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I
« INTRODUÇÃO AECOLOGIA COMPORTAMENTAL
t Este bem sucedido livro expõe a influência da seleção
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t INTRODUÇÃO
A
>% • ECOLOGIA COMPORTAMENTAL
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-w # J . R . Krebs FRS
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Umversity of Oxford
and Fellow of Pernbroke Collegc
9 N . B. Davies
9 Reader m Zoology
at the Umversity of Camhridge
and Fellow of Pernbroke Collegc
^
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ATHENEU EDITORA S Ã O PAULO
Rua Marconi, 131 — 2.° andar
9 —
01047 -910 Sào Paulo SP —
Fones: ( 011 ) 255 - 1606 e 255 - 1798
Z 0 FAX: (011 ) 255-1798
1996
m^
V .
Conte údo
$
i: CONTEÚ DO CONTEÚ DO
0 *m ( a ) Movimentos di ários da f
( b ) Movimentos diá rios da f
Arenas e coros, 220
êmea são previs í veis, 219
êmea sã o imprevis í veis, 219
Resumo, 289
Leituras complementares, 290
Tó picos para discussão, 290
Sistemas de acasalamento com cuidado parental por parte de machos, 225
Monogamia, 225 12. Coopera çã o e Comportamento de Ajuda em Aves, Mam í -
feros e Peixes, 291
i m Acasalamento extra-casais e parasitismo intra-espec í fico da prole, 226
Poliginia, 230 Predisposições genéticas e restrições ecol ógicas, 291
—
l m (a ) Nenhum custo da poliginia para as f
(b) Custo de poliginia para as f
êmeas, 231
êmeas, 232
Um exemplo de comportamento de ajuda em aves
293
a gralha da Flórida,
j
l> A
Conflito sexual e poligamia, 234 (a ) Os reprodutores se beneficiam da presen ça dos ajudantes, 294
O tiran ídeo Ficedula hypoleuca, 235 ( b) Satura çã o do habitat é uma restriçã o ecol ógica, 295
) (c) Os machos se beneficiam herdando um local de reprodução, 296
I
m O acentor Prunella modularis, 237
Deserção da f êmea e inversã o do papel sexual, 238
Ecologia e dispersão, 239
O padrão da gralha em outras espécies, 299
Os ajudantes realmente ajudam?, evid ê ncias experimentais, 302
r -
m Consequ ê ncias da dispersão diferencial dos sexos, 241
Evid ê ncias experimentais de restrições reprodutivas, 302
Os ajudantes nem sempre são parentes, 304
m Conclusã o, 241
Resumo, 242
Leituras complementares, 243
(a ) O mangusto an ão: ajudantes nã o aparentados e pseudo- gravidez, 304
( b) Peixes de ané monas, 305
1!
Referenciais, 387
Introdução
Pm4 Agradecimentos
r *f
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*
*
"
J. ' 4
Esta breve introdução descreve a organização e 0 conte údo de
'í li nosso livro. O livro é sobre 0 valor de sobrevivência do
comportamento . Chamamos esse assunto de “ecologia
à 4 Primeira edi ção
comportamental ” porque a maneira como 0 comportamento
Este livro se baseia em conferê ncias que proferimos nas Univer contribui para a sobrevivência depende da ecologia. Se, por
*
£ *4
sidades de Oxford e Cambridge , de modo que agradecemos a-
audi ência e a cr í tica estimulantes de nossos alunos.
exemplo, quisermos responder a questã o “Como a vida em grupo
contribui para a sobrevivê ncia de um indiv í duo ?”, devemos
%m Agradecemos especialmente Tim Birkhead pela leitura do
primeiro esboço e à s seguintes pessoas pelos coment á rios
de
começar pensando em termos da ecologia do animal; o tipo de
alimento que come, seus inimigos, suas exigê ncias de nidifica çã o
£ cap í tulos particulares: Anthony Arak, Patrick Batcson , Jane
,
’ 4*I
>
Nadav Nur e Alan Grafen pelos valiosos comentá rios. Finalmente,
somos gratos a Sara Trevitt e a Robert Campbell da Blackwell
Scientific Publications pela ajuda na preparação do manuscrito.
ser ignorados se 0 leitor estiver com pressa de seguir adiante.
O Capítulo 1 é uma introdução geral ao livro, onde distinguimos
entre diferentes tipos de questões que algu é m pode perguntar sobre
comportamento. Em particular, enfatizamos a diferença entre
4 Terceira edi çã o questões sobre valor ou função de sobrevivência e aquelas que
^ *
Agradecemos os conselhos de Dale Clayton, Tim Clutton -Brock,
William Foster, Anne Houde e Anne Magurran e a gentil persuasão
tratam de mecanismos causais. Mostramos que a seleçã cr natural
deveria favorecer os indiv í duos que são mais capazes de propagar
seus genes para futuras gerações.
de Susan Stemberg da Blackwell Scientific Publications.
& T
* No Cap í tulo 2, discutimos como testar hipóteses sobre a
vantagem adaptativa do comportamento. Um método é a com-
paração entre espécies. Aqui, a lógica é que as diferenças de
*f comportamento entre espécies podem estar correlacionadas com
* diferenças nas suas ecologias. A partir dessas correlações, é
! possí vel extrair inferê ncias sobre o significado adaptativo dos
caracteres comportamentais. Ilustramos essa abordagem com
referê ncia à organização social em pássaros tecel ões, ant í lopes e
primatas. O segundo método é a elaboração de experimentos, por
exemplo, para mudar 0 comportamento e medir as consequências
sobre as chances de sobreviv ência e sobre 0 sucesso reprodutivo
do indiv í duo .
1
2/ INTRODU ÇÃ O INTRODU ÇÃO /3
1
Muitos dos cap í tulos anteriores referem -se à comunicação como
*
A
No cap í tulo 3, concentramos a atenção no indiv íduo. Os animais
são encarados como tomadores de “decisões” sobre caminhos
alternativos de ação, e as decisões podem ser analisadas em termos
— nlCcanismo comportamental de competição por recursos e de
um
interação social . No Cap í tulo 14 essas concepções são interligadas ér
\ Ai
% n
- SELEÇÃ O NATURAL
m*n
jag
^ por que as nectar í neas defendem territó rios três anos de idade, os machos jovens aparentados (à s vezes
* e por que o macho da mosca do esterco copula contendo 1600 flores
, em m édia, durante
irm ã os) deixam o seu bando de origem . Após um par de anos
\# *
%
41 minutos?
Niko Tinbergen, um dos fundadores da Etologia , enfatizou que
havia muitas maneiras diferentes de responder à questão “ Por
como nó mades, eles tentam assumir o controle de outro bando,
de machos velhos ou fracos. Depois de uma tentativa bem
sucedida de controle, permanecem no bando por dois a três anos,
quê? em Biologia. Estas passaram a ser reconhecidas como as quando, por sua vez, sào expulsos por novos machos. Portanto,
quatro perguntas de Tinbergen (Tinbergen , 1963). Por exemplo, a vida reprodutiva de um macho é curta.
M As quatro questões se perguntarmos porque os estorninhos cantam na O bando de leões consiste de um grupo permanente de femeas
l de Tinbergen poder í amos responder da seguinte maneira:
primavera, nós
estreitamente aparentadas e um grupo menor de machos inter-
Il- n .
1 Em termos de valor de sobrevivência ou fun ção. Os estorninhos
cantam para atrair parceiros para o acasalamento.
relacionados, presente por um curto per íodo de tempo iremos ,
9
n 2. Em termos de causalidade. Porque o aumento no comprimento
do dia desencadeia mudanças nos n í veis hormonais, ou pela
reprodutivo de um bando ( Bertram , 1975 ).
1. Os leões podem procriar durante o ano todo, mas embora
9
m maneira em que o ar flui através da siringe e provoca vibrações
na membrana. Estas são respostas sobre os fatores externos e
diferentes bandos possam procriar em diferentes momentos, num
mesmo bando todas as femeas tendem a entrar no cio ao mesmo
internos que levam os estorninhos a cantarem . As leoas entram no tempo. O mecanismo, ou explica çã o causal , pode ser a influ ê ncia
3. Em termos de desenvolvimento , Os estorninhos cantam porque cio sincronicamen - dos feromô nios de um indiv í duo sobre o ciclo de estro de outras
9 eles aprenderam os cantos de seus pais e vizinhos. te ... femeas no bando. Um fen ô meno similar ocorre nas escolas, onde
4. Em termos de histó ria evolutiva . Esta resposta seria sobre como
> o canto evoluiu nos estorninhos a partir de seus ancestrais. Os
moças vivendo num mesmo dormitó rio podem també m apresentar
sincroniza ção dos seus ciclos menstruais, talvez devido ao efeito
pássaros vivos mais primitivos emitem sons muito simples, de feromônios (McCIintock , 1971 ).
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W
1
portanto é razoá vel supor que o canto complexo dos estorninhos
e de outros pássaros tenha evolu í do a partir de chamados
ancestrais mais simples.
E importante distinguir estes vá rios tipos de respostas, caso
A fun ção da sincroniza ção do estro entre os leões é o
nascimento ao mesmo tempo das diferentes ninhadas do bando.
Os filhotes nascidos sincronicamente sobrevivem melhor. Isso
acontece porque ocorre amamentação comunal e , com todas as
- !1 contrá rio o tempo será perdido em debates esté reis. Se algué m
disser que as andorinhas migram para o sul no outono porque
femeas apresentando lactação conjunta, um filhote pode mamar
em outra fê mea se sua mã e estiver caçando ( Fig. 1.1 ). Além disso,
v i• estão procurando por suprimentos alimentares mais ricos, enquanto
outra pessoa disser que o fazem por causa no decréscimo no
com os nascimentos sincrô nicos, h á maiores chances de que os
vI »
jovens machos tenham companhia quando atingirem a idade em
comprimento do dia , n ão teria sentido discutir sobre quem estaria que devem abandonar o bando. Com um companheiro o macho
:; 4
correto. Ambas as respostas podem estar certas, a primeira em
termos de valor de sobreviv ê ncia ou função, e a segunda em
termos de causalidade. Os fatores que influenciam o valor de
tem maiores chances de ser bem sucedido na tentativa de assumir
controle de outro bando ( Bygott et al . , 1979).
1
. :V
:
15
os filhotes de um macho precedente, reconduzem as f êmeas à ^
condição reprodutiva mais rapidamente, e assim toma mais Éà
pró ximo o dia em que ele próprio poderá ser pai. Se os filhotes
fossem deixados intactos, a f êmea não entraria no cio outra vez
por 25 meses. Matando os filhotes, a fê mea estará pronta para
acasalar após somente 9 meses. Lembre que a vida reprodutiva
^
w
dos machos no bando é curta, portanto qualquer indiv í duo que A
Explica ções causais e cometa infantic ídio, quando assume o comando de um bando,
^4
8/ CAP ÍTULO 1
SELEÇÃ O NATURAL /9
serã o aqueles que promovem de maneira mais efetiva a sobre- depois de serem alimentadas com inibidores de fosfodiesterase.
vivência e o sucesso reprodutivo de um indiv í duo (c de seus Isto sugere que a enzima é necessá ria para a aprendizagem
parentes, ver mais adiante ). Como resultado, n ós dever í amos associativa. Outros mutantes com deficiê ncia de aprendizagem ,
esperar que os indiv íduos se comportassem de modo a promover como o “amnésico”, que aprendia normalmente mas esquecia
a sobrevivê ncia genética. rapidamente, foram isolados. Em todos os casos, as mutações
Antes de discutir como a reflex ão sobre os genes pode ajudar pertubaram sistemas mensageiros ( Dudai 1989).
a entender a evolução do comportamento, nós devemos examinar
a evidê ncia de que as diferenças gê nicas podem causar diferen ças (a) Experimentos de seleção artificial
no comportamento. Linhagens selecionadas podem ser produzidas, escolhendo como
pais aqueles indiv í duos que apresentam valores extremos de algum
Genes e comportamento cará ter comportamental , em cada gera çã o. Por exemplo, A.
A ecologia comportamental trata da evoluçã o adaptativa do Manning ( 1961 ) conseguiu selecionar indiv í duos com duas velo-
comportamento em relação às circunstâ ncias ecol ógicas. A seleção -
cidades de acasalamento em mosca - de fruta , Drosophila
Diferen ç as compor- natural só pode atuar sobre diferenças genéticas, assim para que melanogaster , pela procria ção seletiva de acasaladores rá pidos ou
tamentais podem ter o comportamento evolua (a) deve haver, ou deve ter havido no lentos. Tais experimentos de seleção quase sempre funcionam,
uma base genética passado alternativas comportamentais na população, ( b) as dife- demonstrando que grande parte da variação fenot ípica contínua
renças devem ser ou devem ter sido herd á veis, em outras palavras, encontrada em uma população possui base gené tica. Um outro
uma proporção da variação deve ter origem gené tica, e (c ) algumas Diferen ças gené ticas exemplo aparece em grilos, Gryllus integer , onde os machos
alternativas comportamentais devem conferir maior sucesso na vocaliza çã o de vocalizam para atrair as fê meas ou mterceptam silenciosamente
reprodutivo do que outras. grilos ... fê meas atra í das por vocalizadores. Cade ( 1981 ) foi capaz de
Três métodos principais tê m sido usados para estudar os modos selecionar machos que vocalizavam muito e machos que só o
pelos quais os genes influenciam o comportamento: o uso de faziam raramente, portanto revelando que a variação na duração
mutantes genéticos, experimentos de seleção artificial e estudo de dos chamados tem um componente genético.
populações com diferenças gen é ticas.
(c) Estudando populações com diferenças genéticas.
(a ) O uso de mutantes genéticos
Populações geograficamente distintas de uma espécie freq úentemente
Seymour Benzer ( 1973 ) usou mutagênicos ( radioativos ou qu í - apresentam diferenças morfológicas e comportamentais, refletindo
micos ) para produzir mutações gen é ticas que alterassem o adapta ções a diferentes condições ecológicas. S. Amold ( 1981 )
comportamento em moscas de frutas, Drosophila. Em um dos estudou a cobra n ão venenosa Thamnophis elegans , no sudoeste
mutantes, conhecido como “engasgado”, o macho falhava em dos EUA. As cobras do interior são essencialmente aquá ticas
se desengajar da fê mea após os 20 minutos normais da có pula. e usualmente se alimentam de sapos, peixes e sanguessugas, sob
Muta çã o em outro gene produzia machos com “coito interrom - a á gua. As populações costeiras são ca çadoras terrestres, e se
pido”, que se desengajavam em apenas 10 minutos e falhavam alimentam principalmente de lesmas. Em experimentos de escolha
na produ çã o da prole. Benzer foi capaz de traçar as causas destas em laborató rio demonstrou -se que cobras capturadas no interior
muta ções e mostrou que resultavam de anormalidades nos recusavam -se a comer lesmas, enquanto aquelas das regiões
receptores sensoriais, no sistema nervoso ou m ú sculo das moscas. ... e prefer ê ncias ali- costeiras as aceitavam imediatamente. Testes com cobras recém-
Mutantes que exibiam defici ências no aprendizado também foram mentares em cobras nascidas mostraram que 73% de indiv í duos da região costeira
isolados ( Dudai & Quinn,1980). Drosó filas normais aprendem atacavam e comiam lesmas, enquanto somente 35% daqueles
Mutantes de Dro -
sophila com deficiên - seletivamente a evitar um odor associado a um choque el étrico.
originá rios do interior também o faziam . As cobras jovens são
” incubadas no interior de suas mães, e portanto, uma possibilidade
cias de aprendizagem As moscas mutantes “ burras não aprendem a evitar o choque, era a de que a dieta da mãe pudesse influenciar os jovens,
embora apresentem comportamento normal quanto a outros
aspectos e pudessem aprender atividades visuais. As moscas diretamente. Amold acasalou indiv íduos do interior e da região
burras são produzidas devido a uma anormalidade de um gene costeira, e verificou que a prole demonstrava uma tendência
complexo, do qual ao menos uma porção codifica a enzima AMP intermediá ria na incidência de se alimentar de lesmas. N ã o eram
c íclico fosfodiesterase, que quebra o mensageiro intracelular mais semelhantes à s mães do que aos pais, e, portanto, a influ ência
AMPc. As moscas burras apresentavam elevados n í veis de AMPc da dieta maternal podia ser descartada. Estes estudos sugerem que
e, além disso, moscas normais demonstravam pouca aprendizagem as diferenças na preferê ncia alimentar estavam correlacionadas com
12/ CAP ÍTULO 1 SELEÇÃ O NATURAL /
são visitantes
de verão na Europa. Se alguns indiv í duos forem cr mento não-migratório
mantidos em 76
cativeiro, apresentarão um per íodo de intensa atividade fi
que corresponde ao per íodo em que migram para
no outono,
o sul, para passar 8
o inverno na Á frica. Comparações quantitativas 52
da atividade §
noturna de pá ssaros em cativeiro mostraram que 50
a dura ção da ‘< 0
tn
migravam .
-
atividade correlacionava se com a distâ ncia em que os
indiv íduos
a
o
•
medidas em £ c ioo
Pais F F2
Jl
cativeiro. Os blackcaps sã o ideais para tais F
3 F4 F5 Fe
estudos porque
populações diferentes exibem graus diferentes Gerações
de comportamento
migrató rio: por exemplo, no sul da Alemanha
todos os pá ssaros Fig.1.2. Seleçã o pura comportamento migrat ório ou não-migrat ó rio em
migram, no sul da França somente uma parte da
população migra “ blackcaps’*. Os n ú meros indicam quantos pá ssaros foram cnados a cada
e nas ilhas de Cabo Verde a população é inteiramente sedent geração Começando com um estoque parental onde cerca de 75% dos pá ssaros
á ria.
A que ponto essas diferenças inter-populacionais refletem diferen - migravam , o experimento de seleção produziu uma popula ção de nãp migradores
ças genéticas? Berthold investigou essa questão a partir de dois em seis gerações e outra de migradores em três gera ções. Em cada geração,
tipos de experimentos: acasalamentos entre pássaros de diferentes metade dos pares eram pássaros no primeiro ano de vida e metade eram
misturas de pá ssaros no primeiro ano de vida com pares de pássaros mais
populações e experimentos de seleção. Em ambos os casos foram velhos ( Note que o eixo vertical do gráfico tem escala invertida )
Seleçã o do compor- estudados “ blackcaps” acasalados em cativeiro com acompanha-
tamento migrat ó rio ment0 do comportamento migrató rio da prole em gaiolas equipadas
em “ blackcaps ” com poleiros eletró nicos para registro da inquietação migrató ria. tambcm mostra como um cará ter ecologicamente importante como
H í bridos de pais do sul da Alemanha ( migradores ) e da Ilha a migração pode responder rapidamente á seleção
Diferen ç as compor- Estes v á rios exemplos mostram que as diferenças gené ticas
de Cabo Verde ( residentes ) exibiram comportamento intermedi á rio. tamentais provoca - entre os indiv í duos podem levar a diferenças no comportamento
Cerca de 40% da prole apresentou inquietação migrató ria e o
restante n ão. Al é m disso, em m édia, o direcionamento frontal
das por diferen ç as
gen é ticas
(comportamento de acasalamento, aprendizagem, canto, compor -
tamento alimentar e migração ) . Três pontos precisam ser enfatizados.
preferido pela prole h í brida era indistingu í vel daquele dos pa ís da Primeiro, quando falamos deJgenes -relacionados-a - uma. -estrutura
Alemanha. Esses resultados mostram que as diferenças entre as ^
óu comportamento particulares, nós não estamos afinnando que _
duas populações têm bases gené ticas. Eles sugerem que mais de apenas um gene codifica o cará ter. Os genes agem em conjunto
um gene está envolvido (caso contrá rio, a prole iria se assemelhar é é prová vel que muitos genes influenciem as preferências de
'
a um dos pais dominante ) e que o efeito de vá rios genes acasalamento, há bitos alimentares e padrões de migração de um
provavelmente tem um limiar absoluto (caso contrá rio, toda a prole indivíduo. Entretanto, uma diferença de comportamento entre dois
seria intermediá ria entre os dois pais). indiv íduos pode ser devida à uma diferença cm um gene. Uma
Os experimentos de seleção de Berthold també m confirmam analogia ú til seria a preparação de um bolo. A diferença em uma
palavra na receita pode fazer com que o sabor de todo o bolo
a base genética das diferen ças no comportamento migratório. Entre
se tome diferente, mas isso não quer dizer que aquela ú nica palavra
267 “ blackcaps” de uma população de vale Rhone, no sul da seja responsá vel pelo bolo inteiro. Sempre que falarmos de genes
França, criados em cativeiro, três quartos revelaram-se migradores para certo cará ter, será uma simplificação para significar diferenças
e um quarto residentes, quando testados no laboratório. Através gené ticas que levam a diferenças no comportamento.
do acasalamento seletivo entre pais migradores e n ão migradores, Segundo, _os genes freqúentemente irão influenciar o compor-
Berthold foi capaz de produzir linhagens de “ blackcaps” que eram tamento de maneiras simples. As diferenças gê meas podem resultar
100% migradores ( em três gerações) ou 100% residentes (em seis em diferenças comportamentais porque os genes codificam para
gerações ) ( Figura 1.2). Este experimento não só confirma a base enzimas que influenGiam-o-desenvolvimento dos sistemas sensonal,
gené tica para as diferenças no comportamento migrató rio, como nerv oso e muscular do animal , que por sua vez afetam seu
SELEÇÀO NATURAL /15
14/ CAPÍ TULO 1
comportamento. Por exemplo, um gene poderia influenciar a migram milhares de milhas desde o mar aberto at é pequenos
pTcf ércncia de uma mariposa para um tipo particular de substrato, có rregos onde desovam e morrem . Matam a si mesmos de exaustão ,
codificando certos pigmentos visuais do olho. Terceiro, somente para assegurar a sobreviv ê ncia da espécie.
Como o “ pensamento no grupo” é de fácil aceitação, precisamos
porque se pode demonstrar que os genes influenciam o compor- entrar em alguns detalhes para examinar melhor porque esta é uma
tamento, isto não implica que os genes por sf só produzem o
'
10
<A
2 Quadro 1.1 O balanço ótimo entre sobrevivência e esforço
B
o. 08
reprodutivo. Dados de Pianka & Parker ( 1975) e Bell
cd
( 1980)
-
O
o
t
2 4
I
crescimento c sobrevivência, c com o aumento dos riscos
durante a reprodu çã o, como a exposição aos predadores
6 8 10 12 14
O ciclo vital ó timo depende da forma da curva que
Tamanho da ninhada relaciona os lucros em termos de prole contemporâ nea aos
Fig. 1.5 Manipulações experimentais do n ú mero de filhotes em custos em termos de prole futura
um ninho
mostra que o tamanho ótimo da ninhada no chapim está entre 8 e 12 ovos.
Este c o tamanho da ninhada que maximiza o n ú mero de jovens
sobreviventes.
Dados de Pcmns ( 1979).
o
IA
IA
<u 2
3 B
Custos: IA
mortalidade -o o
V
de adultos si
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31
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O 8. S!
X
1
G W
cu Benef ícios: n úmero de
< jovens sobreviventes Esforç o reprodutivo atual
ZJ \ produzidos O conjunto de linhas retas representam isoclinas de valor
o I
adaptativo, i e , produção igual de prole ao longo da vida
C/5
O
I
I Em uma população est á vel, prole atual e futura terão valor
u
C/5
3
I
I
I
l igual e estas linhas apresentar ão inclina ção de 1 Em uma
população em expansão, a prole atual vale mais do que
-
t> 2 bi a futura (a prole atual dá uma maior contribuição para o
pool gêmeo) e as inclinações são mais acentuadas. Em uma
Tamanho da ninhada popula ção em decl í nio, a prole futura vale mais e a
Fig 1.6 Influê ncia da mortalidade de adultos
sobre o tamanho ó timo da ninhada O
inclinação será menor do que 1 . -
O ponto de intersecçã o das curvas de balanço entre
n úmero dejovens produzidos versus tamanho da
na Fig. 1 5, onde b, é o tamanho da ninhada que ninhada descreve uma curva, como sucesso reprodutivo atual e futuro com a isoclina de valor
produzidos por evento reprodutivo. O maximiza o número dejovens adaptativo mais distante da origem assinala a t á tica
aumento no tamanho da reprodutiva ó tima ( indicada por um ponto só lido ). Quando
custo o aumento da mortalidade de adultos, indicado aqui por ninhada tem como
simplificar . O tamanho da ninhada que maximiíza o sucesso
uma linha reta, para a curva de balanço é convexa ( a ), o valor adaptativo é
da vida é b•2, quando a distância entre as curvas de reprodutivo ao longo maximizado com a alocação de parte dos recursos para
Este valor é menor do que b, , que maximiza o sucessobeneficio e de custo é máxima. reprodução atual e parte para a sobrevivê ncia ( por exemplo,
reprodutivo por ninhada
Dados de Chamov e Krebs (1974 ) iteroparidade, ou reprodução iterada ). Quando a curva é
cô ncava ( b ), é melhor alocar todos os recursos para a
reprodução imediata , mesmo à s custas da pr ó pria sobre-
da vida. Em geral, o tamanho da ninhada que maximiza o sucesso de vivência (semelparidade, ou reprodução suicida “ explosi-
reprodução ao longo de toda a vida será ligeiramente menor do que va "). Se o sucesso reprodutivo futuro m á ximo é maior
aquele que maximiza o sucesso de cada tentativa de reprodu ção. O do que o sucesso reprodutivo atual má ximo no caso ( b ),
quadro 1.1 fornece um modelo mais geral para o balan ço entre esforço entã o a tática ó tima é não reproduzir e guardar todos os
reprodutivo imediato e futuro. recursos para o futuro.
i
I
i
20/ CAPÍTULO 1
I SELEÇÃ O NATURAL /21
I
Ainda n ão há evidência de aumento de
com a criação de prole mais numerosa no custos de mortalidade Tabela 1.2 Uma comparação entre o tamanho da ninhada dc passenformes
Parus major . Quando
t * .
Pcttifor et al. (1988) manipularam o
removendo ou adicionando 3-4 jovens, logo ap
pais que criaram
tamanho
ós a
da ninhada,
eclosão, os
europeus, agrupados cm duas categorias ecológicas As espécies que mdi íicam
em ocos tem ninhadas maiores. Dados de Lack ( 1968)
ninhadas aumentadas sobreviveram até a próxima
« *9
Vri estação t ão bem quanto
natural ou diminuídas cm ú
aqueles que criaram ninhadas de tamanho
n mero
Tipo dc ninho Prcda çã o Tamanho m édio
da ninhada
Dura ção m édia
dc permanência no
nenhum custo de reprodução, ou seScc isto significa que n ão há ninho (dias)
exige mais estudos. Em dif ícil medir este custo,
i da ninhada revelou custosParus caeruleus uma manipulação similar
Em ocos
Expostos
baixa
alta
6,9
5.1
17
13
I anos mas não em outros, de sobrevivência sigmficantes em alguns
prazo são necessários para de onde se conclui que estudos de longo
uma avaliação mais adequada (Nur, 1988) crias, enquanto aqueles que mantinham pequenas ninhadas se
* 9 Conclu í mos que a taxa reprodutiva
está próxima daquela que sa í ram melhor com pequenas crias (Fig. 1.7). Variações no
4 9 Os indiv íduos podem émaximiza o sucesso individual . Portanto, o tamanho da ninhada tamanho das ninhadas ocorriam porque havia uma gama de
ótimo do ponto de vista
\ ter ótimos diferentes o de um indiv íduo ego ísta Evidentemente, qualidade dos territórios e cada par criava uma ninhada apropriada
9 tamanho exato da ninhada
4 ano, e durante a estação, deve variar um pouco de ano para
para seu territó rio particular. Experimentos mostraram otimizaçã o
dependendo do suprimento alimentar, individual semelhante no tamanho da prole no Parus major ( Pettifor
I de modo que os indiví
duos realmente apresentam alguma variação. et al . 1988) em tiran í deos ( Gustafsson & Sutherland 1988 ).
V Entretanto, as variações ocorrem em função do
* 9 cada indivíduo egoísta, e não para
o bem do
próprio ótimo de Esp é cies que nidifl-
exemplo disto aparece no estudo grupo. Um bom cam em ocos produ-
9 corvídeos, Pica pica, reproduzindode Goran Hogstedt (1980) sobre zem ninhadas maio-
Um dos principais temas deste livro é o fato de que diferentes
estratégias de ciclos vitais sã o favorecidas sob diferentes circuns -
m 9 observados de ninhadas variaram no sul da Suécia. Os tamanhos
entre 5 e 8, dependendo das
res tâ ncias ecológicas. Por exemplo, continuando nossa discussão
condições alimentares em diferentes
~
0*
» seria a de que algumas f
e o~ nú mero máximo de jovens que podem
Á
territórios. Nossa hipótese
êmeas põem apenas 5 ovos, porque este
criar de maneira eficiente
no seu território particular . Hogstedt manipulou o
sobre tamanho da ninhada , se as espécies de passenformes da
Europa forem agrupadas em duas categorias ecol ógicas, aquelas
que nidificam em cavidades e aquelas que fazem ninhos expostos,
verifica-se que as que nidificam em cavidades apresentam maiores
tamanho das
ninhadas experimentalmente e encontrou que os casais que tamanhos de ninhada (Tabela 1.2). A mesma relação ocorre entre
produziram as maiores ninhadas se sa í ram melhor com patos, onde as espécies que fazem ninhos expostos apresentam
grandes
^^
r:
*^
*
(
C3
(X
A
5c Tamanho natural ( inicial ) da ninhada
menores ninhadas do que aquelas que nidificam em cavida -
des ( Lack , 1968 ) . Os filhotes est ão relativamente a salvo de
predadores nas cavidades, enquanto h á um pré mio para o abandono
i ?
1
B 4
s3
de ninhos expostos, tão logo quanto poss í vel , pelos filhotes. A
mesma quantidade de alimento poderia ser usada para criar uma
prole pequena rapidamente ou uma prole maior niais lentamente.
Em espécies com ninhos expostos, o risco mais alto de predaçào
'
*c
9
% - % <L>
XI
S
6
‘3
á 1
2
aparentemente levou à seleção de ninhadas menores e de r á pido
crescimento dos filhotes.
çã g
òTem
Fig. 1.7 Experimentos sobre tamanho da ninhada em corv ídeos. As ninhadas de
9 casais que inicialmente colocaram 5 ,6,7 ou 8 ovos foram aumentadas ou reduzidas para as gerações futuras. Segundo, o jnelhor compromisso
um
entre
cicló
ço reprodutivo em
:
0
9 experimentalmente. Casais com ninhadas naturais grandes obtiveram resultados
melhores com ninhadas experimentais grandes e vice versa . Dados de Hogstedt
a sobreviv ê ncia de
vital irá depender da
adultos e o
ecologia ,
esfor
do ambiente fí sico onde vive o
, etc.
9 ( 1980). indiv í duo, de seus competidores, alimento, predadores
%
%
% 9
Sé
seleção tenderá a modelar animais como forrageadores eficientes, como os filhotes em uma ninhada podem matar seus irmãos V
evitadores de predadores eficientes, copuladores eficientes, pais quando competindo pelo alimento trazido pelos pais.
eficientes e assim por diante. O “ótimo’* dependera das alter- ^
_
nativ as comno rtameatais dispon í veis, que por sua vez dependerão
Montgomerie e Weatherhead ( 1988) discutem como o conflito
entre sucesso instantâ neo e futuro influenciam a defesa do ninho
das vá rias restrições impostas pela filogen ía, fisiologia e ecologia . pelos casais de pássaros.
A ecologia comportamental, portanto, é um ponto de encontro
para o comportamento, ecologia c evoluçã o. N ós podemos pensar
na ecologia como sendo o palco no qual um animal deve executar Tó picos para discuss ão
o seu comportamento, e na evolução como o processo que
seleciona os indiv íduos cujos comportamentos resultam nos 1. Como você testaria as explicações funcional e causal para o
maiores sucessos na disputa para contribuir com genes para o comportamento dos leões na Tabela 1.1 ?
conjunto de genes da população. O objetivo desta abordagem é 2. Sob que condições iria o compromisso entre reprodução atual e futura
entender porque diferentes espécies se comportam de diferentes se assemelhar a (a ) ou ( b) no Quadro 1.1 ?
maneiras e porque em uma mesma espécie pode haver diferen ças 3. O que você entende pela expressão ‘ tamanho ó timo de ninhada’ ?
comportamenta ís individuais. Para atacar esses problemas nós
devemos aprender a ecologia da espécie c també m como os
indiv í duos em uma população competem por recursos escassos,
tais como alimento, parceiros sexuais e territ ó rios.
«ri
Resumo
A ecologia comportamental lida com questões funcionais sobre
o comportamento, especialmente como um padrão comportamental
*L
particular contribui para as chances de sobreviv ê ncia de um animal
e para o seu sucesso reprodutivo. Experimentos mostram que
diferenças de comportamento podem resultar de diferen ças nos
genes. A seleção natural irá favorecer os genes que melhor
promovam as chances de um indiv í duo passar tais genes para
futuras gerações. Espera -se que os indiv íduos comportem -se de
modo a satisfazer seus próprios interesses ego ístas e n ão para
o bem da espécie ou do grupo. As condições ecológicas irã o
determinar que padrões comportamenta ís sã o favorecidos durante
a evolu çã o.
Leituras complementares
Os livros de G .C. Williams ( 1966) e Richard Dawkins ( 1976, 1982 )
oferecem discussões excelentes sobre comportamento e evolu ção.
Williams enfatiza a evolu çã o do egoí smo individual em oposiçã o
ao comportamento para o bem do grupo. Dawkins defende a visão
de que dever íamos pensar em termos de genes em vez de
indiv í duos para poder entender a evolu çã o do comportamento.
Partridge (1983) e Bateson ( 1983) discutem como os genes
influenciam o comportamento. Southwood ( 1981 ) e Lessels ( 1991 )
mostram como diferentes ciclos vitais são favorecidos sob
condi ções ecol ógicas distintas.
Neste cap í tulo discutimos o tamanho ó timo da ninhada sob o
ponto de vista dos pais. Na verdade, h á conflitos de interesse
Capítulo 2. Testando Hipóteses em TESTANDO HIPÓTESES /25
Ecologia Comportamental
alimentar ou pressã o de predaçã o, por exemplo, influenciam a
tendência para vida em grupo ou solitá ria . Usar o mé todo
comparativo é como olhar para o resultado de experimentos
realizados pela seleção natural ao longo do tempo evolutivo. Os
Uma abordagem cient í fica rigorosa sobre a função do compor resultados desses “experimentos ” são os conjuntos de compor-
tamento envolve quatro estágios: observações, hipóteses, previsões- tamentos de várias espécies, que agora observamos. Por exemplo,
e testes. As duas primeiras, observação e hipóteses, freq úentemente a vida em grupo pode ocorrer em espécies que experimentam
caminham lado a lado. Pode levar muitos anos de estudos sobre condições particulares de alimentação.
uma espécie antes que seja possí vel elaborar boas questões
sobre
Neste capí tulo, iremos discutir em detalhes estes dois ú ltimos
seu comportamento e ecologia. O trabalho de Niko Tinbcrgen m étodos para investigar a adapta ção.
sobre a gaivota Larus argentatus foi o resultado de 20 anos
de
cuidadosas observações do repertório comportamental desse pássaro
e do ambiente onde vive. Após observar algum A abordagem comparativa
aspecto do
comportamento de um animal que não entendemos, como A idé ia de comparaçã o está no centro da maioria das hipó teses
devemos
proceder? sobre adaptação. E o estudo comparativo de diferentes espécies
Vamos supor, por exemplo, que queremos descobrir porque que nos desperta para amplitude de estratégias que os animais
o nosso animal vive em grupo em vez de ser solit á rio. N ós adotam na natureza. Quando fazemos perguntas funcionais sobre
poderemos ter uma forte indicação sobre essa fun ção a partir da o comportamento de uma espécie em particular, estamos usu-
simples observação. Se o animal vive em grupo apenas na esta ção almente perguntando porque ela é diferente de outras espécies.
de reprodução, podemos suspeitar que obté m alguma vantagem Por que a espécie A vive em grupos em contraposi ção a espécie
quanto à eficiência de cruzamento, por exemplo, se ele vive em B que é solitá ria? Por que os machos da espécie B acasalam-
grupo apenas no inverno, podemos suspeitar de alguma vantagem se monogamicamente enquanto os da espécie A são polig í nicos,
relativa a algum incremento na eficiê ncia de alimentação ou evitação etc.? Um método poderoso para estudar adaptação é a comparação
de predação. N ós podemos testar nossas id é ias de tres modos de grupos de espécies relacionadas na tentativa de esclarecer como
diferentes. exatamente as diferenças no seu comportamento refletem diferen -
Três métodos para 1. Comparação entre indivíduos dejwiajspécie^ Indivíduos em
^ ças ecológicas. Descreveremos, em primeiro lugar, dois exemplos
testar hipó teses grupos podem ter maior sucesso na alimentação, acasalamento ou pioneiros nesta abordagem comparativa e que inspiraram o uso
evita ção de predadores do que indiv í duos solitá rios. Alé m disso, deste mé todo com outros grupos animais. A seguir, destacaremos
o sucesso pode variar com o tamanho do grupo. Entretanto, o algumas das dificuldades metodológicas na formulação e teste de
problema é que podem existir vari á veis que criam confusão, Correlacionando di- hipóteses baseadas em comparações. Finalmente, descreveremos
indiv íduos solitá rios podem ser competidores piores, e isto, mais -
feren ças no compor alguns exemplos recentes do método comparativo que tentaram
do que sua existência solitá ria por si só, pode explicar o seu tamento com dife- superar esses problemas.
sucesso inferior, ou indiv í duos em grupo podem viver em h á bitats renç as na ecologia
de melhor qualidade, e assim por diante.
2. Experimentos. Frequentemente é melhor, portanto, realizar um ORGANIZA ÇÃ O SOCIAL EM P Á SSAROS TECELÕ ES
experimento. Em em experimento podemos variar um fator de
cada vez, por exemplo, poder í amos mudar o tamanho do grupo A primeira pessoa a tentar uma análise sistemá tica deste tipo foi
e ver como isto influencia o sucesso sob condições particulares. John Crook ( 1964 ) que estudou 90 espécies de pássaros tecel ões
( Ploceninae). Esses são pequenos tentilh ões que vivem em toda
Niko Tinbergen foi o pioneiro desses mé todos elegantes de
experimentação de campo para responder questões funcionais. Por Á frica e Ásia, e embora sejam semelhantes na aparência apre-
exemplo, para testar hipóteses de que o espaçamento entre ninhos sentam diferenças n ítidas na sua organização social. Alguns são
de gaivotas atua na redução de predação, ele criou conjuntos solitá rios, outros se deslocam em grandes bandos. Alguns têm
experimentais de ovos com diferentes padrões de espaçamento e ninhos cr í pticos em grandes territórios defendidos, enquanto
descobriu que aqueles com distribui ção agrupada sofriam maior outros fazem ninhos agrupados em col ó nias. Alguns são
predação do que aqueles com espaçamento natural ( Tinbergen et monogâ micos, com machos e f êmeas formando um par perma-
al., 1967 ). nente, outros são poligâmicos, com machos acasalando com
.
3 Comparação entre espécies. Espécies diferentes evolu í ram sob muitas fêmeas e contribuindo pouco no cuidado parental. Como
diferentes condições ecol ógicas e, portanto, compara ções entre podemos explicar a evolução desta grande diversidade de com-
espécies podem ajudar a entender como as diferenças na ecologia portamentos ?
r
26/ CAP Í TULO 2
TESTANDO HIPÓTESES /27
? 1*
sistemas de acasalamento e no comportamento anti - preda çã o. As di á rios entre esses dois extremos (Tabela 2.1 ).
espécies foram agrupadas em 5 categorias ecológicas ( Tabela 2.1 ).
Como nos pássaros tecel ões , muitas adaptações parecem intcrrela Adapta çã o ou Estó ria mal contada ?
cionadas .
-
* * A principal correlação da dieta e organiza ção social é com o Essa abordagem comparativa sobre a adaptação é persuasiva,
sm
r 1 Tamanho corporal ,
dieta e organiza çã o
tamanho corporal. Espécies pequenas apresentam exigê ncias me- mas apresenta problemas ( Clutton -Brock e Harvey , 1979, Gould
e Lewontin, 1979). Muitos dos problemas mencionados a seguir
tabólicas mais altas por unidade de peso e precisam selecionar Problemas na inter-
social não são exclusivos dos estudos comparativos e é útil tê-los em
1 alimentos de alta qualidade, tais como frutos e brotos. Estes tipos
de alimento aparecem na floresta , esparsamente distribu í dos, de
preta çã o de dados
comparativos mente em todo esse livro.
* I modo que espécies pequenas são forçadas a uma vida solitária .
A melhor maneira de evitar predadores na floresta é escondendo- HIP Ó TESES
1 se. Assim como as fê meas, os machos també m permanecem
ALTERNATIVAS
* 1 Tabela 2.1 A organiza çã o social de ungulados Africanos em rela çã o à sua ecologia. Dados de Jarman ( 1974 ) .
As explicações acima para as diferenças de organiza ção social são
plaus í veis, mas hipó teses alternativas não foram analisadas de
maneira rigorosa .
1 Grupos Peso Habitat Dieta Tamanho de grupo Unidade comportamento Variáveis ecológicas, tais como pressão de predação e ambiente
1 1 modelos ( Kg ) reprodutiva antipredador
em mosaico, també m foram usadas de maneira bastante vaga . Na
grau 1 ant í lope dik -
3 60 Floresta pastador I ou 2 par esconder - se verdade, entre os pássaros tecel ões invocamos a distribui ção de
dik e
1 Cephalophus
muito alimentos em mosaicos como responsável pela evolução da vida
é 1 seletivo ,
frutas ,
bot ões
em grupo, enquanto em ungulados dissemos que alimentos em
mosaicos de alta qualidade favorecem a existê ncia solit á ria . Aqui
grau 11 ant í lopes 20 80 - capoeira , pastador 2 at é 12 macho com esconder - se, há um risco óbvio na tentativa de explicar as coisas de maneira
1 Aepyceros
melampus e
campos
ribeirinhos
muito
seletivo
har é m fugir simplificada demais sem uma quantificação rigorosa dos fatores
* Litocranius ecológicos envolvidos.
1 walleri
ou
pastador
grau UI Impala 20 250- bosques pastador 2 at é 100 machos fugir ,
- CAUSA E EFEITO
-
r
Gazela
ant ílope
Kobus
ribeirinhos , seletivo
campos secos ou
pastador
territoriais
esta çã o
reprodutiva
na esconder se
manada
na
i
30/ CAP Í TULO 2 TESTANDO HIPÓTESES /31
.,
ê 1I *% Como podemos explicar a evolução desta série desnorteante
de organiza ções sociais? Logo tomou -se aparente que os fatores
ecol ógicos eram importantes. Por exemplo, De Vore ( 1965) notou
i i
que, comparados a outras espécies de primatas, os babu ínos anubis
viviam em grandes grupos, os machos eram grandes e tinham
, *§ Tamanho do grupo,
sistema de acasala -
grandes dentes. Sugeriu que tudo isso poderia ser uma adapta ção
para defesa contra predadores em ambientes terrestres. Em 1966,
haviam dados de campo suficientes para que John Crook e Stephen
mento e dieta em
Gartlan aplicassem pela primeira vez a abordagem comparativa a
* # primatas
um grande n ú mero de primatas.
S
*I Como nos trabalhos com os pássaros tecel ões e com os
ant ílopes, eles agruparam as espécies em categorias, baseados na
ecologia e no comportamento . A Tabela 2.2 mostra que, em um
dos extremos, os primatas inset í voros sã o animais que habitam
I a floresta, de h á bitos noturnos e solit á rios, e h á uma diversidade
de espécies comedoras de frutos e folhas que sà o diurnas e vivem
J
* em grupos pequenos ou grandes. No outro extremo, aparecem
<r
Grau II Indiri floresta frutas
Fig.2.3 Quatro fotografias ilustrando a variedade de organiza ções sociais em crepuscular muito pequenos macho ú nico
Lemur ou folhas ou diurno com familia sutil
primatas (a ) Tabela 2.2 , Grau I: Um
,
prossí mio solitá rio inset í voro, o Galago Hylobates
fj i
senegalensis (foto de Caroline Harcourt) ( b) Tabela 2.2, Grau II Um par
monogâ pco, arborícola e folivoro, de gtbào negro ( Hylobatesconcolor ). O macho Grau III Colobus floresta frutas diurno pequenos grupos de sutil para
9 está à esquerda. ©Ron Tilson/BPS (c) Tabela 2.2, Grau IV. Parte de uma tropa de Saimiri
Gorilla
ou bordas ou frutas
de florestas e folhas
m ú ltiplos
machos
levemente
acentuado/
lêmures,arboricolasefolívoros (Prv56vtoo6jCHrwí)©RonTilson/BPS. (d)Tabela acentuado
2.2, Grau V: Uma tropa debabuinosoliva da savm( Papioanubis ). Há doismachos
subordinados no primeiro plano e os machos dominantes estão ao fundo pró ximo Grau IV Macaca bordas vegetaçãoI diurno mé dio a grande grupos acentuado
Cercopithecus de florestas on í voro
às fêmeas e aos filhotes Foto de Irvcn De Vore ( Anthro-Photo). aetbiops com savana
de m últiplos
machos
Pan arbórea
funcional da socialidade. Na década de 50, os primeiros estudos Grau V Erylhrocebus campos vegeta ção/ diurno grupos com acentuado
m é dio a grande
de primatas no campo (p.ex., Carpenter, 1954) revelam que, na patas ou savana on í voro um macho
verdade, a atividade sexual não era contínua. Também ficou Papio á rida
hamadrias
) evidente que diferentes espécies possu íam organiza ções sociais Theropilhecus
muito distintas (Fig. 2.3). Os minúsculos társios e lêmures caçam gelada
TESTANDO HIPÓTESES / 35
34/ CAP Í TULO 2
grandes grupos, onde há acentuado dimorfismo sexual e com - pode apresentar-se enviesada, pois refletiria filogcma mais do que
petição intensa entre machos pelas fêmeas. ecologia ; todos os seis gibões podem ser descendentes de um
Mais uma vez, alimento e preda ção foram indicados como as ancestral ú nico, monogâ mico, arbor ícola c frugí voro. Como em
Alimentaçã o e preda - pressões seletivas responsá veis por esta vincula ção entre um gê nero as espécies tendem a ter caracter ísticas semelhantes,
çã o parecem ser as principais devido às restrições filogené ticas, aná lises de dados de espécies
principais press ões organiza çã o social e há bitat. Os insetos sã o dispersos e dif íceis introduzem desvios estat ísticos devido aos generos com grande
seletivas de encontrar, portanto, do mesmo modo que os pássaros tecel ões, n ú mero de espécies.
esses primatas inset ívoros são solitá rios. No campo aberto, a Algumas solu ções diferentes foram propostas para o problema
preda ção favorece o agrupamento, que aumenta a segurança, da independ ê ncia taxonô mica . Uma opção conservadora é basear
enquanto o alimento localmente abundante permite que muitos as an á lises comparativas em n í veis taxonô micos superiores tais
indivíduos se re ú nam em uma fonte alimentar. Como os pássaros como gêneros ou mesmo fam í lias, obtendo-se um valor médio
tecelões que vivem em campo aberto, esses primatas vivem em para as espécies de um gê nero ou para os gê neros em uma fam í lia .
gjupos. Em um grupo grande, os machos competem
uns com
Este m é todo pode ser adequado para superar problemas de n ã o-
os outros pelos direitos do acasalamento e, assim, foram
selecionados para apresentarem grande tamanho corporal. independ ê ncia mas també m pode levar à perda de dados ú teis
Em sua abordagem, Crook e Gartlan colocaram os primatas quando, por exemplo, a divergê ncia evolutiva entre espécies de
em um pequeno n ú mero de categorias discretas. Isto criou dois um gê nero representa eventos evolutivos genuinamente indepen -
problemas principais. Em primeiro lugar, caracteres como tamanho dentes.
... que podem ser Os biólogos evolutivos já concordam que o modo ideal de fazer
da á rea de a ção e tamanho dos grupos apresentam varia ção
cont í nua e a delimita ção de grupos fixos e consistentes é um pouco identificados a partir uma aná lise comparativa é reconstruindo a á rvore filogen ética do
arbitrá ria. Como os grupos são definidos subjetivamente, fica difícil de uma á rvore filo- grupo em estudo, usando-a para comparar dados puntuais que
para outros pesquisadores colocarem outras espécies dentro do genética podem ser claramente definidos como eventos evolutivos inde-
mesmo esquema. Em segundo lugar, aspectos diferentes da pendentes ( Harvey & Pagel 1991 , Harvey & Purvis 1991; Quadro
organização social, tais como sistema de acasalamento e tamanho 2.1 ). Na prá tica, essas á rvores í ilogené ticas nem sempre est ã o
do grupo, não variam necessariamente em sintonia e da mesma dispon í veis e, nestes casos, ou se obtê m aproximações (Quadro
maneira. Por exemplo, duas espécies de primatas poderiam 2.1 ) ou se adota a abordagem conservadora, usando os n í veis
taxonô micos superiores para comparações estat ísticas, como nos
apresentar o mesmo sistema de acasalamento e viver em grupos
de diferentes tamanhos.
exemplos das pró ximas seções.
Tim Clutton - Brock e Paul Harvey tentaram evitar esses Consideraremos agora alguns exemplos de abordagens com-
problemas, primeiramente, medindo os v á rios aspectos do com - parativas sobre a organiza çã o social e a morfologia de primatas,
portamento social e da morfologia numa escala cont í nua . Em tratando diferentes gê neros como pontos independentes nas
segundo lugar, usaram testes estat ísticos multivariados para isolar aná lises, para ilustrar como a comparação tomou -se um exerc í cio
os efeitos de vari áveis ecol ógicas distintas sobre o mesmo cará ter mais rigoroso e objetivo.
As an á lises compara- e para analisar, independentemente, a influ ê ncia de fatores
tivas deveriam se ba - ecológicos sobre cada aspecto da organização social. O terceiro
TAMANHO DA Á REA DE A ÇÀO
sear em eventos evo- aperfei çoamento foi a avaliação cuidadosa do n í vel taxon ô mico que
lutivos independen - deveria ser usado nas an á lises, por exemplo, espécie, gê nero, Animais maiores precisam comer mais alimento e assim, em
tes ... subfam í lia ou fam í lia. geral , espera -se que apresentem á rea de açã o maiores. Portanto,
Este ú ltimo problema refere-se à independê ncia dos dados se queremos examinar a influ ê ncia de uma vari á vel ecológica, tal
puntuais. Imagine a plotagem de todas as espécies de primatas como a dieta, sobre a á rea de ação, devemos ter algum controle
num grá fico a fim de investigar a relação entre peso corporal sobre o peso corporal como variá vel que gera confusão. Quando
e alguma vari á vel interessante, como o tamanho da á rea de a ção, o tamanho da á rea de a ção é relacionado com o peso total de
o tamanho do cérebro ou o sistema de acasalamento ( p.ex., n ° um grupo que nela vive, como era de se esperar, observa-se que
de fê meas por machos em um grupo reprodutivo). Em nosso Os animais com h á- quanto maior o peso do grupo, maior a á rea de ação ( Fig. 2.4).
íamos que em um gê nero todas as espécies
grá fico, encontrar bito alimentar espe- A influ ê ncia da dieta sobre o tamanho da á rea de a çã o fica mais
apareceriam amontoadas em um grupo de pontos próximos. Por cializado tê m á rea de evidente quando os especialistas ( inset í voros, frug í voros) são se-
exemplo, todas as seis espécies de gibões tê m peso corporal açã o maior do que parados dos comedores de folhas (fol í voros): para um determinado
similar, são monogâ micas, arbor ícolas e frug í voras. Nosso pro- os generalistas peso grupai os especialistas possuem á rea de ação maior. A expli -
blema é se dever íamos tratar essas espécies como seis pontos ca ção prová vel é que os frutos e os insetos estão espalhados mais
independentes ou apenas um ponto, em qualquer an á lise estat ística. dif ú samente do que as folhas e, assim , os especialistas precisam de
Se forem consideradas seis pontos independentes, nossa aná lise uma á rea de ação maior para encontrarem alimento suficiente.
m.
. Li.Mli)!
r $
I
ra *
ír j| 36/ CAP ÍTULO 2 TESTANDO HIPÓTESES /37
>-
Quadro 2.1 O método comparativo de 5. Um exemplo sobre o uso do m é todo de compara ções
independentes.
comparações
independentes. De Voogd et al. ( 1992) (Figura a) mediram
.
1 Para levar a efeito uma análise
o volume de um n úcleo cerebral (o centro vocal superior, !
J comparativa é funda-
mental que as análises estat ísticas estejam
baseadas em
CVS) envolvido na aprendizagem do canto em 45 espécies
de aves passeriformes. Eles examinaram a relação entre
eventos evolutivos independentes. Por
LI %
(1989) constatou uma forte exemplo, Hõglund
associação entre o compor-
o tamanho do n úcleo cerebral, em proporção ao resto do
cérebro, e uma estimativa da aprendizagem do canto
tamento de formar arena e o dimorfismo (extensão do repert ó rio musical ). A á rvore filogené tica de
.I
pássaros, quando usava espécies como sexual em
I unidades
paração, mas a relação desaparecia quando de com- aves constru í da a partir da diverg ê ncia gené tica por Sibley
fazia a com - e Monroe ( 1990 ) foi usada para aplicaçã o da técnica
V
paração correta entre pontos independentes. É prcciso
descrita no parágrafo 3. Observou -se uma relação signi -
4 9
cautela no uso de espécies como dados puntuais
2. O ideal é construir uma árvores filogen
.
ter
ética, como
ficativa entre extensão do repertó rio musical e tamanho do
n ú cleo cerebral. Os resultados são expressos como dife-
ilustrado abaixo:
*I I
ren ças (“contrastes” ) nas duas medidas em pares de taxa
que foram identificadas como divergê ncias independentes.
i I -CO
*I —_
5o. 0 3
Si
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-0 0 5 0 00 0 05
Contrastes relativos em log (CVS)
o 10
«I
W\ variá veis relevantes) são totalmente conhecidos as com-
1 para çõ es podem ser feitas entre cada par ancestral-
i
descendente como eventos independentes (A e B, B e D, Essas tendências gerais são confirmadas pelos estudos mais
1 detalhados de espécies particulares. O macaco Colobus badius
« B e E, A e C, C e F, C e G ). Logo, haveria seis
é um comedor especialista, comendo brotos, frutas e flores.
1 comparações entre, digamos, dimorfismo sexual e á rea de
açã o. O alimento aparece disperso em mosaicos e esta espécie
1 4. Mais freqiientemente, o estado do cará ter ancestral é perambula por uma grande á rea de ação de aproximadamente
m desconhecido. As espécies viventes D, E, F e G podem 70 hectares. O Colobus geureza é um generalista, comendo
% ser estudas diretamente, mas só é possí vel fazer especu - folhas de qualquer idade. Seu suprimento alimentar é denso,
distribu ído equitativamente, e sua área de ação é de somente
*
: >
_ 1 % la ções sobre o comportamento de A, B e C. Neste caso,
as comparações podem ser feitas entre D e E e entre F 15 hectares (Clutton-Brock , 1975).
.^
í
f
' 1 e G com base nos valores medidos, e entre B e C com
:s J -
base em um valor estimado ( por exemplo, o meio termo
entre as duas espécies descendentes). Existe muito debate
sobre a melhor maneira de se estimar os valores ancestrais
DIMOFISMO SEXUAL NA MASSA CORPORAL
Em primatas, os machos são frequentemente maiores do que
% B e C ( Harvey & Purvis 1991 ). Para evitar tais debates, as f ê meas. Duas hipóteses poderiam explicar essa observação.
9- O dimorfismo sexual poderia capacitar os machos e as fêmeas
% J % alguns autores preferem apenas analisar as diferenças entre
pares de espécies viventes (Moller & Birkhead, 1992). a explorarem nichos alimentares diferentes, evitando assim a
%
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Gori /la • Colobus Erythrocebus
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1 10 100 1000 2500 E J
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Peso do grupo ( kg ) Q 09 4 5 6 7
2 3
Fig. 2.4 Tamanho da área de açà o versus o peso do grupo
que a habita para diferentes Razã o sexual em grupos reprodutivos (n ú mero de fêmeas por macho).
gê neros de primatas Os c í rculos sólidos (•) são os
fol í voros, com uma linha dc
regressão cont í nua através dos pontos. Os círculos
abertos (°) sào os grupos com Fig. 2.5 O grau de dimorfismo sexual aumenta com o n ú mero de femeas por macho
há bito alimentar especializado (inset í
voros ou frug í voros) c a linha dc regressão no grupo reprodutivo Cada ponto é um gênero diferente e alguns deles estão com
é
atrav desses pontos é tracejada Alguns dos gê
s o nome indicado. Dados de Clutton - Brock & Harvey ( 1977).
Dados de Clutton -Brock & Harvcy ( 1977).
neros são indicados pelo nome
O dimorfismo sexual
no tamanho corporal a diferen ça entre os sexos quanto ao tamanho dos dentes pode
resulta da competi - refletir apenas a diferen ça no tamanho corporal.
competi ção (Selander, 1972). Se isso é verdadeiro, então , Isto pode ser controlado pelo cá lculo da linha de melhor
çã o sexual prever que o dimorfismo seria maior entre as espé devemos
cies monogâmicas correspondência na relaçã o entre tamanho dos dentes e o peso
onde machos e f êmeas permanecem juntos e corporal das femeas. Se o tamanho dos dentes de um macho
mesmas á reas. Altemativamente, ele poderia teralimentam -se nas
evolu ído através for agora plotado em um mesmo grá fico, pode ser observado
da seleção sexual , favorecendo o
sucesso na competição por O dimorfismo sexu - se o seu tamanho é maior do que o esperado para uma femea
êmeas ( Darwin, 1871 ). Se a competição
f al no tamanho dos do mesmo peso corporal. Os resultados mostram que em espécies
sexual é importante,
então poderí amos prever que o dentes est á relacio- monog â micas, o tamanho dos dentes do macho é igual ao que
dimorfismo deveria ser maior entre
as espécies poligâ micas, onde um grande tamanho
corporal de nado com a compe- se esperaria encontrar para uma f êmea de peso corporal equi -
machos seria especialmente vantajoso, porque um macho poderia ti çã o sexual e com a valente. Entretanto, ele é maior do que o esperado entre as espécies
monopolizar v á rias fêmeas. defesa contra preda - com har é m . Esses dados suportam a hipótese de competi çã o sexual
Os dados comparativos não mostram nenhum sinal de tendência dores na evolução de dentes maiores em machos. Entretanto, não
prevista pela hipótese de separação de nichos, mas suportam a podemos excluir a hipó tese de defesa contra predadores, porque
hipótese de competição sexual, quanto mais f êmeas por macho é poss í vel que as espécies formadoras de harém sejam mais
no grupo em acasalamento, maior é o macho em relação à fêmea vulnerá veis á preda çào.
(Fig. 2.5). A aná lise pode ser levada um passo adiante, considerando as
espécies onde muitos machos vivem juntos em um grupo ( tropas
de m ú ltiplos machos ). Verifica -se que neste tipo de organiza ção
DIMORFISMO SEXUAL NO TAMANHO DOS DENTES social , os machos de espé cies de ambientes terrestres abertos tem
dentes maiores em rela çã o ao tamanho corporal do que as espécies
Os machos têm, freqúentemente, dentes maiores do que as fêmeas. arborícolas. Portanto, mesmo num sistema de acasalamento há
Outra vez, duas hipóteses podem ser sugeridas ( Harvey et ai , diferenças no tamanho dos dentes em diferentes há bitats. Usualmente,
1978). Dentes grandes podem ter evolu ído nos machos para defesa admite-se que o ambiente terrestre aberto ofereça maiores riscos de
do grupo contra predadores. Altemativamente, os machos podem predação e, assim, a pressão de predação pode ter sido responsá vel pela
ter dentes maiores devido à competição pelo acesso às fêmeas. evolução de dentes maiores nas espécies que vivem nessas condições.
Há aqui o problema do peso corporal como variá vel que gera Nossa conclusão é que tanto a competi çã o sexual como a
:onfusão, os machos são maiores do que as fêmeas e, assim, predação podem ter sido influenciado a evoluçã o do dimorfismo
*
1
I 40/ CAP Í TULO 2
TESTANDO HIP ÓTESES /41
'
* f I
'
i! 9
* sexual no tamanho dos dentes. Há também
de que as diferenças no tamanho dos
dentes
maior possibilidade
sejam importantes
2.6 mostra que, como esperado, o tamanho do testículo aumenta
com o tamanho corporal . Para um dado tamanho corporal,
na redução da sobreposição alimentar
1 % entre os sexos, prevenindo
assim, a competição por alimentos. Esse
exemplo mostra que,
entretanto, fica claro que os gê neros com sistemas de acasalamento
de multi- machos possuem test í culos mais pesados do que os
r i i mesmo com uma análise cuidadosa, pode ser
o efeito de muitas variáveis difícil discriminar
sobre a evolução de um caráter.
gêneros com macho ú nico ou sistema monogâ mico de acasalamento.
Os dados mostram que o primeiro grupo permanece acima da
j * linha enquanto o segundo fica abaixo (“macho ú nico ” indica que
há apenas um macho acasalando-se, embora , como nos gorilas,
*
3
TAMANHO DOS TEST Í CULOS E SISTEMA DE
Os primatas mais pesados, o gorila (
ACASALAM ENTO possa haver mais um macho no grupo social, “monogâ mico”
indica que há apenas um macho e uma fêmea no grupo). Estes
I
Gorilla
orangotango ( Pongo pygmaeus), têm sistemas de gorilla ) c o dados, portanto, apoiam a hipó tese de competi çã o entre espermas.
w
* onde os machos monopolizam muitas fê acasalamento
pesam 30g e 35g, respectivamente ( meas e têm test ículos que A abordagem comparativa revisada
1 *
peso médio de ambos os
test ículos). O menor chimpanzé (
Pan troglodytes), em contraste, A abordagem estat ística que descrevemos para os primatas
tem um sistema de acasalamento
com cada fê mea no cio e tem testonde muitos machos copulam apresenta melhora significativa em rela çã o à s primeiras aplica ções
provável que a marcada diferença
ículos pesando 120g. Parece do m étodo comparativo. Para resumir, os avan ços mais impor-
P
entre os pesos dos test ículos tantes são:
esteja relacionada com as diferenças 1. Aspectos diferentes da organizaçã o social são tratados í nde-
no sistema de acasalamento.
Nos sistemas com macho ú nico (gorila e pendentemente e como vari á veis cont í nuas.
), cada
macho necessita ejacular apenas o suficienteorangotango 2. Variá veis que causam confusão são trabalhadas de maneira
*3 para assegurar a
fertilização. Em sistemas de m ú ltiplos machos (chimpanz é), rigorosa .
3. H á maior cuidado na escolha do n í vel taxonô mico mais
* ^ Grandes test ículos
ocorrem em grupos
entretanto, o esperma de um macho deve competir com o esperma
de outros. Portanto, nestes casos, a seleção
deveria favorecer o apropriado para as aná lises.
d ^
1
-
de machos m ú ltiplos incremento na produ ção de esperma c, assim , test ículos maiores.
Harcourt et al. ( 1981) testaram essa hipótese comparando 20
gêneros de primatas, variando em tamanho corporal desde 320g,
4. Os dados são usados sempre que poss í vel para fazer a
discriminação entre hipó teses alternativas, tais como preda çào ou
competição sexual.
como o sag ú i (Callithrix ), até 170 Kg, como o gorila. A Figura O resultado final de muitas dessas aná lises é uma interpretação
plaus í vel , que pode ser tratada como uma hipótese para novos
1 testes. Concluindo, a abordagem comparativa é muito ú til para
11* 250 O mé todo compara -
observar as tendê ncias gerais na evolu ção e para analisar a rela ção
^ 3
1
-
<D> 100
0
tivo pode ser usado
testar hipó teses que
n ão podem ser sub-
metidas à experi -
geral entre organiza ção social c ecologia. Produz hipó teses que
podem ser usadas como previsões para outros grupos de animais.
També m pode ser usada para testar hipóteses que não são sujeitas
I C/3 à experimentação, tais como o efeito da poligamia sobre o
O menta ção
1 Z3
o
dimorfismo sexual. Alé m disso, é atraente pelo modo como mostra
que dieta, predação, comportamento social e tamanho corporal ,
0 ;i ' a
% C/3
D por exemplo, podem estar simultâ neamente relacionados .
* * O
TD
C/3
10
Entretanto, precisamos de uma abordagem diferente para
entender em detalhes porque o animais adotam estraté gias par-
ticulares em relação à sua ecologia . Podemos de fato medir a
' i *9 <L>
CL
O
C/3
estrutura de mosaicos de recursos e os riscos de predação e,
então, fazer previsões precisas sobre como um animal ir á
se
1 comportar? Podemos explicar porque um macaco perambula em
* I % 02 1 10
Peso corporal ( Kg )
grupos de 20, em vez de 16 ou 25, porque sua área de ação
é de 10 hectares em vez de 8 ou 12 hectares, e porque gasta
;
*
.
J -
i
%
» Fig. 2.6 Peso dos test ículos (g ) versus peso corporal ( Kg ), ambos em escala
logar í tmica, para diferentes gê neros de primatas . (•) Sistema de acasalamento de
machos m ú ltiplos; (o) monogâmico; (A ) macho-ú nico; ( +) Homo. Dados de
-
Harcourt et al. ( 1981 ).
1 hora em uma parte do hábitat com frutas distribu í das em
mosaico. Na verdade, podemos tentar responder questões precisas
como estas. Ninguém ainda tentou isto para qualquer coisa tão
complicada como o comportamento social dos primatas. Entre-
tanto, um começo foi feito para tipos mais simples de compor -
% i
I 1
42/ CAP Í TULO 2
TESTANDO HIPÓTESES /43
.r , *»
<
#
ser usados para desenredar as adaptações comportamentaispodem
eles têm uma limitação importante. A hipó tese
entre a camuflagem e vulnerabilidade do filhote
, mas
da compensa ção
faz apenas uma
ca í rem de vá rias alturas. Isto, juntamente com os dados sobre
custos energé ticos do vôo e da procura deram a ele informa ções
para fazer cá lculos dos custos e benef í cios associados ao
forrageamento. Os benefícios obtidos pelo corvo e os custos
previsão qualitativa. A idéia será consistente podiam ser medidos em calorias, e os cálculos de Zach revelaram
t com
gaivotas removendo cascas 1, 2, 3 ou talvez observações de
í0 J a eclosão do filhote, por isso é difícil testar
até 4 horas após que somente os caramujos maiores (que continham mais calorias
v l
*
%
se a hipótese está
Modelos quantitati- certa ou errada. Uma maneira de elaborar uma hipótese mais
vos de custos e be- facilmente testável é fazendo previsões quantitativas. Se for
e partiam -se mais prontamente ) forneciam energia suficiente para
o corvo ter um lucro l í quido durante o forrageamento. Como foi
previsto por esses cá lculos, os corvos só não ignoraram os
nef
í cios possível prever que as gaivotas deveriam remover a casca caramujos maiores, mesmo quando caiamujos de diferentes
.
fe ^* de 73,5 minutos, então seria produzido um modelo de
testável. Esta é uma abordagem que foi desenvolvida com
de “modelos de otimização” no estudo das adaptaçõ
depois
fato muito
o uso Os corvos minimi-
tamanhos eram fornecidas em uma bandeja na praia.
Usualmente, o corvo tem que deixar cair cada caramujo duas
es. Um zam a altura do v ôo vezes ou mais para que abra . Como o vôo ascendente é muito
* modelo de otimização busca prever qual compensação cni par
ticular entre custos e benefícios dará o m á ximo benefício l íquido
- ascendente necessá - custoso, Zach considerou que o corvo deveria escolher a altura
*
mt
%
%
para o indiv íduo.
Voltando às gaivotas, se fosse poss ível medir exatamente quanto
ria para quebrar o
caramujo
de queda que minimizasse o dispê ndio total de energia com a
ascensão. Se as quedas fossem feitas próximas ao chão, seria
preciso um grande n ú mero delas para quebrar um caramujo,
a sobreviv ência da cria é reduzida pela presença da casca de ovo enquanto a alturas cada vez maiores o caramujo tende a quebrar
* % no ninho e, exatamente, como o risco de canibalismo pelos na primeira vez (Fig. 2.8a). O experimento de queda dos caramujos
m vizinhos muda com o tempo, desde a eclosão do filhote, seria permitiu que Zach calculasse o v ôo vertical total para quebrar
*
.
poss í vel fazer o cá lculo do tempo ó timo de remoção da casca um caramujo médio a partir de diferentes alturas ( Fig. 2.8b ). Os
? % '
pelos pais. Neste caso, o ó timo pode bem ser definido como sendo corvos voavam até uma altura média de 5,2 metros, e a essa
o tempo que maximiza o sucesso reprodutivo total em cada estação altura o vôo vertical total por caramujo fica próximo ao m ínimo.
de acasalamento. Mas, os fatores em jogo em um modelo de Entretanto, o corvo deveria efetivar quase o mesmo montante de
otimização n ão precisam ser a sobrevivê ncia ou a produção de v ôos ascendentes, mesmo que cada queda fosse feita de altura
* *I
jovens. O sucesso global de um indiv íduo de transmissão de seus pouco acima de 5,2 m ( isto é indicado pela base de curva em
genes pode depender do encontro de alimento suficiente, escolha U da Fig . 2.8b), pois poucas quedas a menos seriam necessárias.
de um bom lugar de nidificação, atra ção de parceiro sexual, etc. Zach sugere que poderia haver uma penalização adicional pela
Na solu ção desses problemas um animal toma decisões, que podem queda de alturas demasiado grandes: o caramujo poderia ser
t. m ser analisadas em termos de balanço ótimo entre custos c
benefícios. Para um animal forrageando, por exemplo, os fatores
lançado longe e perder-se de vista ou partir-se em fragmentos
pequenos demais para serem recuperados.
1m em jogo poderiam ser energia e tempo. A hist ó ria dos corvos e caramujos mestra como c álculos de
custos e benefícios podem ser usadas para produzir uma previsão
«£.
i % quantitativa . Os corvos parecem estar programados para escolher
<9 Coletando alimento
: m uma altura de queda que conduz à minimização do montante de
vôo vertical por caramujo. Outras correspond ê ncias, tais como
de
% CORVOS E CARAMUJOS a maximização do ganho l í quido de energia, preveem alturas
W queda muito maiores (Plowright et al . 1989 ) .
Na costa oeste do Canadá, como em muitas á reas costeiras, corvos
alimentam -se de caramujos. Eles procuram os caramujos na maré Resumo
*¥ * baixa e quando encontram um, levam - no para uma rocha pró xima,
pairam e o deixam cair para que quebre e exponha a refeição
do seu interior. Reto Zach (1979 ) observou o comportamento de
Em todo o livro estaremos usando o método comparativo duo
análises experimentais de custos e benef
adaptações
ícios para um
comportamentais.
indiv
O m é
e as
í
todo
% corvos do nordeste em detalhes e notou que pegavam os caramujos para testar hipóteses sobre
%
%
46/ CAP Í TULO 2 TESTANDO HIPÓTESES /47
> '
^
P
-
9
* %
na grama e então abre a mand í bula, separando a vegetaçã o e
expondo as lagartas que estã o logo abaixo da superf í cie do solo.
