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Aula de Bioquímica II

Tema:

Metabolismo de Lipídeos

Prof. Dr. Júlio César Borges


Depto. de Química e Física Molecular – DQFM
Instituto de Química de São Carlos – IQSC
Universidade de São Paulo – USP
E-mail: borgesjc@iqsc.usp.br
Lipídeos

Biomoléculas insolúveis em água;


Quarto principal grupo de biomoléculas;
Grande diversidade química e estrutural;
Não são poliméricos, mas podem formar agregados.
Várias funções  3 principais:

Papel estrutural: principal constituinte membranas biológicas

Armazenamento de energia: metabolismo energético


Fornece 80% da energia para o coração e fígado

Sinalização inter- e intracelular

Vitaminas e hormônios
Lipídeos
 Substâncias de origem biológica (do grego lipos, gordura);
 Não poliméricos, mas podem se agregar;
Importância no Metabolismo energético
 ~ 2 x mais energia do que o mesmo peso seco de
glicose ou aminoácidos.
 Principal reserva energética metabólica a longo
prazo.
 Inércia química e baixa osmolaridade
 Balanço energético da célula
 Demanda de energia  Degradação -
Catabolismo
 Excesso de energia  Síntese - Anabolismo
 Envolvem reações de oxido-redução
 Diferem na direção e enzimas, localização Tecido adiposo:
celular, doador/aceptor de elétrons  Abundante na camada
subcutânea e cavidade
abdominal;
Adipócitos: especializados na síntese e  Pode suprir a necessidade
armazenamento de triacilgliceróis; energética por alguns meses;
 Isolamento térmico
Estratégia geral do catabolismo de ácidos graxos
 Degradação por remoção sequencial de unidades de 2 carbonos
Experimento de Franz Knoop (1904)
- Marcação de ácidos graxos no último carbono com ácido benzoico

Hipótese da β-oxidação 
Clivagem entre o carbono
αeβ
Oxidação de ácidos graxos  3 Etapas
1º Etapa: β-oxidação
- 4 reações enzimáticas  remoção sequencial de Acetil-CoA
- Local: Matriz mitocondrial
A mobilização de ácidos Graxos
- Ação hormonal mobilizam ácidos graxos dos ADIPÓCITOS para o catabolismo

Adrenalina ou Glucagon
Formação de FFA
“Free Fatty acids”
1) Resposta a hormônios
2) Via cAMP  PKA
3) PKA fosforila e ativa a lipase
sensível a hormônios (HSL)
4) Fosforilação da Perilipina
5) Liberação da CGI, que se
associa e ativa a lipase ATGL
(adipose triacilglicerol lipase)
7) A Pi-HSL interage com a
gotícula via Pi-perilipina
6) e 8) Ação conjunta da ATGL
e Pi-HSL libera ácidos graxos
no citoplasma
9) Os FFA atingem a corrente
sanguínea e interage com a
albumina sérica na razão de
10:1
Catabolismo de Triacilgliceróis
 Hidrólise da ligação éster entre o ácido graxo e glicerol

Lipases
Glicerol
Triacilglicerol
Ácidos graxos

Ácidos graxos livres  corrente sanguínea – Albumina  músculo, coração e fígado


 Taxa de hidrólise de triacilglicerídeos regula o catabolismo de ácidos graxos
 95% da energia de um triacilglicerol reside nos ácidos graxos
 ~5% no glicerol
A ativação de Ácidos Graxos cadeia longa
1º etapa para o transporte para a mitocôndria
 Reação de acilação de ácidos graxos C >12 é dependente de ATP
 Catalisada pelas Acil-CoA-sintetases – Tiocinases  isoenzima citosólica

 Reação em duas etapas:


1) 1o ataque nucleofílico
 Formação do anidrido misto
Acil adenilato  Saída de
Pirofosfato

2) 2o Ataque nucleofílico do
grupo sulfidril da CoA
 Reação reversível

 Pirofosfatase inorgânica dirige


a termodinâmica da etapa 
Irreversível

 Duas ligações Pi de “alta


energia” são consumidas
A β-oxidação ocorre na mitocôndria!
 Transporte do Acil-CoA C > 12 pela membrana mitocondrial interna
 Ácidos graxos com C ≤ 12 tem livre trânsito na MMI
- Transferência via Carnitina
- Catalisada pelas isoenzimas Carnitina-palmitoil-transferases
- A reação ocorre próxima ao equilíbrio
 Ligações de energia livre de hidrólise similar
- Mantém o balanço de CoA citosólica e mitocondrial
- Transporte do ácido graxo para mitocôndria é ponto de regulação
A β-oxidação ocorre na mitocôndria!
 Uma translocase transporta a Acil-carnitina pela membrana mitocondrial interna
 Proteína carreadora de carnitina

