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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS

Desenvolvimento de um PABX Digital e


Detalhes de seu Funcionamento

por

Valter Roesler
e-mail: roesler@exatas.unisinos.br

São Leopoldo, outubro de 1997


SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3
1.1 O CONVÊNIO ........................................................................................................................... 3
1.2 A EQUIPE ................................................................................................................................ 4
1.2.1 Meta Telecomunicações................................................................................................... 4
1.2.2 UNISINOS....................................................................................................................... 4
1.2.3 DataVision ...................................................................................................................... 4
2 DESCRIÇÃO DO PABX DIGITOP 192 ...................................................................................... 4
2.1 PLACA BASE............................................................................................................................ 6
2.2 PLACAS RAMAL E TRONCO ...................................................................................................... 7
2.3 O FIRMWARE DO SISTEMA ......................................................................................................... 7
2.4 CONFIGURAÇÕES DO DIGITOP 192 ............................................................................................ 8
2.5 O SOFTWARE NO PC ................................................................................................................ 9
2.6 COMUNICAÇÃO VIA MODEM .................................................................................................. 13
2.7 OS TESTES DE PRODUÇÃO ...................................................................................................... 14
2.8 ESTADO ATUAL DO PROJETO .................................................................................................. 16
3 INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO DIGITAL ...................................................................... 16
3.1 A MODULAÇÃO PCM............................................................................................................. 17
3.1.1 Amostragem .................................................................................................................. 18
3.1.2 Quantização .................................................................................................................. 19
3.1.3 Codificação................................................................................................................... 20
3.1.4 Transmissão / Comutação.............................................................................................. 20
3.1.5 Decodificação e Filtragem............................................................................................. 21
3.2 TRANSMISSÃO DE VOZ EM CENTRAIS PRIVADAS ..................................................................... 21
3.2.1 A matriz de comutação Analógica.................................................................................. 21
3.2.2 Exemplo de funcionamento com matriz analógica .......................................................... 22
3.2.3 Matriz com Tecnologia Digital ...................................................................................... 23
3.2.4 Vantagens da Tecnologia Digital ................................................................................... 25
4 AGRADECIMENTOS................................................................................................................ 26

5 BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................................ 26
3

RESUMO
O presente artigo visa explicar um pouco do funcionamento de um PABX digital,
enfocando principalmente o Digitop 192, que foi o PABX desenvolvido através de um
convênio entre a Unisinos e a Meta Telecomunicações.
Serão analisadas os principais componentes de um PABX, como a placa base, as
placas ramal, placas tronco e o firmware. Também serão abordados os detalhes de
funcionamento de um sistema digital em comparação com um sistema analógico, as
vantagens e desvantagens da transmissão digital e o funcionamento da modulação
PCM, que é a base para a transmissão digital de voz.
No desenvolvimento do produto, foram enfrentados diversos problemas que
tiveram que ser solucionados, como testes para detectar erros, ferramentas de
depuração e log do sistema. Esses assuntos também serão analisados no decorrer do
artigo.
Um PABX de médio porte precisa ser fácil de usar, portanto, será visto a
interface com o PC, feita exclusivamente para facilitar o uso pelo operador.
Um ponto que será abordado é a configuração do sistema, mostrando as diversas
possibilidades que o usuário tem para utilização do PABX. Além disso, será visto que o
Digitop 192 pode ser configurado remotamente, através de modem, podendo inclusive
enviar bilhetagem a locais remotos, a fim de terceirizar a administração do sistema.

1 INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo explicar o desenvolvimento de um PABX digital,
mais especificamente o Digitop 192, feito através de um convênio entre a Unisinos e a
Meta Telecomunicações.
O projeto foi desenvolvido por uma equipe de Engenheiros e Programadores das
seguintes empresas:
• Meta Telecomunicações: responsável pelo desenvolvimento do
projeto de hardware, produção e venda dos equipamentos;
• UNISINOS: responsável pelo desenvolvimento do firmware para o
processador 80186 e testes de produção;
• DataVision: responsável pelo desenvolvimento do software para o
PC, utilizado principalmente pelos ramais atendedores do PABX.

1.1 O Convênio
Para o desenvolvimento do firmware, foi estabelecido um convênio de pesquisa
entre a Meta Telecomunicações e o Centro de Ciências Exatas da UNISINOS em
dezembro de 1995, sendo que dois programadores com dedicação integral foram
designados para fazer o projeto.
Para maiores detalhes sobre as cláusulas do convênio, pode-se entrar em contato
com a coordenação do curso de Informática (fone 590-3333 ramal 1603).
4

1.2 A Equipe
A seguir será vista a equipe responsável pelo projeto nas respectivas empresas.

1.2.1 Meta Telecomunicações


Nome Função
Oldemar Plantikow Brahm Dono da Empresa - autor da especificação
Cleide Barbosa Antunes Gerente Comercial
Gerente de Engenharia e projetista de hardware
Paulo Roberto Sá de Souza
e software
Odone Moraes Junior Engenheiro projetista de hardware
Cláudio Gowert Técnico
Luiz Fernando Genz Engenheiro de produto
Marcos Pires Bolsista CNPq - firmware do DSP
Paulo Godoy Engenheiro
Aurélio Souza Técnico
Pessoal da produção Montagem de placas e testes

1.2.2 UNISINOS
Nome Função
Aretê Porciúncula de Ávila Coordenadora do Projeto na Unisinos
César Augusto Missio Marcon Programador - Pesquisador
Valter Roesler Programador - Pesquisador

1.2.3 DataVision
Nome Função
Ricardo Moraes Giffoni Programador

2 DESCRIÇÃO DO PABX DIGITOP 192


Um PABX tem como objetivos principais a gerência de comunicações de voz
dentro de uma empresa. Para conseguir isso, tradicionalmente, esse equipamentos tem,
no mínimo, uma telefonista (atendedor), as placas ramal (ligadas aos ramais do PABX),
e as placas tronco (ligadas aos troncos do PABX), como mostra a figura 1. O atendedor
normalmente recebe as ligações das linhas externas (troncos) e as transfere para o ramal
destino.
5

Placa Ramal
Placa Tronco

PABX
Troncos

Atendedor

Ramais

Figura 1. Esquema básico de um PABX, enfocando os ramais, troncos e atendedores.

Além disso, os ramais podem conversar entre si ou pegar troncos diretamente,


dependendo de sua categoria.
Para controle de ligações, normalmente os PABX geram informações de
bilhetagem, ou seja, qual ramal ligou, para que número, quando, quanto tempo durou a
ligação, e assim por diante. No item 2.5 esse assunto será melhor detalhado.
O PABX Digitop 192 pode ser visto na figura 2. Ele foi desenvolvido através do
convênio e é destinado a firmas de médio porte, possuindo um máximo de 192 portas
(ramais ou troncos1), podendo ser distribuídas até um máximo de 168 ramais com 24
troncos, ou até 144 ramais com 48 troncos. Note que nas configurações máximas o
número de portas permanece em 192.