Esta ave é muito eficiente na sondagem , mas quando já está com
lagartas no bico sua eficiência diminui. Por esta razão não é,
% necessariamente, a melhor coisa para um estorninho encher o bico
s %
%
completamente antes de voar para casa, descarregar e começar
novamente. Muitos animais que levam uma carga para o ninho
ou outro local central que funciona como um depósito de alimento,
enfrentam um problema similar.
O problema do tamanho da carga para os estorninhos pode
% ser resumido graficamente ( Fig. 3.2a ). O grá fico mostra o tempo
no eixo horizontal e a carga (medida em n ú mero de lagartas) no
* eixo vertical. Considere um estorninho no ninho, pronto para iniciar
uma viagem de ida e volta. Ele tem que voar para ( e eventualmente
* do ) o local de alimentação; o tempo gasto com estas viagens está
somado e disposto no grá fico como “tempo de viagem”. Quando
ele chega ao local onde as lagartas são abundantes ele come ça
*
1 a encher o bico com alimento. As primeiras lagartas sã o
encontradas fácil e rapidamente, mas por causa do ac ú mulo de
1 presas em seu bico, a ave demora cada vez mais para encontrar
uma outra lagarta. O resultado é uma “curva de carga (ou uma
1 curva de ganhos, como é geralmente chamada ) que sobe
1 abniptamente logo de in ício, mas depois se achata . Esta é uma
curva de retornos decrescentes - quanto mais tempo o estorninho
Fig. 3.1 Estorninhos voam do seu ninho ate os locais de alimenta çã o, procuram
estiver forrageando menor é a probabilidade de que ele encontre
lagartas com o bico na grama at é enche-lo c, ent ã o, as levam para seus filhotes. A
uma lagarta nos pró ximos instantes - e o problema do estorninho,
questã o analisada na primeira parte deste cap í tulo é quantos itens um dos pais como está resumido no grá fico, é em que momento da curva
deveria trazer a cada viagem para maximizar a taxa de entrega de alimento ao ninho. deve desistir. Se desiste muito cedo perde muito tempo viajando
48
Wr
DECISÕES ECONÓMICAS /51
50/ CAP ÍTULO 3
(a ) Caiga
por pouco alimento; se persiste demais ele gasta tempo cm buscas
7 Presas ineficientes, que poderia ser melhor usado com a volta para casa ,
B para deixar o alimento e recomeçar no in í cio da curva de carga .
8 Presas Em algum momento entre estes extremos está a “ melhor ” opçà o
do estorninho. Uma hipó tese razoá vel (e nada al é m disto ), é que
para o estorninho “melhor” significa a “taxa má xima de entrega
de alimento para os filhotes no ninho”. Qualquer estorninho que
se saia ligeiramente melhor na produ ção de filhotes do que seus
rivais estará em vantagem seletiva, por isso, a longo prazo, a
_ -- lPresas seleçã o deve favorecer o comportamento que maximiza a produ ção
de filhotes.
A melhor carga pode ser encontrada desenhando-se a linha AB
Tempo O ó timo teórico pode
na Fig. 3.2 a . A inclinaçã o desta linha é ( carga/ [ tempo de viagem
ótimo ser mostrado grafi- + tempo de forrageio]), ou , em outras palavras, a taxa de entrega
Tempo de viagem Tempo de procura camente de alimento. Isto pode ser demonstrado pelo fato de que a linha
forma a hipotenusa de um triâ ngulo retâ ngulo com a base medida
( b)
em “ tempo” e a altura em “quantidade de carga”. O tempo
de viagem e a curva de carga são “restri ções ” - propriedades
fixas do ambiente ( ou , mais precisamente, da interação entre o
estorninho e o ambiente ), entã o, qualquer linha como AB,
Ó timo ( longo) b ' representando a taxa de entrega de alimento pelo estorninho deve
ser tra çada a partir do ponto em que se incia cada viagem de
Ótimo (cutro) b ida e volta at é interccptar a curva de carga . Qualquer outra linha
que você desenhasse com estas “ restrições” teria uma inclina çã o
mais suave ( ou seja , resultaria em uma taxa de entrega mais baixa )
O modelo prev ê car- do que a linha AB. Alguns exemplos sã o mostrados na Fig. 3.2 a.
Longo Curto gas menores com A Fig. 3.2 b desenvolve um pouco mais este argumento. Agora ,
Tempo de viagem Tempo de procura tempos de viagem suponha que o estorninho mude para um local de alimenta ção mais
pr ó ximo, de modo que o tempo de viagem se toma mais curto:
menores
como deveria alterar a carga de cada viagem ? Com o mesmo
m é todo de antes, podemos desenhar duas linhas ( Fig.3.2 b ):
(0
7
J
TD 4A demonstrar o argumento de que estas cargas resultam em taxas de entrega mais baixas
JZ
o
. ( inclina ções mais suaves). Note que, embora a carga acumulada seja mostrada aqui
—
Linha só lida: previsão como uma curva suave, na realidade produz uma linha com degraus, pois cada item
f
I 3 Pontos: observado alimentar é uma porçã o discreta, ( b) Quando o tempo da viagem passa de curto para
longo a carga que maximiza a taxa de entrega aumenia de b para b \ (c) Quando os
2 estorninhos foram treinados para obter refeições em um alimentador eles trouxeram
cargas maiores de distâ ncias maiores. Cada ponto é a média das observa ções de um
grande n ú mero de cargas trazidas de uma distâ ncia cm particular. A linha prevista
1 sobe em etapas porque a ave mudará o tamanho da carga em porções discretas de
uma lagarta (é claro que as cargas médias nã o t ê m que ser n ú meros inteiros ). A
0 J previsã o mostrada aqui foi baseada no modelo da Fig. 3.2 b, mas também considera
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 os custos energéticos de forrageio dos pais c de solicitaçã o dos Filhotes. Dados de
K.acclnik ( 1984 ).
Tempo de viagem
r
ri
-*
i
DECISÕ ES ECONÓMICAS /53
» i % 52/ CAP Í TULO 3
TJ
( 1
r | » quando o tempo de viagem é menor, a carga que maximiza a
taxa de entrega é menor. Uma forma de pensar sobre isto é
I » imaginar o estorninho no momento da decisão de voltar para casa .
Se ele partir, perde a oportunidade de continuar forragcando, se
I ficar perde a oportunidade de voltar para casa e começar uma
nova jornada . Quando ele está muito longe , as vantagens esperadas
•
1
!* com a volta para cassa são relativamente pequenas uma vez que
há um longo caminho a ser percorrido, antes da próxima
oportunidade de forragear. Deste modo , vale a pena persistir um
pouco mais, até que o ganhos atinjam n í veis ligicramente menores .
As rela ções previs- Alcx Kacelnik ( 1984 ) testou a previsã o do modelo de tamanho
tas e observadas carêa - Trinou os estorninhos para coletarem larvas de besouro
para seus filhotes em uma bandeja de madeira , onde as larvas
* entre o tamanho da
carga e tempo de eram despejadas através de um longo tubo de plástico. Ao invés
de permitir que as aves gerassem sua pró pria curva de carga ,
* viagem s ã o simila -
res atrav és da diminui ção da efici ê ncia , Kacelnik gerou a curva para
*
%
restri çõ es fizemos três coisas importantes . Primeiro expressamos uma
convicção geral de que os estorninhos são modelados pela seleção
natural para realizar um bom trabalho como pais. Isto não é apenas
O modelo de tamanho de carga (geralmente chamado de
“ teorema do valor marginal ” ( Chamov , 1976 ) ) é aplicá vel a v árias
situações nas quais os animais exploram um recurso que ocorre
algo que pretendemos testar, mas é a suposi ção fundamental em em porções discretas do hábitat , em manchas, c obtê m retornos
1 que nos apoiamos para justificar o racioc í nio em termos de decrescentes dentro de cada mancha ( veja Quadro 3.1 e Fig . 3.3 . ) .
maximização do benefí cio l í quido em relação aos custos e
benefí cios. Em segundo lugar, fizemos uma especula ção sobre a ABELHAS
vari á vel de referê ncia dos custos e benefí cios; sugerimos que para Um problema similar àquele dos estorninhos é enfrentado por
os estorninhos o aspecto crucial na realização de um bom trabalho uma operá ria de abelha mel í fera , que voa de flor em flor enchendo
i como pais é a maximização da taxa l í quida de entrega de alimento seu papo com néctar para lev á- lo para a colónia . Assim como
aos filhotes no ninho ( mais do que, digamos, acordá - los o m í nimo Quanto né ctar uma estorninhos , frequentemente , as abe í has retomam à col ónia com
poss í vel , o que podia ser preferido pelos pais de bebés humanos abelha deve levar uma carga inferior à quantidade máxima que poderiam carregar
l ! ). Finalmente , especificamos certas restri ções que atuam sobre
o comportamento dos estorninhos. Algumas destas restri ções estão
para casa? e, seu comportamento pode ser explicado por um modelo similar
àquele usado para os estorninhos . H á , poré m , uma diferença
l
9
54 / CAPITULO 3 DECISÕES ECON ÓMICAS / 55
importante: no caso da abelha, a curva de retornos decrescentes em uma nova á rea dentro da mancha ( ele intcrccpta com
nào decorre do fato de se tomar menos há bil para a coleta , à mais frequ ê ncia o pr ó prio caminho ) , ou porque o predador
medida que aumenta o néctar em seu papo, nem por causa da começa escolhendo a presa fá cil e, aos poucos, muda para
diminuição deste alimento na fonte (Quadro 3.1 ), mas porque o presas mais difí ceis de capturar ou menos compensat ó rias
Para as abelhas, os peso do néctar em seu papo adiciona um custo energé tico Um exemplo da ú ltima alternativa encontra -se nas mamangavas
apreciá vel ao vòo. Quanto mais a abelha enche seu papo, mais
retornos decrescen -
tes resultam dos néctar ela gastara como combust í vel antes de
chegar à colmeia .
e outras abelhas que se alimentam de n éctar , visitando, em
primeiro lugar, as flores maiores e mais compensadoras de
custos de carregar o
Como consequ ê ncia, enquanto a quantidade bruta de n éctar uma inflorescê ncia e, depois, passam para flores menores
aumenta a uma laxa constante, a quantidade l í quida de energia com menos n éctar ( Hodges & VVolf 1981 )
n éctar
para a coló nia aumenta a uma taxa decrescente à medida que o Decisões reprodutivas podem ser analisadas como se
papo é preenchido ( produzindo, em consequê ncia, uma curva de fossem decisões de forrageio, com o mesmo modelo. Um
carga igual àquela do estorninho) exemplo é a aná lise feita por Geoff Parker ( 1978) sobre
Paul Schmid- Hempel (Schmid- Hempel et al 1985) testou se como os machos da mosca de esterco procuram parceiras
os retornos l í quidos decrescentes influenciavam a decisã o das
Os machos competem uns com os outros pela chance de
abelhas sobre quando voltar para casa e esvaziar o papo. Treinou
abelhas para voar da colmeia at é um agrupamento de flores se acasalar com as fê meas que chegam às fezes de vaca
para colocar ovos. Freq ú entemente , um macho consegue
ri
artificiais, cada uma contendo 0 6 mg de n éctar . Variando o
n ú mero de v òos que a abelha precisaria fazer entre as flores do tirar outro de cima de uma fê mea e tom á - la para si . Quando ri
agrupamento, ele pôde alterar o custo total de transporte da carga
no papo e, deste modo, o grau em que a abelha experimentava
dois machos copulam com a mesma fê mea, o segundo
consegue fertilizar mais ovos Parker ( 1978 ) demonstrou isto rl
retornos decrescentes Se, por exemplo, uma abelha pudesse
coletar uma carga de n éctar equivalente a 10 ilores durante um
atrav és da engenhosa t écnica de irradiar machos com cobalto
60, que os esteriliza sem alterar a atividade dos espermatozó ides r1
As abelhas maximi- v òo de
5 s, ela vivenciana um pequeno decréscimo nos retornos
zam a eficiê ncia e durante o preenchimento
do papo, enquanto uma abelha coletando
( o espermatozó ide pode fertilizar o ovo, mas este n ã o se
desenvolve ). Se permitimos que um macho normal copule
ri
n à o a taxa de ganho a mesma carga, mas
precisando voar por 50 s teria retornos depois de um macho est é ril , aproximadamente 80 por cento rl
de energia decrescentes acentuados. Como previsto, as abelhas voltavam para
casa com cargas menores quando eram forçadas a voar dist â ncias
dos ovos eclodem, enquanto que, se o macho estéril for
o segundo, somente 20 por cento dos ovos eclodem . A r1
mais longas entre as flores ( Fig. 3.4 ). A Figura 3.4a també m
mostra duas linhas de previsã o, baseadas na maximização de duas
conclusã o tirada destes experimentos de “competi ção
esperm á tica ” é clara: o esperma do segundo macho fertiliza rr
vari á veis de refer ê ncia diferentes. Uma est á baseada na vari á vel cerca de 80 por cento dos ovos. N ão é à toa , portanto ,
de referê ncia usada para os estorninhos (a taxa l í quida de entrega que um macho permanece pousado sobre a fê mea, guar -
de energia ) e a outra na vari á vel de referê ncia que n ã o funcionou dando-a, até que ela coloque os ovos, somente cedendo sua
com os estorninhos, isto é , a efici ê ncia energé tica. Ao contrá rio posi ção para outro após uma luta severa .
do que ocorre com os estorninhos, a segunda vari á vel de
referê ncia, e n ào a primeira , explica o comportamento das abelhas.
Quando um segundo macho remove um outro ( ou quando
encontra uma fê mea virgem ) quanto tempo ele deve gastar
copulando? Parker desenvolveu experimentos de competi ção
*I l £
ía )
os ovos, mais o tempo gasto na procura de outra fcmca . 60
Isto perfaz um tempo total de 156 min, em média. Como
está demonstrado abaixo, a estimativa do tempo de viagem
i
pode ser usada para prever, com uma acurácia razoá vel , s
J I quanto tempo o macho gastaria copulando com a ê f mea .
Outras decisões reprodutivas que podem ser analisadas
C/J
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S 40
- II -*
!
de uma forma similar são discutidas por Chamov e Skinner
JH *
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( 1984 ) . (j
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gasto na có pula com a f
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0 5 J/Previsto
*
% Observado Fig. 3.4 (a) A relação entre tamanho da carga (expressa em n ú mero de flores visitadas)
de abelhas operá rias e o tempo de vôo entre flores, em uma mancha. Cada c í rculo
% 156 5
i
50
representa a média para cada abelha e as duas linhas sã o previsões baseadas na
n ão for apenas o quanto ganha mas também o quanto gasta Se, uma a um à medida que a abelha enchia o papo Estas abelhas
por exemplo, você precisar dirigir de A para B com uma quantidade lambem voltavam para a col ô ma com uma carga menor do que
fixa de combust í vel, a eficiência deve ser muito importante. Ocorre as abelhas não manipuladas (ou do que os controles, onde
que as abelhas podem estar nesta posi çã o O equivalente da pesos eram colocados no t ó rax por um breve os
momento ) A
quantidade fixa de combust í vel , para uma operá ria forrageando, interpretação mais razoá vel destes resultados é que
A expcctativa de vida
a abelha , de
seria uma capacidade mais ou menos fixa dispon í vel para
gastar algum modo, í ntegra o peso total que esteve carregando
das abelhas depende que chegou ao local de forragcio desde
energia durante toda a sua vida. Wolf e Schmid - Hempel testaram
da carga de trabalho esta ideia manipulando a taxa de gasto de energia dos indiv íduos,
manipulando o tempo de forragcio di á rio (Schmid - Hcmpcl & Wolf
1988 ) ou colando pesos diferentes nas costas das abelhas ( Wolf A economia da escolha de presas
& Schmid - Hempel 1989 ). Os dois experimentos demonstraram que O mesmo tipo de abordagem econ ó mica usada com abelhas e
as abelhas que trabalhavam mais arduamente viviam menos tempo estorninhos pode també m ser aplicada para explicar os tipos de
do que os controles. Por exemplo, quando as operá rias carregavam presa que os predadores decidem comer
um peso permanente de 20 mg, a sobreviv ê ncia era Quando damos a caranguejos ( Carcinus maenas ) a chance de
reduzida de
10 ,8 para 7 ,5 dias. Estes experimentos ajudam a apoiar escolher entre diferentes tamanhos de mariscos, eles preferem o
a hipó tese
de que a oper á ria, maximizando sua eficiê ncia , pode tamanho que fornece a maior taxa de retomo energético ( Fig 3
prolongar seu
per í odo de vida c , assim , contribui com uma parcela
maior de
n éctar para a coló nia do que se maximizasse a taxa l í (a ) 1 5
quida
A diferença entre abelhas e estorninhos serve para reforç
ar o
argumento de que um dos objetivos das an á lises econ
ómicas de ca
custo e beneficio é comparar variáveis de referência o
alternativas l/í
e tentar compreender porque uma variá vel de referê ncia
particular
é mais apropriada do que outra , dependendo do caso . Em cada o
T3
estudo, uma das maiores vantagens da an á lise quantitativa est á *
o
no fato de permitir a detecçã o de discrepâ ncias entre resultados
observados e esperados. Sem esse potencial para discrepâ ncia, teria ~ 0- 5
sido imposs í vel , por exemplo, dizer se as abelhas estavam
maximizando a taxa, a efici ê ncia, ou coisa alguma.
O exemplo das abelhas também ilustra outro aspecto importante.
Estivemos pensando nos animais como bem projetados para
10 20 30 40
solucionar problemas , tomando decisões que maximizam uma
variável de referência apropriada, mas é claro que não acreditamos ( b) tamanho do marisco (cm )
50
que as abelhas e outros animais calculem as solu ções como um
ecólogo comportamental. Em vez disso, os animais são progra - o 40
“O
mados para seguir regras pr á ticas de decisã o que dão a resposta
~o 30
mais ou menos certa. As abelhas, por exemplo, poderiam utilizar
Adicionando pesos uma regra que envolve um limiar de peso corporal (‘ se o peso £ 20
ao t órax das abelhas for maior que “x” então volte para casa”). Schmid - Hempel ca
a
fez com que elas ( 1986 ) investigou isto adicionando pesos min ú sculos ( 7 mg) ao c 10
retornassem à col ó- t ó rax das abelhas, enquanto forrageavam ( Fig. 3.4 b ). Descobriu 8u L .
nia com cargas me- que o acréscimo gradual de cinco pesos, ao longo da jornada 8.
*
0
10 1 5 20 2 5 30
-0
nores de forragcio , fazia as abelhas voltarem para casa com uma carga
menor, como previsto se estivessem usando como regra um limiar
de peso. Entretanto , outro experimento mostrou que a regra n ã o
tamanho do marisco (cm )
Fig. 3.5 Caranguejos {Carcmus maenas ) preferem comer manscos do tamanho que
confere a mais alta taxa de retomo energé tico ( a ) A curva mostra o ganho calónco por
*
*
•J/ B
era t ã o simples assim. Em vez de adicionar cinco pesos segundo gasto pelo caranguejo para quebrar a concha e ( b) o histograma mostra os
gradualmente, Schmid - Hempel os acrescentou de uma vez no
começo da jornada de forrageio e, aos poucos, foi removendo
tamanhos de manscos comidos pelos caranguejos quando tinham a escolha n úmeros
iguais de cada tamanho no aquá no Dados de Elner e Hughes ( 1978 ).
*
r#
#
£
*I
60/ CAPÍTULO 3
*« LI| DECIS Õ ES ECON Ó MICAS /61
EI >
-i* I* Os caranguejos gastam muito tempo para quebrar e abrir com
suas quelas os mariscos grandes, que, por isso, sao menos Quadro 3.2 Uni modelo de escolha entre presas grandes e pequenas
-- 1 * í!
» â
'
lucrativos do que as conchas preferidas, com tamanhos interme-
di á rios, em termos de ganho de energia por unidade de tempo
gasto com a manipulação (E / h ). Mariscos muito pequenos
taceis de quebrar e abrir, mas contêm tão pouca carne que mal
compensam o esforço. Mas a estó ria não deve ser tão simples
assim, porque os caranguejos comem mariscos com uma certa
são
Considere um predador que encontra dois tipos de presas, presas
grandes, p 1 ,com um valor energético E 1 e tempo de manipulação h I ,
e presas pequenas, p 2 com valor energ ético E2 e tempo de manipu-
la ção h 2 . A rentabilidade de cada presa (ganho energético por
LI l variação de tamanho ao redor dos mais lucrativos. Por que
algumas
unidade de tempo de manipula ção ) é EI h . Imagine que a presa grande
|% A escolha ótima de vezes eles comem mariscos maiores e outras vezes menores? Uma é mais lucrativa, logo
presas depende dos hipótese para explicar porque mariscos de v á rios tamanhos são
£ EI / hl > E 2 / h 2
II
£ ;
valores energé ticos, comidos é que o tempo gasto para procurar pelos mais lucrativos
do tempo de mani- influencia a escolha. Se demorar muito tempo para encontrar um
*I pulaçã o ... marisco lucrativo, pode ser que o caranguejo consiga uma taxa De que modo o predador deveria escolher a presa, a fim de
sua taxa de ganho total ? Vamos supor que encontre
* .. total de ingestão de energia mais alta comendo alguns com maximizar
tamanhos menos lucrativos. uma presa - ele deve comê-la ou ignor á-la ?
t» i l
tamanhos de presa: primeiro, quando o tipo mais lucrativo ( E / h
mais alto ) é muito abundante o predador deve se especializar neste presa 1 , mais lucrativa 1
tipo. Isto é intuitivamente óbvio, pois se alguma coisa oferece uma
9 alta taxa de retomo e está prontamente dispon í vel , um predador í .e . se
eficiente n ã o devia se incomodar com itens menos lucrativos. Em
5J * segundo lugar, a disponibilidade da presa menos lucrativa n ão deveria E2 / h 2 > El / SI + hl
(3.1 )
|
i *
4
ter nenhum efeito sobre a decisão do predador, quanto a se
especializar na melhor presa. Isto também faz sentido: se presas
onde SI é o tempo de busca pela presa 1.
f íí
ml
1
*
boas são encontradas com uma frequ ência suficiente para tomar
vantajoso ignorar as ruins, nunca valerá a pena desperdi çar tempo
manipulando presas ruins, independente de quão comuns sejam estas
ú ltimas. A terceira conclusão é que com o aumento da disponibilidade
Rearranjando , o predador deveria comer a presa 2 se
SI > ( El . h 2 / E2 ) - hl
de presas boas, deve ocorrer uma mudança s ú bita entre nenhuma (3.2)
preferê ncia (o predador come ambos os tipos que encontra ) para
% uma preferê ncia completa (o predador come somente as presas boas Assim , a escolha da presa menos rentá vel presa 2, realmente
e sempre ignora as ruins ). depende da abund â ncia da presa mais rentá vel, presa 1.
a*
Um experimento que testou estas previsões está ilustrado na Este modelo faz três previsões. Primeiro, o predador deveria
Fig. 3.6. Os predadores eram pequenas aves ( Parus major ) e as comer apenas a presa 1 (especialização) ou comer ambas, e a
presa 2 (generalização). Segundo, a decisão de se especializar
presas eram pequenas porções de larvas de besouro . Para controlar
depende de Sl , não de S2. Terceiro, a mudan ça de “especia-
% Um teste do modelo precisamente a taxa de encontro de presas grandes e pequenas
lização na presa 1” para o “consumo de ambas as presas” deve
pelo predador, no experimento, as presas foram movimentadas
de dieta ótima diante do predador e não o contrá rio (Fig. 3.6a). As larvas grandes ser sú bita e deve ocorrer quando Sl aumenta, de modo que a
eram duas vezes maiores do que as pequenas ( EI / E2 = 2 ) e equação (3.2) toma-se verdadeira. Somente quando os dois lados
a hl e h 2 podiam ser medidos com precisã o, assim como o tempo da equação forem iguais não fará diferença para o predador
comer um ou ambos os tipos de presa.
necessá rio para a ave apanhar a larva e com ê- la. Durante o
> experimento a taxa de encontro de presas grandes foi manipulada
de modo a ultrapassar o limite previsto entre forrageamento n ão observados aparece na forma da mudança, que em vez de abrupta
seletivo e seletivo (equa ção 3.2 ) no Quadro 3.2. As aves se foi gradual (Fig 3.6b). Quando larvas grandes eram abundantes
% comportaram qualitativamente mas não quantitativamente como as aves, como previsto, foram seletivas mesmo que as larvas
previsto, e a maior diferen ç a entre resultados esperados e pequenas fossem extremamente comuns.
%
%
'4
DECISÕ ES ECON ÓMICAS / 63
62/ CAP Í TULO 3
(a )
começ ar . Algumas vezes esta pode ser uma premissa razoá vel ,
cobertura mas em outras vezes, pode ser mais realista supor que o animal
Amostragem ó tima
ajustá vel aprende à medida que se desloca. Steve Lima ( 1984 ) estudou este
Caixa dc por pica - paus tipo de problema em pica - paus. No campo, ele treinou pica -paus
j| ' puleiro
& para coletar sementes escondidas em buracos, feitos em tocos
de madeira que ficavam pendurados nas á rvores. Cada toco tinha
\ 24 furos e, em cada experimento, alguns tocos estavam vazios
esteira e outros tinham sementes escondidas em alguns ou todos os
rolantq Perspex buracos. Os pica paus n ã o podiam saber antec í padamente quais
eram os tocos vazios, logo tinham que usar informa ções colhidas
cobertura no começo do forrageio, para avaliar se havia chance de estarem
ajustá vel vazios e, assim , decidir se deveriam abandon á - los. Quando os
tocos continham 0 ou 24 sementes a tarefa era fácil: olhar em
( b) apenas um furo, em tese, daria informa ções o suficiente para a
resultados previstos
decisão, e os pica -paus, realmente, olharam , em m édia, 1.7 vezes.
A tarefa era mais complicada quando dois tipos de tocos continham
-8oac 100
0 e 6 ou 0 e 12 sementes: o encontro de um buraco vazio n ã o
cb
& 80 era mais uma informaçã o suficiente para rejeitar o toco, mas
C3
deveria haver algum ponto alé m do qual a informaçã o acumulada
Ig 60
resultados observados para a
ave “ RO”
levava a uma decisã o adequada . Lima calculou quantos buracos
o
vazios os pica - paus deveriam olhar antes de desistir de uma
O madeira, de modo a maximizar sua taxa de obten çã o de alimento.
aa
. 4o Os valores calculados foram 6 e 3, enquanto que as m édias
C3
observadas foram 6,3 e 3,5. Logo, os pica -paus utilizam a
8. informa ção colhida enquanto forrageiam de uma forma que se
8 20
3 aproxima da maximiza çã o da taxa total de obten ção de alimento.
e
u
OQ
3 -01 o 01 02 03 04 O risco de inani çã o
c 08
8 Ganho extra devido a especialização em larvas grandes
8. comparado com a tomada não seletiva de ambos os tipos Dois tipos de vari á veis de referê ncia para animais forrageando -
taxa de obtenção de alimento (estorninhos, Parus major ) e
Fig. 3.6 ( a ) O aparato usado para testar o modelo de escolha entre larvas grandes eficiê ncia (abelhas) - apareceram até aqui. Outra vari á vel de
e pequenaspor Parus major A ave fica pousada emum gaiola diante de uma esteira referê ncia que pode ser importante para animais forrageando é
rolante por onde passam as larvas . As larvas ficam visí veis por meio segundo, o risco de inanição. Isto parece ser especialmente importante
enquanto passam sobre a esteira rolante, através de uma abertura na cobertura A quando o animal vive em um ambiente imprevis í vel; a quantidade
ave faz sua escolha neste breve per í odo . Se ela apanhar uma larva perde a exata de alimento que o animal irá obter é incerta .
oportunidade de pegar outra que passe enquanto estiver comendo (b ) Um exemplo Por exemplo, imagine que te foi oferecida uma escolha entre
de resultados obtidos Conforme a taxa de encontro de larvas maiores aumenta , as Escolhendo uma op- duas rações de alimento: uma é fixada em 10 salsichas por dia,
aves se tomam mais seletivas Oeixo x do grá fico representa o beneficio extra obtido çã o de forrageio va- a outra é incerta; em metade dos dia você recebe 5 salsichas
através da predação seletiva Como foi mostrado no boxe 3.2 , o beneficio toma-se ri á vel pode mini -
positivo a partir de um valor crí tico de S 1 , a busca por larvas . As aves tomam-se
e na outra metade 20. Embora a média da segunda dieta seja
mais seletivas próximo ao ponto previsto , mas em contraste com a previsão do
mizar o risco de ina- mais alta do que a primeira, é uma opção mais arriscada, uma
modelo esta mudança não é uma função em etapas . Dados de Krebs et al ( 1977 ) ni ção vez que nã o h á como prever se você vai ganhar 5 ou 20 em
um dado dia . Qual é a melhor opção? A resposta depende do
beneficio ( ou “utilidade”, no jargão econó mico) de se consumir
Amostragem e informação n ú meros diferentes de salsichas por dia. Se uma dieta de 10
Esta discussão até agora tem se referido a animais que conhecem salsichas for suficiente para sobreviver, enquanto 5 não, ent ão
nada pode ser ganho escolhendo a opçã o arriscada. Se, por outro
seu ambiente. Na Fig. 3.2 a, o modelo assume que o animal sabe
lado, 10 não forem suficientes para sobreviver, a ú nica escolha
a qualidade de cada mancha e o tempo de viagem antes de
vi á vel é arriscar e esperar por 20 salsichas. Esta opção oferece \
L
% +» .
TM 64/ CAPÍTULO 3 DECIS Õ ES ECONÓ MICAS /65
9 }%
uma chance de 50 por cento de sobrevivência, enquanto (p.ex . 0 ou 6 sementes no experimento de Caraco £/. #/ ).
opção não oferece nenhuma chance. a outra
Implicitamente, assume-se que n ào há diferença entre opções de
Resumindo, os animais deveriam ser sensíveis, n ã busca e tempo de manipula çã o. De fato, muitos experimentos
média da taxa de retomo de uma opção particular o apenas à
mostram que os animais gcralmente têm nítida preferência por
mas també m à sua variação. Se um animal prefere de forrageio, alternativas de forrageio com tempo variá vel. A maioria destes
C o m p o r t a m e n t o variabilidade deve depender ou não alta
da relação entre
‘sensível ao risco ’
animal (geralmente designado como seu estado)as necessidades do A estratégia de des - experimentos foi realizada por psicólogos , com ratos ou pombos
e as recompensas ”
contar o futuro pode em uma Qua ro de Skinner , na qual as recompensas são
esperadas. Se as necessidades energéticas
a média esperada de recompensas, vale a pena
são menores do que
“
^
exnlicar a oreferê n - °btidas pressionando uma barra ou bicando uma chave. Se bicando
menos vanável (comportamento de aversão ao riscoescolher a opção . ^ vari. uma chave a ave consegue uma recompensa padronizada depois
cia por esperas
de um tempo fixo, digamos 5 s., e bicando outra chave consegue
*
a11:1
19°C.
9 mais baixas as recompensas da opção fixa não À temperaturas animais devem preferir a opção de tempo variá vel , porque atrasos
eram adequadas ocasionais muito pequenos, compensam os longos, em termos dos
para suprir as necessidades energéticas di árias
, enquanto à 19°C benef í cios percebidos.
elas eram suficientes . Como previsto no argumento ó
aves mudavam o comportamento de aversão ao risco à 19rico
te , as Por que os animais “descontam o futuro” deste modo? Seres
°C para humanos o fazem “ porque nunca se sabe o que pode acontecer
propensão ao risco à 1°C . Um resultado equivalente foi
por Cartar e Dill
obtido daqui pra frente”. Para forrageadores expostos à seleção natural
Os juncos com frio mamangavas. Eles ( 1990 ), em um estudo de forrageamento de uma l ógica similar també m pode se aplicar. Recompensas no futuro
são propensos ao ris- ninho, e notaram queincrementava m ou exauriam as reservas do são menos valiosas do que recompensas aqui e agora porque as
as operárias mudavam para o comportamento
» i •
co de propensão ao risco quando as reservas estavam baixas .
Neste
interrupções, morte por ataque de um predador, ou outras
ril
t»
que a prefer ê ncia depende da condiçã o do forrageador. Poré m
eles n ão investigaram se a preferê ncia muda com o tempo. Dois
exemplos de como a hora do dia pode ser importante foram
sugeridos por Houston e MacNamara ( 1982, 1985 ). Primeiro, se
,
Varia çã o ambiental, reservas corporais e armazenamento de
alimento
Aves pequenas vivenciam grandes flutua ções diárias na sua
massa corporal durante o inverno: Um Parus major de 20 g, por
' exemplo, perde, tipicamente, de 10-15 por cento de sua massa
4 %
o animal começa o dia propenso ao risco, mas tem sorte nas
suas primeiras escolhas, espera -se que ele se tome averso ao risco corporal durante a noite no inverno, e recupera tudo no dia seguinte
1 9 logo mais. Segundo, quando chega o crepú sculo, para um (Ovven 1954). O ganho durante o dia, e a perda durante a noite,
forrageador diurno, a aproximação rá pida do período noturno, que sã o quase que totalmente de gorduras, que serve como combus-
i* representa um per í odo forçado de inanição, pode favorecer uma
mudança para o comportamento propenso ao risco para aumentar
t í vel para a sobrevivência durante a noite: assim, todos os dias
uma ave encara uma batalha para armazenar gorduras o suficiente
i» a probabilidade de sobrevivência durante a noite. Esta hipótese
ainda n ão foi testada . Pequenas aves car -
para sobreviver durante a próxima noite. Dada esta observação,
dever í amos esperar que as aves carregassem o má ximo de gordura
1»
o
regam reservas ó ti- poss í vel, em qualquer tempo, como garantia contra a inanição?
mas, n ã o m á ximas Tanto as observações emp í ricas como os modelos de otimização
I* Variação em tempo de busca ou em tempo de manipulaçã o
A discussão teórica e os estudos experimentais descritos acima
sugerem que, na realidade, as aves carregam menos do que suas
reservas má ximas. Durante o inverno, as aves estão geralmente
mais pesadas nos dias mais frios/severos, sugerindo que nos outros
-
referem se somente à varia ção na quantidade de alimento obtido
dias estão carregando reservas menores do que o má ximo. Alé m
DECISÕ ES ECONÓ MICAS /67
66/ CAPÍTULO 3
(a )
20 0 Ambiente Ambiente
disso, se examinarmos o ganho de peso ao longo do dia , notaremos vari á vel constante
que as aves aumentam de peso rapidamente durante a tarde (Owen
1954 ; Bednekoff 1992), o que significa que pela manhã nã o estão
carregando o má ximo de gordura que seriam capazes. Lima ( 1984)
Aves pequenas po- e MacNamara & Houston (1990) explicaram estas observações
através da hipó tese de que as reservas de uma ave refletem um iç o 19.0
dem ter mais reser-
balan ço ó e benefícios. O benefício de carregar
vas em um ambien- reservas timo entre custoso do risco de inanição durante a noite, C3
te variá vel
extras é a redu çã a
enquanto o custo é o aumento do risco de morte por predaçã o. 03
Fig. 3.7 (a ) Reservas corporais e variações ambientais. O grá fico mostra a massa
Alimenta çã o e perigo: um compromisso corporal de um indivíduo deParus majorem cativeiro ( um dos oito do experimento),
que foi transferido de um ambiente constante para um vari á vel por 12 dias, voltando
Se você observar um esquilo comendo bolachas de chocolate em depois ao ambiente constante. A variabilidade neste experimento foi produzida por
um parque, como í f zereram Steve Lima e seus colegas (Lima et. alterações ao acaso no comprimento do per íodo noturno, quando não há forrageamento.
al. 1985 ), perceberá que o esquilo sempre vem até sua mesa de Dados de BednekofF( 1992 ). ( b ) Armazenagem de alimento e variabilidade. Neste
piquenique, agarra um pedaço de bolacha e corre para uma á rvore experimento, indiv íduos de Parus palustris em cativeiro, ( um exemplo está
para com ê-lo. Se você jogar pequenos pedaços de bolacha, o mostrado) armazenaram mais alimento (esquerda ) mas não sob a forma de reservas
corporais (direita), em um ambiente mais vari á vel. Estes resultados sugerem que o
esquilo irá sempre fazer repetidas investidas até a mesa, pegará armazenamento de alimento, assim como de gorduras, é uma forma de lidar bem com
cada peda ço e correrá para a á rvore para com ê-los. Este, as variações ambientais: Enquanto Parus major , que não armazena alimento, lida
obviamente, não é um modo eficiente de se alimentar: se a com as variações ambientais aumentando suas reservas de gordura , P. palustris
maximiza ção da ingestã o de enegia ou a efici ê ncia fossem as ú nicas armazena alimento extra no ambiente. O grá fico à direita també m mostra a variação
coisas importantes , o esquilo iria , simplesmente, sentar na mesa di á ria do peso de um P. palustris. A tarde, a ave transfere alimento de seus estoques
e comer os pedaços at é ficar repleto. Uma interpretação do com- para seu corpo, então as reservas aumentam rapidamente até o fim do dia. Dados
de Hurly (1992 ).
?lr ** 68/ CAP ÍTULO 3 DECISÕES ECONÓMICAS /69
„ * #
>àr I portamento do esquilo é que ele estaria balanceando a demanda
alimentar e a segurança em relação à predadores. Ele poderia se
m
vás -.
*
1
alimentar à taxa máxima, permanecendo sobre a mesa, e correr
um grande risco de ser morto por um gato, ou poderia ficar
completamente a salvo dos gatos e morrer de inaniçào nas árvores.
Sem martim pescador [
I
2 , <#
Nenhuma destas soluções é a melhor para maximizar a sobre-
viv ê ncia, logo o esquilo faz uma mistura das duas. Lima et al.
16
Com martim pescador -
vkc?
maiores levam mais tempo para ser comidos e, por isto, é mais
!l
3 perigoso manipul á -los em campo aberto. Al é m disso, quando o
tempo de manipulação é longo, o custo relativo de se mover de
\- f
t
<D AI
4
s* li % um lado para o outro é reduzido. B
c 2
Engasga - gatos fa - O balan ço entre os benef í cios da alimentação e a cvitaçào de
*
jk I
mintos aceitam o pe-
rigo de preda çã o
predadores também é influenciado pela fome do animal. Em um dia
bastante frio de inverno, aves normalmente ariscas no comedouro
0
2
M
20 40
i *
e Jardim tomam -se menos arredias, provavelmente porque o au -
para obter altas ta-
^
ment 0 da necessidade por alimento acaba superando a necessidade
densidade de presas
3 Quando os peixes estavam muito famintos, dirigiam -se para as Uma diferen ça importante entre as an á lises de Millinski e Heller
densidades mais altas de presas, onde a taxa potencial de alimentação sobre forrageamento e as demais apresentadas acima é que os
*i 3 era alta, mas quando estavam com menos fome, preferiam densi -
dades mais baixas. Millinski e Heller supuseram que quando os peixes
cá lculos de custo e beneficio incluem o estado de “ fome . Um
modelo de otimização no qual o estado do animal muda como
”
*
9|3 * se alimentam em cardumes densos de pulgas d ’água precisam se
concentrar mais para capturar os indiv í duos que se movem rapida-
resultado de seu comportamento ( o peixe se toma menos faminto
como resultado da alimentação) é chamado de modelo dinâ mico,
mente dentro do seu campo visual e, por isso, seriam menos capazes em oposição ao modelo estático. Na realidade, a visã o tradicional
-f* i 9
n ã o está tã o faminto, valoriza mais a vigil â ncia do que a alimenta ção
rá pida, preferindo, então, a densidade menor de presas. O balanço
de custos e benef í cios muda de alimentar-se para vigiar, à medida
que o peixe diminui sua fome.
Corroborando esta hipó tese Millinski e Heller verificaram que o
engasga-gato leva a uma altera çã o na aloca çã o ó tima
para o forrageamento e para a vigilância, de modo que o peixe
passa a saciar sua fome a taxas mais lentas.
de
o
por
4
*tf * •
m
risco de predaçã o influencia a escolha da taxa de alimentação.
Quando eles movimentaram um modelo do martim pescador Alecedo
atthis (o predador natural de engasga-gatos) sobre o tanque contendo
peixes famintos, observaram que os peixes preferiam atacar presas
que estavam em menor densidade ( Fig 3.8). Isso seria esperado se,
Jim Gilliam ( 1982 ) para prever como um indiv í duo deveria
de hábitats à medida que cresce. Ele analisou o comportament
do peixe Lepomis macrochirus . Em lagos experimentais
Michigan, Earl Wemer descobriu que estes peixes poderiam obter
uma taxa maior de ingestão de alimento forrageando invertebrados
mudar
em
o
m
'
apesar da alta chance de inaniçã o, os peixes famintos valorizassem bentô nicos, tais como larvas de quironom ídeos, do que forrageando
3 mais a vigil â ncia , quando há um predador na vizinhança. no plâncton ou próximo à vegetação emergente, na beira do lago.
%
%
70/ CAP Í TULO 3 DECISÕES ECON ÓMICAS /71
(a)
Como era de se esperar, o peixe gasta a maior parte do seu tempo Y
(acima de 75%) forrageando no bentos. Poré m, quando preda- restri ção energética
dores, como o peixe Kíicropterus salmoides , eram colocados no 3
•c
Os Lepomis come- lago, notava-se uma mudança significativa no uso do hábitat por 'd
3c
•
Restri ções nutricionais: herb í voros e plantas oo
c
Os exemplos que descrevemos até agora ilustram a variedade
de variáveis de referência que podem ser importantes para animais
forrageando, mas falamos pouco sobre a gama de restrições que £03
podem ser importantes. A dieta dos herbí voros é um bom exemplo 5 )
f l 9»
-
'
M J
i
»
Alces maximizam
ingestão di á ria
3.9a ). Se, por exemplo o alce se
plantas terrestres e, ocasiona
representada por um ponto no
canto
alimentasse profusamente de
lmente, aquáticas, sua dieta seria
Mas, como mencionamos anteriormenteinferior direito do gráfico.
capacidade digestiva costuma ser uma restrição crucial. Em outras
palavras, herbívoros tendem a selecionar plantas com alta den
sidade energ é tica por unidade de volume. Entretanto, Hobbs ( 1990 )
-
ns
^
$ certa quantidade m í nima de sódio. Isto a dieta deve conter uma
como uma linha de restri ção: a linha
,
está representado no gráfico
horizontal de traços e pontos
criticou as conclusões de Belovsky. Belovsky supõe que a
capacidade diária do trato digestivo dos herbí voros é medida pelo
|! I i
mostra a quantidade m í nima de plantas
as necessidades de sódio. Mas esta aquá ticas para satisfazer
não e a unica restrição na
volume (total de mat é ria seca e água ) das plantas que podem ser
ingeridas. Hobbs coloca em evidência que somente a mat éria seca
das plantas limita a ingestão diá ria, a água sendo rapidamente
1 dieta do animal. Ele também necessita
uma certa quantidade de
í> II 1 energia por dia. Esta energia poderia
pura de “y” gramas de plantas
plantas terrestres, ou uma mistura
pela linha contínua na Fig. 3.9
ser obtida ingerindo uma dieta
aquáticas, de “x” gramas de
das duas, como está indicado
absorvida . Hobbs também mostra que as previsões quantitativas
dos modelos de Belovsky sã o muito sensí veis ao valor exato ,
A necessidade de assumido para a restrição digestiva, de modo que a incerteza sobre
mais informa ções fi- o que exatamente limita a ingestão diária acaba sendo um grande
1 plantas que provê o animal com
a. Esta linha mostra a mistura
de siol ógicas problema.
sa energia suficiente para
1 por um dia. Finalmente, a dieta é
do alce. O alce tem um estômago
sobreviver
restrita pelo tamanho do rú men
O que se pode concluir sobre este debate? Primeiro, ele mostra
que os modelos de otimiza çã o dependem de premissas sobre
ri Ii rú men, no qual o alimento
especialmente modificado, o
é fermentado vagarosamente por
microorganismos antes da digest ã o. O
processos fisiol ógicos. Alguma vezes, como no caso dos herbí-
voros, uma aná lise de otimização ajuda a identificar as á reas da
ti um limite máximo à quantidade de tamanho do rú men impõe
alimento que pode ser
fisiologia onde conhecimentos mais detalhados, auxiliariam a prever
li ponto dentro do triâ ngulo, que seria previsto caso o alce ilustradas neste cap í tulo sã o:
1. Modelos de otimização frequentemente fazem previsões quan-
:ri
maximizasse a ingest ão di á ria de energia, restrita pela necessidade Modelos de otimi - titativas test á veis, de modo que é relativamente fá cil dizer se a
de sódio e pela capacidade do rú men. Este ponto incide sobre za çã o: testabilidade, hipótese representada pelo modelo está certa ou n ã o. Por exemplo,
o canto direito do triâ ngulo ( marcado com uma estrela). Para premissas expl í citas, demonstrou -se que as abelhas mel í feras estavam maximizando a
entender porque isto ocorre, imagine linhas paralelas à linha de
t restrição de energia m í nima ( isoclinas de energia ), a diferentes
generalidade efici ê ncia de forrageio, e não a taxa l í quida de entrega de energia
à colónia. As hipóteses testadas no estudo das abelhas e nos demais
distâncias da origem. Qualquer ponto ao longo de uma das linhas estudos de otimizaçã o referem-se às medidas de referê ncia ( taxa
é um ponto de igual ingestão de energia por dia. A isoclina de l íquida ou efici ê ncia ) e às restrições que interferem na performance
energia mais alta que o alce pode atingir passa pelo canto direito dos animais (custos energéticos, tempo de manipulação e assim
inferior do triâ ngulo, que delimita as dietas vi á veis . por diante). A variá vel de referê ncia é uma hipótese sobre custos
Belovsky (1986a, b) ampliou suas conclusões do estudo com e benefícios que atingem o animal ; por exemplo, para as abelhas
alces para tentar identificar as variáveis de referê ncia e as restrições os custos e benefícios energéticos parecem ser muito mais
que determinam as dietas de herbí voros em geral. Ele concluiu importantes do que, digamos , a preda çã o e outros perigos. As
que os herbí voros maximizam a ingestão de energia e que a restrições são hipóteses sobre os mecanismos comportamentais
f
e sobre as limita ções fisiol ógicas do animal , se ele é capaz de Tabcla 3.1 Um sumário das decisões, variá veis de refer ê ncia e restrições discutidas neste capitulo
reconhecer as diferenças nas concentrações de n éctar, quão rá pido
pode voar, e assim por diante. Animal Decisão Vari á vel de referê ncia Algumas restrições Teste
2. A segunda vantagem é que as premissas imbutidas nas hipó teses
sobre restrições e variá veis de referê ncia ficam explicitadas. No Estorninhos tamanho da carga maximizar a taxa de tempo de viagem, curva de carga versos distâ ncia
modelo usado para analisar o tamanho da carga transportada pelos ganho l íquido carga, custos energéticos
estorninhos, por exemplo, tivemos que fazer suposições expl í citas
sobre a curva de carga, sobre o fato de que a ave poderia encontrar Abelhas carga do papo maximizar a tempo de viagem, tempo de carga versos tempo de vòo
apenas uma mancha de há bitat de cada vez, sobre o tempo gasto eficiê ncia ingest ã o, custos energéticos
para voar de volta para o ninho, e assim por diante. Colocando Mosca de tempo de cópula maximntizar a taxa tempo de viagem, tempo de predizer o tempo da cópula
essas coisas de maneira expl ícita no modelo, somos forçados a estrume fertilizaçã o guarda, curva de fertiliza çã o
pensar mais claramente sobre o problema.
3. Finalmente, os modelos de otimizaçã o enfatizam qu ão pass í veis Parus major tamanho das larvas maximizar a taxa de tempo de manipula çã o, escolha de presas grandes
de generalização são as decisões simples enfrentadas pelos animais. ganho l íquido tempo de busca ou pequenas
O modelo dos estorninhos se aplica igualmente às moscas de esterco,
e poderia ser ilustrado por vá rios outros animais e outras decisões Pica- pau tamanho da mancha maximizar a taxa de tempo de viagem, tempo de numero de buracos
Agora vejamos uma dificuldade da abordagem de otimizaçã
! M formicivora ganho l íquida reconhecimento inspecionados
o:
decidir o que fazer quando o modelo fracassa na previsã o do que Junco onde se alimentar minimizar o risco de tempo de manipula çã o, escolha entre recompensas
fazem os animais. Pegue a mosca de esterco como exemplo: o inaniçã o balanço energé tico di á rio vari á veis ou certas
modelo prev ê razoavelmente bem , mas n ão exatamente , o tempo
de dura çã o da cópula . O que deve ser feito com relaçã o a esta Parus major reservas corporais maximizar a custo energé tico de carregar reservas corporais / estoque
discrepâ ncia? Devemos ignorá - la, admitindo que esteja estoque sobrevivência as reservas em ambientes previsí veis e
uma faixa aceitável de erro, ou devemos tentar analisá-la um dentro de imprevisí veis
pouco
mais? Suponha, por enquanto, que optemos pela Esquilo onde ingerir o maximizar a custo energético de carregar varia ção no tamanho e na
ú ltima alternativa.
Uma possibilidade é que a vari á vel de referê ncia do alimento sobrevivência as reservas distância do alimento
modelo
incorreta ; a mosca de esterco pode estar fazendo um balanço está
entre Peixe onde ingerir o minimizar perigo e vigilância e forrageio vana ção no estado de
alimentação e acasalamento, mais do que simplesmente
a taxa de fertilização. Uma segunda possibilidade é que a maximizando engasga -gato alimento inaniçã o incompat í veis çã o e perigo
inani
variá vel
de referê ncia está correta, mas as restrições n ão foram identificadas Leopomis escolha de habitat maximizar a crescimento dependente da h á bitats utilizados em
acertadamente; talvez os machos acabem com suas reservas de ( peixe-lua ) sobrevivê ncia tomada de alimento, perigo diferentes idades
energia durante a có pula . Finalmente , toda a id éia de que a mosca relacionado com tamanho
de esterco e os outros animais estã o maximizando a vari á vel de Alce escolha do alimento maximizar a tomada necessidade de sódio, limi - composiçã o da dieta
referência pode estar incorreta Os animais podem simplesmente diá ria de energia ta çã o digestiva, limita çã o
n ã o ter sido bem moldados pelos processos de seleçã o natural , energética
ou podem estar defasados com rela ção a algum aspecto do
ambiente que tenha mudado. Este tipo de argumento, embora seja
frequentemente levantado, deveria realmente ser guardado como Esta ideia pode ser usada como uma base na elaboração de modelos
ú ltimo recurso, por ser improdutivo em termos de novos de otimização, nos quais o critério de beneficio máximo, as restrições
experimentos e observações. N ão existe nenhuma receita precisa sobre o animal, e a variável de referência para medir os benefícios
para se disntig ú ir entre as duas possibilidades, mas, como vimos estão especificados. Diferentes tipos de variáveis de referê ncia podem
nos exemplos das abelhas e dos alces, a comparação entre ser apropriadas para medir os benefícios e os custos de diferentes
diferentes vari á veis de referê ncia (ou igualmente, diferentes restri- comportamentos, por exemplo, para o comportamento alimentar a
ções) é um passo produtivo. Outro passo importante é analisar mais taxa de ingestão pode ser uma boa vari á vel de referê ncia, enquanto
arduamente os mecanismos subjacentes às decisões comportamentais. que para o comportamento de machos se acasalando a taxa de
fertilização de ovos parece razoável. (Tabela 3.1)
Nesta abordagem a ênfase recai sobre as previsões quantitativas
Resumo testá veis. Frequentemente, os resultados dos experimentos des-
O comportamento pode ser visto como tendo custos e viam-se das previsões feitas a partir de modelos simples; mas
benef í cios e os animais deveriam ser programados pela seleção estes desvios podem ser tão valiosos quanto as previsões bem
natural para maximizar os benefícios l íquidos. sucedidas para se compreender como o comportamento est á
modelado.
4
4 76/ CAP ÍTULO 3
Capí tulo 4. Predadores versus Presas:
* *
Tli » Corrida Armamentista Evolutiva
** |í 4
»
Leituras complementares
O artigo de Maynard Smith (1978) discute alguns
* dos modelos de otimização. Três livros que prós e contra
contêm revisões ú teis
Á » da economia de forracamento são a monogra
Krebs ( 1986), que contê m um resumo de
fia de Stephcns e
modelo s matemá ticos;
>*
o volume editado por Kamil et al. (1987) No Cap í tulo 3 examinamos as maneiras como os predadores pro-
' sobre estudos emp í ricos,
e mais duas revisões gerais de Russel Grey curam e selecionam suas presas. Consideramos v á rios parâ metros
acirrado desta abordagem) e de Kacelnik e (que é um crí tico (p.ex., tempo de manuseio) como mais ou menos constantes. Ao
i e Kacelnik ( 1991); Houston et al Cuthill (1987); Krebs longo do tempo evolutivo, entretanto, eles poderiam variar. Por m
I >Ji *I oferecem
.
um recente apanhado geral.
(1988) e Houghcs ( 1990 ) exemplo, durante a evolu çã o, espera -sc que a seleçã o natural aumen -
te a eficiê ncia com que predadores dctectam e capturam presas. Por
* B
i 1 Os animais tê m que ser inteligentes para
ótimo? forragear de modo testemunhas de sua longa coexistê ncia e refletem o resultado de uma
i I
corrida armamentista através do tempo evolutivo (Tabela 4.1 ; Fig .
ns l jx
2 Os experimentos de laboratório sobre a
tomada de decisã o 4.1 ). Neste cap í tulo, consideraremos três questões sobre a corrida
* em ambientes simples são ú teis para
tamento no campo?
o entendimento do compor- armamentista entre predador-presa:
.
Três quest ões sobre 1 Adaptaçã o ou hist ória mal contada? As adapta ções propostas por
3 A taxa l íquida média de ingestão é uma vari
á vel de referê ncia corridas armamen - um dos participantes da corrida armamentista tem sentido funcional
& razoá vel para animais que forrageiam?
4
tistas em face às adaptações do outro participante? Esta nã o é uma questão
Como deveriam ser investigados os mecanismos através dos trivial . Quando apresentamos explica ções funcionais em biologia , é
quais os animais discriminam entre quantidades
*ti !
de alimento fixas uma tentação inventar histórias inteligentes que são difíceis de testar.
e vari á veis?
Por exemplo, poder í amos sugerir que os flamingos são rosados pra
que se confundam com os tons do por do sol, e assim os leões tê m
§% dificuldades para detectá-los quando saem para caçar no crepúsculo.
m
si % Você pode achar esta idéia improvável! Se for assim, a idéia de que
as mariposas marrons t ê m esta colora ção para se confundirem com
rl l os troncos em que pousam também é igualmente improvável. Preci-
* i;
samos executar experimentos para testar nossas hipóteses funcionais.
Tabela 4.1 Exemplos de adapta ções de predadores c contra - adaptações de presas.
r
*t Procurando pela presa Melhora da acuidade visual
Imagem de procura
presa
Coloração cr í ptica
Polimorfismo
Área de procura limitada Espa ç amento
aos locais onde a presa c
abundante
9 Reconhecimento da presa Aprendizagem Mimecna
- i
I
posas em uma pro- maximizando o efeito cr í ptico. Alé m disso, orientam-se de modo
jeção de diapositivos particular, de modo que o padrão das asas se alinha ao das fissuras
da casca das á rvores. Pietrewicz e Kamil testaram a importâ ncia
da coloração crí ptica em laboratório, mostrando diapositivos às
gralhas azuis ( Fig.4.3a ). Os diapositivos eram projetados em uma
t:
um problema de percepção; n ão h á nenhuma complicaçã o causada
por outros fatores que poderiam influir sobre a predação, tais como
a palatabilidade da presa, atividade ou eficiê ncia de escape. Em
segundo lugar , como o predador é estacion á rio e as presas movem -
se na sua frente (como uma sucessão de diapositivos), é fácil
controlar a sequ ência e a ordem de encontro da presa pelo
» !i FI
predador. Isto seria mais ou menos impossí vel se o predador
estivesse em movimento pelo viveiro à procura de presas
ica
o -
li
fI• -V
verdadeiras. Verificou -se que a gralha cometia muitojnais erros
-
quando arnanposa apareeia sobre um substrato cr í ptico do que
soEre unTsubstrato conspícuo ( Fig. 4.3b). Este resultado dá apoio
Si
•o
"O
06
ri * I
direto à hipótese de coloração cr í ptica . -oc 0 -4
“ Imagem de procu-
ra”: gralhas apren-
dem a ver mariposas
Em muitas espécies de mariposa Catocala, as asas anteriores
são polimórficas, isto é, coexistem na mesma população indiv í duos
com padrões diferentes de cores. Uma hipótese para isto é a
seguinte: quando um predador descobre uma mariposa, pode
formar uma “ imagem de procura” para o seu padrão de colorido
particular e, então, concentra-se na busca de outra com aparê ncia
(b )
0.2
A/vV
1 2 3 4 5 6 7
Tentativas sucessivas
8
— O
9
Sobre substrato
crí ptico
a gralha nã o melhorou o seu sucesso de detecção com o decorrer formação de imagem de procura pelo predador ^
M
PREDADORES VERSUS PRESAS /83
82/ CAP Í TULO 4
Fig. 4.4 A porcentagem média de respostas corretas de gral luís expostas a sequê ncias 3 E
o i
i i
c o i
de diapositivos da mesma espécie de mariposa ( Caí ocala retecta ou Catocala | 100 i
i
100 i
relicta ) ou a sequências com ambas as espécies em ordem aleatória As gralhas D
O
C/l i i
i
melhoram a sua performance quando são feitas sequê ncias da mesma espécie , mas o 2 » / i
/
nã o quando há mistura das duas mariposas na sequência . Dados de Pietrewicz e o oa t y
/
Kannl ( 1981 ) I u
/
IA li
/
y
3 6 9 12 3 6 9 12
Quadro 4.1 Imagens de Procura Tempo ( m m ) Tempo ( mm . )
Luc Tinbergen ( 1960 ) estudou o comportamento alimentar E quanto as asas posteriores de colorido brilhante? Debra
de pássaros em bosques de pinheiros na Holanda. Descobriu SchlenofT (1985) testou a resposta das gralhas azuis coin modelos
que n ão comiam certas espécies logo que apareciam na de mariposas feitos de cartolina, com “ asas posteriores ” com
primavera, mas depois, subitamente começ avam a inclu í -las Evidê ncia experimen - padr ões vanados, escondidas sob as “ asas anteriores * > As
na dieta. Ele sugeriu que a mudanç a s ú bita se devia a uma tal do efeito surpre- mariposas falsas eram presas numa prancha e as gralhas eram
melhora na habilidade do pássaro para visualizar insetos sa treinadas para removê - las para receber a recompensa, cm alimento,
cr í pticos, um processo que chamou de ‘adoção de uma 4
colocada atrás Quando os modelos eram removidos, as asas
imagem de procura espec í fica ". H á , entretanto, outras posteriores apareciam subitamente por tr á s das anteriores, para
hipó teses que poderiam explicar as observações de Tinbergen imitar a reação das mariposas reais. As gralhas treinadas com
Por exemplo, os pássaros poderiam ter visto os insetos, mas modelos cujas asas posteriores eram cinzas respondiam com
decidiram inclu í - los na dieta apenas quando a abund â ncia surpesa quando expostas a padrões de coloração viva, t í picos de
deles aumentou o suficiente, a ponto de tomar vantajosa Catocala, enquanto aquelas treinadas com modelos com padrões
a sua procura (Royama, 1970) Altemativamente, no in ício
, vivos, n ão se espantavam com asas posteriores cinzas. Após
os pássaros poderiam estar relutantes em comer um presa repetidas apresenta ções, as aves habituaram-se a um padrã o
nova ou simplesmente melhoraram sua habilidade para particular de Catolaca, mas um novo padrão de coloração viva
captur á-las. causava outra resposta supresa . Estes resultados fornecem uma
Os experimentos de Marian Dawkins ( 1971 ) exclu í ram boa evid ê ncia para a hipó tese da supresa, e o efeito da habituação
essas explicações alternativas e mostraram que os predadores sugere uma vantagem adaptativa para a grande diversidade nos
de fato passavam por mudanç as na sua habilidade para padrões das asas posteriores de diferentes espécies simpá tricas
visualizar presas crí pticas. O predador escolhido foi o de Catolaca . Outros experimentos demonstraram que as manchas
pintinho doméstico e a presa gr ãos de arroz coloridos . A ocelarcs s ão particulannente eficientes em desencadear respostas
concepção inteligente foi manter a mesma presa (conser - supresas nos predadores ( Fig. 4.5).
84/ CAP ÍTULO 4 PREDADORES VERSUS PRESAS /85
ntajor ca çando pre- canudinhos de refresco com um cordão marrom no seu interior. 1 + À h + X tht 1 + A.1h1 + X,2h 2 +
Tinham valor zero de energia , um tempo de manuseio ht ( tempo ^ Xcht
sas cr í pticas
para o pá ssaro bicar o item e desprezá - lo como nã o-comest í vel ) As taxas de encontro foram manipuladas de modo que, em um
e a taxa de encontro era lambdat ( itens por segundo ). tratamento, era possí vel prever a especialização em presas pequenas
... prev ê quando pre-
2. Presas crí pticas grandes. Estas eram pedaços opacos de e consp í cuas, com o pássaro ignorando as presas grandes e cr í pticas
sas cr í pticas deveri-
canudinhos de refresco com uma lagarta no seu interior; valor ( i.e., a taxa na equação 4.2 maior do que a taxa na equação 4.1 );
energé tico Ex , tempo de manuseio hx ( tempo para pegar e comer am ser ignoradas
enquanto em outro tratamento, previa -se a especialização em presas
a presa ) e taxa de encontro . Xx cr í pticas grandes ( equação 4.3). Os pá ssaros comportaram -se mais
3. Presas conspícuas pequenas. Estas eram pedaços claros de ou menos como previsto ( Fig. 4.6). Agora vamos ao que importa: no
canudinhos com metade de uma lagarta no seu interior, muito experimento ht , o tempo de discriminação de ramos não comest íveis,
vis í vel ; valor energético E 2 , tempo de manuseio h 2 ( tempo para foi somente 3 a 4 segundos. Portanto, transcorrido um tempo curto,
pegar e comer a presa ) e taxa de encontro X 2 . o pá ssaro poderia facilmente diferenciar entre um ramo e uma presa
A presa grande fornecia mais energia por unidade de tempo grande. Entretanto , desde que presas consp í cuas fossem frequente-
de manuseio do que a presa pequena ( E1/ h 1 > E 2 / h 2 ). Entretanto, mente encontradas ou desde que muitos dos itens grandes fossem
PREDADORES VERSUS PRESAS /87
86/ CAP Í TULO 4
2 80 76%
aCL
-o<u o
.
Q
60
•o
«
*
8w
E l/l
E
E 1/1
40
ao Sz
2
c *u
<U T3
o
20
Mesmo a forma cr í - a . 14%
ptica incipiente pode
trazer vantagens
A B
Fig. 4.6 O pássaro Parus major forrageando cm presas crí pticas artificiais. O custo
de reconhecimento de uma presa cr í ptica rent á vel pode levar o predador a se
especializar em outra mais consp í cua. No tratamento A , ramos eram quatro vezes
mais comuns do que presas grandes que a eles se assemelhavam; cm B, a presa grande
era quatro vezes mais comuns do que os ramos. A abund â ncia de presas consp í cuas Colorações de aviso
pequenas foi constante em A e B . De acordo com as equações 4 1 , 4.2 c 4.3 toma - ajudam os predado-
,
:* » |
o
> V.
1!50
75
Alimento azul surgiu primeiro, isto pode se aplicar aos insetos, tais como as
lagartas de borboletas monarca Danaus plexippus, que se alimen -
1
M
§8
o
E
25
' ,"v.
tam de plantas contendo toxinas e incorporam - nas cm seus corpos
como defesa contra predadores. E plaus í vel que nestes casos a
impalatabilidade evoluiu primeiro, seguida pela conspicuidade.
Neste caso, entã o, a colora ção vistosa evolue espccif í camente
como um dispositivo de aviso.
m
'3
> 2
o Colora ções de aviso Este ú ltimo cen á rio coloca uma questã o interessante, imagine
m ( b)
o
Fundo azul
4 podem ter evolu í do uma população de larvas impalatá veis, mas cr ípticas. Uma muta çã o
devido aos seus efei- surge em um adulto, fazendo com que as suas larvas sejam mais
I tos sobre a sobrevi- consp í cuas. Certamente, essas larvas serão certamentc mais
v ê ncia de parentes vis í veis para os predadores e portanto mais expostas ao ataque.
m S
*o
a
100 Alimento azul
em um mesmo gru - Embora, como resultado da sua experi ê ncia com o gosto
po desagradá vel , o predador possa decidir nunca mais atacar a forma
t a
75
£ Alimento verde vistosa, pode ser também que ele nunca mais a encontre pelo
1-
5 1I
| 50
fato de ser rara . Assim, a mutação tende a se extinguir durante
a amostragem do predador e nunca tem chance de se espalhar
E
3 O na população. Então, como a colora ção de aviso poderia evoluir
2
? R . A . Fisher ( 1930 ) foi o primeiro a propor uma solu çã o. Percebeu
* 3
*
E
25
que os insetos vistosos e impalatá veis estavam sempre agrupados
Insetos com colora - em fam í lias ( veja Tabela 4.2 como exemplo ). Nesta situa çã o,
* 2
0
0 4 8
N úmero de tentativas
13 çã o vistosa frequen- devido ao agrupamento, o predador encontra outros indiv í duos
temente vivem em com coloração vistosa, irm ãos do indiví duo que pereceu durante
grupos ... a amostragem . Como resultado, aumentam as chances de cada
Fig. 4.8 N ú mero cumulativo de presas impalat á veis, conspí cuas c crí pticas, indiv í duo mutante sobreviver e deixar có pias do gene para
consumidas por pintinhos, em tentativas sucessivas. Em (a ) o alimento verde é coloração consp ícua para as pró ximas gerações. Este processo
críptico, em (b) o azul é crí ptico. Em ambos os experimentos, a presa impalatá vcl é semelhante à seleção de parentesco (Cap í tulo 11 ). Modelos
é menos consumida quando é consp í cua. Dados de Gittleman e Harvey ( 1980).
matem á ticos mostraram que em agrupamentos familiares, a
coloração vistosa pode evoluir em uma espécie impalat á vel , desde
conspícuas mais facilmente, mas, uma vez que tenham reconhe- que a forma mais vistosa n ão seja conspícua demais e que o
cido um tipo de presa, tê m menos chances de atacá-la por engano, predador precise amostrar poucos indiv í duos, em rela ção à forma
se for consp í cua (Guilford , 1986). Por exemplo, um pássaro cr í ptica, para aprender que são impalat á veis ( Harvey et al., 1982).
sempre bica um dado item antes de ter certeza de que é uma
presa. Este comportamento muitas vezes economiza tempo e pode
ser vantajoso para o predador quando a presa é mó vel. Como Tabela 4.2 Espécies de borboletas britâ nicas com lagartas de coloraçã o vistosa tem
os predadores podem cometer erros, a conspicuidade pode ser mais chances de estarem agrupadas em grupos familiares do que espécies cr í pticas.
vantajosa para a presa impalatá vel na medida em que reduz os Dados de Harvey et al . ( 1983 ).
erros de reconhecimento.
N ú mero de espécies de lagartas
Embora a solu çã o de F í sher seja engenhosa , estudos recentes Para testar se existe seleção contra cores vistosas, ligada à
colocaram em d ú vida dois de seus pressupostos. Primeiro, a ideia predação, Endler amostrou córregos com comunidades diferentes
de que os indiv í duos amostrados sempre pereçam pode estar de predadores. Verificou que os machos de córregos com forte
errada. Muitos insetos com colora çã o vistosa tê m revestimento ... mas ficam mais pressã o de preda çã o eram opacos, apresentando menos manchas
duro, que os protege contra ataques de predadores inexperientes, expostos à predaçã o coIondas de Amanho també m menores ( Fig. 4.9a ). Não só a
sendo libertados sem ferimentos. Portanto, em alguns casos, pode ^ , intensidade de predação influencia a coloraçã o de íebistes, mas
existir uma vantagem direta para o indiv í duo consp ícuo; como também o tipo de predador é importante. Em alguns có rregos
a coloração vistosa é mais facilmente lembrada, uma lagarta vistosa o principal predador era um lagostim, que n ã o enxerga vermelho,
e impalatável está melhor protegida do que uma com colora çã o e nestes casos os Íebistes eram signif ícativamente mais vermelhos.
cr í ptica em encontros subsequentes com o mesmo predador Finalmente, Endler mostrou como as cores podiam mudar em
... mas os agrupa - (Sillé n-Tullberg, 1985). Segundo, Fisher assumiu que o agrupa - resposta às altera ções na pressã o de preda ção. Em populações
mentos familiares mento familiar propiciaria evoluçã o da coloração de aviso, mas, controladas de laborató rio, machos mantidos junto com predadores
podem ter evolu ído uma an á lise filogen é tica ( ver Cap í tulo 2 ) das borboletas sugere desenvolveram colora çã o opaca, enquanto aqueles isolados dos
ap ós a coloração de que a colora ção de aviso surgiu antes dos pró prios agrupamentos predadores tomaram-se mais vistosos, com manchas maiores e
aviso (Sill é n -Tullberg, 1988 ). Portanto, é poss í vel que a colora çã o de mais numerosas ( Fig. 4.9 b ). Efeitos similares puderam ser
aviso tenha evolu ído por causa da vantagem direta que d á aos mostrados em condi ções de campo: quando 200 machos opacos
indiv íduos, diminuindo a probabilidade de que sejam atacados, com de um có rrego com forte preda çã o foram introduzidos em um
o agrupamento as vezes evoluindo em seguida , a partir de novo có rrego, em Trinidad, que n ã o tinha Íebistes nem predadores,
vantagens individuais dadas pelo efeito de bando ego ísta (discutido observou -se que, ao longo de 2 anos, a população passou a
no Cap í tulo 6 ). Sã o necessá rios mais trabalhos para testar a
apresentar muitos machos com coloração viva. Os experimentos
vantagem individual da coloraçã o de aviso, mas estes estudos
recentes sugerem que o agrupamento familiar nã o é um fator crítico
de Endler são um exemplo convincente de como a seleção natural
para a evolu ção de cores vistosas. Observe, como exemplo, que pode mudar os padrões de coloração, dependendo de alterações
muitas espécies de coloração vistosa na Tabela 4.2 são solitá rias. no equil í brio entre diferentes pressões seletivas.
í b)
O conflito entre conspicuidade e condi çã o cr í ptica 13
í
-C
.
O plano dos animais freqiientemente representa um compromisso
E
a
LU
13
<
entre diferentes pressões seletivas. A condi ção cr í ptica pode ser
vantajosa na defesa contra a predaçã o, mas pode entrar em conflito -a I
com a vantagem da conspicuidade na defesa de território ou na a.
LU 7
-õ 12
atra çã o de parceiros sexuais. Como um exemplo deste compro- <N £ 11
-H .S CJ
misso, notamos que em muitas espécies de pássaros os machos têm
cor vistosa na estação de acasalamento, mas, após esse período, =E 8.
