitalidade,
de hospitalidade,
radical
radical
e e
incondicional. Nela,Nela,
incondicional. não não
há exigências comcom
há exigências relação aos aos
relação nomes, posição
nomes, posição
social, religião,
social, sexo,sexo,
religião, idioma ou cultura.
idioma PelaPela
ou cultura. primeira vez vez
primeira em em
umauma
escola da colônia,
escola não não
da colônia, são são
estabelecidas condições
estabelecidas de linhagem,
condições etniaetnia
de linhagem,
ou gênero parapara
ou gênero poder entrar.
poder PelaPela
entrar. primeira vez, vez,
primeira os meninos e meninas
os meninos e meninas
não não
são são
separados por por
separados sua sua
sexualidade, embora
sexualidade, seja seja
embora preciso manter
preciso manter
certas formas,
certas do lado
formas, de fora.
do lado PelaPela
de fora. primeira vez, vez,
primeira ensina-se quéchua
ensina-se quéchua
juntojunto
comcom
o castelhano
o castelhano
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.II, T.II,
p. 36-37). Na escola
p. 36-37). Na escola
popular
popular , a hospitalidade
, a hospitalidade
é oferecida
é oferecida
a todas(os)
a todas(os)
e qualquer
e qualquer
um(a).
um(a).
Os defensores da hospitalidade
Os defensores jurídica
da hospitalidade atacam
jurídica o educador.
atacam Não Não
o educador.
suportam
suportam
a hospitalidade
a hospitalidade
filosófica
filosófica
popular.
popular.
Em EmO Libertador
O Libertador
do Meio-
do Meio-

124 124
Para finalizar:
Para finalizar:
princípios
princípios
(inícios)
(inícios)
de umade escola
uma escola
filosófica
filosófica
popular
popular

Dia Dia
da América
da América
e seus
e seus
companheiros
companheiros
de armas,
de armas,
defendidos
defendidos
por por
um um
amigo
amigo
da causa
da causa
social,
social,
ele conta
ele conta
o que
o que
os poderosos
os poderosos
viamviam
nelenele
quando
quando
abriaabria
as portas da escola
as portas a todos
da escola e todas
a todos de forma
e todas incondicional:
de forma incondicional:
UmaUma semanasemana
passava
passava
a jogar
a jogar
dadosdadosde dia,
de dia,
e cartas
e cartas
de de
noite,noite,
e quando
e quandolhe faltavam
lhe faltavamterceiros
terceiros
jogavajogava
sozinho.
sozinho.
– –
Outra,Outra,
a demolir
a demolir escadas,
escadas,
abrirabrir
portasportas
e janelas,
e janelas,
para para
colocar
colocar
em comunicação
em comunicação os meninos
os meninoscom com
as meninas...
as meninas...
qual qual
seriaseria
sua sua
intenção?
intenção?
um um canônico
canônicoas descobriu...
as descobriu...
proteger
proteger
maldades!
maldades!– Outra
– Outrasemana,
semana,dava davaa retirar
a retirar
freiras
freiras
dos dos
conventos...
conventos...
Para Para
que que
seria?seria?
o capelão
o capelãodescobriu;
descobriu;
mas masnão não
quis quis
dizerdizer
senãosenão
de forma
de formasecreta
secreta
ao Governo
ao Governo – Outra,
– Outra,
dava dava
na loucura
na loucura de vestir
de vestirde novo
de novo os que
os quechegavam
chegavam
despidos
despidos– Outra,
– Outra, distraía-se
distraía-se
ao destruir
ao destruir templos
templos
e e
empregar
empregar
as madeiras
as madeirasem móveis
em móveis para para
seus seus
salõessalões
– Outra,
– Outra,
a extrair
a extrair
comocomoum Sultão
um Sultão
cholas cholas
donzelas
donzelas
para para
seu serviço,
seu serviço,
e a cada
e a cada
semanasemana
destinava
destinava
dois dois
dias dias
para para
subtrair
subtrair
dinheiro
dinheiro
das das
caixascaixas
públicas
públicas
e enviá-lo
e enviá-lo
a suaa suaterraterra
(mais(mais
de dois
de dois
milhões
milhões
colocou
colocou
em em reserva
reserva
para para
sua sua
retirada)
retirada)
– Era– Era
pródigo,
pródigo,
trapaceiro,
trapaceiro,
não não
ia à iamissa,
à missa,não não
faziafazia
caso caso
dos dos
trovões,
trovões, em mal
vivia vivia em mal estado
estado
, não, nãosabiasabia
a história
a história
nem nem
falavafalava
latim.latim.
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 59-60)
p. 59-60)
Por Por
que que
a hospitalidade
a hospitalidade
jurídica
jurídica
considera
considera
a hospitalidade
a hospitalidade
incondicional inadmissível
incondicional e intolerável?
inadmissível Porque
e intolerável? ao ao
Porque contrário da da
contrário
hospitalidade
hospitalidade jurídica,
jurídica, a hospitalidade
a hospitalidade incondicional
incondicional oferecida
oferecida na escola
na escola
filosófica
filosófica popular
popular sustenta-se
sustenta-se na afirmação
na afirmação da igualdade.
da igualdade. AlémAlém
das das
diferenças
diferenças (culturais,
(culturais, sexuais,
sexuais, religiosas
religiosas e econômicas),
e econômicas), todos
todos são são
bem-bem-
vindos
vindos em sua
em sua escola
escola na mesma
na mesma condição,
condição, porque
porque são são iguais.
iguais. Ninguém
Ninguém
vale vale
maismais do que
do que ninguém,
ninguém, ou melhor,
ou melhor, qualquer
qualquer um(a)
um(a) tem tem o mesmo
o mesmo
valorvalor
que que qualquer
qualquer outro(a).
outro(a).