Figura 2. O PABX Digitop 192.

Além dos ramais normais, podem existir de 1 a 11 atendedores (telefonistas), cada


um deles sendo responsável por um grupo de troncos. Para facilitar e agilizar as
operações dos atendedores, foi desenvolvido uma interface de controle e gerência do

1
Um tronco é uma linha externa para a central pública de telefonia
6

PABX através de um PC, onde as operações são bastante facilitadas. Esta interface será
descrita no item 2.5.
Existem inúmeras configurações que podem ser efetuadas no Digitop 192, que
estão detalhadas no item 2.4.
A seguir serão analisados com maiores detalhes o funcionamento das placas
internas ao PABX, ou seja, as placas base, ramal e tronco. Em seguida, será dada uma
introdução à tecnologia digital. Finalmente, as configurações do PABX Digitop 192
serão vistas com detalhes.

2.1 Placa Base


A placa base do Digitop 192 tem os principais componentes para o funcionamento
do sistema. Entre eles podemos citar:
• Processador 80186: possuindo um sinal de relógio (clock) de 16MHz,
o processador é responsável pelo controle e execução do firmware no
sistema. Esse processador gerencia tudo, desde comunicação serial
com os PCs atendedores, bilhetagem, números discados em cada ramal
e ações decorrentes disso, conexões entre ramais através da matriz
digital, comunicação e controle do DSP, configuração do PABX em
EEPROM, gerência do correio de voz com os usuários, e assim por
diante;
• Processador Digital de Sinais (DSP): responsável pela geração de
sinais de modem, tradução das mensagens de auxílio operação e
correio de voz, geração e detecção de tons de telefones MF,
formatação do winchester que armazena mensagens de voz, e assim
por diante;
• EPROM: Contem o firmware do PABX, e seu tamanho é de
256Kbytes;
• RAM: Área de variáveis do sistema, com tamanho de 256Kbytes.
• EEPROM: Área de variáveis de configuração, ou seja, não perdem
seu valor no caso de falta de energia elétrica. Seu tamanho é de
4Kbytes;
• Relógio de Tempo Real: Alimentado com bateria para manter sempre
atualizada a hora do sistema;
• Matriz Digital: Serve para conectar ramais, troncos e DSP. Assim, a
conversa de ramal com ramal, ramal com tronco, detecção de tom MF
de ramal, detecção de tom MF de tronco, e assim por diante, é
conseguida através da matriz digital. Além disso, essa matriz está
conectada às placas ramal e tronco, de forma que também auxilia no
processo de detecção de gancho de ramais e na chegada de rings pelos
troncos;
• Slots das placas ramal e tronco: O equipamento possui 24 slots para
as placas ramal e tronco. Até 21 podem ser usados por ramais e até 6
podem ser usados por tronco. Essa é a explicação para as 192 portas e
a divisão de no máximo 168 ramais e 48 troncos. O usuário escolhe a
7

configuração conforme quiser (dentro dos limites máximos) até fechar


192 portas.

2.2 Placas Ramal e Tronco


As placas Ramal e Tronco servem, respectivamente, para fazer a ligação dos
ramais e das linhas externas (troncos) ao PABX. No momento, as placas ramal e tronco
convertem sinais analógicos para digitais, portanto, aceitam somente telefones
analógicos, ou seja, telefones cuja geração de voz é analógica. Existe um projeto para
que se tenha placas ramal e tronco digitais, ou seja, onde os próprios telefones já enviam
os sinais de forma digital (CODEC no próprio telefone).
A conversão de analógico para digital atualmente é feita na placa ramal e tronco,
como mostra a figura 3. O CODEC (CODer DECoder) é responsável por fazer a
conversão dos sinais analógicos vindos do ramal para sinais digitais necessários na
matriz de comutação digital (ver item 3.2.3). A conversão realizada pelo CODEC utiliza
modulação PCM (Pulse Code Modulation), conforme será visto no item 3.1.

Placas Tronco Placas Ramal


com CODEC com CODEC
Ramais
Para a Central Analógicos
Pública de Decádicos ou
Telefonia MF

PABX - Placa Base

Figura 3. Esquema detalhando função das placas ramal e tronco no PABX.

Cada placa ramal tem capacidade para 8 ramais analógicos, sejam do tipo
multifreqüencial (MF) ou decádicos. Já as placas tronco tem capacidade para 8 troncos
ou 4 troncos, dependendo da necessidade do usuário.
Outra função desempenhada pela placa ramal é a geração de ring para os
telefones, sob controle do processador 80186. Além disso, é na placa ramal que estão os
sensores de gancho dos ramais, que ficam monitorando se o ramal está com o fone no
gancho ou fora do gancho.
Outra função desempenhada pela placa tronco é a detecção de ring externo, ou
seja, quando chega uma ligação ao PABX e esta deve ser avisada para o ramal
atendedor. Portanto, os sensores de chegada de ligação externa encontram-se na placa
tronco.

2.3 O firmware do sistema


O firmware do PABX possui atualmente 200.000 linhas de código distribuídas em
43 arquivos fonte, tendo sido desenvolvido nas linguagens C, C++ e assembler do
80186.
8

A maior parte do sistema foi desenvolvido em C. Somente as partes mais críticas


tiveram a necessidade de serem escritas em assembler.
Para auxiliar na depuração, criou-se um simulador de PABX, que roda todo o
sistema num PC, simulando o comportamento do hardware. Esse simulador mostrou-se
bastante importante nos momentos de encontrar problemas no software de alto nível.
Outra ferramenta bastante importante utilizada para depuração, mas agora junto
com o próprio hardware, é o monitor do sistema, ou seja, um software compilado
juntamente com o código do PABX, e através de uma interrupção disparada pelo
programador ou pelo usuário (através de um hardware extra), pode-se parar o sistema e
analisar memória (dump de memória), executar inports, outports, substituir valores de
memória, ver os registradores ou rodar passo a passo.
Foram feitas outras ferramentas de depuração, como por exemplo o log do
sistema, um software que joga via serial (para um PC) todas as ações do PABX. Assim,
se um ramal tirar o fone do gancho, o log envia pela serial uma informação dizendo que
o fone do ramal tal saiu do gancho. Quando o ramal discar algo, vai uma informação
pela serial avisando. Após passar horas recebendo essas informações (que geram
arquivos bastante grandes), roda-se automaticamente o log no simulador, procurando
identificar erros no sistema.

