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Artigo

Teoria arqueológica em descompasso no


Brasil: o caso da Arqueologia Darwiniana1

Tania Andrade Lima1 Resumo


Este artigo discute o surgimento e a ex-
pansão da chamada arqueologia darwi-
niana, a partir da década de 1970, e seu
impacto atual sobre o pensamento ar-
queológico. Alguns dos seus princípios e
conceitos chave são apresentados, as-
sim como um breve histórico da paulati-
na incorporação da teoria selecionista à
investigação do passado da humanidade
e das críticas que lhe foram dirigidas. É
constatado e analisado o distanciamen-
to da arqueologia brasileira dessa pers-
pectiva, o que a deixa em descompasso
no campo teórico.

Palavras-chave: Arqueologia darwiniana,


Tteoria arqueológica, Selecionismo.

Abstract
This article discusses the emergence and
expansion of the so-called Darwinian Ar-
chaeology, starting in the 1970s, and its
current impact upon archaeological thou-
ght. Some of the key concepts are dis-
cussed, and a brief historic of the slow
incorporation of the selectionist theory
into the research of the human past is
presented, as well as the criticisms di-
rected to it. The distancing of Brazilian
archaeology from this perspective is
analyzed, something that places it in a

1
O presente texto foi apresentado originalmente como conferência no IV Encontro do Núcleo
Regional da SAB Sul, realizado na Universidade do Extremo Sul Catarinense / Unesc, em Criciú-
ma, Santa Catarina, em 08 de novembro de 2004, e deve ser entendido no contexto da época.
2
Departamento de Antropologia, Museu Nacional / UFRJ. Pesquisadora do CNPq.

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Lima, T. A.

sort of "out of beat" state in the theore- eu rotulei para sempre na minha cabeça
tical sphere. como “o livro preto”. Minha má vontade
em relação a ele se renovava periodica-
mente, por ocasião das faxinas na es-
Keywords: Darwinian archaeology,
tante, quando mais uma vez eu lamen-
Archaeological theory, Selectionism.
tava a compra inútil e o escondia no can-
to da prateleira.
Esta má vontade durou até o final da
Introdução década de 90, quando eu comecei a me
Um breve relato de uma experiência dar conta da força crescente da cha-
pessoal talvez seja oportuno para intro- mada Arqueologia Evolutiva na literatura
duzir o tema desta conferência, sugerido arqueológica, e, lendo a respeito, um
pelos organizadores deste IV Encontro nome aparecia sistematicamente como
do Núcleo Regional da SAB Sul. Em 1981 o seu grande pioneiro: Roberto Dunnell.
ou 82, no máximo, em conversa com uma Claro que eu o associei de imediato ao
colega de uma área afim, ela me contou “livro preto”, que ganhou uma nova di-
que estava viajando para um congresso mensão, migrando instantaneamente do
nos Estados Unidos e gentilmente se ofe- canto para o centro da prateleira. E só
receu para trazer livros que eu porven- nesse momento eu fui capaz finalmente
tura necessitasse. de compreender seu significado, vinte
Aqueles eram tempos duros, difíceis, anos depois, embora continuando a achar
o acesso à bibliografia arqueológica es- que não era aquilo que eu queria.
trangeira era praticamente nenhum e Nesse livro, publicado em 1971 pela
estávamos muito longe das facilidades Macmillan, Dunnell expunha idéias ainda
de hoje. Absolutamente ávida por novas embrionárias do que surgiria, sete anos
perspectivas, aceitei de pronto a gene- mais tarde, como uma proposição teóri-
rosa oferta, juntei alguns poucos dóla- ca que em um primeiro momento arregi-
res e disse a ela: “traga o que você en- mentaria poucos adeptos, mas que duas
contrar de melhor”. décadas depois viria a agregar em torno
Uns quinze dias depois, ela reapare- dos seus princípios um número conside-
ceu com dois livros: o primeiro deles, de rável de pesquisadores.
autoria de Robert Dunnell, intitulava-se Redigido no efervescente clima da
Sistemática em Pré-História. Com a capa Nova Arqueologia, ou seja, na virada da
toda preta, sem qualquer letra, sem nem década de 60 para os anos 70, nele
mesmo exibir o título, o volume era pou- Dunnell apontava na introdução (a única
co atraente. Folheei seu conteúdo - ba- parte que eu li!) as fragilidades e as vir-
sicamente voltado para taxonomia e clas- tudes da “velha” e da “nova” arqueolo-
sificação na arqueologia, nos moldes das gia. Mas, embora propugnando, como
ciências naturais –, e ele me pareceu esta última, uma maior cientifidade para
menos atraente ainda. Comecei a ler a a disciplina, chamava a atenção, entre
introdução e dela nunca passei, porque outros aspectos, para aquele que, no seu
ficou claro para mim naquele momento entender, era o grande equívoco que ela
que não era aquilo que eu queria. Desa- cometia: o de tomar emprestado mode-
lentada, confesso que chorei meus ma- los, conceitos e termos da antropologia
gros dólares investidos naquela aquisi- sócio-cultural, ahistórica, na medida em
ção pouco feliz. que eles eram absolutamente inadequa-
Passei então ao segundo livro, cujo dos para os objetivos e compromissos
autor era Binford, e no balanço que fiz à da arqueologia, no caso, com tempo e
época, o segundo valeu pelos dois, e do mudança. Desqualificando os estudos
primeiro ficou apenas o registro do que humanísticos como ciência, ele propu-

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nha uma sistemática – aí entendida como Na verdade, a movimentação atual


