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1.

ATUALIZAÇÃO DE INFORMATIVOS – PACOTE ANTICRIME

• Retroatividade do ANPP
O acordo de não persecução penal aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei nº 13.964/2019,
desde que não recebida a denúncia
A Lei nº 13.964/2019 (“Pacote Anticrime”) inseriu o art. 28-A ao CPP, criando, no ordenamento
jurídico pátrio, o instituto do acordo de não persecução penal (ANPP). A Lei nº 13.964/2019, no
ponto em que institui o ANPP, é considerada lei penal de natureza híbrida, admitindo
conformação entre a retroatividade penal benéfica e o tempus regit actum. O ANPP se esgota na
etapa pré-processual, sobretudo porque a consequência da sua recusa, sua não homologação ou
seu descumprimento é inaugurar a fase de oferecimento e de recebimento da denúncia. O
recebimento da denúncia encerra a etapa pré-processual, devendo ser considerados válidos os
atos praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a retroatividade penal
benéfica incide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos anteriores à Lei nº 13.964/2019,
desde que não recebida a denúncia. Assim, mostra-se impossível realizar o ANPP quando já
recebida a denúncia em data anterior à entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019. STJ. 5ª Turma.
HC 607003-SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 24/11/2020 (Info 683).
STF. 1ª Turma. HC 191464 AgR, Rel. Roberto Barroso, julgado em 11/11/2020.

• Ação Penal no caso de estelionato


A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019,
retroage para alcançar os processos penais que já estavam em curso?
A exigência de representação da vítima no crime de estelionato não retroage aos processos cuja
denúncia já foi oferecida.STJ. 3ª Seção. HC 610201/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
24/03/2021 (Info 691).
Em face da natureza mista (penal/processual) da norma prevista no §5º do artigo 171 do Código
Penal, sua aplicação retroativa será obrigatória em todas as hipóteses onde ainda não tiver sido
oferecida a denúncia pelo Ministério Público, independentemente do momento da prática da
infração penal, nos termos do art. 2º, do CPP, por tratar-se de verdadeira “condição de
procedibilidade da ação penal”.
Assim, é inaplicável a retroatividade do §5º do art. 171 do Código Penal, às hipóteses onde o
Ministério Público tiver oferecido a denúncia antes da entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019;
uma vez que, naquele momento a norma processual em vigor definia a ação para o delito de
estelionato como pública incondicionada, não exigindo qualquer condição de procedibilidade para
a instauração da persecução penal em juízo.Em suma, a nova legislação não prevê a
manifestação da vítima como condição de prosseguibilidade quando já oferecida a denúncia pelo
Ministério Público.
STF. 1ª Turma. HC 187341, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 13/10/2020.
STF. 2ª Turma. ARE 1230095 AgR, Rel. Gilmar Mendes, julgado em 24/08/2020.

RETROATIVIDADE
ANPP ESTELIONATO
Até o recebimento da denúncia Até o oferecimento da denúncia

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Qual é a ação penal no caso do crime de estelionato? O tema foi recentemente alterado pela
Lei nº 13.964/2019:

QUAL É A AÇÃO PENAL NO CASO DO CRIME DE ESTELIONATO?

Antes Depois da Lei nº 13.964/2019

Regra geral: Regra geral: ação pública CONDICIONADA à representação.

Ação penal pública EXCEÇÕES – art. 171, § 5º, CP:Será de ação penal incondicionada
quando a vítima for:
INCONDICIONADA a) a Administração Pública, direta ou indireta;
b) criança ou adolescente;
Exceções:art. 182 CP c) pessoa com deficiência mental; ou
d) maior de 70 anos de idade ou incapaz.

Essa mudança é mais favorável aos autores do crime de estelionato, considerando que
agora existe, como regra, uma nova condição para que o Ministério Público possa ajuizar a ação penal
contra o autor do estelionato: a representação da vítima.