2.4 Configurações do Digitop 192


O PABX pode ser configurado de diversas formas, e elas devem ficar
permanentemente no sistema, ou seja, devem se manter inalteradas em caso de falta de
energia elétrica. Para que isso seja possível, essas configurações são gravadas em
EEPROM, como foi descrito anteriormente. A tabela a seguir foi retirada da
documentação oficial do PABX, contendo uma descrição das configurações que são
mantidas em EEPROM. Talvez não sejam totalmente entendidas através da informação
contida neste artigo, mas o autor procurou deixar a informação completa, a fim de
mostrar todas as facilidades guardadas em EEPROM. Analisando detalhadamente a
tabela a seguir pode-se conseguir uma boa visão do PABX desenvolvido.
Facilidade Descrição OBS
Tipo de Placas Base, Expansão 1, Expansão 2: Ramal Analógico (8),
Tronco Analógico (8/4), Vazio
Troncos Feixe a que pertence: 0 a 10, onde 10 corresponde à operadora
Tipo do tronco: (desativado, decádico, MF, MFC)
BCC - Bloqueio de Chamadas a Cobrar: com ou sem
Impedância: 600 ou 900 ohms
Feixe de troncos Atend. Diurno: número do ramal / grupo diurno associado ao feixe Mensagens de DISA
Altern. Diurno: até 2 ramais /grupos alternativos por atendedor diferenciadas.
Existem 11 feixes no Atend. Noturno: número do ramal / grupo noturno associado ao feixe PABX em Serviço
PABX Digital, o que Altern. Notuno: 1 ramal /grupo alternativo p/ atendedor noturno diurno: mensagem
petmite até 11 ramais DISA/Pré-Atendimento (p/ atendedor diurno ou noturno): DISA manhã até
atendedores ao mesmo Sem DISA e sem pré-atendimento (default) 12:00 e mensagem
tempo Somente com pré-atendimento DISA tarde após
Com DISA sem pré-atendimento 12:00.
Com DISA com pré-atendimento DISA em serviço
Atendedor: é PC normal, é PC compartilhado ou é PC executivo noturno: Mensagem
Espera: DISA noturno
Com tom (default) sincronizado com a
Com música externa programação de
Mensagem Institucional Rotativa serviço noturno do
Mensagem Institucional Rotativa com música externa (30s) sistema
Tipos dos Feixes: Unidirecional ou Bidirecional.
9

Ramais Categ Diurno/Noturno: Restrito, Semi-Restrito, Semi-Priv. ou Priv.


Impedância: 600 ou 900 ohms
Até 168 ramais, sendo que Fax/Dados: sim ou não
cada um deles pode ter Hot-Line: com ou sem
uma configuração Voice-Mail: Com/Sem
específica conforme Ring Interno: 1 toque curto ou 2 toques curtos
mostrado no próximo Temporização 3 minutos: com ou sem
quadro. Ramais lógicos: números 200 a 399
Grupo: pode pertence a um dos 15 grupos
Faz / Recebe Intercalação: com ou sem
Grupo DIU (Discriminador de Interurbano): 8 prefixos de 4 dígitos, que podem ser
programados para aceitar ou rejeitar ligações (cada grupo tem seu DIU)
Máximo de 15 grupos Agenda: 8 prefixos de 14 dígitos (cada grupo tem uma agenda).
com quantos ramais se Toques para transbordo dentro do grupo
queira por grupo. Flash: curto ou longo
DAC (Distribuição Automática de Chamadas):
Sem distr. equit. tempo
Com distr. equit. tempo
Entra lig. sempre no ram. + baixo
Ligação transferida: retorna ramal 9, ramal ou não retorna
FAX Desativado, Somente tronco específico, Somente feixes 0 a 9 ou feixe 10 (rota 0).
Transfere para Ramal ou grupo.
Modem Número do telefone que modem vai discar, hora, minuto, ID do PABX
Contato do Relé Desativado, Sincronizado com o ring do ramal, Sincronizado com busca pessoa,
sincronizado com o ring do grupo do ramal, acionamento por 1 segundo,
acionamento contínuo / pulsado enquanto fone fora do gancho.
Bilhetagem Envia para PC, Impressora serial, Modem
Bilhetagem Saída (default) ou Entrada e Saída
Tranca/Não tranca ligações se bilhetador está cheio
PRIMEIRO DÍGITO Primeiro dígito do plano de numeração variável de 0 a 9
DISA Ramal/grupo associado ao dígito que o usuário vai discar
PAGING Deve-se definir ramal que vai ser central de paging
COLISÃO Sem/Com proteção
MENSAGENS
SERV. NOTURNO manual ou automático (hora diurno e noturno pré-configurada em EEPROM)

2.5 O Software no PC
Existem até 11 atendedores que podem possuir um PC para agilizar o processo de
discagem e gerência do PABX. A comunicação entre PC e PABX é feita via serial, a
19200 bps, como mostra a figura 4.
10

PC1 (executivo)

19200 bps

PC2 (atendedor DISA)


PABX
.....
19200 bps

PC10 (telefonista 1)
PC11 (telefonista 2)

Figura 4. Conexão de até 11 PCs em uma única saída serial do PABX.

Como existe apenas uma serial para os 11 atendedores, visto claramente na figura
acima, é necessário um protocolo para evitar conflitos na linha, ou seja, vários
atendedores conversando ao mesmo tempo. O protocolo escolhido para evitar esse tipo
de conflito é o “Poll-Select”, onde o PABX controla qual atendedor vai falar naquele
instante.
Assim, quando o PABX envia POLL a um determinado PC (por exemplo, o
número 7), está na verdade dizendo que todos os outros devem permanecer quietos
enquanto o PC número 7 envia seus comandos. Quando o número 7 enviou o comando
ou disse que não tinha nada a transmitir, o PABX passa a perguntar (fazer POLL) a
outro atendedor PC, como por exemplo o número 8.
Supondo que o atendedor número 7 tinha solicitação de comando (por exemplo,
pedido de data e hora). Quando o PABX tem a resposta do número 7, ele envia
SELECT ao atendedor número 7, juntamente com os dados (no caso data e hora do
PABX).
Esse processo de POLL e SELECT se repete indefinidamente para os atendedores
ativos, e os conflitos são evitados. Os principais comandos (mais usados) entre PC e
PABX estão listados na tabela a seguir.
Comando Descrição
RxPedDumpEEPROM Pedido de dump de EEPROM (PC vai ler EEPROM)
TxDumpEEPROM Dump da programação da EEPROM do PABX
RxProgEEPROM PABX lê programações da EEPROM

