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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

MARIA EDUARDA NUNES OLIVEIRA

HISTÓRIA, VERDADE E NARRATIVA

CUIABÁ
2021
A história em sua própria história, passou por diversas indagações ao
longo dos séculos, desde de sua conturbada origem com Heródoto, como citada
por François Dosse (2003), que se deu início com objetivo de relatar o que não
se viveu, a substituição do narrador presente para o ausente. Desde então, a
historicidade e o historiador se veem em uma rede complexa entre a verdade
dos relatos e a evolução do método de se fazer a história.
A origem da história abrange a vontade de conviver com o precedente e
o posterior, unindo passado, presente e futuro. Por muito tempo a concepção da
verdade histórica era a dos fatos incontestáveis, mas a evolução dos saberes
históricos levou a confirmação de que nenhum documento é neutro, não há
verdade absoluta do fato histórico e cabe ao historiador saber sobre as
complexidades da história. Na abordagem feita por Hartog em “Crer em História”
(2017) temos reflexões acerca do crer e fazer a história, e o autor afirma que os
historiadores utilizam no momento atual o termo fazer história para definir sua
profissão, enquanto esse foi utilizado no passado por quem desempenha um
papel político e escreve sobre ele simultaneamente. Ele julga os historiadores
recentes de que esses não desempenham um papel julgador, mas apenas
conhecer e compreender textos e não tomar partido e nem expor suas próprias
opiniões e pensamentos ao fazer história como produtor de conhecimento
sentido ao conhecimento histórico. A história também é colocada em papéis
como intermediária, como experiência do que ocorreu no passado e juntando-a
a expectativa do que o futuro se tornará.
A narrativa histórica passou por diferentes leituras conforme mudanças
nas formas de contar a história. Antes mesmo de seu nascimento, havia a forma
de relatar por quem estava presente na ação, o herói histórico que contava suas
experiências vividas ou quem observava o feito de longe, mas ainda presente.
Adiante, o historiador não mais presente, ouvia os relatos e buscava uma
maneira de entender ao usar sua imaginação entrelaçada com o saber do fatual
e repassar a informação, mesmo que não estivesse colocada nela enquanto
aconteceu. Sendo assim, a história não pode ser classificada como uma
construção, pois ela é testemunhada e repassada a diante, e a narrativa histórica
não aborda efetivamente o que aconteceu num evento, como em campo de
batalhas por exemplo, e trabalha com deduções ao usar a imaginação com os
fatos já existentes, mas não presenciados pelo historiador. A mistura do relato e
da explicação coincidiu na história sendo classificada como gênero literário, em
que o historiador seria equivalente ao narrador contando a história de um
personagem em determinado espaço e tempo. Posteriormente, o progresso dos
métodos desta narrativa perdurou até ser incluída como método científico, onde
surgem questões quanto a história como ciência que passa a englobar diferentes
sistemas de ensino e métodos de crítica científica que a coloca em um aspecto
técnico, deixou de ser somente oral e formou documentos permanentes.
Explicando em sua síntese sobre como classificar a história, “Como se
escreve a história” de Paul Veyne desenvolve seu pensamento sobre como a
história é trabalhada e a capacidade do historiador de resumir um longo fato que
perdurou anos e narrar esses eventos em um determinado ponto de vista de um
personagem histórico escolhido. São experiências postas ao historiador, mas
todas possuindo limites ao recompor os eventos históricos, que nunca são feitos
de maneira linear e completos, e sim com manuseamento de documentos e
junção de chamados indícios. O documento é dito então como monumento por
Le Goff, ao que “Resulta do esforço das sociedades históricas para impor ao
futuro – voluntária ou involuntariamente – determinada imagem de si próprias.
No limite, não existe um documento-verdade. Todo o documento é mentira. Cabe
ao historiador não fazer papel de ingênuo” (p.574, 1996). Relativo à objetividade
do historiador, os documentos serem lidos como não inocentes levou a um
desmascaramento do que é falso.

Referências bibliográficas

HARTOG, François. Ainda cremos em História? Crer em história. Belo


Horizonte: Autêntica, 2017.
VEYNE, Paul. Como se escreve a história. EDITORA UNIVERSIDADE DE
BRASÍLIA.
LE GOFF, J. Prefácio; História. História e Memória. Campinas: Unicamp, 1990.
DOSSE, F. O Historiador: um mestre da verdade. A história. São Paulo: Bauru:
Edusc, 2003.

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