o conjunto de proposições, conceitos e no sentido de buscar no darwinismo a
operações utilizadas para criar unidades fundamentação teórica para a explana-
em qualquer disciplina científica – que ção de diferentes fenômenos não é uma
tinha claramente raízes nas ciências na- peculiaridade da arqueologia, mas de
turais. Mais ainda, ele apresentava a pré- praticamente todos os campos do co-
história como diretamente relacionada à nhecimento, desde a matemática à psi-
biologia evolutiva e à paleontologia. cologia e à filosofia. E até dos mais ines-
perados, como o da crítica literária, onde
Esse embrião amadureceu, e, em
os chamados darwinistas literários pro-
1978, Dunnell apresentou um paper inti-
curam aplicar os princípios da biologia
tulado Seleção Natural, Escala e Evolu-
evolutiva à análise de obras literárias.
ção Cultural: algumas considerações
Ou mesmo o da arte, onde estão sendo
preliminares, que se tornou o marco his-
atribuídas bases biológicas à experiên-
tórico do surgimento da Arqueologia Evo-
cia estética, tratando-se portanto de um
lutiva, posteriormente também designa- movimento muito mais amplo, que vem
da como Arqueologia Darwiniana, ou ainda despertando fortes reações – tanto posi-
como Arqueologia Selecionista, auto-de- tivas quanto negativas – por onde passa.
nominações dadas pelos próprios darwi-
nianos a partir dos anos 90.
A este trabalho de 1978 seguiu-se, A Arqueologia Darwiniana
em 1980, o artigo Teoria Evolutiva e Ar- Se o evolucionismo cultural enten-
queologia, o primeiro formalmente publi- deu evolução como progresso, a pers-
cado sobre a questão e a principal refe- pectiva darwiniana a concebe como um
rência para todos os seus seguidores. processo de transformação. Evolução é
Cumpre frisar que raramente a publica- continuidade com mudança, mudança na
ção de 1971 é mencionada na literatura composição de uma população através
darwiniana, mas nós a valorizamos aqui do tempo; é descendência com modifi-
não só pela nossa história pessoal, mas cação, é o processo de substituição de
sobretudo por entender que ali estão ra- uma forma por outra. Por evolução se
ízes de tudo o que veio depois. entende qualquer mudança direcional cla-
Pessoalmente prefiro os termos Ar- ra ou qualquer mudança cumulativa nas
queologia Darwiniana ou Arqueologia Se- características dos organismos ou po-
lecionista, em lugar de Arqueologia Evo- pulações por muitas gerações, incluindo
lutiva, por marcarem bem a diferença tanto a origem quanto a dispersão de
entre essa perspectiva e a da evolução traços (Lyman & O’Brien, 1998:616). Para
cultural clássica, unilinear, de Spencer, a arqueologia selecionista, a noção de
Tylor e Morgan. Ou mesmo da mais mo- progresso só pode ser cientificamente
aceita se fôr entendida como “progres-
derna, de Gordon Childe (na Europa), de
são histórica em termos de complexida-
Leslie White, de Julian Steward, e dos
de estrutural”, o que significa tão so-
seus seguidores, como Sahlins e Service
mente uma mudança na escala da sele-
(nos Estados Unidos), que inspiraram a
ção. Seu objetivo fundamental, por con-
tantos pré-historiadores. Entre eles, nos
seguinte, é examinar e explanar a varia-
anos 60, os da então chamada Nova Ar-
ção no registro material, ou seja, exami-
queologia, inaugurada por Lewis Binford,
nar e explanar a mudança, usando como
discípulo de Leslie White, mas com a qual
ferramenta a teoria evolutiva.
a Arqueologia Darwiniana não tem qual-
quer vínculo. E também, por fim, por Os princípios da teoria de Darwin as-
distanciá-la das tão freqüentes e surra- sumem que:
das metafóras evolutivas. • há variação nos organismos

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• essa variação é transmitida através de a baleia, nos quais os ossos estão dis-
herança postos a partir de um mesmo padrão (ver
• algumas variantes funcionam melhor em Moody, 1975:19). Semelhanças funcio-
certas circunstâncias que outras, e nis- nais entre órgãos de diferentes estrutu-
to consiste o processo de seleção na- ras e diferentes origens são análogas (por
tural, a persistência diferencial da va- exemplo, asas de diferentes animais,
riação. como aves, mamíferos e répteis, que têm
características similares em função, mas
Tais fundamentos implantaram como são diferentes em sua estrutura e ori-
questões centrais para o evolucionismo gem (ver Moody, 1975:17).
darwiniano a variação, a hereditarieda- Neste ponto eu me permito um pa-
de e a seleção, entendendo que a evo- rênteses para comentar que estes dois
lução pode ocorrer como resultado de conceitos são particularmente úteis para
seleção natural - ou seja, de transfor- uma reflexão quanto ao modo como vi-
mações de natureza adaptativa -, de mos trabalhando com similaridades na
deriva genética - no caso, mudanças ale- Arqueologia Brasileira. Juntamos, por ví-
atórias na freqüencia de traços resul- cio classificatório, tudo o que é seme-
tantes dos caprichos da transmissão - lhante debaixo de um mesmo rótulo, con-
ou então de ambos. siderando essas similaridades como ten-
A transposição da teoria evolutiva e do sido produzidas por uma única e mes-
seus princípios para a arqueologia pro- ma cultura arqueológica. E aqui mora um
põe que o registro arqueológico, consi- grande perigo. As coisas podem ser se-
derado um registro evolutivo tanto quanto melhantes na aparência, mas terem uma
um registro orgânico fóssil, seja lido e origem totalmente distinta. E coisas muito
explanado à luz desses princípios, man- diferentes podem ter tido a mesma
tendo essas mesmas questões centrais. origem. Retrabalhar alguns aspectos da
No caso, a teoria evolutiva é utilizada nossa pré-história à luz desses concei-
para examinar e explanar a variação no tos pode gerar resultados surpreenden-
registro arqueológico, as formas como tes e alguns trabalhos já começaram a
essa variação é transmitida, e por que ser feitos nessa direção.
algumas variáveis passam a funcionar A totalidade das características ob-
melhor que outras em determinadas cir- serváveis de um indivíduo, tanto físicas
cunstâncias. quanto comportamentais, constituem o
O programa arqueológico darwiniano seu fenótipo. Essas características re-
funda-se em premissas e conceitos da sultam da interação entre genótipo e
teoria evolutiva, entendendo grupos so- ambiente, ou seja, são devidas não ape-
ciais humanos como espécies. Embora a nas a fatores hereditários (genótipo), mas
seleção natural, um mecanismo de mu- também às modificações estimuladas pelo
dança, atue sobre indivíduos, são as es- meio ambiente. É no fenótipo que opera
pécies que evoluem, compondo linhagens, a seleção natural, e o registro arqueoló-
ou seja, linhas temporais de mudança gico é entendido na arqueologia darwinia-
construídas pela hereditariedade, deno- na como as partes duras do fenótipo
tando continuidade, de tal forma que a humano (Leonard, 2001:70). É um regis-
similaridade observável é, no caso, ho- tro empírico da variação, da transmis-
móloga. Similaridades podem ser homó- são, e da persistência diferencial da va-
logas ou análogas. Características es- riação, como produto da operação da
truturais similares em decorrência de uma seleção natural e do acaso. Os artefa-
origem comum são homólogas (por exem- tos, por sua vez, são os restos fossiliza-
plo, braço humano, membros anteriores dos de fenótipos humanos bem sucedi-
de mamíferos terrestres e marinhos, como dos (O’Brien & Holland, 1995:179).