RxPedData Pedido da data do PABX


TxData Transmissão da data de ROM do PABX

RxPedBilhetagem Pedido para receber bilhetagem nesse endereço de atendedor


TxBilhetagem Bilhetagem das ligações entrada / saída / guarda noturno

RxGancho Coloca ou retira ramal do gancho


RxNumDiscado Número Discado

O início do comando é precedido por RX ou TX. A base é o PABX, assim, o


comando RxPedData é enviado de um PC para o PABX solicitando a data. A resposta a
esse comando é TxData, ou seja, o PABX envia a data para o PC.
11

O comando RxPedDumpEEPROM significa que o PC solicitou leitura das


configurações do PABX, que estão explicadas no item 2.4. TxDumpEEPROM é o
envio das configurações ao PC. O comando RxProgEEPROM faz com que o PABX
seja configurado com novas definições.
Com o comando RxPedBilhetagem, o PC avisa ao PABX que está apto a receber
bilhetagens. O PABX passa a enviar bilhetagens para o endereço deste PC.
Através dos comandos RxGancho e RxNumDiscado, o PC pode colocar ou tirar
o telefone do atendedor do gancho, e efetuar discagens. Assim, tudo que anteriormente
seria discado via telefone passa a ser feito via PC (com mouse ou teclado), facilitando
bastante a vida do atendedor, conforme será visto a seguir.
Com base no que foi visto, pode-se perceber as possibilidades de uso do PC para
facilitar a vida do atendedor. Uma tela típica de PC é mostrada na figura 5. Pode-se ver
que a tela está dividida em três janelas principais, que são a janela dos troncos, a janela
dos ramais e a janela da fila do antendedor.

Figura 5. Tela típica de um atendedor.

A janela de troncos mostra todos ou uma parte dos troncos ativos do PABX.
Quando o ícone está amarelo, indica que está chegando uma ligação. Quando o ícone
está vermelho, indica que o tronco está ocupado, conversando com alguém. Para saber
quem, basta ir com o mouse e dar um click com o botão da direita no ícone.
A janela de ramais mostra o estado dos ramais. Da mesma forma que os troncos, o
amarelo indica que o ramal está sendo chamado por alguém. O vermelho indica que o
ramal está conversando com alguém. Da mesma forma que os troncos, para saber quem
está chamando o ramal ou com quem ele está conversando, basta dar um click com o
botão da direita no ícone.
12

A janela Fila indica os ramais que estão na espera do atendedor cuja tela
corresponde à figura 5. A janela Grupo facilita na hora do atendedor chamar ou
transferir a ligação para determinado grupo do PABX. Vale lembrar que na fila de cada
atendedor pode ter tanto ramais como troncos, e no Digitop 192 podem ser configurados
até 15 grupos de ramais, conforme visto no item 2.4.
Caso o atendedor queira transferir uma ligação, basta clicar no ícone
correspondente e arrastar até o destino. Caso queira pegar um tronco ou ligar para um
ramal, basta clicar no tronco ou no ramal desejado.
Em termos de programação via PC, é possível configurar o PABX de diversas
formas. Algumas configurações podem ser vistas na figura 6.

Figura 6. Algumas programações do PABX no atendedor.

Já foi falado que uma das facilidades importantes em um PABX era a


possibilidade de controle de ligações, conseguido através da blilhetagem. Algumas telas
de bilhetagem, enviadas pelo PABX ao PC, que está mostrando ao usuário, conforme
consulta, são vistas na figura 7. No caso, a primeira tela mostra todas as ligações
efetuadas no intervalo dos dias 20 de setembro de 1997 às 08:00 e o dia 26 de setembro
de 1997 às 16:15. Existem outras telas de bilhetagem, contendo as estatísticas de
ligações de entrada e saída de acordo com o horário, o que é importante para fazer
rapidamente uma análise de tráfego na empresa.
13

Figura 7. Telas de bilhetagem buscadas do PABX e mostradas no PC.

2.6 Comunicação via Modem


O modem do PABX tem uma velocidade de 1200 bps, considerada satisfatória
para a sua utilidade, sendo implementado totalmente por software, uma parte no DSP e
outra no 80186.
Convencionou-se que tudo que um PC ligado na serial opcional pode fazer no
PABX também pode ser feito através de conexão via modem. Assim, as principais
tarefas que podem ser efetuadas via modem são:
• Leitura e programação da configuração do PABX, explicada no item
2.4;
• Recepção de bilhetagem;
• Alteração da data do PABX;
• Zerar senha de algum ramal que tenha esquecido.
A implementação feita no DSP é responsável por toda a parte de baixo nível na
conexão via modem, como por exemplo:
• Geração de portadora;
• Negociação de velocidade de conexão;
• Estabelecimento de conexão;
• Modulação;
• Demodulação.
O 80186 é responsável pela parte de alto nível na conexão via modem, ou seja:
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• Decisão da hora do dia para enviar bilhetagem ao modem remoto:


Quando chega a hora configurada na EEPROM para enviar
bilhetagem, o PABX disca para o número especificado, transmite
bilhetagem e encerra conexão;
• Discagem automática quando buffer a 75%. Caso o buffer de
bilhetagem esteja a 75% de sua capacidade, o PABX disca para o
número especificado na EEPROM e transmite a bilhetagem;
• Conferência se modem remoto enviou senha correta;
• Recepção, execução e retorno de comandos ao modem remoto.

2.7 Os Testes de Produção


A fim de que um produto saia confiável para o mercado, existe uma fase de testes,
onde o equipamento é submetido a diversas “provações” antes de ser aprovado. O
objetivo disso é identificar pontos críticos de falha no equipamento, e garantir que tudo
esteja funcionando corretamente, ou seja, não tenha falhas devido a “soldas frias”,
trilhas quebradas, componentes defeituosos, e assim por diante.
Para tanto, foi desenvolvido pela equipe da UNISINOS um software de teste do
PABX, onde os componentes são testados e é feita uma verificação geral do
funcionamento do produto. Uma tela típica do aplicativo é mostrada na figura 8.

Figura 8. Tela típica dos testes de produção do PABX.