Carnitina-palmitoil-transferase I Carnitina-palmitoil-transferase II
 Ponto de controle por inibição  Transporte passivo
- Malonil-CoA - Segue o gradiente de concentração
A estratégia da β-oxidação!
 4 reações enzimáticas sequenciais = remoção de Acetil-CoA

Ciclos adicionais

1o  Oxidação

2o  Hidratação

3o  Oxidação Total: 7 Acetil-CoA

 2 complexos multienzimáticos
trifuncionais CANALIZAM os
substratos pela via reacional
4o  Clivagem
 Cadeias com 12 ≥ C  face interna
da MMI
 Cadeias com 12 ≤ C  matriz
mitocondrial
Repetição da mesma estratégia!
Outras vias usam a mesma estratégia de oxidação
- Desestabilizar sequencialmente a ligação C—C e depois quebrar
A rota da β-oxidação!
 4 Isoenzimas acil-CoA-Desidrogenase  todas com FAD como coenzima
- Diferentes enzimas para tamanho de ácidos graxos diferentes
- Acil-CoA-Desidrogenase de cadeias muito longas: Ácidos graxos com 12-18 C
- Acil-CoA-Desidrogenase de cadeias longas: Ácidos graxos com 10-16 C
- Acil-CoA-Desidrogenase de cadeias médias: Ácidos graxos com 6-10 C
- Acil-CoA-Desidrogenase de cadeias curtas: Ácidos graxos com 4-6 C

 Todas estão ligadas à cadeia de transporte de elétrons


- Transferência direta de e’ pela Flavoproteína de transferência de elétrons – FTE

Sem fluxo de H+ pela MMI!


A rota da β-oxidação!
 A reação da Tiolase – Clivagem entre o Cα – Cβ
 Libera um Acetil-CoA e um Acil-CoA com 2 carbonos a menos

Mecanismo da reação
1  Ataque nucleofílico de um Tiol ativado
da enzima

2  Quebra da ligação com formação de um


intermediário carbânion estabilizado por
ressonância e um intermediário enzima-
tioéster

3  Carbânion capta um próton da enzima e


sai um Acetil-CoA e um intermediário
enzima-tioéster
A rota da β-oxidação
 A reação da Tiolase – Clivagem entre o Cα – Cβ
 Libera um Acetil-CoA e um Acil-CoA com 2 carbonos a menos

Mecanismo da reação
4  Ataque nucleofílico de um Tiol da CoA
livre e protonação de um grupo básico na
enzima

5  Reorganização eletrônica e liberação


da Acil-CoA encurtada em 2 carbonos
Termodinâmica da Degradação do palmitato
Palmitato  Ácido graxo de 16 carbonos
A degradação completa de 1 mol de Palmitato (C16) após 7 ciclos na β-oxidação rende:
 8 mols de Acetil-CoA
 7 mols NADH
 7 mols FADH2
 A oxidação completa destas moléculas no Ciclo de Krebs e Cadeia Transportadora de
Elétrons rende
Termodinâmica da Degradação do Palmitato!
 A degradação de 8 mols de Acetil-  Somando ao rendimento na β-
CoA no ciclo do ácido cítrico rende: oxidação:
 8 mols GTP = 8 mols ATP  8 mols ATP
 24 mols NADH  31 mols NADH
 8 mols FADH2  15 mols FADH2

NADH + H+ + ½ O2  NAD+ + 1 H2O H2O


FADH2 + ½ O2  FAD + 1 H2O metabólica

 Na cadeia transportadora de elétrons  Rendimento Total:


e fosforilação oxidativa: 8 mols ATP +
31 mols NADH x 2,5  77,5 mols ATP +
 1 mol NADH = 2,5 mol ATP 15 mols FADH2 x 1,5  22,5 mols ATP =
 1 mol FADH2 = 1,5 mol ATP 108 mols ATP

 Duas ligações fosfato foram consumidas na Ativação do palmitato!


 RENDIMENTO final = 106 mols ATP x 30,5 kJ/mol = 3230 kJ/mol
 33% do valor teórico em condições padrão
 ~60% da energia em condições fisiológicas
Aproximadamente 3,5 vezes ao rendimento da oxidação da glicose
 1 mol de Glicose = 30-32 mols ATP
Oxidação de ácidos graxos insaturados
 Existem dois tipos de “problemas” para a β-oxidação

Problema 1:
Ligação dupla cis ∆3
Oxidação de ácidos graxos insaturados
 Os problemas são contornados por enzimas adicionais

 Não é substrato para a β-oxidação


Problema 2:
Ligação dupla cis ∆4  A ligação cis ∆4 inibe a Enoil-CoA hidratase
que atua somente em substratos trans
Oxidação de ácidos graxos de cadeia impar