2 Irreverência
2 Irreverência

A escola
A escola
popular
popular
é irreverente:
é irreverente:
não não
aceita
aceita
hierarquias
hierarquias
do ser
do nem
ser nem
do do
saber. De De
saber. acordo comcom
acordo seu seu
significado etimológico,
significado a palavra
etimológico, a palavra

125 125
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

irreverência
irreverência
é uma
é uma
qualidade
qualidade
derivada
derivada
do verbo vereri
do verbo vereri
(Corominas,
(Corominas,
1987,1987,
p. 507). EsseEsse
p. 507). verbo expressa
verbo umauma
expressa situação de de
situação submissão
submissão
provocada por por
provocada um um
respeito receoso
respeito diante
receoso de algo
diante ou ou
de algo alguém. O O
alguém.
prefixo re dá
prefixo re intensidade
dá intensidade
à ação
à ação
implícita
implícita
no verbo,
no verbo,
reforça-a.
reforça-a.
Nesse
Nesse
sentido, a i-rreverência
sentido, afirma
a i-rreverência a negação,
afirma carência,
a negação, ausência
carência, (-i) (-i)
ausência dessadessa
submissão reforçada
submissão subsequente.
reforçada Ou Ou
subsequente. seja,seja,
a irreverência é a éausência
a irreverência a ausência
de submissão.
de submissão.
Rodríguez é insubmisso,
Rodríguez nunca
é insubmisso, rende
nunca subserviência
rende a ninguém.
subserviência a ninguém.
Em Em
sua sua
juventude, desafia
juventude, o status
desafia o status
quo quo
ao estudar
ao estudar
alémalém
dos dos
mandatos
mandatos
sociais. Sua Sua
sociais. faltafalta
de pureza de sangue
de pureza impede
de sangue que que
impede tenha acesso
tenha a uma
acesso a uma
formação superior
formação universitária.
superior Sua Sua
universitária. condição de homem
condição livre,livre,
de homem masmas
sem sem
pai pai
nemnem
mãemãe
reconhecidos, destinam-no
reconhecidos, a uma
destinam-no vidavida
a uma dedicada ao ao
dedicada
trabalho manual
trabalho próprio
manual das das
próprio classes subordinadas.
classes Seu Seu
subordinadas. nascimento
nascimento
condiciona, em em
condiciona, grande parte,
grande seu seu
parte, lugarlugar
na sociedade que,que,
na sociedade como já já
como
vimos, estrutura
vimos, de forma
estrutura muito
de forma estrita
muito direitos
estrita e obrigações.
direitos O lugar
e obrigações. O lugar
de Rodríguez impõe
de Rodríguez limites
impõe claros
limites à sua
claros formação.
à sua Os Os
formação. órfãos não não
órfãos
podem estudar
podem nas nas
estudar Universidades coloniais.
Universidades No entanto,
coloniais. isto isto
No entanto, jamais o o
jamais
limitou a estudar
limitou nemnem
a estudar se formar de maneira
se formar independente.
de maneira Rodríguez
independente. Rodríguez
se forma sem sem
se forma assistir às instituições
assistir tradicionais
às instituições de educação.
tradicionais SuasSuas
de educação.
leituras acontecem
leituras às às
acontecem margens das das
margens estradas, em em
estradas, quartos mal mal
quartos
iluminados ao ao
iluminados calorcalor
de de
umauma
vela vela
e nas discussões
e nas comcom
discussões seusseus
companheiros das das
companheiros diversas viagens
diversas que que
viagens fazem parteparte
fazem de sua vida.vida.
de sua
Rodríguez não não
Rodríguez é um doutor
é um da da
doutor universidade; não não
universidade; tem tem
a a
dignidade dos dos
dignidade doutores nemnem
doutores dos dos
diretores de uma
diretores instituição,
de uma masmas
instituição,
também não não
também a deseja. Aliás,Aliás,
a deseja. repudia e ridiculariza
repudia como
e ridiculariza os setores
como os setores

126 126
Para finalizar:
Para finalizar:
princípios
princípios
(inícios)
(inícios)
de umade escola
uma escola
filosófica
filosófica
popular
popular