Na figura pode-se ver a quantidade de testes que são efetuados. Eles podem ser
feitos tanto de forma manual, ou seja, escolhendo o teste que se quer efetuar, ou de
forma automática, onde o PABX vai fazendo os testes até encontrar algum problema,
quando então reporta ao usuário.
Os testes significam o seguinte:
• Eprom: executa o checksum na Eprom para ver se ela está sem erros.
O checksum é um byte especial colocado no final da Eprom, fazendo
com que a soma de todos os bytes da Eprom dê zero. Caso tenha algum
15

erro, tem uma grande probabilidade do resultado não ser zero, fazendo
com que o erro seja detectado e avisado para o usuário;
• RAM: Escreve e lê diversos padrões em RAM a fim de garantir sua
integridade. Dados que não poderiam ser apagados são salvos e
copiados novamente após o teste;
• E2prom: Confirma se a EEPROM do PABX está correta, lendo e
escrevendo um padrão em determinado byte;
• Compara as Matrizes: Verifica se o PABX está reconhecendo
adequadamente as matrizes que estão presentes no hardware.
• Matriz: Verifica as memórias das matrizes. O teste verifica as
memórias alta e baixa de cada um dos trinta e dois slots de todas as
streams das três matrizes.
• DSP - Funcional: Verifica se o DSP está se comunicando
adequadamente com o 80186, além de testar os algoritmos de geração
e detecção de MF, que serão utilizados nos demais testes. O teste
consiste em pedir ao DSP para gerar um dígito MF, conectando esse
slot novamente ao DSP a fim de que o dígito seja detectado.
• DSP - Memórias: Faz teste para garantir que a memória
compartilhada entre o PABX e o DSP esteja correta. Para isso, solicita
que o DSP faça esse teste, e espera uma resposta dele dizendo se as
memórias estão boas ou não;
• Compara as placas: Compara as placas detectadas através de
hardware com a configuração feita por software, procurando identificar
discordâncias que podem ser devido a um mal funcionamento de
alguma placa;
• CODEC - Digital: Verifica a parte digital do circuito dos codecs,
colocando em loop digital o CI de CODEC, escrevendo um valor na
matriz e lendo da matriz, conferindo se está OK;
• CODEC - Analógico: Verifica a parte analógica do circuito dos
codecs, colocando-os em loop analógico, gerando um padrão e
reconhecendo esse padrão novamente, para ver se está OK;
• Sensores de placas: Verifica os sensores de gancho das placas ramais
e os opto-acopladores das placas tronco;
• Ring: Envia ring a determinado ramal previamente definido. O
operador do teste deve avisar se tocou ou não o ring. O objetivo desse
teste é garantir que o ring esteja funcionando;
• Serial Opcional: Executa comunicação via serial, testando se o CI de
serial está presente. Para executar esse teste, é necessário colocar um
loop na serial;
• Relógio de tempo real: Verifica se o relógio de tempo real está
funcionando corretamente, ou seja, vê se ele não está parado e se
devolve uma data correta;
16

• Música e Busca Pessoa: Testam os circuitos de música e busca pessoa


da placa serial opcional, necessitando de giga externa e utilizando o
DSP como auxílio para verificar se os circuitos estão OK.
• Formatação Winchester: Verifica se o winchester está presente e
formata o mesmo;
• Informações Extras: Apresenta um resumo descritivo do PABX,
resumidamente, as seguintes: o número de matrizes e o tipo das
mesmas; o número de ramais e troncos detectados no PAB; as
características do winchester e caixa postal; a detecção da placa de
comunicações; a data do firmware (eprom); a hora e a data do PABX;
• Placas Ramal e Tronco: O Teste de Placas tem por objetivo validar
as placas presentes no PABX. Ele é subdividido em três: Testes de
Áudio, Sensores de Ring e Sensores de Gancho. Para sua realização é
necessária uma giga (circuito auxiliar) entre a placa ramal e a placa
tronco que estão sendo testadas;
• Watch Dog: Esse teste é para testar se o circuito de watch dog está
funcionando corretamente.O watch dog é uma forma de proteger o
sistema de laços infinitos indevidos no software. Para isso, o software
deve estar alterando o valor de uma porta no hardware a cada 100ms
no máximo. Caso não faça isso, o hardware vai gerar um reset no
processador, reinicializando o PABX. Dessa forma, caso o software
"se perca" e pare de enviar o sinal, o watch dog entra em ação,
reinicializando o sistema.

2.8 Estado Atual do Projeto


Após quase dois anos de projeto, o PABX está praticamente pronto e está saindo
para mercado. Já existem mais de 20 unidades funcionando em diversas empresas, em
fase de Beta Teste. A fase de Beta Teste está praticamente concluída e o PABX
começou a ser comercializado normalmente ao final da produção deste artigo.

3 INTRODUÇÃO À COMUNICAÇÃO DIGITAL


Os sinais de voz que partem do ser humano são analógicos e sonoros, ou seja, o ar
é empurrado com mais ou menos intensidade, um determinado número de vezes por
segundo, gerando uma onda que se propaga. Quando atinge um ouvido, este decodifica
as ondas sonoras e as transforma em percepções ao cérebro, que identifica um padrão e
monta uma mensagem.
A freqüência da voz humana, ou seja, o número de vezes por segundo que o ar é
empurrado, é dada pelas cordas vocais, gerando um som mais agudo (de maior
freqüência), ou mais grave (de menor freqüência). Normalmente, o ser humano
consegue emitir sinais sonoros aproximadamente entre 100 Hz e 8.000 Hz (8KHz). Um
ouvido humano perfeito consegue captar aproximadamente de 16 Hz a 18.000 Hz.
Entretanto, numa conversação normal, geralmente não se passa de 3KHz. Assim,
visando utilizar melhor o canal, criou-se uma largura de banda de 4KHz para canais de
17

telefonia, que é o que utilizamos atualmente em nossas ligações. Isso foi feito para
conseguir mais ligações entre centrais públicas utilizando o mesmo meio físico, que é o
princípio da multiplexação2, visto através da figura 9.

Limita em 4KHz

CENTRAL CENTRAL
PÚBLICA PÚBLICA
Vários canais de 4KHz
multiplexados na mesma linha

Figura 9. Funcionamento do canal telefônico tradicional e necessidade de


multiplexação.
Em resumo, pode-se concluir que foi criada uma limitação de 4KHz nos canais de
telefonia, a fim de poder multiplexar mais canais nas comunicações entre centrais
públicas diferentes, gerando economia e dando uma resposta satisfatória ao usuário.
Exemplificando, caso você esteja assistindo ao vivo uma orquestra sinfônica e
queira telefonar a uma pessoa para ela escutar como estão bonitas as músicas, tenha
certeza que o seu interlocutor não vai conseguir perceber o que você está ouvindo, pois
o som estará limitado em menos de 4KHz, e instrumentos como o piano conseguem ir
de 20Hz a 7KHz (chegando a 18 KHz), e o violino vai de 200Hz a 10KHz (chegando a
20KHz).

