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SALVE XANGÔ!
Acostumamo-nos a definir Xangô como o Orixá da Justiça. Este conceito sempre nos
pareceu bastante limitado, pois se ateria basicamente à resolução das injustiças.
Encontramos outra definição: “XANGÔ É O SER EXISTENTE que coordena toda a
Lei Karmânica; é ainda, o Dirigente das Almas, o Senhor da Balança Universal, que
afere nosso estado espiritual.” Tal definição nos trouxe também estranhamento, pois não
vemos Xangô como Ser, mas como uma das Forças do contexto cósmico. Aceitamos
que ele tem relação com a Lei cármica, embora se considere que o carma é colhido pelo
que semeamos e pode ser compensado, através de atos regenerativos, mas não
suprimido, mesmo por ordens superiores. Cada um tem que responder pelo que semeou.
Quanto ao epíteto de Dirigente das Almas, devemos nos aprofundar mais, pois pelo que
se sabe, o Reino das Almas pertence ao Sr. Omulu e por outro lado aprende-se que
Xangô tem aversão à morte, embora ligado à Iansã, que tem forte ligação com mesma.
É necessário um estudo mais aprofundado sobre estas observações. Afirmam alguns que
o filho de Xangô não suporta a aproximação de eguns. Como poderia então um, filho de
Xangô trabalhar num terreiro, se mesmo suas mais evoluídas entidades são, na verdade
eguns? Sendo uma forma de evolução o médium trabalhar para a caridade, e nisto reside
muitas vezes participar junto à Espiritualidade Superior, de trabalhos de desobssessão,,,
seria um entrave ao desenvolvimento mediúnico de um filho de Xangô. Temos então de
nos aprofundar nos estudos para compreender mais estas argumentações, para podermos
discutir baseados em fundamentos.
Foi observado que a interação entre Omulu e Xangô é uma realidade, ao contrário do
que se pensa, se considerarmos as qualidades de Xangô Alufan e Xangô Aganju, que
são representantes de Xangô na Linha das Almas. DE autor desconhecido, tiramos um
parágrafo que nos pareceu muito coerente sob este aspecto: “Alguns médiuns têm em
sua coroa a vibração de mais de um Orixá e podem ter fortemente Xangô (Pai de
cabeça), porém traços de Omulu. Dessa forma, pode, por exemplo, ter seu Caboclo
vibrando na linha de Xangô e seu Preto Velho na linha de Omulu.”
Enquanto meditamos, vamos refletir sobre o conhecido ponto abaixo:
“Ele é Xangô das Almas
ele é feito nas Almas
Ele é Xangô das Almas
ele é feito nas AlmasOh Almas, oh minhas almas
seu Agodô que venha nos valer
Oh Almas, oh minhas almas
seu Agodô que venha nos valer’
E quanto a ser Senhor da Balança Universal que afere nosso estado espiritual,
pesquisando mais um pouco, podemos observar que o anjo São Miguel, conhecido por
ser o portador da balança, é conhecido como o arcanjo tutor de Xangô. São Miguel
Arcanjo se eternizou na epopéia onde enfrenta Lúcifer, que narra a queda dos espíritos
do reino virginal (mas isto é uma outra história…)
Já Pai Rubens Saraceni mostra uma visão muito interessante. Pois ele coloca Xangô
como aquele que administra o equilíbrio cósmico. Ele tanto é o ponto de equilíbrio que
dá sustentação à estrutura atômica de um átomo, como é a força que dá estabilidade ao
Universo e a tudo o que nele existe, seja animado ou inanimado. Ele possui e doa uma
qualidade equilibradora, que faculta ao homem equilíbrio, juízo, racionalidade.
Explica-nos ainda o Pai Rubens: “Observem que o equilíbrio proporcionado por Xangô
não se limita só a um aspecto de nossa vida, já que ele, enquanto qualidade
equilibradora, está em todos. Xangô é o Trono de Deus gerador e irradiador do fator
equilibrador, mas o limitamos quando deixamos de recorrer a ele para ajudar-nos em
todos os aspectos e só o fazemos para anular demanda ou impor a Justiça Divina na vida
dos seres desequilibrados.”