§ &.
•<D L
CL
10
mudam para uma plumagem opaca semelhante à da fêmea . CL
a
9 8
O trabalho de John Endler ( 1980, 1983 ) sobre colora ção em -O
<u
3 9
Í ebistes ( Poecilia reticulata ) é um inspirado estudo experimental E
2 7
sobre esse conflito. Endler estudou muitas populações isoladas 2 t_l
E
desse pequeno peixe nos có rregos de Trinidad e Venezuela . Os •a
A B U
0 10 20 Meses
z C D E
machos sã o mais coloridos do que as fê meas. Três tipos de cores
podem ser distinguidas , (a ) Cores pigmentares (caroten ó ides - Predação crescente F S ll Censos
vermelho, laranja e amarelo) que são obtidas da dieta. Se os peixes
recebem alimento sem caretenó ide, essas cores empalidecem em Fig. 4.9 Influência da predação sobre o padrão de coloração de machos de Í ebistes.
Em í ebistes, os ma - poucas semanas ( Kodric Brown , 1989 ). ( b ) Cores estruturais (azul (a) A quantidade e o tamanho das machas coloridas por peixe são menores em
chos mais vistosos iridescente e bronze), produzidas pela reflex ão da luz sobre as córregos com forte predação. Os principais predadores são outros peixes e lagostins.
Dados para cinco córregos na Venezuela, com n í veis crescentes de preda ção de A
t ê m vantag£ni no escamas (c) manchas pretas ( melanina ) que estão, parcialmente,
,
para E. Dados de Endler ( 1983). ( b) Um experimento de seleção no laboratório. F,
acasajamento ... sob controle nervoso, e podem aumentar ou diminuir de tamanho. população fundadora de Íebistes mantida sem predação. S, in í cio do experimento;
Experimentos de laborató rio mostraram que colora ção mais vistosa predadores são adicionados à população C, mas não à população K. Observe a rá pida
traz vantagens para o acasalamento. As fê meas são atra í das, mudança na população C apóso in ícioda predação. I e II são as datasdos dois censos.
particularmente, pelas manchas laranja ( Houde, 1988 ). Dados de Endler (1980).
n
92/ CAPÍTULO 4
PREDADORES VERSUS PRESAS /93
/
e Maynard Smith, 1979): Krebs, 1979; Slatkin Parasitas de crias e seus hospedeiros
Três hipóteses para 1. Predaçãoprudente. O homem é capaz
a coexistência pro- prudente, evitando a super-exploração e de exercer a predaçã o Algumas aves , peixes e insetos parasitam crias , colocando seus
longada entre preda- a extinção de suas fontes ovos em ninhos de outras espécies. Como no caso de predadores
de alimento. Os animais predadores
dor e presa deveriam ser também pru - versus presas, uma das partes ( os parasitas de crias ) obt ém
dentes? O problema com esta idéia é que ela
de grupo. Numa população de predadores se apoia na seleção benef ícios, já que sua prole recebe cuidados gratuitos, enquanto
prudentes, qualquer a outra (os hospedeiros ) sofre os custos de cuidar de uma prole
indiv í duo que coma mais do que lhe
genes às frituras gerações do que os indiv “ cabe" transmitirá mais que não lhe traz nenhum benef ício genético. Evidentemente,
í duos
Capítulo 1 ). Entretanto, a predação prudente poderiaprudentes ( veja esperar í amos que a sele ção favorecesse as defesas de hospedeiros
quando um indiv í duo tem acesso exclusivo ao se desenvolver contra parasitas . Isto, em contrapartida, deveria selecionar contra-
defendendo um território) e economiza alimento para recurso ( p. cx., adapta ções nos parasitas. Por exemplo, insetos removem jovens
o seu pró prio estranhos de seus ninhos, mas alguns insetos parasitas de crias
uso futuro, e não em prol da população.
2. Extinção de grupos. Se a extinção de grupos fosse t ê m estadia assegurada pelo fato de mimetizarem 0 sistema de
existência de sistemas predador-presa estáveis na natureza comum , a comunica çã o qu í mica de seus hospedeiros ( Fig. 4.10 ). Experimen -
ser explicada pela extinção de todos os os sistemas inst poderia tos recentes com pássaros dissecaram os vários estágios da corrida
á
3. As presas estão à frente na corrida armamentista. Os veis. armamentista entre parasitas de crias e hospedeiros.
predador- presa podem ser está veis porque as presas sempre
sistemas
um passo à frente na corrida armamentista. Uma hipótese ão
est
sobre CUCOS VERSUS HOSPEDEIRO S
o porqu ê das coisas serem assim, pode ser descrita como
“ pripr í pin - vidfl -q|imP!ntn” ; coelhas correm mais do que Uma corrida arma - O cuco Cuculus canorus reproduz em toda a Europa e no norte
raposas
.
porque est | o- orrendo pela sua sobrevTvênciãrênquãntQ ás raposas mentista evolutiva da Á sia. Na Europa h á cerca de dez espécies hospedeiras favoritas,
^
corf ê rrTapenas pelo seu jantar. O custo de um erro é claramente que pode ser estu -
dada experimental-
mas, cada fê mea do cuco especializa -se em apenas uma , colocando
ovos que mimetizam, em v á rios graus , os ovos dos seus
maior para 0 coelho. Como Dawkins e Krebs ( 1979) expuseram,
“ a raposa pode se reproduzir após perder uma corrida para mente respectivos hospedeiros. Por exemplo , especialistas em caminheiros
0
coelho. Mas, nunca um coelho reproduziu após perder uma corrida colocam ovos com manchas marrons, especialistas em lavandiscas
para a raposa. As raposas que freq úentemente falham na captura põem ovos brancos com manchas, especialistas em rouxinois-das-
de sua presa eventualmente morrem de fome, mas podem se cani ças colocam ovos esverdeados com manchas, e especialistas
reproduzir um pouco antes disso". Portanto, a pressão de seleção em rabo-ruivos colocam ovos inteiramente azuis, todos semelhan -
teria sido mais forte sobre a melhoria da habilidade de fuga dos tes aos ovos dos hospedeiros. Ainda não se sabe como essas
coelhos do que sobre a capacidade de captura das raposas. vá rias linhagens são mantidas na espécie de cuco. Uma possi-
Em muitos casos, aj> resa também pode estar à frentejia^ cprrida bilidade é que os filhotes de cuco colocam ovos do mesmo tipo
armamentista, porque tem unTTêmpff de geração mais curto do
^ de suas mães e tornam-se parasitas da mesma espécie de
que o seu predadorre^ põde portanto evoluir giã is rapidamente, hospedeiro que os criou , talvez aprendendo as suas caracter ísticas
í sto se aplica a alguns casos, tais como doninhas e camundongos, por estampagem .
aves e insetos, mas, às vezes, é 0 predador quem tem a capacidade A femea do cuco adota procedimentos particulares quando
de se reproduzir mais rapidamente (af ídeos versus roseiras). parasita um ninho hospedeiro . Frequentemente , ela encontra ninhos
Podemos também perguntar por que as presas n ão adquirem observando a atividade de construção do hospedeiro. Então, espera
habilidade de fuga tão eficiente, a ponto de levar 0 predador à até que 0 hospedeiro tenha inciado a oviposição e , durante esse
extinção. Uma hipótese seria a seguinte: À jnedida que 0 predador per íodo, coloca apenas um ovo por ninho, em uma tarde. Antes
_
toma-se raro, devido ao aumento da eficiência da presa, passa da postura, permanece empoleirada em sil êncio nas proximidades,
t
a exercer pouca pressão seletiva para novas melhorias na presa. por uma hora ou mais. Então, subitamente, voa planando até 0
^
0 vV
PREDADORES VERSUS PRESAS /95
94/ CAP Í TULO 4
( b)
( b)
(a )
glâ ndula dc
'
adoção
glâ ndula dc
apaziguamento
(0
(e)
•L-.’ Fig 4.11 ( a ) A f ê mea do cuco ( Cuculus canorus ) pondo um ovo no ninho de
»m Acrocephalus arundinaceus. Ela remove um dos ovos do hospedeiro e, enquanto
mvp Tyrrn?
o segura pelo bico, coloca seus ovos emseu lugar (b) 0 pequeno cuco reccm eclodido
,
Fig. 4.10 O besouro A temeles consegue entrar no ninhode seu hospedeiro, a formiga com colora ção variada. Duas evidencias mostram que os cucos
Myrmica, mimetisando o seu sistema dc comunica ção qu í mica A secreção da responderam à pressão de seleçã o dos hospedeiros.
gl â ndula de apaziguamento do besouro (a ) suprime o comportamento agressivo da 1 . As tá ticas de oviposi çã o dos cucos são elaboradas para superar
formiga cm relação a m vasores, e a secreção da gl â nduladeadoção estimula a formiga as defesas do hospedeiro. 0 “parasitismo” experimental de ninhos
a levar o besouro para dentro do ninho ( b), onde o besouro coloca ovos. A larva do do rouxinol -das-cani ças ( Acrocephalus arundinaceus ) com mode-
besouro tem fileiras dc gl â ndulas (c ), que estimulam a formiga a regurgitar got iculas Os cucos t ê m adap-
de alimento (d , e ). Dados de Hõ lldoblcr ( 1971 ) los de ovos de cuco revela que os hospedeiros t ê m mais chances
ta ções que aumen - de rejeitar ovos pouco semelhantes aos seus, se forem colocados
tam a aceita çã o de antes de iniciarem a própria postura ou ao amanhecer ( quando
ninho, remove um ovo do hospedeiro e, enquanto o mant é m em seus ovos pelos hos- estão realizando posturas), ou se surpreenderem com um cuco
seu bico, coloca seu pró prio ovo ( Fig. 4.11 a ). A seguir deixa pedeiros empalhado no ninho ( Davies & Brooke, 1988 ). Portanto, o ovo
o ninho, engolindo por inteiro o ovo do hospedeiro. 0 tempo total mimé tico do cuco, o momento e a rapidez da oviposição est ã o
de permanê ncia no ninho é infeiror a 10 segundos! Tendo colocado todos adaptados para aumentar o sucesso do parasitismo.
o seu ovo, o cuco o abandona , deixando todos os cuidados
2. O grau de mimetismo do ovo exibido pelas vá rias linhagens
subsequentes para o hospedeiro. Algumas vezes, os hospedeiros de cuco refletem o grau de discrimina ção do respectivo hospedeiro.
rejeitam o ovo do cuco, mas frequentemente o acolhem . Usu - Por exemplo, o cuco parasita do acentor ( Prunella sp) n ã o põe
almente, o filhote do cuco eclode primeiro, precisando de um ovos mimé ticos, o que era de se esperar, já que esse hospedeiro
per í odo excepcionalmente curto de incubação, e , ent ã o, com n ão rejeita ovos estranhos no seu ninho, ao contrá rio dos demais.
apenas algumas horas de vida, ainda pelado e cego, equilibra os Duas evid ê ncias mostram que os hospedeiros, em contrapartida,
ovos do hospedeiro em suas costas, um por um , e os atira para responderam à pressão de seleção dos cucos.
fora do ninho ( Fig. 4.11 b ). Os filhotes recé m eclodidos do
Hospedeiros potenci- E Espécies que sã o inadequadas como hospedeiros, ou porque
hospedeiro tê m o mesmo destino, assim o filhote de cuco toma -
ais que nunca foram alimentam -se de sementes ( filhotes de cuco comem invertebrados)
se o ú nico ocupante do ninho, e o hospedeiro segue trabalhando
expostos aos ovos de ou porque nidificam em cavidades ( inacess í veis à s fêmeas de
como escravo, criando-o como se fosse seu filho ( Pranchas 4.1
a -c ). cucos nao apresen - cuco), mostram pouca ou nenhuma rejeição a ovos diferentes dos
tam comportamento seus. Ao contrá rio dos hospedeiros favoritos, também exibem
Em que grau cada uma das partes evoluiu em resposta à s
de rejei çã o pouca agressã o em relação aos cucos adultos nas proximidades
pressões seletivas da outra? Isto pode ser investigado experimen -
talmente, testanto a resposta do hospedeiro a modelos de ovos de seus ninhos ( Davies & Brooke, 1989a ; Moksnes et ai , 1991 ).
Logo, a rejeição de ovos estranhos pelos hospedeiros favoritos
96/ CAP ÍTULO 4
PREDADORES VBRSUS PRESAS /97
Leituras complementares
N ão procuramos ser abrangentes neste cap í tulo, mas sim pegar
alguns problemas bem definidos e mostrar que podem ser
COMPETINDO POR RECURSOS / 103
Cap í tulo 5. Competindo por Recursos
-o
c.
3
CSl
\ Habitat rico
>
Nossa discussão no cap í tulo 3 sobre como os indiv í duos exploram Q
£
.
recursos, tais como alimento, omitiu um fator crucial, competição.
Quando muitos indiv í duos exploram os mesmos recursos limitados,
eles são competidores, e as decisões de cada um sao influenciadas Habitat pobre
pelo que os demais estã o fazendo. Isto é v á lido, por exemp o, para
os machos de moscas de esterco, mencionados no capítulo 3. As N ú mero de competidores
fêmeas de moscas de esterco (o recurso limitado pelo qual os
machos competem ) aparecem em densidades mais altas junto ao Fig. 5.1 A distribui ção livre ideal . Nã o h á limites para o n ú mero de
competidores que podem explorar o recurso. Cada indiv í duo est á livre para
esterco do que na vegetação adjacente, mas ainda assim , vale a ir onde quiser . As primeiras chegadas irã o ocorrer
no habitat rico Devido
pena para alguns machos procurá-las nessa vegetação onde a à depressão na oferta de recursos, quanto maior o n ú mero de competidores,
competição é menos intensa. menores as recompensas por indiv íduo, de modo que, no ponto a, o habitat
Neste cap í tulo, começaremos discutindo o modo mais simples pobre toma -sc igualmente atrativo. Da í em diante, os h á bitats deveriam ser
de competição, a exploração, que significa simplesmente “consumir ocupados de modo que as recompensas por indiv íduo se mantivessem iguais
os recursos”; a seguir, descreveremos outra forma de competiçã o, em ambos. Extra ído de Fretwcll ( 1972 ).
“defesa de recursos”, na qual os animais mantêm outros afastados
dos recursos atrav és de lutas ou exibições agressivas. dc distribui çã o de competidores entre os recursos foi denominado
distribuição “livre ideal ” por Stephen Fretwcll ( 1972), porque
Competi çã o por explora çã o: distribui çã o livre ideal pressupõe que os animais são livres para se deslocar para o há bitat
onde conseguem o melhor resultado ( nã o h á exclusã o dos piores
Vamos começar com um modelo de competi ção. Para simplificar, competidores pelos melhores ) e que os animais são ideais no
imagine que existem dois lugares (h á bitats ): um rico, contendo sentido de possu í rem informa ções completas sobre a disponibili -
muitos recursos, e um pobre, com poucos recursos, e que cada dade de recursos.
indiv í duo decide explorar o h á bitat onde obt é m o maior retomo, Temos um bom exemplo deste processo em a çã o nas filas dos
medido como taxa de consumo de recurso. Na ausência de supermercados. Se todos os caixas forem igualmente eficientes e
competidores, um indiv íduo simplesmente iria para o melhor dos se todos os fregueses exigirem o mesmo tempo de atendimento,
Uni modelo simples entã o todas as filas acabarão tendo o mesmo tamanho. Se uma
dois h á bitats, e é isto que supomos que acontece com o primeiro
sobre como competi - fila se toma menor, os fregueses que se juntam a ela são
a chegar. Mas o que acontece com os ú ltimos? Não há territorialidade beneficiados até que o seu comprimento se tome igual à s demais.
dores deveriam estar ou luta , de modo que n ã o h á limite para o n ú mero de indiv í duos
distribu ídos entre h á- Como todas as pessoas sã o livres para escolher a fila de sua
que poderá adentrar o há bitat. Entretanto , quanto maior o n ú mero preferência , cada uma vai para a melhor posição a cada momento,
bitats ou manchas ... de competidores que passam a ocupar o h á bitat rico, mais os e as filas se completam de maneira “ livre ideal ”, de modo que
recursos são reduzidos e menos vantajoso ele se torna para os que O teste de Milinski cada fregu ês acaba com mesmo tempo de espera por atendimento.
ali chegam. Eventualmente, um ponto seria atingido onde o sobre o modelo livre Uma situação equivalente entre os animais aparece no expe-
próximo competidor que chegasse se sairia melhor se ocupasse o ideal: engasga -gatos rimento de Manfred Milinski ( 1979) com o engasga-gato. Seis
h á bitat de menor qualidade onde, apesar da menor oferta de e pulgas -d ’á gua peixes foram colocados em um tanque e sua presa ( Daphnia ) foi
recursos, haverá menos competi çã o ( Fig. 5.1 ). A partir desse adicionada nas duas extremidades com uma pipeta. Em uma
momento, os dois há bitats serão preenchidos de modo que a extremidade do tanque , a taxa de adi ção das presas era o dobro
vantagem obtida por um indiv íduo recém -chegado é a mesma em da outra. Nesta situação, o melhor lugar para qualquer um dos
ambos. peixes se deslocar, depende de onde os outros vão. N ão havia
Em outras palavras, os competidores ajustam sua distribui ção defesa de recursos e Milinski observou que os peixes distribu í am -
...a distribui çã o li- em relação à qualidade do h á bitat , de modo que cada indiv í duo se de acordo com a razã o das taxas, com 4 peixes na extremidade
vre ideal com maior taxa de adi ção de presas e 2 peixes na outra . Quando
desfruta a mesma taxa de aquisi ção de recursos. Este padrão teórico
102
104/ CAP ÍTULO 5
COMPETINDO POR RECURSOS / 105
r \\ < 6
9 </J
o o
..• de presas n ão se altera com o tempo, porque elas est ão entrando
a uma taxa constante e são comidas assim que chegam . Ainda
que esta possa ser uma representaçã o real ística de algumas
% I • Q
8
.
2
•- /
situações naturais de forrageio, como um córrego onde peixes
esperam insetos à deriva na corrente, mais freqiien íemente, a
popula çã o de presas tende a sofrer uma depleção gradual. As
ti % o
o
y
<
6 1
1 previsões do modelo de distribuição ideal são mais complexas nesta
situa çã o ( Kacelnik eí al., 1992 ).
* i9 V
z t t O estudo de Mary Power ( 1984 ) com o cascudo Ancistrus
1 1 Um teste de campo
spinosus , em um córrego no Panamá mostra que estes peixes
4|9 2 4 6 8
Tempo ( min )
10 12 14 16
sobre a previs ã o nu- pastadores de algas distribuem -se entre poças de maneira livre
mérica quando h á en- ideal. O crescimento cont í nuo das algas nas bordas e no fundo
I II: % Fig. 5.2 O experimento de Milinski ( 1979 ) sobre a alimentação de seis trada cont í nua das poças assemelha -se à entrada cont ínua de alimento no expe-
# i engasga -gatos. No ponto x , a extremidade B do tanque tem o dobro da rimento de Mil í nski. Em poças ensolaradas, a pel ícula de algas
ri 9
quantidade de alimento da extremidade A . No ponto Y a rentabilidade c
revertida . As linhas tracejadas indicam o n ú mero de peixes previstos na
extremidade A, de acordo com a teoria livre ideal, e a linha azul mostra
cresce cerca de 6 vezes mais rá pido do que nas poças sombreadas,
e os peixes-gatos sã o, aproximadamente, 6 vezes mais numerosos
nas primeiras, o que era de se esperar em uma distribuição livre
tf I 9
os n ú meros observados ( media de vá rios experimentos ).
ideal com entrada cont í nua.
tf I 9
os regimes de alimenta ção foram trocados de local , os peixes
rapidamente se redistribu í ram de modo que 4 estavam outra vez Competi çã o por meio de defesa de recursos: a distribui çã o
na melhor extremidade ( Fig. 5.2 ). Esta é a ú nica distribui ção está vel
1
^ I I sob condi ções livres ideais. Com qualquer outra forma de distri -
despó tica
bui ção, valeria a pena o deslocamento de um indiv í duo. Por Considere a mesma situa çã o anterior: dois h á bitats, um rico e um
*t f 9 exemplo, se houvesse 3 peixes em cada extremidade, ent ã o um pobre, mas desta vez o primeiro competidor a se fixar no h á bitat
rico defende os recursos estabelecendo territó rios (á reas contendo
il 9 peixe teria vantagem em se mover da pior para a melhor
extremidade. Assim que isso ocorresse, o deslocamento de qualquer o recurso), de modo que os ú ltimos a chegarem são forçados a
* 1 % Tr ê s previs õ es do outro deixaria de ser vantajoso para ele. Na nossa analogia do
ocupar o h á bitat pobre, ainda que tenham uma performance menor
modelo livre ideal ... supermercado, este experimento seria equivalente ao que aconte-
* 9 ceria se um dos caixas fosse duas vezes mais eficiente no o
•
O 9 lugares (ou h á bitats) pode ser alcan çada de duas maneiras. Por > 2i
?
c °
exemplo, se um h á bitat oferece o dobro de vantagem do outro, ca
o
O
% indiv íduos se dirige para o melhor h á bitat. E
2. Todos os indiv íduos visitam ambos os h á bitats, mas cada um
•3
rí I »
b
O experimento de Milinski testou a distribuição livre ideal N ú mero de competidores
através aná lise de previsões numéricas (n ú mero de predadores em
r ! 9 cada extremidade do tanque); como previsto, a razã o entre engasga -
... entrada contí nua gatos e alimento foi igual. Duas outras previsões també m poderiam
Fig. 5.3 Defesa de recursos. Os competidores ocupam o h á bitat rico em
primeiro lugar. No ponto a este há bitat está cheio e os recé m chegados são
r * e depressão ser testadas: a previsão de igual ingestão, isto é, a taxa de ingestão forçados a ocupar o há bitat pobre. Quando este também está cheio (ponto
i de presas pelos engasga-gatos deveria ser a mesma nas duas
extremidades do tanque; e a previsão sobre o risco para as presas,
b ) , os competidores recé m-chegados são exclu ídos dos recursos simultane-
amente e tomam -se “ flutuantes”. Extra í do de Brown ( 1969 ).
9
* lí %
í
106/ CAP Í TULO 5 COMPETINDO POR RECURSOS / 107
do que os indiv í duos do há bitat rico . Quando o h á bitat pobre é E pouco prov á vel que haja uma ú nica popula çã o onde todos
preenchido com indiv í duos que defendem territ ó rios, os pró ximos os indiv í duos tenham habilidades iguais de competir. Embora os
a chegar sã o inteiramente exclu í dos dos recursos ( Fig. 5.3 ). Este machos da mosca de esterco obedeçam uma distribuição livre ideal
tipo de situação é muito comum na natureza . Nos bosques de ao redor de esterco, os machos maiores conseguem mais femeas
Wytham , pró ximo a Oxford, Inglaterra, o melhor h á bitat de do que os pequenos ( Borgias, 1979). No nosso supermercado,
Experimentos de re- acasalamento para o pari í deo Parus major fica nas matas de provavelmente, n ã o h á lutas entre os fregueses, mas alguns trarão
moçã o mostram que carvalho. Estas são rapidamente ocupadas na primavera e tomam - O modelo da “ unida - mais itens na compra do que outros e precisarão de mais tempo
o comportamento ter- se completamente preenchidas com territó rios. Alguns indiv í duos de competitiva ” para serem atendidos pelo caixa. Em certo sentido, eles sao
ritorial pode excluir passam então a ser exclu í dos da mata de carvalho e t ê m que ocupar competidores maiores, já que impõem um tempo mais longo de
alguns competidores as sebes das proximidades onde h á menos alimento e, conscq ú en - espera às demais pessoas da fila atrá s de si .
de h á bitats adequa - temente, apresentam menor sucesso reprodutivo. Se algumas aves Geoff Parker e Bill Sutherland ( 1986 ) notaram que a partir da
sã o removidas do melhor h á bitat, outras aves provenientes das simples previsã o num érica poderia ser dif í cil distinguir entre a
dos
sebes movem-se rapidamente para l á, preenchendo os lugares vagos distribuiçã o livre ideal simples com competidores iguais e outra
( Krebs, 1971 ). De modo similar, no tetraz vermelho ( Lagopus com competidores desiguais, que chamaram de modelo da “unidade
lagopus scoticus), os aves territoriais defendem as á reas mais ricas competitiva ”, que faz a seguinte hipó tese: o n ú mero de “ unidades
da charneca como territó rios de acasalamento e alimenta çã o. Os competitivas” ao invés do n ú mero de indiv í duos seria equalizada
aves exclu í das vivem em bandos e exploram h á bitats pobres, onde entre as manchas de recursos no mosaico. Se um indiv í duo
suas chances de sobrevivê ncia são baixas. Mais uma vez, se o dono consegue consumir os recursos duas vezes mais rá pido do que
de um territó rio for removido, seu lugar será rapidamente ocupado outro, ele atinge o dobro de unidades competitivas. A dificuldade
por uma ave desses bandos ( Watson, 1967). cm se distinguir entre as duas versões da distribui çã o livre ideal
Nesses exemplos, os indiv í duos mais fortes sã o déspotas que se vem do fato de que a distribuiçã o das unidades competitivas
apossam dos recursos de melhor qualidade e forçam os demais para á reas tenderá , devido ao acaso, a se assemelhar à distribui çã o ideal
de baixa qualidade ou impedem complctamente seu acesso aos recursos. simples ( Fig. 5.4). Deve ser por isso que muitos estudos parecem
A defesa de recursos é um tipo de competi ção que aparece sob Afídeos de galha: um apoiar a previsã o num érica da distribui çã o livre ideal, mesmo
a denomina ção geral de interferência . A interferê ncia ocorre teste para o modelo quando os competidores são desiguais ,
sempre que os competidores interagem entre si, de modo que h á da unidade competi - Um bom exemplo que mostra características de ambos os
redu ção na efici ê ncia de procura ou de consumo de recursos. Al é m tiva modelos de “defesa de recursos ” e “ livre ideal ” é o estudo de
da defesa do recurso, a interferência está presente quando, por Thomas Whitham ( 1978, 1979, 19S0) sobre a seleçã o de h á bitats
exemplo, competidores encontram uns aos outros, e desperdi çam por af í deos ( Pemphigus betae ). Na primavera, femeas conhecidas
tempo que seria usado na procura de recursos, ou como no caso como “ m àes-de- talo” fixam -se nas folhas de choupo ( Populus <
de alguns parasit ó ides , quando pistas de cheiro sã o deixadas por angustifolia ) para se alimentarem e acabam envoltas pela expansão
um indiv í duo confunde outros indiv í duos ( Hassell , 1971 ). dos tecidos da folha, formando uma galha . Uma m ã e-de- talo se
reproduz partogeneticamente e a quantidade de prole que produz
depende da qualidade e da quantidade de seiva que pode sugar
Distribui çã o livre ideal com competi çã o desigual da folha. As maiores folhas fornecem os maiores suprimentos de
seiva e levam ao maior sucesso reprodutivo, com uma progénie
Na natureza , a maioria dos casos irá apresentar caracter ísticas até 7 vezes maior do que aquela obtida em folhas pequenas . Como
de ambos os modelos discutidos acima . Talvez a situa çã o mais se esperaria, todas as folhas grandes são rapidamente ocupadas,
i
comum seja aquela em que o melhor local para um indiv í duo de modo que os afí deos adicionais devem resolver a questã o entre
depende de onde est ã o os demais competidores. Mas, num mesmo se fixar em uma folha grande e partilhar recursos ou ocupar uma
h á bitat, alguns indiv í duos obt ê m uma maior parcela de recursos Folhas maiores cor- folha pequena sozinhos.
do que outros. No experimento dos peixes, por exemplo, nossas respondem a h á bitats Whitham fez medidas do sucesso reprodutivo, que lhe permitiu
contagens populacionais podem revelar uma distribui ção livre ideal melhores construir curvas de valor adaptativo em h á bitats de qualidade
está vel de indiv íduos, mas existe a possibilidade de que alguns variá vel ( folhas de diferentes tamanhos), com diferentes densidades
peixes sejam melhores competidores do que outros. Em cada de competidores ( n ú mero de galhas por folhas ). A Figura 5.5
extremidade do tanque pode haver um ou dois peixes grandes mostra resultados que nos permite extrair tres conclusões. Primeira ,
apossando-se da maioria das presas. A distribui çã o livre ideal pode para qualquer densidade de competidores, o sucesso reprodutivo
se efetivar por causa do modo como os indiv í duos subordinados m édio aumenta com a qualidade do h á bitat . Segunda, em um
distribuem -se em relação aos déspotas. De fato, os déspotas são há bitat com determinada qualidade, o sucesso decresce à medida
parte do h á bitat ao qual os subordinados respondem no momento que o n ú mero de competidores se eleva. Isto mostra que as maes
de decidir onde ir ão procurar recursos ( Milinski , 1984a ). de- talo em uma mesma folha competem entre si pelos -
recursos.
108/ CAP ÍTULO 5
COMPETINDO POR RECURSOS / 109
Tamanho da folha
(a )
.
JC
00
CL
V 120
( b) ~ D.
°o 100
E
|80
íc )
60
2 3
N ú mero de mà es-dc-talo por folha
(d ) Fig. 5.5 As linhas finas sã o curvas de valor aaaptativo cm há bitats com
qualidade ( tamanho da folha ) e densidade de competidores ( n ú mero de m ã cs-
dc-talo por folha ) vari á veis, para o afideo Peniphigus betas. A linha horizontal
é o sucesso mcdio de uma, duas c 3 mães-dc-talo por folha Veja explicação
<
(o )
^1
Livre ideal — todos os peixes iguais
O sucesso repro -
no texto. Dados de Whitham ( 1980).
•!%
?!»
aproximadamente 0,28 h por dia com a defesa . Este
poderia ser gasto com o repouso, de modo que o
a defesa é:
gastam
tempo ,
custo com
de excluir outros. Ainda n ã o h á evid ê ncias suficientes para testar
essa idé ia.
®
i os n í veis de disponibilidade de recursos que poderiam levar à
•Z iI
-
r
4
%
i*! 1
9 defesa territorial. Se os recursos são muito escassos, os ganhos com
a exclusão de outros indiv í duos pode não ser suficiente para pagar
os custos com a defesa do territó rio. Em vez disso , o animal pode
abandonar o territó rio deslocando-se para outro lugar. També m
deve haver um limiar superior na disponibilidade de recursos al é m
do qual a defesa deixa de ser econ ó mica. Este limite superior pode
surgir por v á rias razões.
1
* ( b)
•Õ
CL
0.40
I 0 20
;i 9
de tal modo que os custos de defesa seriam proibitivamente altos;
2. Quando os n í veis de recursos são elevados, as vantagens com T3
;1 9
a territorialidade podem desaparecer se o defensor não for capaz a
;t » de fazer uso dos recursos adicionais que se tomam dispon í veis com T3
A defesa de recursos
.. i •* abundante
já são altos, o incremento extra com a defesa territorial dificilmente
leva a alguma economia de tempo de forrageio. Isto acontece
porque a taxa de ingestão de alimento pela ave quando os n í veis
Foto de Mark Hixon. (b) O ganho diário de peso de um pá ssaro territorial em
rela ção ao tamanho de seu territ ó rio ( medido como n ú mero de flores defendidas),
durante 5 dias consecutivos. O pássaro começa com um pequeno territó rio no
1 9 *•
Ifll
i de n éctar sã o altos é limitada pelo tempo que leva para introduzir
o bico na flor ( o tempo de coleta ). Por exemplo, Gill & Wolf
primeiro dia , que é ampliado ao má ximo no terceiro dia e a seguir volta a um
valor intermediá rio, no qual o ganho diá rio de peso é máximo.
I %
114/ CAP Í TULO 5 COMPETINDO POR RECURSOS / 115
Custo
(a )
que maximizam o ganho energé tico ( Fig.5.7 ). Essas aves foram C/i Rico
estudadas em territó rios temporá rios, ao redor de aglomerados da
planta Catilleja linariaefolia, que eram defendidos para aquisição c<U:
o
O
B } Beneficio
Pobre
de peso, durante as pausas de migração em direçã o ao sul , através X>
.
das montanhas da Sierra Nevada, na Califó rnia De modo simples
e engenhoso, Carpenter et al . fixaram poleiros a uma balan ça c c/i
O
foram capazes de medir o ganho de peso dos aves que defendiam c/i
territórios, com diferentes tamanhos. Pelo menos alguns indiv í duos u
pareciam ajustar o tamanho de seu territó rio, no per í odo de alguns
Por que os beija-flo- dias, no sentido de atingir o tamanho que maximizava a taxa de
ganho de peso ( Fig. 5.7 ). A X X'
res descansam? Uma
restri çã o digestiva Uma caracter ística do comportamento do beija-flor que à
primeira vista parece peculiar, face ao seu objetivo de maximizar
o ganho de peso, é o fato de gastar cerca de 75% de seu tempo ( b)
empoleirado e apenas 20% em forrageio. Se a maximização de
ganho de energia é t ã o importante, por que os aves n ã o forrageiam C/l
mais intensamente? Uma resposta elegante foi dada por Jared Custo
Diamond e seus colaboradores ( Diamond et a /.,1986). Eles usaram ts
o
glicose e glicol de polietileno marcadas com isó topos para medir
o tempo que os aves levavam para absorver a energia e o tempo -o Beneficio
necessá rio para uma refei ção passar pelo trato digestivo. Eles Rico Pobre
verificaram que os beija - flores apresentam uma taxa extremamente o
to
rá pida de absorção de glicose através da parede intestinal, mas a O
3 <
etapa limitante na digestão era o tempo necessá rio para o alimento
passar do papo, onde é estocado assim que o pássaro o consome, i
para o est ô mago. Levava cerca de 4 minutos para o papo esvaziar
até a metade, após uma refei çã o de 100 ml, que corresponde X' X
I I
<
aproximadamente ao intervalo m édio entre refei ções no campo. Em Á rea do territ ório 4
outras palavras, enquanto a ave está pousada , na verdade ela está
Modelos grá ficos de- trabalhando ativamente, criando condições para a pró xima refeição Fig. 5.8 (a ) A í déia da economia da defesa. À medida que a quantidade de recursos
defendidos (ou tamanho do tcmt óno ) aumenta o mesmo acontece com os custos 4
vem ser analisados ( Hixon, 1982).
com cautela -
da defesa. Assume se que os benef í cios (p.ex. quantidade de alimento dispon í vel )
4
a principio aumentam, mas nivelam -se à medida que o recurso toma-se super
c) Modelos gráficos de tamamnho ótimo de território: uma abundante e o animal fica limitado pela sua capacidade de processá-lo . Duas
curvas de benef í cios s ão mostradas, uma para um ambiente rico e outra para um 4
advertência ambiente pobre: a curva de beneficio sobe de modo mais acentuado no primeiro
A concepção de Brown sobre a economia da defesa é freqiientemente porque a densidade de recursos é maior. O recurso é economicamente defensá vel 4
representada sob a forma de um grá fico de custos e benef í cios, entre A e B. Dentro destes limites, o tamanho ótimo do territ ó rio depende da
que podem ser usados para prever os efeitos de mudan ças na
vari á vel de referencia: para maximizar o ganho l íquido, o tamanho ó timo é menor 4
no ambiente rico ( X ) do que no ambiente pobre ( X ’) ( note que isto acontece
densidade de recursos e n ú mero de competidores sobre a quan - quando as inclinações das curvas de custos e benefícios são iguais ) ( b ) O mesmo
,
4
tidade de recursos defendidos ( Fig.5.8 ). Em uma nota de adver- modelo, mas com curvas ligeiramente diferentes. Neste caso, est á previsto um
t ência, Tom Schoener ( 1983) apontou que o modelo grá fico pode aumento no tamanho ó timo do territó rio para maximizar o ganho l í quido no 4
levar à previsões diametralmente opostas, dependendo da forma ambiente rico (X agora é maior do que X’). Extraído de Schoener (1983).
exata das curvas ( Fig.5.8 ). A mensagem é que os modelos grá ficos, (
neste livro e em outros, devem ser considerados com muito
cuidado. res partilham o mesmo territó rio. Tipicamente, os indiv í duos que I
fazem a partilha sã o pares sexuais, como na maioria das aves
territoriais, por exemplo, e aqui as razões para a defesa compar- (
DEFESA DE RECURSOS PARTILHADOS tilhada podem nã o estar relacionadas a aspectos econó micos dos
custos e benefí cios da defesa de recursos. O fato dos tordos \
Até aqui , assumimos que os territ órios eram defendidos por um europeus ( Erithacus rubeculà) partilharem um território na estaçã o
ú nico indiv í duo, mas muito freq úentemente, dois ou mais competido- de reprodução, mas n ão nos demais per í odos do ano, está mais i
i
i
i
«
116/ CAPÍTULO 5 POR RECURSO S / 117
COMPETINDO
8 *
& relacionado com a necessidade das duas aves 40
reprodução, e suas tarefas parentais, do que estarem juntas para
o
com a defesa mais Previsão de partilha
eficiente dos recusos pelas duas aves. Entretanto B 30
m a defesa partilhada pode se dar por razões
mais detalhado aparece no estudo de
econ ó
, algumas vezes,
micas. Um caso -o 20
0
»
Nick
Houston (1981) com a lavandisca Motacilla Davies e Alasdair °
0 0»
o
9 No inverno, estas aves defendem territórios alba. °0 0o°g 0
%
'
ao longo de faixas -5 10 °
do rio Tâ misa, pr ó ximo a Oxford.
Eles se alimentam de insetos
ao longo das margens. Depois que uma ave
4 em particular, reduzindo o n ú mero de forrageou em um local
insetos 005 0 1 0 15 0 2 0 25 0- 6 1 0
a medida que outros são trazidos pelas á , este volta a crescer,
f l § rio. Eventualmente, a taxa de deposi ção
guas até a margem do
versus
se equilibra e a abundâ ncia de insetos se remoção pelas á guas
Z
Taxa dc renova ção de alimento
0 -4 0 -8
u 4
I
Um modo eficiente de explorar esse tipo de
visitando cada lugar só depois que houve chance
renovação, e isto é exatamente o que faz a
manté m num patamar.
recurso renov á vel é
efetiva para sua
de um território trabalha sistematicamente ao lavandisca. O dono
irá partilhar territ ó rios quando a taxa de
renova çã o c a abundância assint ótica dc alimento ficarem acima da curva.
Essas combina ções representam situa ções onde os custos da partilha sã o
superados pelos benef ícios. As consequ ê ncias observadas sã o representadas
como pontos: pontos cheios - territó rios partilhados; pontos vazios - territó rios
redor de seu territó rio n ã o partilhados
e revisita cada ponto , em mé dia, a cada 40
minutos depois que
o suprimento de insetos foi renovado.
I! 9 Quando as lavandis- N ão é difícil perceber porque a defesa de território vale a
sem uso exclusivo de uma faixa de margem do rio, a estrat pena: e benefícios ( defesa e alimentação ) podem ser reduzidos, algumas
vezes, a só uma variável de referência - taxa de alimentação neste
II 9 cas deveriam parti -
lhar o territ ó rio? de coleta da lavandisca do recurso renová vel entraria em colapso
Ela n ão pode correr o risco de retomar a um local, que não tenha
égia
. caso. Segundo, mostra que uma das vantagens da vida em grupo
%i 9 Quando a renovaçã o
for r á pida e a taxa
sido visitado por 40 minutos, apenas para constatar que outra ave
é a defesa conjunta de recursos. Os grupos de lavandisca nunca
eram maiores que dois , mas o mesmo argumento poderia ser
11 9 de invasã o for alta
já esteve l á. E de se esperar, portanto, que as lavandiscas sempre
defendam territórios exclusivos, mas isto nem sempre acontece .
generalizado para grupos maiores ( Brown , 1982 ). No cap í tulo 6
reexaminaremos os custos e benefícios de vida em grupo.
I íf §
T m
Algumas vezes, o dono de um territ ó rio tolera um outro indiv í duo,
denominado “saté lite”. Os dois movem -se pelo território fora dc
? fase, de modo que o tempo mé dio de retomo a cada ponto cai TERRITOR IALIDADE INTERESPEC í FICA
* i *»
para 20 minutos, resultando numa taxa menor de alimenta çã o para Embora a competi çã o por recursos seja usualmente mais intensa
o dono do território. Para contrabalançar esse custo, há um em uma espécie do que entre espécies, indiv í duos de diferentes
benefício , pois o indiv í duo saté lite expulsa invasores. Deste modo,
* rt 9 o dono do territ ó rio economiza tempo com a sua defesa, sobrando
mais tempo para a alimentação. O efeito l í quido desses custos e
Competi çã o interes-
pec í fica pode levar à
espécies com necessidades ecol ógicas similares podem competir
e algumas vezes o fazem através da defesa de territórios interes-
territorialidade inter- pec í ficos. No passado houve algum debate sobre se a territorialidade
9 benefícios na maximização da taxa de alimenta çã o, a vari á vel dc
espec í fica interespec í fica surgia porque os indiv íduos de uma espécie con -
* III referê ncia usada por Davies e Houston, depende do suprimento fundiam os indiv í duos de uma outra c os tratavam como com -
® : 9
alimentar. Nos dias em que a taxa de renovação do alimento é
petidores, embora n ão fossem , ou se era um caso genu í no de
I 9 alta, o custo da partilha é relativamente baixo, e nos dias em que
economia de defesa de recursos. Os casos estudados com detalhes
r a taxa de invasão é elevada, o benefício da partilha é relativamente
favorecem o segundo ponto dc vista. Um bom exemplo é o trabalho
grande. A taxa de invasão está diretamente relacionada com os
C 9 n í veis assintóticos de alimento, de modo que a partilha tende a de Reed (1981) sobre territorialidade interespec í fica entre fringil í deos
( Fringilla coelebs ) e pari í deos ( Parus major ) . As duas espécies
9 valer a pena nos dias com alta taxa de renova ção de alimento e
r alto n í vel assintótico de disponibilidade de alimento. Através do tê m cantos muito diferentes e apar ê ncias muito distintas. Na maior
parte das ilhas britânicas elas ocorrem nos mesmos hábitats e não
fs 9 cá lculo exato dos valores de custos e benefí cios em termos de taxas
de alimenta ção , Davies e Houston foram capazes de prever em interagem , mas na pequena ilha Eigg, na costa oeste da Escócia,
r 9 quais dias valeria a pena para o dono de um territó rio partilhá- elas defendem territórios intcrespecíí f cos. Reed mostrou isto de
duas maneiras. Primeiramente, realizou experimentos com grava-
lo e em quais dias isso n ão aconteceria . Suas previsões foram
r G9 9 corretas em 34 dos 40 dias analisados ( Fig. 5.9). ções nas ilhas e na localidade de Arisaig no continente próximo;
jl O estudo da lavandisca ilustra dois aspectos gerais: primeiro, os experimentos mostraram que nenhuma das espécies respondia
ao canto da outra no continente, mas o faziam nas ilhas, com cantos
^e fl«r- í t
9
é um exemplo de como tipos aparentemente diferentes de custos
mIJ 9
i
118/ CAPÍTULO 5 COMPETINDO POR RECURSOS /119 >
I
Territorialidade in- e aproximações agressivas. Em segundo lugar, Reed fez um Tó picos para discuss ã o \
terespec í fica em h á- experimento de remoção nas ilhas: capturou indiv íduos de F.
bitats simples coelebs e os removeu de seu território. Os indiv íduos de P.major
logo se deslocaram para lá , ocupando os espaços vazios, indicando 1. Animais defendem mais recursos do que precisam?
que antes das remoções eram mantidos afastados pela defesa 2. Como os efeitos de diferen ças na predação entre manchas de
territorial. um h á bitat podem ser incorporados na distribui çã o livre ideal ?
( veja Abrahams & Kill, 1989 ).
(
Por que as duas espécies defendiam territó rios interespec í ficos
nas ilhas mas não no continente? A explicação mais satisfat ó ria 3. Como você aplicaria a ideia da economia de defesa a outros í
é de que nas ilhas os h ábitats de bosques, que ambas as espécies recursos, alé m do alimento ( p.cx., locais de nidificação, parceiros
sexuais, etc. )? 1
ocupam, são estruturalmente mais simples que no continente.
Devido a simplicidade do há bitat, as duas espécies eram forçadas <
a usar os mesmos recursos (especialmente alimento), o que
normalmente não fariam.
Resumo
Os animais podem competir por recursos pela simples explora ção
ou defesa, ou de ambas as maneiras ao mesmo tempo. Um modelo
simples de exploração é a distribuição “livre ideal ” de competidores
entre os recursos. Este padrão pode ser visto em v á rios exemplos .
Um conceito ú til para se refletir sobre quando vale a pena competir
atrav és da defesa de recursos é a “economia da defesa”. Esta
abordagem pode ser usada juntamente com estudos de balanço
temporal para prever as condições sob as quais a defesa deveria
ocorrer e para formular hipóteses sobre o tamanho ó timo de
territó rios.
Leitura complementar
Hixon et al. (1983) descrevem experimentos sobre tamanho ó timo
de territó rio em beija-flores. Vemer ( 1977) desenvolve a id éia de
que os animais devem defender mais recursos do que realmente
precisam para maximizar o pró prio sucesso, simplesmente para
reduzir o sucesso dos demais (superterritó rios). Embora seja
instigante, a idé ia de Vemer foi criticada em seu fundamento
teó rico por vá rios autores ( p.ex., Rothstein, 1979; Parker &
Knowlton, 1980). O aspecto central da critica é que a defesa de
um superterritó rio deve valer a pena quando esse comportamento
é raro, mas n ã o quando a maioria da população adota essa mesma
estratégia. Harper ( 1982 ) testa como os patos em uma lagoa se
distribuem em manchas de recursos com diferentes rentabilidades,
arremessando pedaços de pão com taxas diferentes. Inman ( 1990)
testou se os estorninhos se distribu í am entre manchas de recursos
de acordo com o modelo livre ideal ou com o modelo de unidade
competitiva. Milinski & Parker (1991 ) e Kacelnik et al. ( 1992 )
revisaram a distribuição livre ideal .
Ni
i X)
(b)
i £
x
X)
£D
<
100
*
1
de considerarmos se os diferentes tipos de custos e benef í cios
podem ser combinados para prever o tamanho ó timo do grupo .
Os animais que n ã o vivem em grupo (e mesmo alguns que o
Seghcrs ( 1974 ). ( b ) ma çaricos ( Calidris alba ) em Bodega Bay, Califó rnia. As aves
defendem por ções da zona entre - marés, em algumas partes, e alimentam -se em
bandos itinerantes em outras partes da praia. A defesa ou n ão de territórios
depende da densidade da presa principal , um is ó pode chamado Excirolana
fazem ) freqiientemente defendem recursos, dos quais excluem os hnguifrons. Os territó rios sã o defendidos pnncipalmente em á reas com densidades
membros da mesma espécie. Portanto , a quest ão “ Por que viver intermediá rias dc presas. Em densidades muito baixas não há presas suficientes
I em grupo ? ” é uma extensão natural da quest ã o “ Por que defender para tomar a defesa lucrativa, enquanto em densidades muito altas h á muitos
maçaricos tentando alimentar-se, de modo que a defesa se toma invi á vel pela alta
recursos?”, que discutimos no Capítulo 5. pressão de invasores. Na á rea onde as aves defendem territ ó rios, observa-se uma
I correla çã o inversa entre tamanho do territ ó rio e densidade do alimento . Dados dc
Myers et al . ( 1979).
I Vida em grupo e evita çã o de predadores.
> Os lebistes na Figura 6.1 a vivem em grupos quando habitam
riachos onde os predadores s ão comuns, o que sugere que terão
A maneira exata como muda a vigil â ncia em relação ao tamanho
do bando depende de como os indiví duos no grupo gastam o seu
> estar em um grupo pode ajudar um indiv í duo a evitar que se
tempo. Por exemplo, em bandos de avestruzes , Brian Bertram ( 1980 )
constatou que cada indiv í duo gastava uma propor çã o menor de seu
tome uma refeição. Isto poderia acontecer de v á rias maneiras.
> tempo vigiando do que quando sozinho, mas a vigil â ncia total do
Os avestruzes vigi - grupo ( propor çã o do tempo com pelo menos uma ave vigiando )
> INCREMENTO NA VIGIL Â NCIA
am ao acaso aumentava ligeiramente com o tamanho do grupo ( Figura 6.3 ).
Portanto, cada ave no bando tem mais tempo para se alimentar e
Para muitos predadores, o sucesso depende da surpresa: se a desfruta de maior percepção quanto à aproximação de leões ( um
v í tima é alertada precocemente durante um ataque , a chance de predador potencial dos avestruzes ). O incremento da vigil â ncia com
sucesso do predador é pequena. Isto é verdadeiro, por exemplo, o tamanho do grupo se dá como previsto se cada ave levantasse a
para o gavi ã o que ca ç a pombos que vivem em bandos ( Figura cabeça independentemente uma das outras. Os avestruzes também
V á rios olhos s ã o 6.2 ). Os gavi ões tê m menor sucesso no ataque aos bandos levantam suas cabeças a intervalos aleató rios, o que toma imposs í vel
melhores do que um grandes, principalmente porque os pombos nestes bandos levantam para um leão prever quanto tempo ele tem para avan çar sem ser
vôo quando o gavi ã o ainda está distante. Se cada pombo no bando , detetado por sua v í tima . Qualquer padr ão previsí vel de vigil â ncia
poderia ser usado em t á ticas de aproximaçã o pelo leã o.
ocasionalmente, olha para cima à espreita de um gavi ã o, quanto Em grupos de vigi- A questão de como os indiv íduos em um grupo vigiam é
maior o bando , maior é a chance de que uma ave esteja alerta lantes, a trapa ça po- complicada pelo fato de que, num grupo grande , onde a vigil â ncia
quando o gavião surge no horizonte. Assim que uma ave levanta de ser vantajosa ... total está no valor m á ximo de 100%, valeria a pena um individuo
vôo, as demais a seguem imediatamente.
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2 3 e 4 1
(b) 1
N ú mero de aves no grupo N ú mero de aves no grupo
60
ca (
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ca Fig. 6.3 Vigilâ ncia em grupos , ( a ) Um avestruz ( Struthio camelus ) gasta uma
grupo,
o) o 40 proporção menor de tempo espreitando predadores quando está em um
*
0 / ca
com o tamanho do grupo (
( b) A vigil â ncia total do grupo aumenta ligeiramente
g ££
E
a cabeça
20 (linha contí nua), como seria previsto se cada indivíduo levantasse
§ -o
• independentemente dos demais ( linha tracejada ). Dados de Bertram (1980). i
.2
Q
1 2 -10 11- 50 > 50 4
N úmero de pombos no bando DILUI ÇÃ O E COBERTURA
4
O efeito de dilui çã o Embora haja apenas um pequeno acréscimo na vigil â ncia com
Fig. 6.2 ( a ) Gaviões ( Acciptergentilis ) sã o menos bem sucedidos quando atacam
bandos grandes da pomba Columba palumbus. ( b) Isto se deve em grande parte pode explicar... o aumento do tamanho do grupo de avestruzes, as chances de i
ao fato de que os bandos maiores levantam vôo a distâ ncias maiores do gavi ã o. que qualquer um dos indiv í duos seja devorado durante um ataque
No experimento, um gavi ã o treinado era solto a uma distâ ncia padrã o. Dados de pelos leões decresce rapidamente com o tamanho do grupo, porque
Kenward ( 1978). os leões podem matar apenas um avestruz em cada ataque bem
sucedido. Vivendo em grupos, avestruzes diluem o impacto de
trapacear, gastando todo o seu tempo de cabeça baixa alimentando- um ataque bem sucedido porque há uma boa chance de que outro
se. O trapaceiro n ã o perde nada em termos de vigil â ncia, porque indiví duo seja a v í tima. Em certo grau, esse efeito de diluição
outros estão ocupados vigiando enquanto ele ganha tempo extra pode ser superado pelo incremento do n ú mero de ataques contra
para se alimentar. N ã o se sabe como este tipo de trapa ça n ã o grupos maiores e mais conspícuos, mas freq úentemente o efeito
evolui, mas uma sugestão é a seguinte. Enquanto a estratégia l í quido provavelmente favorece a vida em grupo, como é ilustrado
“inocente” de vigiar regularmente, independente do que os outros pelo seguinte exemplo hipotético. Um ant í lope numa manada de
... a menos que o fazem , seja suscept í vel à trapa ça, um bando formado por cem indiv í duos tem (considerando constantes as outras variá veis)
indivíduo que vigia indivíduos mais astutos, que nã o vigiam a menos que tenham visto somente 1 chance em 100 de ser a vítima em um ataque; e é
tenha uma recom - seus vizinhos fazendo o mesmo, pode ser resistente a trapaceiros imprová vel que uma manada atraia mais do que cem vezes mais
pensa maior (Pulliam et ai , 1982). A questão mais ampla é que mesmo quando ataques do que a , um indiv í duo solitá rio (veja també m a Fig. 6.4).
h á um benef ício para todos com a permanência em um grupo, E, se de fato a manada é mais vigilante, pode ser vantajoso para
cada indiv íduo tentará obter mais vantagens do que os demais. o predador concentrar seus ataques a grupos pequenos e aos
Em manadas de gazelas de Thompson, o indiv íduo que está indiv í duos solitá rios.
vigiando quando um predador se aproxima, tem mais chances de Em um estudo, no qual a taxa de sobrevivência dos indivíduos
escapar ( Fitzgibbon, 1989). Aqui h á um benef í cio direto para o repouso comunal
... o em grupos de diferentes tamanhos foi medida, demonstrou-se que
indiv í duo “vigilante”, portanto nenhuma seleção a favor da de borboletas... h á um beneficio global com a vida em grupo decorrente da
trapa ça . diluição. A borboleta monarca ( Danaus plexippus ) migra da
124/ CAP ÍTULO 6
VIDA EM GRUPO / / 25
100
tabanídcas c, durante esse per íodo, há maior probabilidade que
sc re ú nam em grandes grupos. Contagens de moscas por cavalo
i cm grupos grandes c pequenos mostraram que os cavalos nos
E 10
E ! grupos grandes têm menor chance de serem atacados. Um
v~>
'
o
experimento onde os cavalos foram transferidos de grupos grandes
X3
previsto para pequenos c vice-vcrsa confirmou que a vida cm grupo confere
proteção pelo efeito de diluição ( Duncan & Vigne, 1979).
X3
Em alguns animais a dilui ção c incrementada pela sincronia no
(X
tempo e no espaço e isso deve explicar os notá veis ciclos de vida de
8 01 observado 13 c 17 anos de algumas cigarras. Esses insetos permanecem como
cr ... c o ciclo dc vida ninfas enterrados no solo e os adultos emergem após 13 ou 17 anos,
2 das cigarras dependendo da espécie e da localidade. Nas cigarras com ciclo de 17
<
anos, estudadas por Dybas e Lloyd ( 1974 ), milh ões de adultos ( de
0 01 3 espécies) emergem em sincronia cm uma ampla á rea , efetivamente
1 10
“ inundando o mercado”, de modo que a chance de um dado
100
N ú mero de patinadores d’á gua no grupo indiv í duo tomar-se v í tima de um predador c reduzida. Lloyd &
Dybas ( 1966) e outros fizeram especulações sobre as razões para os
Fig. 6.4 Um exemplo do efeito de diluição. As presas sã o ciclos com duração de 13 ou 17 anos e n ã o de 15 ou 18, por
insetos chamados de
patinadores-ef á gua ( Halobates robustus), que pousam sobre a exemplo. A vantagem de um estágio muito longo de dormê ncia entre
superfí cie da á gua ,
os seus predadores são pequenos peixes ( Sardinops sagax ). O peixe suga per í odos de emergência est á no fato de que coloca “ fora do pá reo”
o inseto
por debaixo, de modo que h á pouca chance de acréscimo na vigilâ ncia os predadores e os parasitas especializados. Quando n ão há cigarras
com o
aumento do grupo. A taxa de ataque pelo peixe é similar em grupos dc tamanhos por 13 ou 17 anos os predadores deveriam morrer, trocar de presa
diferentes, de modo que a taxa de ataque por indiv íduo varia devido apenas à ou tomar-se também dormentes. O ciclo muito longo pode ter
dilui çã o. A linha de “ previsã o" é aquela que se espera obter quando o decl í nio
na taxa de ataque com o tamanho do grupo for dependente apenas da dilui çã o; surgido como resultado de uma “corrida evolutiva” ( Cap í tulo 4 ), na
esta linha fica muito próxima do que se observa experimentalmente. Dados dc qual tanto as cigarras como seus predadores elongaram gradualmcn -
Foster & Trcheme ( 1981 ) . te seus ciclos de vida até que, eventualmente, as cigarras sairam
“ vencedoras”. O significado dos per í odos de 13 e 17 anos est á no
fato de que são n ú meros primos e isto impediria que um predador
Am é rica do Norte para passar o inverno em lugares mais quentes, entrasse em sincronia periódica com as cigarras, face a impossibi -
como o M é xico. Elas reunem -se em enormes bandos para repouso, lidade do ciclo das cigarras ser um m últiplo do ciclo de vida curto
e as á rvores dc uma á rea de at é 3 hectares podem ser totalmentc do predador. Se por exemplo, as cigarras possu íssem um ciclo de
recobertas por borboletas em repouso. A monarca n ão é uma 15 anos, os predadores com ciclo de vida de 3 ou 5 anos iriam entrar
borboleta muito palatá vel , mas algumas aves as atacam esses em compasso com a sua presa a cada 5 ou 3 gerações.
) bandos de inverno. Contagens de restos de borboletas predadas Esta idé ia permanece como uma especulação interessante , mas
mostraram que a taxa de preda ção estava inversamente relacionada a sincronia é certamente uma vantagem . Evidências de campo
com o tamanho da col ó nia, de modo que a vantagem da diluição mostram que as cigarras que emergem no pico do ciclo tem menos
parece superar qualquer desvantagem da maior conspicuidade dos chance de sucumbir aos predadores do que aquelas emergindo
...o roubo de jovens... bandos grandes (Calvert et al. , 1979). precoce ou tardiamente (Simon, 1979). Portanto, a seleção atua
O efeito da diluição, que decorre da vida em grupo, é no sentido de manter a sincronia uma vez que ela tenha sido
provavelmente uma vantagem amplamente difundida e pode estabelecida.
explicar o comportamento estranho de algumas aves na fase de Os indiv í duos no Assim como uma cigarra no meio de um ciclo de emergência
cria, tais como os avestruzes e mergansos. Quando duas fê meas meio de um grupo está mais segura do que uma no final (ou no começo), os
se encontram, cada uma parece tentar roubar o filhote da outra podem estar mais se- indiv íduos no meio de um bando, cardume ou manada podem
incorporando-o à sua própria prole. Usualmente, cuidar do filhote guros do que aque- desfrutar de maior segurança do que aqueles da borda. Se o
de outro n ão vale a pena, mas se a pressão de predação é severa les da borda predador captura as v ítimas das extremidades, cada membro do
isto pode ocorrer, devido à diluiçã o. Um exemplo mais concreto grupo deveria procurar uma posição central , escondendo-se atr ás
. . . a forma çã o de do efeito da diluição aparece num estudo de cavalos semi-selvagens de outros (Hamilton , 1971 ). isto pode explicar porque bandos de
manadas em cava - em Carmargue, um delta pantanoso no sul da França. Nos meses estorninhos, por exemplo, mantêm-se em grupos compactos
los.. . de verã o, os cavalos são acossados pelas mordidas de moscas quando um predador se aproxima. Por que o predador deveria
atacar as bordas do grupo? A brincadeira de lançar , ao mesmo
VIDA EM GRUPO / 127
126/ CAP Í TULO 6
DEFESA DE GRUPO
CAPTURANDO PRESAS
DIF ÍCEIS (a ) (b )
Indivíduos em um grupo podem
i icil para um indiv
ser capazes de capturar uma presa -o
Predadores que per- grande demais ( por
íduo sozinho subjugar, ou porque a presa c
exemplo, leões caçando bú falos adultos) OU I 12 --a 30
seguem suas presas porque é muito ágil (por
Quando as presas estão em
exemplo baleias orcas caçando toninhas )
ã
õ .
grupos, os predadores que caçam 8 8 20
em grupos podem ser bem T3
sucedidos em isolar uma v í tima de <ua 2
seus companheiros e , subseq úentemente 3
la . E assim que peixes predadores
, persegui-la at é subjugá - 3
CX
co 4A
8- 10
, como o “jack ” ( Caranx
ignobilis ) , ca çam presas cm cardumes a
. Na ca ça da anchova </>
havaiana ( Sí olephorus purpureus), os indiv í duos em grupos o </>
2 i
mais bem sucedidos do que os indiv íduos
sà
isolados (Fig.6.7).
-
CJ
O
d,
Io 2o 3o 4o 5o —
Entretanto, os benefí cios n ão são compartilhados igualmente entre Tamanho do grupo dc caça Posição no grupo de caça
os membros de um grupo de caça; durante
a perseguição os peixes Fig. 6.7 O “jack ” é um peixe predador que caça cm cardumes, (a) Nos
à frente do cardume , capturam mais presas
do que aqueles da experimentos, cada peixe cm média captura mais presas quando caça em grupo ,
r q1 * com aves cativas). A taxa de alimenta ção toma -se maior com o
aumento da distâ ncia entre vizinhos, e as aves tendem a se afastar
poss í veis à sua conclusão exaustiva e extenuante , iremos nos voltar
para uma quest ã o mais interessante: se os diterentes tipos de
custos e benefí cios podem ser combinados para prever o tamanho
ir m
já %
umas das outras. À noite n ão h á nenhuma interferê ncia alimentar,
porque as aves n ão precisam ver as presas e, de qualquer maneira ,
os caramujos n ã o reagem rapidamente às perturba ções. A taxa
ótimo de grupos.
ru iS
9
Gustard, 1976). Uma interpretaçã o destes resultados é que há uma
vantagem na forma çã o de grupos compactos ( talvez como
e benefícios da vida em grupo, al é m daqueles mencionados no texto.
m
ra 1
consequ ê ncia da proteção contra a preda ção no meio do bando)
e à noite há apenas um pequeno preju í zo para alimentaçã o de cada
indiv í duo, com proximidade dos demais. Durante o dia , entretanto,
Hipótese Teste Referê ncia
i a proximidade provoca interferência e as aves se afastam. A
distâ ncia interindividual nessas condi ções parece refletir balan ço 1. Animais de sangue Morcegos Antrozous Tnine e
1
m entre custos e benef í cios da vida em grupo.
Um outro estudo que mostra como a competiçã o por alimento
quente economizam
energia por causa da
pallidus, que se agrupam
puleiros usam menos
Slobodchikoff
( 1976 )
* Pardais recrutam
outros indiv í duos
influencia o tamanho do grupo é o trabalho de Mark Elgar ( 1986)
com bandos de pardais ( Passer domesticus ). O primeiro pardal a
vantagem t é rmica de
permanecer agrupados
energia do que os soli -
t á rios
Jl "“
:
-A
*
I
para fontes alimen-
tares que podem ser
chegar em um local de alimentaçã o d á um chamado especial antes
de começar a se alimentar. O chamado atrai outros pardais que se
dirigem em grupo at é a fonte de alimento. A atraçã o de outros
2. Competidores infenores
podem superar a vanta-
O peixe barbeiro
Acanthurus
Fostcr ( 1985)
' repartidas
companheiros pelo pardal que encontra alimento parece ser uma má gem de outas espé cies caeruleus é exclu í do
adapta ção, mas sabe-se que os pardais gastam menos tempo vigiando
íí i
forragenado em grupo das á reas de algas quando
1
««1
3 ?
nos grupos maiores ( Elgar & Catterall , 1981 ), de modo que h á algum
benef ício para o primeiro pardal com a formação de um bando de
alimenta ção. Entretanto, e este é o ponto mais interessante, o
sozinho, mas não quando
está em grupo
!
j ,
1 primeiro pardal n ão d á o chamado para recrutar outros se a fonte
alimentar for indivisí vel. O custo de recrutamento, em termos de
competição por alimento, nesta situação supera os benefícios deri -
vados da reduçã o do tempo de vigilâ ncia. No experimento, Elgar
simplesmente ofereceu a mesma quantidade de alimento - um pedaço
) 3. Vantagem hidrodinâ mica
para peixes que nadam cm
cardumcs. Eles cconomi -
zam energia se posicionan -
do nos vó rtices criados pc-
Medi ções dc dist â ncia e
â ngulos entre os indiví -
duos demonstram que os
peixes n ào est ão na posi-
ção dc beneficio, como
Wcihs (1973)
Partridgce
Pitcher (1979)
de pão - em uma porção ú nica (indivisível) ou em fragmentos los outros peixes do grupo previa a teoria
(divis í vel ). Havia maior chance do primeiro pardal emitir o chamado
Continua na página 134
quando o alimento estava fragmentado.
I
íl #
VIDA EM GRUPO /135
134/ CAP Í TULO 6
!
Hipótese
Teste Referência
4. Aumento na incidência de
Medições do n ú mero de Hoogland ( 1979b )
doenças como resultado ectoparasitas nas tocas de
da proximidade càes da pradaria ( Cynomys
spp.). Colónias maiores
têm mais parasitas por
toca.
5 . Risco de infidelidade com Nos pássaros Agelaius Bray etal. ( 1975 )
os vizinhos phoeniceus as pareceiras
de machos vascctomiza - <
dos colocarem ovos. Elas
devem ter sido fertilizadas (
po outros machos
Col ó nias de andori - ccntro dc informação ( veja acima ) c as observa ções dos
nhas de penhascos Brown
( 1986a ) dão apoio a essa id é ia . Eles constataram
que todas as
sã o centros de infor- andorinhas, quando coletando alimento para os filhotes, frequen
ma çao ... -
temente seguiam outros indiv íduos da col ô ma ate os
locais de
alimenta ção. Mais importante, a tendência de um indiv í duo
seguir
outros dependia do seu próprio sucesso durante viagens
anteriores.
Uma ave bem sucedida volta ao ninho com uma grande
pelota
de min úsculos insetos comprimidos com saliva ,
enquanto um
3 indiv í duo malsucedido retoma sem nada ou com uma
pelota . Se uma ave foi bem sucedida em sua ú ltima
pequena
viagem , ela
segue um outro indiv í duo na pr ó xima viagem em apenas 17
%
dos casos, mas, se foi mal sucedido, segue outros indiv í
3 75% das vezes ( mais freq ú entemente, acompanhando um
duos em
vizinho
ou seu parceiro ). Procurando detectar quais aves tinham
$ chances de serem seguidos por outros, os Brown notaram que
mais
aqueles que tinham feito uma viagem bem sucedida eram seguidos
em 44% das vezes, enquando os malsucedidos eram acompanha
dos em apenas 10% das viagens subsequentes . Em s í ntese, -
forrageadores malsucedidos seguiam forrageadores bem sucedidos
9 aos locais de alimenta çã o. Todos os indiv í duos desempenhavam
o papel de seguidores com igual frequ ê ncia, de modo que todos
% obtinham o mesmo benef í cio aprendendo a acompanhar outros
,I * levam à redu ção no crescimento dos filhotes. Dados dc Brown ( 1986 b ). ( b ) O n ú mero
de percevejos por ninho aumenta com o aumento do tamanho colonial (c) A massa
,
H*
%*
138/ CAP Í TULO 6 VIDA EM GRUPO /139
-
á ximoentre os
I 3
(b)
. JKT bandos de tamanho intermediário.
4 Esse modelo de balan ço temporal pode ser usado para prever
incremento da
o tamanho ótimo do grupo? Se o ú nico beneficio da alimenta
je
LI
l iw
n
em grupo é o incremento no tempo dispon í vel para alimenta çã
mantendo um certo n í vel de vigilâ ncia , o tamanho ó timo do grupo
o
ção, £
O
Q. •
•
agressividade dos
dominantes a
temperaturas
p
mais
é aquele indicado na Figura 6.9a. Se houver outros benef í cios T3 elevadas .
9 3
com o agrupamento, tais como a dilui ção e o incremento na
vigil â ncia ( ver pág. 111- 16), o tamanho ótimo do grupo pode ser
£
CD
2
4
a ri! Fatores ignorados maior do que aquele mostrado na Figura 6.1 la . Portanto , o modelo
* u *
no modelo pode ser usado para testar se a maximiza çã o na obten çã o de
alimento é ou nã o o ú nico beneficio da vida em grupo. Entretanto,
provavelmente, o quadro é mais complicado do que sugere a Fig .
Q,
*
4 i 6.11a, pois o tamanho ótimo do bando pode ser diferente para Tamanho ó timo do bando Tamanho do bando
00
2
D
I
«J % %
grupo, como acontece à esquerda do pico na Fig .6.11 a .
Para testar se o balanço temporal influenciaria o tamanho do
bando da maneira indicada pelo modelo, Caraco et al. previram
os efeitos de vá rias mudan ças ambientais sobre o tamanho do
Tamanho ótimo do bando Tamanho do bando
í 1 *
aumento da tempe- porque conseguem
ratura
satisfazer suas necessidades energé ticas mais
abundante) as aves dominantes podem dedicar mais tempo atacando subordinados.
Portanto, para a ave média , o tamanho ótimo do bando sofre uma redução (c) ,
í H
§i
rapidamente. O tamanho do bando deveria, então, decrescer ( Fig.
6.1 lb ). Esta previsão foi apoiada por observa ções: a 2°C os bandos
continham 7 aves e a 10°C apenas 2 , em m é dia. Este decr éscimo
Quando o risco de predação aumenta, permitindo que um gavião sobrevoe o bando,
o n ível de vigilância deve elevar-se e o tamanho ótimo do bando também passa a ser
maior. Baseado em Pulliam (1976) e Caraco etal . (1980).
i
i II *
H 2/ CAP ÍTULO 6
VIDA EM GRUPO / 143
coincidiu com o aumento no tempo gasto com a defesa de recursos podem ser os dois extremos de um
lutas pelas aves
dominantes. continuum. O modelo poderia ser visualizado como uma forma
2. Por um argumento similar, um Formaçã o de bando de prever as condi ções sob as quais valeria a pena para aves
Alimento extra cau- incremento no
alimentar deveria produzir um decréscimo no tamanhosuprimento e territorialidade: os excluir subordinados c defender um território. Quando
dominantes
sou um decr éscimo e um aumento na proporção de tempo gasto
do bando dois lados da mesma o alimento é abundante ou o risco de preda çào é baixo, os
com as lutas entre moeda dominantes podem se permitir um dispê ndio de tempo para manter
no tamanho do ban -
do
as aves dominantes. Mais uma vez, os resultados
de campo apoiaram a previsã o. Quando o alimento
das observações _
í rea defendida ou em outras palavras, o territ ó rio torna -se
uma arca
estava disperso
pelo desfiladeiro , as aves alimentavam-se em bandos menores. economicamente defensá vel.