3.1 A modulação PCM


Para converter os sinais analógicos em sinais digitais e vice-versa, utiliza-se a
modulação por código de pulso, ou PCM (Pulse Code Modulation). O seu
funcionamento está baseado principalmente em três operações para transmissão e duas
para recepção. Para transmissão, utiliza-se a amostragem, quantização e codificação.
Para recepção, é necessário decodificar e filtrar o sinal, como mostra a figura 10.

2
Multiplexar é utilizar a mesma linha física para transmitir vários canais
18

Amostragem Filtragem

Quantização Decodificação

Codificação

101110110111110101010 Transmissão / 101110110111110101010


Comutação

Figura 10. Fases da modulação PCM


As fases da modulação PCM serão analisadas com maiores detalhes a seguir.

3.1.1 Amostragem
A amostragem tem por objetivo obter parcelas do sinal de informação, pois
através dessas parcelas é que o sinal será digitalizado e, posteriormente, recuperado.
Para fazer a amostragem, utiliza-se um circuito de amostragem, mostrado
esquematicamente na figura 11.
Sinal de Informação

Sinal Amostrado

Sinal de Amostragem

Figura 11. Diagrama em blocos de um circuito amostrador PCM


O número de amostras por segundo utilizado pelos CODECS foi definido através
do teorema da amostragem de Nyquist, que diz que um sinal analógico em uma
determinada freqüência f (Hz), pode ser recuperado desde que seja amostrado em
intervalos regulares com um número de amostras por segundo igual ou superior a 2f.
Assim, como a freqüência atual das linhas telefônicas é de 4KHz, utiliza-se 8.000
amostras por segundo. Esse valor não precisava ser tão grande, pois a largura de faixa
19

do sistema telefônico é pouco maior de 3000 Hz, o resto é banda de guarda. Maiores
detalhes podem ser conseguidos em /MOE 95/, e uma descrição da análise de Fourier
em sistemas de comunicação, provando o teorema de Nyquist sobre amostragem, pode
ser conseguida em /LAT 79/.

3.1.2 Quantização
A amostragem está relacionada ao eixo X do sinal de informação, enquanto que a
quantização está relacionada ao eixo Y. A idéia da quantização é aproximar uma
amostra a um nível de referência, a fim de que seja codificado.
A grosso modo, poderia se dizer que a quantização iria dividir a faixa de sinal
(eixo Y) em níveis. A cada nível corresponderia uma seqüência de bits, que se
transformariam no sinal digital de saída, como mostra a figura 12.
111

110

101

100

011

010

001

000

Sinal Amostrado

Figura 12. Exemplo super simplificado de um quantizador PCM

Assim, como sugere a figura, cada amostra corresponde a um nível de tensão, que
pode ser traduzido em bits de informação, gerando um sinal digital. Na figura, existem 8
níveis, ou seja, cada amostra gera 3 bits na saída. Nos CODECS comerciais, são 13 bits,
ou 8.192 níveis, entretanto, é feita uma compressão do sinal, fazendo com que a saída
seja em 8 bits.
Esses 256 níveis, ou 8 bits, seriam sempre suficientes caso o ser humano utilizasse
sempre a mesma intensidade de voz. Entretanto, o ser humano fala baixinho em alguns
momentos e muito alto em outros, provocando uma variação de intensidade de voz de
até 100 vezes. E seu interlocutor tem que escutá-lo em todas as circunstâncias. Assim,
ficaria difícil utilizar uma amostragem linear, como mostra a figura 12. Observe que a
figura 8 é derivada da figura 11.
Existem algumas soluções para o problema. Todas elas se baseiam em fazer uma
alteração do sinal original do usuário seguindo uma determinada lei, a fim de que possa
ser recuperado na decodificação. Quando a intensidade de sinal é baixa (a pessoa fala
baixinho), é feita uma amplificação nesse sinal, segundo uma lei de formação
logarítmica. Conforme a intensidade do sinal aumenta (a pessoa fala mais alto), a
amplificação diminui, provocando uma equalização no nível de sinal. Isso permite que,
20

de 13 bits de quantificação inicial, utilize-se 8 bits para gerar a palavra digital, conforme
mostra a figura 13.
Vs (Sinal de Saída)

Conversor
Sinal de Saída Palavra Digital
Sinal de Entrada Analógico /
comprimido de 8 bits
Digital

Ve (Sinal de Entrada)

Figura 13. Detalhe de uma forma de compressão

A lei de formação utilizada nos Estados Unidos e Japão é a lei µ . Já a maioria dos
países da Europa e Brasil utilizam a lei A, que foi definida pelo ITU-T (International
Telecommunications Union) e é utilizada nos enlaces internacionais.
Resumindo, o objetivo principal das leis A e µ é transformar o código linear de 13
bits obtido pela codificação PCM em 8 bits e vice-versa.

3.1.3 Codificação
Após a etapa de quantização, o sinal está pronto para ser codificado em 256 níveis
(8 bits), pois já foi feita a equalização do sinal através da lei de formação adequada.
Ao código binário de 8 bits gerado, denomina-se palavra PCM ou código PCM.
Esse código é simétrico, possuindo uma parte positiva e uma negativa, dado pelo bit
mais significativo. Os outros bits são utilizados para mostrar a magnitude do sinal a
partir do nível zero.
Não serão analisados aqui neste documento os detalhes das leis A e µ para
obtenção do sinal codificado. Detalhes podem ser obtidos em /MOE 95/.

3.1.4 Transmissão / Comutação


A etapa de transmissão consiste em pegar o sinal digital obtido pelo codificador e
enviá-lo até o destino, onde deve ser decodificado. Existem diversos protocolos de
transmissão digital. Entre eles pode-se citar os seguintes, cujos detalhes podem ser
obtidos em /MOE 95a/:
• Bipolar ou AMI (Alternate Mark Invertion);
• HDBn (High Density Bipolar de ordem n);
• CMI (Code Mark Invertion);
• 4B/3T;
• BnZS (Binary n Zero Substitution);
• Manchester;
• PTS (Pair Selected Ternary);
• 5B/6B;
21

• Multinível.
Internamente a um PABX, a principal etapa é a comutação digital, conseguida
através da matriz digital.

3.1.5 Decodificação e Filtragem


Quando o sinal atinge o receptor, deve ser decodificado, ou seja, o processo
inverso de codificação deve ser feito. Vai ocorrer um erro de quantização, devido à
aproximação do sinal original a um determinado nível. Além disso, o sinal vai ficar
meio quadrado no destino. Para corrigir esses problemas, utiliza-se a filtragem do sinal,
que faz uma suavização do sinal decodificado, tornando-o bastante semelhante ao sinal
original.