No entanto, o aspecto da Justiça não deve ser nunca esquecido, lembrando que tudo tem
seu polo positivo e seu polo negativo. É sobre esta linha de força espiritual que se
agrupam todos os espíritos que coordenam a lei de causa e efeito, decorrente da lei
cármica como alicerce do mundo, e se manifestam na forma de caboclos, pretos velhos,
boiadeiros, entre outros. O pólo negativo do cumprimento da justiça de Xangô pertence
ao legado dos Exus e Pomba Giras.
Na linha da Justiça, Xangô tem conexão com Iansã. Iansã é seu aspecto móvel e Xangô
é seu aspecto assentado ou imutável, pois ela atua na transformação dos seres através de
seus magnetismos negativos. Iansã aplica a Lei nos campos da Justiça e é extremamente
ativa. Uma de suas atribuições é colher os seres fora-da-Lei e, com um de seus
magnetismos, alterar todo o seu emocional, mental e consciência, para, só então,
redirecioná-lo numa outra linha de evolução, que o aquietará e facilitará sua caminhada
pela linha reta da evolução.
Na pedreira, com Iansã, Xangô nos traz o arrojo, a determinação, a fortaleza, a
segurança, a firmeza e a sustentação. Na cachoeira, junto com Oxum, nos purifica, nos
energiza, nos dá vida, vigor, saúde e inteligência.
Os Setes Chefes de Legião da Vibração Espiritual de Xangô:
• Caboclo Xangô Pedra-Branca (intermediário para Oxalá)
• Caboclo Xangô Agodô (intermediário para Oxossi)
• Caboclo Xangô Sete Montanhas (intermediário para Ogum)
• Caboclo Xangô Sete Cachoeiras (intermediário para Yori)
• Caboclo Xangô Pedra-Preta (intermediário para Yorimá)
• Caboclo Xangô Sete Pedreiras (intermediário para Yemanjá)
XANGÔ KAÔ – É o principal e mais cultuado como dirigente desta linha. Também
conhecido como Xangô Velho. Vibra na cor marrom escuro, simbolizando a pedra
antiga na qual foi assentada a justiça, evidenciando a sabedoria. Ele atua na pedreira
sobre a qual está assentado o campo florido que recebe as obrigações de Oxalá.
XANGÔ ALAFIM – ECHÊ – Esta legião trabalha nas pedras solitárias dos caminhos
ou das matas que servem de assento a viajantes ou caçadores cansados, como que os
convidando à meditação que leva à sabedoria na busca de soluções para os impasses da
vida. Suas vibrações auxiliam oradores, intelectuais, juristas e juízes, pois defendem
integralmente a pureza moral. Suas oferendas são realizadas nas pedras solitárias.
XANGÔ ALUFAM – Esta legião trabalha nas pedras dos rios, dos mares, cachoeiras,
lagos e fontes. Xangô Alufam é considerado o protetor dos pescadores e responsável
pela diretriz dos desencarnados, pois possuem as chaves do céu, simbolizando a água e
a pedra. Suas oferendas são realizadas em todas as pedras que estejam em contato com a
água.
XANGÔ AGODÔ – Legião dos caboclos que trabalham nas pedras e que estão dentro
dos rios, nos seixos rolados, nas pedras iniciáticas e na pedra batismal. Suas oferendas
são realizadas nas pedras dos rios.
XANGÔ AGANJÚ – Esta legião trabalha na pedra da cachoeira, simbolizando a
harmonia entre o amor e a justiça. Ou entre a esposa Oxum e o marido Xangô, ou ainda
a harmonia conjugal, que abençoa a família. Suas oferendas são realizadas na pedra da
cachoeira, incluindo uma vela azul escuro ou rosa para Oxum.