3. Um incremento no risco de predaçào deveria ter um efeito
exatamente oposto dessas duas mudanças prévias. Isto ocorre, Ó TIMO S À O EST Á VEIS ?
porque um alto risco de ataque por um predador deveria fazer OS GRUPOS DE TAMANHO
com que as aves gastassem mais tempo vigiando; portanto, elas Richard Sibly (1983) destacou que raramente os grupos de
deveriam se alimentar em bandos maiores para poderiam ser encontrad os na natureza , porque se
manter uma tamanho ótimo para qualquer
determinada taxa de coleta de alimento ( Fig . 6.11 c ). Caraco et houvesse um grupo com tal tamanho, seria vantajoso
ai ( 1980a ) deixaram que um falc
Risco extra de pre-
desfiladeiro e, como previsto, as
ão treinado voasse sobre o indivíduo solitário juntar-se a ele, empurrando assim o grupo para
da çã o causou um
vigiando e o tamanho mé dio do aves gastaram mais tempo um ní vel acima do ótimo. A ídéia é ilustrada na Fig. 6.12. A
, medido
incremento ...
do falcão para 7.3 com a sua
grupo aumentou de 3.9 na ausê ncia curva mostra o valor adaptativo individual ( por exemplo
4. Finalmente, Caraco previu que
presença . como taxa de alimentação ou probabilidade de escapar à predaçào)
a adi çã de mais proteçã o no
desfiladeiro, sob a forma de um arbusto , oreduziria risco como uma poss í vel fun ção do tamanho do grupo. O tamanho
de ataque pelo predador, pois os juncos
a esconderijos. As aves deveriam então
efetivo
teriam acesso mais fácil
gastar menos tempo com
a vigil â ncia , sobrando mais tempo para a alimenta
ótimo do grupo, onde o valor adaptativo médio é má ximo, é sete
indiv íduos. Imagine que os indiv íduos sã o livres para se juntarem
Grupos com tama- ao grupo ou para forragearem sozinhos quando
, se cada indiv í duo
chegam ao local
escolhe a opção
*- i
çã o e para as nho ó timo podem ser de alimenta ção . Claramente
... e abrigo extra um lutas. Foi exatamente isto que aconteceu : quando um seu valor adaptativo , novas aves irão se juntar
decréscimo
arbusto
experimental foi colocado pr ó ximo a um dos locais de alimenta çã o , instá veis porque atra- que maximiza o
indiv í duos solit á - ao grupo at é que alcance 14 indiv í duos , 2 vezes o ótimo! Neste
como esperado, o tamanho do bando diminuiu. em
rios ponto, a vantagem para o forrageio solitário é igual à vantagem
O que podemos concluir desses resultados? Primeiro, eles obtida com a adesão a um grupo ( note que esse modelo é um
mostram que o tamanho do bando é influenciado pelo balanço exemplo da distribui ção livre ideal, discutida no Cap í tulo 5). O
temporal como no modelo da Fig. 6 1 la . A vida cm bando propicia
mais tempo para alimentação, porque menos tempo é gasto com
vigil â ncia ; e o tamanho m á ximo do bando depende do tempo
dispon í vel para as aves dominantes expulsarem subordinados. Em
segundo lugar, os resultados permitem que rejeitemos modelos
simples de tamanho ótimo do bando. As aves não se alimentam
em bandos de tamanhos que maximizariam o tempo dedicado à
alimentação; sob condi ções normais o tamanho médio dos bandos >
no desfiladeiro era de 3,9 aves, mas as medidas mostraram que
o tempo dispon í vel para alimentaçã o seria maior em um bando
de 6 a 7. Como já mencionamos, o tamanho ó timo do bando
Os ganhos de aves para aves dominantes e subordinadas provavelmente difere, já que
_8c3
u.
o
dominantes e subor- os dominantes se beneficiam com a expulsã o de subordinados. >
dinados diferem Os bandos observados podem ser um compromisso entre as
condi ções ó timas para um dominante e para um subordinado. Uma
complica ção adicional é que as aves nos bandos maiores se
4 6 8 10 12 14 16 18
beneficiam dos efeitos de dilui ção e incremento da vigil â ncia, como 0 2
foi descrito para os avestruzes (Caraco et ai , 1980a ). Tamanho do grupo
O modelo da Fig. 6.11 é claramente simples demais, mas o
estudo mostra que o balan ço temporal pode ser usado para analisar Fig. 6.12 Modelo de tamanho ó timo e est á vel dos grupos, proposto por Sibly .
os efeitos dos diferentes custos e benef í cios sobre o tamanho Cada indiv íduo junta -se ao grupo que maximiza o seu valor adaptativo,de modo que
do bando. També m nos relembra que a forma ção de grupos e o tamanho ótimo de 7 não é necessariamente está vel - indiv í duos solitá rios irão se
juntar a esse grupo, por exemplo . Modificado de Sibly ( 1983 ) .
144/ CAP ÍTULO 6 VIDA EM GRUPO /145
sem predadores (experimentos similares de transferê ncias feitos livres de predação, e, depois, a intensificaram , quando reocuparam
por John Endler foram descritos no Cap í tulo 4). Os peixes á reas com predadores. Essas diferenças foram exibidas por
146/ CAP ÍTULO 6 Capí tulo 7. Luta e Avaliação
Duas das vantagens seletivas mais importantes da vida em grupo trar a estratégia que resultasse no maior beneficio l íquido. Entre
sao o incremento da proteção contra predadores e o aumento da
Modelos da teoria tanto, não podemos adotar esse procedimento porque o compor-
probabilidade de encontrar e capturar alimento. Em oposi ção a
dos jogos para aná ii - tamento ótimo de um
indiv í duo irá dependender do que estã o
esses benefícios, há os custos com a vida em grupo tais como competidores na popula ção. A t écnica apro-
o aumento na competição por alimento e aumento da evidência se de comportamen- fazendo os demais
esta é a teoria dos jogos, que
o tos de disputa priada para analisar situa çõ es como
em relação a predadores. O tamanho foi desenvolvida para estudos econó micos e tomou -
do grupo no qual um animal oriiginalmente
vive pode refletir um compromisso resultante
e benefí cios. Uma maneira de analisar
desses vários custos se um instrumento teórico muito ú til na análise do comportamento
o compromisso entre eles
é usando o tempo como variá vel de referê ncia para prever o animal, devido, particularmente, ao trabalho de Maynard Smith
tamanho ótimo dos grupos. (1982). É fácil descrever esse método se começarmos com um
Duas limitações da concepção do tamanho ótimo do grupo são: exemplo.
(a) o fato de que os indiv íduos em um grupo podem obter
recompensas diferentes e podem ter ótimos distintos. Se os grupos A guerra de desgaste ou “o jogo de espera ”
observados são um compromisso entre os ótimos para os
diferentes indiv íduos, então podem nã o ser ó timos para um
indiv í duo em particular, ( b) Grupos com tamanho ó timo podem (a) O problema
ser instá veis pois tendem a atrair indiv í duos de grupos menores. Fêmeas da mosca de esterco Scatophaga stercoraria chegam ao
esterco fresco para colocar seus ovos. Enxames de machos estão
Leituras complementares esperando por elas sobre e ao redor dele ( Fig. 7.1 ) e, sempre que
Machos da mosca de uma f êmea chega , copula com o primeiro macho que a encontra,
Pulliam e Caraco ( 1984 ) fazem uma boa revisão do porquê esterco competem que també m irá protegê- la enquanto coloca os ovos (quadro 3.1 ).
os animais vivem em grupos. Hoogland ( 1979a , b ) faz um estudo por femeas As fê mes preferem colocar os ovos no esterco fresco. A medida
sobre os cães da pradaria no qual tanto os custos como os que o esterco envelhece adquire uma crosta (tomando-se menos
benef í cios da vida em grupo são investigados. O livro editado por ê meas. O problema
apropriado para a oviposiçã o ) e atrai menos f
Bamard ( 1984 ) discute o papel dos produtores e dos apropriadores para o macho é: qual o tempo ó timo para esperar uma fê mea em
nos grupos. O artigo de Ian Patterson ( 1965 ) é um estudo cl á ssico cada porção de esterco? A resposta é que o melhor tempo de espera
sobre os benef ícios do acasalamento sincrônico e colonial. para um macho depende do que estão fazendo todos os outros
machos. Por exemplo, se a maioria dos machos permanece por
Tó picos para discussã o um curto per í odo, ent ão um macho que ficasse um pouco mais
teria um alto sucesso de acasalamento porque poderia copular com
1. Como os diferentes custos e benef í cios da vida em grupo ( por todas as femeas que chegassem mais tarde. Se, por outro lado,
exemplo, alimentação, predação, doenças) podem ser combinados a maioria dos machos permanecem por um longo tempo, então
para prever o tamanho do grupo? valeria a pena para o nosso macho deslocar-se rapidamente para
2. Por que os indiv íduos subordinados permanecem no grupo? uma nova porção de esterco para copular com as primeiras femeas
3. Como você testaria a hipótese de que os grupos são está veis que chegam ali. Portanto, devemos analisar uma competição entre
em vez de serem de tamanhos ó timos? machos, onde os lucros com diferentes tempos de espera sã o
dependentes da frequ ê ncia.
147
148/ CAP ÍTULO 7 LUTA E AVALIAÇÃ O / 149
sentido de que uma vez que a população adota esta estratégia, então Su. 30
V
nenhum indiv íduo que jogue com uma estratégia diferente poderia C/3
<D
obter um sucesso reprodutivo maior. O
c
O pressuposto de reprodução assexuada (“semelhante dá origem C/3
0
I I
100 200
Tempo de permanência ( m í n )
300
Tabela 7.1 O jogo entre Gavião c Pomba. Extraído de Maynard Smitb ( 1976b ).
(a) Lucros: Vencedor
Perdedor
+50
0
Injúria
Exibi ção 10
100-
-
( b ) Matriz de lucros: lucro médio em uma luta para o atacante
Oponente
(a) ( b)
Gaviã o 'A (50)+ -
J/i ( 100) +50
= -25
(c ) (d )
Pomba 0 J/i (50 - 10) + J/i (- 10)
= + 15
Notas:
1. Quando um Gavião encontra um Gavião, assumimos que em metade das vezes
ele vence e metade das vezes ele sofre inj ú rias.
.
2 Gaviões sempre vemeem Pombas
3. Pombas sempre recuam imediatamente em face de Gaviões
4. Quando uma Pomba encontra uma Pomba, assumimos que sempre há exibição
e ela vence em metade das vezes.
Fig. 7.3 Uma luta entre dois machos da mosca de esterco pela posse de uma f
êmea.
O macho atacante (esquerda ) está tentando destituir o outro macho (direita ) da se sair melhor, porque quando uma Pomba encontra um gavião
femea (abaixo, n ão vis í vel). Foto de G.A. Parker. ela obtém 0 (o que não é muito bom, mais ainda assim é melhor
que -25). A estratégia Pomba iria se espalhar se a populaçã o
consistisse principalmente de Gaviões. Portanto, Gavião também
sempre fazem exibições e nunca se envolvem em lutas sé rias. não é uma EEE.
Embora simples, estas duas estratégias foram escolhidas para Entretanto, uma mistura de Gaviões e Pombas poderia ser
representar as duas possibilidades extremas que podemos encontrar está vel. O equil í brio está vel se estabelecerá quando os lucros
na natureza. médios para um Gavi ão e para uma Pomba forem iguais. Se houver
Neste jogo evolutivo, digamos que o vencedor de uma disputa um deslocamento deste ponto de equil í brio, então a Pomba ou o
marque + 50 e o perdedor 0. O custo de uma injú ria sé ria é - Gavi ão estará se saindo melhor e, portanto, a popula ção não seria
100 e o custo do disperd ício de tempo em uma exibição é -10. está vel. Cada estratégia se sai melhor quando é relativamente rara
O jogo Gavião- Pom - Essas pontuações são algum tipo de medida do valor adaptativo, e a tend ência neste jogo evolutivo é que a seleção dependente da
ba nos ajuda a pen- e iremos assumir, para simplificar, que gaviões e pombas repro- frequ ência conduza as frequ ências de Gaviões e Pombas na
sar sobre a estabili - duzem-se de maneira correspondente aos seus lucros. (Os valores popula ção, de modo que eles desfrutem o mesmo sucesso. Para
dade evolutiva das exatos n ão importam e foram escolhidos simplesmente porque esse os valores na Tabela 7.1 , a mistura está vel pode ser calculada da
exibi ções jogo é mais fácil de ser explicado com n ú meros do que com seguinte maneira:
algebra ). O próximo passo é fazer uma matriz dois por dois com Represente por h a proporção de Gaviões na população.
os lucros médios para os quatro poss í veis tipos de encontro. Os Portanto, a proporçã o de Pombas deve ser ( 1 - h ). O ganho médio
cá lculos são explicados na Tabela 7. I . - para um Gavião é o ganho com cada tipo de luta multiplicado
Como a evolução ocorreria neste jogo em particular? Considere pela probabilidade de encontro de cada um dos tipos de lutadores.
o que aconteceria se todos os indiv íduos na popula ção fossem Portanto,
Pombas. Cada disputa se dá entre uma Pomba e outra Pomba, e H = -25 h + 50( 1 - h ).
o lucro em m édia é +15. Nesta população, qualquer mutante Gavião
iria se sair muito bem e a estratégia de Gavião rapidamente se De modo similar, para uma Pomba o ganho médio será
espalharia, porque quando um Gavião encontra uma Pomba ele D = Oh + 15( 1 - h ).
obtém +50. Fica claro que Pomba não é uma EEE.
Entretanto, a estratégia Gavião n ão iria se espalhar de modo No equil í brio está vel (a EEE), H é igual a D. Resolvendo as duas
a dominar toda a população. Em uma população inteiramente de equações acima para H = D, resulta em h = 7/ 12 e, portanto, por
Gaviões a média de lucros é -25 e qualquer mutante Pomba iria subtra ção a proporção de Pombas ( 1 - h) deve ser 5 / 12.
154/ CAPÍTULO 7
LUTA E AVALIAÇÃO / 155
Como na guerra de desgaste, a EEE poderia ser alcançada de Tabela 7.2 O jogo Gavi ão-Pomba- Burgues . Extra í do de Maynard Smith ( 1976b)
duas maneiras distintas. (a ) Lucros (como na Tabela 7.1)
.
1 A população poderia consitir de indivíduos que jogam com
Vencedor + 50 Inj ú ria - 100
Perdedor 0 Exibiçã o - 10
estratégias puras. Cada indiv í duo seria ou Gavião ou Pomba e a (b) Matriz de lucros: lucro médio em uma luta para o atacante
EEE se definiria com 7/ 12 da população como Gaviões e 5/12
como Pombas. Oponente
2. A população poderia consistir de indiv í duos que adotassem uma
estratégia mista, jogando como Gavião com uma probabilidade de Atacante Gaviã o Pomba Burgu ês
7/12 e como Pomba com uma probabilidade de 5/ 12, escolhendo
Uma mistura de luta ao acaso com qual estratégia jogar em cada disputa . Gavi ã o -25 +50 + 12,5
e exibição é evolu- Dove 0 + 15 +7,5
Ambas produziriam estabilidade no iogo. Se a populaçã o
Burgu ês -12,5 +32,5 +25
tivamente está vel consistisse de uma mistura diferente de indiv íduos daquela em
(1 ) ou de indiv í duos adotando estrat égias com probabilidade
s
distintas daquela em (2), então não haveria equil í brio, tanto Gaviões Notas:
como Pombas iriam desfrutar 1 As quatro células do topo à esquerda são exatamente iguais à Tabela 7.1.
.
aumentos temporários de sucesso 2. Quando um Burguês encontra tanto um Gavião como uma Pomba, assumimos
até que a população atingisse a EEE,
mais uma vez. que é dono na metade das vezes e, portanto, atua como Gavião; e invasor a outra
É instrutivo notar que na EEE, o ganho médio é 6,25 por disputa. metade, jogando portanto como Pomba. O seu lucro é a média das duas cé lulas
Isto é menos do que a média de ganho que os indiví duos obteriam acima da matriz.
se concordassem em lutar como Pombas, no caso 15 ! Isto esclarece .
3 Quando um Burguês encontra um Burguês, na metade das vezes ele é dono e
o que assinalamos no parágrafo de abertura deste cap í tulo. A vence, na ou tra metade é invasor e recua. Nunca há qualquer custo com exibição
A soluçã o EEE n ã o ou inj ú ria .
maximiza o valor estratégia ótima para maximizar o valor adaptativo de cada um
adaptativo de cada seria um acordo entre todos para jogar como Pomba. Entretanto,
indiv í duo isto nã o seria est á vel , porque uma população onde todos são no jogo da Tabela 7.2. Se toda a popula ção jogar como Gaviã o,
Pombas acabaria invadida por mutantes Gaviões. Esperamos que tanto Pombas como Burgueses poderiam invadir e se sair melhor. I
a evolu ção leve à estratégias está veis porque, nas palavras de Se a população jogar como Pomba, então Gaviões e Burgueses
Richard Dawkins, “ Elas são imunes à conspira ções internas”. poderiam invadir. í
(
; ^ 156/ CAPÍTULO 7
!' ! LUTA E AVALIAÇÃ O /157
kíII
[ ir
*
• Essas três estratégias são sem d úvida simples
representar em detalhes as estratégias que os
ambiente natural. Entretanto, são alternativas plaus
demais para
animais adotam no os cornos e chifres, evoluí ram cm resposta à eficiência no ataque
e defesa (Geist, 1966). No boi almiscarado, de 5 a 10% dos machos
* ii ser vistas como versões simplificadas do que podemos í veis que podem
observar adultos podem morrer em lutas por f ê meas a cada ano (Wilkinson
na natureza. É interessante chegar à conclusão
H * nem Pomba é uma EEE em nosso jogo
de que nem Gavião
simplificado, mas que
Lutas severas ocor- & ShanJc, 1977) e dados para o veado Odocoileus hemionus
rem quando o lucro revelam que até 10% dos machos com mais de 1,5 anos de idade
\è Hl alguma mistura de ambos os comportamentos
é exatamente o que observamos nos animaispode ser está vel. Isto pela vitória é alto ficam feridos a cada ano (Geist, 1974). Narvais ( Monodon
reais, uma mistura monoceros ) usam suas longas presas em lutas e um estudo mostrou
i U de exibição e luta. Devido a sua simplicidade
esperamos ver estratégias Gavião e Pomba na , realmente não que mais de 60% dos machos adultos apresentam presas quebradas;
s» m
llj
testar o modelo da Tabela 7.1. O modelo
simplesmente para se obter melhor compreensdeveria
natureza ou mesmo
ser usado
ão sobre como o
alguns tinham pontas de presas encravadas em suas maxilas e a
maioria apresentava a cabeça recoberta por cicatrizes (Silverman
& Dunbar, 1980). Animais menores também podem lutar feroz-
Vi comportamento de disputa poderia evoluir.
*9 i
H
deste modo não há motivo para colocarmos tal estratégia em nossos
modelos.
A EEE també m dependerá dos valores dos lucros no jogo. Se
das.
Em todos esses casos, o valor do recurso provavelmente excede
o custo de inj ú ria. Portanto, esperaríamos encontrar estratégias do
mudássemos os valores na Tabela 7.1, então a mistura EEE de tipo Gavião quando fracasso em uma disputa possa significar o
*4 EU %
Gaviões e Pombas também se alteraria. De fato, demonstra-se que
neste jogo se o custo de inj ú ria supera o valor da vitória, a EEE
fracasso na passagem de genes para gerações futuras; na verdade
os indiv í duos estão lutando pela vida ou pela morte gené tica. Por
tende a ser mista. A quantidade de comportamento do tipo Gavi ão, outro lado, onde o recurso é menos valioso, ou onde os custos
+ II! que esperaríamos encontrar, irá depender dos custos e benef í cios com as lutas são muito altos, dever í amos esperar que se desen -
*a «PI
da disputa. Se o valor do recurso for maior do que o custo de volvesse o comportamento Burguês ( o dono vence, o invasor recua )
inj ú ria , então a EEE será Gavi ão pura. como estraté gia para resolver disputas?
9 Logo, para que os modelos sobre a teoria dos jogos façam
previsões precisas sobre o comportamento de disputa, precisaremos
9 (b) Respeito pela posse
-
conhecer não apenas a a gama de estratégias possí veis, mas també m
* Ul * os custos e benef í cios na matriz de lucros. No mundo real , as
circunstâ ncias ecológicas, tais como a abundâ ncia de recursos e Um poss í vel exemplo é o estudo de Packer & Pusey ( 1982 ) sobre
i a densidade de competidores, irão determinar os lucros no jogo
evolutivo. Na prá tica, não será fácil para o pesquisador de campo
leões. Uma coalisão de vários machos (até 7) defende o bando
(Fig. 7.4a ). Algumas vezes os machos são parentes próximos,
freq úentemente irmãos, mas 42% das coalisões contêm machos nã o
% medir em uma mesma escala (efeito sobre o valor adaptativo) o
aparentados. A competi ção entre os machos de um bando pelo
*r tf 9
custo de exibi ção, o custo de ferimentos sé rios, e o valor da vitória
em uma disputa. Entretanto, percebemos de maneira intuitiva que acesso às f ê meas no cio consiste na disputa pela posse temporária
rfii 9
as estratégias de luta na natureza variam, dependendo do valor do
recurso.
de uma f êmea. Quando uma fê mea entra no cio, um macho associa-
se a ela, protegendo-a da abordagem de outros machos, copulando
: 9
com ela freq úentemente, durante cerca de 4 dias (veja Fig. 7.4b
e Cap í tulo 1).
: Exemplos de disputas entre animais O que faz com que um macho seja o cônjuge de uma f ê mea
í1*
em particular? As disputas entre machos não relacionados não sao
(a) Lutas severas mais intensas do que entre machos aparentados. Dois fatores
4 duvidosa , ocorrem ausente e ambos os contestadores comportavam -se como Gavi ões.
A
u
disputas escaladas O que determina quem sai vencedor desses encontros prolongados?
jfk’ * Jyg Pares de machos que se envolveram nessas disputas longas foram
capturados para verificar se a vitó ria estava correlacionada com
qualquer caracter ística f ísica. O tamanho por si só n ão foi um
previsor sobre qual dos machos sairia vencedor, mas os vencedores
tinham reservas maiores de energia sob a forma de gordura. Isto
sugere que as disputas escalonadas sã o guerras de desgaste
energético, nas quais os machos com as reservas mais baixas de
energia são forçados a capitular porque não podem prosseguir
lutando ( Waage, 1988; Marden & Waage, 1990).
Fig. 7.6 Um experimento sobre avalia ção da capacidade de luta no sapo Bufo bufo.
Machos de tamanho médio atacam machos pequenos ou grandes pareados a
fêmeas, que foram silenciados com uma mordaça. Durante um ataque, sons de
coaxos eram tocados junto ao par . Para ambos os tamanhos de defensores, houve
menos ataques quando se tocou o coaxo grave de um grande macho do que quando ! £
se tocou o coaxo agudo de um pequeno macho Portanto, o tom do coaxo é usado
para avaliar o tamanho corporal do rival , que é um bom previsor da sua capacidade
I U
de luta, porque é mais dif ícil deslocar os machos maiores . Entretanto, o coaxo não
< b) pode ser o ú nico est í mulo avaliado porque mesmo com coaxos mais agudos,
em ~ houve relativamente menos ataques aos grandes defensores. A força do chute de
H l ’>& * I um defensor també m pode ser importante. Dados de Davics & Halliday ( 1978) ,
r
\
X Três conclusões emergem dessas observações sobre o modo dos
indiv í duos se avaliarem mutuamente. Primeiro, as exibições en-
.
f 1
moa» »
*s
* 2 v; «
.
ir#, a* &sr.
'
I
envolvem um certo grau de cooperação entre os contestantes; os
rivais correm lado-a- lado ou engajam em cabeçadas. Os oponentes
tê m um interesse comum em obter informa ções uns sobre os outros
*
JV
WesR* e a cooperação tem chances de ser estável quando é melhor criar
( C) 1 Vu 3
Fig. 7.5. Está gios de uma luta entre dois machos do cervo norte americano. O dono
condições para uma avaliação segura do que começar uma luta
perigosa. Terceiro, as disputas frequentemente seguem um padrão *
do harem ruge para o desafiante (a ). Ent ão, o par engaja em uma caminhada lado - definido, com uma sequê ncia de exibições repetitivas, divididas
a- lado ( b). Finalmente, eles entrela çam os chifres e se empurram mutuamente (c ). em fases com intensidades crescentes (por exemplo, rugido, ca -
Fotos de Tim Clutton-Brock . minhada lado-a-lado, empurrões). Por que isso deveria ser assim?
*41
, -
9^1
-
, tn» 164/ CAP ÍTULO 7 LUTA £ AVALIAÇÃ O / lt
r?I r%
.r n i • !" AVALIA ÇÃ O SEQOENCIAL
,
Magnus Enquist & Olof Leimar (1983, 1987, 1990) sugeriram que
a informa çã o seria acumulada em uma disputa de maneira
seme-
*» lhante à amostragem estat ística. A informação obtida com
ú nica avaliação conté m erro e, para se obter uma
Avaliar significa, em acurada, os contestantes devem ampliar o
estimativa
tamanho da amostra
uma
mais
parte, obter informa- repetindo o comportamento. Sob esta ó ptica
r * íH ção
, esperar íamos que as
exibições menos custosas fossem usadas antes, seguidas I
Hl »
pelos
meios mais custosos e també m mais
'
acurados de avaliação. Um
\ J indiv í duo irá desistir quando percebe que a sua capacidade
de luta
^
4 *
.
í
r
11 1*
li
que um estat ístico necessita ampliar mais uma amostra para detectar
uma diferença pequena do que uma diferença grande.
Esta idé ia faz sentido para as disputas envolvendo exibi ções
sequenciais, como no caso do peixe cicl í deo Sul Americano
i
í
•> B
ui •
:
machos orientam -se lateralmente, com as nadadeiras eretas ( b )
Então, engajam em rabanadas lançando um fluxo de água contra
o flanco do oponente. Isto envolve altern â ncias de papé is, com
cada peixe executando o batimento de cauda e a seguir assumindo
,
1
?) o posicionamento lateral para receber o fluxo produzido pela batida
Quanto mais simila - de seu oponente, (c) Ent ão há um incremento na frequ
r Hl ê ncia de
res os contestantes, mordidas at é que os oponentes começam a se orientar frontalmente,
mais longa a avalia - ( d ) Isto é seguido por encontros boca a boca , quando os machos
* --
•Viu.
I mudando de cor e recuando. Os machos maiores têm mais chances , Fig. 7.7 Sequ ê ncia da luta entre machos do peixe cicl í deo Nannacara anómala.
m
r
M
Ur
se mais longas e escaladas, em uma sequ ê ncia de riscos crescentes diferenciar tanto na capacidade de luta quanto no valor que
MA ! ti!
de inj ú ria em estágio sucessivos ( Fig. 7.8 ). atribuem ao recurso. Como as estratégias de luta irão evoluir nestes
m
m•
Até aqui identificamos o valor do recurso e a capacidade de luta
como fatores que tê m influ ências importantes sobre as consequ ê n -
A questão se deveríamos observar disputas na natureza definidas
simplesmente pela convenção arbitr á ria da posse, em oposição ãs
diferenças reais na capacidade de luta, depende de como os indiv í-
m cias das disputas. Em muitas disputas os oponentes irã o se
0.
i ÍJ
LUTA E AVALIAÇÃO /167
166/ CAP ÍTULO 7
2 1000 beneficioxusto.
T3
.2
T>
-o MACHOS DE ARANHAS
E 500 DADOS • DISPUTAS ENTRE
) estudou as disputas entre machos por
E Steven Austad ( 1982, 1983
pyramitela . Após atingir a maturi -
Q
0 1 ê meas na aranha Frontinella
f
alimenta -se muito pouco c passa a maior parte do
Assimetria de peso dade, o macho
tempo percorrendo teias de
femeas à procura de oportunidades de
A consequê ncia das á adulto , os machos vivem apenas 3 dias
Fig. 7.8 A luta no peixe cicl í dco Nannacara anómala é mais prolongada ( a ) e
depende do acasalamento. No est gio
disputas femeas é decisivo para o seu sucesso
escalada até está gios mais perigosos ( b) quanto mais semelhantes cm tamanho e o modo como competem por
forem os contendores. A assimetria de peso está indicada pelo logaritmo do peso valor do recurso e da de laboratório mostraram que havia
do peixe mais pesado dividido pelo peso do peixe mais leve ( 0 = razã o de peso capacidade de luta reprodutivo. Experimentos
primeiro macho na competi ção espcrm á tica. Nestes
igual a 1 , isto é, pesos iguais). Dados de Enquist et al. (1990). prioridade do se acasalassem com
experimentos permitiu -se que dois machos ovos fertilizados pelo
e outro irradiado . Os
duos podem variar o seu grau de risco a injú rias em uma luta. No jogo
uma fêmea, um normal , enquando aqueles
Gavi ão- Pomba- Burguês, os contendores podem engajar em conflitos macho normal desenvolviam -se normalmente devido à anormalidades
fertilizados pelo macho irradiado goravam ,
em apenas dois n í veis de risco, isto é, exibição ( baixo risco) e lutas espermatoz ó ides induzidas pela irradia çã o. Se pri -
escalonadas (alto risco). Esta descontinuidade é decisiva para a gera - gené ticas nos com a
meiro o macho normal e depois
o irradiado copulavam
ção da estratégia Burguês como uma assimetria n ão-correlacionada se desenvolviam ( portanto , 95 % foram
para definir disputas. ( N ão-correlacionada, significa que a posse não êmea, 95% dos ovos
f
pelo primeiro macho ). Se o macho irradiado copulava
precisa ter correlação com capacidade de luta ou com o valor do fertilizados
primeiro, apenas 5% dos ovos se desenvolviam ( portanto 95
%
recurso, por exemplo; é simplesmente uma convenção arbitrá ria para primeiro macho ). Note que isto
foram outra vez fertilizados pelo
definir disputas sem escalonamento ). Se os contendores podem con -
trolar o grau de risco ao longo de um continuum e, assim, ajustar a é o inverso do que se observa em moscas de esterco, onde o
escalada ao valor do recurso, então a regra burgu ês n ão-correlacionada segundo macho leva vantagem (Cap í tulo 3). A segunda descoberta
deixa de ser evolutivamente está vel. foi que não há deslocamento de esperma como resultado do assédio
Uma disputa onde há diferen ças na capacidade de luta e em de um outro macho ; se o primeiro macho transferiu esperma
que os indiv í duos podem variar os custos da escalada ao longo suficiente para fertilizar 30% dos ó vulos, isto de fato irá ocorrer
de um continuum é denominada como “guerra de desgaste mesmo que um outro macho também copule com a mesma f êmea .
assim étrico”. A teoria subjacente a este jogo é complexa, e leitores
interessados devem consultar Parker & Rubenstein ( 1981 ) e
Isto significa que se um macho perde uma luta
có pula, ele perderia apenas os possí veis ganhos futuros; a sua
na metade da
#-
Hammerstein & Parker ( 1982 ). A EEE para este tipo de disputa substituição nã o afeta o seu sucesso no passado.
postula a desistê ncia e o recuo do indiv í duo A quando
VA- < V „
—
KA KU — li
(a) Medindo o valor do recurso, V
A có pula acontece da seguinte maneira . A princí pio h á uma fase
«
de pré-inseminação, durante a qual o macho avalia a f êmea , para , I
por exemplo, descobrir se ela atingiu a maturidade sexual. Então
onde V é o valor do recurso para os contendores A c B, e K é a taxa
com que os indiv íduos acymulam custos durante uma disputa. K será
ocorre a có pula propriamente dita , com o macho passando esperma f
relacionado com a capacidade de luta ; bons lutadores irão acumular dos seus pedipalpos para a fêmea. A proporção de ovos fertilizados 1
custos a taxas menores do que os maus lutadores. aumenta a uma taxa alta no começo da có pula e, a uma taxa menor
^ (
168/ CAP ÍTULO 7 LUTA E AVALIA ÇÃ O /169
Valor do recurso: o para todas as f êmeas encontradas por um macho, assim quando o
•o
n ú mero esperado de um macho encontra uma f êmea o valor esperado dela é 10. .rz8: o -75
ovos fertilizados Imagine e
que esta femea é virgem, de fato a parceira mais valiosa
que um £
macho pode encontrar, valendo em mé dia 40 ovos. Durante t/i
a fase
de pré-inseminação o valor aumenta para 40, justamente
quando
1
o macho descobre que ela é virgem. A có pula se
inicia e o valor
-oou<
.
2 Quando K era o mesmo (oponentes com o mesmo tamanho ),
as lutas foram decididas por diferenças em V. Nesta situação, os
residentes lutavam por mais tempo e tinham mais chances dc vencer
ao final da fase de pré-inseminação, mas, em contrapartida, lutavam
por menos tempo após 7 minutos de cópula, quando os invasores
tinham ent ão mais chances de vencer ( Fig. 7.10 ).
3. Quando os residentes eram menores do que os invasores, eles
persistiam mais na luta quando V era maior. Por exemplo, ao final
de Hams. Os machos mais escuros são
da fase de pré-inseminação, quando V atinge o má ximo para os pig 7 ii Varia çã o na plumagem do pardal
das lutas.
residentes, os machos pequenos tendiam a persistir na luta por um dominantes no bando e vencem a maioria
tempo tão longo que 90% dos encontros levavam a inj ú rias sé rias. Sigurjonsdottir
Após 7 minutos de cópula, entretanto, eles cediam mais rapida - vencedor. Resultados similares foram obtidos por da mosca de
analisaram lutas de machos
mente e apenas 30% das lutas produziam inj ú rias. & Parker ( 1981 ) quando
4. As escaladas mais severas ocorrem quando V/K eram iguais esterco pela posse das fêmeas.
para ambos os contendores. Nesses casos nenhum dos machos
estava disposto a desistir e a maioria das lutas terminava em inj ú rias
sérias e morte para um deles. Isto ocorreu, por exemplo, nas lutas Sí mbolos de status
entre residentes pequenos e invasores grandes, ao final da fase de Alguns animais vivem em grupos e diferen ças individuais
na
pré-inseminação. Aqui V e K eram ambos grandes para o residente capacidade de luta determinam quem terá prioridade de acesso ao
e ambos pequenos para o invasor. alimento ou aos parceiros sexuais. Muitas exibições dentro de
Os experimentos de Austad mostram claramente que tanto V Sí mbolos de status grupos provavelmente involvem avaliações confiá veis de força ;
como K determinavam a duração das disputas e quem seria o são um quebra-cabe-
ç as: por que n ã o
entretanto, a ligação exata entre a exibiçã o e a capacidade de luta
nem sempre é ó bvia .
fraud á- los?
<u No pardal de Harris ( Zonotrichia querulá) h á um enorme
varia ção na plumagem de inverno, quando os pássaros deslocam -
1100C/)
se em bandos à procura de alimento ( Fig. 7.11 ). Os indiv íduos
u.
com a plumagem mais escura sã o dominantes e sempre deslocam
D. pá ssaros claros dos suprimentos alimentares ( Rohwer & Rohwer,
IA
-o 03
1978 ). Se o escurecimento sinaliza domin â ncia, então por que os
subordinados n ão adquirem plumagem mais escura e desfrutam
O
c
a>
_
2
IA
3
50 uma eleva ção de status? Na primavera, todos os pássaros adquirem
a plumagem reprodutiva e mesmo os indiv í duos claros desenvol -
-o vem cor preta , de modo que o grau de escurecimento n ã o é um
1»
B sinal inconfund í vel de força, como o rugido de um veado macho
OO
2 Observado ou o coaxo grave de um grande sapo macho.
CJ
O
i Previsto
cu A B C D E
Tabela 73 Resumo dos experimentos sobre sinais dc domin â ncia em bando do
In ício 1 min Final Após 7 Após 21 pardal de Harris. Extra ído de Rohwer & Rohwer ( 1978).
após o da min dc min . dc
começo P.I. insemina- insemina çã o Tratamento
da P.I . çã o experimental Aparê ncia de Comportamento Elevaçã o
de subordinados dominante de dominante do status?
Ponto de introduçã o do invasor
1 Pintura preta Sim N ão Nã o
2 Injeçã o de Nã o
.
Fig 7.10 Disputas entre dois machos da aranha Frontinella pyramitela que t ê m testosterona
Sim Nã o
a mesma capacidade de luta (tê m o mesmo tamanho). O vencedor tende a ser 3 Pintura preta e Sim Sim Sim
determinado pelo valor do recurso, V. Para comparar as curvas previstas, veja os injeção de testosterona
valores de V para residentes e invasores na Fig. 7.5 b. Dados de Austad ( 1983 ).
í*
O*
LM
ML i
:* 172/ CAP ÍTULO 7 LUTA E AVALIAÇÃ O / 173
>
>1
r*
J
o *
Os Rohwer tentaram criar fraudadores no bando, atravé controle de ma is inflorescências enquanto aqueles com tufos
s do
> tratamento experimental de pá ssaros subordinados ( Tabela 7.3 ). No reduzidos passaram a gastar mais tempo em interações agressivas
> i » primeiro experimento, simplesmente pintaram os
A fraude é impedida preto. Esses indiv í duos foram subordinados de e perderam algumas infloresccncias para os seus vizinhos ( Evans
& Hatchwell, 1992). Como no caso do pardal de Harris, parece
porque sinais sã o ascensão em status. Em umaatacados por outros e falharam na
,
*
n» • checados por escala- testosterona em alguns subordinados,
da na luta
segunda abordagem, injetou-se
sem alteração na sua pluma-
gem pá lida. Esses pá ssaros se comportaram de
que a fraude é controlada porque a sinalização precisa ser
acompanhada ocasionalmente por sinais reais de força, tais como
persegui ções.
maneira mais
I agressiva e tentaram impor a sua dominâ ncia, mas nã
o subiram Nem todos os casos variabilidade cm plumagem estã o relacio-
em status porque os seus oponentes não recuavam durante A varia çã o na plu- nados com sinalização de status. Por exemplo, o pássaro Arenaria
disputas. Finalmente, alguns subordinados foram pintados e as magem pode facilitar interpres tem plumagem muito variá vel. Whitf íeld (1986) removeu
rece-
beram testosterona, de modo que se comportavam e se pareciam o reconhecimento in - machos donos de territ ó rios e os substituiu por modelos pintados
i com pá ssaros dominantes. Neste momento, a fraude funcionou: os dividual para se assemelharem com os donos e para parecerem mais ou
pá ssaros venceram mais lutas e eram respeitados por outros no menos escuros. Os vizinhos exibiam menor disposi ção para a atacar
9
rr P bando. o modelo semelhante do que o modelo diferente do dono original.
f **
1 defendem mais inflorescê ncias. Quando o tamanho dos tufos foi vencidos do que odores de indiv íduos por eles derrotados previamente.
manipulado experimentalmente, cortando-se ou adicionando-se Rubenstein & Hack ( 1992) mostram experimentalmente que ca-
valos avaliam os oponentes usando tanto o som como o odor.
Machos e femeas
*
A reproduçã o sexuada envolve a forma çã o de gametas por meiose
e a fusã o do material gen é tico de dois indiv í duos. Quase sempre,
envolve dois sexos denominados de macho e f êmea . Nos animais
*
superiores os sexos podem , freq ú entemente, ser prontamente
diferenciados por fatores externos, como a genitalia, plumagem, *
tamamanho ou cor, mas estas n ã o são diferenças fundamentais.
Em todas as plantas e animais, a diferen ça bá sica entre os sexos
é o tamanho dos gametas: as f êmeas produzem gametas grandes,
*
Fê meas: o sexo que im ó veis e ricos cm reservas alimentares, chamados de ó vulos;
enquanto os gametas ou espermatozóides masculinos são minú s-
produz os maiores
culos, m óveis, constituindo pouco mais do que uma porção auto-
gametas
propulsora de DNA. A reprodução sexual sem machos e femeas
ocorre em muitos protistas, como o Paramecium, onde os “gametas”
que se fundem durante o sexo são do mesmo tamanho. Isto é
conhecido como reprodu ção sexual isogâmica. Entretanto, a fusão
de dois gametas de tamanhos distintos, um grande e outro pequeno,
175
176/ CAPÍTULO 8 CONFLITO SEXUAL /177
é muito mais comum e aparece em virtualmente todas as plantas 120 Machos Fêmeas
e animais multicelulares com reprodução sexuada. Nestes casos,
o sexo é chamado de anisogâmico. •o rt 90
Admite-se que a anisogamia se originou a partir da isogamia,
através de um processo evolutivo em que gametas menores do que l!
a média parasitaram de modo bem sucedido gametas maiores do 1160
que a média. Isto, finalmente, levou às duas especializações g?
sE *g
distintas encontradas hoje em dia: espermatozó ide pequeno e ativo 30
e óvulo grande e passivo (Parker et al. , 1972).
Como pretendemos mostrar neste capítulo, a assimetria funda- 0
mental no tamanho do gameta associado ao investimento na prole 0 1 2 3 0 1 2 3
tem consequê ncias profundas sobre o comportamento sexual . Como
as femeas dispendem mais recursos com cada descendente do que N ú mero dc acasalamentos
os machos, a corte e o comportamento de acasalamento do macho Fig. 8.1 A.J. Batcman ( 1984 ) colocou quantidades iguais de machos e femeas de
estão em grande parte direcionados para a competição e exploração moscas de frutas ( Drosophila melanogaster ) em garrafas e contou o nú mero de
do investimento da fê mea. Quando a diferen ça no investimento acasalamentos e de prole dc cada indiv íduo, usando marcadores genéticos para
parental entre os sexos está invertida, isto é, os machos fornecem determinar pais. O sucesso reprodutivo se eleva com o n ú mero dc acasalamentos
mais cuidado do que as femeas, os papé is na competição sexual para os machos mas n ào para as femeas. Extra ído de Trivers ( 1985).
também se invertem e as femeas competem pelo acesso aos machos.
de recursos na produção de gametas ( alé m de outras formas de
cuidado) e competição sexual. Ele escreveu “Quando um dos sexos
F Ê MEAS COMO UM RECURSO ESCASSO
investe muito mais do que o outro, os indiv í duos do sexo que
A reproduçã o sexual anisogâ mica envolve o parasitismo de um investe menos irão competir entre si para se acasalar com os
”
grande ó vulo por um pequeno espermatozó ide. As femeas produ- Investimento paren- membros do sexo que investe mais”. O termo “investimento foi m
zem relativamente poucos gametas grandes e os machos muitos tal, taxa reprodutiva usado por Trivers para se referir ao esforço dos pais direcionado
dc
gametas pequenos. Al é m disso, as femeas freqiientemente investem potencial e competi- para a criação de cada filhote a partir do suprimento limitado
mais do que os machos em outras formas de cuidado. Por isso, çã o sexual recursos dispon í veis. A soma do investimento em todos os filhotes,
potencialmente, os machos são capazes de fertilizar os óvulos à ao longo da vida dos pa ís, é conhecida como “esforço parental ”.
uma taxa maior do que as femeas conseguem produz í-los ( ilustrado Geralmente, as femeas colocam a maior parte do esforço reprodutivo
pelo fato de que 5 ml de sêmem humano conté m espermatozó ides em “esforço parental” e os machos em “esfor ço de acasalamento”
O sucesso repro - suficientes para, teoricamente, fertilizar os óvulos produzidos pelo (Fig. 8.2).
dutivo dos machos dobro da população dos E. U.A.), de modo que as femeas são um Como consequê ncia , geralmente, os machos têm uma taxa
est á freqiientemente recurso escasso pelo qual os machos competem. Mesmo nas potencial de reprodução muito maior do que as femeas (Tabela
limitado pelo acesso espécies em que o macho esgota, temporariamente, o seu supri - 8.1) (Clutton-Brock & Vincent, 1991 ) e, por isso, estão sob forte
as femeas... mento de esperma se exposto a um excesso de femeas, o seu seleção para a procura e competi ção por femeas: o lucro para um
potencial para produçã o de descendentes é maior do que o das macho bem sucedido em termos de paternidade é enorme. Com
fê meas ( Nakatsuru & Kramer, 1982 ). essas idé ias em mente, pode-se entender grande parte do compor-
tamento reprodutivo dos machos.
enquanto as femeas Um macho pode aumentar seu sucesso reprodutivo encontrando
e fertilizando muitas femeas, enquanto estas só podem fazê- lo
são limitadas pelos
transformando alimento em ovos ou filhotes a uma taxa mais alta A RAZ Ã O SEXUAL
recursos (Fig. 8.1 ). Este aspecto é ilustrado por mam í feros, como o ser
humano, nos quais as femeas gastam muitos meses produzindo um Se um macho pode fertilizar os óvulos de dezenas de femeas, ent ão
ú nico filhote e, neste mesmo período, um macho poderia fertilizar por que não se produz uma razão sexual de, por exemplo, 1 macho
centenas de outras parceiras. Uma fê mea só é capaz de gerar mais A para cada 20 femeas? Com essa razão sexual , o sucesso reprodutivo
5 da populaçã o seria maior do que com a razão de 1:1, porque
descendentes ao longo de toda a vida se acelerar sua produ ção.
Esse argumento se aplica sempre que as fêmeas investem mais do haveriam mais óvulos dispon í veis para a fertilização. Ainda assim ,
que os machos em cada descendente, tanto na forma de nutrientes na natureza a razão é geralmente muito próxima de 1:1, mesmo
armazenados no óvulo, como de cuidado com os ovos e filhotes. quando os machos não fazem nada além de fertilizar as f êmeas.
Este aspecto foi resumido com precisão por Robert Trivers Como vimos no Capítulo 1, o valor adaptativo de qualquer
(1972), a primeira pessoa a enfatizar a relação entre investimentos característica não deve ser entendida como algo “para o beneficio
5.
1
178/ CAPÍTULO 8 CONFLITO SEXUAL /179
r®! t
Tabela 8.1 Em espécies poligâm ícas ou prom íscuas, os machos tem uma laxa rl* f «
reprodutiva potencial muito maior do que as f êmeas Os dados para o ser humano ir l
"M"tilí !’I
foram obtidos no livro Guinness de Recordes: o homem foi Moulay Ismail, o
Sanguinário, imperador do Marrocos; e a mulher teve os filhos em 27 gestações
Os dados sobre os elefantes marinhos sào de Le Bocuf & Reiter (1988) e sobre
o cervo são de Clutton- Brock et al . (1982 ). Os casais são monogâ micos na
gaivota Rissa , ambos os parceiros investem igualmentc em cada prole e a
diferença no sucesso reprodutivo máximo é desprezí vel . Dados de Clutton - Brock
( 1983).
•
+ fl
N ú mero máximo de prole
produzida ao longo da vida
Muito forte Menos forte para cada filhote e, assim, cada femea alcan ça 20 vezes o sucesso
reprodutivo de um macho. Logo, uma razão sexual enviesada a
i•MiU
m
favor de machos també m não é está vel. A conclusão é que o sexo
Fig. 8.2 O total de recursos sob a forma de tempo e energia usado por um animal
na reprodu ção é denominado de esforço reprodutivo, aqui representado por um em menor n ú mero sempre tem vantagens e os pais que concentram
a produ ção de prole neste sexo são favorecidos pela seleção.
* íL
c í rculo. O esforço reprodutivo pode ser subdividido em esforço parental
(aprovisionamente e cuidado com a prole) e esforço de acasalamento (aquisi çã o
de parceiros), que estão representados pelas á reas pontilhada e colonda ,
Somente quando a razão sexual é 1:1 o sucesso esperado de um
ê mea toma-se igual e há estabilidade na
*
+í
1
respectivamente. Em geral, os machos dispendem relativamcnte mais com macho e de uma f
esforço de acasalamento do que as f êmeas, mas há vanação entre espécies. Logo,
a intensidade de seleçã o sexual ( ver definição à pá gina 183*) també m vana . As
diferenças no esforço parental relativo entre os sexos está frequentemente
relacionado com o sistema de acasalamento . Em espécies monogâ micas, os
população. Mesmo um ligeiro desvio favorece o sexo em menor
n ú mero: em uma população de 51 f
cada f
êmeas e 49 machos, na qual
êmea gera um filhote, um macho tem, em média, 51/49
*T
+1
esforços de macho e f ê mea sã o mais similares do que em espécies poligâ m ícas
filhos. Este valor médio será o mesmo se apenas um dos machos
ou prom í scuas ( ver Capitulo 9 ). Extra í do de Alexander & Borgia ( 1979). for pai de todos os filhos ou se a paternidade estiver igualmente
distribu í da entre os machos.
O argumento de que a razão sexual deve permanecer em 1:1
i
da popula ção”, mas sim como algo “ para o beneficio do indiv í duo” ,
ou mais precisamente , “ para o beneficio do gene”. Como R .A . pode ser refinado colocando -o em termos de investimento. Suponha
Fisher ( 1930) notou, a razã o sexual de 1: 1 pode ser prontamente Mais precisamente, a que a produção de filhos seja duas vezes mais onerosa do que l i
1
CONFLITO SEXUAL / /
180/ CAP ÍTULO 8
se a produ çã o de filhos e filhas tem custos diferentes, a estrat égia ovos dentro de pupas de moscas, como Sarcophugu bullata Sc
est á vel durante a evolu çã o surge quando os pais investem igual - uma ú nica fê mea parasita uma pupa , as suas Filhas serão todas
mente em ambos os sexos e n ão simplesmente quando produzem ( fertilizadas pelos seus Filhos e, como previsto , a razão sexual de
quantidades iguais de filhos machos e fê meas. Vamos ilustrar esse cada ninhada de ovos esta enviezada a favor de femeas. Somente
argumento com o estudo de Bob Metcalf ( 1980) sobre a razã o 8, 7% da prole é de machos . Sc uma segunda fê mea coloca seus
sexual em duas espécies de vespas: Polistes metricus e P. varicitus. ovos na mesma pupa , qual deveria ser a razã o sexual da sua prole 7
Na primeira espécie as f êmeas sã o menores do que os machos, Se ela coloca poucos ovos, deveria produzir principalmente filhos,
enquanto na segunda t ê m tamanhos similares. Como previsto, a ( já que a primeira fê mea colocou pnncipafmcnte ovos que origi -
razã o sexual est á desviada na populaçã o de P. metricus mas n ã o i êmeas. Mas, á medida que a proporçã o de ovos da segunda
nar ã o f
na de P variatus, mas em ambas as espécies a razã o de êmea aumenta na mesma pupa , a chance de que os filhos da
f
investimento é 1 :1 . segunda fê mea irã o competir por parceiras também aumenta
A previsã o de que os pais deveriam investir igualmente em filhos Portanto, a prole dela també m deveria ter uma razã o sexual
e filhas nem sempre se confirma e as demonstra ções destes desvios desviada a favor dc f êmeas. Werrrcn encontrou exatamente este
em relação ao investimento 1 :1 estã o entre as evid ê ncias mais padrã o: a segunda f êmea produzia apenas machos quando cia
convincentes de que razã o sexual evolui do modo sugerido por Fisher. colocava I / 10 da quantidade de ovos da primeira , mas produzia
Iremos destacar alguns exemplos nos pará grafos seguintes. apenas 10% de machos quando a sua prole era duas vezes ma is
numerosa do que a da primeira f êmea , de modo que os detalhes
( a ) Competição por parceiros locais quantitativos oas mudan ças na razã o sexual em fun ção do tamanho
relativo da ninhada se comportavam da maneira prevista .
A teoria de Fisher prev ê uma consequ ê ncia diferente quando irm ã os
competem uns com os outros pelos parceiros (competi çã o por
( h) Competi ção por recursos locais ou valorização
Se os irm ãos compe- parceiros locais). Suponha , por exemplo, que dois irm ãos t ê m
tem pelas parceiras, somente uma chance para se acasalar e competem pela mesma Anne Clark ( 1978 ) notou que o nrossimio sul africano Galago
a razã o sexual deve fêmea . Apenas um deles será bem sucedido no acasalamento e sob ctassicauciatus tem uma taxa de investimento enviezada ?. favor
ser desviada em fa- o ponto de vista da m ã e o outro será “desperdi çado”. Este é um de macnos em cada prole. Ela argumentou que isso nodia ser
vor das femeas exemplo extremo, mas mostra que h á uma redu ção no valor dos explicado peio ciclo vitai da
O sexo que n ã o com - esnecie. Como na maioria dos
filhos para a m ãe quando eles competem por parceiras. A m ã e mam í feros, as f êmeas do Ga / ago dispersam para mais neno do
oete com os nais pode
deveria ent ão enviezar a sua taxa de investimento a favor de filhas. que os machos e í requentemente acabam competindo corr suas
I O grau exato de vi és previsto pela teoria de Fisher depende do
ser mais valioso
m ã es e umas com as outras nelas fontes ricas ue aumento, como
grau de competição por parceiras locais. Competi ção extrema é á rvores frut í feras ou gom í feras na area de a çã o materna Esía
esperada nas espécies com pequena capacidade de dispersã o competi çã o por recursos locais
( porque os irm ã os permanecerão juntos no mesmo local ) e, reduz o valor das f
êmeas enouanto
) prole no caso extremo somente uma filha sera capaz de soorevive.
portanto, está associada com endocruzamento. No caso extremo com o aumento dispon í vel nas próximidaaes e , assim , o inv és
de endocruzamento, uma m ãe “sabe” que todas as suas filhas serão ti mento em outras lllhas seria desperdi çaao
fertilizadas pelos seus filhos. A melhor razão sexual nestes casos O efeito exatamente oposto pode aparecer se os indiv í duos ác
) é produzir apenas a quantidade suficiente de í ilhos para í ertilizar sexo que permanece proximo de casa ajudam uns aos outros o.
as filhas, já que qualquer macho excedente será desperdiçado. A Se um dos sexos a j u -
a seus pais Como veremos no Cap í tulo 12, em algumas especies
diferença crucial entre este argumento e o anterior sobre a razã o da os pais, a raz ã o
êmeas no restante da de aves os machos e n ã o as fê meas permanecem em casa como
sexual 1: 1 é que a razã o de machos para f sexual pode ser des-
ajudantes. Como consequ ê ncia, isto torna os machos uni inves -
população n ão tem import â ncia . Uma razã o desviada a favor de viada em favor deste
timento ligeiramente mais valioso do que as f êmeas ( ja que ajudam
fê meas em uma ninhada nã o dará chances para que outros pais sexo
os pais em sua reprodu çã o futura ) e, assim , pode -se esperar uma
se beneficiem concentrando-se na geração de machos. Um exemplo
taxa de investimento desviada a favor de machos ( Emlen et a!., 1986 ).
que apoia esta previsão é o do ácaro viv í paro Acarophenox , que
produz uma prole de 1 macho e até 20 fê meas. O macho acasala
com suas irm ã s dentro do corpo materno e morre antes de nascer (c) Condição materna
( Hamilton , 1967 ).
Jack Werren ( 1980) testou a previsão de que o grau de vi és Vimos no Cap í tulo 7 que os machos do cervo disputam as fê meas,
dependeria da intensidade da competi ção por parceiros locais. com rugidos prolongados e lutas . Nessas disputas é vantajoso para o
Estudou a vespa parasit ó ide Nasonia vitripennis , que coloca os macho ser grande, e o tamanho depende , entre outras coisas , de qu ão
W M l— «j
'82/ CAP ÍTULO 8 CONFLITO SEXUAL / 183
trX
Selcçà o sexual
rí v
bem o macho se alimentou quando era jovem , que por sua vez depende % i
*r *
da habilidade de sua màc em competir por fontes boas de alimento c, A combina çã o entre o investimento maior em fê meas do que em
assim, produzir um suprimento satisfató rio de leite. Em outras machos e a razã o sexual de 1 : 1 na popula ção faz rcom - que
palavras, h á uma rela çào direta entre a habilidade competitiva da m à c
durante a lactação c o sucesso reprodutivo experado de seu filho .
geralmente os machos entrem em competi çã o pelas femeas. O lucro
potencial com o sucesso de um macho é alto, de modo que a
" dS
Entà o, se uma m ã e “soubesse” que seus filhos seriam bem sucedidos Seleçã o sexual: sele- capacidade do macho adquirir parceiras está sob forte pressã o
çã o de caracteres que seletiva . Geralmente, a seleçã o de caracteres relacionados apenas * *
na formação de haré ns, valeria a pena investir maciçamente cm filhos
em vez de filhas: os lucros em termos de neto( a )s seriam muito aumentam o sucesso Com o aumento do sucesso de acasalamento é denominada de % r
maiores. De modo semelhante, uma m à c “sabendo” que seu filho n ã o de acasalamento seleçã o sexual . Ela pode atuar de duas maneiras: favorecendo a % IIMS
iria ficar grande e forte se sairia melhor se gerasse filhas, já que o
capacidade dos indiv íduos de um dos sexos (geralmente os machos )
pelas fertiliza ções, por exemplo, atrav és de lutas
para
* ip l„
competir
As f ê meas do cervo sucesso reprodutivo futuro delas n ão depende tanto do leite materno.
( seleçã o intra -scxual ), ou favorecendo caracteres em um dos sexos
Exatamente este padrão foi encontrado no cervo : femeas dominantes,
*
em bom estado f ísico que atraem o outro ( seleção inter-sexual ). Frequentemente, os dois
tendem a produzir com acesso a bons locais de alimenta çã o durante a lactaçã o c capazes tipos de seleçã o atuam ao mesmo tempo.
mais filhotes machos de produzir filhotes robustos, tendem a gerar filhos, enquanto as
A intensidade da seleçã o sexual depende do grau de competição
femeas subordinadas tê m filhas ( Clutton - Brock et al., 1984 ) . N ã o se
sabe como a razã o sexual é ajustada no cervo ou no Galago, mas o
fato disto ocorrer é por si só instigante, pois, por exemplo, os
pelos parceiros, que por sua vez depende de dois fatores: a
diferen ça em esforço parental entre os sexos ( Fig. 8.2 ) e a razã o
entre o n ú mero de machos e femeas dispon í veis para acasalamentos
M-1 ;i
zootecnistas n ã o conseguiram fazer a seleçã o para ajuste na razã o a cada momento ( conhecida como raz ã o sexual operacional ). *| 2
sexual ou em separar espermatozó ides com cromossomos para Quando o esforço parental é mais ou menos igual , por exemplo
*
í :
machos e femeas em mam í feros dom ésticos ( imagine o valor de uma nas aves monogâ micas em que macho e f êmea alimentam os
razã o sexual desviada a favor de fê meas para um produtor de leite ), As diferen ças do in - filhotes, a seleçã o sexual é menos intensa do que em espécies com
e muitas vezes se afirmou que a razão sexual cm mam í feros era pouco
flex í vel ( Williams, 1979, Maynard Smith , 1980 ). O ajuste da razã o
sexual em Hymenoptera, como na vespa estudada por Werren , n ã o é
um problema porque a m ãe pode determinar se um óvulo irá dar
vestimento que os n í veis muito diferentes de esforço parental entre os sexos. Isto
pais fazem nos sexos resulta, como assinalado previamente, de que o sexo que faz um
e a raz ã o sexual ope- investimento menor tem uma taxa potencial de reprodu ção maior.
racional influenciam Se n ú meros iguais de indiv í duos de ambos os sexos entram em
11I l-
origem a macho ou fê mea simplesmente decidindo fertilizá - lo ou n ão a for ç a da seleçã o atividade reprodutiva ao mesmo tempo, o grau de seleção sexual
( Cap í tulo 13 ). sexual diminui porque h á menos chances de que poucos machos controlem
o acesso a um grande n ú mero de femeas. Ao contrá rio, quando
as femeas entram em atividade reprodutiva de maneira assinerô mea ,
( d ) Razão sexual na popula ção h á mais chances de que um pequeno n ú mero de machos controlem
Desvios na raz ã o se- muitas femeas, uma após a outra . Com esse alto potencial de lucro,
Quando a razã o de investimento desvia -se de 1 : 1 , deveria ocorrer a competi çã o sexual torna -se muito intensa ( ver Cap í tulo 9 ). A
xual encontrado em um vi és compensat ó rio a favor do sexo menos abundante na relação entre investimento parental , razão sexual operacional e
ninhos de algumas popula çã o. No estudo sobre P.metricus, Metcalf constatou que
vespas pode ser influ - seleção sexual foi discutida com mais detalhes por Clutton - Brock
enciado pela razã o se-
xual da popula çã o
alguns ninhos produziam apenas machos. Como est á explicado no
Cap í tulo 13, esta prole resulta de ó vulos não fertilizados, produ -
& Vinccnt ( 1991 ). *
zidos por operá rias quando a rainha de um ninho morre. Nos demais
ninhos, Metcalf encontrou uma razã o sexual enviezada a favor de MACHOS ZELOSOS
fê meas, de modo que na popula çã o como um todo a taxa de O modo mais dram á tico e ó bvio dos machos competirem por
investimento era de 1 : 1 . parceiras é atrav és de confrontos atualizados e lutas, para os quais, t
Finalmente , é importante assinalar que a teoria sobre a razão Os machos lutam frequentemente, desenvolveram armas espec í ficas. Os machos
sexual é um exemplo de uma teoria ainda mais geral sobre aloca çao t pelo acesso à s f ê meas podem entrar em disputas pelo acesso direto às fê meas ou pelos
flr
sexual (Chamov, 1982 ). Outros exemplos sobre a quest ã o da
aloca çã o de recursos para a reprodu çã o de machos e de fê meas
incluem o direcionamento de recursos para ó vulos ou espermato -
locais para onde as fê meas se deslocam, como, os machos da
libé lula Caloptenx maculata que defendem porções de vegetaçã o
(Cap í tulo 7 ). Lutar é freq ú entemente um empreendimento arris-
*
zó ides em hermafroditas simultâ neos e a escolha do momento para
mudan ça de sexo em hermafroditas sequenciais ( veja Cap í tulo 10 ).
cado, como revelam as inj ú rias sofridas pelos machos do cervo,
mencionado no Cap í tulo 7. Em muitas espécies, as lutas mais «
c
184 / CAPITULO 8 CONFLITO SEXUAL / Í S 5
(a )
)
)
(ci Fig. 8.4 Dois mecanismos de deslocamento de esperma em Odonata . Fotos de
) M.Siva-Jothy. Crocethemis erythraea: ( a ) P ê nis relaxado, ( b) Pê nis inflado. A
estrutura em forma de como empurra o esperma de machos anteriores para as
Fig. 8.3 Guarda do parceiro como forma de competi çã o sexual ( a ) Guarda
> ,
precopulat ó ria do parceiro no anf í poda de á gua -doce Ganunarus . A f ê mea est á
bordas da espermateca. Orthctrum cancellatum: (c) O flagelo é evertido durante
a có pula, (d ) Ele tem farpas que removem o esperma dos duetos estreitos da
pronta para ser fertilizada logo após a muda. Os machos guardam as fêmeas nos
espermateca (Siva-Jothy, comunicaçã o pessoal).
dias que precedem a muda. Dados de Birkhead & Clarkson ( 1980 ). ( b ) Os machos
i do corvideo Pica pica guardam assiduamente as suas parceiras contra rivais antes
e durante o per í odo de oviposi ção. Dados de Birkhead ( 1979 ) . ( c ) Após a c ó pula assegurar que o esperma previamente acumulado por uma femea
o macho da libclula protege a femea enquanto coloca os ovos, prendendo o tórax n ão seja usado. O pê nis do macho de Orthctrum cancellatum está
dela com a ponta do abdomem em posi çã o alinhada. Dados de Corbet ( 1962 ). equipado com um flagelo farpado, que é usado para raspar o
esperma deixado por outros machos antes de injetar o pró prio
esperma na espermateca da femea. Em uma outra libélula, a
intensas ocorrem quando as fê meas est ão prontas para ser ferti -
lizadas, e uma vez que um macho encontra uma delas freq ú en -
Crocethemis erythraea, os machos usam um pênis inflá vel com
um apêndice em forma de como para empurrar o esperma de seus
temente passa a guardá-las ( Fig. 8.3).
competidores para cantos da espermateca (Fig. 8.4, veja també m
Os machos frequentemente competem de outras maneiras nã o
Waage, 1979).
competem atra -
... ou tão evidentes como as lutas, mas igualmente efetivas e à s vezes
Em alguns invertebrados (especialmente insetos), o macho
v és da competi çã o mais bizarras. Os invertebrados são uma fonte particularmente rica Tamp õ es copulat ó- obstrui a abertura genital da fêmea depois da cópula para impedir
esperm á tica de exemplos. Como em muitos outros insetos, as fê meas de rios que outros machos a fertilizem . No verme acantocéfalo Monilifonnes
libé lulas acasalam com um certo n ú mero de machos e estocam
dubius, parasita do intestino de ratos, os machos produzem um
esperma em um recipiente especial (a espermateca ) do corpo, para tipo de cinto de castidade e. alé m de obstruirem as fêmeas, algumas
uso futuro. Os machos competem pelas fertiliza ções tentando
vezes “copulam” com machos rivais fazendo o mesmo com eles
^6/ CAP ÍTULO 8 CONFLITO SEXUAL / 187
para impedir que se acasalem outra vez ( Abclc & Gilchrist , 1977 ). ele ainda poderia se acasalar com um membro da espé cie certa
N ào menos surpreendentes sào os h á bitos do hem í ptero Xylocoris no dia seguinte . Portanto, n à o surpreende que, durante a corte, as
femeas sejam mais cuidadosas na escolha do que os machos. A
maculipennis . Em có pulas normais o macho simplesmente fura a
escolha implica n ào apenas na discriminação entre espccics, mas
parede corporal da femea e injeta espermatozó ides, que nadam pelo
C ó pulas homosse - també m entre machos dentro da espécie. As fêmeas frequentemente
corpo dela até encontrar e fertilizar os ó vulos. Como no verme
xuais selecionam os machos com base nos recursos materiais que podem
acantocé falo, os machos à s vezes se engajam em “có pulas oferecer e, possivelmente, algumas vezes com base nos benef í cios
homossexuais, quando um pode injetar esperma no corpo do outro. genéticos para a sua prole.
Os espermatozó ides nadam então até os test í culos da v í tima que,
na próxima vez cm que se acasalar, irá injetá-los no corpo de uma
femea . ( Carayon , 1974 ). Benefí cios não-genéticos: bons recursos e habilidade parental
(a )
A competição entre machos para prevenir que o esperma de
rivais fertilizem os ó vulos é, algumas vezes, denominada de
Em muitas espécies animais, os machos defendem territórios de
“competição de espermas” ( Birkhead & Moller, 1992 ). Outro reprodu ção contendo recursos, que t ê m um papel crucial na
exemplo deste fenômeno em inseto foi descrito no Cap í tulo 3: na sobrevivência de ovos ou filhotes ( ver também Capítulo 9). Por
exemplo , o macho da rã - touro ( Rema catesbeiana ) defende terri -
mosca do esterco, o esperma do segundo macho desloca o do As femeas da rã tou -
t ó rios em poças e lagoas pequenas para onde as fêmeas se dirigem
primeiro a se acasalar com a fê mea. A competi çã o de esperma ro escolhem machos desova ( Fig. 8.5 ). Em alguns territ ó rios a sobrevivê ncia
a
també m aparece em vertebrados. Por exemplo, durante a corte, os com bons territó rios durante
machos de salamandras depositam pequenos bast ões gelatinosos dos ovos é muito maior e estes sào preferidos pelas femeas. Um
recobertos de esperma ( espermatóforos) no fundo de lagoas e, fator que exerce influ ência importante sobre a sobrevivê ncia dos
ent ão, tentam manobrar as femeas até o local para desencadear ovos é a predaçào por sanguessugas ( Macrobdella decora ). Dois
a fertilização. Na salamandra Ambystoma maculatum, os machos fatores ambientais modificam a preda çà o por sanguessugas nos I
territ órios: se a água é morna , os ovos se desenvolvem mais rá pido
competem depositando os espermat ó foros em cima uns dos outros.
e, assim, ficam expostos á preda çà o durante menos tempo, e se I
O espermatóforo do topo fertilizará os óvulos da femea ( Amold ,
a vegeta ção aquá tica nào for densa demais, os ovos podem formar
1976 ). i
aglomerados que dificultam o ataque das sanguessugas. Nos
Um quarto exemplo destes métodos sofisticados de competição territórios com vegetação densa, os ovos formam uma fina pelíeula
Odores anti afrodi-
entre machos, encontrado també m cm invertebrados, é o uso de sobre a vegeta ção e sào mais facilmente atacados. 0 estudo da i
odores anti -afrodis íacos. Larry Gilbert ( 1976 ) notou que as femeas
s í acos
da borboleta Heliconius erato tinham sempre um perfume peculiar
-
rã touro também mostra que a escolha da fémea e a competição i
após o acasalamento. Ele foi capaz de demonstrar experimental -
mente que o odor n à o provinha da pró pria fê mea , mas era
i
depositado sobre seu corpo pelo macho ao final do acasalamento.
Gilbert també m constatou que o odor inibia o acasalamento de
«
outros machos com a fê mea, talvez porque fosse semelhante ao
7* V
cheiro usado pelos machos para se repelirem em outros contextos . >
ê
£
F Ê MEAS RELUTANTES
5
1
proteger os ó vulos, mais do que servir para nutri - los. Na mariposa
Utethesia ornaí rix, o macho transfere alcaloides protetores para a
t êmea durante o acasalamento. Esses mesmos alcaloides sã o usados
f
0 10 20 30 40 50
pelo macho como ferom ô nio de atra çã o. A fê mea é capaz de avaliar Tamanho corporal , comprimento x
I a quantidade de veneno que irá receber , a partir da concentra çã o o
largura ( mrrr ) do presente ( presa ) nupcial
o
paren - ta í dos machos desfazem com frequ ê ncia durante o per í odo de alimenta çã o de corte 2 12
2
e é poss í vel que as fê meas avaliem e rejeitem parceiros de m á
1 qualidade ( Nisbet , 1977 ). £ 8
-o
I o 4
i .•
CONFLITO SEXUAL /191
190 / CAP Í TULO 8
(a ) 2 Antes
ORNAMENTOS ELABORADOS! A HIPÓ TESE DE KISIIER E A HIP Ó TESE
DA DESVANTAGEM o
CL
C/5
A teoria da seleção sexual c mais conhecida como uma tentativa o
JZ
C 00
de explicar a evolu çã o de adornos e exibi ções extremamente £ 5
elaborados em pav ões ( Petric et ai , 1991 ), faisões, aves do para í so, 8.8 1 V
etc . ( Prancha 8.1 , Cap í tulo 9 ) . Algumas exibi ções elaboradas
podem ter evolu í do para uso nos confrontos entre machos, mas
5J
•
• > O
(
£|
L = .
r
algumas ccrtamcntc evolu í ram como resultado da seleçã o de o
benefí cios gen é ticos pelas fê meas . H á duas alternativas para g
'3
-ts <
£ g
^
- D .£
c/o
o
z: E
Muitos estudos procuraram estabelecer correla ções entre o sucesso
de acasalamento do macho ou preferê ncia da f êmea e as exibições o
sexuais dos machos Entretanto, estudos baseados unicamente cm Encurtada I II Alongada
observa ções ou correla ções não permitem estabelecer uma relação Controle
de causa -efeito. Em um estudo experimental cl á ssico, Malte Tipo de Manipulação da cauda
Andersson ( 1982 ) mostrou que as fê meas da vi ú va ( Euplectes
progne), no Kê ma, preferem machos com cauda longa . Esta Fig. 8.7 Seleção sexual para o comprimento da cauda na vi ú va de cauda longa
A linha superior mostra que n ã o havia diferen ça entre os quatro grupos, antes da
espécie, altamente pohg í mca, é uma candidata ideal para a seleçã o
altera ção da cauda . A linha de baixo mostra após o encurtamento ou alongamento
sexual ; o macho é uma ave do tamanho de um pardal com uma das caudas, o sucesso de acasalamento caiu e aumentou , respcctivamente. Os dois
As fê meas preferem cauda de até 50 cm de comprimento. A cauda da f êmea tem cerca tipos de controle sã o ( I ) n à o - mampulados e ( II ) cauda cortada e colada sem
caracteres elabora - de 7cm , supostamente pró ximo do ó timo para um bom v ôo. alteraçã o do comprimento O sucesso de acasalamento é medido pelo n ú mero de
dos Andersson estudou 36 machos que separou em 4 grupos. No grupo ninhos ativos no territ ó rio de cada macho Dados de Andersson ( 1982 )
I ele cortou a cauda a cerca de 14 cm , colando as pontas em outro
grupo. Com isto, o comprimento da cauda do grupo II aumentou
Clive Catchpole ( 1980 ) fez um outro estudo experimental
cerca de 25 cm , em m édia . Os dois grupos restantes permaneceram
elegante sobre o canto do silv í deo Acrocephalus shoenobaenus,
como controles: um lote n ã o foi manipulado e outro teve a cauda
uma exibi çã o elaborada que passou por seleçã o sexual (Catchpole
cortada e recolocada, sem altera çã o do comprimento. A partir da
et ai , 1984 ). O canto consiste de um encadeamento quase cont í nuo
contagem do n ú mero de ninhos em cada territó rio, Anderson
e variá vel de trinados, assobios e zumbidos , executado pelo macho
mostrou que antes das manipula ções experimentais n ã o havia
quando retoma dos ref ú gios de inverno para o territó rio de
diferença no sucesso de acasalamento entre os diferentes grupos, reprodução. Logo que um macho forma um casal, deixa de cantar.
mas depois os machos com cauda longa passaram a ter resultados As medidas de Catchpole mostraram que os machos com os cantos
significativamente melhores do que os controles e do que as aves mais elaborados eram os primeiros a obter parceiras ( Fig 8.9 ).
com cauda encurtada ( Fig. 8.7 ). Alé m disso, quando algumas fê meas foram levadas para o
192/ CAP Í TULO 8 CONFLITO SEXUAL /19
(a ) 50
cauda entre machos, a vantagem será passada para os filhos dã êmea.