3.2 Transmissão de Voz em Centrais Privadas


O enfoque da transmissão entre centrais públicas foi visto na figura 9. Em centrais
privadas (PABX), pode-se utilizar tanto a comutação analógica como digital, que serão
vistas com maiores detalhes a seguir. Atualmente a tendência de mercado é para a
utilização de tecnologia digital, cujas vantagens serão vistas no item 3.2.4.
Um dos principais elementos de um PABX é a sua matriz de comutação, ou seja, a
forma utilizada para fazer os ramais conversarem entre si ou com linhas externas. Os
detalhes das matrizes analógicas e digitais também serão analisados nos próximos itens.

3.2.1 A matriz de comutação Analógica


Na tecnologia analógica, a conexão feita através da matriz é como se fosse um fio,
ou seja, cada ponto fechado é igual a um conector que liga dois elementos (linha e
coluna) da matriz. Assim, suponha que esteja representado um PABX analógico na
figura 14. A linha de TOM iria ligada, na placa base, a um gerador de tom analógico. A
linha dos detectores de MF iria ligada a um chip de detecção de MF, que receberia o
sinal de tom analógico e identificaria qual o dígito correspondente.
Da mesma forma, os ramais e troncos estão ligados diretamente aos ramais do
PABX, e a voz efetivamente cruza a matriz analógica na forma de sinais elétricos
analógicos, que foram convertidos pelo microfone do telefone do ramal. Um exemplo
de matriz de comutação analógica é mostrado na figura 14.
T1 T2 T3 MF1 MF2 E1 E2 TOM
R9
R200 X
R201 X
R202
R203
R204 X
R205
R206
R207
R208
Figura 14. Exemplo de matriz de comutação.
22

A matriz vista na figura é para um PABX de 10 ramais e 3 troncos. Pode-se


deduzir que o ramal 201 (R201) está conversando com o tronco 1 (T1) e o ramal 200
(R200) e 204 (R204) estão conversando entre si. Isso pode ser visto pois os “X” na
matriz representam a conexão fechada, explicado a seguir, juntamente com os outros
símbolos da figura..
• R9: Ramal 9, ou seja, atendedor principal ou telefonista;
• MF: Linha para o detector de dígitos multifreqüenciais. Seu uso ficará
mais claro no exemplo a seguir;
• E: Enlace. É uma forma de conectar dois ou mais pontos das linhas
entre si. É pelo enlace que se fazem as conexões entre os ramais.
Assim, pode-se ver que o enlace 1 (E1) está permitindo a conversa
entre os ramais 200 e 204. Caso existisse uma conferência entre três
ramais, existiriam três pontos fechados através do enlace;
• TOM: serve para dar tons aos ramais e troncos. Os tons mais comuns
são de ocupado, interno, chamando e rechamada.

3.2.2 Exemplo de funcionamento com matriz analógica


O funcionamento padrão é o seguinte: suponha que o ramal 207 quer discar para o
ramal 206. Os seguintes passos vão acontecer:
• 207 tira fone do gancho: O processador está sempre analisando o
gancho dos ramais. Quando ele percebe que o ramal 207 tirou do
gancho, fecha a conexão do ramal 207 com tom (para que o ramal ouça
tom interno), alternando 950 ms com tom (conexão fechada) e 50 ms
sem tom (conexão aberta), pois esse é o tipo de tom interno. Além
disso, fecha a conexão da matriz com detecção de MF, para que o
detector sinta quando o ramal discar. A linha da matriz estará como
mostra a tabela a seguir, significando que o ramal está conectado ao
tom e ao detector de MF.
T1 T2 T3 MF1 MF2 E1 E2 TOM
R207 X X
• 207 disca “2”: Quando o usuário disca o dígito ´2´, o telefone gera o
tom correspondente a esse dígito, e o detector de MF detecta e avisa o
processador que tem o dígito disponível. O processador então lê o
detector de MF, descobre que foi teclado esse dígito, e espera outros,
pois o dígito ´2´ não é nada sozinho, pois depende de outros para o
processador tomar uma ação concreta;
• 207 disca “0”: Da mesma forma que antes, o processador lê o detector
de MF, descobre que foi teclado esse dígito, e espera outros;
• 207 disca “6”: Da mesma forma que antes, o processador lê o detector
de MF, descobre que foi teclado esse dígito, e analisa se ramal 206 está
livre ou ocupado. Se estiver ocupado, dá tom de ocupado para ramal
207 (250 ms com tom e 250 ms sem tom). Caso contrário, dá tom de
chamando (1 segundo com tom e 4 segundos sem tom) para o ramal
207 e começa a tocar ring no ramal 206;
23

• Estado Intermediário: Nesse instante, o ramal 206 está tocando ring


interno (400ms com ring e 3,6 segundos sem ring, enquanto que o
ramal 207 está com tom de chamando;
• 206 tira fone do gancho: O processador percebe isso, tira o ring que
estava tocando no ramal 206, tira o tom que estava tocando no ramal
207, e conecta os dois ramais através de um enlace disponível, como
foi feito entre os ramais 200 e 204 da figura 14.

3.2.3 Matriz com Tecnologia Digital


Na tecnologia digital, a matriz utilizada para conectar os elementos é digital, ou
seja, tudo que entra e sai dela é formado por bits (0 ou 1). No Digitop utiliza-se um
Codec que obedece a Lei A. Cada codec está conectado às matrizes através de quatro
linhas, duas de controle e duas de áudio.
São necessárias duas conexões de áudio para se estabelecer uma conversa entre
ramais. Para o ramal 9 falar com o ramal 240, por exemplo, necessita-se de uma
conexão, que é a associação do canal de voz de saída de A (R9) com o canal de voz de
entrada em B (R240) e de outra conexão para fazer o caminho inverso, ou seja, é a
associação da saída de B (R240) com a entrada em A (R9), conforme a figura 15.

Figura 15. Matriz digital, com suas Linhas de Multiplexação Temporal (LMT)

Existem três tipos de comutação digital /ODO 97/:


O comutador espacial é um circuito digital que realiza a comutação das palavras
de código das LMT's de entrada para qualquer LMT de saída sem mudar de time slot,
ou seja um ramal que está locado no time slot 3 da LMT1 de entrada pode se comunicar
com qualquer LMT de saída, porém tem que estar locado no time slot 3.
O comutador temporal é um circuito digital que realiza a comutação das palavras
de código dos time slots da LMT de entrada para qualquer time slot da mesma LMT de
saída, ou seja, um ramal que está locado no time slot 3 da LMT1 de entrada pode se
comunicar com qualquer time slot que esteja locado na LMT1 de saída, se o mesmo
estiver locado na LMT2 de saída, por exemplo, não há comunicação.
O comutador temporal/espacial, usado no Digitop 192, é um circuito digital que
realiza a comutação das palavras de código dos time slots da LMT de entrada para
24

qualquer time slot de qualquer LMT, realizando, portanto, simultaneamente a


comutação temporal e espacial, conforme exemplo da figura 16. Note que cada letra
mostrada na figura representa uma conexão acontecendo. Verifique que as conexões
estão em diversas linhas e diversos time slots.