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Teoria arqueológica em descompasso no Brasil: o caso da Arqueologia Darwiniana

A tecnologia, produto do comporta- ele se fundamenta em conceitos expla-


mento humano, e, conseqüentemente, natórios sobre a natureza da similarida-
um componente do fenótipo humano, tem de formal e em relações filogenéticas.
sem dúvida implicações evolutivas ao tra- De um ponto de vista evolutivo, demons-
zer vantagens adaptativas. Artefatos trar filogenia e descendência com modi-
expandem a aptidão dos indivíduos, na ficação é importante no nível explanató-
medida em que acrescentam a quem os rio. A mudança evolutiva ocorre dentro
utiliza habilidades e capacidades que eles de populações historicamente relacio-
não possuem naturalmente, tornando-os nadas e qualquer método que demons-
mais aptos à sobrevivência. Aqueles que tre tais relações no espaço e no tempo
mais e melhor amplificam as capacida- é potencialmente importante para estu-
des humanas tenderão a persistir e a dos evolutivos. Para os darwinianos o
aumentar em freqüência. Computadores, método funciona e seus resultados po-
por exemplo, por ampliarem extraordina- dem ser confirmados por outros méto-
riamente nossas capacidades, aumentam dos cronométricos independentes.
nossa aptidão. É preciso destacar, no Linhagens de artefatos estão eviden-
entanto, que apenas os traços funcio- temente relacionadas às linhagens de
nais produzem esse efeito; os estilísti- seres humanos responsáveis pela sua
cos são absolutamente neutros, porque produção e a teoria evolutiva volta-se,
não têm qualquer valor seletivo, não con- no caso, para a sua reconstrução e para
ferem vantagens adaptativas àqueles a explanação das razões pelas quais elas
que os possuem. Computadores com assumiram determinadas formas, sendo
maior velocidade de processamento e entendida como a ferramenta mais ade-
maior quantidade de memória instalada quada para esta finalidade. Este é por
oferecem vantagens adaptativas. Este natureza um estudo histórico, na medi-
é um traço funcional. Já o fato de eles da em que a passagem do tempo está
terem um design clássico e serem cla- impressa no registro arqueológico e os
ros, ou de terem um design arrojado e artefatos mostram como certas variá-
serem escuros - traços estilísticos - não veis substituíram outras ao longo dessa
aumenta nossa aptidão. dimensão. E é precisamente essa natu-
Para a arqueologia darwiniana, o es- reza histórica da Arqueologia que, no
tudo diacrônico dos artefatos mostra entender dos darwinianos, a distancia da
mais que uma seqüência temporal ou uma Antropologia, ou, mais propriamente, da
convergência, mostra que eles têm uma Etnologia, porquanto estas são discipli-
linhagem histórica. A construção de li- nas ahistóricas.
nhagens culturais (crônicas históricas) Só uma ciência histórica, como re-
e a explanação dessas linhagens (narra- sultado direto da sua metafísica materi-
tivas evolutivas) (Lyman & O’Brien, 1998) alista, pode monitorar a mudança (me-
é um dos seus principais objetivos. tafísica entendida aqui como corpo de
Uma vez que os artefatos são colo- conhecimentos racionais que fundamen-
cados na ordem cronológica adequada e ta o conjunto de princípios de uma ciên-
que fica demonstrado que eles compõem cia) As ahistóricas, em decorrência da
uma linhagem histórica, a teoria evoluti- sua metafísica essencialista, só podem
va é, para os darwinianos, a que melhor mensurar a diferença (in Lyman et al.,
explana porque eles assumiram determi- 1997:4).
nada forma. Nessa ordenação, o conhe- O pensamento essencialista, que foi
cido método de seriação se revestiu, para dominante nas ciências naturais até Da-
eles, de um interesse especial e vem sen- rwin, presume que os seres podem ser
do intensamente utilizado, segundo Telt- agrupados em tipos quando partilham
ser (1995:51-2), pelas seguintes razões: propriedades essenciais, ou seja, as

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Lima, T. A.

essências - daí essencialismo, também (Mayr, 1959, in Lyman et al., 1997:5). A


referido como pensamento tipológico. Es- perspectiva estática do essencialismo é
sas propriedades essenciais definem um substituída pela noção de que as espé-
ideal, ou um arquétipo. A realidade fe- cies são entidades fluidas, compostas por
nomenológica é constituída por um nú- indivíduos reprodutivamente compatíveis.
mero fixo de tipos ou essências, que são Esta é a principal razão pela qual os
entidades empíricas construídas a partir darwinianos rejeitam a Antropologia como
de critérios bem definidos. Variações en- matriz teórica da Arqueologia e enten-
tre tipos são tidas como diferenças, de dem que a Biologia Moderna é a mais
tal forma que as relações entre eles são adequada. Por entender que a Arqueo-
relações de diferença. Para o tipologis- logia e a Biologia Evolutiva estão volta-
ta, o tipo é real, enquanto a variação é das basicamente para as mesmas ques-
uma ilusão (Mayr, 1959, in Lyman et al., tões, ou seja, variação e mudança atra-
1997:5). vés do tempo, e que ambas adotam, para
As relações de diferença podem ser alcançar seus objetivos, procedimentos
estabelecidas sem qualquer referência a bastante similares - vale dizer, ambas
tempo ou a espaço, de tal forma que o classificam, descrevem, analisam fre-
tempo na perspectiva essencialista está qüências de distribuição e desenvolvem
ausente e o espaço é simplesmente dis- estudos comparativos, os arqueólogos
tância (por exemplo: uma determinada darwinianos assumem que a teoria evo-
substância química pura é a mesma na lutiva é a mais adequada. Não para ex-
China de 3000 anos atrás, e no terceiro planar a evolução cultural - tal como foi
milênio, hoje, no Rio de Janeiro). Esta é entendida pela Nova Arqueologia, ou seja,
uma perspectiva inadequada para o es- como um processo em etapas, progres-
tudo da mudança através do tempo por- sivo e dirigido, guiando as culturas ao
que ela nega a própria mudança (ib.). longo de caminhos para a complexidade
Os tipos são sempre os mesmos, parti- econômica, social e política - na qual
lhando as mesmas propriedades essen- eles positivamente não acreditam, mas
ciais, independente da sua posição no a evolução dos fenômenos culturais. Não
espaço e no tempo, o que faz com que a é a cultura que deve ser o foco de estu-
mudança seja impossível. do, mas os fenômenos culturais.
Darwin, no século XIX, ao disparar a Na publicação de 1980, Dunnell pro-
maior revolução conceitual já ocorrida na pugnava “a necessidade de uma teoria
biologia, substituiu o pensamento tipo- capaz de gerar explanações científicas
lógico pelo seu oposto, o pensamento em uma estrutura de referência históri-
populacional, ou seja, substituiu a pers- ca e integrar essas explanações em um
pectiva essencialista pela materialista corpo coerente e sistemático de conhe-
(cumpre frisar que o materialismo aqui cimentos”. A teoria evolutiva deveria se
não tem qualquer relação com o sentido tornar, no caso, “o núcleo da explana-
sociológico do termo). Ao assumir que ção arqueológica”, exigindo com certeza
os seres estão permanentemente em um adaptações, tendo em vista que “a evo-
processo de se transformarem em algo lução biológica não poderia ser direta-
diferente, o materialismo recusa a pos- mente transferida para o registro arque-
sibilidade da existência de unidades em- ológico sem modificações”. Impunha-se,
píricas com significado intrínseco, no portanto, tirar o foco da evolução cul-
caso, os tipos, reduzindo categorias tão tural e reposicioná-lo na evolução de
somente a convenções úteis para a des- populações culturais.
crição dos fenômenos. A questão, no A proposição de Dunnel de que a teo-
caso, se inverte: o tipo passa a ser uma ria darwiniana poderia tirar a arqueologia
abstração e apenas a variação é real da difícil situação em que ela se encon-