( b) f
25
c
Xi Ao mesmo tempo, um gene que leva as fêmeas a preferirem uma
2 40 2
ci / cauda maior do que a m édia será favorecido , j á que elas terão filhos
T3
O
D,
i/i mais h á beis no vôo ou mais facilmente detect á vcis por parceiras
<N 2 potenciais. ' Entã o, uma vez que a preferê ncia da fê mea por caudas
3 longas começa a se espalhar , os machos com caudas longas passam
~ 30 o
•
15
XJ XJ
a ter uma dupla vantagem: eles voarão melhor e terã o ma ís chances
o
' OJ
B de obter uma parceira . A f é mea també m obt ém uma vantagem dupla
c 20
m3
com tal escolha: terá filhos que sã o ao mesmo tempo voadores há beis
B O
e mais atrativos para as fémeas. Â medida que a retroalimentaçã o
o 2 positiva entre a preferência da fê mea e caudas mais longas se
^ 10 o. desenvolve, aos poucos o beneficio obtido com os lilhos atrativos vai
5
XJ
2
se tomando o motivo mais importante para a escolha da f ê mea , e o
XJ
cará ter favorecido pode, eventualmen íe, provocar um decréscimo na
0 10 20 30 40
habilidade de sobreviv ê ncia do macho. Quando o decréscimo na
50
20 40 60 sobrevivê ncia contra - baian ça a atratividade sexual , a seleção a favor
extensão do repert ó rio
extensão do repertó rio do aumento da cauda desaparece. O quadro 8.1 descreve alguns
aspectos da hipó tese de Fisher com mais detalhes.
Fig. 8.8. (a ) Os machos do silv í deo Acrocephalus shoenobaenus com os maiores
repert ó rios de canto são os primeiros a obterem fêmeas, na primavera . A extensão
do repert ó rio foi estimada com amostras do canto de cada macho gravadas cm
fita. Os dados foram coletados de modo a controlar a possibilidade de q ue os Quadro 8.1 Seleção sexual para comprimento do nariz: a
machos mais velhos ou nos melhores territ órios se acasalassem antes e tivessem importânciada covariância na hipótese de Fisher Modifi-
repert órios maiores . Dados de Catchpole ( 1980). ( b ) A pontua ção media +- EP cado de Lande ( J 9 S I ).
de respostas de 5 femeas aos repertó rios de diferentes extensões. A pontua ção
mede o comportamento sexual . Dados de Catchpole et al . ( 1984 )
í . imagine que naja uma variaçã o no comprimento do nariz
e na preferê ncia das fé meas em uma popula çã o As fêmeas
laborató rio e tratadas com estradiol , para tom á- las sexualmente com uma preferência para nariz ligeiramente mais longo do
ativas, mostraram -se mais receptivas aos repert ó rios longos do que que a m édia irã o se acasalar com machos de nariz longo
aos curtos. Ao contrá rio da cauda longa da ave vi ú va, n ã o ficou e vice- versa . O fato crucial é que a prole resultante destes
evidente qual poderia ser a seleção contra a maior elabora ção do acasalamentos irã o ter ambos os genes, do nariz e da
canto; mas, uma possibilidade é que os cantos mais elaborados preferê ncia: os genes para nariz iongo e preferê ncia por longo
sejam mais rapidamente detectados por predadores, como se ou os genes para nariz cuno e preferê ncia por curto. A
observou na rã -leopardo ( Ryan et al. , 1982 ). preferê ncia se expressa apenas nas fé meas o comprimento
do nariz apenas nos machos, mas todos carregam os dois
(b ) Hipótese de Fisher tipos de genes. Em resumo, se estabelece uma associação
ou covariância entre genes para o nariz e para preferê ncia .
R.A .Fisher ( 1930 ) foi o primeiro a formular claramente a id é ia de que Voc ê poderia olhar para a preferê ncia de uma fê mea e prever
as exibições elaboradas do macho podem ser sexualmente selecionadas, que tipo de genes para o nariz ela possui e transmitirá para
simplesmente porque tomam os machos mais atrativos para as fê me- os seus filhos ( Fig. a ).
as. Isto pode parecer circular, e de fato é, mas é justamente a í que 2. Como a evolu ção irá prosseguir, dada esta covariâ ncia?
está a elegâ ncia do argumento de Fisher. Ele supôs que, no in í cio,
Se quantidades iguais de fê meas tiverem preferê ncias por
A sele çã o para a as femeas prefeririam um cará ter particular do macho ( vamos con -
comprimentos de nariz acima e abaixo da m édia ( x ), n ã o
atratividade somente siderar a cauda longa como um exemplo ) por indicar algo sobre a sua
qualidade . Talvez os machos com caudas mais longas també m haverá nenhuma mudança . Mas, se ao acaso houver um
voassem melhor e, por isso, fossem mais eficientes na coleta de ligeiro predom í nio de femeas em um dos lados da m édia
alimento e na evitação de predadores. Um ponto de partida alterna- ( poderia ser do lado do nariz longo ou curto, mas vamos '
tivo seria supor que as caudas maiores fossem mais fáceis de detectar escolher o longo), ent ã o a retroalimenta ção positiva ir á ter
( Arak, 1983) ou que as femeas tivessem uma pré-disposiçã o sensorial in í cio. Isto está indicado pelas setas na Fig. a . As f ê meas
para responder a certos est í mulos ( Ryan et al., 1990; ver Capí tulo 14 ). selecionam nariz longo ( machos de nariz longo t ê m chances
Se h á alguma base genética para as diferenças no comprimento da maiores de acasalamento) e , assim , devido à covariâ ncia ,
194 / CAP Í TULO 8 CONFLITO SEXUAL / 195
c
a o
2
D ~a J2
-
*
20
15
*[
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*3
13o
10
y c
°S I
S 5 j
j! 0 1
.
Z a
Encurtada Controle II m
Controle I Alongada
Tipo de manipulação da cauda m
m
%
13 # 1 STíç b) Machos da andorinha H.rústica com caudas
alongadas experimcntal -
controle (1, com penas t
m mente acasalam -se mais cedo do que indiv í duos
2c
c
5
dade investimento na prole igual por parte dos parceiros ou com
investimento predominante por parte do macho . Quando, por
exemplo, ambos os sexos cuidam igualmente da prole, a corte pode
I2 envolver avaliações e escolhas pelos machos como também pelas
z § ok0 5 10 50 fê meas. Os machos de espécies com fertilização intema nunca estão
N ú mero de ácaros no pai verdadeiro totalmente seguros da paternidade e um dos papé is da corte pode
ser a evita çào da infidelidade. Uma das previsões desta ideia c
(c) Experimentos com pais adotivos mostraram que a carga de parasitas da que a corte permitiria que os machos avaliassem se as f êmeas
prole est á correlacionada com aquela dos pais verdadeiros. acasalaram previamente com outros parceiros. Isto foi testado por
* i
*
Erickson & Zenonc ( 1976 ) . Eles
a corte, o macho da pomba Streptoi
que realizasse a “ postura em arco”
)ei
.
observar qU Cm vcz de fazcr
°’ atacava *
r 0 aVan ç a f
êmea
*r
muito rá pido. Como as fêmeas que
meio H ^
, ado da corte )
°
portamento de rejei çã o dos novos macho '' rcvian\cntc’ 0 com -
machos c as f
ômcas
•*
da paternidade, antes de investir na prole A r ° CSUTar , a cerleza %
.
prev ê que a corte do macho sirva para incitar °~CCpç ao ant 8a n ã o
,
N s « pécics cm »c „
podem competir sexualmente pela escolha
dos machos ’
. Na ave
%
I
Gallinula chiorapas os machos fazem
Quando os machos
fazem o investimen-
tos eles s ã o seletivos
as fêmeas competem ativamente pela
,
bom incubador. Estes mandos deais sã o
equipados para sobreviver com as pró
longos penodos de incubaçã o ( Pctrie,
chance
pequenos
^ ^
cfc íc salar m °um
prias reservas
e gordos bem
durante os
1983 ) . Em algumas espécies
' t
e
t
os machos investidores pode rejeitar fê
meas de baixa 32
c
Conflito sexual *
Vamos voltar ao ponto de partida deste cap í tulo, o
conflito t
Relembre a ideia de que na origem da anisogamia est á o sexual .
exemplo
primordial de conflito sexual . O conflito é sobre decis
acasalamento. Os macrogametas teriam se saido melhor se fossem
ões de l
Fig. 8.9 Uma fé mea do grilo Conocephalus nigropleurum. Em algumas espécies
capazes de discriminar os microgamcntas, mas estes ú ltimos na
verdade venceram a corrida evolutiva . De modo similar, c mais de grilos, o macho produz um enorme espermat óforo rico em prote í nas ( que pode
pesar at é 27% do peso corporal do macho ) que é comido pela f é mea e usado na
*I
diretamente observá vel , os conflitos de interesse entre os sexos produ ção de óvulos . Com este grande investimento, os machos podem se permitir
estão aparentes ainda hoje, n ã o somente com rela çã o às decisões uma escolha mais criteriosa As fêmeas preferem os machos maiores, proque eles
sobre acasalamento, mas també m nos contextos do investimento
parental , acasalamentos m ú ltiplos e infantic í dio.
produzem espermat ó foros grandes, enquanto os machos rejeitam as f ê meas
pequenas porque colocam menos ovos do que as femeas grandes, ( a ) Uma f ê mea
*
acasalada com o espermató foro . ( b ) Fê mea comendo o espermató foro. (c ) Close
do espermat ó foro Dados de Gwynne ( 1982 ) . t
( a ) Decisões sobre acasalamento a fêmea com um orgão abdominal especial (o orgào notai ) sem
I
Como já destacamos neste cap í tulo, as fê meas tê m mais a perder oferecer - lhe nenhum presente (Thomhill , 1980 ). A có pula forç ada l
parece ser um caso de conflito sexual . A fê mea sai perdendo porque
e por isso tendem a fazer escolhas mais cuidadosas do que os
machos. Assim , para um dado encontro, em certo sentido, os n ã o obt é m nenhum alimento para produzir ó vulos e terá que caçar «
por si mesma , enquanto o macho se beneficia porque se livra do
machos saem freq ú entemente beneficiados se copulam e as fê meas
risco da procura de um presente nupcial . Esses d í pteros alimentam -
se nao o fazem ( Parker, 1979 ). Uma manifesta çã o extrema deste
se de insetos retirados de teias de aranha e, com frequ ê ncia , acabam \
conflito é a c ó pula forçada, observada em d í pteros Panorpa spp.
í içando presos, de modo que o forrageio é certamente arriscado
Có pulas for ç adas em Os machos de Panorpa geralmente conseguem se acasalar ofere- (
( 65% dos adultos morrem desta maneira ). Por que nem todos os
d í pteros Panorpa spp. cendo à fê mea um presente nupcial , isto é , secreçõ es salivares ou
um inseto morto como alimento ( muito similar ao que se observa machos forçam a có pula? O balan ço exato entre custos e benefícios
em Hylobittacus apical is , descrito acima ). A fê mea se alimenta deste comportamento n ã o é conhecido, mas parece que resulta em
uma taxa de fertiliza ção bem sucedida de ó vulos muito baixa , por
deste presente durante a c ó pula e o transforma em ó vulos.
Entretanto, algumas vezes um macho for ça a c ó pula: ele segura isso, talvez os machos adotem essa estrat é gia somente quando n ã o
204/ CAP ÍTULO 8 CONFLITO SEXUAL /205
O infantic í dio pode provavelmente aumenta o sucesso reprodutivo do macho e, cla - As exibi ções da corte também podem ter um papel na com -
beneficiar os machos ramente, reduz o sucesso da fê mea. Este parece ser um caso de peti çã o entre machos de uma espé cie pelas oportunidades de
e n ã o a s fê meas conflito sexual no qual o macho saiu vencedor, mas é supreendente acasalamentos. Com frequência, as mesmas exibi ções servem ao
que as f ê meas n ão tenham desenvolvido contra-adaptações. Elas mesmo tempo para repelir outros machos e atrair f ê meas . Isto foi
poderiam, por exemplo, comer os seus pró prios filhotes, uma vez demonstrado experimentalmente no estudo sobre o chamado de
que já tenham sido mortos, para recuperar tanto quanto poss í vel Competi çã o intra -se- acasalamento da perereca do Pac í fico ( Hyla regilla ) ( Whitney &
as pró prias perdas ( Cap í tulo 12 ). xual Krebs, 1975a, b ) . Os machos são repelidos e as f ê meas são atra í das
por chamados de acasalamento tocados em auto- falantes, e as
f ê meas selecionam os auto-falantes que reproduzem o chamado
( d) Acasalamentos m últiplos mais longo. As f êmeas podem escolher entre machos apenas com
base na atratividade sexual de suas exibi ções, como explica a teoria
Como mostrou o experimento de Bateman com Drosophila ( Fig. de Fisher sobre a seleção sexual , mas també m h á a possibilidade
8.1 ) frequentemente, as f ê meas ganham pouco acasalando-se com de que as diferenças entre as cortes dos machos possam indicar
mais de um macho ( mas, veja també m o Cap í tulo 9 ) . Entretanto, a qualidade do habitat; por exemplo, os machos com territ ó rios
devido à competição de esperma, os machos podem se beneficiar ricos em alimento seriam capazes de gastar mais tempo com
copulando com fê meas já fertilizadas . Acasalamentos m ú ltiplos sã o exibi ções.
provavelmente onerosos para as fê meas ao mesmo tempo que sã o Um terceiro papel da corte é a avalia ção. Em uma espécie com
vantajosos para os machos. Isto est á ilustrado de modo dram á tico Avalia çã o cuidado parental por parte do macho, a f ê mea pode avaliar a
pela mosca do esterco, no cap í tulo 7. Algumas vezes a fê mea acaba habilidade do macho proteger os filhotes, enquanto o machos
afogada no esterco dois machos que estão sobre ela, disputando podem avaliar se a f êmea foi previamente fertilizada. Os primeiros
a sua posse. trabalhos dos etólogos com aves e peixes mostraram que no inicio
Conflitos de interesse entre os sexos irão levar a uma corrida da corte os machos são frequentemente agressivos e as f ê meas são
evolutiva entre espermatozó ides e ó vulos, do tipo do concebido t í midas ou relutantes. Por isso, admitiu -se que a corte serviria para
por Parker et ai . N ão h á nehuma resposta simples para a quest ã o sincronizar a excitação sexual dos parceiros. Uma explicação para
de qual dos sexos tem mais chances de vencer a disputa . Como esta necessidade de superar a agressividade e a relutância é que
já discutimos, alguns fatores como a for ç a da seleçã o e a quantidade as fases iniciais envolvem a avaliação reciproca entre parceiros
de varia ção gen é tica irã o determinar qu ão rapidamente os sexos antes de investir na prole .
podem desenvolver adapta ções e contra -adaptações, mas n ão é Neste cap í tulo destacamos o papel das f êmeas como investidor ç
no zigoto e na prole, mas também mencionamos que algumas vez<
206/ CAP Í TULO 8
CONFLITO SEXUAL / 207
*1 *
çã o por ser
podem se revelar acasalamentos As femeas cauda do pavão?
relutantes para o acasalamento
possam escolher parceiros , a menos que 2. Que hipó teses podem explicar a colora çã o brilhante em aves
com
Algumas vezes ha inversão recursos ou benef cios gen é ticos
í ( veja també m Baker & Parker, 1979; Lyon & Montgomery, 1985,
aparecem como os principais nos papéis sexuais c os machos e referê ncias citadas por estes autores )?
as femeas são competitivas einvestidores na prole. Nestes casos r . 3. Por que freq íientemente os machos competem pelas femeas em
os machos são vez do contrá rio? ( Inclua na sua discussã o os conceitos de
As duas principais hipó selecionadores
teses sobre como os benefícios gen
podem ser obtidos por seleção éticos investimento parental , razã o sexual operacional e taxa potencial %
de reprodução).
que diz que os benefícios sãosexual são: (a ) a hipótese de Fisher ,
ticamente atrativos ), e ( b) a hipunicamente
ó
estéticos ( filhos gene - 4. E poss í vel discriminar, com dados emp í ricos, entre a hipó tese
de Fisher e a hipó tese da desvantagem ?
«
que os benefícios se relacionamtese da desvantagem, que afirma
com a viabilidade geral , por
exemplo, resistência a doen ças.
Leituras complementares
O livro de Malte Andcrson ( 1993 ) faz uma
abordagem profunda
sobre a seleção sexual . Clayton ( 1991 ) faz uma revisão das
evid ê ncias a favor da hipó tese de Hamilton & Zuk , enquanto
Gibson & Hõglund ( 1992 ) discutem a id é ia de que as fê meas nas
arenas podem acompanhar a escolha de machos para acasalamento
umas das outras. O livro de Chamov ( 1992) é um trabalho
fundamental sobre a alocaçào sexual, incluindo a teoria da razão
sexual .
. Os artigos de Burley et al. ( 1982 ) e Burley ( 1986a , b ) apresentam
um conjunto importante de dados sobre a escolha de parceiros
sexuais em uma espécie monog â mica de ave, o tentilh ã o Taeniopygia
guttata . Burley notou que as anilhas coloridas colocadas nas aves
para identificação individual acabavam afetando o sucesso de
acasalamento. Os machos com an é is vermelhos e as femeas com
an é is pretos apresentavam um sucesso reprodutivo maior do que
os indiv í duos com outras cores. Os an é is verdes e azuis em machos
/209
Capí tulo 9. Cuidado Parental e Sistemas SISTEMAS DE ACASALAMENTO
de Acasalamento
acasalamento, o ideal para uma fêmea seria deixar que os machos
cuidassem da prole enquanto ela formaria reservas para mats
ó vulos. Na prá tica, como veremos, há dois fatores que exercem
conflito.
influ ência sobre o modo como os sexos resolvem esse
Primeiro , diferentes grupos de animais sofrem diferentes res-
No ú ltimo capí tulo exploramos as diferenças fundamentais entre tri ções fisiológicas e de seus ciclos vitais, que podem predispor
machos e f êmeas. Um macho apresenta um potencial para ser pai um dos sexos a exibir mais cuidado parental do que o outro.
a taxas mais elevadas do que uma f êmea para ser m ãe. Por isso, Segundo, fatores ecológicos irã o influenciar os custos e benef í cios
as fêmeas são um recurso limitante para o sucesso reprodutivo
^
pode ser a có pula com vá rias f êmeas, cada uma das quais Mam í feros f ê mea apenas poliginia
Peixes macho apenas pohgamia/ pronuscuidade
permanecerá “em casa” cuidando da prole dele. Após o
208
210/ CAPÍTULO 9 SISTEMAS DE ACASALAMENTO / 211
prazo entre os casais parece Tabela 9.2. Ocorr ê ncia do cuidado parental por machos c por (emcas em relação
ser vantajosa porque os pares que se ao modo de fertilização, em peixes tcleósteos. A tabela mostra o n ú mero de
mant ê m acasalados h á algum
do que os casais novos.
tempo têm maior sucesso reprodutivo famílias; uma mesma fam ília pode aparecer em mais de uma categoria, mas não
aparece na categoria “ nenhum cuidado parental”, a menos que o cuidado parental
Quando as restrições para seja totalmcntc desconhecido na
familia . Dados de Gross & Shinc (1981).
a manutençã o dos dois pais alimen -
tando os jovens desaparecem, geralmente
é o macho que deserta
e a f ê mea que permanece
cuidando da prole. Evidê ncias compa - Fertiliza çã o Interna Fertiliza ção Exlcrna
rativas revelam que , freqiientemente, a
poliginia ocorre entre os
frug í voros e gran í voros, provavelmente devido ao fato de que esses Cuidado parental do macho 2 61
suprimentos alimentares apresentam marcada abundância sazonal Cuidado parental da femea 14 24
e, assim , um dos pais pode alimentar os jovens de maneira quase 5 100 i
tão eficiente quanto os dois ( p.ex., pássaros tecel ões; Capítulo 2).
-
Por que é o macho quem deserta? Há dois fatores que podem ser
Nenhum cuidado parental
«
. Qual dos pais irá fornecer cuidado? A Tabela
importantes. Primeiro, o macho tem oportunidade de desertar antes O cuidado parental um dos pais sozinho por parte da fê mea (86%) é o mais
9.2 mostra que o cuidado
da fê mea . Com a fertilização interna, a femea pode ser literalmcnte por parte do macho fertiliza çã o é interna , e por parte do macho (70%)
a
abandonada com os filhotes no interior do seu corpo. Segundo, é mais comum quan - comum quando çã o é externa . O predom í nio do cuidado parental
do a fertilização é ex- quando a fertiliza
o macho pode lucrar mais com a deser ção do que as f êmeas, pois do macho entre os peixes está relacionado com a
o seu sucesso reprodutivo ao longo de toda a vida é mais terna , e por parte da por parte
predomin â ncia da fertilização externa .
dependente do n ú mero de acasalamentos ( ver Cap í tulo 8). fê mea quando a fer-
tilização é interna:
três hipóteses (
Três
ver
hip
Gross
ó
&
teses podem ser propostas para explicar esse resultado
Shine , 1981 ).
*
«
MAM Í FEROS
Entre os mam í feros, as f êmeas sã o ainda mais predispostas a cuidar Hipótese 1 . Certeza da paternidade *
Em mam í feros, ge- dos jovens. A prole geralmente apresenta um longo per í odo de
gestação no corpo da f êmea , durante o qual o macho pode fornecer
Trivers (1972) sugeriu que a segurança da paternidade seria afetada
pelo modo de fertilizaçã o. Como a fertiliza ção externa ocorre no
*
ralmente são as fê-
meas que cuidam dos
filhotes
pouco cuidado direto (embora possa proteger e alimentar a f
Logo que nasce, o jovem é alimentado com leite e apenas a f
êmea ).
êmea
momento da oviposição, a segurança da paternidade deve ser maior
do que na fertilizaçã o interna, quando a competição entre espermas
*
apresenta lactação. Devido a estas restrições na oportunidade para pode ocorrer no interior do trato reprodutivo da f êmea (Capí tulo
cuidar da prole e també m porque, o macho pode desertar primeiro, 8). De acordo com essa hipó tese, com a fertilização interna, o
face a fertiliza çã o interna, n ão é surpreendente que a maioria dos macho deveria estar menos preparado para prover o cuidado
mam í feros apresente um sistema de acasalamento polig í nico e parental , porque está menos certo do que a f êmea de estar t
cuidado parental apenas por parte das f êmeas. representado geneticamente na prole. Entretanto, a segurança da i
Monogamia e cuidado da prole por ambos os pais ocorre em paternidade, por si só, não influencia a decisã o do macho quanto
poucas espécies, onde os machos ajudam na alimentação (carn í - a cuidar ou desertar, porque, presumivelmente, ele ficará igual - i
voros) ou no transporte dos jovens ( p. ex. saguis). De certo modo mente incerto da sua paternidade quando deserta e acasala outra
é surpreendente que a lactaçã o entre os machos não tenha evolu í do vez. Um macho apenas ganhará com a deserção se isso aumentar
nesses casos ( ver Daly, 1979 ). o seu sucesso reprodutivo acima do que obteria com a permanê n -
cia. Alé m disso, não é necessariamente verdade que a fertilização
externa leva a maior certeza da paternidade. Em alguns casos, por
PEIXES exemplo o peixe-lua Lepomis, a infidelidade ocorre durante a
oviposição (ver Capítulo 10).
Entre os peixes ósseos (teleósteos), a maioria da fam í lias ( 79%)
n ão apresenta cuidado parental (Gross & Sargent 1985 ). Entre
Em peixes, qualquer aquelas fam í lias que efetivamente cuidam dos ovos e dos jovens, Hipótese 2. Ordem de liberaçã o de gametas
um dos sexos pode isto geralmente é feito por um dos pais; o cuidado por ambos os
cuidar da prole pais ocorre em menos de 25% das fam í lias que apresentam cuidado Dawkins & Carlisle (1976) sugeriram que a fertilização interna
parental. Comparado com o elaborado cuidado parental dos jovens dá ao macho a chance de ser o primeiro a desertar, deixando para
em aves, o cuidado parental entre os peixes é um acontecimento a fêmea a tarefa de cuidar da prole, tal como se observa em aves
simples, freqiientemente consistindo apenas da proteção ou areja- e mam í feros. Com a fertilizaçã o externa eles sugeriram que os
mento dos ovos. Essas atividades podem ser bem executadas por papéis poderiam ser invertidos. Como os espermatozóides sã o
212/ CAP ÍTULO 9
Hipótese 3. Associação
Willians ( 1975 ) sugeriu simplesmente que a associaçã o com os
embri ões pré-adapta um sexo para o cuidado parental. Por exemplo,
na fertilização interna, a fêmea está mais intimamente associada
Em peixes , o cuida- com o embri ão, de modo que isto pode criar a oportunidade para
a evolu ção da retençã o do embri ã o e do nascimento a partir da
do parental por par-
mãe, seguido do cuidado dos alevinos. Com a fertilização externa,
te do macho está as-
por outro lado, os óvulos são frequentemenie postos no território
sociado à territoriali- de um macho, que fica em contato mais pr ó ximo com os embriões.
dade A defesa do territ ó rio para a atraçã o de f ê meas transformou -se,
incidentalmente, na defesa de ovos e de jovens; tornando-se uma
pré-adaptação para um cuidado parental mais elaborado por parte
de machos. Esta hipó tese é a melhor para prever os dados da Tabela
9.2. O cuidado parental por parte de machos é mais comum entre
as espécies territoriais, e a predomin â ncia do cuidado parental por
parte de machos com fertilização externa resulta do fato de que
o comportamento territorial de machos é particularmente comum
quando h á fertilização externa .
is
Prancha 9.1. Diversidade de sistemas de
acasalamentos em mam í feros, ilustrada por
# 11 ? A
#1ÍL t -
ungulados.
|5!
ir
Prancha 9.1(a ). O dik-dik ( Madoqua kirk í ) é
monogâ mico, provavelmente porque a á rea de
ação das fêmeas é grande demais para que os
machos possam defender mais de uma parceira
••HlUB £*
(Cortesia Oxford Scientific Films Foto de Zig
* iit v
Leszczynski ) .
m Hl &
riamente durante o cio, quando atravessam os
seus territ ó rios. Aqui, um macho está evitando
que um grupo com tr ês fê meas deixe o seu
territ ó rio (Cortesia de Peter Jarman . Foto de TTfj
Martha Jarman ) .
*
H ;;
Prancha 9.1 (c) No cerv í deo Kobus kob í homasi,
de Uganda , os machos defendem pequenos ter-
rit ó rios (com 15 -30 metros de di â metro ) em
arenas. O macho no centro desta foto se acasala
com uma fê mea que visitou o seu territ ó rio.
( Foto de James Deutsch ).
.
Prancha 12.1 Um grupo de mangustos an õ es. Um grupo t í pico de acasalamento,
com cerca de 9 indiv í duos, consiste de pares reprodutores e ajudantes. Os
ajudantes podem defender a toca , frequentemente um cupinzeiro , contra preda-
t
«
!í
m
- í%
dores e trazer alimento para os filhotes. Alguns ajudantes sã o parentes dos pares
reprodutores outros n ã o . Eventualmente, os ú ltimos se beneficiam alcançando
status reprodutor, enquanto os primeiros podem ter ganhos de adaptatividadc
diretos c indiretos. ( Cortesia de Jan Tcrrl & Peter Waser).
*I
.
Prancha 9.1(d ) No b ú falo Syncerus caffer ,
*I 45
•
**
wP
Deserçã o
WP
Prcda çã o
í
/
Dispersã o da fê mea
^ dispersã o do macho
*1 1
.
Deserçã o
Ganho do Macho
Ganho da Fê mea
Ganho do Macho
wP,
wP
wP ( ( 1 + p )
WP
WP0
WP0 ( 1 + p)
Custos e
benef ícios da
/
/
*e '
vida social O %
f
EEE 2: A fêmea deserta e o macho permanece cuidando da
Fig. 9.1 O processo em duas etapas que exerce influ ê ncia sobre os sistemas de
prole. Isso exige que WP > wP„ ou a femea permanecerá no
acasalamento, quando o macho n ão oferece cuidado parental Como o sucesso ¥
cuidado e P ) > PO ( 1 + p ), ou o macho irá desertar.
EEE 3: A fêmea permanece no cuidado e o macho deserta. Isso
exige que wP} > IVP ou a fê mea irá desertar e P , ( 1 + p ) > P >
reprodutivo da femea tende a ser limitado por recursos, enquanto o do macho
tende a ser limitado pelo acesso à s fê meas, espera -se que a dispersão das fêmeas
dependa, pnmariamcnte, da dispersão dos recursos ( modificada pela prcdação
* ;
^ 2 % r g;
ou o macho irá permanecer no cuidado. e pelos custos c benef ícios da vida social ), e a dos machos seja determinada ,
EEE 4: Fêmea e macho permanecem no cuidado. Isso exige primariamente, pela dispersão das fê meas. Os machos podem competir pelas
que wP2 > WPV
macho írá desertar.
ou a fê mea irá desertar e P, > P , ( 1 + p ), ou o fê meas, diretamente ( A ) ou indirctamente ( B), neste caso, antecipando o modo
como os recursos afetam a dispersã o delas e disputando entre si os locais ricos
*
Para certos valores dos parâ metros no modelo, EEE 1 e EEE em recursos |
lj
4 podem se apresentar como possibilidades alternativas, assim
como EEE 2 e EEE 3. Por exemplo EEE 2 é favorecida se a femea ser facilmente entendido como o resultado de um processo com
Um modelo EEE
puder colocar muito mais ovos quando nà o investe no cuidado duas etapas ( Fig. 9.1 ) . Primeiro, o sucesso reprodutivo da femea U
ajuda -nos a pensar
sobre os fatores que
parental ( W»w ) e se o cuidado de um dos pais produzir resultados
muito melhores do que nenhum cuidado ( P ,»P0 ), mas se dois pais
não conseguem resultados muito melhores do que um ( P 2 seme-
será limitado principalmente pelo acesso aos recursos ( p.ex.,
alimento, local de procriaçã o ), de modo que a distribuiçã o de mi
podem favorecer o
cuidado parental por
parte de um ou ou -
lhante a P , ). Esta situa ção provavelmente se aplica a muitos peixes,
como se discute acima, em que a fê mea tende a desertar e o macho
frequentemente permanece no cuidado da cria . Entretanto, ESS 3
fê meas deveria ser dependente da dispersã o dos recursos, prima-
riamente, sendo modificada pela prcda çã o e pelos custos e
benef í cios da associa çã o com outros indiv í duos (Cap í tulo 6 ). Por
outro lado, o sucesso reprodutivo do macho será limitado basi -
—
-
TB -í
á.: v
i w *.
mantidos em gaiolas individuais, as mudanças na sua dispersã o n ão Distribui ção equitativa ( regular ) . Distribui çã o heterogé nea (agregada )
^
a eta am a d sPersão de femeas livres. Este estudo mostra que a
í ‘
sequ ência causal vai dos recursos para a dispersã o das femeas e,
Baixo potencial para a poligamia Elevado pontencial para a poligamia
finalmente, para a dispersão de machos, como na Fig. 9.1 . Fig.9.2 Influencia da distribui çã o espacial de recursos (alimento, locais de
nidificaçã o ) ou de parceiros sexuais sobre a capacidade individual de monopoli -
za çã o. Os pontos sã o recursos c os circulos são á reas defendidas. Com uma
(b ) Peixes Thalassoma bifasciatum distribui çã o heterogé nea (agregada ) de recursos ou parceiros sexuais há um
grande potencial para que alguns indiv í duos arrebatem mais do que “a parte que
Warner ( 1987, 1990) estudou este peixe de recifes de coral no lhes cabe”
Caribe. As femeas desovavam em locais favoritos, na borda do
Mudan ç as experi - recife exposta a correntes descendentes, onde os ovos pelágicos
mentais na dispers ã o eram rapidamente levados para o mar aberto, escapando à predação A razã o sexual ope- é a razã o entre femeas receptivas e machos sexualmente ativos
de femeas produzem por parte de outros peixes do recife. Cada fê mea, individualmente, racional exerce influ- a cada momento. Se todas as femeas procriam em sincronia, com
alterações na disper- retomava quase todos os dias aos locais particulares para colocar ê ncia sobre a intensi- uma razão sexual real de 1: 1 na populaçã o, a razã o sexual
sã o de machos, mas poucos ovos. Os machos competiam para defender territórios nestes dade de competi çã o operacional durante a reprodução també m será 1 : 1 . Nesta situação
o contrá rio n ão ocor- locais preferidos; os maiores machos defendiam os melhores locais por parceiros sexuais haverá pouca chance de um macho se acasalar com mais de uma
re e, assim, participavam da maioria dos acasalamentos. femea , porque quando ele estiver acabando de se acasalar pela
Para avaliar o papel dos dois sexos na determinaçã o dos locais primeira vez, todas as outras fê meas també m estarão acabando de
de desova, Warner trocou todos os machos ou todas as femeas, reproduzir. Por exemplo, isto se aplica aos sapos comuns Bufo
de populações locais isoladas, por peixes de outras populações. bufo, que são “ reprodutores explosivos”: todas as fê meas desovam
Quando os machos eram substitu í dos, a maioria dos locais de em uma semana e o macho tem tempo de se acasalar com apenas
desova parmaneceram os mesmos. Ao contrá rio, quando as femeas uma ou no m á ximo duas delas, antes que a estação reprodutiva
eram trocadas, observou-se mudanças marcantes na escolha de chegue ao fim . As rã s- touro, Rana catesbiana , ao contrá rio, são
“ reprodutores demorados”, com fê meas receptivas chegando às
locais, mesmo quando alguns machos continuavam a fazer exibi -
ções e a defender os locais originais. Este h á bil experimento mostra poças de procriação durante v á rias semanas. Os machos que sã o
que as femeas escolhem os locais de desova e os machos capazes de defender os melhores locais de desova podem se
simplesmente competem para defendê-los. acasalar com até seis fê meas em uma estação ( Wells, 1977 ).
E
o ?n
ARENAS E COROS oo
cd
.
jcularmente alta ( pontos-quentes). Este parece ser o
uv/ cervideos
? ^iv ueos Kohus
MOUS lechwe e K.kob discutidos anteriormente.
m muitos casos, entretanto, as fêmeas visitam as arenas apenas
0.20 r
^ 10
Mesmo assim , o sucesso m édio por macho pode n ão ser, neces-
sariamente, a informação mais adequada , porque pode haver
variação entre os indiv íduos quanto à habilidade de sinalizar. Se
alguns machos fizerem exibi ções excepcionalmente efetivas ( “ ma-
chos quentes” ), pode valer a pena para os maus sinalizadores 0
agruparem -se ao redor e parasitar esta atratividade ( Beehler & 0 20 40 60 80
Foster, 1988 ). Tamanho do coro
Certamente, este processo parece explicar a agregação de
machos em pequena escala, como aquela envolvendo sapos machos Fig. 9.4. Machos de rãs Physalaemus pustulosus reunem-se em coros. Nos coros
vocalizadores e sat é lites ( ver Cap í tulo 10 ), mas nã o as agregações maiores, cada indiv íduo corre um risco menor de ser predado por morcegos (a ).
O n ú mero de fêmeas atra ídas també m cresce com o tamanho do coro ( b). A curva
em arenas de rrlaior escala , como sugerem duas fontes de evidê ncia. (2 ) corresponde melhor aos dados observados do que a reta ( 1 ), sugerindo que
Em primeiro lugar, quando os machos mais bem sucedidos são o n ú mero de fêmeas por macho aumenta com o tamanho do coro. Dados de Ryan
removidos de uma arena , os seus territórios são rapidamente et al., ( 1981).
dominados por outros ( em uma espécie de tetraz, Rippin & Boag,
No veado Dama 1974; e no tangará de barba- branca, Lill, 1974 ). Isto sugere que rearranjariam ao seu redor, em vez de haver uma permuta de
dama, as fêmeas h á algo em cada local que influencia a preferê ncia da fê mea. O concentrações em locais particulares. Em segundo lugar, em um
escolhem machos e “modelo machos quentes” prevê que o próximo macho na escala experimento com arenas do veado Dama dama, Clutton -Brock et
n ã o locais de preferê ncias permaneceria no seu territó rio e os demais se al. ( 1989) cobriram os territó rios da maioria dos machos bem
r »
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sucedidos com polietileno preto, para forçá-los a mudar de
Mesmo quando esses machos estabeleciam novos
ê meas. Neste caso, portanto, as fêmeas estavam
f
Sr I cuidadosa antes de se acasalarem , de modo que machos particulares Quando os machos d ã o cuidado parental, eles pr óprios se tomam
k 1 9
O
conseguem a maioria das parceiras. Como os machos das espécies
com arena não dã o nenhum cuidado parental, os ú nicos ganhos
possí veis com tal escolha pode ser um acasalamento seguro (seguran -
um recurso que pode exercer influ ência sobre a dispersão das
êmeas e, portanto, o esquema simples da Fig . 9.1 perde a validade.
f
Como vimos no come ço do cap í tulo, o cuidado parental por parte
de machos é particularmente comum em aves, por isso, deveremos
4 3
As f ê meas podem
obter benefícios ge-
ça contra o molestamento de outros machos ou contra a preda ção ) ou
benef ícios gen éticos (veja Capí tulo 8). Ainda não está claro se um
usar principalmente exemplos deste grupo para ilustrar as idé ias
11
;
o
5 O
n éticos com a esco-
lha de machos em
uma arena ...
desses benef í cios ou ambos sã o importantes. Por exemplo, as fê meas
do tetraz Lyrus tetrix preferem os machos que fazem exibi ções mais
vigorosas e estes são justamente os que apresentam maior longevidade
(Alatalo et al., 1991 ). Portanto, uma possibilidade é que as arenas
nesta seção.
MONOGAMIA
i
V
David Lack ( 1968 ) sugeriu que a monogamia é o sistema
3 forneçam um local para compara ções, onde os machos revelam a sua
sa úde e viabilidade através do vigor com que se exibem ; se houver predominante em aves ( 90% das espécies ), porque “cada macho
3 e cada fê mea , em m édia, deixariam mais descendentes se cola -
* i ;.
qualquer herdabilidade do grau de viabilidade dos machos, entã o as
êmeas irão obter bons genes para a sua prole, acasalando-se com os
f As vezes, o acasala - borassem na criação da prole”. Esta hipótese certamente explica
3 mais vigorosos. A melhor maneira de testar essa id é ia seria atrav és mento monogâ niico é a monogamia obrigat ó ria em muitas aves marinhas e aves de
4 3 da insemina ção artificial de f
ê meas com esperma de machos diferen -
tes para verificar se a prole de machos com as melhores exibi ções
vantajoso tanto para
o macho como para a
rapina , onde os machos e as f ê meas compartilham a incuba ção,
quando os machos alimentam as fêmeas no ninho ou quando ambos
C
4a ... ou
podem simples-
também apresenta maior longevidade. Certamente este experimento
se faz necessá rio, pois a alternativa é que as fê meas simplesmente
fêmea os sexos sã o essenciais para alimentar o filhote. Nestas espécies, a
morte ou a remoção de um dos pares leva à falha total na procriação.
Entretanto, a hipó tese de Lack n ã o explica os sistemas de
3 mente obter um aca -
obtêm uma cópula mais segura com o macho mais vigoroso, porque
acasalamento de muitos pá ssaros canoros, em que ambos ambos
^C It 3
5 3
salamento seguro
ele está melhor capacitado para manter os competidores afastados
durante o ato de acasalamento.
Qualquer que seja o tipo de benef í cio mais importante, as
os sexos freq ú entemente cuidam juntos da prole. Se os machos
sã o removidos durante o perí odo de cuidado com os filhotes, a
fê mea sozinha é capaz de garantir a sobrevivê ncia de alguns dos
C fê meas poderiam provocar a agregaçã o de machos porque a escolha jovens até que deixem o ninho. Por exemplo, a remoção de machos
I3 de locais particulares toma poss í vel o acasalamento com os machos em Melospiza melodia provoca uma queda no sucesso de procria-
C
c -
I
a
a
mais vigorosos (aqueles capazes de conquistar tais locais) ou
porque a preferê ncia por grandes agregações de machos facilita
a comparaçã o entre os parceiros.
Concluindo, os fatores ecol ógicos que levam aos sistemas de
çã o para 51 % daquela cuidada por ambos os pais; em Ammodramus
maritimus e em Junco hyemalis a queda é para 66% e 38%,
respectivamente (Smith et al., 1982; Greenlaw & Post , 1985; Wolf
et al., 1990). Para algumas espécies, a remoção indica que a ajuda
c «k.
* a acasalamento com arenas ainda n ão são bem compreendidos. Todas de machos é mais importante quando o alimento é escasso (Lyon
as quatro hipóteses acima podem ser importantes, com explicações et al. , 1987; Bart & Tornes , 1989). Esses experimentos mostram
t diferentes para espécies diferentes. Medidas recentes de paternida -
t !3 A impressã o digital
do DNA revela o
de, usando a técnica de impressão digital do DNA ( veja mais
claramente que a ajuda do macho pode elevar o sucesso reprodutivo,
mas não é essencial. Se a deserção do macho reduz a produtividade
I* adiante) revelaram amplas diferenças no comportamento de espé- a uma fração de l / x da prole alimentada por ambos os pais, então,
t
t a• sucesso dos machos
.
cies que fazem arenas Por exemplo, no tetraz Lyrus tetrix , as esta ser á a opçã o mais rentá vel para o macho se conseguir acasalar
: 4?
4
226/ CAP ÍTULO 9 SISTEMAS DE ACASALAMENTO /227
com mais de x f êmeas. Mesmo que o sucesso seja reduzido à linhagens domesticadas deste tentilh ão com marcadores genéticos
metade ou menos e o macho consiga apenas duas f de plumagem para estimar a paternidade, experimentos em labo-
êmeas, a rató rio mostraram que o esperma do segundo macho tinha
poliginia ainda assim valerá a pena se ele ajudar a aprovisionar
pelo menos uma das proles. Como previsto, desde que tenham ... acasalamentos preced ência; uma ú nica có pula extra-casal ocorrendo imediatamen -
oportunidade, os machos de pá ssaros canoros desertam rapidamente extra -casal sã o co- te antes da postura fertilizava 84% dos ovos. Isto pode explicar
porque os machos de muitas espécies copulam com suas parceiras
a fim de obter f êmeas extras, por exemplo, quando um macho muns ...
vizinho é removido, e freq ú entemente ajudam a alimentar a prole em retaliação aos seus envolvimentos extra -conjugais e nos
de uma das f êmeas em tempo integral ou de vá rias fêmeas em reencontros, após per íodos de ausê ncia. A velha visão etol ”
ógica
tempo parcial. A poliginia ocasional foi observada em 39% de 122 era que eles estavam “fortalecendo as ligações entre o casal ; mas,
espécies de passeriformes europeus já bem estudados. na verdade o comportamento do macho é vital para assegurar a
Esses experimentos sugerem que a predominâ ncia da monogamia sua, paternidade!
em muitas aves se estabelece não pelo fato de ambos os sexos Em algumas espécies os machos asseguram a paternidade,
conseguirem assim um maior sucesso reprodutivo, como proposto
seguindo a femea de perto durante o per íodo de fertilidade
Monogamia em pás- (“proteção do parceiro”, p.ex. em corvos e andorinhas). Em outras
saros, mantida pela por Lack, mas pela limitação de oportunidades para a poliginia.
As duas restrições mais ó bvias sã o: ( a ) a competi ção intensa entre espécies isto não é poss í vel, porque um dos parceiros precisa
falta de oportunida - defender o ninho, enquanto o outro busca alimento ( muitas aves
de para os machos machos pode dificultar a conquista de uma segunda f êmea; e ( b )
provavelmente, as f marinhas e aves de rapina ). Nestes casos, os machos engajam em
realizarem acasala - ê meas se prejudicam na poliginia com a perda cópulas frequentes para sobrepujar o esperma de seus rivais, às
mentos extras da ajuda do macho e , como previsto, sã o geralmente agressivas
em relaçã o umas as outras, o que pode reduzir as chances de que vezes, centenas de relações para cada postura, evidentemente muito
os seus parceiros participem de um segundo acasalamento ( ver mais do que seria necessá rio para simplesmente assegurar a
abaixo). fertilizaçã o dos ovos. Ainda assim , apesar da proteçã o da pater-
nidade, a frequ ê ncia da paternidade extra-casal pode ser muito alta
( 25-35%) em algumas espécies (Tabela 9.4 ). Por exemplo, no
-
A C A S A L A M E N T O E X T R A -C A S A I S E P A R A S I T I S M O I N T R A E S P E C Í F1- icter ídeo Agelaius phoenicius, Lisle Gibbs e seu colegas ( 1990)
CO DA PROLE notaram que as fertiliza ções extra -casais contribu í ram , em m édia,
com 21 % do sucesso reprodutivo dos machos ( Fig. 9.5 ).
Mesmo quando o macho não consegue uma segunda f êmea, ele Estudos sobre competi ção espermá tica em popula ções naturais
pode ser capaz de elevar o seu sucesso reprodutivo por meios mais tomaram-se um campo de pesquisa vigoroso. As questões chave
sutis. As observa ções revelaram que os machos de muitas espécies a serem solucionadas sã o: Por que h á diferenças tã o grandes entre
de aves consideradas monogâ micas adotavam uma estratégia espécies quanto à frequ ê ncia da paternidade extra-casal (Tabela
reprodutiva mista , n ã o apenas protegendo as pró prias f êmeas e
ajudando-as a cuidar da prole, mas també m fazendo tentativas
furtivas de copular com outras fê meas, especialmente aquelas de Tabela 9.4 Frequê ncia de acasalamentos c de paternidade extra -casal (avaliado por impressão digital do DNA )
machos vizinhos. H á cerca de 10 anos foram feitas as primeiras em vá nas espécies de aves. Birkhead & Moller ( 1992 ).
tentativas de se avaliar o sucesso desses acasalamentos extra-casais
em aves, usando prote í nas polim ó rficas do sangue como marcadores
Porcentagem de Porcentagem de ninha- Porcentagem
de paternidade. Entretanto, na maioria dos casos, as prote í nas não có pulas extra-casal das com paternidade de filhotes com
variavam o suficiente para uma defini çã o precisa. Em 1985, Alec Espécies observada extra -casal pai extra-casal
Jeffreys e seus colaboradores na Universidade Leicester, na Ingla -
terra , descobriram que havia uma enorme variabilidade em certas Fui mar F. Glacialis 2 0 0
porções do pró prio DNA, que poderia ser usada para indicar a Corvo marinho 14 20 18
paternidade sem ambiguidades. Esta técnica , conhecida como
impressã o digital do DNA e explicada no Boxe 9.1 , iniciou uma Abelheiro europeu 4 5 1
revolução nos estudos de campo sobre sistemas de acasalamentos. Martin - pescador 54 35
Silv í deo do bosque 0 0
O estudo de Tim Birkhead sobre os tentilh ões Taeniopygia Silvideo do salgueiro
0
A monogamia nem guttata é um bom exemplo ( Birkhead ei al. , 1988; 1990). 13 0 0
sempre é o que pa- Tiran í deo F.hypolcuca 15 4
Observa ções de campo, na Austrá lia, mostraram que em m édia 5% Chapim P.caeruleus 5 36
rece ... das cópulas das f êmeas ocorriam com machos que n ão eram seus Azul ão
18
2 48 35
parceiros. A impressão digital do DNA revelou que 8% das crias Icterí deo A phoeniceus 47 28
tinham um ou mais filhotes com paternidade extra -casal. Usando Tentilh ão T . guttata 5 8 2
/
228/ CAP ÍTULO 9 SISTEMAS DE ACASALAMENTO
^l]
^
territó rios, entã o a opçã o de uma femea pode ser “estabelecer-se
em um bom território onde há um macho já acasalado, isto é, femeas recém -chegadas, nas quais fixaram transmissores de rádio. ^i
escolher a poliginia ” ou “estabelecer-se em um territó rio pobre com
um macho solteiro ”, isto é, “escolher a monogamia”. Jared Vemer
A seguir, soltaram as femeas em uma á rea de estudo, onde os
territ ó rios dos machos já haviam sido mapeados, para ver como
faziam as suas amostragens antes de se acasalar. A maioria das
>
Outras vezes, elas & Mary Willson ( 1966 ) sugeriram que as femeas poderiam escolher Evidê ncia a favor do
femeas constitu í ram casais num perí odo de 24 horas, após
podem escolher a po- a poliginia se os custos da partilha da ajuda de um macho no
liginia porque os cus- cuidado parental forem menores do que os benefícios do acesso
modelo do limiar da
poliginia : rouxinol
visitarem territórios de três a onze machos, algumas vezes voltando
atr á s para se acasalarem com um macho previamente avaliado.
* I*
tos s ã o compensados a bons recursos, tais como alimentos ou locais de nidificação. Gordon
pelos benefí cios Orians ( 1969) expôs esta idéia com um modelo grá fico, conhecido
das caniças Algumas femeas selecionaram machos já acasalados, apesar da *1
como “modelo do limiar da poliginia”, explicado na Fig. 9.7.
Em muitas espécies, os machos com os melhores territórios são
presença conspí cua de outra femea no território e de terem
amostrado previamente territó rios com machos solteiros. Estas *i
justamente os que atraem a maioria das femeas, como prev ê o
observações mostram que as femeas amostram e escolhem os
territó rios exatamento do modo como foi vislumbrado no modelo 1
modelo. Por exemplo, experimentos com o icter í deo Agelaius
phoeniceus mostram que a adi çã o de alimento no territ ó rio de um
do limiar da poliginia .
As femeas fazem a melhor escolha dispon í vel? Esta é uma * 1i
macho eleva a ocorrê ncia de poliginia ( Ewald & Rohwer, 1982 )
e que os machos com os melhores locais de nidificação também
atraem a maior parte das femeas e antes dos demais ( Orians, 1980 ).
questão mais difícil de responder. Em outro estudo com a mesma
espécie, no Lago Biwa, no Japão, Ezaki (1990) notou que, a cada *
ano, de 30 a 80% dos machos eram poligí nicos, e alguns atraiam
Entretanto, a demonstração de que as femeas estão fazendo a até quatro femeas para os seus territórios, enquanto outros
melhor escolha entre as opções reprodutivas dispon í veis é difí cil , permaneciam monogâ micos ou sequer se acasalavam. Os machos
a menos que se saiba muita coisa sobre os custos da partilha e
sobre as alternativas para elas ( Fig. 9.8 ).
polig í nicos defendiam territó rios com os melhores locais de
nidificação , isto é, juncais densos onde a predação era mais baixa .
»
Pesquisas recentes com o rouxinol -das-cani ças ( Acrocephalus
arundinaceus ) produziram resultados que parecem apoiar o modelo
As fêmeas que optavam pela poliginia, como uma segunda
parceira, aparentemente não eram prejudicadas com tal escolha *
#
232/ CAP ÍTULO 9
SISTEMAS DE ACASALAMENTO / 233
*3
acasalamento. A distribuição de recursos, como locais adequados 4
de oviposição e de alimentação, elevada frequência . A poliginia pode ocorrer porque as fêmeas nà o
t ê m outra opção para se reproduzir (carriça ), porque escolhem a
* LIjj *4
e a
espaço e no tempo, em conjunto, exercemdistribuição de fêmeas no
como os indiv íduos se comportam a fim influ
ê ncias sobre o modo poliginia em um bom território em vez da monogamia em um mal
território (rouxinol-das-cam ças) ou porque sào levadas poliginia
de maximizar o sucesso á
reprodutivo. Restrições imediatas, ídeo Ficedula hypoleuca ). Com frequ ê ncia há
como o modo de fertilização, por engano tiran
també m podem determinar o sistema de
em que predispõem um dos pais ao cuidado da prole.naTambé m
acasalamento, medida
(
conflitos entre os sexos quanto ao tipo de sistema de acasalamento «9 * •
notamos que a evolução do comportamento que hoje observamos
depende do que aconteceu antes. Qual dos sexos
protege a prole
que maximiza o sucesso individual (tiran ídeo Ficedula hypoleuca
accntor Prunella modularis ). Algumas aves Charadniformes apre-
sentam inversão dos papéis sexuais. Diferen as sexuais
ç na disper-
|’
*
no cuidado umparental em peixes c aves ou a evolução da
poliandria em aves Charadriiformes ã são de aves e mam í feros podem estar relacionadas com fatores
*
se levarmos em conta o estado
s o de mais fácil compreensã o
ancestral do comportamento ,
ecológicos.
* § .'
categoriza çã o das esp écies segundo o “sistema de
acasa amento é ú til quando
fazemos compara ções amplas entre Leituras complementares * •
axa ou tipos de h á bitats.
o os os indiv í duos de uma
Entretanto, n ã o devemos esperar que
espécie se Clutton -Brock ( 1991 ) faz uma revisão do cuidado parental c de * s ::
mesma maneira. Enquanto alguns indiv ícomportem
ções ou defendendo i
exatamente da
duos estão fazendo exibi -
recursos para atrair parceiros sexuais, outros
suas liga ções com os v á rios sistemas de acasalamento. Birkhcad
& Mollcr ( 1992) fazem uma revisão da competiçã o entre espermas *
podem estar elevandoJ o sucesso
reprodutivo por meios mais
furtivos e enganosos. No próximo cap ítulo iremos dar uma olhada
e dos sistemas de acasalamento em aves. Kempenaers et al (1992)
mostram que em chapins Parus caeruleus a paternidade extra -casal
*
mais cuidadosa na evolu çã o destas
estrat égias reprodutivas alter- êmea por machos de alta -qualidade. Os
resulta da preferê ncia da f
nativas. seguintes autores fazem boas revisões sobre os sistemas de
acasalamento, em grupos particulares de animais: Bradbury & * |í! r
Resumo
Vehrencamp ( 1977) sobre morcegos, Dunbar ( 1988) sobre primatas,
Wells ( 1977) sobre rãs e sapos, e Thomhill & Alcock ( 1983 ) sobre *T ;
As diferenças no cuidado parental e nos sistemas de acasalamento
entre espécies podem ser correlacionadas com diferenças nas
insetos. Balmford ( 1991 ) faz uma revisão da escolha de parceiros
em arenas.
*B
restrições fisiol ógicas e na ecologia. A fertilização interna e outras I
« iII
-
especializações, como a lactação, predispõem as fê meas ao cuidado
parental, enquanto a defesa territorial , a fertilização externa e a
Tó picos para discussã o
necessidade de que ambos os pais cuidem dos filhotes predipõem 1. Por que a maioria dos mam í feros são polig í nicos enquanto a
os machos ao cuidado parental. maioria das aves sà o monog â micas? ^ V.
Quando os machos n ào realizam o cuidado parental , os sistemas 2. Que dados voc ê precisaria obter para testar o modelo do limiar
de acasalamento são o resultado de um processo em duas etapas, da poliginia ?
no qual as fê meas se distribuem em relaçã o aos recursos e os 3. O modelo de Maynard Smith sobre o investimento parental pode
machos em relação às f ê meas ( como se demonstrou experimen -
*
I
ser testado experimentalmente?
talmente em ratos silvestres, Clethrionomys rufocanus, e em peixes
Thalassoma bifasciatum ). Uma revisão comparativa dos sistemas
de acasalamento de mam í feros mostra como a defesa das f ê meas
pelos machos varia com os tamanhos do grupo e da á rea de a çã o
i
II *
ê meas e com o grau de sazonalidade da reprodu çã o. Algumas
das f
vezes os machos se agregam em arenas, onde as f
» *
formação de arenas.
êmeas exercitam
a escolha de parceiros. Quatro hipó teses são discutidas sobre a «-
*
Quando os machos realizam o cuidado parental ( na maioria das
aves), os sistemas de acasalamento variam dependendo dos custos 1
* *
e benef ícios da deserçã o e do cuidado. A impressão digital do DNA
*
*
m 1 f
Capítulo 10. Estratégias
de Reproduçã o Alternativas ESTRAT ÉGIAS ALTERNATIVAS DE REPRODU ÇÃ O / 245
os
competindo por um recurso escasso, c “ t á tica para
componentes comportamentais da estratégia. Por exemplo, se os
machos jovens de libélulas procuram pelas femeas vagando por
No ú ltimo cap í tulo n ós usamos grandes á reas, enquanto os machos mais velhos defendem
rativa para entender as diferen ç principalmente a abordagem compa- territó rios e esperam que as femeas venham até eles, o termo
cada uma delas atrav és as entre as espécies e caracteriza
mos estratégia descreve o padrão como um todo (“se jovem, vagar,
de um sistema de acasalame
Entretanto, durante os últimos anos ficou nto t í pico. se mais velho, defender um territó rio” ) e o termo tá tica se aplica
diferenç as marcantes no modo muito claro que a “vagar” e “defesa de territó rio”. Embora sob o ponto de vista
espécie competem por recursos como os indiv íduos da existem mesma teórico a distinção seja minuciosa, veremos que geralmente é dif í cil
animal fosse visto se comportandescassos . H á uma d écada,
o de um modo diferente
se um distinguir entre tá ticas e estratégias, por isso preferimos usar a
da população era comum achar do resto palavra estratégia de modo mais flex í vel para descrever qualquer
Quando alguns patos iniciavam que se tratava de uma anormalidade . padr ão comportamental ou estrutura usada por um animal na
as femeas com exibi ções, o cópulas forçadas, em vez de cortejar competição por um recurso escasso.
comportamento era considerado anor Consideraremos três hipóteses principais sobre a ocorrê ncia
mal, um efeito de superpopulação -
em silê ncio no meio de um coro, . Se observá ssemos uma rã - touro de estratégias alternativas dentro de uma espécie, ilustrando com
enquanto outros machos estivessem exemplos cada um de nossos argumentos.
coaxando para atrair as fêmeas, provavelme
fosse um indiv í duo doente ou em repouso nte imaginaríamos que
.
Hoje em dia, sempre que vemos um indiv
coisa diferente ficamos tentados a í duo fazendo qualquer A M B I E N T E E M M U D A NÇ A
«
«
248/ CAP ÍTULO 10
'c
/3 / •: • EEE.
o
c /
/ o < • x s : X
Se duas estratégias observadas na natureza forem um exemplo
/ •• • X de uma EEE , ent ão, no equil í brio, devemos esperar que ambas
/ tenham, em m é dia , o mesmo sucesso, como o gavi ão e a pomba
no nosso jogo hipotético do cap í tulo 7. Esta é uma previsão muito
02 0.4 06 0.8 1.0 1.2 diferente daquelas das seções anteriores, nas quais os indiv í duos
Intensidade da vocalizaçã o do indiv í duo experimental ( N / m '' ) que extraem o melhor poss í vel de um mal negócio ainda assim
obtêm um sucesso menor do que os demais. Consideremos três
Figura 10.2 Como um sapo Bufo calamita
vocalizador. A .intensidade da vocaliza çã o do indiv
. decide sc vai se tomar sat élite ou exemplos com detalhe.
í duo experimental é plotada
contra a intensidade da vocalização de seu vizinho
mais próximo . Prcvê-sc que um
macho se tome sat é lite quando a vocaliza ção de seu vizinho ( a ) Salm ã o : “ nariz de gancho" e “ jacks "
for duas vezes mais alta
que a sua (a á rea a esquerda da linha tracejada ). Os cí rculos
vazios
machos satélites c os c í rculos cheios os vocalizadores. Dados de representam O salmão Oncorhyncus kisutch desova em rios de á gua doce, entre
Arak ( 1988 ).
novembro e janeiro na costa oeste da Amé rica do Norte. Depois
tamanho corporal pode ser fixo durante toda a vida do indiv da desova todos os adultos morrem. Os peixes jovens permanecem
í duo, um ano nos rios antes de migrar para os oceanos. As f êmeas
devido a condi ções precá rias de alimenta ção durante a fase imatura .
Um exemplo é a abelha Centris pallida , em que os machos maiores retomam para se reproduzir com três anos de idade . Para os
pesam três vezes mais que os machos menores ( Alcock et al 1977). machos, entretanto, existem duas trajet órias no ciclo vital poss í veis
Os machos grandes Os machos grandes procuram fê meas virgens na iminê ncia de emergir (Fig. 10.3).
d ninho, patrulhando no solo. Quando encontram uma fêmea pronta
da abelha Centris
pallida sã o cavado-
° emergir, cavam o solo para retirá-la c copulam com ela. É preciso
para
algum tempo para cavar uma sa í da para a fê mea , e durante este tempo “ nariz de gancho”
res, os pequenos fi-
cam pairando no ar outros machos podem ser atra í dos para o local da atividade. Lutas
violentas entre os machos acontecem com frequ ê ncia , mas somente
Cf 1 2 3
os machos maiores sã o capazes de defender sua descoberta.
N ão é nenhuma surpresa que só os machos grandes adotem a MM
estratégia de patrulhar e cavar. Os machos pequenos procuram pelas
fê meas pairando sobre as á reas de emergê ncia, perseguindo no ar
as fêmeas que escapam dos machos cavadores. Os machos de
9 1
“ jacks”
2
o
tamanho intermedi á rio podem adotar ambas as estrat égias de cavar
ou pairar no ar. Observa ções mostraram que os machos grandes tê m,
claramente, maior sucesso de acasalamento e é prov á vel que os Fig. 10.3 Existem dois ciclos vitais em salmões Oncorhyncus kisutch a maturidade
machos menores sejam forçados a adotar a estrat égia de ficar pairando precoce aos dois anos, como pequenos “ jacks” , ou a maturidade retardada , aos tr ês
durante toda a vida, para extrair o melhor possí vel de um mal negócio. anos, como um grande “ nariz de gancho”. O termo “ nariz de gancho apareceu
por causa da forma exagerada do rostro e dos dentes nos indiv íduos grandes, que
Todos estes exemplos são de estraté gias que dependem do sào usados em lutas. Ao contrá rio, os “ jacks” nã o possuem caracteres sexuais
fen ótipo do indiv í duo: por exemplo “se for grande, lute; se for secund ários e sào relativamente cr í pticos nos locais de reproduçã o . Ambas as
pequeno, comporte-se furtivamente”. formas morrem após a reprodução, assim como as fêmeas. Dados de Gross (1985).
250/ CAP Í TULO 10
ESTRAT ÉGIAS ALTERNA TIVAS DE
REPRODU ÇÃ O / 251
*í
dcs dc empregar a estrat
égia furtiva . Mais c mais os “ jacks
reprodutivo desta
” I
Os machos pequenos, chamados de “jacks”, atingem a
maturidade aos 2 anos, enquanto os outros, chamados dc “ nariz
seriam for ç ados a lutar , e a m é dia do sucesso
Por outro lado, qualquer decréscimo na
estratégia decresceria . ” aumentaria as chances individuais de
«* 1
de gancho”, est ão maduros depois dos três anos de idade. Os
“nariz de gancho” podem ter duas ou tr ês vezes o tamanho dc
proporção dos “ jacks
, e assim, a m édia do sucesso reprodutivo
adotar a estrat é gia furtivatipo de argumento serve para os “ nariz *1 *
aumentaria”. O mesmo TI
'
um indiv íduo “jack”.
també m diminuiriam com o aumento da
Duas estrat égias de gancho ; os ganhos “ nariz de gancho” e do n ú mero de lutas.
adotadas
Nos locais de reprodu çã o as f ê meas escavam os ninhos no
proporção de indiv í duos , permitir que surjam estratégias alter- *
•
pelos leito pedregoso dos rios. Os machos “ nariz de gancho” t êm o
Isto pode, teoricamente . 10.5 ). Se as estrat é gias alternativas
machos de salm ão
coexistem em
rostro alongado e dentes maiores e lutam para conseguir as fê meas
em desova. Os vencedores fertilizam os ovos extemamente, ( Fig
nativas de ciclos vitais um polimorfismo está vel em salmões, 8*
m i "'
equil í brio quando s ã o liberados no ninho. Ao contr á rio, os pequenos salm ões dos machos representam ao longo de toda a vida dos “ jacks”,
“jacks” não têm caracteres sexuais secundá rios e são relativa- então o valor adaptativo ”, deveria ser igual nas frequ ê ncias
*
mente crí pticos nos locais de reprodução. Em vez de lutar pelo como dos “ nariz de gancho sã o observadas.
acesso às fêmeas eles usam de estratégias furtivas. Eles se com que as estrat é gias
escondem atrás das pedras para fugir da agress ã o dos “ nariz de Gross ( 1985 ) calculou o
sucesso reprodutivo da seguinte i»
gancho” e sorrateiramente chegam bem próximo das fêmeas de sobreviv ê ncia , usando indiv í duos mar-
durante a libera ção dos ovos. A proximidade da f ê mea determina maneira. As medidas 13 por cento dos salm ões “ jacks
” 48
<
as chances de fertilizar os ovos. Como a densidade dos salmões cados, mostraram que entre a migra ção para o oceano e o
“jacks é alta demais para que todos tenham sucesso com esta sobreviveram no per í odo o como adultos. Para os salm ões de
retomo para a reprodu çã
estratégia, alguns sã o forçados a lutar. Da mesma maneira, os mais tempo no oceano antes de
“nariz de gancho ” també m tentam conseguir as fê meas de modo
furtivo. As observações mostram que os machos menores têm
“ nariz de gancho , que ficam
retomar,
locais de
a taxa de
reprodu
”
sobreviv
çã o , os
ê
“
ncia
jacks
foi de apenas 6 por cento. Nos
” estiveram reprodutivamente
W \
»
mais sucesso com as estrat égias furtivas, e os machos maiores
ativos durante 8 ,4 dias , em m é dia , e os “ nariz de gancho”
com as lutas ( Fig. 10.4 ). de oportunidades para
A seleçã o dependen- A diferen ç a entre as estrat é gias dos machos parece ser gen é tica . 12 , 7 dias. Pressupõ - e se que o n ú mero
gastos nos locais de
%
Genes que codificam para uma estratégia vital inferior em termos a desova seja proporcional aos tempos “ jacks ” e dos
te da frequ ê ncia
manté m o equil í brio de sucesso reprodutivo deveriam ser eliminados do conjunto de
genes pela seleçã o natural. Como poderemos, ent ã o, explicar a
reprodu ção. As dist â ncias m é dias dos salm ões
“ nariz de gancho” às fê meas em desova (calculada a partir *
coexistê ncia das duas estrat égias? A hip ótese que parece mais
plaus í vel é que as estratégias são mantidas por seleção dependente
de frequ ê ncia , de modo que o sucesso reprodutivo m é dio de cada
uma delas é o mesmo. Por exemplo, um aumento dos “jacks” jacks”
na popula ção aumentaria a competição entre eles pelas oportunida-
/“ 1
E
o
o
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-oo—
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E
X
200
• furtiva ; “ nariz de gancho” !
£
o
_i
Proporção de machos de “ nariz de
%
25-29 35 39- 45- 49 55 -59 65- 69
Tamanho do corpo do macho (cm ) gancho” na popula ção 0
Fig. 10.5 Relação hipotética entre o sucesso de uma estratégia (e.g. “ nariz dc
Fig 10:4 Proximidade dos machos às fê meas em desova e uso da estrat é gia de luta
ou furtiva em salm ão Oncorhynchus kisutch. A estratégia de luta é usada mais
efetivamente por machos maiores e a estratégia furtiva pelos machos pequenos .
gancho” versus “ jack” em salm ões) e sua frequ ê ncia na população. O sucesso de
uma estratégia é maior quando é rara. A seleção dependente de frequ ência levava
à manuten ção das proporções das duas estrat é gias em x , quando o sucesso
*
%
Dados de Gross ( 1985 )
reprodutivo de ambas é igual.
%
%
*m
252/ CAPÍTULO 10
ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS DE REPRODUÇÃ O /253
^
O sucesso reprodutivo relativo durante
dos salm ões “jacks” e “ nariz de gancho”
_
Sucesso dos “ jacks ” sobrevivê ncia
nariz de gancho”.
todo o per
é:
í odo de vida
W
reprodu ções W sucesso de
Sucesso dos “ nariz
de gancho”
at é a maturidade/ \ao longo da vida .)
/ \acasalamento Macho lutador Macho dispersor
_ 0, 13 X
8,4 0,66
( b)
0,06 12,7 Fcmea
= 0,95
Estes cá lculos sugerem que os valores adaptativos sào de fato
equivalentes.
Estratégias alternativas similares existem no peixe- lua Lepomis
macrochirus, que se reproduz em col ó nias nos lagos de á gua doce
da América do Norte ( Dominey 1980; Gross 1982 ). Alguns
machos atingem a maturidade aos 7 anos de idade, quando
Machos paternais e defendem territ ó rios e constroem ninhos para a desova das fê meas ,
infié is em peixes-sol Estes machos são pais que cuidam dos ovos e dos filhotes. Alguns
machos atingem a maturidade aos 2 anos de idade e são
“ furtivos”: nã o constroem ninhos e tentam fertilizar
os ó vulos
que as f êmeas colocam nos ninhos de outros. Os indiv í duos
furtivos e pequenos nadam rapidamente pelo substrato e dã o
carreiras até os ninhos onde as fê meas estão desovando, liberando
seu esperma quando passam por cima do ninho. Os indiv í duos
furtivos de tamanho grande mimetizam as cores e o comporta -
mento das f ê meas, entram lentamente nos ninhos e tentam se 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9 1.0
inserir entre o macho e a fê mea em desova, liberando seu esperma
sobre os ó vulos. Provavelmente, as diferentes estrat égias dos Fra ção de machos alados
machos, pais e furtivos, são um polimorfismo genético (como
no salm ão ), e mais uma vez, os cá lculos sugerem que o sucesso Fig 10.6 (a ) Dimorfismo de machos em vespas da figueira . Alguns machos tem
reprodutivo das duas é semelhante ( Gross & Chamov 1980 ). cabeç as pequenas e podem voar; alguns n ã o voam e t ê m mand í bulas enormes,
capazes de cortar outro macho ao meio. (b) Para dez espécies de vespas da figueira,
(b) Vespas da figueira: lutadores e dispersores existe uma boa rela çã o entre a fraçã o de machos alados na popula çã o e a fração dc
f ê meas que abandonam o figo natal antes de copular Uma vez que estas fê meas se
Outro exemplo dramá tico de dimorfismo entre machos da mesma acasalarã o com machos alados, a igualdade das duas fra çõ es revela que o sucesso
espécie ocorre em algumas vespas da figueira , Idarnes spp. de acasalamento dos dois morfos é igual. Dados de Hamilton ( 1979 ) .