abastados
abastados
de Chuquisaca
de Chuquisaca
representam
representam
a figura
a figura
do Diretor
do Diretor
da escola
da escola
da da
cidade:
cidade:
Quando
Quando
se começou
se começou
a falar
a falar
de taldeDiretor
tal Diretor
e a tratá-lo
e a tratá-lo
uns uns
de “você”
de “você”
e outros
e outros
de “Vossa
de “VossaExcelência”,
Excelência”,
váriasvárias
pessoas
pessoas
ilustres
ilustres
acreditaram
acreditaram
encontrar-se
encontrar-se
com comum homem
um homem de baixa
de baixa
estatura
estatura
– sem – sem
pescoço
pescoço
– calvo
– calvo
até aaténuca,
a nuca,
com com
quatro
quatro
cabelos
cabelos
torcidos
torcidos
presospresos
– as –coxas
as coxas
escondidas
escondidasembaixo
embaixo
da da
barriga
barriga
– pernas
– pernas
curtascurtas
e magras,
e magras,
terminadas
terminadas por grandes
por grandes
pés, pés,
envoltos
envoltos
em sapatos
em sapatosde pano,
de pano,
com comfivelas
fivelas
de ouro
de ouro
– –
caixacaixa
de pó,
de rosário
pó, rosário
na algibeira,
na algibeira,
rezador,
rezador,
caridoso,
caridoso,
grande
grande
recitador
recitador
de história,
de história,
gastando
gastandosuas suas
frasesfrases
em em versos
versos
clássicos
clássicos
e esculpindo
e esculpindomarcas
marcas
latinas
latinas
a cada a cadamomento.
momento.
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 62).
p. 62).
ParaPara
Rodríguez,
Rodríguez,
o professor
o professor
devedeve
ser ser
honrado,
honrado,
estudioso,
estudioso,
comunicativo
comunicativo
e respeitoso
e respeitoso
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.II, T.II,
p. 359).
p. 359).
Nunca
Nunca
devedeve
desprezar
desprezar ninguém
ninguém e, pelo
e, pelo contrário,
contrário, precisa
precisa reconhecer
reconhecer que que
seu seu saber,
saber,
longelonge de motivo
de ser ser motivo de vaidade
de vaidade individual,
individual, é uma
é uma dívida
dívida que que
tem tem
comcom
o o
restoresto da sociedade:
da sociedade:
Aquele
Aquele
que que
pensarpensar
nissonisso
reconhecerá
reconhecerá
que que
o queo que
sabe sabe
deve deve
ao pobre
ao pobre
que que
o manteve,
o manteve,por uma
por umaporção
porção
de anos,
de anos,
comocomo
estudante
estudante
– e –que e que
não não
fez aquele
fez aquele
sacrifício
sacrifício
senãosenãopela pela
esperança
esperança
de terdequem
ter quem
o ensinasse.
o ensinasse.
Os que
Os aprenderam
que aprenderam em em
detrimento
detrimentode outros
de outros são sãolivroslivros
que quecustaram
custaram muitomuito
dinheiro;
dinheiro;
maismais do quedo que haveriahaveria
validovalido
para para
o pobre
o pobre
campesino
campesinocomprar
comprarpara para
si umasi uma
biblioteca.
biblioteca.
Os Doutores
Os Doutores
Americanos
Americanosnão advertem
não advertemque devem
que devem
sua ciência
sua ciência
aos índios
aos índios
e aose negros:
aos negros:
porque porque
se osseSenhores
os SenhoresDoutores
Doutores
houvessem
houvessem
tido tido
de arar,
de arar,
semear,
semear,
colher,
colher,
carregar
carregar
e confeccionar
e confeccionaro queo que
têm têm
comido,
comido,
vestidovestido
e jogado
e jogado
durante
durante
sua vida
sua vida
útil...útil...
não não
saberiam
saberiam
tanto:...
tanto:...
estariam
estariam
nos campos
nos campose seriam
e seriam
tão brutos
tão brutos
comocomo
seus seus
escravos.
escravos.
(Rodríguez,
(Rodríguez,2016,2016,
p. 64)p. 64)
Rodríguez
Rodríguez
é um
é um
professor
professor
irreverente,
irreverente,
respeitoso
respeitoso
das das
vidasvidas
castigadas,
castigadas, empobrecidas
empobrecidas pelopelo poder
poder colonial,
colonial, masmas insubmisso
insubmisso diante
diante
dessedesse
mesmo
mesmo
poder.
poder.
No final de OdeLibertador
No final O Libertador
do Meio-Dia
do Meio-Dia
da América
da América
e seus
e seus
companheiros
companheiros
de armas,
de armas,
defendidos
defendidos
por por
um um
amigo
amigo
da causa
da causa
socialsocial
, após, após
refletir
refletir
sobre
sobre
o “fracasso”
o “fracasso”
de seu
de seu
projeto
projeto
de Educação
de Educação

127 127
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

popular,
popular,
escreve
escreve
sobre
sobre
suassuas
qualidades
qualidades
comocomo
Diretor
Diretor
da escola
da escola
e seu
e seu
comportamento em tal
comportamento emposição:
tal posição:
Desinteressado,
Desinteressado, prudente,
prudente,aficionado
aficionado
pela pela
invenção
invenção
e pelos
e pelos
trabalhos
trabalhos
mecânicos,
mecânicos, estudioso,
estudioso,
despreocupado,
despreocupado, enfim…
enfim…
homem
homem
do mundo
do mundo [...] É[...]
muito
É muito
fácil fácil
realizar
realizar
os serviços
os serviços
que que
pedepede
a Direção,
a Direção,porqueporque
os desejam
os desejam
fazer;fazer;
não não
obstante,
obstante,
é é
muitomuito
difícildifícil
reduzi-los
reduzi-los a uma a uma cega cegasubmissão
submissão[...] [...]
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p.66).p.66).
A escola
A escola
de Órfãos
de Órfãos
e Garotos
e Garotos
de Carpintaria
de Carpintaria
de Chuquisaca
de Chuquisaca
é é
pensada
pensada na contramão
na contramão dos dos desejos
desejos da oligarquia
da oligarquia da cidade.
da cidade. Os setores
Os setores
privilegiados
privilegiados querem
querem que que a primeira
a primeira escola
escola da república
da república seja seja
umauma
instituição
instituição seleta
seleta destinada
destinada a formar
a formar quadros
quadros intelectuais
intelectuais e políticos
e políticos
(Vera Peñaranda,
(Vera 2008).
Peñaranda, Por Por
2008). esseesse
motivo, suassuas
motivo, aulasaulas
deveriam ser ser
deveriam
habitadas pelapela
habitadas alta alta
sociedade, pelapela
sociedade, parteparte
maismais
seleta e destacada
seleta em em
e destacada
função de suas
função origens
de suas familiares.
origens Por Por
familiares. isso,isso,
a escola de Chuquisaca
a escola de Chuquisaca
deveria gerargerar
deveria reverência parapara
reverência poder replicá-la
poder fora fora
replicá-la dela.dela.
No entanto, ali ali
No entanto,
acontece algoalgo
acontece muito diferente.
muito Na escola
diferente. Na escola
filosófica
filosófica
popular
popular
de Simón
de Simón
Rodríguez,
Rodríguez, a irreverência
a irreverência se desdobra
se desdobra juntojunto à hospitalidade,
à hospitalidade, a partir
a partir do do
princípio igualitário.
princípio Porque
igualitário. somos
Porque todos(as)
somos iguais,
todos(as) na escola
iguais, não não
na escola tem tem
espaço
espaçoparaparareverências,
reverências,especialmente,
especialmente,diante
diantedaquilo
daquiloque que
compromete ou ou
compromete ameaça esseesse
ameaça princípio. Trata-se,
princípio. então,
Trata-se, de de
então, umauma
hospitalidade irreverente
hospitalidade ou ou
irreverente de uma irreverência
de uma hospitaleira.
irreverência EssaEssa
hospitaleira.
escola recebe
escola todos
recebe e todas
todos sem sem
e todas medo, sem sem
medo, condições, nemnem
condições, exclusões,
exclusões,
sem sem
submissões, semsem
submissões, temer ninguém
temer nemnem
ninguém nada,nada,
muito menos
muito àquilo
menos àquilo
que que
ameaça o princípio
ameaça igualitário.
o princípio EstaEsta
igualitário. hospitalidade irreverente
hospitalidade ou ou
irreverente
irreverência hospitaleira
irreverência neganega
hospitaleira qualquer submissão
qualquer a outra
submissão pessoa,
a outra pessoa,
inclusive, a outra
inclusive, instituição
a outra ou ao
instituição ou próprio Estado.
ao próprio Sua Sua
Estado. afirmação
afirmação
supõe problematizar
supõe os os
problematizar saberes e práticas
saberes hierarquizadas
e práticas das das
hierarquizadas
instituições, como
instituições, estruturas
como de administração
estruturas econômica
de administração e social:
econômica e social:

128 128
Para finalizar:
Para finalizar:
princípios
princípios
(inícios)
(inícios)
de umade escola
uma escola
filosófica
filosófica
popular
popular

exigeexige
também
também
questionar
questionar
a lógica
a lógica
dos dos
desiguais
desiguais
implementada
implementada
a partir
a partir
do do princípio
princípio desigualitário.
desigualitário. Assim,
Assim, a afirmação
a afirmação da da irreverência
irreverência
desarticula
desarticula um um determinado
determinado estado
estado de coisas
de coisas normalizado
normalizado no interior
no interior
das das instituições
instituições escolares.
escolares.
No No
casocaso
de de Simón
Simón Rodríguez,
Rodríguez, a afirmação
a afirmação igualitária,
igualitária, de de
hospitalidade
hospitalidade e irreverente
e irreverente de receber
de receber a todos
a todos e todas
e todas em um
em um mesmo
mesmo
espaço
espaço de aula
de aula desloca
desloca as formas
as formas consolidadas
consolidadas do saber
do saber pedagógico
pedagógico
parapara
dar dar
nomenome àquilo
àquilo que que acontece
acontece nas nas escolas.
escolas. É tão
É tão comovedor
comovedor o o
gestogesto político
político de Rodríguez,
de Rodríguez, tão tão irreverente
irreverente sua sua proeza
proeza filosófica,
filosófica, que que
as palavras
as palavras da ordem
da ordem de coisas
de coisas pedagógicas
pedagógicas não não conseguem
conseguem dar dar
nomenome
a isso
a isso que que na escola
acontece
acontece na escola
filosófica
filosófica
popular
popular
. As. autoridades
As autoridades
se se
referem a elaa não
referem como
ela não umauma
como escola nemnem
escola um um
colégio, masmas
colégio, comcom
nomes
nomes
alheios
alheios ao mundo
ao mundo escolar,
escolar, porque
porque a partir
a partir dessedesse mundo
mundo linguístico
linguístico e e
institucional
institucional não não é possível
é possível pensar,
pensar, entender
entender nemnem
dar dar
um um nome
nome a ela:a ela:
prostíbulo,
prostíbulo, bordel,
bordel, lugarlugar de corrupção
de corrupção dos dos meninos,
meninos, são são apenas
apenas alguns
alguns
dos dos nomes
nomes as pessoas
que que as pessoas
decentes
decentes
utilizam
utilizam
parapara
nomear,
nomear,
sem sem
poder
poder
nomear,
nomear, o que
o que não não podem
podem pensar
pensar nemnem a escola
entender:
entender: a escola
filosófica
filosófica
popular
popular
. Dessa
. Dessa
forma,
forma,
a irreverência
a irreverência
se desdobra
se desdobra
comocomo
umauma
forma
forma
de de
estrangeirismo,
estrangeirismo, de falar
de falar outraoutra língua,
língua, de ignorar
de ignorar – não
– não porque
porque não não
sejam
sejam conhecidas,
conhecidas, masmas porque
porque são são conhecidas,
conhecidas, masmas
não não aceitas
aceitas – as– as
hierarquias
hierarquias e desigualdades
e desigualdades predominantes
predominantes nos nos sistemas
sistemas educacionais
educacionais
institucionalizados.
institucionalizados.
A política
A política igualitária
igualitária e irreverente
e irreverente geragera
umauma reação
reação violenta
violenta que que
declara
declara a guerra
a guerra em todos
em todos os âmbitos
os âmbitos possíveis:
possíveis: linguístico,
linguístico, econômico,
econômico,
político.
político. A violência
A violência é talé que
tal que
não não
parapara
até até literalmente
literalmente demolir
demolir a a
escola.
escola. A existência
A existência de um
de um espaço
espaço educacional
educacional acolhedor
acolhedor e irreverente
e irreverente

129 129
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

provoca
provoca
a potência
a potência
coerciva
coerciva
maismais
destrutiva
destrutiva
e repressora
e repressora
do Estado.
do Estado.
EssaEssa
resposta violenta
resposta contra
violenta a institucionalização
contra da da
a institucionalização irreverência
irreverência
hospitaleira mostra
hospitaleira sua sua
mostra potência: ela éelainaceitável
potência: porque
é inaceitável ameaça
porque as as
ameaça
basesbases
políticas que que
políticas sustentam o Estado
sustentam e todas
o Estado as hierarquias
e todas por por
as hierarquias ele ele
administradas. AlémAlém
administradas. disso, não não
disso, se trata apenas
se trata de um
apenas novonovo
de um espaço parapara
espaço
pensar, masmas
pensar, de um espaço
de um parapara
espaço viverviver
em em
comunidade a partir
comunidade dessadessa
a partir
novanova
realidade. Trata-se
realidade. de uma
Trata-se novanova
de uma forma de habitar
forma o comum.
de habitar Ali, Ali,
o comum.
outraoutra
vidavida
em comum é afirmada
em comum e mostrada
é afirmada como
e mostrada possível,
como necessária.
possível, necessária.
Por Por
isso,isso,
é, aoé, mesmo tempo,
ao mesmo umauma
tempo, ameaça parapara
ameaça a continuidade de um
a continuidade de um
determinado estado
determinado de coisas
estado e uma
de coisas abertura
e uma parapara
abertura a transformação
a transformação
radical do do
radical mesmo. Nesse
mesmo. sentido,
Nesse trata-se
sentido, de de
trata-se umauma
afirmação
afirmação
revolucionária que que
revolucionária desdobra umauma
desdobra potência disruptiva
potência e emancipadora
disruptiva e emancipadora
que que
sobreviveu a todas
sobreviveu as tentativas
a todas de destruí-la.
as tentativas de destruí-la.