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Teoria arqueológica em descompasso no Brasil: o caso da Arqueologia Darwiniana

trava, já que a reação ao histórico-cul- zaram de forma oblíqua o evolucionismo


turalismo batera na porta errada da darwiniano como suporte teórico bem
Antropologia, reuniu em torno dele al- antes de Dunnell, em seu trabalho sobre
guns descontentes com a Nova Arqueo- a fase Valdívia, no Equador (Meggers et
logia. O fato de o processualismo ter se al., 1965). Mais precisamente, esta apli-
voltado para a ecologia, para a teoria de cação pode ser vista no capítulo Theo-
sistemas e para uma perspectiva evolu- retical Approach to Interpretation.
tiva desconectada das razões que fa- Na verdade, muito antes disso, já em
zem organismos evoluírem, ou seja, des- 1959, cerca de vinte anos antes de Du-
conectada dos processos seletivos e nnell, ela editou um volume que foi um
voltando as costas para a seleção, invi- marco na relação da Teoria Evolutiva com
abilizou, segundo eles, o entendimento a Antropologia, intitulado Evolution and
das razões pelas quais a cultura evolui. Anthropology. A Centennial Appraisal e
Por exemplo, se Flannery identificou publicado em homenagem ao centenário
mecanismos evolutivos que movem as da publicação de A origem das espéci-
culturas para níveis mais elevados de es, de Charles Darwin, com artigos es-
complexidade, ele teria falhado, segun- critos por grandes expoentes da Biologia
do os darwinianos, em mostrar por que e da Antropologia.
algumas sociedades mudam suas formas O primeiro deles, Darwin and the Evo-
de organização, por que elas se tornam lutionaryTheory, de Ernst Mayr, um dos
mais complexas. A arqueologia selecio- maiores biólogos evolutivos do século XX,
nista, no caso, as explana da seguinte teve forte impacto acadêmico e reper-
forma: em algum ponto da sua trajetó- cute até hoje. Segundo seu próprio de-
ria, indivíduos em um determinado grupo poimento (Mayr, 1976, in O’Brien & Ly-
deixam de carregar o código completo man, 2000c:31), esse artigo que saiu no
para continuar reproduzindo seu sistema livro editado por Meggers foi “a primeira
cultural, ou seja, para continuar repro- apresentação do contraste entre o pen-
duzindo o fenótipo humano, aí incluído o samento essencialista e o populacional,
comportamento cultural. Nesse momen- foi a primeira articulação plena desta re-
to, eles perdem sua habilidade reprodu- volucionária mudança na filosofia da bio-
tiva, de tal forma que uma mudança na logia”.
escala em que a seleção opera deve ser Os demais artigos, discutindo o im-
esperada. pacto da teoria darwiniana nos quatro
Para os arqueólogos evolutivos, os campos da Antropologia – aí incluídas a
processualistas explicam o “como”, mas Arqueologia, a Linguística e a Antropolo-
não o “porquê”, e, nessa medida, assu- gia Física – atestam a visão que Me-
mem um modelo equivocado de ciência. ggers teve das possibilidades da aplica-
A ciência social é para eles empirismo ção da teoria evolutiva à Antropologia,
sistemático enquanto a teoria evolutiva, muito antes que outros tomassem para
ela sim, é rigorosamente científica. Só si esta bandeira e a transformassem em
que não apenas mais uma teoria científi- um importante paradigma dentro da Ar-
ca, mas um tipo diferente de teoria, que queologia. Entre os outros autores figu-
explica o por quê, mais do que o como ram expoentes como Braidwood, pela
(Dunnell, in O’Brien, 1996). Arqueologia; Greenberg, pela Linguísti-
A bem da verdade, embora Dunnell ca, Leslie White, Murdock e Kluckhohn,
seja considerado o precursor da Arque- pela Antropologia, entre outros)
ologia Evolutiva, há outros importantes O interesse de Meggers pela evolu-
antecedentes. Entre eles, destaca-se ção cultural surgiu ainda na graduação,
Betty Meggers, citada por O’Brien & Ho- na Universidade de Michigan, onde, as-
lland (1995:178) como um dos que utili- sim como Lewis Binford, foi aluna de Leslie

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Lima, T. A.

White. Prosseguindo seus estudos na ral odyssey, editado por Donald Ortner
Universidade de Columbia, identificou-se (comunicação pessoal). Nesse trabalho
com a perspectiva ecológica e também ela deu vários exemplos de paralelos en-
evolutiva de Steward. No caso, ela não tre mudança cultural e biológica que re-
se restringiu apenas ao evolucionismo fletem os mesmos processos evolutivos
cultural. Sem nunca ter estudado Biolo- básicos, sustentando que não estamos
gia, procurou por iniciativa própria ouvir capacitados a compreender a mudança
palestras e ler as principais obras de Ernst cultural ou influenciá-la até que reco-
Mayr, George Simpson e outros evoluci- nheçamos o impacto dessas forças in-
onistas, de modo a entender os princípi- conscientes.
os fundamentais do evolucionismo da- Retomando Dunnel, como ele apro-
rwiniano para incorporá-los ao seu tra- priadamente assinalou, há um grande de-
balho. Na verdade, ela nunca pretendeu safio metodológico na aplicação da te-
contribuir para a teoria evolutiva, mas oria evolutiva à arqueologia, que não
tão somente aplicá-la às suas investi- pode se limitar, como assinalou Teltser
gações (comunicação pessoal). (1995:64), a analogias ou a um mero
Tal como os darwinianos, Meggers empréstimo da teoria. Essa aplicação
reconhece dois processos básicos de envolve mais, envolve na verdade uma
evolução: seleção natural e deriva. Para expansão da teoria clássica neo-darwi-
ela, a seleção natural mantém uma adap- niana, porquanto ela foi concebida, for-
tação viável entre o organismo ou socie- malizada e redigida no domínio da bio-
dade e o ambiente. Já a deriva produz logia e em termos biológicos, e precisa
mudanças graduais inconscientes em ser expandida para incluir questões de
características que não afetam a sobre- natureza antropológica e arqueológica
vivência. Em seu livro Amazônia, a ilu- (ib.1-3).
são de um paraíso, publicado em 1977, Trata-se agora de lidar com meca-
ela reconheceu o mecanismo da seleção nismos não-genéticos de transmissão, na
natural atuando e procurou demonstrar medida em que traços culturais são trans-
o modo pelo qual o comportamento cul- mitidos através de processos de apren-
tural minimizou o que considerou como dizagem. E apesar de os biólogos esta-
limitações ambientais intrínsecas. O se- rem voltados também para questões
gundo mecanismo, a deriva, tem sido por comportamentais, admitindo comporta-
ela aplicado a características da cerâ- mento como parte importante do fenóti-
mica para diferenciar comunidades pré- po, o modo como a arqueologia tem for-
históricas endógamas através de seqüên- mulado seus problemas e a terminologia
cias seriadas, e para identificar suas dis- que a disciplina utiliza são incompatíveis
tribuições temporais e espaciais. Com a com o arcabouço darwiniano. Isso re-
aplicação desses métodos a autora tem quer uma reorientação das questões e
procurado revelar aspectos de compor- uma reformulação terminológica, o que
tamentos locacionais, como movimento não é uma tarefa simples.
de aldeias, reocupações, tamanho dos A força explanatória da teoria evolu-
assentamentos e limites territoriais, bem tiva apregoada pelos darwinianos não se
como residência matrilocal, já apresen- limita ao passado remoto da humanida-
tados em diversas publicações (ver Me- de, a investigações sobre caçadores-
ggers, 1997, 1999, 2000, entre outros). coletores ou a estudos ceramistas, mas
Meggers considera que seu trabalho é entendida como uma poderosa ferra-
mais detalhado sobre a aplicação da te- menta também para a explanação do
oria evolutiva ao comportamento cultu- passado recente, podendo ser utilizada
ral está em um artigo publicado em 1983 também na arqueologia histórica, como
no livro How humans adapt: a biocultu- fez F. D. Neiman defendendo na Univer-