Isso significa que essa alteração irá retroagir para alcançar fatos anteriores à sua
vigência? SIM. O § 5º do art. 171 do CP apresenta caráter híbrido (norma mista) e, além disso, é
mais favorávelao autor do fato. Logo, tem caráter retroativo. A dúvida reside na extensão dessa
retroatividade:

A mudança na ação penal do crime de estelionato, promovida pela Lei 13.964/2019,


retroage para alcançar os processos penais que já estavam em curso? Mesmo que já houvesse
denúncia oferecida, será necessário intimar a vítima para que ela manifeste interesse na
continuidade do processo? NÃO. Havia divergência entre as Turmas do STJ, no entanto, o tema
foi pacificado. Ficou decidido que a exigência de representação da vítima no crime de estelionato
não retroage aos processos cuja denúncia já foi oferecida. STJ. 3ª Seção. HC 610.201/SP, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 24/03/2021 (Info 691). A retroatividade da representação
prevista no § 5º do art. 171 do CP deve se restringir à fase policial. A exigência de representação
no crime de estelionato, trazida pelo Pacote Anticrime, não afeta os processos que já estavam em
curso quando entrou em vigor a Lei nº 13.964/2019. Assim, se já havia denúncia oferecida quando
entrou em vigor a nova Lei, não será necessária representação do ofendido.

No caso do estelionato a retroatividade é admitida até o oferecimento da denúncia por


dois motivos:
1. Ato jurídico perfeito: Oferecida a denúncia a lei não exigia a representação do ofendido,
então, conforme a lei em vigor na época, o ato jurídico foi perfeito. Essa conclusão pela não-

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retroatividade resguarda a segurança jurídica e o ato jurídico perfeito (art. 25 do CPP), quando
já oferecida a denúncia.
2. Exigência de representação no crime de estelionato trazida pelo Pacote Anticrime: A
representação é condição de procedibilidade, devendo estar perfectibilizada para o início da
ação penal. Mas a representação também pode ser uma condição de prosseguibilidade (para
prosseguimento) da ação penal; contudo, não foi essa a previsão do pacote anticrime. Em
suma, o pacote anticrime não prevê a manifestação da vítima como condição de
prosseguibilidade quando já oferecida a denúncia pelo Ministério Público.Assim, se já havia
denúncia oferecida quando entrou em vigor a nova Lei, não será necessária representação do
ofendido, pois o § 5º do art. 171 é uma condição de procedibilidade (e não de
prosseguibilidade).

• Depois do Pacote Anticrime, é possível que o juiz, de ofício, converta a prisão em


flagrante em prisão preventiva?

Antes do Pacote Anticrime, a jurisprudência entendia que o juiz, após receber o auto de prisão
em flagrante, poderia, de ofício, converter a prisão em flagrante em prisão preventiva. A conclusão era
baseada na redação do art. 310, II, do CPP:

Art. 310. Ao receber o auto de prisão em flagrante, o juiz deverá fundamentadamente: (...) II -
converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do art.
312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas
da prisão; [...]

Porém, a Lei 13.964/2019 revogou trechos do CPP que previam a possibilidade de


decretação da prisão preventiva ex ofício:

CPP antes da Lei 13.964/2019 CPP ATUALMENTE


Art. 282. (...)§ 2º As medidas cautelares Art. 282. (...)§ 2º As medidas cautelares serão
serão decretadas pelo juiz, de ofício ou a decretadas pelo juiz a requerimento das partes
requerimento das partes ou, quando no ou, quando no curso da investigação criminal,
curso da investigação criminal, por por representação da autoridade policial ou
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público.
mediante requerimento do Ministério
Público.

Concluindo...Antes da Lei 13.964/2019, o juiz podia conceder medidas cautelares de


ofício?Com base na redação anterior do art. 282, § 2º do CPP, a posição majoritária era a seguinte:

 Na fase do inquérito policial: NÃO. Aqui era necessário pedido ou requerimento. Exceção:
conversão do flagrante em prisão preventiva.

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 Na fase judicial: SIM. O § 2º do art. 282 afirmava isso expressamente.

Após a Lei 13.964/2019, o juiz pode conceder medidas cautelares de ofício?NÃO. A Lei
alterou a redação do § 2º do art. 282 do CPP e acabou com a possibilidade.

PRISÃO PREVENTIVA

Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE


Art. 311. Em qualquer fase da investigação Art. 311. Em qualquer fase da investigação
policial ou do processo penal, caberá a prisão policial ou do processo penal, caberá a
preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no prisão preventiva decretada pelo juiz, a
curso da ação penal, ou a requerimento do requerimento do Ministério Público, do
Ministério Público, do querelante ou do querelante ou do assistente, ou por
assistente, ou por representação da autoridade representação da autoridade policial.
policial.