XANGÔ ABOMI – É a legião de caboclos que trabalham nas montanhas de pedra ou
cadeias de montanhas interligadas, serras, etc. Sua força é muito solicitada nas horas de
aflição, quando se perde algo, além de proteger o casamento. Quando se pede a proteção
para o casamento, assenta-se uma vela azul claro oferecida a Yemanjá.
XANGO DJACUTÁ – É a legião mais conhecida como a do Deus Trovão e Senhor dos
Raios, Coriscos e Meteoritos. Djacutá também significa pedra. É o comandante dos
caboclos que trabalham na pedra do raio, simbolizando a justiça que vem do alto, ou
seja, a justiça cósmica que vem do Deus Criador. Sua força é muito solicitada nas horas
de aflição causadas por injustiças provocadas por outras pessoas, assentando-se uma
vela branca oferecida ao Orixá Tempo
E os caboclos de Xangô são entidades que trabalham nas numerosas falanges, algumas
delas representadas pelos nomes abaixo:
Araúna, Caboclo do Sol, Cajá, Caramuru, Cobra Coral, Girassol, Goitacaz, Guará,
Guaraná, Janguar, Juparã, Mirim, Sete Cachoeiras, Sete Caminhos, Sete Estrelas, Sete
Luas, Sete Montanhas, Sete Pedreiras, Tupi, Treme Terra, Sultão das Matas, Pedra
Preta, Cachoeirinha, Urubatão, Urubatão da Guia, Ubiratan, etc.
As pedras-do-raio – edun ará dos iorubanos – são fetiches de Xangô, imantados com a
força da divindade.
Acredita-se que essa pedra-do-raio, também chamada pedra-de-santa-bárbara, cai do
céu durante as tempestades, conduzida pelas faíscas elétricas, penetrando no chão a uma
profundidade de sete braças e só subindo à superfície após sete anos.
Quem consegue encontrar uma dessas pedras terá em mãos talismã dos mais valiosos,
que proporciona todas as venturas.
As pedras-do-raio são, na realidade, achados arqueológicos da era neolítica – machados,
martelos e fragmentos de artefatos de pedra polida, aos quais se atribuía uma origem
meteorológica.
Divindade dos meteoritos, na litolatria de Xangô, observou Nina Rodrigues, “se
confundem os casos de adoração dos penhascos e grandes pedras dos campos e
estradas”.
CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS A XANGÔ
Cor Marrom e Amarelo para Xangô Puro e Amarelo e Lilás para Xangô do Oriente
Fio de Contas Marrons e Amarelas para Xangô Puro e Amarelas e Lilases para Xangô
do Oriente
Ervas Saião, Morangueiro, Musgo da Pedreira, Quebra Pedra, Elevante, Para raio,
Saião
Símbolo Machado de duas Laminas, o Oxé
Pontos da Natureza Pedreira
Flores Palmas Amarelas e Lilases, Monsenhor Amarelo, Monsenhor Lilás, Violetas
Lilases e Saudades
Essências Melão e Lilás Para Xangô do Oriente, Morango Para Xangô Puro
Pedras Ametista Para Xangô do Oriente e Olho de Tigre Para Xangô Puro
Metal Estanho e Molibdênio
Saúde Fígado e vesícula
Planeta Júpiter
Dia da Semana Quarta-Feira
Elemento Fogo
Saudação Kaô Cabecile (Opanixé ô Kaô)
Bebida Cerveja Preta
Animais Tartaruga, Carneiro
Comidas Agebô, Amalá
Data Comemorativa 30 de Setembro
Sincretismo: São Judas Tadeu, São Jerônimo.
Os machados de duplo corte, que significam a alma em busca de equilíbrio são também
o símbolo da imparcialidade; A balança que significa a justiça de Oxalá;
A estrela de seis pontas, associada com a sabedoria de Salomão e representando o
equilíbrio entre o céu e a terra, a água e o fogo, o homem e a mulher, ou seja, representa
o equilíbrio universal. Na representação dos pontos riscados, são usados três tipos de
machados, como a seguir:
Oferendas para Xangô: velas brancas, vermelhas e marrom; cerveja escura, vinho tinto
doce e licor de ambrósia; flores diversas, tudo depositado em uma cachoeira, montanha
ou pedreira.