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Teoria arqueológica em descompasso no Brasil: o caso da Arqueologia Darwiniana

sidade de Yale, em 1990, a tese de dou- Entre os periódicos que abriram seus
torado intitulada An evolutionary appro- espaços para a perspectiva darwiniana
ach to archaeological inference: aspects encontram-se alguns dos mais concei-
of architectural variation in the17th-cen- tuados no campo da antropologia e da
tury Chesapeak. Em 1995, Ramenofsky arqueologia, entre eles Current Anthro-
estudou, à luz da teoria evolutiva, as pology, American Antiquity, a série Ar-
mudanças observadas nos artefatos de chaeological Method and Theory edita-
grupos nativos após o contato com o da por Michael B. Schiffer, que apresen-
europeu, em função dos novos materiais tou logo em seu volume inaugural um ar-
introduzidos. O’Brien & Lyman (2000b), tigo de Rindos (1989), seguido no se-
por sua vez, publicaram no volume 4 do gundo volume por um trabalho de O’Brien
International Journal of Historical Archa- & Holland (1990), no quarto, por um de
eology o artigo Darwinian Evolutionism Neff (1992), e assim por diante; o Jour-
is applicable to Historical Archaeology, nal of Anthropological Archaeology, es-
defendendo sua aplicação à arqueologia pecialmente os volumes 6 (Leonard &
do período pós-contato. Jones, 1987:199-219), 13 (Rosemberg,
Os arqueólogos evolucionistas estão 1994:307-40), 16 (Lipo et al., 1997:301-
procurando trazer para o estudo do pas- 34), 18 (Lyman & O’Brien, 1999a:39-74
sado humano o que eles consideram com e Dunnell, 1999:243-250), entre outros;
o mais produtivo conjunto de normas o Journal of Archaeological Method and
existente para se compreender a vida Theory, especialmente os volumes 1
sobre a terra (Leonard, 2001:93) e eles (O’Brien et al., 1994:259-304), 3
não escondem sua meta ambiciosa de (Hughes, 1998: 345-408), 6 (Lyman &
criar uma teoria inclusiva da história de O’Brien, 1999b), entre outros; o Journal
todos os seres vivos (Jones et al., 1995: of Archaeological Research, especialmen-
29), efetuando uma completa mudança te o volume 5 (Spencer, 1997:209-265),
de paradigma dentro da arqueologia entre outros. É bem verdade que desde
(O’Brien & Holland, 1995:193-4). Para a década anterior, o Advances in Archa-
eles, esta é só uma questão de tempo, eological Method and Theory, também
estando previsto um “futuro saudável” editado por M. B. Schiffer, já tinha aber-
para a perspectiva selecionista (O’Brien to espaço para a Arqueologia Darwinia-
& Holland, 1995:176). na, publicando artigos de Dunnel (1980,
1986); mas a intensificação das publi-
Se na década de 1980 o investimento
cações selecionistas ocorreu apenas na
das editoras norte-americana na arque-
década de 1990.
ologia darwiniana foi tímido - para não
dizer cauteloso – diante da incerteza do Livros começaram a ser maciçamen-
retorno, na década de 1990, com a sua te publicados, como Evolutionary Archae-
crescente aceitação, elas perderam o ology: methodological issues, editado por
medo e passaram a investir considera- Teltser (1995) Evolutionary Archaeology:
velmente no “novo” paradigma emergen- theory and application, editado por
te. Multiplicaram-se artigos evolucionis- O’Brien (1996); Darwinian Archaeologies,
tas nas principais revistas, vários livros editado por Marschner (1996), Redisco-
sobre o tema foram sucessivamente edi- vering Darwin: evolutionary theory in
tados, mostrando o despertar de uma archaeological explanation, editado por
perspectiva teórica que hibernou duran- Barton & Clark (1997), Applying Evolutio-
te pelo menos vinte anos - ou quarenta, nary Archaeology, editado por O’Brien &
se for considerado o vanguardismo de Lyman (2000c), Darwin and Archaeolo-
Meggers - até finalmente conseguir con- gy: a handbook of key concepts, edita-
quistar um número expressivo de adep- do por Hart & Terrell (2002), entre mui-
tos. tos outros. A implacável lei do mercado

Revista de Arqueologia, 19: 125-141, 2006 133


Lima, T. A.