Conclusão: Para a corrente majoritária, foi excluída expressamente a possibilidade que


existia antes de que o juiz decretasse a prisão preventiva de ofício (sem requerimento). O juiz
deve ser provocado.Veja os julgados:

Após o advento da Lei nº 13.964/2019, não é mais possível a conversão da prisão em


flagrante em preventiva sem provocação por parte ou da autoridade policial, do querelante,
do assistente, ou do Ministério Público, mesmo nas situações em que não ocorre audiência
de custódia.A Lei nº 13.964/2019, ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, §
2º, e do art. 311, ambos do CPP, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva
sem o prévio requerimento das partes ou representação da autoridade policial.Logo, não é mais
possível, com base no ordenamento jurídico vigente, a atuação ‘ex officio’ do Juízo processante
em tema de privação cautelar da liberdade.
A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz do art. 282, § 2º e do art. 311,
significando que se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de
ofício, da prisão em flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por
isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal provocação do Ministério Público, da autoridade
policial ou, quando for o caso, do querelante ou do assistente do MP.Vale ressaltar que a prisão
preventiva não é uma consequência natural da prisão flagrante, logo é uma situação nova
que deve respeitar o disposto, em especial, nos arts. 311 e 312 do CPP.

STJ. 3ª Seção. RHC 131.263, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 24/02/2021 (Info
686).
STF. 2ª Turma. HC 188888/MG, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 6/10/2020 (Info 994).

O juiz poderia, então, atuar de ofício para revogar a preventiva, mas não para decretá-
la.

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• Não é possível que o juiz, de ofício, decrete a prisão preventiva; vale ressaltar, no
entanto, que, se logo depois de decretar, a autoridade policial ou o MP requererem a
prisão, o vício de ilegalidade que maculava a custódia é suprido.

O que acontece se o juiz decretar a prisão preventiva de ofício (sem requerimento)?


REGRA EXCEÇÃO
Se, após a decretação, a autoridade policial ou o Ministério Público
requererem a prisão, o vício de ilegalidade que maculava a custódia
A prisão deverá ser é suprido (convalidado) e a prisão não será relaxada. O posterior
relaxada por se tratar de requerimento da autoridade policial pela segregação cautelar ou
prisão ilegal. manifestação do Ministério Público favorável à prisão preventiva
suprem o vício da inobservância da formalidade de prévio
requerimento1.

• O descumprimento da regra do parágrafo único do art. 316 do CPP NÃO gera, para o
preso, o direito de ser posto imediatamente em liberdade.

A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal não implica
automática revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a
reavaliar a legalidade e a atualidade de seus fundamentos.STF. Plenário. SL 1395 MC
Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e 15/10/2020 (Info 995).

• A obrigação de revisar, a cada 90 dias, a necessidade de se manter a custódia cautelar


(art. 316, parágrafo único, do CPP) é imposta apenas ao juiz ou tribunal que decretar a
prisão preventiva.

A obrigação de revisar, a cada 90 (noventa) dias, a necessidade de se manter a custódia


cautelar (art. 316, parágrafo único, do Código de Processo Penal) é imposta apenas ao juiz
ou tribunal que decretar a prisão preventiva (julgador que a decretou inicialmente).
A norma contida no parágrafo único do art. 316 do CPP não se aplica aos Tribunais de
Justiça e aos Tribunais Regionais Federais, quando em atuação como órgão revisor.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 569.701/SP, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
09/06/2020.
STJ. 6ª Turma. HC 589.544-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 08/09/2020 (Info 680).
A inobservância do prazo nonagesimal previsto no parágrafo único do art. 316 do Código de
Processo Penal não implica automática revogação da prisão preventiva, devendo o juízo
competente ser instado a reavaliar a legalidade e a atualidade de seus fundamentos.STF.
Plenário. SL 1395 MC Ref/SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14 e 15/10/2020 (Info 995).

• Citação por meio eletrônico

A Lei do processo eletrônico (11.419/2006) veda a citação por meios eletrônicos, no processo
penal. Contudo, em 2021, o STJ decidiu ser possível a citação por meio eletrônico:

É possível a utilização de WhatsApp para a citação de acusado, desde que sejam adotadas
medidas suficientes para atestar a autenticidade do número telefônico, bem como a
identidade do indivíduo destinatário do ato processual. STJ. 5ª Turma. HC 641877/DF, Rel.
Min. Ribeiro Dantas, julgado em 09/03/2021 (Info 688).

1 STJ. 5ª Turma. AgRg RHC 136708/MS, Rel. Min. Felix Fisher, julgado em 11/03/2021 (Info 691).

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