Xangô é sincretizado com as imagens de São Francisco de Assis, São Jerônimo, São
João Batista e São Pedro.
Na Umbanda chamada de cruzada e no Candomblé, cultua-se Xangô-Airá, velho e
alquebrado, veste-se de branco com barras vermelhas. Não come azeite, pois tem pacto
com Oxalá. Identificado com São Pedro, forma cada vez mais rara nos candomblés.
Xangô de Ouro, um adolescente vestido de cores variadas, é São João Menino. Não
“desce” mais, porque deixaram de ser encontradas as ervas necessárias, nos ritos de
iniciação, para a “entrada na cabeça” desse orixá. Um Xangô banido pela destruição
ecológica.
Xangô Ogodô dança com um ochê em cada mão e o próprio nome é referência ao
machado duplo, pois ogodô significa “que corta dos dois lados”.
Em Recife cultuam dois Xangôs principais: Xangô-Velho, identificado com São
Jerônimo, cuja festa é a 30 de setembro, e Xangô-Moço (Ani-Xangô), sincretizado com
Saõ João e celebrado a 24 de junho. Dos seus símbolos e insígnias, o machado duplo ou
“muleta” e o pilão são conservados no peji, de onde podem sair em determinados
rituais. Jamais é retirado, no entanto, o”corisco” ou itá ou otá (pedra-do-raio), que
permanece guardado num alguidar (oberá). Xangô é tão popular em Pernambuco, que o
nome passou a designar terreiros e, ainda mais extensamente, todas as seitas afro-
brasileiras.
Entre as várias formas de Xangô citam Xangô Dadá, em Porto Alegre identificado com
São João Batista e que no seu dia, 24 de junho, não “baixa” porque, com a queima de
fogos que o festejam, ele iria incendiar o mundo.
Cozinha ritualística
Caruru
Agebô
Corte os quiabos em rodelas bem fininhas em uma Gamela, e vá batendo eles como se
estivesse ajuntando eles com as mãos, até que crie uma liga bem Homogênea.
Rabada
Cozinhe a rabada com cebola e dendê. Em uma panela separada faça um refogado de
cebola dendê, separe 12 quiabos e corte o restante em rodelas bem tirinhas,
junte a rabada cozida. Com o fubá, faça uma polenta e com ela forre uma gamela,
coloque o refogado e enfeite com os 12 quiabos enfiando-os no amalá de cabeça para
baixo.
Xangô divide com Iansã a Machada da Justiça. Vejam o ponto:
Raio da manhã, vai e clareia.
Quando o sol levanta para clarear,
seus raios refletem a coroa de Oyá.
E rasgando o céu, trovão serpenteia,
Pra saudar o rei de todas as pedreiras.
Pra saudar o rei de todas as pedreiras.
Eparrei Iansã, Eparrei Oyá,
Caô cabecilê caô Xangô
Força da machada faz o julgamento
Corta a injustica com seu barra vento
Xangô manda na razão, Iansã nos sentimentos.
Xangô manda na razão, Iansã nos sentimentos.
Eparrei Yansã, Eparrei Oyá,
Caô cabecilê caô Xangô.
Guardião da paz, Xangô justiceiro.
Explendo de luz, Iansã guerreira.
É Xangô que traz as pedras, Iansã as corredeiras.
É Xangô que traz as pedras, Iansã as corredeiras.
Chamado o Batista porque, por ele, o povo era batizado no rio Jordão, confessando os
seus pecados.
João Batista e Jesus Nazareno eram primos em segundo grau, porque Maria e Isabel,
mães de Jesus e João, eram primas.
Diz-se que Jesus e João eram muito amigos e sempre andavam juntos, com pouca
diferença de idade (João era mais velho).
Aquele que O batizou nas águas do rio Jordão. De extrema força interior, representa
Xangô na parte da justiça, da verdade e da disciplina na luta contra as baixas emoções.