- Comuns em plantas  dieta de mamíferos


 Produto final do último ciclo da β-oxidação é
Acetil-CoA e Proprionil-CoA

 Produto da oxidação da
Met, Val e Ile

 Reação radicalar incomum


dependente de Cobalamina =
Vitamina B12

 Intermediário
do ciclo do ácido
cítrico
Regulação da oxidação de ácidos graxos
- Estritamente regulada
 A entrada na mitocôndria determina o destino do ácido graxo
- Mitocôndria  β-oxidação
- Citoplasma  Conversão em triacilglicerídeos
 Principal ponto de regulação  Carnitina-acil-transferase I
Inibição por Malonil-CoA  sinaliza disponibilidade de Acetil-CoA via Glicólise

Razão alta
NADH/NAD+ inibe a
β-hidroxiacil-CoA-
desidrogenase
Regulação da oxidação de ácidos graxos
 Glucacon dispara a fosforilação, via PKA e AMPK, da Acetil-CoA-carboxilase (ACC)
= inibição da síntese de malonil-CoA no citoplasma
 Glucacon ativa fator de transcrição CREB no músculo, fígado e tecido adiposo
 Fatores de transcrição PPARα ativam a síntese
- Síntese de proteínas envolvidas na β-oxidação ativada, incluindo a Carnitina-acil
transferase I e II
Outros sítios de oxidação de ácidos graxos
Peroxissomos/glioxissomos  organela especializada em oxidar ácidos graxos

Animais e vegetais Em vegetais: glioxissomos


Diferencia da via mitocondrial
em 3 aspectos principais  Ciclo do glioxilato
permite uso de Acetil-CoA
1) Ácidos graxos de cadeia > como percussor
20 C Biosintético na
germinação
2) 1º passo oxidativo  Acil-
CoA oxidade  geração de
H2O2 a partir de FADH2 e O2
- Não é gera ATP
- Catalase consome o H2O2

3) 2º passo oxidativo  NADH


deve ser exportado para ser
reoxidado

 Acetil-CoA formada é
exportada
A ω-oxidação
 Ácidos graxos de 10-12C são oxidados em ambas as extremidades no retículo
endoplasmático
- Fígado e rins
- Via minoritária em mamíferos  importante se a β-oxidação tem falhas
 Envolve a oxidação do C ω usando O2  oxidase de função mista
 Conta com a participação da álcool desidrogenase e aldeído desidrogenase

 Oxidação em terminação
dupla

 Gera ácidos
dicarboxilicos = succinato

 Entra diretamente no
ciclo de Krebs
Formação de Corpos cetônicos
 Ácidos graxos são os combustíveis no estado de jejum
 A cetogênese ocorre no fígado durante a gliconeogênese

No hepatócito
 Acetil-CoA sofre conversão em “corpos
cetônicos” solúveis para transporte para outros
tecidos
- Permite depleção de oxaloacetato para a
gliconeogênese
Formação de Corpos cetônicos
 Acetil-CoA é convertida em acetoacetato, D-β-
hidroxibutirato e acetona
1) 1o Condensação de 2 Acetil-CoA  Tiolase
2) 2o Condensação de + 1 Acetil-CoA  HMG-CoA-sintase
3) Clivagem de 1 Acetil-CoA  HMG-CoA-liase
 Destinos do acetoacetato
1) Redução a D-β-hidroxibutirato
2) Descaboxilação espontânea para acetona
Metabolismo de Corpos Cetônicos

 Os corpos cetônicos são transportados,


via sanguínea, para os tecidos periféricos
na forma solúvel.

- A CoA está no fígado em quantidade


limitada, a exportação de corpos cetônicos
libera CoA para oxidação contínua de ácidos
graxos

 Nos tecidos periféricos ocorre a


conversão metabólica de corpos cetônicos
em Acetil-CoA

1) Oxidação do D-β-hidroxibutirato
2) Succinil-CoA doa o CoA para o
Acetoacetato
3) Clivavem do Acetoacetil CoA pela tiolase
β-oxidação versus biossíntese de ácidos graxos
Apresentam 4 etapas básicas  não é a simples reversão da β-oxidação
β-oxidação  Clivagem de unidades de 2 carbonos
Biossíntese  Condensação de unidades de 2 carbonos

Oxidação Redução

Hidratação Desidratação

Oxidação Redução

Clivagem Condensação

ACP = Proteína Carreadora de Acila


A Ativação do Acetil-CoA
 Carboxilação da Acetil-CoA  Malonil-CoA
- Carreador de Acetil-CoA ativado para incorporação no AG
crescente
 Acetil-CoA-Carboxilase - ACC
- Mecanismo similar da piruvato-carboxilase
- Proteína multifuncional
1) Proteína carreadora de Biotina
- Biotina, ligada ao Cε de uma Lys, como grupo prostético
= Transportador de CO2 ativado
- Permite visitar os diferentes sítios reacionais
2) Biotina carboxilase
- Requer 1 ATP como fonte de energia para ativar a biotina
3) Transcarboxilase
Transfere o CO2 da Biotina para o Acetil-CoA