( Hamilton 1979). Alguns machos não possuem asas e alocam todos
seus recursos para as lutas; eles t ê m cabeças e mand í bulas estratégias deve ser dependente da frequ ê ncia. Se a maior parte
grandes, podem cortar outra vespa ao meio. Estes machos Machos lutadores e dos machos dispersar, os indiv íduos que permanecem nos figos
permanecem nos figos em que nasceram e lutam para copular dispersores da vespa têm um alto sucesso reprodutivo porque copulam com as f ê meas
com as fê meas recém -emergidas que se desenvolvem das larvas da figueira coexistem antes da emergê ncia . Se a maior parte dos machos for á ptera,
dentro do figo. Outros machos são alados e alocam seus recursos em equil í brio a competi ção pelas fêmeas dentro dos figos ser á alta e qualquer
para dispersão; tê m cabe ças e mand í bulas pequenas, n ã o são macho que dispersar terá acesso a todas as f ê meas que emergem
agressivos e voam para se acasalar com as fêmeas que deixam sem ter copulado. Os ganhos dos machos com as duas estratégias
as frutas ( Fig 10.6 ) também dependem da dispersão das f ê meas entre os figos. Por
N ão se sabe se a diferença entre as estraté gias dos machos exemplo , nas espé cies em que existe uma grande chance de v á rias
é genética, mas é fácil notar que os ganhos com cada uma das êmeas emergirem num mesmo figo natal de um macho, as
f
^54/ CAP ÍTULO 10 ESTRAT ÉGIAS ALTERNATIVAS DE REPRODU ÇÃO / 255
podem cvcntualmentc
vantagens serão altas para aqueles que lutam. Por outro lado, se houver outra íemea usando o buraco as duas
encontrar e iniciar uma luta , da qual apenas uma sairá vencedora
muito poucos ovos forem colocados em cada figo, pode ser que se
no buraco. Mesmo que uma íemea
o macho não encontre femeas para copular e será muito lucrativo c se reproduzirá com sucesso
$t uma intrusa pode se juntar a ela ( Brockmann
-
Y . ser um macho dispersor. Então, espera -se que a proporção relativa cave um
et ai 1979).
buraco ,
,
1 entre machos que lutam e que dispersam dependa de como as o destas estratégias alterna -
femeas colocam seus ovos. Como podemos explicar ”a evoluçã
Hamilton ( 1979 ) encontrou que as proporções entre machos tivas de “cavar -
" e “ invadir ? Pode se prontamente perceber que
dependente da frequência. Imagine
m que lutam e que dispersam em diferentes espécies eram tais que o sucesso de ambas poderia ser o estejam cavando o tempo todo
que todas as femeas da popula çã
o sucesso reprodutivo médio das duas estratégias tendia a ser igual com as tentativas anteriores bem
m ( Fig 10.6 ). Assim, este é mais uma exemplo em que estrat é gias Haverá muitos buracos vazios
çã o, e valeria a pena para qualquer
reprodutivas alternativas em machos coexistem como uma EEE. e mal sucedidas de reprodu
prontos, pois economizaria
1II femea entrar em um destes buracos
de escava ção . Por isto , não é prová vel que cavar seja
o tempo " o se espalharia por
As femeas da vespa (c) As estratégias de nidificação nas fêmeas de vespas cavadoras uma EEE. Contudo a estratégia “invadir nã
cavadora podem ca- cavadoras e invasoras toda a população porque se todas as vespas a adotassem acabariam
var buracos ou en - por dividir buracos e haveria lutas e valeria a pena que femeas
As femeas da vespa cavadora dourada, Sphex ichneumoneus,
i trar em buracos ja colocam seus ovos em buracos subterrâ neos que aprovisionam se afastassem e cavassem seu pr ó prio buraco, para diminuir a
é imprová vel que
cava os com esperanças, o alimento de suas larvas ( Fig 10.7 ). Jane chance de ter que dividi -lo. Assim també m
EEE . Entretanto , porque cada estratégia é a
1:
Brockmann descobriu que as femeas podem conseguir buracos
de duas formas: ou cavam um para si mesmas, ou entram em
“ invadir "seja uma
melhor quando rara ( assim como o gaviao
"
e a pomba ), poderia
de “ invadir ~
" c “cavar ” ( uma EEE),
mm um buraco já cavado por outra. Cavar um buraco é um trabalho haver uma mistura está vel
duro, e consome, em mé dia , 100 min ., assim invadir um buraco resultante da seleção dependente da frequência , em que o sucesso
já pronto parece uma boa estratégia porque a femea consegue das duas estratégias é igual .
um espaço sem gastar tempo e energia cavando. A vespa intrusa Brockmann et ai (1979) mediram o sucesso das duas
nã o parece perceber se o buraco em que entra está vazio A mesma femea pode estrat égias em termos de n ú meros de ovos colocados por unidade
I (abandonado pela vespa que construiu ) ou ocupado. Se estiver ser tanto cavadora de tempo. Como a mesma femea pode empregar ambas estrat égias,
vazio, ela pode aprovisionar e colocar os ovos em paz, mas se como invasora nao puderam medir o sucesso comparando indiv í duos invasores
e cavadores. Em vez disto, eles mediram o sucesso das decisões
de “invadir" e “cavar". Voltando ao jogo do gavi ã o e da pomba
do cap í tulo 7, lembramos que uma EEE pode aparecer como um
polimorfismo, de modo que alguns indiv í duos sempre atuam como
gaviões e outros sempre como pombas (como nos casos das vespas
da figueira e do salm ão , descritos acima ), ou quando cada
indiv íduo atua hora como pomba, hora como gavião, na proporçã o
que satisfaz a EEE. Assim , se duas estratégias são um exemplo
de uma EEE , podemos prever que as decisões sobre “cavar"
ou “ invadir" devem ter o mesmo sucesso.
Para testar esta hipótese, dados sobre a comportamento de
nidificação de 68 vespas femeas foram analisados. Este trabalho
de campo baseou -se em 1500 horas de observação e forneceu
um relato quase completo sobre as histó rias de 410 buracos.
Calcular o n ú mero de ovos colocados por unidade de tempo com
as estratégias cavadores versus invasores foi um exerc í cio
complicado. Brockmann et al . ( 1979) precisaram descobrir os
poss í veis resultados das duas decisões para poder calcular o
sucesso total ( Fig 10.8). Por exemplo, se uma fêmea que estava
Fig 10.7 Uma femea da vespa cavadora, Sphex ichneumoneus, na entrada de um entrando em um buraco ocupado fosse depois expulsa sem ter
buraco. Foto de Jane Brockmann. tido a chance de colocar seus ovos, isto deveria ser computado
256/ CAP ÍTULO 10
ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS DE REPRODUÇÃ O /257
Decisões
Consequ ê ncias m
1 Quais são as causas das diferenças entre os comportamentos?
Diferen ças entre comportamentos podem ser decorrentes de
Abandona diferenças gen é ticas, como suspeita -se nos casos do salmão e
Cavar
do peixe-lua ou, simplesmente devido a diferenças ambientais. Por
exemplo, todos os machos da abelha Centris pallida sã o
Fica só potencialmente “ pairadores” ou “cavadores”. O comportamento
bunda um ninho
que adotam depende simplesmente do tamanho corporal , que
Fica junto depende das condi ções de alimentação no est á gio larval A interação
Entrar entre o gen ó tipo e o ambiente na determina çã o das estrat égias
que serão adotadas pode ser complexa. Por exemplo, alguns
— Junla -sc
machos dos grilos Gtyllus integer cantam para atrair as femeas
g. 10.8 A femea da vespa cavadora pode esfregando suas asas anteriores. Outros machos ficam parados
em um buraco ja pronto. A decisão sobre decidir entre cavar um buraco ou entrar em sil ê ncio nas proximidades e tentam interceptar as femeas que
cavar pode ter um dos seguintes resultados se aproximam! Experimentos sobre reprodução mostraram que os
a vespa pode abandonar o buraco, pode
começar um ninho e permanecer sozinha
ou outra vespa pode juntar -se a ela. A
decisão sobre entrarem um buraco també m comportamentos “cantor ” e “saté lite” sã o herd á veis, mas, ainda
tem alguns resultados possí veis: uma vespa
pode juntar-se a outra em um ninho, que diferenças genot í picas produzam diferen ças no canto, o quanto
ou pode encontrar um ninho vazio só para si e , um indiv íduo canta també m varia com o ambiente. A frequência
assim , acabará mdificando sozinha
ou na companhia de uma outra vespa . Para calcular individual de canto varia , por exemplo, com a hora do dia e com
os benefí cios totais por unidade
de tempo para cada uma das decisões, é
preciso medir os benef í cios e o tempo gasto o grau de isolamento de outros machos ( Cade 1981 ; Cade &
para cada resultado Dados de Brockmann et al ( 1979 )
Wyatt 1984 ). Os indiv í duos podem mudar de “cantor” para
“sat élite” , mas seus gen ótipos podem determinar o grau de
como tempo gasto “ invadindo” sem conseguir nenhuma recom propensã o para responder aos sinais ambientais.
pensa . - 2 Os ganhos das diferentes estratégias são iguais cu desiguais ?
Os resultados mostraram que a decisão da femea de “ invadir” Dificuldades em Aqui existem dois problemas. Primeiro, a defini ção de alternativas
ou “cavar ’ não era condicionada por nenhum carácter fenot í pico demonstrar ganhos exige cuidado. Variações cont í nuas em padrões comportamentais
consp í cuo, como o tamanho corporal , nem pelo ambiente , como iguais podem ser a situação mais comum na natureza ( p. ex. variação
a é poca da esta ção reprodutiva. Al é m do mais, não foi encontrada no tempo de permanência das moscas de esterco sobre as fezes
nenhuma diferença significativa entre as taxas de sucesso das duas da vaca, cap í tulo 7 ) e estas podem ser divididas arbitrariamente
estrat é gias : 59 por cento das decisões foram “cavar”, e a m é dia pelo observador em categorias discretas . Em segundo lugar, há
do sucesso reprodutivo desta estratégia foi 0,96 ovos colocados dificuldade em se testar uma teoria que prevê igualdade de sucesso,
a cada 100 horas; 41 por cento das decisões foram, “ invadir” , como a teoria da EEE. É imposs í vel demonstrar estatisticamente
e o sucesso reprodutivo neste caso foi 0 ,84 ovos a cada 100 que duas estraté gias t ê m exatamente os mesmos ganhos; tudo
horas. o que podemos fazer é inferir a igualdade se n ão conseguirmos
Assim , a hipótese que melhor explica os dados é que cavar encontrar uma diferença significativa . O problema é que quanto
e invadir são uma EEE mista . As vespas parecem estar indivi - menor for o tamanho da amostra , menor a probabilidade de
dualmente programadas para seguir uma regra simples como “cave encontrarmos uma diferença significativa , ou seja, alguns exemplos
com uma probabilidade p , invada com uma probabilidade ( 1 - p )'\ de EEE podem estar apenas refletindo amostragens pequenas.
) O valor de p foi fixado , evidentemente, pela sele ção dependente Outro problema enfrentado nos trabalhos de campo é que,
de frequ ê ncia em 0,59, logo as duas decisões t ê m o mesmo embora geralmente seja fácil medir os benefí cios, como o n ú mero
) sucesso reprodutivo. de femeas atra ídas, os custos são mais difíceis de avaliar. Por
exemplo, mesmo que machos saté lites consigam menos femeas , o
As duas estraté gias beneficio l í quido pode ser tão grande quanto o dos vocalizadores,
resultam em ganhos Problemas na medição dos custos e benef
ícios de estratégias porque a estratégia implica em custos menores. Cade ( 1979)
) similares alternativas mostrou que os cantos mais altos dos grilos não somente atra íam
mais femeas, mas també m mais satélites e uma mosca parasitòidc,
> Sempre que encontrarmos indiv í duos em uma mesma popula ção
adotando estrat égias diferentes é conveniente formular duas
Euphasiopteryx ochracea , que coloca suas larvas no corpo dos
> questões ( Caro & Bateson 1986):
grilos machos ou mesmo sobre as caixas de som que reproduzem
os seus cantos (Tabela 10.1 )! Quando Cade amostrou os grilos ele
>
I
258/ CAP ÍTULO 10 ESTRAT ÉGIAS ALTERNATIVAS DE REPRODU ÇÃO /259
*
mr
dependente de frequência . O polimorfismo pode . aparecer
( p cx. salmões
por êr
Tabela 10.1 Quando o canto dc um macho do grilo
Gryllus integer è reproduzido diferen ças gen é ticas entre os morfos
causa de
-
por um alto falante, nào apenas as femeas sào atra í
das, mas também machos satélites
c moscas parasit óides que acabam matando o grilo. Dados dc Cadc ( 1979).
m pode resultar de diferenças
c peixes- lua). Todavia, també algumas espécies, o sexo é
exemplo , em *
ambientais . Por
determinado pelo ambiente , os machos ( uma estratégia ) surgem
uma certa temperatura e as femeas
*
Atra ídos para a caixa dc som de ovos incubados
(a outra estratégia )
acima
de ovos
de
incubados abaixo desta temperatura *
Grava çã o N ° dc femeas N° dc machos
sat é lites
N° dc moscas
parasit ó ides
( p. ex. jacar é s, Ferguson
veja revisã o em Buli , 1980
& Joanen 1982; peixes, Conover 1984;
). No equl í brio, o sucesso reprodutivo *
Silê ncio
Canto dc 80dU
0
7
0
7 3
0 de machos e
para a diferencia
femeas
çã o
deve
do
ser igual e o limiar de temperatura
sexo deve evoluir de modo que o *
Canto dc 90dli 21 machos e femeas ocorra em proporções adequadas
16 18
nascimento de
para produzir o .. - mesmo
.. sucesso
égias
para ambos os sexos.
diferentes em proporções que
»
encontrou que 11 em 14 machos cantores estavam parasitados por 2 Os indivíduos exibem estrat por exemplo , em vespas
satifazem a EEE mista . Isto ocorre ,
larvas desta mosca, enquanto apenas 4 em 29 satélites estavam cavam ou invadem um buraco
Os custos devem ser mlectados. O parasitismo deve impor sé rios custos aos vocalizadorcs caçadoras em que os indivíduos ou , ter levado cada indiv í duo %
medidos tanto quan- pronto. A seleção poderia , teoricamente
porque os grilos sempre morrem quando a mosca adulta emerge dc em propor çõ es fixas , fazendo com
to os benef í cios seu corpo ( Fig 10.9). Deste modo, é difícil testar a validade das três a exibir as duas estratégias mesmo sucesso .
que “cavar e ” “ invadir ” produzam o
hipó teses para explicar a ocorrê ncia dos comportamentos “cantar”c terceira possibilidade é que,
“satélite” em grilos. Ambas as estratégias podem persistir porque 3 Avaliação do comportamento. A
existir uma regra fixa, cada indiv íduo possa ter um
em... vez de
cada uma delas pode ter melhores resultados em um tipo diferente
dc ambiente, cantar em locais e momentos em que as moscas
.
comportamento flex ível, baseando suas decis ões na avaliação do i
çã o estão fazendo. Por
parasit ó ides sã o escassas, e agir como saté lite quando os parasitas que os demais indiv í duos da popula
seja livre para escolher entre <a
são abundantes. Altemativamente, pode ser que cantar seja a melhor exemplo, imagine que cada rã macho
” e “sat é lite”. Se todos os
maneira de maximizar o sucesso reprodutivo, enquanto agir como os comportamentos “ vocalizador %
demais estiveram vocalizando poderá valer a pena ser um sat élitea
,
satélite seja um reflexo de má s condições f í sicas do indiv í duo, que
ainda assim está extraindo o melhor possí vel de um mal negócio. enquanto que se todos os outros estiverem em sil ê ncio valerá
pena vocalizar. Teoricamente, o sucesso igual poderia acontecer
<
Finalmente, as duas estratégias podem coexistir cm equil í brio depen-
dente da frequ ê ncia , cada uma delas, em m édia, produzindo um se cada indiv í duo simplesmente variasse a pró pria estratégia em i
sucesso igual , sendo que “cantar” traz grandes benefí cios c altos rela ção à s estrat égias adotadas pelos demais. I
custos, e agir como “satélite” poucos benefícios c baixos custos. Um caso de equil í brio que, possivelmente , surgiu desta maneira
Sempre que duas estratégias produzem o mesmo sucesso, é o da rã verde, Hyla cinerea. N ão existe nenhuma diferen ça i
convé m considerar que isto pode ocorrer de três maneiras. de tamanho entre os machos vocalizadorcs e satélites, e os
1 Polimorfismo. Indivíduos diferentes podem apresentar estratégias
diferentes e a frequê ncia dos morfos será fixada pela seleção
indiv í duos freqiientemente alternam entre as duas t á ticas que,
aparentemente, produzem o mesmo sucesso na conquista de
<
fê meas ( Peml et . al. 1982 ).
\
É claro que a avalia ção també m pode estar envolvida quando l
os satélites estão extraindo o melhor possível de um mal negócio,
como acqntece com o sapo Bufo calamita .
Concluindo, embora esteja claro que existem v á rios caminhos
evolutivos para a manifestação de diferenças comportamentais <
entre os indiv í duos de uma população, sempre haverá problemas
na hora de classificarmos quais hipóteses se aplicam melhor a
um exemplo em particular. E necessá rio obter medidas de custos
e de benefícios, conjuntamente com informa ções sobre as
restrições individuais, tais como a idade e o tamanho corporal,
antes que possamos distinguir entre a estrat égia “o mehor poss í vel
Fig 10.9 Os machos vocalizadorcs dc grilos atraem n ào apenas as femeas, mas de um mal negócio” dos casos de EEEs. A Tabela 10.2 resume
també m moscas parasit ó ides que colocam suas larvas sobre o grilo, que, eventual - os exemplos de estratégias alternativas que discutimos até agora.
mente, provocam a sua morte.
260/ CAP ÍTULO 10
ESTRATÉGIAS ALTERNATIVAS DE REPRODU ÇÃ O /261
Abelha sobrevoar
U
- F ê mea
8
u-
cavar
Salm ão “ nariz de gancho” “jack”
Peixe- lua “ pai” furtivo
Vespa da luta dispersã o
Figueira
Vespa cavadora cavadora invasora Idade ou tamanho Idade ou tamanho
Fig 10.10 ( a ) Quando a competiçã o entre machos é intensa somente os maiores
indiv íduos conseguem se acasalar com sucesso. Embora a fecundidade da íê mea
Mudan ç a de sexo como uma estrat égia alternativa també m aumente com o tamanho ( femeas maiores conseguem pôr mais ovos) a
influ ê ncia do tamanho do macho sobre o sucesso reprodutivo é muito maior. Nestas
condições pode valer a pena para um indiv í duo pequeno ser uma í cmca, porque
MUDANDO DE F Ê MEA PARA MACHO todas as femeas copulam, e tomar-se um macho apenas quando for suficientemcnte
gande para competir com sucesso. Baseado em Warner (1975). Um exemplo é o
Sempre que houver uma competição intensa entre os machos pelas peixe labro de cabeça azul ( veja texto) . ( A ) Quando a competi çã o entre machos é
íemeas, geralmente os machos maiores e mais fortes obterão maior menos intensa , a fecundidade da femea pode ser mais dependente do tamanho
sucesso reprodutivo. N ós vimos que os machos jovens e pequenos corporal do que a fecundidade do macho Então, pode valer a pena para um indiv íduo
encontraram uma maneira de evitar a competição direta com rivais começar a vida como macho c mudar para í cmca quando ficar maior c mais velho
mais fortes, adotando estraté gias furtivas de acasalamento. Entretan - Baseado em Warner ( 1975 ) . Um exemplo é o peixe da ané mona, Ampluprion ( veja
to, h á outra estraté gia mais surpreendente dos jovens superarem as texto ).
desvantagens do pequeno tamanho corporal : começar a vida
reprodutiva como íemea e , mais tarde, quando atingir um tamanho Se os maiores machos forem removidos dos recifes, os pró ximos
grande o suficiente para ser um bom competidor, tomar-sc macho ê meas ) na população mudar ão de sexo e se
indiv í duos maiores ( f
( Fig. 10.10a ). Este sistema de mudan ça de sexos é comum em peixes tomar ão machos com colorido brilhante.
e é conhecido como hermafroditismo protog í nico. Tal estrat é gia será Esta hist ó ria é um pouco mais complicada , porque existem
favorecida sempre que um indiv í duo se reproduzir melhor como diferenças de comportamento em recifes de tamanhos diferentes
êmea, quando for pequeno, e como macho, quando for grande, e
f (Warner & Hoffman 1980). Nos recifes maiores, onde as
quando o sucesso reprodutivo ao final da vida for maior se o populações de labros podem chegar a 16.000 indiv í duos, os
indiv í duo mudar de sexo, em vez de permanecer com o mesmo sexo
a vida toda ( Ghiselin 1969; Warner 1975 ). Como foi mencionado no ... embora alguns in - poucos machos grandes t ê m , potencialmente , um sucesso
div í duos permaneçam reprodutivo enorme . Todavia , quando muitas f ê meas são atra í das
cap í tulo 8, o problema da mudan ça de sexo está intimamente para poucos machos, també m aparecem boas oportunidades para
relacionado à razão sexual na populaçã o . Ambos são partes da machos ao longo de que machos pequenos adotem estratégias furtivas. Nos recifes
questão mais ampla de alocação sexual. toda a vida grandes alguns indivíduos nascem como machos e permanecem
O peixe labro de cabeça azul , Thalassoma bifasciatum , vive em assim durante toda a vida ( machos prim á rios). Enquanto ainda
recifes de coral no Atl â ntico oeste. Os machos t ê m coloração são pequenos, estes machos podem tentar có pulas furtivas,
brilhante e defendem territ ó rios no recife. As fê meas, com colora ção entrando no territó rio de um macho grande para participar da
opaca, escolhem os machos maiores e mais brilhantes para o desova das f ê meas atra í das para l á, ou podem nadar em cardumes
No labro de cabeça acaslamento. O maior macho do recife pode participar de desovas 40 de machos pequenos, que perseguem as f êmeas, estimulando-as
azul, as femeas se vezes ao dia , no pico da estaçã o reprodutiva. Esta espécie é a desovar com o grupo.
transformam em hermafrodita protog í nico, como era de se esperar pelo fato de Nos recifes pequenos a maior parte das f êmeas é atraída para
machos quando sã o somente os indiv í duos maiores serem machos bem sucedidos. Os os machos maiores, mas o nú mero má ximo que conseguem atrair
maiores •••• peixes começam a vida reprodutiva como fê meas, enquanto sã o é muito menor do que nos recifes grandes, pois a população é
pequenos, e se transformam em machos quando ficam maiores pequena, talvez somente 20 labros. Logo, existe menos oportu -
( Warner et al. 1975 ). A mudan ça de sexo é controlada socialmente. nidades para as estratégias furtivas, e os machos pequenos podem
262/ CAP ÍTULO 10
ESTRAT ÉGIAS ALTERNATIVAS DE REPRODUÇÃO /263 %
fríí i * •
tc. Se a
cr totalmente exclu ídos
da reprodução pelos machos maiores ,
estes recifes pequenos existe
que muda de sexo , come uma vantagem para o indiv íduo
1979). Tal como nos labros, o sexo é controlado socialmcnmacho
êmea é
f removid a , um outro indivíduo menor se junta ao
ele muda de sexo e passa a pôr os ovos, enquanto o recém chegado
e
*11' i
quando tiver aumenta
çando como fê mea e se tomando macho
do de tamanho. Warner & Hoffmann ( 1980)
sugerem que tanto os indiv
í duos que mudam de sexo, como os
machos primá rios sào mantidos nesta
nas vantagens para essas estrat espécie devido à s variações
atua como macho (Fricke & Fricke 1977).
diferentes.
égias cm recifes de tamanhos
Quando houver vantagem para determinhermafro
menores podem agir furtivam ente ou ser
ado sexo, os indivíduos
ditas sequenciais, *
de sexo quando aumenta m de tamanho (como em alguns
MUDAND O DE MACHO PARA F
mudando elefantes marinhos nã o começam a
Ê MEA peixes ). Por que os jovens
Mais raramente, um indiv íduo macho quando vida como ê
f meas e depois que Ficam maiores e mais fortes não
se em f pequeno transforma-
êmea quando aumenta de tamanho (hermafro se transformam em machos , como faz o peixe labro? A explicação
prot â ndrico). Este tipo de ditismo
mais prová vel é que nos mam í feros o sexofertiliza é mais diferenciado
O peixe da an é mona mudan a
pode mudar o sexo se a competição entre machos ç de sexo pode ser favorecido do que em peixes ; por exemplo , ocorre ção interna e
não for tào intensa, c o tamanho a gravidez e
de macho para f é- do macho tiver pouco
efeito o sucesso reprodutivo ( Hg elaborado cuidado com a prole pela fêmea durante
mea, quando se tor- 10.10b). Neste caso, um indivsobre í duo pode se reproduzir melhor a amamenta çã o. Por isto pode ser muito custoso mudar de sexo.
que mudam de sexo têm
na maior
como macho quando é pequeno, porque
pode participar da desova Todas as espécies de peixe conhecidas .
de algumas das fêmeas orgãos sexuais relativam ente simples e a fecunda çã o é externa
maiores e mais fecundas. marinho , é
Um exemplo de peixe que muda o Além do mais, para um mam í fero , como o elefante
o peixe da ané mona ou peixe palhaç , sexo de macho para f êmea e
preciso ter experiê ncia para ser um macho. Pode ser melhor abrir
o Amphiprion akallopisos , que
vive nos recifes de coral do Oceano
í ndico. Os casais mão da reprodução quando jovem e, em vez disto, alocar todos
vivem em estreita simbiose com as ané monas do mar c, deste peixe os recursos para o crescimento e aprendizado das técnicas de
n ã o h á espa ço para mais do que dois peixes em cada geralmente, defesa do harém (Warner 1978).
an é mona ( Fig
10.11). Na verdade, o há bitat força-os a ser monogâmicos. O
sucesso reprodutivo do casal é limitado mais pela capacidade da
fêmea produzir ovos do que do macho produzir esperma, de modo Resumo
que é melhor para ambos se o indiv íduo maior for a f êmea ( Fricke Indiv íduos de uma mesma espécie diferem na maneira como
competem por recursos, tais como alimento, parceiro ou locais para
nidificação. Estratégias diferentes podem ser favorecidas em ambi-
entes diferentes ( p .ex . engasga gatos opacos e vermelhos). Algumas
vezes, tamanho e força sào um pré-requisito para determinado
comportamento, de modo que os maiores indiv íduos se exibem e
lutam para atrair os parceiros , e os indiv í duos pequenos empregam
estratégias furtivas, que permitem extrair “o melhor possí vel de um
mal negócio” ( p.ex. machos sat é lites da r ã - touro, machos pairadores
da abelha Centris palhda ) . Finalmente, as estratégias alternativas
podem persistir como EEEs, em equil í brio evolutivo onde as
*
diferentes estratégias tê m o mesmo sucesso . Nestes casos pode
haver um polimorfismo na população, com a seleção dependente de
*
frequ ê ncia fixando as frequ ê ncias dos diferentes tipos de estraté gias
( p.ex . salmões “ nariz de gancho” e “ jacks”) , ou , pode ser que
cada indiv íduo seja capaz de adotar várias estratégias, nas propor-
ções que satisfa çam uma EEE ( p.ex., fê meas cavadoras e invasoras
na vespa cavadora). Em muitos casos não há dados suficientes sobre
as restrições e sobre o sucesso das diferentes estraté gias para que
*
se possa dizer que são “o melhor poss í vel de um mal negócio” ou
um exemplo de EEE.
.
Fig 10.11 Um peixe da an é mona, Amphiprion akallopisos, com sua an é mona . Foto Alguns peixes mudam de sexo como uma maneira de aumentar t
de Hans Fricke o sucesso reprodutivo quando tê m um tamanho pequeno. Quando
»
»' JSI
rn®h*
s* 264/ CAP ÍTULO 10
Capí tulo 11 . Sobre Egoí smo e Altruísmo
n i
mi * a competição entre machos é intensa
indiv í duos saem bem sucedidos,
, de modo que só os maiores
ar* os
hermafroditas sequenciais, mudando o sexoindiv
de
í duos podem ser
femea para macho
' ÍJ|
explicar como foi possí vel a evolu çã o do altru í smo? Altru ísmo é
definido como a ação de um indiv í duo que aumenta o n ú mero total
Tó picos para discussã o Altru ísmo: benefí cio de
filhotes durante a vida de outro indiv í duo à s custas da própria
i
ti 9 1 Em um coro de rã s alguns machos estão vocalizando, outros Para ° *
para o a ruis a caPacidade d ^ sobreviver e reproduzir. "
Neste cap í tulo distinguiremos quatro'hipó teses para a evolu çã o da
’ liI 9 estão em sil ê ncio. Quais são as hipó teses para a ocorrê ncia destes
dois comportamentos? Como você faria para testar qual das duas
cooperação. O comportamento que aparenta ser altruístico ao nível
fenot í pico pode ser geneticamente ego ísta ( hipó teses 1 e 2 abaixo).
’ H 9
é mais adequada ? Algumas formas de cooperaçã o não envolvem altru ísmo ( hipótese 2)
;
'•
[!
i
!
I 9
2 Que explicações, al ém daquelas propostas neste capítulo, você
sugeriria para a variação no comportamento reprodutivo dentro
de uma mesma espécie?
e outras envolvem auto-sacrif í cio que é fenot í pica e geneticamente
Altru ísmo fenot í pico altru ísta (hipótese 3).
versus genot í pico
Sele çã o de parentesco
!
I» Teoria. O exemplo mais familiar de um indiv í duo dando ajuda
LI! * a outro é, obviamente, o cuidado parental. N ã o nos surpreendemos
ao ver uma ave dando duro para alimentar seus filhotes porque
U! * a seleçã o natural favorece os indiv íduos que maximizam sua
contribuição genética para gerações futuras. Os jovens possuem
h
265
266/ CAPÍTULO 11 EGO ÍSMO E ALTRU ÍSMO / 267
«r l! •
-
•UB
mm*- «í
•n'
có pias dos genes dos nai
genotipicamcnte egoísta .
pais e, logo , o cuidado parental c Quadro 11.1 Cálculo de r, o coeficiente de parentesco IIí
Podemos quantificar a probabilidade de que r é a probabilidade de um gene em um indiv íduo ser uma
gene em particular dos pais uma có pia de um cópia idê ntica, através de descendê ncia, de um gene de outro
esteja presente em um dos filhotes
m especies diplóides quando um
óvulo e um espermatozó ide se
,
indiv íduo.
undem para formar o zigoto, cada pai
50 por cento de seus genes
probabilidade de que um pai e
contribuiu exatamente com
para o filhote. Desta forma, a
seu filhote
Método geral
Faça um diagrama com os indiv í duos de interesse e seus
*1
idêntica por descendência (cm uma compartilhem uma cópia ancestrais comuns, indicando a geração pela qual estão
espécie com fecundação
O coeficiente de pa -
rentesco é uma me-
cruzada ) é 0,5. Este valor é chamado de coeficiente
frequentemente designado por r. de parentesco, ligados com flechas. A cada ligação entre gerações há meiose
e assim , h á uma probabilidade de 0.5 de que uma cópia
*!
dida de similaridade
gen ética
Mas os iilhotes n ão são os ú nicos
cópias dos mesmos genes id parentes que compartilham de um gene em particular seja passada para -diante. Para L *
ê nticos atrav és de descendê ncia . Mais
uma vez, calculamos a probabilidade
em um indiv í duo estar presente de uma cópia de um gene
liga ções entre gera ções a probabilidade é (0.5 )* . Para calcular
r, some este valor para todos os caminhos possí veis entre *M
comum, cm um irmão, irm ã, primo
e irmãs r é 0,5, para netos
é
, pela existê ncia de um ancestral
e assim por diante. Para irm ãos
dois indiv íduos. * in
A
I
adaptativo inclusivo do indiv í duo ( Hamilton , 1964 ). = 0.125 i
# l
268/ CAP ÍTULO 11
EGO Í SMO E ALTRU Í SMO /269
se, poré m, argumentar que a maior força responsá vel pela evolu çã o
dos gritos de alerta seria o aumento no valor adaptativo direto,
pois geralmente são os filhotes que se beneficiam. Os parentes
Hg 11.1 Esquilos Spermophilus beldingi . ( a ) Uma fêmea dando um grito de n ã o descententes poderiam ser simplesmente benefici á rios secun -
alarme ( b ) Um grupo de fihotes na entrada de uma toca . Foto © Gcorgc D. Lcpp,
, d á rios comuns (Shield 1980 ). Alertar os filhotes ( i .e. cuidado
BioTech Imagcs. parental ) e alertar irm ãs, sã o, evidentemente, duas formas de
aumentar a propagação dos genes para as gera ções futuras.
as jovens fêmeas tendem a permanecer pró ximo a sua á rea natal . Entretanto, ainda é interessante perguntar se os gritos de alarme
Isto significa que os machos raramente, interagem com seus poderiam ter evolu í do principalmente por causa dos benef í cios a
parentes, se é que o fazem, enquanto as f êmeas passam a vida parentes nào descendentes. A melhor evidência para tal foi obtida
rodeadas por outras fê mas de quem sã o parentes pró ximas. por John Hoogland ( 1983 ) com um outro roedor colonial , o cã o
Sherman observou que as fê meas proximamente aparentadas da pradaria de cauda preta , Cyanomys ludovicianus.
Os esquilos matam ( mães, filhas, irmã s ) raramente lutavam por tocas c raramente Estes cã es da pradaria vivem em grupos sociais pequenos,
os filhotes uns dos expulsavam umas à s outras de seus territ ó rios. Na verdade elas geralmente um macho adulto com 3 ou 4 f ê meas e seus filhotes.
outros quando n à o cooperavam para expulsar outros conspec í ficos infanticidas. Oito As f ê meas jovens ficam em seu grupo natal durante toda vida ,
h á parentesco e n ã o por cento dos filhotes eram removidos das tocas e assassinados enquanto os machos dispersam em seu segundo ano. Assim , todas
matam quando h á por outros esquilos. Os assassinos n ã o eram parentes próximos das as f êmeas e os machos de um ano são parentes geneticamente
v í timas e poderiam ser tanto machos vagando em busca de uma pró ximos. Hoogland estudou os gritos de alarme apresentando um
refeiçã o fá cil ou f êmeas adultas imigrantes a procura de novas espécime de texugo empalhado, Taxidea taxus, um predador
tocas. Estas f êmeas tentavam tomar as tocas ocupadas, matando natural. Isto permitiu a ele conseguir mais dados do que obteria
qualquer filhote que encontrassem, como uma forma de limpar o esperando que um predador na natureza atacasse , e també m
territó rio de competidores potenciais ( Sherman 1981 a , b ). Esta possibilitou que ele manipulasse a proximidade do predador aos
cooperação entre indiv í duos parentes pró ximos, em contraste com cães da padraria. A figura 11.2 resume os resultados de mais de
o conflito entre os não parentes, é exatamente o que a teoria de 700 experimentos. Os dados mostram que os c ães da pradaria
seleçã o de parentesco prev ê. davam gritos de alarme com a mesma frequ ê ncia quando havia
Os indiv í duos també m emitem gritos de alarme sempre que um apenas parentes n ão descendentes e filhotes no grupo. Outros
predador, como um coiote ou uma doninha, se aproximam. Os gritos de alarme fatores alé m do alerta aos filhotes devem estar envolvidos, pois
Provavelmente h á um custo associado a dar o grito de alarme pois dos c ães da pradaria imigrantes que n ão tinham nenhum parente nas proximidades
o indiv íduo se toma mais vulnerá vel ao ataque do predador, por s ã o dados na presen - algumas vezes davam o alerta ( Fig 11.2). També m deve haver
tomar-se mais consp í cuo. Entretanto os outros se benficiam do ç a de filhotes ou benef í cios diretos para aqueles indiv í duos que d ã o o grito de alerta,
aviso antecipado e tê m mais chances de escapar. Sherman ( 1977 ) outros parentes por exemplo por sinalizar ao predador “eu vi você”, o que,
observou que as f êmeas eram muito mais propensas a dar gritos provavelmente, reduz a chance de um ataque porque o predador
de alarme do que os machos e, mais do que isso, as f êmeas com nao tem a vantagem da surpresa . Outra possibilidade é que vale
parentes pró ximos nos arredores eram mais propensas do que pena alertar os outros da aproximaçã o de um predador, mesmo
>
> 272/ CAP ÍTULO 11
EGOÍSMO E ALTRU Í SMO /273
' O
n Fêmeas Galinhas da Tas - & Ridpath 1972 ). As condi ções para a coopera çã o coin um irmão
o <o 0.50 D Machos 71
51
são menos severas do que com um macho n ã o aparentado, porque
m â nia : irm ã os com -
O O
"
58 49
1.16 °-
N )
40 -
25
partilham a parceira se um macho ajudar um irmão a produzir dois filhotes extra h á
uma equival ê ncia com produzir um filhote, em termos de repre-
e o irm ã o subordina -
£ E 0.30 do se beneficia dos sentaçã o genctica na pró xima gera çã o ( r com seus próprios filhotes
« 2 10
T3a
o S
-
0.20 ganhos indiretos de é 0,5; com os filhotes do irmão é 0,25).
c valor adaptativo
Í CO
> Na Tabela ll .2 estão resumidos os dados sobre o sucesso
| 0.10 _ /
0
O // reprodutivo de pares c trios. O sucesso ao longo de toda a vida
2,
CL >
a / não é bem conhecido, mas parece que cada ave tem , no má ximo
Sem parentes 5 , e no m í nimo 2 eventos reprodutivos. Supõe -se que a sobrevi -
Somente com Com filhotes
geneticamente parentes
v ê ncia é a mesma cm trios ou pares, e, logo , o sucesso por 5
no grupo ( tipo C )
próximo geneticamente ou 2 eventos reprodutivos nos dão uma ideia do sucesso ao longo
no grupo ( tipo A ) pró ximos não de toda a vida. Se os machos n ã o sã o aparentados a cooperaçã o
0 descendentes dos machos dominantes nã o faz sentido, porque /2 N é sempre
2
no grupo (tipo B) menor do que Nr (Quadro ll .2 ). Entretanto, se os machos sã o
Fig 11.2 Gritos de alarme dados por cães da padraria Pode valer a pena irm ãos , a estimativa m á xima do sucesso ao longo da vida, V N
de cauda preta frente a um
texugo empalhado . Tanto para machos (histogramas para o dominante = 21 ,8, 0 que é apenas um pouco menor do que 0 valor de* /V 2
(histogramas hachurados) há uma diferença significativa
brancos ) como para fê meas
compartilhar parcei- 23,1. A estimativa m í nima do sucesso ao longo da vida, VA At
,,
entre os tipos de indiv í - ,
duos A e B , e també m entre os tipos A e C . N ão h á, ras com seu irm ã o = 7 ,2, ainda é maior do que N t 6,6, logo as condições para a
entretanto, diferença
significativa entre os indiv í duos do tipo B c do tipo C .
Os dados correspondem cooperação propostas no Quadro 11.2 são satisfeitas. Estes cá lculos
valores m édios ± 1 EP com o n úmero dos diferentes indiv í duos observadosa
indicado . Dados de Hoogland ( 1983 ). sugerem que a cooperação entre irmãos pode satisfazer as con -
di ções necessá rias para que a sele çã o de parentesco favoreça este
comportamento. O fato de haver coopera ção entre machos n ão
que n ão sejam parentes pró ximos, porque se um vizinho for
aparentados ainda é um problema. Porém, dado que N, >
apanhado é mais prov á vel que o predador retome para ca çar nesta Nr valerá
mais a pena para uma f ê mea reproduzir -se em trios do que cm
mesma á rea . Gritos de alarme podem diminuir a probabilidade de
pares, logo pode haver conflito de interesse entre os sexos ( veja
ataques futuros pelo mesmo predador.
também 0 cap í tulo 9)
Estes estudos de coopera ção em esquilos e cã es da pradaria são
consistentes com 0 modelo de seleçã o de parentesco mas n ã o
constituem um teste quantitativo da regra de Hamilton. De fato
seria difícil avaliar os custos e benefícios de gritos de alarme cm Tabela 11.2 O sucesso reprodutivo da galinha da Tasm ânia em pares e trios
termos ganhos e perdas em n ú mero de filhotes. Examinamos agora Dados de Maynard Smith e Ridpath ( 1972 )
um exemplo em que esses valores podem ser estimados.
1 Numero de jovens sobreviventes produzidos por esta çã o
( b ) Galinhas da Tasmânia: compartilhando parceiras
A galinha da Tasm â nia , Tribonyx mortierii , é um tipo de galinha Reprodutores de Io ano reprodutores experientes
d á gua incapaz de voar. H á mais machos do que f ê meas na
população reprodutiva e as combinações de acasalamento incluem
Par, (5 Q, N , * 1.1 5,5
.
Trio, 2(5 Q A', 3.1 6,5
pares simples ( um macho e uma f ê mea ) e trios ( dois machos e
Um teste quantitati- uma fê mea ). Nos trios os machos são, geralmente, mas nem sempre , 2 N ú mero de jovens sobreviventes produzidos ao longo da vida
vo da regra de Ha- irmãos, e ambos copulam com a femea e ajudam a criar os filhotes.
milton Geralmente um dos machos é dominante sobre o outro, embora , Sc 5 esta ções reprodutivas Se 2 estações reprodutivas
aparentemente, permita que 0 outro macho copule com a femea.
Em que condições poderia tal cooperação ter evolu í do? No Quadro Par Nx 1.1 + (4 x 5,5) = 23, 1 1.1 + 5,5 = 6.6
11.2 aplicamos a regra de Hamilton para derivar as condi ções nas Trio N 2 3.1 + ( 4 x 6,5 ) = 29,1 3.1 + 6,5 = 9 ,6
comportamento foi
observado. Holmes e Shcrman mostraram
independente do verdadadeiro uns com os outros do que irmãos verdadeiros criados
is agressivos
que, mais
As fêmeas de esquilo animais ue oram criados juntosrelacionamento gen ético entre os juntos. Estes dados sugerem que os indivíduos aprendem quem sao
^ ^ ^* ^^
, eles raramente lutavam.
reconhecem seus pa mos ra uc *ndiv íduos nào aparentados A Figura seus parentes por associações feitas no in ício da vida .
Entretanto, observou-se que, dos animais criados separadamente
criados juntos nào eram ,
rentes em parte por
aprendizagem ... aqueles que eram geneticamente irm ã os demonstravam menos agres -
(a ) sividade uns com os outros na arena de teste do que os que n ão tinham
parentesco ( Fig 11.3 ). É interessante notar que este efeito somente
c
Ê ocorreu entre as fêmas; ou seja, irmãs leg í timas criadas separadamen -
te eram menos agressivas umas com as outras do que as n ã
o aparen -
O
CJ 7 tadas criadas separadamente, mas o relacionamento genctico n ã o
t7í /1/ afetou a agressividade entre os machos, ou entre machos e femeas.
Somente as fê meas, o sexo que se comporta altruisticamente em
c
o
oo r
C 3
(/)
5
campo, apresentou evidencias de possuir a capacidade de reconhecer
o
c ... e parcialmete por
quem não lhes era familiar, mas com quem tinham relacionamento
é tico, seus parentes.
coincidência fenot í - gen
o
o
c
<u E claro que podemos pensar que as femeas criadas separadamente
-oo pica
3
k podem ainda aprender a se “ reconhecer” por causa da experi ê ncia
o
-Ot» pré- natal dentro do ú tero da m ãe. Poré m as observa ções de campo
feitas por Paul Sherman sugerem que pode haver mais detalhes nesta
•
6
2<u 1 estó na . As femeas de esquilos americanos copulam com at é 8 machos
o
diferentes ( m édia de 3.3 machos ) durante a ú nica tarde em que ficam
Z A 1 sexualmente receptivas na primavera . Aná lises de polimorfismos de
I .CJ I.CS
prote í nas sangu í neas coletadas das m ã es, pais potenciais e suas crias
NI.CJ NI.CS mostraram que em 78 por cento das crias mais de um macho era
Pares responsá vel pela paternidade. ( Hanken & Sherman 1981; este método
( b)
(0 de assessar a paternidade é bastante semelhante aos utilizados para
0.15 0.15
estabelecer a paternidade cm casos disputados em ju í zo). A desco-
berta excitante foi que dos filhotes da mesma cria , as que eram irmãs
«3 completas ( mesmo pai e mesma m ã e ) eram menos agressivas e mais
cooperativas umas com as outras do que aquelas que eram apenas
T3
to 3
§ Y\
mcio- irmàs ( mesma mãe e pais diferentes, í.e. meio irm ã s aparecem
0.10 « 0.10
c
devido à s m ú ltiplas có pulas ). Por exemplo, quando estã o estabelecen -
o
•J
Ui
c
o
-oc do seus territó rios, as irmãs completas lutaram e perseguiram umas
2 0.05 Scr 0 05 as outras menos freq ú entemente do que fizeram quando encontram
-3
1
o meio- irmã s ( Fig 11.3 b, c ).
Filhas da mesma cria compartilham tanto a mesma toca, como o
mesmo ú tero, sendo meio ou irm ãs completas, logo outros mecanis -
X
3
0.00 < [\ N
Companheiras de ena
0 00
mos alé m destas experiê ncias em comum devem estar envolvidos .
Irmas Meio
Companheiras de cria Um dos mecanismos que podem estar envolvidos é conhecido como
Irmãs
“coincidê ncia fenot í pica”. Uma fêmea pode ser mais altru í stita a ela
Meio coni
completas irm ã s completas irm ãs
companheiras da mesma cria que se parecem fenotipicamente
mesma (e.g. um odor similar ao seu). Concluindo, uma fêmea
Figura 11.3 Reconhecimento de parentes cm esquilos. Dados de Holmes e
de
Sherman ( 1982). (a ) Experimentos de laboratório: n ú mero médio (± 1 EP ) de ) parece categorizar as demais de duas
esquilo americano (de Belding
encontros agon í sticos entre pares de esquilos de um ano em arenas de teste . N ão- formas. Primeiro, ela reconhece e coopera com indiv íduos com
quem
irm ã os criadosjuntos ( NI.CJ ) n ào são mais agressivos do que irmãos
criados juntos oposi çã o àquelas com quem n à o comparti -
( I.CJ ). Poré m , nã o-irm ãos criados separadamente ( NI . CS ) sã o mais agressivos do compartilhou a toca, em
. Segundo ,
que irm ãos criados separadamente ( I .CS). ( b) e ( c) Observações de campo: lhou ; os primeiros são as irmãs completas e as meio-irmãs
companheiras de
agressão e cooperação entre femeas de um ano que eram irmãs completas ou meio ela pode ser particularmente cooperativa com as
c que , por isto, tê m mais
irm ãs ( relacionamento gen é tico determinado por prote í nas do sangue ) . Irm ãs toca que pareçam fenotipicamente com ela
completas são menos agressivas umas com as outras ( b) , c se auxiliam mais ( c ) . chances de ser irm ã s completas do que meio - irm à s.
278/ CAPÍ TULO
11
A sobrevivênciia in
- Mutualismo Tr ês
(d )
(c)
8
8 5
2
0 *
dividual e o sucesso
reprodutivo podem
Algumas vezes vale
a pena para dois ou mais indiv í Quatro
(0
(g > 9
4 3
8
0
I 0 *
rarem,
ser maiores por coo- hquido simplesmente porque cada um consegue um beneficio-
em termos de
como mutualismosobreviv
duos coope
11.3 mostra que quando h á dois machos residentes ambos ganham *
perar no trabalho em c óo
equipe ‘
Alotacilla alba .
ência ou reprodução. Isto é
. Por cxemplo, dois indiv íduos conhe-
, que se juntam para
alimentação durante o inverno
da ave
defender um territ ório de
Coalis õ es pequenas
de leões machos sã o
paternidade, mas em coalisões maiores os machos subordinados
conseguem pouca ou nenhuma paternidade
*%
podem , mutual ísticas : cada Por que, então, os machos subordinados se juntam a grandes
alimento em relação ao queambos
ingest ão de , aumentar a taxa de
os beneticios da associa obteriam sozinhos, porque indiv íduo tem suces- coalisões se eles tê m poucas chances de conseguir se reproduzir?
Curiosamente, Packer et al . ( 1991 ) descobriram que que todas as
#
superam os custos de ção em termos de defesa do tem -tóno so no acasalamento...
divisão coalisões grandes ( 4 ou mais machos ) eram formadas por parentes
Em outros casos, tanto odo alimento (veja capítulo 5). pró ximos Machos n ã o aparentados somente formam pequenas
mutualismo como a seleção de
parentesco podem ser
relevantes. Uma leoa ca çando sozinha tem
poucas chances de capturar
uma
fêmeas ela aumenta tanto o zebra , mas quando caça com outras
coalisões. Ent ão podemos concluir que coalisões envolvendo
pequenos grupos de machos n ã o relacionados constituem um caso *
superam os custos de divisãosucesso de captura que os benefícios
& Wolf 1975; Stander 1992).carne da presa capturada (Caraco
da
... mas em coalis ões
grandes os subordi-
nados s ó ganham
de mutualismo , nas quais os indiv í duos cooperam porque todos
conseguem aumentar seu sucesso reprodutivo. Por outro lado, o *e
As leoas de um bando são parentesco parece essencial para a manutenção de grandes coalisões,
aparentadas (capitulo 1 ), e por
isto os indiv íduos obtêm benefí cios
\ alor adaptativo in- nas quais a reprodu ção é bastante desigual Neste caso, a coope- t
de seleção de parentesco da associaçã direto raçã o dos subordinados depende dos ganhos indiretos de valor
a pena duas fêmeas n ão relacionadaso, mas, em principio, valeria adaptativo, ou seja, aumentando o sucesso reprodutivo dos parentes é
caçarem juntas.
Estudos recentes sobre leões, que utilizaram dominantes.
são digital do DNA para atribuir paternidade técnicas de unpres-
(cap í tulo 9), mos-
#
traram como a cooperação entre machos é
ganhos diretos como indiretos no influenciada tanto por Manipula çã o
valor
1991 ) . Lembre-se de que bandos de leõ adaptativo (Packer et al .
grupo de fê meas residentes defendido es sã o constitu í dos por um
por uma coalisào de 2 a
Doadores podem ser
enganados para se
Uma terceira hipó tese é que aquilo que parece ser um ato altru í sta
por parte do doador pode ser manipulação por parte do receptor
é
6 machos. Coalisões com mais comportar altruisti- ( Dawkins 1982 ). O fato fica mais ó bvio, por exemplo, quando uma
mais facilmente de novos
machos conseguem se apropriar
bandos e també m podem mantê- los por camente ave alimenta o filhote de um parasita, como o do cuco . O
mais tempo. Como
resultado disto, o sucesso reprodutivo médio hospedeiro n ão ganha nada pelo ato de altru ísmo; ele simplesmente ¥
por leão aumenta com o tamanho foi enganado pelo cuco para alimentar a espécie errada ( veja o
da coalisã o . É tentador concluir
que deve valer a pena para um macho cap í tulo 4 ). A manipulação també m ocorre dentro da mesma
a média do sucesso reprodutivo não individual cooperar, mas
nos diz o que cada indiv íduo espécie. Por exemplo, algumas femeas de aves colocam ovos no
ganha por participar da coalisão. A té ninho de suas coespec í ficas, evitando, assim , os custos da incu -
cnica de
do DNA mostrou que os machos residentes eramimpressão digital bação e do cuidado parental ( Yom -Tov 1980 ). As femeas dos
os pais de todos
os filhotes concebidos durante o per íodo em que estorninhos, Sturnus vulgaris, que colocam ovos no ninho de outras
defendiam o bando
( todos os 78 filhotes de 7 bandos), assim eles eram
em manter machos intrusos afastados. Entretanto a muito eficientes femeas removem o ovo do hospedeiro antes de colocar o seu . Elas
deixam o ovo do hospedeiro no chão em lugar pró ximo. Primei -
t
paternidade não
era igualmente compartilhada entre os machos do bando.
A Tabela ramente imaginava -se que estes ovos no ch ã o pertenciam a femeas t
que nã o conseguiram chegar no ninho para colocá - los do jeito
¥
#
$
280/ CAP ÍTULO 11 EGOÍSMO E ALTRU Í SMO / 281
normal! Os ovos foram, entã o, marcados nos ninhos apos sua Imagine que o jogador A encontra um jogador B que sempre
postura, c descobrtu-se que muitos dos ovos que
apareciam no ch ão coopera. Se A cooperar também ele ganha uma recompensa de
eram marcados. Em outras palavras, os ovos eram removidos dos 3, enquanto se desertar ganha 5. Assim , vale a pena para A desertar,
ninhos ( Feare 1984). Neste caso, exatamente como no caso de No jogo do dilema do caso B coopere. Agora imagine que o jogador A descobre que
parasitismo inter-espcc í fico da cria , o prisioneiro ambos B sempre deserta, se A coopera nã o ganha nada, se deserta ganha
hospedeiro est á sendo
enganado para se comportar em beneficio de outro jogadores se benefi - 1 , então vale a pena para A desertar. A conclusão é que,
indiv í du ©
ciam com a coopera- independente do que faça o outro jogador, vale a pena desertar,
Reciprocidade çã o, mas ambos s ã o mesmo que os jogadores ganhem 1 quando ambos desertam,
Pagando um favor no tentados a trapacear enquanto poderiam ganhar 3, se os dois cooperassem . Da í o dilema
futuro ... Sempre que os benefí cios de um ato altru í sta para quem o recebe do prisioneiro!
forem maiores do que os custos para quem o realiza, e se a ajuda É m outras palavras, a estrat égia de cooperar n ão é uma EEE
pode ser retribu í da algum dia no futuro, ambos participantes porque em uma população onde “ todos cooperam um mutante
ganharã o (Trivers 1971 ) Por exemplo, A ajuda B hoje e B ajuda que deserta se espalharia . Mas, desertar é uma EEE; em uma
A amanh ã . A reciprocidade é comum cm sociedades humanas e população onde “todos desertam ” um mutante cooperador não teria i
o dinheiro e as leis são usadas para regulá -la . O problema da nenhuma vantagem . Qualquer população que tivesse uma mistura
evolu çã o da reciprocidade em populações animais é a possibilidade das duas estratégias herd á veis evoluiria logo para “todos desertam”.
da trapa ça . Por existir um lapso de tempo entre o momento cm As condições mais gerais para que esta conclusã o se sustente,
que os dois indiv íduos ganham, B pode aceitar ajuda de A hoje, dispostas na matriz da Tabela 11.4 são:
mas recusar a pagar o favor amanh ã (cf. mutualismo ambos
indiv í duos recebem os benefícios ao mesmo tempo).Agora vamos T > R > P > S c R > ( S + T)
explorar as condi çõ es em que a reciprocidade pode ser 2
evolutivamente est á vel usando um modelo simples.
as quais definem o jogo do dilema do prisioneiro. O problema
é essencialmente que um indiv í duo pode se beneficiar da coope-
O DILEMA DO PRISIONEIRO ração, mas pode aproveitar muito mais se explorar os esforços
... e o problema da cooperativos dos demais.
trapaç a O modelo do dilema do prisioneiro foi originalmente desenvolvido
Existe alguma forma dos indiv í duos escaparem deste dilema e
para ajudar a compreender o comportamento humano, mas pode
chegar a uma cooperação está vel? A resposta é não, se os jogadores
ser um elegante modelo para ilustrar os problemas da coopera çã o
se encontram somente uma vez; desertar é a ú nica estratégia
nas sociedades animais ( Axelrod & Hamilton 1981 ). Imagine dois possí vel na Tabela 11.4 . Assim, desertar é a estratégia está vel
jogadores com as chances de cooperar ou desertar (ser ego í sta ). se o n ú mero total de encontros for conhecido previamente, pois
A matriz de ganhos da Tabela 11.4 fornece alguns valores a deserção será ó tima no ú ltimo encontro, e no anterior, e assim
numé ricos para ilustra çã o . Estes valores significam ganhos no valor por diante, até o primeiro. Mas, se uma série de encontros se
adaptativo resultantes da interaçã o ( p, ex. n ú mero de filhotes prolonga indefinidamente, ou de forma mais realista, se sempre
ganhos). existir uma probabilidade finita, w, de que dois jogadores se
encontrem, então devemos considerar a possibilidade de que
Tabela 11.4 O jogo do dilema do Prisioneiro. Dados de Axelrod e Hamilton estratégias mais complexas tenham evolu í do, misturando coope-
( 1980 ). Os ganhos do jogador A aparecem como valores numé ricos ilustrativos ração e deserção em sequ ências variadas.
Axelrod (1962) simulou em computador um torneio com 62
Jogador B estrat égias diferentes, enviadas por cientistas de todo o mundo,
cooperar desertar sendo que cada uma foi pareada com todas as outras. As estratégias
eram também pareadas contra si mesmas e contra o “ acaso”, em
cooperar R =3 S =0 um programa que cooperava ou desertava aleatoriamente com a
recompensa pela ganho do tolo mesma probabilidade. Os ganhos de cada disputa equivaliam aos
coopera çã o m ú tua
Jogador A
da Tabela 11.4 e w entre os pares era de 0,99654. Este jogo pode
desertar T =5 P= 1 ser visto como uma disputa entre indiv íduos inteligentes (os
Tenta çã o para puni çã o por cientistas que enviaram as estratégias) competindo por um prémio;
desertar deserçã o ou pode ser visto como um modelo de um jogo evolutivo, como
m ú tua
282/ CAP ÍTULO
11
EGO Í SMO E ALTRU Í SMO / 283 .« :; 2»l
0 4
o modelo da pomba c
outra estratégia mutante (capí tulo 7). Axclrod c Hamilton 1981 )
(
do gavi ão (capitulo 7 ) , no qual
as diferentes
demonstraram que “olho por olho”é uma estrat é gia est á vel , desde
*9 1w *
estratégias representam
mutantes genéticos competindo por repre-
sentaçã o no conjunto de
genes. que w , a probabilidade de dois jogadores se encontrarem nova -
mente, seja suficicntcmentc grande ( Boxe 11.3). Assim, uma vez
Algumas estratégias eram
a cada movimento
como se tosse um processo
bem complexas, como , por exemplo,
modele o comportamento do outro jogador que “olho por olho” esteja fixada nenhum mutante desertor terá
vantagens. Isto parece um bom sinal para a evolu ção da cooperação j
*»
de Bayes para selecionar o de Markov e, ent ão, use a inferê ncia
que parece ser a melhor escolha a longo baseada na reciprocidade. Infelizmente, este n ão é o fim de nossa
aná lise, pois “ desertar sempre “ também é uma EEE, independ
* Éi
prazo . Algumas eram
bem implacáveis, por exemplo, “sempre ente
*i
•
coopere, mas se o outro desertar w . Uma populaçã o de “ todos desertam” resulta em
“Olho por olho" do valor de
Outros foram malandros c tentaram deserte até o final do jogo”.
,
uma estratégia queé
”
escapar explorando ocasional - ganhos de P por jogada (Tabela 11.4). Um mutante “olho por olho
pode ser evolutiv mente, por exemplo, “se o
outro desertar, deserte também, mas que coopera sse na primeira jogada receberia o ganho dos tolos ,
a- em 10 por cento das vezes
S, sem nenhuma chance de cooperação no futuro. II | *
mente estável no jogo
do dilema do prisio-
neiro
estratégia vencedora foi a
* íi 2
estabelecem mutuas recrimina ções pode ser bem
de longas sequê ncias de deser çã o que difí cil de se livrar podem interagir mais vezes do que o fanam se os encontros fossem
n ão trazem nenhum ganho ao acaso cm toda a popula ção, e assim , aproveitar os benefí cios
Finalmente, na tentativa de abandonar de regras
( e. g. randônucas ), freq úentemente pouco lucrativas da coopera ção m ú tua . Agregados estão geralmente associados ao
com as quais valeria a pena cooperar, em
acaba-se abrindo mão de regras
nome de outras mais
parentesco entre os indiv í duos, por isto os dois mecanismos podem
ser reforçados um pelo outro e fazer com que a cooperação *
pacientes, como a do “olho por olho”
. reciproca se espalhe.
*>
O torneio realizado por Axelrod no computad
a estratégia “olho por olho” vence em um
vá rias estratégias. Uma aná lise
or mostrou que
ambiente cm que h á
posterior examinou o que aconte- Previsões do modelo
•I F v
» V
ceria caso o torneio continuasse e a frequ
ê
fosse proporcional aos resultados obtidos porncia de cada estratégia
Podemos imaginar que os resultados sejam cm na rodada anterior .
ela
N ós demonstramos que a coopera çã o baseada na reciprocidade
pode se espalhar e ser est á vel desde que sejam garantidas duas # l 3I
ou de có pias das estrat égias, produzida n ú mero de filhotes, condições.
* *í v
•lr *
s na rodada anterior . Assim
podemos olhar para cada rodada como 1 Os indiv í duos nã o podem ser capazes de desertar sem que os
uma
dade do jogo através das sucessivas rodadas geração e a continui- demais tenham a chance de retaliar efetivamente. Alguns animais
da “sobrevivê ncia do mais adaptado” como uma simulação
podem reconhecer indiv íduos e, assim , ser capazes de identificar
sivas. Os resultados mostraram que
através de gerações suces-
os trapaceiros. Outra possibilidade é de que os indiv í duos se i
foram descartadas, e a “ olho por olho” se
as regras com menor êxito
encontrem em um lugar fixo, de modo que possam ter mais ou m >
almente conseguindo descartar todas as demais
Uma vez que uma estrat égia se fixou devemos
manteve bem , eventu-
e se fixar.
menos certeza de que interagir várias outras vezes como o mesmo
indiv í duo . ^ íI *
ela é evolutivamente est á vel , ou considerar se
seja , se resistirá a invasão de uma 2 Para que a reciprocidade seja est ável, a probabilidade, vv, de
que os mesmos dois indiv í duos se encontrem deve ser alta. Se í $
*li! *
I; IIL#
f
284/ CAPÍTULO 11
EGO Í SMO E ALTRU Í SMO / 285
*fr
«
faminto, alterando consideravelmente
sua posição para a esquerda
* l; »
Morcegos vampiros
utilizavam o mesmo abrigo com frequ ência . Para que a recipro -
cidade evolua, as seguintes condições são necessá rias.
1 Os doadores devem ser capazes de
um custo pequeno para o doador
ção de sangue, então, representa
ao longo do eixo do tempo. A doa e um beneficio enorme para o
a vida do do rcceptor,
*
n ã o aparentados ali identificar os trapaceiros receptor; ela pode, de fato, salvar
- e se recusar a alimentar receptores que não tenham sido recí que ele sobreviva at é o momento em que possa
mentam uns aos ou - procos possibilitando 1
anteriormente. Wilkinson realizou alguns experimentos engenhosos
tros com base na
reciprocidade
no laborat ó rio onde ele formou um grupo de morcegos com alguns
indivíduos (sem parentesco) provenientes de um abrigo e outros
forragear novamente na
noite seguinte
* II
( també m n ã o parentes) de um outro. Em uma
sé rie de ensaios, (c) Alianças em primatas %
um morcego, escolhido ao acaso, era removido do abrigo e mantido
sem alimento enquanto os demais tinham acesso a sangue. Depois O comportamento de
higiemzação ( Fig 11.5 ) é a forma mais
de afinidade nos primatas e també m
*
o morcego faminto era reintroduzido. Ele encontrou que das 13 comum de comportamento
é bastante comum dois indiv
í duos se juntarem para lutar contra *i
regurgita ções ocorridas 12 foram entre morcegos provenientes do
mesmo abrigo no campo, ou seja, entre indiv í duos familiarizados
uns com os outros. Al é m disto, os morcegos
um terceiro. A maior parte
e de alianças envolvem parentes
dos comportamentos de higiemza ção
pró ximos, mas algumas vezes *n *
famintos que
receberam alimento doaram, reciprocamente, com uma frequência
superior a esperada pelo
forma -se uma amizade
( 1984 ) realizaram um
entre
experimento
n ã o parentes Seyfarth e Cheney
de campo demonstrando que
* I
-
acaso. indiv í duos n ão aparentados
2 As interações entre os pares
• devem se repetir de modo que haja
troca de papé is e todos os doadores
recebam um benef í cio l í quido ,
Observou -se que no campo alguns indiv í duos eram companheiros
constantes de abrigo, à s vezes por v á rios anos.
o comportamento de higiemza çã
de Cercopithecus aethiops aumentava
o entre
a probabilidade
atendessem as solicitações de ajuda uns
dos outros.
de que eles
•1í
m- r
3 Os benefícios por receber ajuda devem compensar os
custos da
doa ção ( R> S na Tabela 11.4 ) . A Figura 11.4 mostra que os
morcegos perdem peso a medida que o tempo passa após a ú ltima
*
# m*
IJI
8 D N#- l '- e
& 100
Dc II ~
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E o 90
O ICO
OD O
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R
•
#
W
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I
*
H E B
O
"70
50 40 30 20 10
Horas até a morte por inani ção
0
•I :
Fig 11.4 Em morcegos vampiros a perda de peso após a alimentação declina como
uma exponencial negativa, com a a morte por inanição ocorrendo com 75 por cento
do peso pré-alimentação ao amanhecer. Por isto , uma doação de 5 por cento do peso
Fig. 11.5 Duas fê meas n ão aparentadas de macacos “vervef ’ monkeys , uma realiza
higiemzação na outra Cada uma delas está amamentando um jovem de dez
semanas . Fê meas não aparentadas cooperam na defesa do território , emitindo
e
pré alimentação quando o peso for D deveria causar ao doador uma perda de C horas ,
mas propicia B horas para um receptor de peso R . Dados de Wilkinson ( 1984)
gritos de alarme quando um predador se aproxima e cm interações contra outras
fê meas do grupo Foto de Phyllis Lee . *
#
C:
288/ CAP Í TULO 11
EGO Í SMO E ALTRU Í SMO /289
Comportamento de esp
ajuda em aves
seja o cuidado parental com
de ajuda dirigida a outros indiv í
de
alguns indiv í duos
reproduzir
outros
: eles ajudam
, aparentemente
•r a |! »
. j
reduzindo a possibilidade deles mesmos se reproduzirem
comportamento parece ser altru ísta, uma vez que os podem ser
. Este
ajudantes li
beneficiam os outros arcando com os custos. Os custos
KJ
medidos, por exemplo, como energia gasta pelo ajudante
devem ser contabilizadas a longo prazo como
Ajudantes no ninho... desperdiçadas de ter os pró prios filhotes. A histó ria natural do
comportamento de ajuda varia de espécie para espécie, mas, de
, mas
oportunidades
um
•
e
T
i
modo geral existem duas grandes categorias: ajudantes do que
ninho
(cerca de 80 por cento das espécies de aves e mam í feros
em
, Brown #
há comportamento de ajuda (MacDonald e Moehlman 1983
e um
. .. e reprodutores 1987), em que um grupo é formado por um par reprodutor no
m ú ltiplos ou mais indiv íduos jovens que colaboram de v á rias maneiras
291
#
*
COOPERAÇÃ O E AJUDA /293
292/ CAPÍTULO 12
próprios filhotes, poderia produzir 2 x filhotes, por causa da .. 6 mente desabitadas. As aves em idade reprodutiva permanecem aos
colaboração do parceiro. Em outras palavras, a contribui ção do Irequentemente rece- pares em territó rios ao longo do ano inteiro. Pouco mais da metade
parceiro no cuidado com os filhotes geralmente favorece a bem ajuda dos casais têm ajudantes, sendo a média 1 ,8 por par. Estes indivíduos
própria paternidade, em detrimento do comportamento de ajuda ajudam o par reprodutor a alimentar os filhotes e a defender o ninho
( Chamov 1980 ). ( Fig 12.1 ); geralmente são aves com 1 a 2 anos de idade e, quase
sem exceção, são parentes dos reprodutores. De 165 ajudantes, 64%
cuidado parental; e reprodutores múltiplos, em que v á rios machos dava ajuda aos pró prios pais, 24% ajudava um dos pais ( no caso da
e fêmeas compartilham um ninho e cuidam de uma cria comunal. morte do outro ) e somente 4% ajudava reprodutores n ào-aparenta -
Na segunda categoria, geralmente, alguns indivíduos produzem mais Ajudantes sao paren- dos. Machos e fêmeas dão ajuda , mas os machos permanecem como
filhotes do que os demais, enquanto na primeira categoria os tes pr ó ximos ajudantes mais tempo do que as f ê meas. Quando partem, os ajudantes
ajudantes reproduzem ocasionalmente. Assim, as duas categorias dispersam e tentam estabelecer um territ ó rio para si mesmos. O
podem ser vistas como os dois extremos de um contínuum. estudo de longo prazo de Glen Woolfenden e John Fitzpatrick (1984)
Neste cap í tulo discutiremos como o comportamento de ajuda sobre as gralhas da Flórida mostra como fatores genéticos e ecoló-
pode ser favorecido pela seleção, em aves, mam íferos e peixes. gicos contribuem para a explicaçã o do porqu ê as aves permanecerem
O problema pode ser considerado em duas etapas. em casa como ajudantes.