Na imagem de Xangô com o leão, o leão significa todas as nossas paixões contidas,
domadas.
Também vemos São João Batista, na força de Xangô, como protetor do povo boiadeiro.
Por vir na frente, batizando, lidava com as forças brutas, sem lapidação.
Lenda de Xangô
Xangô era rei de Oió, o mais temido e respeitado de todos os reis. Mesmo assim, um dia
seu
reino foi atacado por uma grande quantidade de guerreiros que invadiram a cidade
assassina. Xangô reagiu e lutou bravamente durante semanas. Um dia, porém, percebeu
que
a guerra tornara-se um caminho sem volta. Já havia perdido muitos soldados e a única
saída
seria entregar sua coroa aos inimigos. Resolveu então procurar por Orunmilá e pedir-lhe
um
conselho para evitar a derrota quase certa. O adivinho mandou que ele subisse uma
pedreira
e lá aguardasse, pois receberia do céu a iluminação do que deveria ser feito. Xangô
subiu e
quando estava no ponto mais alto do terreno foi tomado de extrema fúria. Pegando seu
oxê,
machado de duas lâminas, começou a quebrar as pedras com grande violência. Estas ao
línguas de fogo que, espalhando-se pela cidade, mataram uma grande quantidade de
emissário para servir-lhes de porta voz. O homem escolhido foi logo se atirando aos pés
de
Xangô. Desculpou-se pedindo perdão. Humilhando-se, explicou que lutavam, não por
vontade
própria, e sim forçados por um monarca, vizinho de Oió, que tinha um grande ódio de
Xangô e
que ele falava a verdade e perdoou a todos, aceitando-os como súditos de seu reino.
Assim
tornou-se conhecido como o orixá justiceiro que perdoa quando defrontado com a
verdade,
A Justiça de Xangô
Certa vez, viu-se Xangô acompanhado de seus exércitos frente a frente com um inimigo
que tinha ordens de seus superiores de não fazer prisioneiros, as ordens era aniquilar o
exército de Xangô, e assim foi feito, aqueles que caiam prisioneiros eram barbaramente
aniquilados, destroçados, mutilados e seus pedaços jogados ao pé da montanha onde
Xangô estava. Isso provocou a ira de Xangô que num movimento rápido, bate com o
seu machado na pedra provocando faíscas que mais pareciam raios. E quanto mais batia
mais os raios ganhavam forças e mais inimigos com eles abatia.
Tantos foram os raios que todos os inimigos foram vencidos. Pela força do seu
machado, mais uma vez Xangô saíra vencedor. Aos prisioneiros, os ministros de Xangô
pediam os mesmo tratamento dado aos seus guerreiros, mutilação, atrocidades,
destruição total. Com isso não concordou com Xangô.
- Não! O meu ódio não pode ultrapassar os limites da justiça, eram guerreiros
cumprindo ordens, seus líderes é quem devem pagar!
E levantando novamente seu machado em direção ao céu, gerou uma série de raios,
dirigindo-os todos, contra os líderes, destruindo-os completamente e em seguida
libertou a todos os prisioneiros que fascinados pela maneira de agir deXangô, passaram
a segui-lo e fazer parte de seus exércitos.
XANGÔ
Talvez estejamos diante do Orixá mais cultuado e respeitado no Brasil. Isso porque foi
ele o primeiro Deus Iorubano, por assim dizer, que pisou em terras brasileiras.
Xangô é um Orixá bastante popular no Brasil e às vezes confundido como um Orixá
com especial ascendência sobre os demais, em termos hierárquicos. Essa confusão
acontece por dois motivos: em primeiro lugar, Xangô é miticamente um rei, alguém que
cuida da administração, do poder e, principalmente, da justiça - representa a autoridade
constituída no panteão africano. Ao mesmo tempo, há no norte do Brasil diversos cultos
que atendem pelo nome de Xangô. No Nordeste, mais especificamente em Pernambuco
e Alagoas, a prática do candomblé recebeu o nome genérico de Xangô, talvez porque
naquelas regiões existissem muitos filhos de Xangô entre os negros que vieram trazidos
de África. Na mesma linha de uso impróprio, pode-se encontrar a expressão Xangô de
Caboclo, que se refere obviamente ao que chamamos de Candomblé de Caboclo.