- Sítio de controle hormonal e alostérico


- Inibida Fosforilação via AMPc  Glucagon, epinefrina e
norepinefrina
- Ativada por fosfatases dependentes de Insulina

 Malonil-CoA inibe a Carnitina palmitoil transferase I


Proteína carreadora de acila = ACP
Acyl carrier protein

- Proteína de 10 kDa
- Grupo fosforil da fosfopanteteína é
esterificada a uma Ser
- Ancora o ácido graxo crescente para a reação
com o Malonil-CoA
Síntese sequencial de AG
Ácido Graxo Sintase I (AGS I)  vertebrados e fungos
Polipeptídeo multifuncional 240 kDa  é um homodímero
 7 domínios funcionais  canalização dos substratos ligados covalentemente
 6 atividades catalíticas (Tioesterase não é mostrada)
Síntese sequencial de AG
- Em mamíferos
- Adição sequencial de unidades de C2

 Iniciação
Carregamento da ACP com malonil e da KS
com Acetil
 Ciclos de Elongação
1) Condensação 
2) Redução 
3) Desidratação  7 vezes
4) Redução 
5) Translocação 
6) Entrada de Malonil
 Terminação  Palmitoil-tioesterase
Síntese sequencial de AG
Ácido Graxo Sintase I

 Iniciação
Carregamento da ACP com malonil
e da KS com Acetil

 Ciclos de Elongação
1) Condensação  β-cetoacil-ACP-sintase

2) 1º redução  β-cetoacil-ACP-reductase

3) Desidratação  β-cetoacil-ACP-
desidratase

4) 2º redução  Enoil-ACP- redutase

5) Translocação  malonil/acetil-CoA-ACP-
transferase

6) Entrada de Malonil  malonil/acetil-CoA-


ACP-transferase
Síntese sequencial de AG!
Balanço energético para a síntese de palmitoil.

Custo da ativação:
7 Acetil-CoA + 7 CO2 + 7 ATP  7 Malonil-CoA + 7 ADP + 7 Pi
7 Ciclos de condensação, desidratação e dupla redução:
1 Acetil-CoA + 7 Malonil-CoA + 14 NADPH + 14 H+  1 Palmitoil + 7 CO2 + 8 CoA + 14 NADP+ + 6 H2O

Balanço global
8 Acetil-CoA + 7 ATP + 14 NADPH + 14 H+  1 Palmitoil + 8 CoA + 7ADP + 7 Pi + 14 NADP+ + 6 H2O

Energia Química para


ativação do Malonil-CoA Potencial redutor

A Biossíntese de AG ocorre no citoplasma


1) Presença de todas as enzimas
2) Alta razão NADPH/NADP+  75 em hepatócitos  via pentose-fosfato e enzima málica
- NADH/NAD+  0,0008  permite glicólise ocorrer concomitantemente
A Biossíntese de AG ocorre no citosol!

 Piruvato sofre descarboxilação


oxidativa na mitocôndria
- Ação da piruvato-desidrogenase

 Transporte do acetil-CoA da
mitocôndria para o Citosol
Via Sistema de transporte de
tricarboxílico: Citrato:Malato

- Transfere unidades Acetil- da


mitocôndria para o citoplasma

- Sistema pode transferir força redutora


da mitocôndria para o citoplasma
Regulação da Biossíntese de ácidos graxos
 Citrato  sinaliza combustível disponível na mitocôndria  ativador alostérico da
Acetil-CoA-carboxilase (ACC)
- Inibe a fosfofrutoquinase I na via glicolítica
 Palmitoil, produto final da biossíntese, inibe a ACC
 Insulina ativa fosfatase que desfosforila a ACC ativando-a  formação de malonil-CoA
= inibição da Carnitina-acil-transferase I
 Glucacon dispara a fosforilação, via PKA e AMPK, da ACC
= inibição da síntese de malonil-CoA no citoplasma
Os destinos do Palmitoil
 Precursor para a biossíntese de outros AG
- estearato
- Sistema de alongamento de ácidos graxos
- Envolve enzimas específicas do RE
- Acetil-CoA na forma de Malonil-CoA

Insaturações
Palmitato e estearato são precursores para os
equivalentes monoinsaturados

Poli-insaturações  plantas e bactérias


- AG essenciais
- Precursores dos eicosanoides
Biossíntese de triacilglicerois
 Um indivíduo de 70 kg tem 15 kg de gordura
- Suficiente para 12 semanas de vida
- Toda a energia sobressalente disponível em glicídios e proteínas
é armazenada na forma de triacilglicerídeos

Controle hormonal

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