3. Comunismo
3. Comunismo

AquiAqui
não não
fazemos referência
fazemos a uma um
referência modo histórico
modo de produção,
histórico de produção,
masmas
a uma ordem
a uma social
ordem ondeonde
social as coisas materiais
as coisas e imateriais
materiais são são
e imateriais
comuns, compartilhadas.
comuns, Já vimos
compartilhadas. como,
Já vimos parapara
como, Rodríguez, o saber
Rodríguez, não não
o saber é é
umauma
propriedade individual.
propriedade escola
Na Na
individual. escola
filosófica
filosófica
popular
popular
, o ,saber
o saber
é é
coletivo, em em
coletivo, doisdois
sentidos. Em Em
sentidos. primeiro lugar,
primeiro o saber
lugar, serveserve
o saber aos aos
homens e mulheres
homens parapara
e mulheres viverviver
em uma sociedade
em uma voltada
sociedade parapara
voltada o bem
o bem
comum. Nesse
comum. sentido,
Nesse as faculdades
sentido, concedidas
as faculdades pelopelo
concedidas conhecimento só só
conhecimento
servem
servem
parapara
defender
defender
o bem
o bem
de todas(os)
de todas(os)
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.I, p.
T.I,291).
p. 291).
Por Por
sua sua
vez, vez,
o bem comum
o bem está está
comum ligado ao conhecimento
ligado dos dos
ao conhecimento princípios
princípios
sociais
sociais
estruturados
estruturados
na premissa
na premissa
"ver "ver
nos nos
interesses
interesses
do Próximo
do Próximo
os os

130 130
Para finalizar:
Para finalizar:
princípios
princípios
(inícios)
(inícios)
de umade escola
uma escola
filosófica
filosófica
popular
popular

SeusSeus
próprios"
próprios"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 203).
p. 203).
O saber
O saber
é coletivo
é coletivo
porque
porque
compete
compete
a todas(os),
a todas(os),
porque
porque
deledele
depende
depende
a consolidação
a consolidação
de uma
de uma
novanova
sociedade
sociedade
na qual
na qual
"não"não
haveria
haveria
Amos,
Amos,
porque
porque
não não
haveria
haveria
escravos
escravos
– –
nemnem
marionetes,
marionetes,
porque
porque
não não
haveria
haveria
quemquem
os fizesse
os fizesse
dançar
dançar
– nem
– nem
guerras,
guerras,
por por
que que
não não
haveria
haveria
a quem
a quem
arriar
arriar
ao matadouro"
ao matadouro"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 237).
p. 237).
Em Em segundo
segundo lugar,
lugar, o saber
o saber é coletivo
é coletivo porque
porque todas(os)
todas(os) têm têm
acesso a elea eelecontribuem
acesso comcom
e contribuem a suaa sua
formação. Nesse
formação. sentido,
Nesse não não
sentido, devedeve
ser negado a ninguém,
ser negado vistovisto
a ninguém, que que
é tãoé tão
necessário quanto
necessário o pão.
quanto Sobre
o pão. Sobre
isso isso
escreve:
escreve:
“Não“Não
se pode
se pode
negar
negar
que que
é inumanidade
é inumanidade
privar
privar
um um
homem
homem
dos dos
conhecimentos
conhecimentos
que que
necessita
necessita
parapara
se se
entender
entender
comcom
seusseus
semelhantes,
semelhantes,
vistovisto
que,que,
sem sem
eles,eles,
sua sua
existência
existência
é precária,
é precária,
e suae sua
vida...
vida...
miserável.”
miserável.”
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 138).
p. 138).
E uma
E uma
linhalinha
depois,
depois,
afirma:
afirma:
“Perguntar
“Perguntar
ao que
ao que
advoga
advoga
pelapela
Instrução
Instrução
GeralGeral
comcom
que que
títulos
títulos
o fazo éfaz
o cúmulo
é o cúmulo
da insensatez,
da insensatez,
porque
porque
PedirPedir
o necessário
o necessário
é direito
é direito
natural,
natural,
Reclamar
Reclamar
o que
o que
é devido
é devido
é doé do
direito
direito
civil civil
[...]”[...]”
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 139).
p. 139).
Ao Ao
longo
longo
de de
seusseus
textos,
textos,
existem
existem
numerosas
numerosas
referências
referências
à à
necessidade
necessidade
de de
não não
excluir
excluir
ninguém
ninguém
da da
escola,
escola,
nemnem
dos dos
saberes
saberes
coletivos
coletivos
(Rodríguez,
(Rodríguez,
19991999
T.I, p.
T.I,234,
p. 234,
p. 333;
p. 333;
Rodríguez
Rodríguez
1999,1999,
T.II, T.II,
p.13;p.13;
Rodríguez,
Rodríguez,
2016,2016,
p. 73-74,
p. 73-74,
p. 138-140,
p. 138-140,
p. 236-237).
p. 236-237).
O povo
O povo
republicano
republicano
se se forma
forma à medida
à medida que que
os os saberes
saberes coletivos
coletivos são são produzidos,
produzidos,
transmitidos
transmitidos e reproduzidos
e reproduzidos por por todos
todos aqueles
aqueles que que fazem
fazem parteparte
dessadessa
sociedade.
sociedade. Nesse
Nesse sentido,
sentido, escreve
escreve em em
um um de seus
de seus últimos
últimos textos
textos
publicados
publicados em vida:
em vida:

131 131
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

Nas Repúblicas,
Nas Repúblicas,
a Escola
a Escola
deve deve
ser política;
ser política;
mas mas
também
também
sem sem
pretextos
pretextos nem nem disfarces.
disfarces. Na política
Na política saudável
saudável não não entram
entram
manhas, estratagemas
manhas, estratagemasnem nem ardilezas. A política
ardilezas. das das
A política
Repúblicas, com com
Repúblicas, relação à instrução,
relação à instrução,formaforma
homens para para
homens a a
sociedade. (Rodríguez,
sociedade. 1999,1999,
(Rodríguez, T.I, p.T.I,235)
p. 235)
ParaPara
Rodríguez,
Rodríguez,
o saber
o saber
é oferecido
é oferecido
de forma
de forma
incondicional
incondicional
a a
todas(os)
todas(os) e qualquer
e qualquer um. um. É algo
É algo compartilhado,
compartilhado, comum
comum a todos
a todos os os
homens e mulheres:
homens está está
e mulheres: à disposição de de
à disposição todas(os) parapara
todas(os) ser ser
compartilhado e utilizado
compartilhado livremente
e utilizado por por
livremente qualquer um um
qualquer de de
forma
forma
cooperativa. A ajuda
cooperativa. entreentre
A ajuda as pessoas é chave
as pessoas parapara
é chave o desenvolvimento
o desenvolvimento
de novas
de novas
sociedades.
sociedades. Conselhos
Em Em Conselhos
de amigo,
de amigo,
dados
dados
ao Colégio
ao Colégio
de de
Latacunga
Latacunga
ao fazer
ao fazer
referência
referência
ao currículo
ao currículo
afirma
afirma
que que
os docentes
os docentes
deviam
deviam dedicar
dedicar todos
todos os os
dias dias
suassuas lições
lições "[...]"[...] insistindo
insistindo na na
confraternidade"
confraternidade"
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.II, T.II,
p. 10).
p. 10).
O saber
O saber
é mais
é mais
um um
elemento a serviço
elemento das das
a serviço pessoas; encontra-se
pessoas; aberto
encontra-se ao uso
aberto coletivo
ao uso coletivo
indiscriminado de todos
indiscriminado aqueles
de todos que que
aqueles formam a sociedade
formam e livre
a sociedade das das
e livre
relações de propriedade.
relações Ao contrário
de propriedade. do trabalho
Ao contrário material,
do trabalho no qual
material, no qual
predomina um um
predomina tipo tipo
de propriedade social,
de propriedade no trabalho
social, intelectual
no trabalho a a
intelectual
propriedade está está
propriedade totalmente superada.
totalmente superada.
Assim, na obra
Assim, de Rodríguez,
na obra conhecimento
de Rodríguez, e saber
conhecimento são são
e saber da da
ordem do comum,
ordem do compartilhado
do comum, por por
do compartilhado todas(os) e para
todas(os) todas(os).
e para todas(os).
No fragmento da introdução
No fragmento de Sociedades
da introdução de Sociedades
Americanas
Americanas
, escreve
, escreve
sobre
sobre
esta esta questão
questão e sobre
e sobre as consequências
as consequências sociais
sociais implícitas
implícitas na posição
na posição
dominante:
dominante:
A quem
A quem acredite
acredite
ser muito
ser muitonatural
natural
(por (por
consequência,
consequência,
necessário)
necessário)
que que
a riqueza
a riqueza
deva deva
ser asermedida
a medida
dos direitos
dos direitos
políticos
políticos
– que– oque
maior
o maior
númeronúmero
não deve
não deve
pensar
pensar
senãosenão
em em
buscar
buscar
o pãoo pão
– que– que
pela pela
rouparoupa
e o ofício
e o ofício
deve-se
deve-se
julgarjulgar
o o
talento,
talento,
e quee que
se osetalento
o talentochegasse
chegasse
a sera comum,
ser comum, as as
pessoas
pessoas
de família
de família
ou riqueza
ou riqueza
não não
saberiam
saberiam
o queo que
fazerfazer
com com
o seu...Enfim,
o seu...Enfim,
quemquemveja veja
a sociedade
a sociedade
pintada
pintada
em um em um
quadro,
quadro,
cujo cujo
fundofundo
é crassa
é crassa
ignorância,
ignorância,
fazendo
fazendo
ressaltar
ressaltar

132 132
Para finalizar:
Para finalizar:
princípios
princípios
(inícios)
(inícios)
de umade escola
uma escola
filosófica
filosófica
popular
popular

um pequeno
um pequeno número
número
de SÁBIOS,
de SÁBIOS, rodeados
rodeados
de umde reflexo
um reflexo
de meia
de meiatintatinta
– ou– um ou umteatroteatro
em queem queaparecem
aparecem
uma uma
infinidade
infinidade
de marionetes
de marionetessujas,sujas,
executando
executando
uma uma
diversidade
diversidade
de movimentos,
de movimentos, e unse uns
poucos,
poucos,
muitomuito
puros,
puros,
acomodados
acomodados
em suas
em suas
poltronas,
poltronas,
mão mãosobresobre
mão,mão,
olhando,
olhando,
ou passeando,
ou passeando,
de dois
de dois
em dois,
em dois,
com comos braços
os braçospendurados.
pendurados.
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p.182)p.182)
No caso
No caso
da escola
da escola
popular,
popular,
o saber,
o saber,
os conhecimentos
os conhecimentos
e oseafetos
os afetos
são são considerados
considerados propriedade
propriedade comum.
comum. As produções
As produções imateriais
imateriais não não
são são
de de ninguém
ninguém em em especial,
especial, masmas comuns
comuns a toda
a toda a comunidade
a comunidade
educacional.
educacional. Trata-se
Trata-se de criações
de criações autônomas,
autônomas, abertas
abertas e contínuas
e contínuas que que
podem
podem ser aproveitadas
ser aproveitadas por por todas(os)
todas(os) e qualquer
e qualquer um. um. Nesse
Nesse sentido,
sentido, o o
sabersaber
que que desdobra
desdobra a escola
a escola popular
popular de Rodríguez
de Rodríguez é comunista
é comunista comcom
a a
densidade
densidade histórica,
histórica, conceitual
conceitual e política
e política do termo.
do termo. Ou Ou a escola
seja,seja, a escola
filosófica
filosófica popular
popular é comunista
é comunista
no sentido
no sentido
do Manifesto
do Manifesto
comunista:
comunista:
a a
abolição
abolição
da propriedade
da propriedade
privada
privada
e a eafirmação
a afirmação
da propriedade
da propriedade
comum
comum
(Marx;
(Marx;
Engels,
Engels,
1999,1999,
p. 53).
p. 53).
Assim,
Assim, este este manifesto
manifesto busca,
busca, afirma
afirma e deseja
e deseja umauma escola
escola na qual
na qual
os bens
os bens imateriais
imateriais sejam
sejam de todas(os)
de todas(os) e dee ninguém.
de ninguém.
UmaUma escola
escola que que
inaugura
inaugura novos
novos presentes
presentes em em nossas
nossas formas
formas de nos
de nos relacionarmos,
relacionarmos,
outraoutra
vidavida filosófica
filosófica e política
e política na escola
na escola e fora
e fora dela:dela:
umauma escola
escola do do
presente,
presente, no presente,
no presente, parapara o presente.
o presente.