I
COOPERAÇÃO E AJUDA / 295
294/ CAPÍTULO 12
esp écies
o ajudante e (c) pode eventualmente O padrão da gralha em outras
resultar em um aumento no Woolfenden e Fitzpatrick nas gralhas da
tamanho do território, que, por sua vez, propicia ao ajudante macho O padrão observado por
uma chance de adquirir parte do territó rio para si mesmo. aplicar a vá rias aves, mam íferos, e talvez às
Fl ó rida parece se ajudantes . Geralmente, os ajudantes são
O exemplo da gralha revela como é dif ícil identificar os esp écies de peixes com
benefícios básicos que favorecem o comportamento de ajuda, se casal reprodutor , sua presença aumenta o sucesso
filhos do e eles tem pouca oportunidade de se
são aqueles advindos da criação de irmãos (ganhos indiretos em reprodutivo do grupo
restri çõ es ecol ógicas. O chacal de capa
valor adaptativo) ou alguns outros benef ícios (ganhos diretos em reproduzir por causa de do Serengeti se enquadra neste padrão.
valor adaptativo). Uma considerável controvérsia apareceu na mesomela s )
Tanto os ganhos dire- preta (Canis -3 filhos de procriações %
literaratura sobre essa questão (Woolfenden & Fitzpatrick 1984, reprodutores monogâ micos tê m 1
tos como indiretos de
Brown 1987), mas o debate certamente n ão será resolvido pela Outros exemplos de Casais , que oferecem alimento regurgitado para os mais jovens
valor adaptativo con- exclusão de um ou outro tipo de benef ício. Ambos são importantes ajudantes que cui- anteriores mãe lactante, higienizam, protegem e brincam com os
a
tribuem para a evolu- e a ênfase em um deles dependerá da pergunta que se coloca a dam de irmã os mais e para e 12.4). Da mesma maneira, no peixe
ção do comportamen - jovens filhotes (Figs. 12.3
priori. Se a questão for “ por que permanecer em casa? os cá lculos jovens ( Lamprologus brichardi ) os ajudantes
to de permanê ncia em “ cicl ídeo princesa de Burundi
casa e de ajuda da tabela 12.2 mostram que os benef ícios com a criação dos irmãos
são jovens de outras crias do mesmo par reprodutor. Este pequenos
n ão são suficientes para respondê la, mas se a questão for por das margens do lago Tanganika, onde
-
que ajudar?” o fato dos ajudantes serem peixes vivem nas á reas rasas
cavidade de nidificação. Os
maior importância.
relacionados à cria adquire defendem um território ao redor da
ó rio dos pais por 2-3 ciclos reprodutivos
jovens permanec em no territ
do ninho, limpam os ovos
<
(até 12 meses) onde fazem a guarda
e as larvas. Gra ças a esta ajuda, a m ãe
pode colocar mais ovos, Í
Quadro 12.2 Predisposi ções genéticas dos machos para se
mas, ao mesmo tempo , os custos energ é ticos deste comportamento
tornaremajudantes. ç am mais lentamente 1
fazem com que os ajudantes jovens cres
Ric Chamov (1981) notou o fato de que pode haver uma (Taborsky & Limberger 1981; Taborsky 1984 )
.
predisposição genética dos machos para ajudar, resultante da
incerteza na paternidade. Suponha que um pai não seja o
pai de toda a cria de sua parceira ( porque a femea copulou
com outros machos). Uma filha deste macho tem um grau
de parentesco mais estreito com seus filhos do que com seus 6
irm ãos. O grau de parentesco com os seus próprios filhos
é 0,5, mas o grau médio de parentesco com seus irmã os é <Si
0J
inferior a 0,5, porque nem todos são filhos do mesmo do cD 5
<
mesmo macho. Em um exemplo extremo em que cada filhote •
vp*
I.
tr ***&;,. , -Ou
**
ÍA '
íí
^
fM5SJR^ *
- 4^_ *
,
-
~JC'
*
.«JI
Fig. 12.4 Os chacais de capa preta ( Canis mesomelas ) são monogâ micos e
possuem ajudantes que são filhos de procriações anteriores, (a) Um par reprodutor
realizando a limpeza de seu filhotes de dois anos (centro) que permaneceu no
territ ório dos pais como ajudante. Os ajudantes contribuem para a sobrevivêcia da
cria regurgitando alimento (b), afugentando predadores, neste caso uma hiena
pintada (c), e defendendo o território (d), o intruso está a direita . Fotos © Patrí cia
D. Moehlman (1980).
302/ CAPÍTULO 12 * 8
COOPERAÇÃO E AJUDA /303
#| '
rg
e Lcwis ( 1990 ) fizeram isto no seu experimento
OS AJUDA NTES REALM ENTE AJUDAM ? EVIDê
NCIAS EXPERIM ENTAIS
Pruett-Jones
. - com as aves Malurus cyaneus em Canberra, na Austrá lia. Nesta
.de aju I Jm
*
a maj0ria dos ajudantes são machos. Para testar
se os V
A correlação entre a presenç
do grupo não demonstra,
a dos ajudantes e o sucesso reprodutivo
necessar iamente, que os ajudantes de fato
As aves deixam
dar e partem quando ^
. dantes partjrjam de casa , desde que houvesse territó rios vagos, ! X
Experimentos de re-
ajudam. Por exemplo, a
correlação poderia aparecer porque os pais
aparecem oportum - retiraram os machos reprodutores que tiveram a oportunipares
^ 32 machos ajudantes
dos territórios com
dade S
monogâ micos.
moção mostram que
os ajudantes contri-
de boa qualidade produzem
tê m um alto sucesso anual
muitos filhotes todos os anos e, assim,
e muitos ajudantes de episódios
dades De
de se acasalar com uma
casa
territ ó rio
fêmea sem parcceiro em um
para aproveitar a oportunidade de
íl 1
buem para o aumen- reprodutivos anteriores. Ou, então,
alguns pares podem viver em
bons territórios, com alimento e abrigo contra predadore
próximo, 31 partiram
se reproduzir, geralmente
de
preench endo a vaga poucas horas depois
s começaram a reproduzir. Em *i
to no sucesso repro -
dutivo entes para ter muitos filhotes a cada ano e, por
muitos ajudantes. Quando Woolfenden e Fitzpatrick (
s sufici-
isto, conseguem
da remoção e em
contraste, n ão houve
poucas
dispers
semana
ã o para os territ órios de onde foram
* 1I-1-:
pararam o n úmero de filhotes
. .
ii. •
Tabela 12.2 Para desvendar causas pon í veis atuam como que leva à reprodu çã o cooperat iva
e efeitos é necessá rio um
.
Em alguns casos de reprodu çã o
cooperativa, os jovens não
• iB i
experimento como o realizado por Brown restri ções
et ai ( 1978, 1982) em e, em vez disso, esperam
Pomatostomus temporalis. Durante o ano oportuni dade aparece
inteiro
. —
, estas aves
in IVI uos, nos
vivem em grupos territoriais com 2 a 13
bosques
como nas gralhas da Flóabertos em Queensland, Austrá lia. Tal
partem logo que
Seychelles,
a
por uma vaga de alta qualidad
Acrocep halus sechellen
e . Isto
sis ,
se aplica ao silv í deo das
estudado por Jan Komdeur
confinada à
esta esp é cie esteve
rida, cada grupo consiste de um par ( 1992 ). Até há pouco tempo
reprodutor e um numero
vari á vel de ajudantes, que são os jovens Cousin ( 29 ha ) em Seychell es , no Oceano í ndico.
* rí í ; '
•t
pequena ilha de
e procria ções
anteriores. O sucesso reprodutivo de um grupo tem tomada por territ ó rios destas aves e
A ilha est á completamente
e I\ -
correlação positiva com o n ú cem no territ ó rio natal como ajudantes at é que l
mero de ajudantes presentes nele e, os jovens permane
ção na -
para demonstrar que os ajudantes
são responsá veis pelo aumento surjam oportunidades reprodutivas. H á uma grande varia 1.1! W
estão
no sucesso, Brown fez um experimento qualidade dos territórios e os mais vi çosos, ricos em insetos
ajudantes de dez grupos reprodutores,
de remoção. Retirou os
deixando apenas um, man-
tendo outros dez grupos como controle, sem manipula o
ao centro, produzin do cinco vezes o sucesso
mais pobres da á rea costeira . Quando Komdeur criou vagas nos
reproduti vo daqueles
* Ii!
4 a 6 ajudantes cada um. Os grupos
çã e com
controle criaram mais filhotes
por estação do que os grupos experimentais, principalmente
territ órios em seus experimentos de remoção, notou que os
ajudantes dos territ ó rios de alta qualidade competiam por vagas
C
:
:
os ajudantes alimentavam os filhotes e reduziam a pressão
af êmea, de modo que ela podiia se recuperar mais rá pido
porque
sobre
em bons territ ó rios, mas preferiam ficar em casa como ajudantes
a ocupar um territ ório mais pobre. Estas vagas eram preenchidas * ítilij :
reprodu ção e recomeçar mais cedo. Mumme (1992) realizou
experimentos de remo ção com as gralhas da Fl ó rida e
que a correlação observada por Woolfenden e Fitzpatrick é
de uma
confirmou
somente por ajudantes de territ ó rios pobres. Os cá lculos demons-
traram que os ajudantes dos territórios melhores tinham maior
sucesso reprodutivo quando permaneciam como ajudantes, espe-
* II
V
1
I
rando por uma vaga de alta qualidade, mesmo que isto significasse í
realmente uma relação de causa e efeito. um atraso de alguns anos na própria reprodução. Em contraste , 11! Z
os ajudantes dos territ ó rios mais pobres, onde as chances de
Quando introduzidos sobrevivê ncia eram muito menores, tinham como melhor alterna - * ii :;
EVID ê NCIAS EXPER IMENT AIS DE RESTRI ÇÕ ES REPROD UTIVAS em outras ilhas, os tiva a ocupação imediata de um território pobre.
*1
Observações de jovens que permanecem em casa até que surjam
espaços para reprodução (como no caso das gralhas da Flórida e
silv í deos n ã o ajuda -
vam em casa
Komdeur introduziu as aves removidas de Cousin em Aride,
uma ilha desocupada . Eles começaram a se reproduzir em poucas r:
1
--
semanas. Quando se tomavam independentes, os jovens partiam
dos chacais) dão evidências circunstanciais de que um há bitat
saturado pode levar à reprodu ção cooperativa. Entretanto, pode- e èstabeleciam territ ó rios de reprodu ção nas á reas desocupados,
em abundâ ncia no há bitat , de modo que n ão havia comportamento
' ií - v
4
se argumentar que alguns jovens simplesmente permanecem em
casa porque não estão aptos a se reproduzir, em vez de estarem de ajuda. Entretanto, como a nova população cresceu e todos os 111c -
territ ó rios de alta qualidade aos poucos foram ocupados, os jovens
impedidos de fazê- los por restrições ecol ógicas. A melhor maneira í
preferiram pemanecer em casa a se reproduzir em territórios
de testar a hipótese de restrição é através da remoção experimental
da restrição, para ver se os ajudantes abandonam a casa para se
reproduzir.
pobres.
Estes tipos de observações levaram Stacey e Ligon ( 1991 ) a
propor um modelo de “ benef ícios da filopatria” para a reprodução
: . w* ’
<
<
1 A
1L
304/ CAP ÍTULO 12
COOPERA ÇÃ O E AJUDA /305
I 2 ovos derrubados
Ovos incubados
4,0
3,0
2,5
3 ,8
0
5,8
WfiÂ
I a3 (= ( l ) - (2))
* 1 %»
f '
Assimetria no com- cuidados (embora o macho
portamento parental pai dominante seja bastante atento como
i o ). Ainda não se sabe como a assimetria acontece, embora
se que as fêmeas subordinadas n ão dedicariam nenhum cuidado
se n ão tivessem nenhum filhote no ninho.
admita -
« O
3
A condi ção ecol ógica que favorece a reprodu çã o comunal no
anu do Texas parece ser a pressão de predação. Em há bitats abertos,
como pastos, onde os ninhos são bastante consp í cuos para pre
dadores diurnos, os grupos defendem melhor os ninhos contra os
-
Fig 12.7 O picapau da Calif ó rnia Melanerpes formicivora vive em grupos,
incluindo vá nos reprodutores e ajudantes não reprodutores, que são filhotes de
anos anteriores. Nozes do carvalho e outras nozes de casca dura sã o armazenadas
em á rvores esburacadas, algumas com 30.000 buracos feitos pelas sucessivas
3 predadores, pelo menos no está gio de ovos. Em há bitats com
gerações de picapaus de um grupo. As nozes sã o armazenadas no outono e usadas
durante o invemo. A direita estão dois machos e uma f êmea (direita abaixo, com
3 vegeta ção mais densa , como banhados , a maior preda çã o é noturna , a faixa mais escura sobre a cabeça )
I 3
e quando a incubação é realizada por v ários indiv íduos do grupo,
cada um tem uma chance de sobrevivê ncia maior ( Vehrencamp
i
machos do grupo podem contribuir geneticamente para a cria de
1978). Estes são os benefí cios médios para cada integrante do As f ê meas destes uma mesma f
grupo, mas, como vimos, as aves dominantes lucram muito em êmea . Apesar do parentesco próximo entre as f ê meas
picapaus comem os e de vários aspectos da vida diá ria serem compartilhados, isto n ão
um grupo do que as subordinadas. Mesmo assim , as aves subor- ovos umas das outras
3 dinadas ainda ganham mais, em termos de proteçã o contra a
significa que não haja conflitos dentro do grupo . Algumas vezes
as fê meas que compartilham o ninho removem os ovos umas das
3 predaçã o, do que perdem , interagindo com as dominantes. Se não
fosse assim, elas deixariam o grupo e nidificariam como pares
outras, como no anu estudado por Sandy Vehrencamp, e as
primeiras fê meas a iniciar a postura correm o risco de ter seus
3 solitá rios ( veja Cap.6) ovos jogados para fora do ninho. Uma vez que a segunda f ê mea
3 inicia a postura , ela pá ra de derrubar ovos, presumivelmente porque
não é capaz de distinguir quais são os seus pr ó prios ovos. As
( b) Picapaus da Califórnia
êmeas do picapau não só derrubam os ovos, mas também os levam
f
i Os conflitos entre fê meas de grupos com reprodu ção comunal
podem ocorrer mesmo que as fê mas sejam parentes pr ó ximos, como
para uma forquilha fora do ninho e os bicam at é quebrá- los. Todo
o grupo (incluindo a f ê mea que pôs ovos em primeiro lugar ) se
i Em grupos de pica -
paus da Califórnia as
f ê mas s ã o frequente -
está ilustrado no estudo de Walter Koenig, Ron Mumme e Frank
Pitelka sobre o picapau Melanerpes formicivora ( Fig. 12.8 )
realizado na costa central da Califó rnia (Koenig et ai 1984). Estas
aves vivem em grupos de até 15 indiv í duos, normalmente com dois
reprodutores de cada sexo e seus filhotes de um ano de idade .Os
grupos geralmente se formam com a união de bandos de machos A disponibilidade de
juntam em um repasto “ovicida”!
Uma caracter ística diferenciada da hist ó ria natural dos picapaus
da Califórnia é que constroem vá rios armazé ns de nozes de
carvalho e de sementes de pinheiros que ser ão consumidas durante
o invemo , e na é poca de reprodu ção, a primavera. Estes armazé ns,
mente parentes chamados de árvores de estocagem, são carvalhos ou pinheiros em
irmã os e fê meas irmã s de fam í lias distintas. Todos os membros á rvores de estocagem que as aves fazem milhares de furos ( eventualmente até em postes
do grupo ajudam a defender um território comunal , e na alimen - é uma restriçã o eco- telegráficos). No começo do outono, o grupo coleta e cuidado-
taçã o dos filhotes. Os reprodutores compartilham o mesmo ninho lógica samente armazena as sementes na á rvore de estocagem . A
e podem at é compartilhar a paternidade: an á lises genéticas de dificuldade de construir e manter as á rvores de estocagem (com -
polimorfismo de prote í nas mostraram que, algumas vezes, dois binado com a alta sobrevivência de adultos viabilizada por elas)
!
314/ CAP ÍTULO 12 COOPERAÇÃO E AJUDA /315
I
0
I
constitui uma restriçã o ecológica fundamental que tanto impede
os picapaus de deixar o grupo parental como leva à evolução da
nidificaçã o comunal. No sudeste do Arizona , as nozes são bem
menos abundantes e estes picapaus n ão vivem cm grupos, n ão
preparam á rvores de estocagem nem permanecem no mesmo
8
territ ó rio ao longo do ano. A população migra para o sul a cada *
ft
inverno e novos territórios são estabelecidos a cada primavera
(Stacey & Koenig 1984).
ti
•*
3
tf
Divisã o de trabalho e ajudantes especializados
Neste cap í tulo n ós vimos que em vertebrados o comportamento
de ajuda é uma etapa para os indiv í duos se tomarem reprodutores. IU
Embora muitos ajudantes venham a morrer antes que tenham a
chance de se reproduzir, atuar como ajudante n ã o é um modo de HS ®
Os ratos - toupeira
vida para qual os indiví duos est ã o permanentemente especializados.
Isto, como veremos no pró ximo cap í tulo, contrasta com os insetos
sociais, onde alguns indiv íduos se desenvolvem morfológica e
comportamentalmente para uma vida permanente como ajudantes.
Existe alguma coisa parecida em vertebrados? Um exemplo que
•s :: íí
!í J
i %
pelados t êm operári-
os n ão-reprodutores se encaixa perfeitamente foi descrito por Jenny Jarvis ( 1981 ). í *
especializados e um (Sherman et al. 1991, 1992 fazem um relato mais detalhado). Os si
ratos-toupeiras pelados ( Heterocephalus glaber ) são mam í feros
ú nico par reprodutor
por grupo esquisitos, sem pelos, cegos, rosados, que se alimentam de Fig 12. 8 A câ mara de uma col ó nia de ratos- toupeira - pelados O
. indiv íduo maior
amamentando jovens
c II Jf
tubé rculos e ra í zes e vivem em col ó nias subterrâ neas, no leste da deitado de costas no centro da figura é a í emea reprodutiva A
Á frica ( Fig. 12.8). Uma col ó nia pode ter até 80 indiv í duos, mas de duas semanas . Os demais indiv íduos alimentam a íemea reprodutiva
e osjovens % 13H ,
apenas um par é responsá vel pela reprodu çã o. As demais f
tê m ov á rios n ão desenvolvidos e os machos, embora possuam
êmeas
•i
propósito, no momento, é que existem pelo menos dois tipos de espécies. Os membros da coló nia sã o, quase com certeza, parentes
bem próximos, e a dificuladade de construir um sistema de t ú neis
indiv íduos nã o reprodutores, que se diferenciam pelo tamanho e
pelo trabalho que executam. Os machos pequenos cavam os
elaborado, essencial para a sobrevivê ncia, limita bastante as
chances de sucesso na dispersão. * i.1 ;
z«~r <p>
buracos e procuram pelo alimento, enquanto os maiores perma -
*c Iyí ia W '
*# ,12I,^
Embora estes animais tenham um sistema de divisão de trabalho
melhor, pode n ão estar dispon í vel por falta de territó rios ou
mais desenvolvido do que outros vertebrados com ajudantes, os
fatores ecológicos e genéticos que favorecem o comportamento de
parceiros.
-#
!: L#
# M
#
ll *
«:
y i
&
I 316/ CAPÍTULO 12 COOPERAÇÃ O E AJUDA /317
I
3 Além dos ganhos genéticos com a ajuda dada a parentes, comportamento. O
ajudantes podem aumentar a própria chance de sobrevivência ou
os dos ganhos individuais para a evolução desse
( 1984 ) discute a
sucesso reprodutivo futuro permanecendo em casa. Estas alterna- ú ltimo capí tulo de Woolfendcn & Fitzpatrick
diferentes . O trabalho de
tivas geraram discordâncias sobre quais os fatores que favoreceriam mesma questão c chega a conclusões exemplo
o comportamento de ajuda: ganhos indiretos por ajudar parentes Kerry Rabenold ( 1984 ) sobre a ave Malurus é um
cuidadoso , incluindo uma das
ou ganhos diretos em valor adaptativo para o ajudante. Entretanto excepciona1 de um estudo de campo
primeiras aplica çõ es da técnica de impress ã o digital do DNA cm
estas alternativas não são mutuamente exclusivas e os ganhos
espécies com ajudantes (Rabenold et al. 1990). Através
desta
genéticos de cada uma pode variar de espécie para espécie. Quando
t écnica mostrou -se que, ás vezes , alguns machos ajudantes sã o os
os ajudantes não são parentes dos receptores da ajuda, a segunda
e
alternativa é crucial. Emlen (1991) concluiu que para a maioria pais de alguns filhotes. Koenig et al. (1992) revê os custos
das espécies em que h á dados suficientes para se estimar valores benef ícios da dispersão versus a perman ê ncia em casa .
quantitativos, tanto os ganhos diretos como indiretos de valor
adaptativo são essenciais para manutenção da estratégia “ficar cm
casa como ajudante”. Estas espécies foram descritas como mutualístas Tó picos para discussã o
(ganhos diretos em valor adaptativo tanto para o ajudante como 1 Por que freq úentemente existem conflitos de interesse em grupos
para o ajudado ) no cap í tulo 11. Em duas espécies, o martim reprodutores, e como eles são resolvidos?
pescador e o abelheiro, os únicos ganhos mensuráveis do com- 2 Os ganhos indiretos de valor adaptativo são necessários para
portamento de ajuda são em valor adaptativo indireto. Nestas a evolução do comportamento de ajuda em aves e mam í feros?
espécies o comportamento de ajuda é altru ísta, no sentido usado 3 Discuta os méritos relativos de estudos de campo de longo prazo
no capítulo 11. e de experimentos de campo para a avaliação dos custos e
4 Podem surgir conflitos de interesse entre os ajudantes e os benefícios do comportamento de ajuda.
ajudados. Por exemplo, os ajudantes podem ser rivais sexuais em
potencial de um dos reprodutores. Estes conflitos de interesse são
mais marcantes nas espécies em que mais de uma fêmea usa o
mesmo ninho.
Resumo
Em algumas espécies de mamí feros, aves e peixes há indiv íduos
que não se reproduzem, mas ajudam outros a criar os filhotes. Na
maioria das vezes, os ajudantes são parentes próximos daqueles
que recebem a ajuda , por exemplo, podem ser filhotes da procriação
anterior. A ajuda a parentes pr ó ximos é uma maneira de conseguir
representatividade genética na próxima geração, análoga a ter
filhotes. Por é m, teoricamente , para conseguir uma melhor
representatividade genética na próxima geração, seria melhor
procriar diretamente do que ser ajudante. Mas os ajudantes são
impedidos de fazê- lo por limitações ambientais como falta de locais
apropriados para a reprodução. Quando os ajudantes n ão sã o
parentes dos reprodutores, os benefí cios com a ajuda sã o o aumento
na chance de sobrevivência e no sucesso reprodutivo futuro.
Leituras complementares
Emlen (1991 ) fornece um relato geral sobre o comportamento de
ajuda em aves e mam í feros. O livro de Brown ( 1987) oferece a
revisão mais extensa sobre o comportamento de ajuda em aves
e inclui discussões sobre a import ância relativa do parentesco e
g
Os insetos sociais
O PROBLEMA
$ A cooperação e o comportamento
de ajuda observados nos
vertebrados são quase insignificantes quando
que acontece nos insetos sociais comparados com o
.... .
atinge o ponto em que grandes
. Nestes insetos o auto sacrif í cio (b)
s completamente est éreis; eles
quantidades de indivíduos são
nunca
disto, devotam toda sua vida adulta se reproduzem, mas, em vez
O que Darwin e muitos outros à criação dos filhos dos outros.
biólogos desde sua época também
perceberam é que isto representa
natural favorece a máxima
um paradoxo, pois se a seleção
contribuição gen é tica para as gerações
futuras, como ela poderia conduzir ao
m
Dois problemas: a desenvolvimento de indi-
evolu çã o da esterili- v í duos totalmente estéreis, que nã o se reproduzem nunca ? Ainda
dade e a evoluçã o de pior, estes indiv íduos desenvolveram especializações para vá rias
castas especializadas tarefas associadas ao comportamento de ajuda ( Fig 13.1 ). Isto
levanta outro problema: se as operá rias n ã o se reproduzem
, como
os seus caracteres especializados poderiam ter evolu í
do? No ú ltimo
capítulo vimos que em vertebrados o auto sacrif
ício e a ajuda V
podem ser favorecidos pela seleção porque a ajuda
é geralmente (f )
dada a parentes próximos. Alguns indivíduos são
impedidos de
ter seus próprios filhotes por restri ções ecol ógicas, como Fig. 13.1 Exemplos de castas em insetos sociais. Na fileira de cima , as castas de
a falta
de territórios, e ajudam a criar seus irm ã os mais jovens. êmeas e o macho da formiga Pheidole kingi instabilis. (a) operária pequena (b)
f
vimos que a ajuda a parentes ou a nã o-parentes, muitas També m operá ria m édia (c ) operá ria grande (d ) macho (e) rainha. Na fileira debaixo vá rias
parte de uma estratégia a longo prazo, através da qual um
vezes, é castas especializadas de outras espécies, ( f ) soldado da formiga Camponotus
indivíduo truncatus bloqueando a entrada do ninho com sua cabeça em forma de “ tampa”,
pode, eventualmente, conseguir um território ou um parceiro que funciona como um “ port ão vivo” no ninho ( g) casta esté ril do cupim
cap í tulo vamos considerar at é que ponto id éias similares podem
. Neste ,
Nasutitermes exitiosus , que tem a cabeça com formato parecido com uma pistola
ser usadas para compreender como as castas estéreis e o compor de água para espirrar substâ ncias tóxicas nos inimigos que se aproximam, ( h )
tamento de ajuda evolu í ram nos insetos sociais. - operá ria estufada da formiga Myrmecocystus que vive permanentemente no ninho
como um “ barril vivo de suprimentos”. Dados de Wilson ( 1971 ).
I *3 Castas de operá rios “ pistola d’água”, usada para esguichar got ículas pegajosas em seus
especializados inimigos, enquanto a cabeça dos soldados em espécies como
Ciclos vitais tí picos são muito variáveis, operá rias passam as primeiras semanas de
de operá rias de muitas espécies. As
vida dentro do ninho; quando manipulam presas
mortas que foram
I 3 Camponotus truncatus tem a forma de um tampão que encaixa
perfeitamente na entrada do ninho e serve para manter os intrusos
trazidas pelas campeiras, alimentam as larvas guarda na entrada
alimento regurgitado , limpam o ninho , e montam
e a rainha com
H
dos 40 dias de idade em
social para dar algumas informações básicas, antes de considerar- fora da coló nia,
3 em detalhe) as operárias começam a realizar tarefascontra inimigos
mos duas teorias propostas para explicar as origens evolutivas das principalmente forrageando e defendendo o ninho
,
castas esté reis. A seguir, passaremos à discussão das caracterí sticas de formiga não é muito
A duração total da vida de uma operá ria
de poucas semanas a
I 3
especiais da gené tica dos Hymenoptera que, supoe-se, predispõe
este grupo à evolução de castas estéreis.
bem conhecida , mas , provavelmente
poucos anos. Em abelhas e vespas ,
,
as
varia
oper á
ç
rias vivem aproxima-
as do comportamento
damente 3 a 10 semanas. Além das mudanformigas existem duas
3 das operárias com a idade , em algumas
O ciclo de vida e a histó ria natural de um inseto social de femeas estéreis):
3 castas morfológicas de operárias (ambas o geralmente maiores
. Os soldados sã
Myrmica rubra é uma espécie de formiga comumente encontrada soldados e operárias normais secreções de defesa.
3 em bosques, fazendas e jardins na Europa . Constró i um ninho com com mand íbulas ou glâ ndulas para produzir na defesa da coló nia.
câ maras subterrâ neas, escavadas sob pedras achatadas, algumas Como seu nome implica , sã o especializados
3 , operárias, soldados)
vezes em tocos de á rvore apodrecidos ou mesmo em solo exposto. A diferencia çã o de As femeas das diferentes castas (rainhas o da casta
O ninho começa com uma ú nica rainha fértil . Ela é fertilizada diferem geneticamente e a determinaçã
3 Em Myrmica rubra castas é geralmente geralmente nãocondições ambientais durante o desenvolvimento
uma só rainha funda durante o “vôo nupcial ”, em agosto ou setembro, durante o qual n ã o-genética depende das -
de uma larva
3 a coló nia grandes números de femeas e machos alados em estágio reprodutivo larval. Em Myrmica , por exemplo, o desenvolvimento fatores , tais como
de alguns
aglomeram-se no ar e copulam (somente as formas sexuais voam em rainha ou em operária depende que colocou os ovos. Em
3 e o fazem apenas neste estágio do ciclo de vida ). A rainha perde nutrição, temperatura , e idade da rainha
o desenvolvimento de
as asas depois do vôo nupcial e passa o primeiro invemo dentro abelhas melíferas, a rainha pode suprimir impedem as operárias
da câ mara do ninho que ela mesma construiu, escavando um buraco novas rainhas através de sinais químicos que
3 .
no chão ou em um toco de á rvore Durante o verão seguinte, os
Í 3
£ fr
INSETOS SOCIAIS /323 f &
<
* i£??
322/ CAPÍTULO 13
nha
êmea se reproduz sozi-
ninho, mas cada f •e i ?
I
evolução de castas esté reis. As hipó teses abrangem a histó ria
evolutiva, logo n ão podem ser testadas experimentalmentc. De fato,
Insetos eusociais pri- os dois caminhos sã o observados nos himen ópteros “ primitivamcn -
mitivos exibem am- te eusociais” atuais, assim, as duas hipóteses tentam fazer gene-
i
jovens permanecem
ninho e ajudam a
no
ecológicas
e do
permanência em casa.
1 . Defesa dos ovos e larvas contra parasitas. A principal causa
ninho como restrições de morte entre os jovens em
mento progressivo , tal como a
espécies que realizam aprovisiona -
vespa cavadora, é, frequentemente,
£ £
-r
o parasitismo por parte de outros insetos, e uma das tarefas mais
* i
(a) Restrições ecológicas
Os ancestrais das abelhas e vespas atuais eram provavelmente vespas
parasitóides que colocavam seus ovos dentro ou na superfície de um
importantes das operá rias em coló nias eusociais é a defesa do ninho
contra parasitas e outros inimigos.
.
2 Construção do ninho. Embora, provavelmente, o ancestral
parasitó ide carregasse a presa para ref ú gios naturais como racha-
• 1
* i
hospedeiro, no qual a larva se alimentava e crescia ( Evans, 1977). duras ou buracos (ou mesmo cavidades escavadas por seus
* 1
* ii
'
£
o
324/ CAPÍTULO 13
1 INSETOS SOCIAIS /325
V
*
11
hospedeiros), isto fez com que logo surgisse Estação reprodutiva
a construção de > Fim
refúgios artificiais, conhecidos como ninhos. In ício
Em hábitats com 0,25.
locais naturais escassos, deve ter ocorrido forte
*
V
para a habilidade de construir ninhos a partir dapressão seletiva
lama, vegetais
(a)
i
mastigados, e assim por diante. A construção
do ninho eé um 0,5 0,5
trabalho á rduo, que consome muito tempo, e é fácil imaginar * Netos
* adultos recé m amadurecidos teriam ganho mais ficando
ajudando
que
em casa,
Rainha * filhos
s
e que de fato a contribuição da fê mea
de sobrinhos e sobrinhas. Ninhos de
filhotes do que ninhos de fê meas
•
o iI 1
e Z
pode ter levado à divisão desigual de trabalho
reprodutor é ilustrado tos em valor adapta- pares de fêmeas produzem mais '
Construção coopera - por Metapolybia aztecoides contra predadores e parasitas.
! v-
tiva do ninho , outra vespa neotropical, desta vez com tivo sã o importantes) solitá rias porque são melhor guardados consequentemente, que uma fêmea Air
uma casta de operá rias estéreis. Nesta espécie, o ninho é constru í do O estudo de Metcalf demonstra, juntando-se a uma irm ã como poc
por vá rias operá rias que ajudarão a aumentar o
ninho. No in í cio, de Polistes pode ter resultados tão bons
a cooperação entre as fêmeas é essencial para estabelecendo o seu pró prio ninho, mesmo que no primeiro caso n ã o tas
a produ ção de muitas (Tabela 13.1 ) Outros estudos
operá rias, necessárias ao funcionamento da coló nia e do ninho produza praticamente nenhum filhote gru
uma vez que a colónia esteja bem estabelecida , uma rainha mas ,
nos quais os ninhos sã o fundados por mais de uma
e expulsa as demais ( isto é, se ainda houver
Todas as fundadoras que tenham chance de produzir qualquer cria alguma
luta
viva) antes
reprodutiva . Desta
de Hymenoptera
fêmea , demonstraram
,
que as fundadoras
pletas, isto é, filhas do mesmo pai e da mesma mã
sã o geralmente irmãs com -
e (e.g. Strassmann *# 1, **
são reprodutores es -maneira, cada rainha começa o ninho com certa chance de acabar et al. 1991).
peran ç osos, mas al- produzindo cria reprodutiva, e todas as perdedoras
gumas se frustram
com 7J as outras rainhas. Em Metapolybia as fundadoras
são reprodutores
esperançosos”, cuja ú nica alternativa, no começo, era “a cooperação
são pro-
O fato de que as col ó nias de insetos sociais são frequentemente
fundadas por irmãs levanta a interessante questão de como as irmãs
se reconhecem. Se a dispersão for muito limitada, uma ” regra
*» a iv
vavelmente irmãs, logo, mesmo as perdedoras têm um ganho simples como “cooperar com a primeira rainha que encontrar pode
gené tico com a col ó nia. Mas se as chances de reprodução
na ser adequada, mas, em pelo menos algumas espécies, a habilidade
ausê ncia de cooperação forem pequenas o suficiente, poderia se para reconhecer parentes tem bases gen éticas. Greenberg (1979)
imaginar cooperação até entre fundadoras não relacionadas (
Eberhard 1978 b)
West-
Reconhecimento de
parentes em halict í-
deos
demonstrou que operá rias da abelha Lasioglossum zephyrum
(Halictidae) impedem seletivamente que indivíduos não relaciona -
*# Ti-
Ha
car
dos
A partilha do ninho também poderia ter aparecido por acidente. dos entrem em seu ninho. Existe uma correlação linear entre o i v
Na vespa cavadora dourada ( Sphex ichneumoneus ) duas fêmeas não
aparentadas acabam, às vezes, usando a mesma cavidade, porque
a segunda fêmea tenta se apropriar de um ninho aparentemente
grau de relacionamento genético e a tendê ncia das operá rias
permitirem a entrada de intrusos na colónia. Greenberg sugere que *i
abandonado, que na verdade já estava ocupado (Cap í tulo 10).
Embora em Sphex a partilha de uma cavidade seja desvantajosa
para as f êmeas, porque lutam entre si e roubam presas umas das
Tabela 13.1 Cá lculos realizados por Metcalf sobre a contribuiçã o genética às
futuras gerações em Polistes metricus . A tabela mostra a compara ção entre a
contribuição genctica de rainhas solitá rias e rainhas a e B que compartilham um
*í
. *i
• it
outras, é poss í vel que a ocupação acidental de um mesmo ninho ninho Ninhos compartilhados tem maior probabilidade de sucesso que ninhos
tenha sido o ponto de partida para a nidificação comunal, se as solitários As femeas ct produzem a maioria dos filhotes em um ninho comparti-
pressões ecológicas de parasitas, por exemplo, fossem muito lhado, enquanto as f êmeas B conseguem dar maior contribuição genética quando
ajudam a criar os filhos de sua irmã . As medidas de sucesso são expressas
grandes
Companheiras de ninho Vo A
I
Se, as fundadoras são irmãs, como em Metapolybia, mesmo aquelas Rainhas solitá rias a B
i
que falham em se reproduzir ainda assim conseguirão alguma repre- Probabilidade relativa de O
sentação gen ética na próxima geração. Isto foi elegantemente ilus- sucesso do ninho ( ± SE) 1 1 ,38 ± 0 ,02 1,38 ± 0,02 i
trado pelo estudo de Bob Metcalf sobre vespas Polistes metricus Média de relaciona- 0,47 0,45 0,34
( Metcalf & Whitt 1977). Algumas vezes, estas vespas fundam ninhos mento com a cria
como rainhas solitá rias e, às vezes, duas irm ã s compartilham um Contribuição genética
relativa
1 1,83 ± 0,57 1,39 ± 0,44
* 5
328/ CAP ÍTULO 13
INSETOS SOCIAIS /329
compartilha todos os genes do pai. A outra metade dos genes de Via mãe = (0,5 x 0,5 ) + via pai (0,5 x 1 ) r = 0,75
uma fêmea himenóptero vem de sua mãe diplóide, logo ela terá
uma chance de 50 por cento de compartilhar com uma irmã (b) Irmã-irmão
qualquer um dos genes provenientes de sua mãe. Se agora Uma fêmea está ligada ao seu irm ão
pensarmos no grau total de relacionamento entre as irmãs chega- 9 cf somente via sua mãe, já que seu irmão
remos a uma conclusão notável . Metade do genoma delas é sempre se desenvolveu de um ovo não fertili-
idêntico, e a outra metade tem 50 por cento de chance de ser zado. Metade dos genes dela vem da
compartilhada, de modo que o relacionamento total é 0,5 + ( 0,5 mãe; a probabilidade de que uma có-
x 0,5) = 0,75. Em outras palavras, por causa da haplodiploidia, pia destes genes seja compartilhada é
irmãs completas são mais próximas genéticamente do que pais e de 0,5. A outra metade vem do pai; a
filhos em uma espécie diplóide normal. Rainhas de himenópteros probabilidade de que a cópia de um
são dipló ides e são, conseqiientemente, relacionadas a seus filhos destes genes seja compartilhada é zero
e filhas em 0,5 (Quadro 13.1, e Tabela 13.2). Uma operária estéril
pode, assim, obter um ganho genético maior criando uma irmã Via mãe (0,5 x 0,5) + via pai (0,5 x 0) r = 0,25
330/ CAP ÍTULO 13
1 *£
7
INSETOS SOCIAIS /331
* ij *
*j
A haplodiploidia pode també m ajudar a explicar porque castas
himenópteros do que
esté reis evolu í ram mais freq ú entemente nos ( 1975) aponta para * g *w
(c) Irmão-irmão
cm qualquer outro grupo de insetos . Wilson
estéreis nas formigas sociais, * «
H
9 6 Todos os genes do macho vêm da 11 origens independentes de castas
sua mãe. Existe uma chance de 0.5 abelhas e vespas, os quais constituemorigem somente 6 por cento de todas
de compartilhar uma cópia de um
gene particular com seu irmão.
as espécies de
o resto dos
insetos
insetos , a
, e
saber
uma
, os
ú nica
cupins
da esterilidade em todo
. Desde que Wilson escreveu *í v
|i
Aoki , 1977 ) , mas
foram descobertos em um af í deo
isto, soldados n ão reprodutores ídeos são geneticamente mais
os af * V
japonê s (
propensos à esterilidade do que os Hymcnoptera. Eles se repro
parte do ano), o que significa
- * fj
Via mãe ( 1 x 0,5) r
-
(d) Irmão irmã
0,5 Operá rias em af ídeos duzem assexuadamente
que os membros de uma
corpo . Assim
( pelo
col
, a
ó
menos
nia de
existê
af ídeos são idênticos, como
ncia de operá rios est é reis nos
*« B l
as células do
af ídeos nã o é uma surpresa evolutiva maior do que o fato das
!!
Todos os genes do macho prov êm
da sua mãe. Existe uma chance de
cé lulas do nosso nariz n ã o
Experimentos recentes têm demonstrado
produzirem espermatoz
que os
ó ides ou ó vulos.
soldados de afídeos *e ! !
* Hi ! -
0.5 de compartilhar uma cópia de galhas , Pemphtgus spyrothecae , defendem a colónia
formadores de de alguns soldados ,
um gene particular com sua irmã . contra insetos predadores resultando na morte
•
um comportamento de “ manuten çã o da
e também apresentam
e deos mortos.
casa”, limpando a galha de exudados defecados af í
* Iií "c*
sã o removidos a col ó nia sofre aumento de
... resulta em padrões Via m ãe (1 x 0,5) Note a assimetria na relação entre Quando soldados
preda ção e també m reduçã o do sucesso reprodutivo
devido ao
não usuais de rela-
cionamento os quais
poderiam predispor
este grupo à evolu-
r = 0,5 irm ãos e irmãs [cf. ( b) acima ]
de relacionamento
uma vez. Se duas operá rias não compartilham o mesmo pai elas
se relacionam em apenas por 0,25. Em abelhas mel í feras a rainha
Os cálculos simples copula até vinte vezes, mas as operárias são
entre irm ãs que sã o mais ou menos
capazes de discriminar
aparentadas , e direcionar sua
•* 1t
!
'
Í 11M<
Tabela 13.2 Graus de parentesco entre parentes próximos em uma espccic
são aplicá veis às co- ajuda a parentes que descendam do mesmo
pai ( Page et ai , 1989).
haplodipl óide
ló nias reais? Se a coló nia é fundada por muitas irm ãs, como em Trigona, é
mais prová vel que o comportamento de ajuda evolua em uma
espécie haplodipl ó ide do que em uma diplóide, porque na primeira
Fê mea
Mã e
0,5
Pai
0,5
Irmã
0,75
Irmão
0,25
Filho
0,5 0,5
Primo ou prima
Filha ( via irmã )
0,375
a fêmea se relaciona com os filhos de sua irmã por 0,375, e na
segunda por 0,25. Independentemente da rainha ser ou n ão
monogâmica, o coeficiente de parentesco não é sempre exatamente
como o calculado em esquemas de descend ência (Craig, 1979;
• 19 f
* 13*! L'
*
I 11í: LJ
•
Macho 1 0 0,5 0,5 0 1 0,25
Grafen, 1984). Um exemplo hipotético serve para ilustrar este
32/ CAP ÍTULO 13
INSETOS SOCIAIS /333
rela-
ponto. Suponha que em um inseto social existem Consideremos primeiramente a rainha. Ela é igualmente como
duas estratégias
para fêmeas, controladas por uma ú nica diferença de cionada a seus filhos e filhas (r = 0,5 em cada
caso) e
,
em casa e ajudar , ou iniciar um ninho e aceitar ajuda.
alelos: ficar
fêmea de qualquer espécie dipl ó ide espera -se que ela produza um
com o alelo para a ajuda encontrar uma irmã com
Sc a fê mea
n ú mero igual filhos machos e femeas reprodutores. Para
ser ma ís
um ninho
preciso ela deveria investir igualmente nos dois sexos (Capí
propensa a aceitar ajuda, ela pode ter certeza que tulo
compartilha o alelo para ajuda, mesmo se seu
a irm ã n ão
8). É importante enfatizar que estamos nos referindo em inves -
relacionamento Rainha e operá rias reprodutivos, nã o em operá rias
através do esquema de descendência seja 0,5 (
Grafen, 1986a). timento igual em descendentes
discordam sobre a
razão ótima de inves- esté reis. Lembre-se que no Capítulo 8 o argumento era que a razão
Seleção nas coló nias sexual 50:50 era está vel porque machos c f êmeas possuem o
timento em repro-
atuais versus origem CONFLITO ENTRE OPER Á RIAS E RAINHA
dutores mesmo sucesso reprodutivo esperado. Conscq ú entemente, a discus -
histórica Nossa discussão se referiu, prioritariamente, à histó são sobre razão sexual somente é pertinente para reprodutores.
ria evolutiva;
nós descrevemos as pressões ecol ógicas e predisposi Agora a reviravolta: se a rainha produz uma razão sexual igual,
çõ es genéticas
que podem ter sido importantes na condução da evolu as operá rias gastarão seu tempo criando igual n ú mero de irm ãos
ção de castas
esté reis. Nesta seçã o não iremos discutir a origem da ( aos quais estão relacionadas por 0,25) e irmãs (relacionadas por
eusocialidade,
mas as pressões seletivas que atuam nos dias de hoje nas coló 0,75). O grau de parentesco médio com a totalidade dos irmãos
nias
de himenópteros. Nossa questão será: “ Dado que existem reprodutivos será , portanto, somente 0,5, exatamente o mesmo que
castas
esté reis, como operá rias e rainhas maximizam seu ganho gen elas teriam com sua pró pria progénie, se tivessem decidido sair
ético?
“A resposta para esta questão provavelmente
nos dirá algo sobre de casa e ter sua pró pria cria!
as forças seletivas mantenedoras da eusocialidade atualmente, mas Para que as f êmeas recebam o benef ício gen ético completo por
podem usadas apenas como evidências indiretas para sua origem permanecer em casa e criar irmãs, elas precisam criar mais rainhas
.
A teoria de Hamilton, a qual descrevemos na ú ltima seção, pode que zangões. Mas quanto de desvio em favor das irmãs reprodutivas
ser usada para analisar como as operá rias e rainhas podem elas devem demonstrar? Mais uma vez procuramos pela EEE da
maximizar seu ganho genético. Como mostraremos, a teoria prediz razão sexual, mas desta vez do ponto de vista das operá rias. As
um conflito de interesses entre operá rias e rainhas quanto a razao operá rias são mais proximamente relacionadas as suas irmãs, e,
sexual dos reprodutores na col ónia. logo deveriam criar mais irmãs do que irmã os. Mas se elas criarem
mais irmãs do que irmãos a razão sexual na população se tomará
tão enviesada em favor das f ê meas que um zangã o terá um sucesso
CONFLITO SOBRE A RAZ ÀO SEXUAL
reprodutivo muito maior do que uma rainha. A razão sexual está vel
Nosso relato da teoria de Hamilton pode ser sintetizado da seguinte para as operárias é de 3:1 em favor das f êmeas reprodutivas.
forma . Imagine uma jovem f êmea com a escolha hipotética de sair Quando f ê meas reprodutivas são exatamente três vezes mais
para criar suas próprias filhas ou ficar em casa para criar uma nova comuns que os machos, os machos tê m três vezes o sucesso
geração de irmãs reprodutivas mais jovens. Uma vez que as irmãs Rainhas preferem a esperado de uma rainha, porque, em média , cada zangão pode
são parentes suas mais próximas do que seriam suas filhas, ela razã o de investimen - copular com três f êmeas. Do ponto de vista das operárias, isto
obteria melhor resultado ficando em casa para criar irmã s do que to de 1: 1 , oper á rias compensaria precisamente o fato de o grau de parentesco com os
se tivesse o mesmo n ú mero de filhas. De fato a rainha parece ser preferem a raz ão de irm ãos ser somente 1 /3 do que é com as irmãs: uma operária espera
a perdedora, uma vez que ela está condenada a ter filhos! f meas: machos
3:1 de ê ganhar três sobrinhas ou sobrinhos de cada irmão para cada um (a)
Entretanto, existe mais uma reviravolta nesta estória que ainda que ganha das irmãs. Sobrinhas e sobrinhos do lado de sua irmã
não consideramos. Pode ser melhor para uma jovem f ê mea ficar sã o três vezes mais proximamente relacionados a ela , então o ganho
em casa e criar irmãs, mas isto pressupõe que a rainha ir á produzir total por unidade de investimento via irmãos e irmãs é o mesmo
irmãs para que ela criar. Obviamente, o que as filhas podem fazer Para sintetizar este argumento bastante complicado, a rainha
depende do que a rainha está fazendo. Como vimos previamente, prefere um investimento igual em machos e f êmeas reprodutores,
neste livro, sempre que encontramos situações como estas devemos mas as operá rias preferem a razão viesada de 3:1 na cria, em favor
analisar o problema em termos de qual será a estratégia das fêmeas. Existe um conflito direto de interesses sobre a razão
evolutivamente estável, ou EEE. sexual entre rainhas e operárias. Quem vence?
334/ CAPÍTULO 13
INSETOS SOCIAIS /335 * I >*
TESTES DO CONFLITO tentando controlar o comportamento das oper á rias com ferom ô nios
.. _ operárias ou as
.Me 1 , as a razao de de investimentorainhas
RAINHAS-OPER Á RIA
Bob Trivers e Hope Hare (1976) quiseram
testar se são as
que saem ganhando. Eles analisaram a razão
ou por agressão direta.
Embora Trivers e Hares considerem duas divisões extremas de
poder prá tico, controle total da rainha ou controle total das
** 1i t
,
“
investimento em ni- em crias de machos e
nhos de formigas espécies foram
( mais acurado do que simplesmente
olhar n úmeros)
femeas de 21 espécies de formigas As .
operá rias sobre a razão sexual, a alternativa rnais plausível é que
o poder é dividido. A rainha pode escolher o sexo dos ovos que * 11jl t
demonstram um des- condições para aescolhidas
vio em favor das fe Apesar de uma quantidade
meas...
-
porque, aparentemente, nestes
hipótese são satisfeitas (uma rainha, uma casos
considerável de
Trivers e Hares encontraram que, em médiadispers
as
cópula),
ão nos dados,
coloca ( fertilizando ou não com esperma estocado) e as oper á rias
podem escolher criar ou não as larvas. Com o poder dividido o
problema passa a ser “dado que oper á rias controlam a razão sexual
*
•ri *
mento sexual estava bem mais próxima de 3:1raz o do investi-
( Figura 13.4). Eles conclu í ram que
, a ã
do que de 1: 1
depois do ovo ser colocado, com que razão deverá a rainha pô r
os ovos”, e dado que a rainha coloca uma certa razã o de ovos, * !
as operá rias venciam o conflito
e manipulavam com sucesso a razão sexual na
e em detrimento ao da rainha.
Colocando
operárias est ão cultivando com sucesso a rainha
direção do seu ótimo
maldosamente, as
como as oper á rias devem manipul á - los .” Em uma aná lise do
e I
Richard Alexander e Paul Sherman (1977) criticaram o artigo
de Trivers e Hare nas seguintes bases (a ) A rainha geralmente
,
*
O3
D 4
de 3:1 pressuposto por Trivers e Hare. (b) Oper á rias frequentemente
colocam ovos que se desenvolvem em machos (em um estudo com
mamangavas, por exemplo, 39 por cento dos ovos que produziram
i i r
5
o
5
Uma explica çã o al- machos foram colocados por operá rias (Owen e Plowright, 1982))
”*3 6 ternativa para os in- e com operá rias que põe ovos a previsão de 3:1 n ão se sustenta
ca 77
vestimentos viesados mais. Mais importante, eles ofereceram uma explicação alternativa
em favor das femeas para a razão viesada em favor das femeas. No Cap í tulo 8
mencionamos que a teoria de Fisher de investimento igual em f
machos e femeas nã o mais se manté m quando h á competi ção entre
10 irm ãos por parceiras (competi ção local por parceiras). Se uma mãe
“sabe” que suas filhas serão todas fertilizadas por seus filhos, ela
*
10 15 20
Razã o dc Peso Q / cf )
25 30
deveria produzir uma cria composta prioritariamente de filhas, com
filhos suficientes apenas para realizar a fertilização . Alexander e
*&
Sherman sugerem que pode haver alguma competição local por
parceiras, a qual poderia ser responsá vel pelo desvio na razão I m
.
Fig 13.4 Razão de investimento ( medido através do peso) em 21 espécies de sexual encontrado nas formigas estudadas por Trivers e Hare. Este t
hipó tese não é incompat í vel com a idéia da manipula ção pelas
•m j
formigas. No eixo x está a razão do peso de femeas: machos e no eixo y está a razão
do n ú mero de machos: femeas na col ó nia. A linha inferior é a previsã o se a razã o Competi çã o local por operá rias. Se a rainha favorece uma razão sexual viesada por causa
de investimento for 1:1, e a linha superior 3: 1 para femeas. Os dados estão parceiros sexuais dos efeitos da competição local por parceiras, as operá rias irão
próximos à linha de 3:1, como previsto se as operárias controlam a razão sexual.
( Para compreender como as linhas sã o obtidas tome por exemplo uma razã o dc favorecer uma razão ainda mais viesada por causa do impacto
peso Q:Cf dc 6: 1 . Investimento igual significaria 6 machos por Q, e um investimen-
to 3: 1 favorecendo as Q significaria uma razã o dc 2 Cf por femea.) Fonte: Trivers
adicional dos 0,75 de parentesco. Sem saber o grau exato da
competição local por parceiras não é possí vel para Alexander e r *i
e Hares ( 1976)
e ij
r -
e
k
i
336/ CAP ÍTULO 13
INSETOS SOCIAIS /337
!
LILLUM^UUI ». . k > tVV . • < 4.4 utartiuUaM
l I
338/ CAPÍTULO 13 INSETOS SOCIAIS /339
W 1 í'
I
também a Figura 13.5). Evidência
dc muitos estudos sugerem que Quadro 13.2 Conflito operária - operá ria
Trivers e Hare estavam cssencialmente
A corretos (Scger, 1991 ).
batalha evolutiva entre operá rias e rainha O conflito em coló nias eusociais n à o é somente entre
acontece apesar do fato de a rainha e as operá rias pela razã o sexual operá rias e rainhas. Operárias podem discordar entre si sobre
camente diferenciadas. É a dieta e nào os genes que nào serem geneti-
ela se toma estéril ou reprodutiva. Se algué pensardeterminam se
a produção dos ovos. Embora as operá rias nunca se acasalem
em muitas espécies de formigas, abelhas e vespas elas sã o
i
m em termos de
genes para o controle da razão sexual, estes genes devem produzir capazes de colocar ovos não fertilizados, os quais, sendo
no rela -
haplóides, desenvolvem -se em machos. Com base
uma estratégia condicional “se estiver no corpo de oper
3:1, se no dc uma rainha, 1:1”. Como a quadro 13.2 ária favoreça
mostra, pode cionamento gen ético , é poss í vel calcular , todo o resto *i
também haver conflito entre operárias cm uma colónia dc insetos. permanecendo igual, quais membros
beneficiar da postura de ovos de oper
da coló nia irão se
á rias. Olhemos para * 1,I
Haplodiploidia e a origem da eusocialidadc o benef ício para a rainha, para a operá ria que p
.
*
õe ovos, e
*
Vamos retomar agora a nossa questão anterior de como os
ajudantes nos himen ó pteros podem ter evolu í do pela primeira vez.
para as outras oper á rias .
.
(V x 1 %) + ( /. 3 x %)
,
= 2/ 16
*I
ser calculado como ( n ú mero criado x valor x grau de parentesco). X
’ X
t
t
t
ff
-
5
vor das fê meas. (como produtores de netos ) do que são as fêmeas da primavera. A
fêmea da primavera deveria, então, produzir uma cria de reprodutores
viesada em favor dos machos. Alguns deste machos sobrevivem para
se acasalar com fêmeas do verão, na realidade, se apropriando das
que a população inclui machos sobreviventes da primavera).
Peguemos um exemplo numérico hipotético para examinar este
efeito. Suponha que a razão sexual dos reprodutores na população
seja 1:1 e a razão na geração que atravessa o invemo seja 2:1
em favor das fêmeas. Se o valor de machos e fê meas é igual,
chances dos machos do verão. Por este motivo vale mais a pena para
o ganho obtido por cuidar das irmãs seria (3/ 4 x 2 / 3 ) + (' / 4 x' /
uma mãe do verão ter uma cria com um desvio favorecendo fêmeas,
uma vez que os machos, tendo tido seu trabalho parcialmente feito = 7/12, enquanto o ganho obtido com sual própria prole seria o usual
V2. O valor cr ítico de K é, portanto, ( / 2 / 7 / , 2) = 6/ r A fêmea de
^
por machos da primavera, sã o menos valiosos que as fê meas.
*9
1 t
342/ CAP ÍTULO 13 INSETOS SOCIAIS /343 #
halict í deo tem que criar somente 6 irm ã os para cada 7 lilhos A engenhosa idéia de Scger de que ciclos parcialmente
perdidos , então a haplodiploidia combinada ao desvio da razão
bivollinos dos halictídeos poderiam favorecer a evolução da
socialidadc c sustentada por três linhas dc evidências .
sexual mudou o equil í brio levemente em favor do comportamento Evidências a favor da 1. Existe, como previsto, mudanças sazonais na razão sexual; em
de ajuda . Se você tentar obter exemplos com diferentes razões
sexuais verá que o resultado geral se mant é m, mesmo quando a
hipótese de Scger 10 espécies dc csfccideos para os quais existem dados dispon í veis
razão sexual na geração de inverno não for viesada em favor da a gera ção que atravessa o inverno apresentava uma tendência em
fêmeas em termos absolutos, desde que seja viesada a favor das favor dos machos, e a gera çã o de verã o, em favor das f êmeas
fê meas relativamente à população como um todo. 2. Como previsto, estágios iniciais de comportamento de ajuda sã o
as este nao ® cxatamente o final deste argumento. Lembre- encontrados mais írcq úentemente em espécies com ciclo de vida
Machos da primave- ^
ra e do verão comn » SC ue mac os vcrao sao menos valiosos que fêmeas por causa
mais parecido com os hahct ídcos do que com os esfccideos
-
^ ^ ^ ^
tem por acasala men - a aProPr‘a < ° acasalamentos pelos machos da geração anterior
3. Ambos estágios primitivos de socialidadc (representando come
tos ^
( primavera ). Mesmo se a razão sexual no verão n ão fosse
completamentc viesada cm favor das f
ços evolutivos para o comportamento de ajuda) e ciclos de vida
parcialmente bivoltinos são mais comuns nas regiões temperadas
ê meas, relativamente ao resto do que nas tropicais, sugerindo que a primeira possa ser facilitada
da popula ção, o valor alto das f êmeas iria alterar a balan ç a cm
favor do comportamento de ajuda . Suponha que, como resultado pela última.
da apropriação dos acasalamentos as f Alan Grafen ( 1986 b ) sugeriu que a hipótese dc Scger c um caso
êmeas fossem duas vezes especial dc “razã o sexual dividida ” na qual alguns ninhos tê m um
mais valiosas que os machos e a razão sexual fosse 1 : 1 , o ganho êmeas O
por ajudar seria ( valor x grau de parentesco ) = ( 2/3 x 3 /4 ) para desvio favorecendo machos, outros favorecendo as f
fêmeas + ( 1 /3 x 1 /4 ) para machos = 7/ 12, enquanto o ganho por comportamento de ajuda seria favorecido nos ninhos onde h á
criar sua própria prole seria (2/3 x 1 /2) + ( 1 /3 x 1 /2) = 1 /2 e o desvio a favor da f êmeas.
valor de K seria, portanto, 6/7 ( note que “ valor” foi colocado cm
escala para que a soma total seja um ) (Grafen 1986). Manipula çã o parental ou vantagem das filhas ?
Para resumir este argumento complicado, o ciclo de vida dos
halict í deos favorece o comportamento de ajuda pelas fêmeas no De acordo com a hipó tese de Seger, a prole onginalmente
verão porque (a) a razão sexual local é mais viesada em favor de O valor lim í trofe de permaneceu em casa para ajudar porque a razão sexual da cria
fêmeas do que aquela da populaçã o e ( b) o valor dos machos diminui K para o comporta - favorecia as f êmeas, em relação à populaçã o como um todo, e
porque algumas f êmeas se acasalam com machos da primavera. mento de ajuda ser isto muda a razão cr í tica de benef ícios para custos para a prole
Existe mais uma reviravolta final nesta estó ria . Alguns vantajoso para as apresentar comportamento de ajuda de 1 para algo menor que 1
himen ó pteros parcialmente bivoltinos tê m um ciclo de vida no qual m ã es é menor do que ( p. ex . 4/5 com um desvio de 3: 1 ).
os eventos sã o invertidos em um dos passos; este é o padr ã o para as filhas Do ponto de vista da m ãe, o valor cr í tico de K é 0,5. Isto acontece
encontrado, por exemplo, em quase todas as vespas esfccideos ( Fig porque, em persuadindo suas filhas a ficar e ajudar, a mãe consegue
13.6 b). Aqui a população atravessa o inverno como larvas macho produzir mais filhotes, com quem ela tem um grau de relacionamen -
e f êmea . As larvas completam seu desenvolvimento na primavera to de 'A , em vez de netos, com quem o grau de parentesco é de
e se acasalam para formar a geração do verão. A geração do verão somente % ( Fig 13.3). Parece que, por este motivo, condições
amadurece e se acasala para formar a segunda gera ção, a gera ção ecol ógicas ( valores de K maiores que o limite cr í tico ) sob os quais
do outono. A geraçã o do outono n ã o amadurece , mas se desenvolve a manipula çã o parental seria favorecida na origem da eusocialidade
até o ú ltimo instar da larva que atravessa o inverno até o pró ximo provavelmente foram atingidos antes daqueles que tomavam o
O ciclo de vida dos ano. Tal como no ciclo de vida dos halict ídeos, os machos da comportamento de ajuda vantajoso para a filha. Significaria isto que
sphecidae n ã o favo- primeira gera ção (as larvas que atravessaram o inverno do ano a manipulaçã o parental tem mais probabilidade de ser a rota para
rece o comportamen- anterior) podem sobreviver para se acasalar com aquelas da ú ltima Manipula çã o paren- evolução da eusocialidade, através da permanência em casa, como
to de ajuda geração, logo, neste caso, uma razão sexual com mais machos é tal e vantagem para argumentou Alexander ( 1974 )? Robin Craig ( 1979 ) apontou para o
esperada no outono, e uma razão favorecendo as f êmeas, para efeito as filhas n ã o sã o re- fato que se o valor de K estivesse abaixo do lim í trofe para as filhas
compensat ó rio, no verã o. Agora pense na jovem f ê mea de verão almente alternativas elas resistiriam à manipulação, e então, uma maneira prová vel da
com a escolha hipoté tica de permanecer em casa para ajudar a rainha encorajar as operá rias a ajudá-la seria alterando o valor de
mãe ou sair para se acasalar. Em ambos os casos os jovens que K , movendo-o para cima do valor cr í tico para as filhas. Ela poderia
ela criar irão contribuir para a gera ção do outono, consequentemente, ter feito isto, por exemplo, dando menos alimento para as filhas, e
com desvio em favor de machos. N ã o h á nenhum incentivo especial assim, impedindo seu crescimento e reduzindo sua
capacidade de
para se tornar uma ajudante advindo da haplodiploidia no ciclo pô r ovos se elas sa í ssem de casa (em insetos a capacidade de pô r
de vida dos esfecideos: de fato, a haplodiploidia age contra o ovos é bastante dependente do tamanho). Com a habilidade de pôr
comportamento de ajuda, neste caso. ovos reduzida, o custo de permanecer em casa seria diminu ído, ou
I
I
344/ CAP ÍTULO 13 INSETOS SOCIAIS /345
*1 - ÊL
filhotes
que
s que compartilhavam um ninho, com
que as outras . De acordo com ambas
*t I *
uma produzindo mais
ógicas de um ninho comunal sã o a
*t -l
a eusocialidade.
hipóteses as vantagens ecol e a construção de um ninho
defesa contra parasitas ou predadores
1. Ciclos de endocruzamcnto e exoeruzamento. Stephen Bartz é de que a ajuda é dada para
( 1979 ) sugeriram que alternações entre endo e exoeruzamentos elaborado. A predisposiçã o gen é tica teoria pode haver uma
primeira
poderiam favorecer a evolu ção de castas esté reis nos cupins.
Para compreender este argumento pegue um caso extremo.
parentes pró ximos. No
forte seleção para as m ã
caso
es
da
persuadirem
filhas resistirem
suas
.
filhas a ficar em casa r ílíi ;
e pouca seleção para as
Suponha que o rei e a rainha de uma col ó nia de cupins n ão
são relacionados entre si, mas ambos nasceram cm col ónias Nos Hymenoptera pode haver uma predisposi
comportamento de ajuda : a
çã o gen é tica
haplodiploidia .
hi
lí :
com alto grau de endocruzamento c são, por esta razão, adicional a favor do
esté reis nos Hymenoptera poderiam passar *# !i:
í
-•l í
efetivamente homozigotos. Os dois pais serão relacionados Fê meas ajudantes
do que a rainha
aos seus filhos pelo usual 'A, mas a prole terá um grau de adiante seus genes até mais cfetivamente
se elas desviassem a razã o sexual dos irm ã os
relacionamento entre si igual a 1! Eles serão todos heterozigotos reprodutiva
como a geração F 1 em um cruzamento mendeliano entre dois reprodutores que elas ajudam a criar . Isto acontece porque as irmã s
~
# I
homozigotos com alelos alternativos. Desta maneira, a prole relacionadas umas à s outras do que sao
será geneticamente predisposta a ajudar seus irm ã os mais do
sã o mais proximamente
as m ã es aos seus filhos. A haplodiploidia funciona como uma t
que a seus próprios filhos. Embora este seja um exemplo
extremo, ele traz uma caracterização geral de como uma
alteração entre endocruzamento e exoeruzamento poderia
favorecer o comportamento de ajuda.
predisposição para a evolução do comportamento de ajuda somente
quando a razão sexual dentro do ninho for viesada em favor das
fê meas mais do que na popula çã o como um todo. A demografia
pode também ter um papel: por mdificar em grupo uma fêmea
s --
Como poderiam estes eventos de fato se realizar? Bartz
ressalta que cm col ó nias de cupins, reprodutores alados são
pode aumentar a certeza de que sua prole ir á sobreviver.
l c
geralmente produzidos n ão pelos rei e rainha fundadores, mas
por reprodutores secund á rios que sã o filhos dos fundadores Leituras Complementares IM
# 11 *
originais. Em outras palavras, os reprodutores que dispersam
para encontrar parceiros e iniciar uma nova col ó nia são Hamilton ( 1972 ) resume a import â ncia da haplodiploidia nos
produto de acasalamento de irmão com irmã. Dado que Hymenoptera como uma predisposição para a eusocialidade. Seger
reprodutores alados tê m pouca probabilidade de acabar se ( 1991 ) d á uma aprecia ção geral muito ú til dos himenó pteros
acasalando com irm ãos, o padrão de altern â ncia entre endo sociais. Wilson ( 1975 ), no cap í tulo sobre insetos sociais, faz uma
# I
excelente revisão da biologia deste grupo. Michencr ( 1974) é o
!>
e exo cruzamento parece se sustentar.
2. Genoma ligado. Uma possibilidade adicional de predispo- trabalho básico sobre abelhas sociais.
si ção gené tica para a eusocialidade cm cupins foi descoberta Dawkins ( 1979) enumera uma divertida e esclarecedora lista de #
por Syren e Luykx ( 1977). Em algumas espécies uma apre-
ciável proporção do genoma está ligada aos cromossomos
doze maus entendidos na literatura sobre seleção de parentesco.
Por exemplo, a afirmaçã o que “ todos os indiv í duos de uma espécie c4*
# 1*
sexuais. Como resultado disto o grau de relacionamento entre compartilham “ uma alta propor ção de genes” ( demonstrada por
irm ãos do mesmo sexo é maior que 0,5 ( Lacy 1980 ). E dif í cil
avaliar a importância geral desta descoberta sem que haja mais
estudos de hibridiza çã o de DNA ) e , por isto eles deveriam ser
altru ístas uns com os outros é uma fal ácia. Para ver porque, d ê M§
informações sobre a extensão da ocorrência em cupins (Cronzier
& Luykx 1985 )
uma olhada no artigo de Dawkins.
Wilson ( 1980) discute um aspecto do comportamento social dos IM
insetos que n ão foi contemplado neste capí tulo, a alocação ó tima
M
# *
1
como não há nenhuma razão para suspeitar que seu andar camba -
leante tenha se desenvolvido por seleção natural para significar um
estado avançado de embriaguez, não inclu í mos o cambalear na
defini ção de comunica çã o. Por outro lado, o canto incessante de
um gafanhoto, produzido pelo roçar de uma perna contra a outra,
provavelmente evoluiu a partir de movimentos simples do caminhar
e é um exemplo de comunica çã o. Um macho ancestral de gafanhoto
pode ter cambaleado em direção a uma fêmea , produzindo aciden -
talmente um som e, aos poucos, a seleção natural agiu sobre o som
para que se tomasse alto e evidente para atrair as femeas.
349
V
350 / CAP ÍTULO 14 A MODELAGEM DE SINAIS /351
*
1
Como uma observação a parte, vale a pena mencionar que nossa tom, volume e estrutura harm ó nica Os odores podem ser menos
definição de comunicação não satisfaz a todos os estudiosos do flex íveis, mas sã o enegcticamente mais baratos deanimais produzir e
podem durar muito mais tempo, uma vantagempode para com
comportamento. Nosso interesse neste capí tulo c sobre como os ó como uma raposa que anunciar sua
um grande territ rio ,
1
sinais evoluem, por isto destacaremos a import â ncia dos sinais o sinal uma vez a cada
especialmcnte envolvidos na comunica ção. Mas, para algu é m mais presen ça em vá rios pontos, renovandopoucos dias. Cores brilhantes sobre
poucas horas ou mesmo a cada
interessado em interações sociais, humanas ou animais, uma (ou pelo menos sazonal -
definição mais ampla como “qualquer aspecto da presen ça ou do o corpo estão em exibi ção permanente êmeas e
para atrair f
mente) e, embora possa ser uma vantagem por
comportamento de A que influencia B”, pode ser mais apropriada.
afastar rivais, pode ser uma enorme desvantagem atrair
Isto inclui observações como as de Michel Argyle ( 1972) sobre indesej á veis !
muitos aspectos sutis da postura (como algué m se encosta em uma
predadores
cadeira, cruza as pernas, etc ) que tê m um papel preponderante
na comunica ção humana, embora n ão tenham evolu í do como sinais COMUNICA ÇÃ O EM FORMIGAS ^ I
especiais. çã o sob diferentes con -
O uso de diferentes canais de comunica
di ções ecol ó gicas est á elegantemente ilustrado pelo estudo de Bert
Restri ções ecol ógicas e comunica ção Hõ lldobler ( 1977) sobre os sinais de recrutamento em formigas..