não deixa dúvidas quanto à força da pe- As críticas


netração crescente do programa darwi-
niano na comunidade arqueológica. As Como era de se esperar, rapidamente
editoras jamais investiriam tão pesada- surgiram críticas ao paradigma darwinia-
mente em um tema se não tivessem um no, tão logo ele foi esboçado, devidamen-
expressivo retorno assegurado. Inques- te reforçadas anos depois, quando ele
tionavelmente, o espaço de venda nas começou a ganhar força. Apenas um ano
prateleiras das livrarias para a Arqueolo- após o paper seminal de Dunnell, em
gia Selecionista aumentou na mesma pro- 1978, Norman Yoffee publicou na Ameri-
porção do espaço a ela destinado nas can Antiquity (1979, 44:5-35), o artigo
prateleiras das estantes dos pesquisa- The decline and rise of Mesopotamian
dores. civilization: an ethnoarchaeological pers-
Se nos anos 70 Robert Dunnell falava pective on the evolution of social com-
praticamente sozinho, nos anos 80 jun- plexity, onde ele criticava a perspectiva
taram-se a ele David Rindos, Robert D. evolutiva para a explanação de proces-
Leonard e George T. Jones. A corrente
sos sociais.
engrossou consideravelmente nos anos
90, com a crescente aceitação da ar- Esse trabalho desencadeou um ácido
queologia darwiniana, agora com Micha- debate, publicado logo em seguida na
el O’Brien, Thomas D. Holland, J. K. Fea- própria American Antiquity (1980:601-
thers, R. Lee Lyman, Patrice A. Teltser, 13). Respondendo à crítica, Stuart Peters
Hector Neff, Teresa Hurt, (filha de Wes- (ib.:596-601), Robert Dunnell e Robert
ley Hurt, que tanto contribuiu para a pré- Wenke (ib: 605-609) acusaram Yoffee de
história brasileira com seus trabalhos em confundir evolução cultural com teoria
Minas Gerais e em Santa Catarina), en- evolutiva e de crucificar a arqueologia
tre muitos e muitos outros, mencionan- darwiniana pelos pecados da evolução
do-se aqui tão somente alguns dos que
cultural da antropologia, com a qual ela
mais se destacaram e continuam se des-
nada tinha em comum, sendo de todo
tacando.
descabida a analogia entre evolução bi-
Como atesta o próprio mercado edi-
ológica e cultural.
torial, ao longo da década de 1980, com
o cenário teórico fortemente convulsio- Creio ser importante lembrar que Yo-
nado pelo avanço do processualismo e ffee esteve no Brasil, mais precisamente
pelos tórridos debates que se seguiram em Porto Alegre, na reunião da SAB de
às críticas que lhe foram dirigidas, as idéi- 1995, justamente quando ganhava no-
as de Dunnell e de seus seguidores não tável fôlego a arqueologia darwiniana nos
caíram em terreno fértil, foram friamente Estados Unidos. E nós perdemos a opor-
recebidas e correram à margem das duas tunidade de interrogá-lo a respeito, pela
grandes revoluções ocorridas no pensa- simples razão de que ignorávamos com-
mento arqueológico. pletamente o que estava se passando.
Artigos defendendo a aplicação da Teria sido interessante perguntar como
teoria darwiniana à arqueologia continu- ele via, naquele momento, quinze anos
aram sendo publicados regularmente, mas depois daquele tórrido debate, a força
com pouquíssima repercussão, até que
renovada da Arqueologia Evolutiva. Mas,
na década de 90, possivelmente em de-
àquela altura, nós estávamos ocupados
corrência da insatisfação e de um certo
desencanto com o processualismo e com demais tentando emergir da nossa crô-
a livre interpretação pós-processual, al- nica letargia teórica, abrindo os olhos
guns pesquisadores passaram a enxer- para o pós-processualismo mais de uma
gar na teoria evolutiva darwiniana uma década após a sua instalação, lenta e
possível saída. tardiamente como de hábito.

134 Revista de Arqueologia, 19: 125-141, 2006


Teoria arqueológica em descompasso no Brasil: o caso da Arqueologia Darwiniana

Cinco anos depois, em 1985, e tam- Mais recentemente, em 2003, a par-


bém no ano seguinte, em 1986, a Cur- tir de um provocador artigo publicado no
rent Anthropology (26(1):65-88 e ano anterior por Douglas Bamforth na
27(4):315-32) publicou duas discussões American Antiquity (2002, 67(3):435-52),
sobre a Arqueologia Evolutiva, tomando intitulado Evidence and Methaphor in
como ponto de partida artigos de um de Evolutionary Archaeology, a reação dos
seus expoentes, David Rindos, doublé de darwinianos veio rápida, agora encabe-
botânico e antropólogo, que continuou çada pelos três nomes mais fortes da
chamando a atenção para a confusão Arqueologia Evolutiva nos anos 90:
gerada com o termo evolução, entendi- Michael O’Brien, Lee Lyman e Robert
do equivocadamente com o mesmo sig- Leonard (2003). Bamforth, expondo deta-
nificado nas ciências sociais e na biolo- lhadamente seus pontos de vista, acusou
gia. O primeiro, sobre a variação na cul- a arqueologia darwiniana de ter pouco a
tura humana, comentado por onze de- oferecer senão metáforas, entendendo
batedores (Robert L. Carneiro, Eugene que os argumentos que seus defensores
Cooper, Paul Drechsel, Robert C. Dunnell, apresentam para fazer uma ponte entre
R.F. Ellen, C.J. Gullick, Robert A. os processos evolutivos e o registro ar-
Hackenberg, John Hartung, John H. queológico são insustentáveis.
Kunkel, Gifford S. Nickerson, Peter R. Em sua réplica, os três selecionistas
Richerdon, Robert Boyd); e o segundo, argumentaram que Bamforth tem uma
sobre a evolução da capacidade para a visão estreita e reducionista da evolu-
cultura, comentado por oito debatedo- ção, limitando-a à mudança genética, e
res (R.C. Dunnell, Susantha Goonatilake, procuraram expandi-la em sua resposta.
William Irons, Peter J. Richarson & Robert Entendendo que muitos antropólogos pre-
Boyd, Ino Rossi, Jan F. Simek, Jan Wind). ferem se distanciar da teoria evolutiva
A partir daí, aparentemente houve um por desejarem ardentemente que a hu-
arrefecimento (talvez decorrente das manidade se separe do domínio biológi-
baterias então assestadas para os pós- co, chamaram a atenção para essa po-
processualistas) e só em meados dos sição, que consideraram como bastante
anos 90 as discussões sobre o programa problemática. Sobretudo agora em que
evolutivo voltaram novamente à tona com o aquecimento global, a deterioração da
intensidade. Em 1998, na mesma Current camada de ozônio, a redução global da
Anthropology (39(5):615-52), Lyman e biodiversidade, a clonagem, a crescente
O’Brien publicaram um artigo responden- resistência de bactérias a antibióticos,
a AIDS, entre outros graves problemas
do a críticas feitas pela Ecologia Evolu-
que afetam a humanidade neste momen-
tiva, pela Arqueologia Comportamental e
to, requerem conhecimentos da teoria
pela Arqueologia Processual, no caso,
evolutiva para serem resolvidos.
respectivamente por Boone & Smith, por
Schiffer e por Spencer, comentado no- No momento atual, as críticas pros-
vamente por onze debatedores. Nesse seguem. Há problemas de natureza
artigo os autores fizeram uma auto-críti- conceitual e terminológica na Arqueolo-
ca, admitiram que não deixaram suficien- gia Darwiniana e muitos conceitos e ter-
temente claros seus objetivos analíticos, mos importados diretamente da biologia
mas afirmaram que muitas das críticas – são mal compreendidos e mal aplicados
rebatidas ponto a ponto - eram impro- por aqueles que não têm formação nes-
cedentes e estavam indevidamente fun- sa área. Vários possuem equivalentes
damentadas. Apontaram as contribuições na arqueologia, onde têm conotações e
que cada um desses programas teóricos significados distintos, o que complica ain-
deu à Arqueologia Evolutiva, mas reafir- da mais a questão. Sem mencionar evo-
maram sua estreita proximidade com a lução e materialismo, já discutidos, é
moderna paleobiologia. preciso não confundir adaptação, no

Revista de Arqueologia, 19: 125-141, 2006 135


Lima, T. A.