4. Pergunta
4. Pergunta

Na escola de Chuquisaca
Na escola ensina-se,
de Chuquisaca antesantes
ensina-se, de tudo, a perguntar.
de tudo, a perguntar.
Claro,
Claro, importam
importam também
também os conhecimentos,
os conhecimentos, aprender
aprender um um ofício,
ofício,
trabalhar
trabalhar e viver
e viver do do próprio
próprio trabalho,
trabalho, muitas
muitas outras
outras coisas
coisas são são
importantes.
importantes. MasMas
parapara Rodríguez,
Rodríguez, o mais
o mais importante,
importante, principal
principal e e

133 133
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

primeiro
primeiro
é que
é que
as crianças
as crianças
aprendam
aprendam
a pensar
a pensar
perguntando,
perguntando,
perguntar
perguntar
pensando. E que
pensando. façam
E que isso isso
façam o mais rápido
o mais possível,
rápido porque
possível, se se
porque
aprenderem a pensar
aprenderem depois,
a pensar poderão
depois, aprender
poderão o que
aprender quiserem:
o que quiserem:
OBEDECER
OBEDECER CEGAMENTE
CEGAMENTE é o éprincípio
o princípio
que que
governa.
governa.
Por Por
isso existem
isso existem tantos
tantos Escravos
Escravos – e isso
– e por por éisso
Amoé Amo o primeiro
o primeiro
a querer
a querer ser. Ensinem
ser. Ensinem as crianças
as crianças a serem
a serem PERGUNTONAS!
PERGUNTONAS!
Para Para
que, que, pedindo
pedindo o POR o POR
QUÊ,QUÊ, daquilo
daquilo que que mandarem
mandarem
fazer,fazer,
acostumem-se
acostumem-se a obedecer…
a obedecer… à RAZÃO!
à RAZÃO! Não Não
à à
AUTORIDADE,
AUTORIDADE, comocomo
os LIMITADOS.
os LIMITADOS. NemNem os COSTUMES,
os COSTUMES,
comocomoos ESTÚPIDOS
os ESTÚPIDOS(Rodríguez, 1999,1999,
(Rodríguez, T.II, p.
T.II,27).
p. 27).
Se quisermos
Se quisermos
umauma
sociedade
sociedade
semsem
escravos,
escravos,
precisamos
precisamos
educar
educar
crianças
crianças perguntonas,
perguntonas, que que busquem
busquem os por
os por quêsquês
das das coisas
coisas e não
e não se se
limitem aos aos
limitem hábitos e costumes,
hábitos nemnem
e costumes, às autoridades que que
às autoridades governam. É É
governam.
necessário indagar
necessário as razões
indagar que que
as razões nos nos
levam a sera oserque
levam somos,
o que a raiz
somos, a raiz
da realidade colonial
da realidade que que
colonial habitamos parapara
habitamos poder ser de
poder ser outra forma
de outra e e
forma
construir a república
construir que que
a república precisamos. É necessária
precisamos. umauma
É necessária pedagogia em, em,
pedagogia
de, com, parapara
de, com, e através da pergunta.
e através da pergunta.
Diríamos que que
Diríamos este este
é umé um
princípio não não
princípio só para as crianças,
só para masmas
as crianças,
também parapara
também os os
responsáveis de de
responsáveis ensiná-las, seusseus
ensiná-las, professores e e
professores
professoras. É uma
professoras. época
É uma na qual
época os governos
na qual latino-americanos
os governos são são
latino-americanos
tentados a incorporar
tentados métodos
a incorporar alfabetizadores
métodos rápidos,
alfabetizadores técnicos,
rápidos, técnicos,
econômicos, aos aos
econômicos, quaisquais
Rodríguez se opõe
Rodríguez terminantemente
se opõe porque,
terminantemente porque,
justamente, não não
justamente, ensinam a pensar,
ensinam e sim
a pensar, a repetir
e sim e decorar
a repetir de de
e decorar
memória
memória
(Rodríguez,
(Rodríguez,
2016,2016,
p. 218-219).
p. 218-219).
Rodríguez
Rodríguez
chama
chama
as escolas
as escolas
que que
adotam este este
adotam método de "ESCOLAS
método DE DE
de "ESCOLAS VAPOR" porque
VAPOR" comcom
porque poucos
poucos
professores
professores
ensinam
ensinam
milhares
milhares
de crianças
de crianças
(Rodríguez,
(Rodríguez,
1999,1999,
T.II, T.II,
p. p.
186).186).
Na realidade
Na realidade
são são
des-ensinadas,
des-ensinadas,
são são
des-educadas,
des-educadas,
afastadas
afastadas
da da
formação em eem
formação para umauma
e para vidavida
republicana.
republicana.

134 134
Para finalizar:
Para finalizar:
princípios
princípios
(inícios)
(inícios)
de umade escola
uma escola
filosófica
filosófica
popular
popular