Quando as formigas retomam à col ó nia de uma viagem de
Diferentes grupos animais dependem de diferentes canais sen - forrageio, elas frequentemente recrutam outras para participar da
soriais para a comunicação. Pequenos mam í feros vivem em um
O ambiente limita a coleta do suprimento alimentar H õ lldobler descreve três tipos de
gama de sinais pos- mundo de odores, as aves no mundo da m ú sica, e um peixe de
um recife de coral em um mundo de cores brilhantes. Por que recrutamento, dois deles ilustrados na Figura 14.1
sí veis 1. Espécies como Leptothorax se alimentam de presas imó veis
exsitem tais diferenças? Parte da resposta está no fato de que a
( p. ex . besouros mortos) que sã o grandes demais para ser
utilidade dos diferentes canais sensoriais depende de restrições carregados por apenas uma operá ria, mas que podem ser arrastados
impostas pelos há bitos e h á bitats das espé cies. É ó bvio que sons
ou odores são mais ú teis do que sinais visuais para pequenos para o ninho por dois indivíduos juntos. Depois de encontrar a
mam í feros noturnos, e que aves vivendo em vegetação arbustiva presa, as operá rias de Leptothorax retomam ao ninho, regurgitam
densa podem mais facilmente se ouvir do que se ver. O veado um pouco de alimento e secretam um sinal qu í mico pelo abdome
que vive em florestas delimita o territó rio com longos chamados para atrair outras operá rias. Uma operá ria é recrutada para ajudar
e marcas odor í feras, que deposita sobre a vegeta ção, enquanto em no transporte da presa at é o ninho e é “ levada pela m ão” ao local
á reas abertas usa prioritariamente sinais visuais ( Loudon com de forrageio - comportamento chamado de “corrida em tandem ”,
pess. ). Mas as diferen ças na eficiê ncia de transmissão nao sao no qual as operá rias seguem a l íder mantendo contacto f ísico com
Custos e benefícios as ú nicas considera ções que devem ser feitas para avaliar os custos ela: as recrutas mant ê m as antenas encostadas no abdome da l í der
de diferentes moda- e benef ícios dos v á rios canais de comunica ção (Tabela 14.1 ). O ( Fig. 14.1 a ).
lidades som é bastante flex í vel : um n ú mero enorme de sinais pode caber
em um pequeno espa ço de tempo através de variações rá pidas de
\ <
Noruega
^ Irã
com as notas originais. Por esta razã o, para superar as reverbe-
ra ções nas floresta, os cantos deveriam ser de baixa frequ ê ncia
I
1 1 j i e conter notas puras (ao contrá rio do que ocorre com a maioria
a
L
dos trinados ) ou se forem trinados, devem ter notas amplamente
espa çadas. Estes são precisamente os padrões observados por
Morton nos estudos de tico- ticos e Parus major. Ao contrá rio, as
* i
4 * Duas hip ó teses: ate- flutua ções iregulares de amplitude nos h á bitats abertos favorecem
0 i i
Inglaterra
I
0
\
05
\
1.0
\
Marrocos
I i i i
nua çã o e degrada çã o os trinados rá pidos. Uma vez que o canto é mascarado pelo vento
a intervalos irregulares ele deve conter notas que sejam curtas o
suficiente e que sejam repetidas t ão rapidamente que possam ser
*# i
í
Tempo (seg) detcctadas em um curto espa ço de tempo. A mesma necessidade
Fig 14.2 (a ) O canto do tico-tico tem trinados mais lentos nas florestas do que nos
campos abertos (b) O canto de Parus major em florestas densas tem uma extensã o
,
de fazer com que os cantos se encaixem nos curtos intervalos das
rajadas de vento pode ter sido responsá vel pelas altas frequ ê ncias
*» í1
mais estreita de frequências, frequência máxima mais baixa e menos notas do que
em campo aberto.
dos cantos nos hábitats abertos, já que um som de alta frequência
requer um tempo menor para um dado n ú mero de comprimentos
i
de ondas. Mais uma vez, os padrões previstos pela hipó tese
de
sintonizados na “janela de frequ ência” de m í nima atenuação. O Wiley e Richards se combinam muito bem com aqueles observados.
significado dos tons mais altos e das bandas de frequências mais Uma outra complicação é que em pelo menos dois estudos ( o I
amplas no canto das aves que vivem nos campos é mais obscuro. de Morton e aquele sobre o Parus major ) , as aves
das florestas !
f
1
r
i
Ii
A MODELAGEM DE SINAIS /35'
356/ CAPÍTULO 14
* gena
diferença na estrutura das frequ ências e, por isso, no poder de
alcance dos dois sons reflete a modelagem para comunicação a
distâ ncias diferentes. Vocaliza ção Função Dist â ncia Pressão do som Frequ ê ncia
Provavelmente, estes macacos usam vocalizações que não percebida pelo a 5 m do macaco ( Hz )
ouvido humano
atingem grandes distâ ncias nas sinalizações dentro do grupo para
evitar a atração de predadores. Outra maneira de produzir sons que Gargarejo Espa çamento lOOOm 75dB 300-400
não atraiam predadores é emitindo sons difíceis de ser localizados, entre tropas
1000-3000
% como sugeriu Peter Marler ( 1955) em um artigo cl ássico sobre “Guincho" Encontros
agon ísticos
300 m 78dB
gritos de alerta em pequenas aves. Marler afirma que os gritos
t emitidos por muitas espécies de aves pequenas quando há um
entre membros
da tropa
*
358/ CAPÍTULO 14 A MODELAGEM DE SINAIS /359
••J I«
I
( Accipiter gení ilis ) predadores de
pássaros foram testados para formas detalhadas de exibi ção
em muitos estudos sobre as
sobre as a ções futuras . Isto apareceu aves, peixes e mam í feros.
cm
» íI
verificar sc eram capazes de localizar os gritos de alarme. Os
predadores ficavam em um poleiro
... como movimentos Aparentemente, muitos destes sinais evolu í ram a partir de movi-
intencionais rctesamentos musculares feitos pelas
i*
mentos intencionais, como osé dif ícil imaginar que os movimentos
entre dois auto falantes c seus
movimentos de cabeça eram usados para testar sc conseguiam aves antes de decolar : n ão
— í*
originalmente bons indicadores de uma
*+ fí +f
r;
localizar a origem do grito de alarme. Aparentemente, eles eram para a decolagem fossem
... embora as evidên capazes de localizar os gritos de alarme t ão bem quanto qualquer um rival ou da aproxima çã o de um prov á vel
- investida por parte de por diante. Outros movimentos realizados
cias
as experimentais outra vocabzação mais fácil (Shalter 1978). Brown ( 1982), por parceiro sexual e assim
atividades constituem també m uma boa
sejam ambíguas outro lado, em um experimento bastante similar, vcrificou -sc que
outra espécie de gavião ( Buteo jamaicensis ) c o mocho orelhudo
( Bubo virginianus ) tinham mais dificuldade para localizar gritos
na transição entre duas
matéria prima para a evolu
movimentos refletem um conflito
çã o de exibi ções. Frequentemente estes
motivacional ou indecisã o, por
aÉí fr
Os ambientes impõem restrições amplas sobre a elaboração dos higiene do pato durante a corte irrelevantes que
sinais, mas, dentro dos limites fixados, a maneira como os sinais Os movimentos an- atividades deslocadas
a -
çõ es aparentemente
de equil í brio entre estados
evoluem é o resultado da seleção para o aumento da eficiência cestrais geralmente tendem a ocorrer em momentosagressão e sexo. O ato de unnar
com que alteram o comportamento do reccptor. Os receptores t ê m refletiam um conflito motivacionais incompatíveis, como são a base das exibi ções
motivacional é como corar ou eri çar os pelos, que
um papel muito importante tanto na origem evolutiva dos sinais, ê ncia da atividade nervosa
Muitos sinais evolu- em algumas espécies, uma consequ
como na subsequente evolução em direçã o ao aumento de efici - aut ó noma durante momentos de estresse . O lobo ancestral devia
í ram a partir de
ê ncia. incontrolavelmente quando se confrontava com um rival na
movimentos inciden - urinar
um cachorro
tais que davam indí- fronteira de seu territó rio ( qualquer um que tenha
cios sobre as futuras nervoso conhece bem este tipo de coisa !) , e esta resposta evoluiu,
COMO os S I N A I S SE O R I G I N A R A M
sinalizar “ afaste -se ”. Um
ações do sinalizador posteriormente, para uma maneira de
Para um observador casual, gcralmente, as exibições dos animais macaco aterrorizado exibe os dentes de modo semelhante â rea ção
parecem ser inexplicavelmente bizarras e absurdas . Por que um reflexa de proteger as partes mais vulner á veis de sua face , como
pato faz movimentos como se estivesse bebendo água e limpando os olhos e a boca , contra a investida violenta de um agressor .
as penas durante o ritual de corte? Por que os macacos rhesus Tal como urinar, uma resposta autónoma ao estresse tomou -se um
mostram os dentes em sinal de medo ou apaziguamento? sinal durante a evolu ção.
Um grande passo na compreensã o dessas questões foi dado A maioria das conclusões apresentadas nos dois parágrafos
quando etologistas como Lorenz e Tinbcrgen perceberam que anteriores são inferê ncias baseadas em estudos da estrutura deta -
muitos sinais tinham evolu í do a partir de movimentos incidentais, lhada das exibições e dos contextos em que elas ocorrem . Por
ou de respostas comportamentais dos emissores que acabavam exemplo, o fato das exibições de amea ça ocorrerem nas fronteiras
sendo entendidas pelos receptores. A seleção favoreceu os recep- de territórios e em sequê ncias de comportamentos, que incluem
tores capazes de antecipar o comportamento futuro dos emissores, transi ções entre ataque, ameça e recuo, sugere que tenham surgido
reagindo a ligeiros movimentos que antecediam uma a ção impor- quando o estado do animal era de conflito motivacional. A exibiçã o I
tante. Se um cachorro sempre mostra os dentes antes de morder, em “zig-zag” do engasga gato de três espinhos ( Gasterosteus
os receptores capazes de prever e escapar a um ataque apenas aculeatus ) envolve um estranho movimento, no qual o macho
observando a exposição dos dentes serão favorecidos pela seleção. cortejador se aproxima da femea com uma série de arcos curtos,
como se estivesse em conflito entre se aproximar e evitar o
i J
Uma vez que isto aconteça, a seleção favorecerá aqueles emissores
que mostram os dentes como uma maneira r á pida de deter os
receptores e, assim , mostrar os dentes começa a evoluir como um
encontro.
Evid ê ncias mais diretas a favor da hipó tese do conflito foram
obtidas com experimentos de manipulação das tend ê ncias de ataque
li
11
•
sinal de ameaça .
r&—
ou fuga. Nick Blurton Jones (1968) estudou as exibi ções de ameaça
Espera-se, então, que os sinais tenham evoluído a partir de
movimentos incidentais que na sua origem davam informa ções
Manipula ção experi-
mental do conflito de Parus major em cativeiro da seguinte maneira: ele descobriu 11 9*
motivacional que as aves atacam um l á pis colocado entre as barras da gaiola
i
V' &
«r
I*
lir ©
360/ CAPÍTULO 14
I A MODELAGEM DE SINAIS /361
repetitiva
rias
de
,
prestes a atacar" e n ão d á margens a erros de
exibi
amea
informa
ç
çõ
a ,
es
com
( Cullen 1966 ).
sua natureza
claramente
interpreta çõ
“estou
es do
tí í:c
tipo “estou apavorado ou “
(como Darwin percebeu em
sou um
primeiro
macho
lugar )
atraente
sinais de
. De
amea
fato,
ça e i
i :
apaziguamento são, freqiientemente, extremos opostos; um cão
ameaçador permanece ereto, enquanto um outro apavorado se retra í
próximo ao ch ã o, em apaziguamento. O princí pio de redu ção da
* *
ambiguidade també m pode ser ilustrado pelos sinais de corte. *
Sinais ritualizados
podem ser menos
ambíguos
Geralmente, os sinais de espécies aparentandas são claramen íe
distintos para minimizar as chances de confusã o (fig 14.5)
Ao mesmo tempo, o aumento do grau de estereotipia para tomar
*
um sinal mais claro pode restringir a quantidade de informa ção
que transmite sobre o emissor. A estrutura exata e o padrã o de
#
movimento no sinal ancestral de amea ça pode ter refletido o
equil í brio preciso entre agressão e medo do emissor, mas um sinal *
ritualizado e estereotipado, provavelmente, traz menos informa ções
sobre o estado do emissor. Morris ( 1957 ) chamou esta estereotipia
*
de “intensidade t í pica ” e, para ele, a perda de acuidade na
informa ção sobre o estado do emissor é o preço pago pela redu ção
da ambiguidade. Neste caso, assume-se que é vantajoso para o
*r t f
chão. Reproduzido de Cullen (1972) cauda e aponta o bico para o
controlar o comportamento dos receptores.
A
- *
364/ CAPÍTULO 14
A MODELAGEM DE SINAIS /36!
(a )
1
-S. poinsetti (b) Manipulação
Uma concepçã o bem diferente da í r tua / iza ção aparece se pensarmos
0 1 2 em termos de custos e benef í cios da comunicação para o indiví duo.
cd as ritualiza çõ es po - De acordo com os princ í pios básicos da seleção natural , usados
Jf T
ed •S / arrovi dem ser o resultado nos capítulos anteriores, dever íamos esperar que os animais
O
cd de “ corridas evolu - fizessem uso de sinais apenas quando a sinaliza çã o oferece alguma
~o Vy\ tivas ” entre emissores vantagem , devido aos seus efeitos sobre o comportamento de outros
g 0 1 2
2 e receptores animais. Podemos apresentar este argumento em termos mais
< 1
S ornatus formais e mais precisos, como segue: os sinais são partes do
comportamento que evolu í ram de modo especial, com os quais um
0
indiv íduo, o emissor, manipula o comportamento de outro, o
1 2 receptor, em benef ício próprio. Mas se os sinais reaimente
Tempo (seg) evolu í ram deste modo, como devemos interpretar a ír tualização?
Imagine que o indiv íduo A manipula o comportamento de B de
(b) cada bloco corresponde a um aceno com a qucla um modo vantajoso para A , mas n ão para B; então, seria uma
> pugna x vantagem para B resistir e reagir ao sinal de A , ou , em outras
t palavras, desenvolver uma “ resist ê ncia à manipula ção”. Como
longisignalis T~ — consequência, isto geraria uma pressão sobre A para desenvolver
v / rens um sinal que superasse a resist ê ncia de B, por exemplo, aumen -
1£ tando a amplitude do sinal através da repeti ção ou exagero. É claro
rapax
i r que A e B não seriam indiv í duos, mas papéis representados através
morda x do tempo evolutivo, e as mudanças levariam gerações para
] [
T
LI acontecer. Em resumo, se os sinais apareceram como instrumentos
0 5 10 15 20 de manipula ção, deve ter se seguido uma “corrida armamentista ”
Tempo (seg) (Cap í tulo 4 ) entre a resistê ncia à manipula ção dos receptores e
(c) o poder de persuasã o dos emissores. A consequê ncia desta corrida
fMUHHIIU coevolutiva é o que reconhecemos como rí tualização. De acordo
Hyla avtvoca com este ponto de vista, a í r tualização não ocorreu por causa da
seleção para a transmissão de informações mais precisas ou menos
Hyla chrysoscehs
*-
1 4
amb íguas, mas, simplesmente, para superar a “resistê ncia à ma -
nipulaçã o” dos receptores. Na superação da resist ê ncia à manipu -
la ção, os conceitos de informa ção e ambiguidade sã o irrelevantes.
Tudo o que de fato interessa é a persuasão ou manipula ção.
"
**
ír !' * 1
'I 1 --
Mf t H t’f t H t -pif t»1I Analogia com propa - Talvez uma analogia ú til seja a propaganda. A maioria dos
Hyla femorahs |
ganda an ú ncios funciona porque exploram as susceptibilidades psicoló-
i
o 5 gicas do p ú blico. Quando você assiste a um an ú ncio de um
Tempo (seg ) cavaleiro forte, bronzeado e saudá vel fumando um cigarro, você
Fig 14.5 Exemplos de sinais de reconhecimento espec í fico (a ) Durante a corte e
as exibições de ameaça, os lagartos do gê nero Scleroporus balançam a cabeça em n ão passa a acreditar que o fumo irá melhorar a sua sa úde ou
padrões característicos para cada espécie. O grá fico mostra a altura da movimen- suas habilidades h í picas, você está (ou pelo menos alguns de vocês
tação da cabeça em fun ção do tempo de exibição nas três espécies (b) Os ,
estão) simplesmente sendo persuadido e desviado de um julgamen-
carangueijos ( Uca ) atraem as fêmeas acenando com a quela mais desenvolvida. to adequado, através de manipulação psicológica de que fumar é
Cada espécie acena de modo diferente. O gráfico à esquerda mostra os padrões de
aceno em quatro espécies. O bloco representa um aceno completo com a quela. (c ) “uma coisa boa”. O conceito de informação é tão irrelevante para
Rãs ( Hyla ) têm cantos caracter
ísticos de cada espécie. As fêmeas são atra ídas a persuasão quanto é o de engodo. Os an ú ncios não contam
somente pelos machos da própria espécie. Os traços do sonograma mostram as mentiras ( pelo menos onde haja legislação para impedi-los),
características gerais temporais do canto de três espécies. També m existem simplesmente são persuasivos.
diferenças espec í ficas na estrutura fina dos cantos que são importantes no Embora a visão de “ manipulação” ofereça uma explicação
reconhecimento.
diferente do porqu ê os sinais se tomaram ritualizados, ela tem
366/ CAPÍTULO 14 A MODELAGEM DE SINAIS /367
(c) Honestidade \y
O ponto de partida como ponto de partida os mesmos pressupostos de Lorenz, ções poderiam ter apa -
Tinbergen e outros sobre a origem dos sinais. Lembre-se que o No Cap í tulo 8 discutimos como as exibi
para a corrida evo o sexual como resultado da escolha pelas femeas
-
lutiva é o benefí cio prov á vel ponto de partida de vá rios sinais é o oposto da mani - recido por sele çã ,
a qualidade gené tica do macho .
para os receptores pulação pelos emissores, na verdade, é a vantagem obtida pelos de sinais inconfund í veis sobre
es elaboradas , como as penas alongadas das andorinhas,
reccptores que estariam captando dicas sutis e, assim, tomaram - Exibiçõ
atuar como caracteres diagn ósticos de habilidades herdadas
se capazes de antecipar o comportamento ( futuro) dos emissores. podem
e assim por
Neste ponto de partida, os reccptores estavam sintonizados nos para resistê ncia â doenças, da capacidade de forrageio ”
propriedade essencial da “exibi çã o elaborada é o seu
sinais dos emissores e, por antecipação, colocaram a situa ção a diante. Uma
custo de desenvolvimento e manuten çã o (é uma desvantagem )
seu pró prio favor. alto
e por isto’, só pode ser expressa
por machos genuinamente de boa
O termo “ manipula ção” pode parecer emocional, mas descreve
bem os efeitos dos sinais ritualizados sobre os receptores, em vá rias qualidade . Amotz Zahavi ( 1979 , 1987) ampliou esta id éia a todos í
estã o escolhendo
os sinais usados pelos animais. As femeas que
'
formas de comunicaçã o. Um exemplo marcante é o efeito do jovem demais . Todos os
A ritualiza çã o pode parceiros n ã o diferem em nada dos receptores
cuco sobre seus pais adotivos. Solicitando alimento no ninho, o ser o processo atrav és
cuco manipula o comportamento parental em benef í cio dos seus do qual os sinais se
receptores est ã o sob press ã o de sele çã o evolutiva para detectar
i
próprios genes, em detrimento dos genes dos pais adotivos. tornam indicadores
sinais “desonestos ” ou e mampulativos. Como resultado da corrida t
armamentista citada antenormente, irã o persistir somente os sinais
At é aqui, em nossa discussã o sobre manipula ção, pressupusemos confiá veis de qualida - %
que a comunica çã o n ã o é cooperativa e que os interesses do emissor que forem indicadores acurados de qualidade, como tamanho,
de ou de inten ções
e do receptor n ão são os mesmos. Mas, como vimos no Cap ítulo força , motiva çã o para lutar, velocidade de deslocamento e assim
11 , o comportamento cooperativo n ã o é incomum , cspecialmente por diante. Outros sinais serã o ignorados e cairã o em desuso . A
quando os indiv í duos sã o parentes pró ximos ou interagem repe- hipó tese de Zahavi, que é especialmente importante no caso dos
tidamente com benef ícios recí procos. A comunicação entre os sinais que indicam algum aspecto da qualidade do sinalizador, tem
membros de uma coló nia de formigas, em uma fam í lia de chacais três caracter ísticas principais: (a ) os sinais sã o confi á veis, ( b) a
confiabilidade é mantida pelo custo de sinaliza çã o, e (c ) deve haver
ou mesmo entre vizinhos territoriais, que se encontram repetida -
mente, pode muito bem ser cooperativa. Se a ritualização é o um elo direto entre a modelagem do sinal e a qualidade do cará ter
sinalizado. Sinais de força devem envolver demonstra ções do poder
*
+
produto da manipula çã o - a corrida armamentista descrita acima
muscular, sinais do tamanho do corpo devem indicar diretamente
- o que dizer dos sinais cooperativos ? Será que se tornaram o formato do corpo, e assim por diante. No Cap í tulo 7 vimos como
ritualizados da mesma maneira ? Se o receptor ancestral tivesse se
Sinais cooperativos beneficiado com os sinais usados nas lutas se relacionam diretamente com os
deveriam ser sus- resist ê ncia à
a recepção do sinal, em vez de desenvolver grande
manipula çã o, tenderia a desenvolver uma eleva çã o da
aspectos da habilidade de luta, por exemplo, nas disputas entre + í
surros abafados sapos, os tons de vocalizaçã o usados para avaliar o tamanho est ã o
sensibilidade ao sinal . Por sua vez, isto ofereceria condi ções para
que os emissores diminu íssem os custos da sinalização, reduzindo
a amplitude dos sinais. Todos os sinais t ê m um custo, por exemplo,
fisiologicamente ligados ao tamanho corporal .
m
algumas cigarras gastam 20 vezes mais energia quando cantam do Evid ê ncias extra ídas de sinais atuais
que quando em repouso ( MacNally & Young 1981 ), enquanto
outros animais atraem inimigos letais com suas sinaliza ções A discussã o anterior foi sobre histó ria evolutiva e, por isto, é dif ícil m r
consp ícuas. Então, se os receptores forem altamente sens í veis aos
sinais, deveria haver uma evolu çã o no sentido de minimizar os
testar as í d é ias diretamente. Mas é poss í vel observar os sinais atuais
e discutir se sã o mampulativos ou confi á veis. m r
custos para o emissor. O m í nimo deve ser definido pelos limites
sensoriais do receptor, ou pelos n í veis de ru í do do ambiente. Em
m 1r
U M E X E M P L O D E B L E F E O U S I N A L M A N I P U L A T I V O: T A M B U R U T A C A S
resumo, os sinais cooperativos deveriam ser bem diferentes dos
sinais ritualizados t í picos, estudados pelos etólogos: deveriam ser Como discutimos no Cap í tulo 7, os sinais usados nas avalia ções, I
silenciosos ou inconsp ícuos , de fato, deveriam ser quase durante as disputas s ã o, freq íientemente, confi á veis e onerosos,
como previu Zahavi. Entretanto, em algumas ocasiões os animais
* a
indetectá veis. Infelizmente ningu é m ainda realizou uma compara -
ção sistem á tica entre sinais cooperativos e não cooperativos, de
modo que esta previsã o ainda n ã o foi testada.
podem ter sucesso com seus blefes. As tamburutacas (Gonodactylus
brediní) sã o animais assustadores ( Prancha 14.1 ). Elas usam seus
?
w
I - i
i
ê I
*
368/ CAP ÍTULO 14
1 A MODELAGEM DE SINAIS /369
O termo manipula -
No começo deste cap í tulo, usamos a met á fora da “ manipula çã o
para descrever a hipó tese de que os sinais dos animais podem ter
*#
por pedaços de peixe na costa da Islâ ndia. Estas aves usam uma sido modelados pelo processo de evolução que otimiza as van -
çã o n ã o implica em
gama de exibi ções que variam tanto na efici ê ncia com que intencionalidade
tagens obtidas pelo emissor, com a alteraçã o do comportamento
do receptor. Deve ficar claro que n ão usamos o termo “ manipu -
#
provocam a retirada do rival , quanto no custo, medido como a
Em fulmares há si- probabilidade de que o rival revide com um ataque f ísico. A lação” para sugerir a existência de pensamento consciente ou #
conclusão central do estudo de Enquist é que o custo e a eficiê ncia inten ção no emissor, mas apenas para descrever uma hipó tese de
nais de baixo e alto
estão correlacionados. O fulmar tem a escolha entre uma exibição pressões de seleçã o evolutiva sobre os sinais. Embora a orqu í dea f
custo que sã o usados
( Ophrys apiferd ) possa manipular o comportamento das abelhas
em situações diferen-
tes
de baixo custo, como erguer as asas (a probabilidade de incitar
um contra ataque é de somente 0,017), ou uma de alto custo, um
ataque pelas costas (custo de 0,28). A primeira faz com que o
de modo a se auto-beneficiar ( com a transferência de pólen) em
preju í zo da abelha (que tenta copular com um objeto inapropriado ) ,
*é
oponente se retire em apenas 12% das ocasi ões e a segunda em ningu ém poderia sugerir, seriamente, que a orqu í dea tenha inten -
28% das vezes. Provavelmente, o indivíduo faz a opção entre as
duas tá ticas com base na fome que est á sentindo, ou seja, no valor
ções conscientes!
Como uma abordagem a parte , alguns estudos sobre comuni-
ca ção em primatas propuseram a questão: “será que os primatas
*
que tem para ele o peda ço de peixe.
f
l
l
372/ CAPÍTULO 14 A MODELAGEM DE SINAIS /373
manipulam conscientemente os demais?” Um das abordagens mais depois de ter dado os gritos de alarme, Kitui desceu de sua á rvore
ponderadas e detalhadas desta questão é o estudo de Dorothy e caminhou até a á rvore do intruso ainda emitindo gritos de alerta .
Cheney e Robert Seyfarth (1990) sobre comunicação em macacos Em resposta a um ataque real de leopardo (ou da percepção de
Cercopithecus aethiops do parque nacional de Amboseli, no Kênia. um ataque real ) o macaco que dá o grito de alerta deveria
Os macacos C. aethi -
Um tipo de sinal vocal que pode ser usado intencionalmente para permanecer na á rvore at é que o perigo tivesse passado. O fato
ops manipulam uns
manipular
aos outros intencio em grupos os demais é o grito de alarme. Estes macacos vivem
- de Kitui descer da á rvore sugere (a ) que nã o deu o grito de alarme
nalmente?
e quando um indivíduo avista um predador potencial simplesmente “por engano”, em resposta a um movimento súbito,
dá um grito de alarme, que desencadeia uma ação evasiva em todos e ( b ) que o uso enganoso do grito de alarme, se for este o caso,
os demais. A característica interessante dos gritos de alarme destes tomou-se in ú til, uma vez que ele de certo modo entregou o jogo
macacos é que existem tipos diferentes para diferentes tipos de descendo da á rvore, mostrando que n ã o havia perigo!
predador, sendo os principais o alarme de cobra, que faz os Macacos C.aethiops Um aspecto que merece destaque nas observa ções de Cheney
macacos ficarem nas pontas dos pés e olhar para o chão; o alarme aprendem a n ã o res- e Seyfarth é a raridade no uso enganoso dos gritos de alarme
de gavi ão, que faz com que os demais olhem para o cé u; e o alarme ponder a gritos ina-
(ocorreu em 2% dos encontros iríter-grupos ). Em experimentos em
de leopardo faz com que os demais corram e trepem na á rvore propriados 0
que o grito de alarme de um determinado indivíduo foi reproduzido
1 mais próxima. Estas observações mostram que os macacos têm um por uma caixa de som , o grupo aprendeu rapidamente a não
Gritos de alarme sistema sofisticado de comunicação : gritos espec í ficos para se
responder aos gritos que eram na verdade enganosos. É interessante
diferentes para dife- referir a predadores particulares e incitar uma resposta apropriada ,
rentes predadores notar que o aprendizado de não responder a um tipo de chamado
mas, é claro, não implicam qualquer intenção consciente. Uma ( p.ex. o alerta de leopardo) de determinado indiv íduo n ão afetava
abordagem num nível mais simples, supondo que diferentes tipos as respostas do grupo ao mesmo tipo de chamado de outros
de predadores automaticamente desencadeiam tipos diferentes de
O aprendizado é es- indiv íduos ou a outro tipos de chamados do mesmo indiv íduo.
gritos, explicaria os fatos.
pec í fico para cada ti- Estes experimentos mostram que esses macacos sã o capazes de
Entretanto, Cheney e Seyfarth relatam observações que, aparen-
po de grito e para lembrar muito bem tanto dos indivíduos como dos gritos espe-
temente, indicam que os C.aethiops são mais do que meros
cada indiv í duo c í ficos que são usados inapropriadamente. Isto deve limitar a
autó matos respondendo de maneira reflexa. Uma das observações
possibilidade de falsas sinalizações.
1 é que estes macacos são menos propensos a dar um grito de alarme
O efeito da audiên- quando não estão na presença de outros membros do grupo. Este Esta breve aná lise da manipulação enganosa e da intencionalidade
em macacos expõe tanto as dificuldades como os lampejos
> cia tipo de “efeito de audiência” pode ser considerado como um ind ício
de que os macacos tenham a intenção de que o grito seja escutado tentadores sobre a possibilidade de uso da comunicação animal
i pelos demais, mas poderia também ser explicado alegando se que- para alcançar a compreensão da consci ê ncia animal.
) o estímulo para uma resposta automática seja a presença de ambos,
predador e companheiros de grupo. Resumo
* Um segundo conjunto de informações que sugerem, segundo
Cheney e Seyfarth , o envolvimento de algo além de um compor- A comunica ção entre os animais ocorre quando um indiv íduo usa
*J tamento do tipo reflexo, é o uso aparentemente manipulativo dos
sinais. Em quatro ocasi ões um macho hierarquicamente subordi-
sinais especialmente elaborados ou exibições para modificar o
comportamento de outros. A modelagem dos sinais é influenciada
nado, chamado de Kitui, deu um grito de alarme de leopardo, tanto por restri ções ecológicas, como pela efici ê ncia com que
modificam o comportamento dos receptores. O h ábitat pode exercer
* mesmo sem haver nenhum por perto, quando um macho intruso
se aproximou do grupo. O intruso imediatamente correu para as
á rvores, em vez de continuar na tentativa de adentrar o grupo , assim
influência sobre a eficiência de diferentes canais sensoriais de
comunicação ( p. ex. marcas de odor versus sinais visuais) e sobre
-3 Kitui conseguiu evitar uma invasão incipiente com um grito de
alarme falso. Isto implica em intenção consciente? Mais uma vez
a forma exata dos sinais dentro de um canal sensorial. Este último
aspecto foi ilustrado com as diferenças entre os cantos de aves
uma explicação mais simples pode ser satisfatória: talvez Kitui, que vivem em diferentes tipos de vegetação.
em um estado de alta excitação, sofreu uma redução no seu limiar A medida que os sinais evoluem, a seleção melhora suas
3 A farsa sugere mani- para emitir gritos de alerta em resposta a movimentos bruscos que efici ê ncias tomando-os estereotipados, repetitivos e exagerados.
pulação intencional, poderiam sinalizar um ataque de leopardo (assim como você pularia Este processo evolutivo de ritualização pode ser o resultado de
3 por é m explica çõ es ao mais leve e súbito sussurro, ao caminhar por uma floresta no corridas coevolutivas entre sinalizadores e receptores.
a “ mais simples” s ão meio da noite). Entretanto, um conjunto posterior de observações
possíveis sugere que esta explicação n ão é suficiente. Em duas ocasiões,
O ponto final desta coevolução pode ser tanto um sma\
inconfund í vel como um sinal manipulativo .
3
n
374/ CAP ÍTULO 14 *
Capítulo 15. Conclusão *
Capítulo15. Conclusão
*
*
Leituras complementares *
Catchpole ( 1979) oferece uma boa revisão sobre cantos de aves,
incluindo discussões sobre os repertó rios e mimetismo de cantos.
A aná lise que fizemos sobre comportamento e adapta ção cm
quatorze capítulos é inevitavelmente muito simplificada. Sc tivés-
*
Cullen ( 1972 ) faz um revisão resumida da literatura etológica mais semos colocado todos os “se” e “ mas ” dignos de um relato
antiga sobre os sinais em animais, e Wiley (1983) cobre a literatura cauteloso e impecá vel , este livro seria duas vezes mais longo e
mais dif ícil de compreender. Entretanto, n ós n ão queremos deixar
mais recente.
Dawkins e Krebs ( 1978 ) e Krebs e Dawkins ( 1984) desenvolvem a impressão que todas as id éias discutidas aqui são totalmente I
a idé ia de que a comunica çã o é uma questão de manipula ção dos aceitas por todos os que trabalham em biologia evolutiva. Longe t
receptores pelos emissores. Eles contrastam esta visão com a “ visã o disto, mesmo as premissas mais bá sicas ainda causam muita
etológica clássica” de que os sinais evoluem para aumentar a polê mica .
eficiê ncia na transferê ncia de informações. Hinde ( 1981 ) critica
Dawkins e Krebs e questiona se a concepção que propõem difere Qu ã o plaus í veis são nossas principais premissas ?
«
realmente daquela dos antigos etologistas. Veja també m a resposta C
de Caryl ( 1982).
GENES EGO Í STAS
Anderson ( 1980) discute a idé ia das exibições ca í rem em desuso
quando imitadas por blefadores. Nossas discussões sobre seleção natural foram sempre nos seguin -
Wiley c Richards ( 1978) fazem uma revisão técnica das tes termos: “considerando um gene para um dado comportamento,
t
restri ções ecol ógicas sobre sinais sonoros e Bowman ( 1979 ) em que situação ele tenderia a se espalhar na população? ”. Como k
descreve como os cantos dos tentilhões de Darwin estão adaptados foi visto no Capí tulo 1 esta abordagem n ão pressupõe que haja
aos seus há bitats. genes “para ” altru ísmo, maldade, caudas longas ou seja l á o que t
Byme e Whiten ( 1988) e De Waal ( 1986) discutem os sinais for, mas apenas que existem diferenças gen é ticas entre os indi-
falsos em primatas. v íduos que se correlacionam com as variações comportamentais
Endler ( 1992) revê as vá rias forças que modelam os sinais. ou estruturais observadas.
Mas qu ão plaus í vel é esta concepçã o da seleçã o natural como *
Tó picos para discussã o uma disputa entre genes ego ístas e n ã o entre indiv íduos ou grupos?
Obviamente, o biólogo que vai a campo presencia a morte, a
ê
1 Os animais tê m intençã o de contar mentiras?
2 Como você testaria a previsã o de que os sinais cooperativos
deveriam ser menos consp í cuos do que os sinais n ão-cooperativos?
Genes versus indiv í - sobrevivê ncia e a reprodu çã o dos indivíduos, mas a consequ ê ncia
duos evolutiva é a mudança nas frequ ê ncias dos genes na popula çã o.
Por isto, o bi ólogo de campo tende a pensar em termos de seleção
*
3 Qual a utilidade da analogia entre sinais dos animais e individual e o teórico em termos de genes egoístas. Mas, por outro
propagandas humanas? lado, pode ser muito interessante para o bi ó logo de campo usar *
o gene egoísta para elaborar suas id é ias. Isto ficou evidente no
Cap í tulo 12, onde vimos que, sob o ponto de vista gen é tico, n ã o
#
h á diferença em cuidar de irm ãos ou de filhos, logo as hipóteses
sobre as razões da exist ê ncia de um ou outro tipo de cuidado devem *«
ser formuladas em um contexto ecológico e n ão gen é tico. Uma
exceção a esta regra, também colocada em evidência tendo em
mente o interesse de genes ego ístas e descrita no Capí tulo 13,
#
aparece em himenó pteros sociais, em que h á uma predisposição
gen ética para que as fêmeas ajudem suas irmãs.
£
Algumas vezes a aná lise sob o ponto de vista de genes egoí stas
pode resolver um problema que parecia insol ú vel no n í vel da *
seleção para maximização do valor adaptativo de indivíduos. Um
exemplo é o fenômeno da distorção na segregação, na qual um J
alelo aparece em um n ú mero desproporcionalmente grande de
375 #
J
$ .
a
11
376/ CAP ÍTULO 15 CONCLUSÃ O Ml
os do indiv íduo.
\
+ i
\
\ /
\
SELEÇÃ O DE GRUPO \
+
x'
No in í cio deste livro, descartamos de certo modo a seleção de grupo
I e escolhemos a seleção individual ou de genes ego ístas como uma
alternativa mais viá vel. Reconhecemos que, a princ í pio, a seleção
1 de grupo poderia funcionar , mas parece pouco provável que as
condições sob as quais se toma uma for ça evolutiva poderosa sejam
$ encontradas com frequência na natureza. Mas este n ão é um ponto Fig. 15.1 O modelo dc D.S. Wilson para a seleção de grupo. O modelo funciona
3 de vista aceito universalmente. D. S. Wilson (1980) publicou um -
se um alelo (sinal de ) sofre seleção contra em grupos mistos, mas aumenta de
frequ ê ncia na populaçã o como um todo. Modificado dc Harvey ( 1985) a partir de
livro sustentando que a seleção de grupo de fato é uma força Wade ( 1978).
3 evolutiva fundamental e Leigh van Valen (1980 ), um importante
teórico evolutivo, proclamou o livro de Wilson como a principal
3 ruptura e mudança de paradigmas para os bi ólogos evolutivos. do agente ( d ) for maior do que a dos demais membros da população
Como dever íamos tratar esta afirmação? ( p). Mas, e este é o ponto crucial do argumento de Wilson, se
3 Uma das coisas que precisamos ter sempre em mente é que a população estiver subdividida em várias linhagens grupais, o
3 o modelo de Wilson é mais sutil do que o modelo da “extinção efeito do ato altru ísta pode ser mais ou menos ignorado sobre a
diferencial de grupos” , discutido no Cap í tulo 1. O aspecto essencial pequena proporção de não-altru ístas, que por acaso estão no mesmo
3 da hipótese de Wilson é que a população está dividida em grupos grupo. Por exemplo, se houvesse 100 bandos de aves em uma
(chamados de “linhagens grupais”) dentro dos quais ocorre seleção floresta e uma ave de um dos bandos desse uma grito de alarme,
3 contra ou a favor de caracteres altru ístas ( ou quaisquer outros o efeito sobre o valor adaptativo m édio de todos as outras aves
Extinção diferencial caracteres). Depois da seleção agir sobre os grupos, a população da floresta seria muito pequeno. Por esta razão, Wilson conclui
3 de grupos versus
volta a se misturar, para em seguida se subdividir mais uma vez que com as linhagens grupais, as condi ções para que um gene
3 seleção de linhagens altru ísta se espalhe são d>0, em vez de d>p quando não há
em novos grupos até uma outra rodada de seleção. Pode haver
grupais vá rias maneiras dos indivíduos se distribu í rem em linhagens linhagens grupais. ( Isto significa que qualquer vantagem para o
3 grupais, mas Wilson adota como o modo mais simples o agru- altru ísta, por menor que seja, faz com que o gene se espalhe,
pamento ao acaso. independente da vantagem obtida pelos beneficiados com o ato
3 No modelo de Wilson, os altru ístas estão em desvantagem altru ísta ). Assim, com a seleção atuando em linhagens grupais, as
3 dentro de um grupo (por causa do auto sacrifí cio), mas grupos chances do gene altru ísta se espalhar são maiores.
que contêm altru ístas têm mais chances de contribuir para as A questão da seleção de grupos ainda está sendo ativamente
3 próximas gerações do que os grupos que não contêm altru ístas (Fig discutida pelos teóricos. No modelo de Wilson, o gene so se
15.1). Se a população consistir de apenas uma linhagem grupai, espalha por causa da vantagem que confere ao indiv í duo, mas esta
3 o gene altruísta só se espalhará se a mudança no valor adaptativo vantagem só existe por causa do modo como a população se
3
3
CONCLUS ÃO / 379
378/ CAPÍTULO 15
subdivide em grupos. Ainda não est á claro qual a importâ ncia deste
processo para a compreensão da evolução do comportamento.
.
cavidade, mas sim com o n ú mero de insetos nela colocados pela
freqiientemente qualitativos simplesmente devido a limitações nas putas entre vespas
I! técnicas utilizadas nos testes dos modelos. O valor das previsões cavadoras
perdedora . Uma vez que a perdedora é quem determina a duração
3 O valor das previ- quantitativas é, potencialmente, enorme e é necessá rio que se
da disputa (porque a luta acaba quando a perdedora se retira ),
Dawkins e Brockmann conclu í ram que as vespas lutam na
sõ es quantitativa e desenvolvam técnicas comparáveis para testar os modelos. Uma proporção de sua própria contribuição passada e não na proporção
testes vez que se viabilize o teste acurado das previsões, as discrepâ ncias do valor total da cavidade. É fácil perceber que isto levaria as
1I 3 entre os resultados observados e previstos podem nos dizer o que fê meas a desistir muito rapidamente de uma disputa sobre um
h á de errado com os modelos. cavidade valiosa, apenas porque a outra vespa fez a maior parte
iI 3 A discussão sobre os prós e contras dos modelos de otimização do aprovisionamento, mesmo que o lucro v á para a vencedora ,
3 pode prosseguir ainda por muito tempo, mas o que mais justifica independente de quem tenha aprovisionado a cavidade .
i a sua elaboração é o fato de que, repetidamente, os argumentos A rea ção inicial de Dawkins e Brockmann foi supor que as
;
1 I desenvolvidos sobre otimização nos ajudaram a compreender as vespas são, provavelmente, incapazes de “dizer” quantos insetos
tê m na cavidade e que a regra “ lute na proporção de sua pró pria
adaptações. Este ponto de vista foi desenvolvido nos cap í tulos
li 3 anteriores com exemplos sobre comportamento - forrageio, tama - contribuição” é uma regra de decisão que se aproxima da estratégia
Os modelos de otimi- ótima , uma Vez que geralmente h á uma correlação entre o n ú mero
3 za çã o nos ajudam a nho do bando, tamanho do territó rio e assim por diante mas - total e o n ú mero colocado por cada fê mea. Este é um exemplo
3 compreeender tanto -
també m podemos usá lo para compreender adaptações nos n í veis
de como a pol í tica ó tima depende das premissas sobre as restri ções.
padrões fisiológicos, fisiológico e bioqu í mico. Por exemplo, a disposi ção das fibras
Uma vespa com o conhecimento perfeito da situação deveria lutar
como comportamen - musculares de muitos peixes, tipo “espinha de arenque”, não é um
na proporção do conte údo total da cavidade , mas se as vespas
tais arranjo incidental. Este arranjo permite aos m ú sculos contrair a uma
sofrem a restrição da ignorâ ncia sobre o quantidade total , a pol ítica
O taxa que maximiza a pot ência final ( Alexander 1975 ). No n í vel de “ lutar na proporçã o de pró pria contribui ção” pode ser a melhor
bioqu í mico, a energia para a contração muscular é gerada pela opçã o.
oxidação de carboidratos ou gorduras no ciclo de Krebs. Seria Mas, considere por um instante o que aconteceria se todas as
possí vel quimicamente fazer a oxidação por uma via mais direta , vespas fossem providas do conhecimento absoluto. Se as duas
mas a vantagem do ciclo é que ele maximiza o ganho l í quido de vespas tivessem a mesma estimativa do valor da cavidade e
energia por mol écula oxidada ( Baldwin & Krebs 1981 ). lutassem durante um tempo proporcional a este valor , ambas
382/ CAP ÍTULO 15
CONCLUSÃO /383
•
*I
I
*I
lutariam com a mesma intensidade, e desistiriam ao mesmo tempo! *í
Presumivelmente, fatores causais levariam uma vespa a persistir
por frações de tempo a mais do que a outra , c se estes fatores
í
fossem realmente ao acaso, cada vespa teria uma chance 50: 50
de ganhar a luta após a longa batalha. Imagine, agora, uma vespa
*7
*
*L
que decidiu quanto tempo ela vai lutar jogando uma moeda , e
adotou a regra : “se cara, desista , se coroa, persista” (esta é uma
estratégia equivalente a do “ burgu ês” no Cap í tulo 7 ). Em uma
população de vespas com conhecimento absoluto, esta estratégia t
venceria metade das disputas e n ão desperdi çaria nenhum tempo
em disputas perdidas. Por isto, o ganho l íquido obtido com ela
c
(subtraindo o tempo total gasto do ganho pelas disputas vencidas ) t
seria maior do que aquele obtido pelas vespas oniscientes. A
mensagem deste exemplo é de que o “conhecimento absoluto”, que, t
a primeira vista, parecia ser a estratégia ó tima, n ão é uma EEE.
Em termos gerais, sempre que os ganhos dependerem do que os
—w
A
384 / CAP ÍTULO 15 CONCLUS Ã O /385
e de fora da cratera é mais alta do que no caso da aná lise podia ser aplicada às mamangavas sugando né ctar nas
corcova , logo
o efeito Bemoulii causa sucção do ar para fora da cratera . Vogel, flores, aos pais investindo em filhotes, e a muitos outros problemas .
e< al . ( 1913) demonstraram por experimentos em laborató
rio com Este avanço reducionista gradual , de uma descri ção ampla para
modelos em miniatura dos túneis, e jogando fumaça em túneis reais uma aná lise detalhada quantitativa com generalizações simples, é
no campo, que o sistema de montes é tão eficaz que causa troca
um dos aspectos principais do desenvolvimento da linha de
do ar no túnel à cada dez minutos , mesmo sob brisa suave. A pensamento sobre a história natural .
taxa de troca de ar é relacionada à velocidade do vento , mas nao
Cada vez mais os ecó logos comportamentais passam da aná lise
e afetada por sua direção porque os montes são simétricos. Esta
de custos e benef í cios para uma abordagem que inclua tanto
segunda característica é importante porque a direção do vento é
funcionalidade como causalidade. Esta tendência poderia ser
imprevisí vel no hábitat dos cães de pradaria . Este exemplo ilustra justificada simplesmente dizendo-se que a combinação das duas
como a questão funcional “para que servem os montes?” leva a formas de explicação produz um quadro mais completo, mas há
uma compreensão detalhada da questão dos mecanismos de “como algo alé m disto. Mesmo que as pessoas estejam interessadas
os cães da pradaria conseguem suficiente ar fresco?” . prioritariamente, ou mesmo somente, em perguntas do tipo “por
Modelos de otimi- Os modelos de otimização que aparecem neste livro combinam quê?” , ainda assim existem dõis bons motivos para inclusão do
zaçã o combinam me- mecanismos (sob a forma de restrições) e funções (a vari á vel de “como?” em modelos e dados.
canismo e funçã o referência) para propor explicações sobre os comportamentos. Em primeiro lugar , todos os modelos de custo e beneficio
incluem premissas sobre as estratégias, ou sobre a gama de opções
Um comentário final comportamentais dispon í veis para um indiv í duo. Os forrageadores
do Cap í tulo 3 tinham a opção de permanecer em certa porção da
O que descrevemos neste livro como ecologia comportamental é mancha de recursos por determinado tempo, os competidores do
i a versão moderna da história natural. Faz parte de uma linha de Capí tulo 7 poderiam escalar ou recuar, os ajudantes do Cap í tulo
pensamento que se desenvolveu gradualmente a partir de descrições 12 poderiam ajudar parentes ou reproduzir por si mesmos e assim
Da história natural detalhadas do comportamento animal pelos naturalistas, como por diante. Em cada caso, para caracterizar as opções dispon í veis
aos modelos quanti- Gilbert White e Henri Fabre, até os estudos experimentais de Um conhecimento para cada indiv í duo, faz-se necessá rio o conhecimento dos me-
tativos história natural de Tinbergen e outros. Atualmente, há uma certa sobre os mecanismos canismos comportamentais. Quão acuradamente os forrageadores
mania de inventar explicações funcionais para o comportamentomo, comportamentais é são capazes de estimar o tempo gasto em uma mancha do h á bitat ?
em estudos de histó ria natural, que acaba denegrindo a sociobiologia necess á rio para se Como os competidores avaliam o tamanho de seus oponentes? Os
ajudantes são capazes de reconhecer seus parentes e, se o são,
1 e a ecologia comportamental. Tentamos evitar isto tanto quanto
possí vel (sem obter sucesso total!) e, ao mesmo tempo, enfatizamos
definir quais sã o as
estrat égias dispon í - como? Se os animais não possuissem mecanismos para estimar
3 a idéia de se fazer previsões testáveis sobre adaptação. Para ilustrar
como esta abordagem se desenvolveu a partir de estudos de história
veis ... o tempo, nenhuma habilidade para avaliar seus oponentes, e
nenhuma maneira de reagir de modo diferente aos seus parentes,
i
386/ CAPÍTULO 15
Referências
Resumo
*• fi 3C
Este capítulo está dividido em duas partes
. A primeira procura
avaliar o valor e as limitações da visão da evoluçã em termos
de genes ego ístas e otimização. A o 818 - 20.
seleção de grupo, como uma 1977. Homosexual rape
Abclc, L G & Gilclirist , Sacanthoccphalan worms Andcrsson, M 1984 The cvolution < > f cusociality
alternativa para a seleção individual é reavaliada. O valor dos and sexual sclcction in Ann Rev Ecol Syst 15, 165-89
argumentos sobre otimização pode ser
ilustrado pelos
adaptação nos n í veis comportamcntal, fisiológico e estudos de
-
Science 197, 81 3. Andcrsson , M & Wicklund , C G 1978 Clumping
bioqu í mico. Abrahams, M. & Dill, LM 1989
A dctcrmination
of thc risk of prcd - versus spacing out expcrimcnts on nest prcdation
M %r
Na segunda parte, procuramos mostrar como os tipos
de questões (funcionais c causais) pode seguir
estudos sobre comportamento.
diferentes
lado-a-lado nos
of thc cncrgctic cquivalcncc
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e
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sobre o que limita a taxa de evoluçã o.
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and Wickiund, C G 126 and Dawkms, R 264 and Skmncr, S 56 Ddi, L M see Cartar, R V . and Fnckc, H W 262, 306
Harcourt , A H . et dl 40
Aoki, S. 319, 331 et dl . 225, 256, 264
see dlso Dawkms, R and
see dlso Gross, M R and
Charnov, E L
Dill , L .M . and Fnckc, S 263 Harc, H . see Tnvcrs, R . L and í
Dommcy , W J . 252
Arak, A 192, 247, 248
Argylc, M. 350
Arnold, SI 11 , 186
Brockmann, H I
Brodin , A 66
Brookc, M . dc L 209
Chcncy, D L
and Scyfarth, R M 372
see dlso Scyfarth , R M , and
Dudai , Y . 11
and Qumn, W .G. 10
Funoka , M see Yamagishi
and Funoka , M .
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Harpcr, D G C 118
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see also Da vi cs, N. B. and Chcncy, D. L Duncan, P. and Vtgnc, N 125
Axclrod, R 281, 290
Brookc, M dc L Clark , A. 181 Gadagkar, R . 344 and Pagcl , M D , 35, 47
and Hamilton , W . D 280, Dunford , C. 271 and Purvis, A. 35, 36
282, 284 Brown , CR 136 7, 138-
and Brown, M 135, 136 - 7 ,
Clayton , D H . 197, 206
Clutton Brock, T H 37, 179,
Dussourd , D E et dl 188 Galei, G and Wigmorc , S 129
see also Clutton - Brock , T H
Dybas , H .S . Geist , V 157
139, 230 217, 221 , 243 Ghiselm , M T. 260 and Harvcy, P.H .;
Baker, R R and Parker, G . A Brown, J H see Kodric - Brown ,
and Lloyd, M 125 Gittlcman, J . L. and
and Albon , S . D 161 see also Lloyd , M and Gibbs, L . et dl. 229, 230
101 A and Brown, J . H et dl 179, 182, 220, 223 Gibson , R M Harvcy, P H
Dybas, H S
Bakkcr, T .C. M . see Milinski , M Brown , J L 105, 110 - 11 , 1 1 7, and Harvcy, P H 29, 34, 38, and Hoglund , J 206 Hasscll , M P. 106
and Bakkcr, T C. M 266, 291, .298, 316 39 see also Bradbury, / W , and Hassclquist , D see Bcnsch , S
Baldwin , I E . and Krcbs, H . A . et al . 302 Colher, G see Jcnm , D A and Gibson, R M and Hassclquist , D.
Ebcrhard, WG 161 , 326
.
.
380 Buli, J .J. 259 Colher, G Gilbcrt, L 186 Hasson , O see Nur, N . and
Balmford , A . 243 Elgar, M 132
Bulmcr, M and Taylor P. 335 Conovcr, D A 259 Gilchrist, S see Abclc, L G. and Hasson , O
Bamard , C. J. 146 Burkc, T . 225 Corhct , P S 184 and Cattcrall , C P 132
Elncr, R W. and Hughes, R N Gilchnst, S Hatchwcll , B .J see Evans, M R .
and Sibly, R. 144 et ul . 228 Coss, R G see Owings, D H and and Hatchwcll , B . J
and Thompson, D B A 145 Burlcy, N 206 59 Gill, F. B and Wolf , L L 111 - 12
Bart , J . and Tomes, A 225
Coss, R.G.; Poran, N S and
Emlcn, S . T. 316 Gilliam, J 69 Hcllcr, R . see Mihnski , M and
et dl . 206 Coss, R G Hcllcr, R .
Bartz, S. 346 Busncl, R G and Klassc, A . 356 Cott , H. B. 88 et al . 181 , 239 Gittlcman, J . L and Harvcy , P H
Basolo, A 369 Bygott, / . D., et dl 5, 218 Coulson, J .C 209 and Onng, L W. 216, 221 86 -7 , 88 Hinde, R . A 110 , 360, 371 , 374
Batcson , P P G 14 , 22 Byrnc, R and Whitcn , A 374 Cowic, R 1 54 and Wrcge, PH 310, 311 Goldth waite, R O. et dl . 101 Hixon, M. A . 114
Bcdnckoff , P 65 — 6, 67 Cox, C R and Lc Boeuf , B / Endlcr, J A 90 - 1, 100 Goss - Custard , ] D. 132, 135 et dl . 118
Bcchlcr, B . M and Fostcr , M . S . 220 see dlso Houdc, A and Gould , S .J . 30 , 291, 386 Hobbs, N. T. 73
222 Cadc, W H 11 , 257, 258 Craig, J L see Janncson , I G , and Endlcr, 1 A and Lewontin , R C. 29 Hodgcs , C .M . and Wolf , L.L . 55
Bcissingcr, S . R and Snydcr, and Wyatt , D R 257 Craig, J . L . Enquist, M 369 Grafcn, A. 195, 270, 290, 332, Hoíí man , S .G ., see Warner, R R .
N . F. R . 239 Caldwell, R . L 173 Craig, R . 332, 343 et dl. 166 , 369 342, 343, 380 and Hoffman, S . G.
Bell , G . 19 see ulso Adams, E S. and Crccl, S and Lcimar, O 164 Grccnbcrg, I. 327 Hoglund, f . 36
Bclovsky, G 71 , 72-3 Caldwell, R. L. et dl 304, 305 Erichscn, J .T . et dl. 84, 86 Grccnlaw, J S . and Post, W 225 see also Gibson, R . M . , and
Bcnsch, S . and Hassclquist , D Calvcrt, W.H et a1 124 and Wascr, P. M. 304, 305 Enckson, C.J . and Zenonc, P .J . Grccnwood, P J . 239, 240 Hoglund , J .
232
Bcnton, T G . and Fostcr, W . A
Capramca, R . R . et al. 205
Caraco, T 138, 140
Crook, / 25 - 6
and Gartlan, S. 33
202
Evans, H . E 322
et al . 240
Grcy, R . 76
-
H ògstcdt , G . 20 1
H òlldoblcr, B. 94, 351
331 et al . 64, 65, 140, 141 , 142 Crozicr, R . H. and Luykx , P Evans, M . R . and Hatchwcll, B . J. Grosberg, R . K . and Quinn, J . F . Holmcs, W.G. and Shcrman,
Benzer, S. 10 and Wolf, L. L. 278 346 173 290 P .W . 275, 276 6
Bcrcovitch, F. 289 Carayon, J . 186 Cullcn, J M 362, 363, 374 Evans, S. M see Jennmgs, T. and Gross, M. R . 249, 250, 251 , 252, Hoogland , J . L . 134, 146 , 271 ,
Bcrthold , P. et al . 12 Carhslc, T. R . see Dawkms, R see dlso Ncill, S. R St J. and Evans, S. M . 264 272 f
Bertram , B C R 5, 121, 723 and Carhslc, T R . Cullcn, J . M Ewald, P W. and Rohwcr, S.
.
and Charnov, E . L. 252 Houdc, A.E . 90, 196
t
406
408/ Í NDICE DE AUTORES Í NDICE DE AUTORES /409
Sinclair, A . R E. 161
Picman , J . Rood, I . 304 Slatkin , M . and Maynard Snnth,
3 368
Klassc, A. see Busncl, R .G. and
Luykx, P .
Lyon, B. E., et dl . 225
Myers, J. P. et dl . 121
i
Pictrcwicz, A T. and Kannl , A . C .
79, 80, 81 , 82
Ropcr , T I and Rcdston , S. 87
Roscnzwcig, M . L 110
I. 92, 101
Slobodchikoff , C N see Trunc,
3 Klassc, A .
Klciman, D . G . 218
Nakamura , H 97
Nakatsuru , K and Kramcr, D . L
Pitchcr, T. J .
et al . 129
Roskaft , E et dl . 172
Rothstcin, S . I . 96, 97, 98, 99,
D R and Slobodchikoff ,
C. N .
Kodnc - Brown , A . 197
3 and Brown, J . H. 194 -5
McClintock, M . K 5
Macdonald , D. W . and
178
Ncill , S. R .St J and Cullcn , J . M
see also Partndgc, B . L . and
Pitchcr, T. J
100, 101 , 118
Royama, T. 82
Smith, J . N . M et dl 225
Smith, R . L. 206
Kocnig, W . D . 309 Mochlman , P . D. 291
3 et dl . 312, 317
see also Staccy , P. B and ,
McKmney, F. et al . 207
126
Nelson , J B. 378
Plowright , R . C .
et al . 45
Rubcnstcin , D . L
and Hack , M . A . 173
Snnth , S . M . 87
Snydcr , N F . R. see Bcisstngcr ,
MacMillcn , F. E. see Carpcntcr, Nisbct , I.C . T. 188 see dlso Parker, G . A , and S R . and Snydcr , N . F.R .
9 Kocnig, W.D.
Komdeur, J . 303
F. L. and MacMillcn, F. E .
MacNally, R . and Young, D.
Nottcbohm, F 352 -3
sec dlso Owcn , R . E . and
Plowright , R . C . Rubcnstcin, D. L Solcr, M. and Mollcr , A.P. 96
Nur, N . 20 Ponnankowski , A., et al . 194 Rutbcrg, A .T. 218 Southwood, T. R E 22
3 Kramcr, D . L. see Nakatsuru , K .
and Kramcr, D . L.
366
McNamara , J . M .
and Hasson, O. 195 Poran, N .S. and Coss, R.G . 101 Ryan , M.J. 223 Spaw , C . D . see Rohwcr , S., and
Spaw , C .D .
Power, M . 105 et dl . 191 , 192, 223 , 368
3 Krcbs, H . A . see Baldwin, J . E. and
Krcbs, H. A .
and Houston, A .I . 66
see also Houston, A .I . and
Orians, G . H . 232
Oring, L. W. 221
Pnns, H . H . Th . et al . 131
Pructt Joncs, S. G and Lcwis,
see dlso Kirkpatnck , M . and
Ryan , MJ .
*
Staccy , P.B
and Kocnig, W .D . 314
9
410 / Í NDICE DE AUTORES í ndice de Assuntos
* f e
pnmá nos c secundários 306-
8 antílope sul -africano Oreotra- j jf
cm it á lico refe - especializados 314 - 15
gus 218
and Ligon , J .D. 303
Vogcl, S. et al . 383 , 384 Wilcy, R . H. 374, 221 n ú meros dc páginas
/ou figuras , protetores, transferi -
antropó ides 266 #
Standcr , P .E. 278 and Richards, D.G. 355, 374 rem -sc à tabelas e alcaloides anu do Texas ( Crotophaga sul -
Stcphcns, D.W . and Krcbs, .R .
66, 76 J
Waagc, J . K . 159, 185
Wilkinson, G.S. 285, 286
Williams, G .C. 16, 22, 182 abelhas 75, 327
dos
durante o acasalamento
188 cirostris) 345
conflitos em grupos reprodu -
m
Strassmann, J.E. et al . 327 Willson, M .F . see Vcrncr, J . and mamangavas 64
see also Mardcn, J .H . and alce 75, 218 tivos 31 1 - 12
Suthcrland, W.J . see
Gustafsson, L. and
Waagc, J.K . Willson, M.F.
.
Wilson , D.S 347, 376
Centris pallida , estrat
égia de
, 257, 260
70 3
estratégia alimentar , 375 - A origem das espécie ( Darwin ) 9
Suthcrland , W .J.
Wadc, M. J. 377
Wilson , E.O. 265, 319, 320,
acasalamento 248 alclos 9, 275, 319, 332 aposcmatismo 86 90 -
see also Schustcr, S.M. and halict ídeos 327 parcialmen-
Syrcn, R.M. and Luykx, P. 346
- alimenta ção aprendizado 60- 1 , 63
Wadc , M .J.
.
Ward, P 337
331, 347 8
see also Oster, G . F. and halict ídeos, ciclo -
2
custos associados 131 , 57-9 aranhas
and Zahavi, A . 128 Wilson E .O. te bivoltinos 430 -2 custos e benefícios 48- 54 -
Frontinella piramidcla 167 71
Taborsky, M. 299 Warner , R .R 216, 260, 263 Wolf , L., et al . 225 abelha mel í fera 331 2 - para. íorrageadores 59-,6527 9 , á rea de ação
comunicação 320, 369 -
--
and Limbcrger, D. 299 et al . 260 Wolf , L.L. see Caraco, T . and 26
e orgamzaçã o social fê meas 215- 16, 218- 20
Taylor , P. see Bulmcr , M . and and Hoffman, S .G 261, 262 Wolf , L.L.; Gill, F. B and forrageamento 53-4 , 57-9, 73 33, 35 tamanho da 35,38
Taylor, P. Wascr, P. M . Wolf , L. L.; Hodgcs, C. M manipulação de 371 , her-
Thompson, D .B . A . see Bamard , and Wascr, M S. 356, 357 and Wolf , L L
.
veja também alimentos arenas 206, 219, 220, 228, ,242
C . J . and Thompson, D.B.A.
Thomhill, R . 189, 203, 264
see also Crccl, S. and
Wascr, P. M
Wolf , T.J
and Schmid - Hcmpcl , P. 58
see also Schnud - Hcmpcl, P.
social 347
operá rias, ferroando 269
veja tambémllymenoplcra
bí voros, predadores
alimento 34 , 320
armazenamento de alimento no
ambiente 66
*
and Alcock, J . 221, 243 Watson, A 106, 172 corte 188 á rvores filogenéUcas- 35
em leões 7
e dispersão de fê meas 215-
Tmbcrgcn, N . 4, 24, 42, 47, 82, Wcathcrhcad , P. J . and and Wolf , T.J aborto, 16 cuidado parental
associa çã o, e
abelheiro ( Merops bullockroides
)
84 , 110
et al . 24
Tono, A.J. see Houdc, A. and
Robcrtson , R . J . 236,
see also Lightbody, J P. and
Wcathcrhcad, P. J ;
Woolfcndcn, G.E. and
Fitzpatrick , J .W . 292, 293,
294 , 295 , 297 , 298, 302, 31 7
311 , 316
e tamanho de bando 132,
forrageamento 48-74
142
212
atividades deslocadas 359, 360
*
ajudantes 327 35
Torio, A.J. Montgomcrie, R .D. and Wrcge, P.H. see Emlcn, S.T. and e tamanho de á rea de ação avaliação 205 -6
Tomes, A. see Bart, J . and Wcathcrhcad, P.J . Wrcgc, P.H. abetarda grande { Otis tarda ) 221 preferê ncias 1 1 comportamental 259
Wyatt , D. R . see Cadc, W . H . and abordagem comparativa, testan -
Tomes, A .
Trchcme, J.E . see Fostcr, W.A
Wcihs, D. 133
Wells, K D 217, 221 Wyatt , D.R . -
do hipóteses 24, 25 42, 45 6 - regurgita çã o 285-7, 299, 321 , .
e corte 187-8 190-3, 194 , 197
and Trehcme, J.E. Wcmer , E.E. 69 Wynne -Edwards, V.C. 15 ácaros, vivíparos 180
351 e exibiçã o 160-4
renová vel, coleta de 130- 1
211, 280
and Hare, H. 334 5 —
-
Tnvcrs, R .L. 22, 176 7, 209,
411
412/ Í NDICE DE ASSUNTOS Í NDICE DE ASSUNTOS /413
if '®
'
balanço temporal 138-43
veja també maves individuais;
cães da pradaria coachar veja vocaliza ção comprimento da cauda 190, 191 , covanâ ncia, gené tica 1934, 196-7 dimorfismo
fluxo de ar em t ú neis 382-4 coelhos, princ í pio vida -alimento 192-3, 369 cucos 93-6, 366 macho 249-54
plumagem, comprimento da Cynomys ludovicianus , 92 andorinhas 198- 202 cuidado parental sexual, em primatas 34, 37 -40
r* cauda
aves Charadriiformes 221
aprumando as penas 359, 360 ,
361
reversão do painel sexual 239,
vocaliza çã o de alarme 271 - 2
ectoparasitas 134
cambacicas (Cocrcbidac ) 111
Carnponotus truncatus 319
coincid ê ncia fcnot í pica 277
col ó nia de Uria ( Uria aalge )
127
colonialidadc 26
comprimento do
sexual para 193 -4
nariz, seleçã o
espermat óforos 186, 203 falaropodidcos 239 e estrat égias dos machos de
esperanças ( Cronocephalus n/ junco ( Junco hyemalis ) 225 salmã o 250 hip ó tese da desvantagem 190 , 329-30
- falha na ovula çã o, leoas 6-7
gropleurum ) 203
esquilos 75
fatores finais 4 - 5
f ê meas
junco mexicano Junco pluie
notus 64, 75
- + go í sta 291 , 375 -6
veja tambémalclos , coefici -
194 -5, 197, 206
hipó tese de Fisher 190, 192 - 4 ,
coeficiente de relacionamento
.
267-8 298, 346
alimentação 66, 68 mudan ç a para macho 260- 2 balan ço temporal 139-43 entes de relacionamento 196- 7, 206 , 236 reconhecimento de 275-7,
esquilos ( Spermophillus beldtn territorialidade 117 - 18 hipó tese do “filho sexy ” 236 327-8
gi ) 134
- escolha de 186-97 , 206, 208, genoma , ligado 346
hist ó ria evolutiva 4 isogamia 175
altru ísmo 241
cooperação e gritos de
221
conflito entre 311 - 14
gafanhotos 349
gaivotas
gib ão 32
gorilas 40- 1 dos sinais 358-67
homem ja ç an ã s 239
c
dispersã o 215 - 16, 240 de cabeça preta { Lanes riclibun- gralhas
e
._
alerta 269-70, 290 comunica çã o 350, 356 jacarés 259
reconhecimento de parentes dus ) 126, 360 Cianocita cristata 79, 83
reconhecimento de irm ãos reprodu çã o 179 jovens, roubo de 124 lçn
277 detectando presa 80- 1 , 82
275-7
estampagem 275
competi çã o por recursos lo -
remoçã o de cascas de ovos
42-3 da Fl ó rida - ajuda entre 293 - Homoptera veja afideos tr
cais 181 8, 345 honestidade, cm comunica çã o Kobus elypsiprinnus 2 19 machi
cm bandos mistos 145
estomat ó podo, blefe 367 -8 em sistemas de acasalamento de herring 360 armazenamento de alimento 66 367 , 368
Kobus lechwe 219, 220
ti
estorninhos 561 -7, 75, 208, 230 em mam í feros 217-20 grilos hospedeiro, cria 93 - 100 mu
gaivota rapineira do Á rtico, si -
abondono de ovos 279-80
formando bandos 125-6, 144
transporte de cargas 48-53, 74
cuidado parental 209- 11
poliginta, custos de 23 1 -4 , 238
sincronismo reprodituvo 5,
nais de amea ça 371
gaivota { Rtssa tridactyla )
-
fidelidade ao parceiro 209 10
Gryllus interger 1 1
estrat égias de machos 257 - 8
{ Cronocephalus nigro -
Hymenoptcra 319 , 375
fê meas operá rias 321
parcialmente bivoltino 340-3
Kobus vardini 2 19
lacta ção 210, 263, 304
^ 2ã Bí
deli
—-
estrat égias furtivas 226, 227, 229-
salamento ; reprodu çã o
to de machos 201 2 - evitando predadores 120-6,
cidade 285 borboletas monarca 89 cuit
30, 242, 244, 246, 250, 251, galinha 127 , 144-6
-
260, 261 2 , 263
estratégias evolutivamente est á-
fertiliza ção
em salm ã o { Oncorhyncus
dom éstica 362
selvagem 361
e coleta de alimento 126- 32 ,
133
icter í dcos
lagartos 364
cr í pticos 78 *2* 42SJ '
chamado 349/ lcbistcs
kisutch ) 249-52 galinha-da -Tasm â nia , comparti - indiv í duos em 144
•UAd
veis, veja EEEs e cuidado parental 211 211 -12 Agelaius phoeniceus 229 colora çã o de 90- 1
estridula çã o, em pardais 132
estro
mecanismo de deslocamento
lhando de parceiras
gametas 175 -6, 328, 376
c defesa de recursos 116 17
tamanho de 34
- infidelidade ou trai ção 134 ,
230
covari â ncia em 196 -7
vivendo em gupos 144 -6
em l êmures 218
de esperma 184 5 -
veja tamhérncó pulas , repro -
ordem de liberação 211 - 12
ganso
influê ncia sobre 120 e pohgima 232 tamanho dc grupo 121
em leoas 5, 6, 7 , 157-9
em Cervus elaphus 219- 20
du ção, estratégias furtivas Branta bernicla , tempo de re -
tamanho ó timo 133-44
veja /am òémorganiza çã o
imagens de procura 80- 1, 82 3
impressã o digital do DNA
- lagostim 9 1
ferom ô nios 188, 335 lê murcs 32 , 218
evolu çã o torno durante o forrageamento social (“ DNA fingcrprinting” ) 226,
filhotes de ave le ões 77
e frequê ncia gê nica 9- 10 130- 1 guarda do parceiro 183-4, 184 , 228 , 278, 279, 317
e presa n ã o palat á vcl 86- 7 , 88 cooperação 265
estampagem em 275 229, 384 inani çã o, risco de 63 -4 infantic í dio 7, 14 , 201
È
fjin
4 l 6 / Í NDICE DE ASSUNTOS Í NDICE DE ASSUNTOS / 417
- u ^^
“ na ç arico ( Calidris canutus ) , ajudantes em 299 Pluvia /is apricaria , em bandos
alimenta çã o 134, 135 8, 316 Mvrmica rubrica , ciclo de vida estriduiaçã o 132 arranjo muscular 380 mistos 145
Metapolybia aztecoides 326, 345 320- 2 de Harris, varia çã o na pluma -
íaçarico europeu ( Triaga tota - ninhos 250, 252 plumagem
nus ), h á bitos alimentares 132
a çaricos
micos -leões 218
mimetismo 78 naravais 157
Nasutiternies exitiosus 319
gem 171 , 171 -2
diferen ças individuais 144
Pardel ã o { Fu Imaris glacialts ) , si -
cuidado parental 210
121 , 213
— 11 , e domin â ncia 171 , 171 -3
elaborada 190 - 1
territorialidade 121 macho- f êmea 264 reciprocidade 285 e habitat 26
manchas occiares 83, 84 ncctar í ncas parentes, reconhecimento 275 - 7
Actitis macularia 239 Ncctarinea reichenowi , defe - cardumes 129, 130 veja /flwbé/naprumando as
da qu í mica do hospedeiro 93, parul í deos e estrat égias furtivas 250- 1 , penas
machos
) benefí cios de ajudar 296 - 8 94 sa de recursos 111 12 - Parus atncapillus 66 252 poliandria 208, 237, 239
ovos hospedeiros 93-6 Nectarinea johnstoni , variabi - Parus caeruleus manipula çã o
mudan ç as para f comprimento do rabo 369 poligamia 25, 26, 38
dispersão 240 - 1
ê meas 262-3 modelo do “macho quente ” 222 4
modelo de filopatria , benefí cios
- ninhos
lidade de plumagem 1 72 -3 da cria 20
paternidade extra par 243
veja tumbémpeixes cil í ndeos, e seleçã o sexual 178
poligima 208, 226, 237, 242-3
defesa de haré m 219 20 - dc 303 4- adapta çã o de 14 Parus major 75 , 105 -6
lebistcs
an é mona 262 -3 em p á ssaros 210, 230- 4
incubando ninhadas 239 comunais 311 - 12
peixe
i investimento por 197, 201 -2
c forma ção dc arenas 220-5
modelo do gavi ão, da pomba e
do burgu ês 154 -5, 159 , 160, estrat égias dc vespas cavado-
flutuaçã o da massa corporal 65
tamanho da ninhada 16- 18, 20
ajudantes eem 305 -6
peixe barbeiro Acanthurus cae -
arenas 206, 219, 220- 5, 242
defesa de recursos 219, 231
modelo do gavi ã o e da pomba ras 254 -6 e presas cr í pticas 84-6
commpctiçã o por parceiras peixes 250, 252
ruleus 133 modelo do limiar 232-3, 234
152 -4 , 249, 255 dispersã o natal 240
-
183 6 parasitismos cm 136- 8, 139
peixe cicl í deo 299 polimorfismo 80 - 1 , 252, 255 ,
m
Í NDICE DE ASSUNTOS /419
418/ Í N D I C E D E ASSUNTOS
i
i
f
l
\
k
t
t