sentido processualista, com o significa- como procedentes algumas delas, sobre-


do evolutivo que é dado ao termo, para tudo as encaminhadas pela Ecologia Evo-
o que Leonard (2001:72), ele mesmo um lutiva. Eles entendem que muitas delas
darwiniano, já havia chamado a aten- foram excessivamente severas, mas afir-
ção. Para os processualistas, adapta- mam que ao longo do processo a Arque-
ção é qualquer comportamento que tem ologia Darwiniana vem fazendo ajustes.
uma função em um ambiente. Para os Schiffer (1996:643) destacou o fato
evolucionistas, ela é uma característica de que - embora a pluralidade de opi-
fenotípica que, aumentando a aptidão, niões seja altamente desejável - não aju-
foi modelada através do tempo pela se- da muito a formação de mais um grupo
leção natural, de tal forma que ela aten- sectário, de mais uma corrente teórica
de a uma importante função evolutiva. competindo por espaço para a imposi-
(O’Brien & Holland, 1995:180; O’Brien & ção de suas idéias. Tendo em vista que
Lyman, 2000:397) os arqueólogos darwinianos beberam em
Destaco aqui também o tipo como muitas fontes, tanto histórico-culturais
outro conceito problemático. Se na ar- quanto processualistas, e incorporaram
queologia histórico-cultural ele é um mo- muitas de suas posições não obstante a
discordância em pontos importantes;
delo socialmente aprovado, adotado e
considerando que eles concordam em al-
intensamente reproduzido (Childe,
guns aspectos com teóricos de um amplo
1962:35), para os evolucionistas, o tipo
espectro de tendências, desde Kroeber
é hereditariamente contínuo a outro es-
e Steward (Lyman & O’Brien, 1998) a his-
pécimen identificado como um membro
tórico-culturalistas e comportamentalis-
daquela mesma categoria, em virtude
tas; considerando que há muitos pontos
da transmissão (O’Brien & Lyman,
em comum entre a Arqueologia Darwini-
2000c:406).
ana e o Histórico-Culturalismo e entre
Indo mais além nas críticas, muitos ela e o Processualismo; e que, mais es-
arqueólogos entendem que a espécie pecificamente, O’Brien & Holland (1995:
humana é única, tendo adquirido a ca- 178) vêem a Arqueologia Comportamen-
pacidade de interferir em sua própria evo- tal como bem próxima da Arqueologia
lução e dirigi-la (Jones et al., 1995:13). Darwiniana em termos das suas premis-
Não concordam que a cultura evolua sas subjacentes (embora se distancie da
através de processos semelhantes aos busca a leis que governam o comporta-
que governam a evolução biológica, so- mento), não há porque sustentar secta-
bretudo em termos de seleção natural. rismos.
Tampouco existe consenso quanto à pos- O mesmo Schiffer (1996) propôs um
sibilidade de se estudar evolução cultu- esforço coletivo para a construção de
ral e biológica sob uma mesma teoria pontes intelectuais entre os diversos pro-
evolutiva integrada e inclusiva, capaz de gramas teóricos existentes na arqueolo-
dar contas tanto da evolução cultural gia, em busca de um diálogo construti-
quanto biológica, sem mencionar aque- vo, evitando-se assim o esfacelamento
les que, mais extremados, positivamen- da teoria arqueológica em miríades de
te não levam a arqueologia darwiniana a programas minoritários que rivalizam en-
sério. tre si. Em nosso ponto de vista, o cenário
Os darwinianos não estão surdos a atual sinaliza crescentemente o quão
essas críticas nem exibem a arrogância multifacetado é o pensamento arqueo-
que marcou os novos arqueólogos ao seu lógico moderno, e, ao mesmo tempo, o
tempo. Em um artigo publicado em 2000 quão imbricadas são suas diferentes ver-
na Current Anthropology, Neff admitiu tentes.

136 Revista de Arqueologia, 19: 125-141, 2006


Teoria arqueológica em descompasso no Brasil: o caso da Arqueologia Darwiniana

ram no pensamento arqueológico e os


O descompasso brasileiro novos rumos que a teoria toma em nos-
Dentro desse quadro, o que aconte- sa disciplina, no mundo, o que faz de
ce no Brasil? Aqui, se o processualismo nós, sem dúvida alguma, profissionais
chegou com cerca de vinte anos de atra- menos qualificados.
so e os fecundos temas levantados pela Costumo comparar a teoria arqueo-
arqueologia contextual, simbólica e crítica lógica a uma caixa de ferramentas, En-
no início dos anos 1980 só começaram a tendo as diferentes teorias como ferra-
ser introduzidos em uma minoria de in- mentas que podem ser mais ou menos
vestigações conduzidas em nosso país a adequadas ao que um pesquisador se
partir da segunda metade da década de propõe. Diante de um problema a resol-
1990, a perspectiva darwiniana ainda é ver, é preciso abrir a caixa e buscar a
uma grande ausente, desconhecida da ferramenta que melhor se ajusta ao tra-
maioria dos arqueólogos brasileiros. balho a ser realizado. Se alguém preci-
Se nos anos 80 havia uma dificulda- sar apertar um parafuso, vai necessitar
de concreta de acesso à literatura ar- uma chave de fenda, e neste caso um
queológica produzida no eixo anglo-ame- alicate será de todo inútil. Da mesma for-
ricano - para o que contribuíam a barrei- ma, para se bater um prego, um serrote
ra da lingua, os entraves à importação e será imprestável e só um martelo cum-
os preços proibitivos das publicações, prirá bem essa função. E assim devem
sem falar em problemas e resistências ser entendidas as teorias. No entanto,
de outras naturezas - a globalizada so- não raro ouço comentários que me su-
ciedade da comunicação cuidou de ate- gerem que teoria arqueológica no Brasil
nuá-la consideravelmente. Assim, se as é uma questão de fé: por exemplo, “sou
antigas justificativas não se sustentam processualista e me recuso a trabalhar
mais, como explicar que ainda se man- com outra perspectiva”. Quando, na ver-
tenha, nos dias de hoje, a velha situa- dade, a questão deveria ser colocada
ção de descompasso teórico que já co- em outros termos: “o processualismo é
nhecemos tão bem? Como explicar que a ferramenta que melhor se adequa ao
uma perspectiva teórica que vem ga- problema que tenho a resolver”. Também
nhando ímpeto crescente nos últimos dez nunca é demais lembrar que recusas des-
anos, pelo menos - e isto sem mencio- sa natureza servem muitas vezes – e
nar as décadas anteriores -, continue convenientemente – para encobrir des-
sendo praticamente desconhecida entre conhecimento e insuficiências.
nós? Uma determinada perspectiva teóri-
Não se trata aqui de achar que tudo ca pode ser absolutamente inadequada
o que é adotado lá fora deva ser simies- para resolver uma dada questão, enquan-
camente copiado aqui. Não temos e não to em outra circunstância ela pode ser a
queremos nem o compromisso nem a obri- que permitirá produzir a melhor explana-
gação de nos tornarmos darwinianos da ção do fenômeno que estiver sendo in-
noite para o dia, só porque agora a ar- vestigado. Resultados desastrosos têm
queologia selecionista está na moda. Eu, sido produzidos pelo uso de ferramentas
pelo menos, me sinto totalmente deso- inadequadas e um bom profissional será
brigada, dificilmente trabalharei à luz des- aquele que tiver a caixa melhor equipa-
sa perspectiva, e creio que muitos ou- da, aliada à capacidade de saber utilizá-
tros pensam da mesma forma. Mas tra- las corretamente. Trocando em miúdos,
ta-se, sim, de constatar nossa imensa ignorar as possibilidades oferecidas pela
dificuldade de acompanhar no devido arqueologia darwiniana no mínimo nos
tempo as transformações que se ope- empobrece no exercício de nosso ofício.