Xangô é pesado, íntegro, indivisível, irremovível; com tudo isso, é evidente que um
certo autoritarismo faça parte da sua figura e das lendas sobre suas determinações e
desígnios, coisa que não é questionada pela maior parte de seus filhos, quando
inquiridos.
Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas, hábeis e corretas. Ele é o
Orixá que decide sobre o bem e o mal. Ele é o Orixá do raio e do trovão.
Na África, se uma casa é atingida por um raio, o seu proprietário paga altas multas aos
sacerdotes de Xangô, pois se considera que ele incorreu na cólera do Deus. Logo depois
os sacerdotes vão revirar os escombros e cavar o solo em busca das pedras-de-raio
formadas pelo relâmpago. Pois seu axé está concentrado genericamente nas pedras, mas,
principalmente naquelas resultantes da destruição provocada pelos raios, sendo o
Meteorito é seu axé máximo.
Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade (a não ser em contendas pessoais
suas, presentes nas lendas referentes a seus envolvimentos amorosos e congêneres). Seu
raio e eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial, onde todos os prós
e os contras foram pensados e pesados exaustivamente. Seu Axé, portanto está
concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra,
nas pedreiras, nos maciços. Suas pedras são inteiras, duras de se quebrar, fixas e
inabaláveis, como o próprio Orixá.
Xangô não contesta o status de Oxalá de patriarca da Umbanda, mas existe algo de
comum entre ele e Zeus, o deus principal da rica mitologia grega. O símbolo do Axé de
Xangô é uma espécie de machado estilizado com duas lâminas, o Oxé, que indica o
poder de Xangô, corta em duas direções opostas. O administrador da justiça nunca
poderia olhar apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo ponto de vista
sempre. Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores,
sendo essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça por ele
aplicada. Segundo Pierre Verger, esse símbolo se aproxima demais do símbolo de Zeus
encontrado em Creta. Assim como Zeus, é uma divindade ligada à força e à justiça,
detendo poderes sobre os raios e trovões, demonstrando nas lendas a seu respeito, uma
intensa atividade amorosa.
Outra informação de Pierre Verger especifica que esse Oxé parece ser a estilização de
um personagem carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo, o
duplo machado, e lembra, de certa forma a cerimônia chamada ajerê, na qual os
iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia de furos, dentro da qual
queima um fogo vivo, demonstrando através dessa prova, que o transe não é simulado.
Xangô portanto, já é adulto o suficiente para não se empolgar pelas paixões e pelos
destemperos, mas vital e capaz o suficiente para não servir apenas como consultor.
Outro dado saliente sobre a figura do senhor da justiça é seu mau relacionamento com a
morte. Se Nanã é como Orixá a figura que melhor se entende e predomina sobre os
espíritos de seres humanos mortos, Eguns, Xangô é que mais os detesta ou os teme. Há
quem diga que, quando a morte se aproxima de um filho de Xangô, o Orixá o abandona,
retirando-se de sua cabeça e de sua essência, entregando a cabeça de seus filhos a
Obaluaiê e Omulu sete meses antes da morte destes, tal o grau de aversão que tem por
doenças e coisas mortas.
Deste tipo de afirmação discordam diversos babalorixás ligados ao seu culto, mas
praticamente todos aceitam como preceito que um filho que seja um iniciado com o
Orixá na cabeça, não deve entrar em cemitérios nem acompanhar a enterros.
Tudo que se refere a estudos, as demandas judiciais, ao direito, contratos, documentos
trancados, pertencem a Xangô.