Figura 16. Matriz digital Espacial e Temporal.

A comutação digital do Digitop 192 é realizada por duas matrizes de controle e


uma matriz de áudio. As matrizes de controle são responsáveis por:
• Detecção de ring e acionamento dos relés nas placas troncos;
• Detecção de hook , dígito decádico e acionamento do ring nas placas
ramais.
A matriz de áudio é responsável pela interconexão dos sinais de voz de um canal
telefônico para outro canal telefônico (basicamente, conexão entre ramais e troncos).
No PABX Digitop 192, as linhas digitais consistem de 32 canais para cada linha
física (multiplexação no tempo), e são divididas da seguinte forma:
• Conexão ao DSP: Feita por quatro dessas linhas (ou 128 slots), e são
responsáveis principalmente pela geração do TOM de forma digital,
detecção de MF, geração de MF, geração de mensagens e recepção de
mensagens;
• Conexão às placas ramal e tronco: Feita por seis dessas linhas para
transmissãso e seis para recepção, fazendo um total de 192 portas.

Assim, pode-se perceber o motivo pelo qual o CODEC é colocado na placa ramal
e tronco: para enviar e receber o sinal de forma digital para a matriz. No exemplo de
conexão à matriz, visto no item 3.2.2, a conexão aos diversos elementos do PABX é
feito da seguinte forma:
• TOM: gerado pelo DSP de forma digital. Assim, quando o PABX
quer conectar o ramal 207 com tom interno, conecta ele ao slot de tom
gerado pelo DSP por 950ms (ramal ouve tom); aí desconecta do slot de
tom por 50ms, e assim sucessivamente. A placa ramal recebe uma
seqüência de bits (que significam tom de 425Hz) e passa para
25

analógico através do CODEC, fazendo com que o ramal receba o som


normalmente;
• Detecção de Dígitos MF: também feita pelo DSP. Quando o ramal
207 tira o fone do gancho, o processador 186 conecta a saída do ramal
com a detecção de dígitos MF pelo DSP (solicitando que o DSP
detecte dígitos digitados pelo usuário). Quando o usuário do ramal
digita “2”, o DSP avisa o processador (através de uma interrupção e
uma área reservada de memória compartilhada), que detectou o dígito,
fazendo com que o processador tome a decisão correspondente: no
caso, esperar mais um dígito;
• Enlaces: não existem enlaces num PABX Digital. Assim, os ramais
são conectados de forma digital diretamente através da matriz, ou seja,
a matriz só tem como conectar dois pontos entre si. Isso dificulta na
hora de efetuar uma conferência, mas evita cruzamentos indesejáveis
que poderiam acontecer devido a ruídos ou erro de programa
(fechando pontos da matriz de forma inadequada).
• Conexão entre ramais: como não existe enlace em um PABX digital,
caso o ramal que está no slot 1 da linha de 32 slots queira conversar
com o ramal que está no slot 5 da linha de 32 slots, o processador 186
deve fazer a conexão correspondente na matriz, tanto para transmissão
como para recepção;
• Conferência e Intercalação: Um problema enfrentado foi a
implementação de conferência e intercalação, pois já que não pode-se
criar enlaces, como fazer para que três ou mais ramais (ou
ramais/troncos) conversem entre si? A solução foi fazer isso via DSP,
assim, o DSP recebe o sinal de todos os ramais que estão na
conferência, subtrai o som (de forma digital) de um dos ramais e envia
para ele somente a soma do som dos outros participantes da
conferência. Isso é feito para todos os participantes da conferência.

3.2.4 Vantagens da Tecnologia Digital


A tecnologia digital está gradativamente substituindo a analógica, e o motivo
disso são as vantagens obtidas pela tecnologia digital. Entre elas, pode-se citar:
• Armazenamento de voz: Convertendo a voz para forma digital, é
possível armazená-la em um winchester ou na memória do sistema.
Isso permite uma grande facilidade e rapidez para correio de voz,
mensagens de auxílio à operação do PABX, mensagens de erro, e
assim por diante. Isso seria possível fazer num PABX analógico, mas
necessitaria de fitas cassete ou outro meio analógico de
armazenamento de voz, o que seria bem mais lento e bem mais caro
que utilizar tecnologia digital;
• Multiplexação no tempo: Com sinais digitais, uma única linha pode
armazenar 32 canais de voz simultaneamente (linha E1). Isso gera uma
economia de linhas no sistema;
26

• Redução de custo e maior confiabilidade: Com tecnologia digital, o


consumo de energia do produto é menor, além do seu tamanho. Além
disso, os circuitos digitais possuem maior confiabilidade /ODO 97/;
• Pureza do sinal em maiores distâncias: Quando o sinal digital
necessita ser amplificado porque sofreu atenuação, o ruído é
totalmente eliminado, pois há uma regeneração do sinal, já que ele é
digital e pode ser totalmente recuperado. Isso elimina completamente o
ruído até aquele ponto da transmissão;
• Uso do mesmo meio físico para várias informações: Com sinais
digitais, é possível transmitir voz, dados, imagens, música, e assim por
diante através do mesmo meio físico;
• Impossibilidade de cruzamento na matriz: Como a matriz é digital,
não existem enlaces, e não é possível haver cruzamentos indesejáveis
entre ramais / troncos no sistema. Assim, esse tipo de preocupação não
existe na tecnologia digital.

4 AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer principalmente às pessoas que trabalharam mais
diretamente comigo durante o desenvolvimento do produto, ou seja, o Paulo Sá e o
Odone, da Meta, e o César Marcon, parceiro no desenvolvimento do firmware desse
produto.

5 BIBLIOGRAFIA
/LAT 79/ Lathi, B. P.. Sistemas de Comunicação. Ed. Guanabara Dois. 1979.401p.
/MOE 95/ Moecke, Marcos. Curso de Telefonia Digital - Modulação por Código
de Pulso. Escola Técnica Federal de Santa Catarina São José. 1995. 23p.
/MOE 95a/ Moecke, Marcos. Curso de Telefonia Digital - Multiplexação por
Divisão de Tempo e Transmissão Digital. Escola Técnica Federal de
Santa Catarina São José. 1995. 25p.
/ODO 97/ Odone, Morais Junior. Manual Técnico do Digitop 192. Meta
Telecomunicações. 1997. 17p.

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