Revista de Arqueologia, 19: 125-141, 2006 137


Lima, T. A.

Volto a repetir, não se trata de nos arqueologia histórica fora de minha ins-
tornarmos de súbito fervorosos darwini- tituição, em outro estado, dediquei a pri-
anos, mas tão somente de tomarmos ci- meira aula, por vício e por convicção, a
ência das suas possibilidades como fer- uma exposição das diferentes perspec-
ramenta, de analisarmos sua eficácia tivas teóricas na arqueologia. Na aula
como teoria explanatória, para eventu- seguinte, na hora da chamada, os alu-
almente a utilizarmos se nos parecer que nos comentaram que uma das colegas
ela é a que melhor se ajusta às nossas havia fugido em marcha batida do curso,
conveniências, ou a recusarmos cate- alegando que já lhe havia custado um
goricamente, se entendermos que o que bom esforço entender o processualismo,
ela tem a oferecer é improcedente, ou e agora, ainda por cima, eu aparecia fa-
mesmo inadequado às questões que es- lando de pós-processualismo. E isto era
tamos levantando. Mas tanto para acei- demais para ela. Este episódio me im-
tar quanto para recusar é preciso, antes pressionou profundamente, pois demons-
de tudo, conhecer as possibilidades que tra uma forte resistência ao “novo” - já
ela oferece. Recusar sem conhecer, é tão velho àquela altura - por parte das
puro obscurantismo. É o popular “não vi novas gerações, justamente aquelas que,
e não gostei”. E neste ponto, aqueles em tese, mais deveriam estar abertas a
que trabalham com a docência têm um novas perspectivas.
papel crucial. Cabe a eles apresentar às Este não é um problema dos depen-
novas gerações uma caixa bem sortida, dentes, já que ele não é observado em
aparelhando-os da melhor forma possí- outros países da América Latina. Na ver-
vel para que enfrentem adequadamente dade ele parece ser um fenômeno ex-
os fenômenos que lhes caberá investigar. clusivamente brasileiro, tendo em vista
Mas, voltando à questão anterior, que outros países sul-americanos vêm
onde estão as razões do nosso perma- trabalhando à luz da teoria darwiniana
nente descompasso? O relato pessoal há um tempo considerável. Tomando
com que iniciei estas considerações me como exemplo a Argentina, país vizinho
parece emblemático, ao reproduzir o es- e com uma comunidade arqueológica que
tranhamento com que recebi o livro de interage – embora menos que o desejá-
Dunnell no início dos anos 80, já que ou- vel - com a brasileira, tem havido um
tros provavelmente devem ter reagido investimento maciço na perspectiva se-
da mesma maneira. Ter uma boa forma- lecionista.
ção prévia em ciências naturais parece Ela entrou naquele país pelas mãos
ter sido uma condição facilitadora – em- de Luis Borrero (comunicação pessoal),
bora não necessária – para a adoção que, ao final dos anos 80, sentia-se pro-
dessa perspectiva na arqueologia, por fundamente insatisfeito com as expla-
exigir um conhecimento sólido da teoria nações então vigentes para a difusão
darwiniana. E entre os arqueólogos bra- do Homo sapiens nas Américas. Para ele,
sileiros, os que receberam treinamento em nenhum momento elas tratavam dos
formal em biologia aparentemente não insucessos e das adaptações mal suce-
parecem ter se interessado, até o mo- didas que certamente ocorreram com a
mento, em incorporar os princípios evo- nossa espécie. Voltando-se para a pers-
lutivos às suas pesquisas e se voltaram pectiva evolutiva e para a biogeografia,
para outras direções. ele encontrou nelas as ferramentas que
Contudo, em um âmbito mais geral, buscava e as que melhor explanavam as
as razões parecem residir sobretudo em ricas situações biogeográficas diante das
uma certa acomodação. Há cerca de quais ele se encontrava, analisando ini-
quinze anos atrás, no início da década cialmente as adaptações de caçadores-
de 1990, ministrando uma disciplina de coletores na região do Estreito de Ma-

138 Revista de Arqueologia, 19: 125-141, 2006


Teoria arqueológica em descompasso no Brasil: o caso da Arqueologia Darwiniana

galhães, e, posteriormente, o efeito da Na Argentina, vários trabalhos pas-


Cordilheira dos Andes sobre os grupos saram a ser e continuam sendo desen-
humanos, inibindo ou permitindo sua cir- volvidos a partir dessa perspectiva, com
culação. diferentes graus de intensidade, desde
Borrero começou a difundir entre seus aqueles que se servem apenas de al-
alunos os princípios da teoria evolutiva, guns de seus conceitos, até os que a
bem como algumas de suas variantes, aplicam de forma radical à arqueologia.
como a ecologia evolutiva, e algumas A arqueologia brasileira, no entanto, vem
dessas sementes caíram em solo fértil. se permitindo desconhecer essa ferra-
José Luis Lanata foi um desses discípu- menta, entrando mais uma vez em des-
los. Graduando-se na Faculdade de Ciên- compasso com o que se produz no exte-
cias Exatas e Naturais da Universidade rior, aí incluída a própria América do Sul.
de Buenos Aires, ele teve acesso aos
Trazemos essa questão para o deba-
princípios básicos da evolução. Nos Es-
te, objetivando chamar a atenção para
tados Unidos entre 1991 e 1994, teve
um fenômeno que mais uma vez se re-
contato direto com Robert Dunnell, mas,
pete entre nós, não obstante a preocu-
diferentemente dele, interessou-se mais
pação atual de boa parte de nossos pro-
pelos aspectos ecológicos da seleção
natural, embora reconhecendo a relevân- fissionais com investigações teoricamente
cia dos aspectos mais propriamente evo- bem fundamentadas e os visíveis pro-
lutivos. Adotou o espaço como o princi- gressos que temos feito neste campo,
pal eixo das suas pesquisas e, a partir como pode ser claramente constatado
de 2000, quando esteve em Cambridge, nesta SAB-Sul. Mas, por outro lado, o
passou a trabalhar com a teoria das me- caso da arqueologia darwiniana também
tapopulações, aprofundando o estudo da mostra que o descompasso continua, si-
dinâmica dos processos de dispersão de nalizando a necessidade de um investi-
populações e integrando diferentes linhas mento maciço e ainda maior no campo
de investigação (comunicação pessoal). da teoria.

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