Xangô teria como seu ponto fraco, a sensualidade devastadora e o prazer, sendo
apontado como uma figura vaidosa e de intensa atividade sexual em muitas lendas e
cantigas, tendo três esposas: Obá, a mais velha e menos amada; Oxum, que era casada
com Oxossi e por quem Xangô se apaixona e faz com que ela abandone Oxossi; e Iansã,
que vivia com Ogum e que Xangô raptou.
No aspecto histórico Xangô teria sido o terceiro Aláàfin Oyó, filho de Oranian e Torosi,
e teria reinado sobre a cidade de Oyó (Nigéria), posto que conseguiu após destronar o
próprio meio-irmão Dada-Ajaká com um golpe militar. Por isso, sempre existe uma
aura de seriedade e de autoridade quando alguém se refere a Xangô.
Conta a lenda que ao ser vencido por seus inimigos, refugiou-se na floresta, sempre
acompanhado da fiel Iansã, enforcou-se e ela também. Seu corpo desapareceu debaixo
da terra num profundo buraco, do qual saiu uma corrente de ferro - a cadeia das
gerações humanas. E ele se transformou num Orixá. No seu aspecto divino, é filho de
Oxalá, tendo Yemanjá como mãe.
Xangô também gera o poder da política. É monarca por natureza e chamado pelo termo
obá, que significa Rei. No dia-a-dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias,
ministérios políticos, lideranças sindicais, associações, movimentos políticos, nas
campanhas e partidos políticos, enfim, em tudo que gera habilidade no trato das relações
humanas ou nos governos, de um modo geral.
Xangô é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o
trabalho, a discussão pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o
levante, à vontade de vencer. Também o sentido de realeza, a atitude imperial,
monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue azul”, o poder de
liderança. Para Xangô, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a
pena; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.
Xangô é um Orixá de fogo, filho de Oxalá com Yemanjá. Diz a lenda que ele foi rei de
Oyó. Rei poderoso e orgulhoso e teve que enfrentar rivalidades e até brigar com seus
irmãos para manter-se no poder.
Características
Cor
Marrom (branco e vermelho)
Fio de Contas
Marrom leitosa
Ervas Erva de São João, Erva de Santa Maria, Beti Cheiroso, Nega Mina, Elevante,
Cordão de Frade, Jarrinha, Erva de Bicho, Erva Tostão, Caruru, Para raio, Umbaúba.
(Em algumas casas: Xequelê)
Símbolo
Machado
Pontos da Natureza
Pedreira
Flores
Cravos Vermelhos e brancos
Essências
Cravo (flor)
Pedras
Meteorito, pirita, jaspe.
Metal
estanho
Saúde
fígado e vesícula
Planeta
Júpiter
Dia da Semana
Quarta-Feira
Elemento
Fogo
Chacra
cardíaco
Saudação
Kaô Cabecile (Opanixé ô Kaô)
Bebida
Cerveja Preta
Animais
Tartaruga, Carneiro
Comidas
Agebô, Amalá
Numero
12
Data Comemorativa
30 de Setembro
Sincretismo:
São José, Santo Antônio, São Pedro, Moisés, São João Batista, São Gerônimo.
Incompatibilidades:
Caranguejo, Doenças
Qualidades:
Dadá, Afonjá, Lubé, Agodô, Koso, Jakuta, Aganju, Baru, Oloroke, Airá Intile, Airá
Igbonam, Airá Mofe, Afonjá, Agogo, Alafim
Atribuições
Para a descrição dos arquétipos psicológico e físico das pessoas que correspondem a
Xangô, deve-se ter em mente uma palavra básica: Pedra. É da rocha que eles mais se
aproximam no mundo natural e todas as suas características são balizadas pela
habilidade em verem os dois lados de uma questão, com isenção e firmeza granítica que
apresentam em todos os sentidos.
Atribui-se ao tipo Xangô um físico forte, mas com certa quantidade de gordura e uma
discreta tendência para a obesidade, que se ode manifestar menos ou mais claramente de
acordo com os Ajuntós (segundo e terceiro Orixá de uma pessoa). Por outro lado, essa
tendência é acompanhada quase que certamente por uma estrutura óssea bem-
desenvolvida e firme como uma rocha.