Rodríguez
Rodríguez
afirma
afirma
um(a)
um(a)
professor(a)
professor(a)
que que
pense,
pense,
invente,
invente,
que que
se se
preocupe
preocupe igualmente
igualmente por por todas(os)
todas(os) e cada
e cada um, um, ou seja
ou seja também
também por por
si si
mesmo,
mesmo, por por habitar
habitar o mesmo
o mesmo espaço
espaço da pergunta
da pergunta e o epensamento
o pensamento
das(os)
das(os) alunas(os).
alunas(os). Professoras(es)
Professoras(es) e alunas(os)
e alunas(os) inventores,
inventores, através
através de de
suassuas perguntas
perguntas e pensar,
e pensar, formam
formam a educação
a educação que que habita
habita a escola
a escola de de
Chuquisaca.
Chuquisaca. Talvez
Talvez por por
isso,isso,
nessanessa escola
escola se aprende
se aprende e ensina
e ensina a a
perguntar
perguntar e pensar,
e pensar, antesantes de elerescrever:
de ler e escrever: o mais
o mais importante
importante que que
devedeve ser aprendido
ser aprendido é mover
é mover a atenção,
a atenção, comocomo
só asópergunta
a pergunta consegue:
consegue:
parapara questionar
questionar o mundo
o mundo compartilhado
compartilhado e pensar,
e pensar, juntojunto a iguais,
a iguais, outro
outro
mundo.
mundo.
Dessa
Dessa forma,
forma, aprende-se
aprende-se e vive-se
e vive-se em em escola
umauma escola
filosófica
filosófica
popular
popular
: entre
: entre
iguais,
iguais,
comcom
iguais,
iguais,
a partir
a partir
de iguais.
de iguais.
Perguntando
Perguntando
e e
pensando.
pensando. Cultivando
Cultivando e vivendo
e vivendo umauma hospitalidade
hospitalidade irreverente,
irreverente, ímpar.
ímpar.
De De perguntas
perguntas e dee pensamento
de pensamento vive-se
vive-se nessanessa escola:
escola: perguntas
perguntas e e
pensamentos
pensamentos que que
são são de todas(os),
de todas(os), de qualquer
de qualquer um(a)
um(a) que que se atrever
se atrever a a
querer
querer gritá-los
gritá-los para,para, de modo
de modo irreverente
irreverente e intempestivo,
e intempestivo, transformar
transformar
as formas
as formas da ordem
da ordem predominante
predominante e afirmar
e afirmar outraoutra ordem
ordem maismais sensível
sensível
e atenta
e atenta à própria
à própria terra.terra. Afirmar
Afirmar sonhando,
sonhando, sonhar
sonhar afirmando,
afirmando, é aé a
finalidade da escola
finalidade da escola
filosófica
filosófica
popular
popular
: viver
: viver
sonhando,
sonhando,
sonhar
sonhar
vivendo.
vivendo.

135 135
POSTP-OST -SCRIPTUM
SCRIPTUM : O TEMPO
: O TEMPO
DE UM
DE MANIFESTO
UM MANIFESTO

A escola
A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
de de
Simón
Simón
Rodríguez
Rodríguez
é intempestiva.
é intempestiva.
Contrária aos valores
Contrária imperantes
aos valores em seu
imperantes tempo,
em seu não não
tempo, podepode
ser chamada
ser chamada
de de
escola e seus
escola detratores
e seus precisam
detratores demoli-la,
precisam destruí-la.
demoli-la, Sua Sua
destruí-la.
(excessiva e exagerada)
(excessiva presença
e exagerada) é insuportável.
presença Talvez
é insuportável. seja seja
Talvez umauma
ameaça grande
ameaça demais
grande parapara
demais o projeto político
o projeto e filosófico
político enfrentado.
e filosófico enfrentado.
O caráter
O caráter da escola
intempestivo
intempestivo da escola
filosófica
filosófica
popular
popular
é comprovado
é comprovado
em em diversas
diversas dimensões
dimensões que que tentamos
tentamos sugerir
sugerir nesteneste texto.
texto. Em Em alguns
alguns
casos,
casos, fomos
fomos maismais incisivos.
incisivos. Em Em outros,
outros, só mostramos
só mostramos o que
o que precisa
precisa ser ser
pesquisado
pesquisado e pensado
e pensado maismais cuidadosamente.
cuidadosamente. EsteEste manifesto
manifesto querquer
ser ser
também,
também, ou ou principalmente,
principalmente, um um incentivo,
incentivo, um um estímulo,
estímulo, um um
provocador
provocador parapara pensar
pensar a escola
a escola que que queremos
queremos e precisamos
e precisamos na na
América
América neoliberal
neoliberal que que habitamos.
habitamos.
EntreEntre
essasessas dimensões
dimensões que que mostram
mostram o caráter
o caráter intempestivo
intempestivo da da
escola
escola
filosófica
filosófica
popular
popular
, está, está
a própria
a própria
experiência
experiência
temporal
temporal
que que
umauma
escola
escola permite
permite viverviver àqueles(as)
àqueles(as) que que a habitam.
a habitam. Sua Sua presença.
presença. Sua Sua
vidavida
presente. A escola
presente. A escola
filosófica
filosófica
popular
popular
respira
respira
e permite
e permite
experimentar
experimentar
o o
tempo presente
tempo de uma
presente vidavida
de uma de hospitalidade, irreverente,
de hospitalidade, comunista
irreverente, e e
comunista
perguntona.
perguntona. É aÉ presença
a presença
de de
um um tempo
tempo muito
muito diferente
diferente ao ao
da da
concorrência,
concorrência, o mérito,
o mérito, o individualismo
o individualismo que que busca,
busca, atualmente,
atualmente,
naturalizar-se
naturalizar-se nas nas escolas
escolas de nosso
de nosso continente.
continente.
EsteEste manifesto
manifesto busca
busca dar dar
vida,vida, novamente,
novamente, em nosso
em nosso presente,
presente, a a
essaessa escola,
escola, a seua seu projeto
projeto filosófico
filosófico e político
e político de vida.
de vida. ComCom
ela, ela, torna-se
torna-se

137 137
Maximiliano
Maximiliano
LionelLionel
Durán;Durán;
WalterWalter
OmarOmar
KohanKohan

presente
presente
novamente
novamente
esseesse
tempo
tempo
de de
hospitalidade,
hospitalidade,
irreverência,
irreverência,
comunismo e pergunta.
comunismo Por Por
e pergunta. isso,isso,
este este
manifesto também
manifesto é é
também
intempestivo. Esperamos
intempestivo. receber
Esperamos as mesmas
receber palavras
as mesmas ditasditas
palavras a Rodríguez
a Rodríguez
e sua escola
e sua escola
filosófica
filosófica
popular
popular
: loucura,
: loucura,
excentricidade,
excentricidade,
romanticismo.
romanticismo.
Serão elogios,
Serão um um
elogios, carinho, umauma
carinho, honra. Mostrarão
honra. os compromissos
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