Tenderá a ser um tipo atarracado, com tronco forte e largo, ombros bem desenvolvidos e
claramente marcados em oposição à pequena estatura;
A mulher que é filha de Xangô, pode ter forte tendência à falta de elegância. Não que
não saiba reconhecer roupas bonitas - tem, graças à vaidade intrínseca do tipo, especial
fascínio por indumentárias requintadas e caras, sabendo muito bem distinguir o que é
melhor em cada caso. Mas sua melhor qualidade consiste em saber escolher as roupas
numa vitrina e não em usá-las. Não se deve estranhar seu jeito meio masculino de andar
e de se portar e tal fato não deve nunca ser entendido como indicador de preferências
sexuais, mas, numa filha de Xangô é um processo de comportamento a ser
cuidadosamente estabelecido, já que seu corpo pode aproximar-se mais dos arquétipos
culturais masculinos do que femininos; ombros largos, ossatura desenvolvida, porte
decidido e passos pesados, sempre lembrando sua consistência de pedra.
Cozinha ritualística
Caruru
Afervente o camarão seco, descasque-o e passe na máquina de moer. Descasque o
amendoim torrado, o alho e a cebola e passe também na máquina de moer. Misture
todos esses ingredientes moídos e refogue-os no dendê, até que comecem a dourar.
Junte os quiabos lavados, secos e cortados em rodelinhas bem finas. Misture com uma
colher de pau e junte um pouco de água e de dendê em quantidade bastante para
cozinhar o quiabo. Se precisar, ponha mais água e dendê enquanto cozinha. Prove e
tempere com sal a gosto. Mexa o caruru com colher de pau durante todo o tempo que
cozinha. Quando o quiabo estiver cozido, junte os camarões frescos cozidos e o peixe
frito (este em lascas grandes), dê mais uma fervura e sirva, bem quente.
Ajebô
Corte os quiabos em rodelas bem fininhas em uma Gamela, e vá batendo eles como se
estivesse ajuntando eles com as mãos, até que crie uma liga bem Homogênea.
Rabada
Cozinhe a rabada com cebola e dendê. Em uma panela separada faça um refogado de
cebola dendê, separe 12 quiabos e corte o restante em rodelas bem tirinhas,
junte a rabada cozida. Com o fubá, faça uma polenta e com ela forre uma gamela,
coloque o refogado e enfeite com os 12 quiabos enfiando-os no amalá de cabeça para
baixo.
Lendas de Xangô
A Justiça de Xangô
Certa vez, viu-se Xangô acompanhado de seus exércitos frente a frente com um inimigo
que tinha ordens de seus superiores de não fazer prisioneiros, as ordens era aniquilar o
exército de Xangô, e assim foi feito, aqueles que caiam prisioneiros eram barbaramente
aniquilados, destroçados, mutilados e seus pedaços jogados ao pé da montanha onde
Xangô estava. Isso provocou a ira de Xangô que num movimento rápido, bate com o
seu machado na pedra provocando faíscas que mais pareciam raios. E quanto mais batia
mais os raios ganhavam forças e mais inimigos com eles abatia. Tantos foram os raios
que todos os inimigos foram vencidos. Pela força do seu machado, mais uma vez Xangô
saíra vencedor. Aos prisioneiros, os ministros de Xangô pediam os mesmo tratamento
dado aos seus guerreiros, mutilação, atrocidades, destruição total. Com isso não
concordou com Xangô.
- Não! O meu ódio não pode ultrapassar os limites da justiça, eram guerreiros
cumprindo ordens, seus líderes é quem devem pagar!
E levantando novamente seu machado em direção ao céu, gerou uma série de raios,
dirigindo-os todos, contra os líderes, destruindo-os completamente e em seguida
libertou a todos os prisioneiros que fascinados pela maneira de agir de Xangô, passaram
a segui-lo e fazer parte de seus exércitos.
LINHA DE XANGÔ
Olá irmãos