Você está na página 1de 18

Resident_CidadeDosMortos_miolo.

indd 1 05/05/14 18:37


Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 2 05/05/14 18:37
VO L U M E 3

A cidade
dos mortos

tradução
Irinêo Baptista Netto
e Adriano Scandolara

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 3 05/05/14 18:37


Copyright © CAPCOM.
Esta tradução de Resident Evil: City of the dead, publicado originalmente
em 2012, está publicada mediante acordo com Titan Publishing Group Ltd.
Título original: Resident evil: City of the dead

Gerente editorial: Rogério Eduardo Alves


Editora: Débora Guterman
Editores-assistentes: Johannes C. Bergmann, Luiza Del Monaco e Paula Carvalho
Edição de arte: Carlos Renato
Serviços editoriais: Luciana Oliveira
Estagiária: Lara Moreira Félix

Preparação: Christian Botelho Borges


Revisão: Laila Guilherme e Laura Vecchioli
Diagramação: Balão Editorial
Capa: adaptada do projeto original
Produção gráfica: Liliane Cristina Gomes
Impressão e acabamento: ??????????????????

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE


SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

P547r

Perry, S. D. (Stephani Danelle)


Resident Evil : a cidade dos mortos / S. D. Perry ; tradução Irinêo Baptista Netto
e Adriano Scandolara. - 1. ed. - São Paulo: Benvirá, 2014.

256 p. ; 23 cm.

Tradução de: Resident Evil : city of dead


ISBN 978-85-8240-132-3

1. Ficção americana. I.Baptista Nett o, Irinêo. II Scandolara, Adriano . III. Título.

14-11021 CDD: 813


CDU: 821.111(73)-3

1a edição, 2014

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem
a prévia autorização da Saraiva S.A. Livreiros Editores. A violação dos direitos autorais
é crime estabelecido na Lei no 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Benvirá, um selo da Editora Saraiva.


Rua Henrique Schaumann, 270 | 8o andar
05413-010 | Pinheiros | São Paulo | SP
www.benvira.com.br

546.846.001.001

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 4 05/05/14 18:37


PARA JULI, QUE CRESCE SEM PARAR

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 5 05/05/14 18:37


Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 6 05/05/14 18:37
“O mal desenfreado cresce; o mal
tolerado envenena todo o Universo.”

JAWAHARLAL NEHRU
(1889-1964), ex-premiê da Índia.

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 7 05/05/14 18:37


Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 8 05/05/14 18:37
PRÓLOGO

Raccoon Times, 26 de agosto de 1998


PREFEITO ANUNCIA O PROJETO
“CIDADE SEGURA”

RACCOON CITY — Diante da sede do governo, o prefeito Harris anun-


ciou ontem em entrevista coletiva que a Câmara Municipal aprovou a
contratação de pelo menos dez agentes para a polícia de Raccoon, deci-
são motivada pela suspensão do Serviço de Resgate e Táticas Especiais
(S.T.A.R.S.), em vigor desde os assassinatos brutais que assombraram
Raccoon no início do verão. Acompanhado pelo chefe de polícia Brian
Irons e por todos os vereadores, Harris garantiu ao grupo de cidadãos
e repórteres reunidos no local que Raccoon City será de novo uma co-
munidade segura para quem vive e trabalha aqui; afirmou ainda que
a investigação dos onze assassinatos “canibalescos” e dos três ataques
violentos de animais está longe de terminar.
“Só porque ninguém mais foi atacado no último mês não significa
que as autoridades eleitas desta cidade podem relaxar”, afirmou Harris.
“O povo de Raccoon tem o direito de confiar na sua força policial e de

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 9 05/05/14 18:37


saber que seus representantes políticos estão fazendo o possível para ga-
rantir a segurança de cada um dos cidadãos. Como muitos de vocês sa-
bem, a suspensão do S.T.A.R.S. deve se tornar permanente. O sumiço
dos agentes após a conduta inaceitável que tiveram nas investigações de
homicídio sugere que o grupo não se importa com esta comunidade.
Mas tenham certeza de que nós nos importamos; de que eu, o chefe
Irons e os homens e mulheres aqui reunidos queremos apenas fazer de
Raccoon um lugar onde nossos filhos possam crescer sem medo.”
Harris apresentou detalhes de um plano de três etapas elaborado
para reforçar a confiança da população e evitar que os cidadãos de
Raccoo­n se tornem vítimas de violência. Além da contratação de dez a
doze novos policiais, o toque de recolher permanecerá na cidade pelo
menos até setembro, e o chefe Irons vai liderar pessoalmente uma força-
-tarefa de vários agentes e detetives para continuar procurando pelos
criminosos que mataram onze pessoas entre maio e julho deste ano.

Cityside, 4 de setembro de 1998


COMEÇA A RENOVAÇÃO
DO COMPLEXO UMBRELLA

RACCOON CITY — As instalações industriais da Umbrella, ao sul do


centro de Raccoon, vão passar por uma grande reforma, marcada para
começar na próxima segunda-feira. É a terceira vez em um ano que a
estrutura será renovada pela bem-sucedida empresa farmacêutica. De
acordo com a porta-voz da Umbrella, Amanda Whitney, dois dos labo-
ratórios dentro do prédio principal vão ganhar milhões de dólares em
equipamentos novos, próprios para a produção de vacinas, enquanto
o edifício terá um sistema avançado de segurança. Além disso, todos
os escritórios da empresa receberão computadores mais potentes nas
próximas semanas. Mas a reforma pode afetar o tráfego no centro da
cidade? Segundo Whitney, “com o prédio da polícia finalizando uma
de suas reformas, nós sabemos que as pessoas que precisam se deslo-

10

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 10 05/05/14 18:37


car pela cidade estão ficando cansadas de ruas bloqueadas. Faremos o
possível para não afetar o tráfego na região central. A maior parte das
obras é na área interna, e o resto será feito fora do horário comercial”.
O pátio em frente ao prédio do Departamento de Polícia de Raccoon,
nossos leitores devem se lembrar, foi repavimentado há pouco tempo e
ganhou um jardim após o surgimento de várias rachaduras misteriosas
na superfície do terreno. O tráfego teve de ser desviado para a Rua Oak
durante seis dias.
Ao ser questionada sobre o motivo de tantas “reestruturações” nos
últimos meses, Whitney respondeu: “A Umbrella se manteve à frente
da concorrência durante todo esse tempo por acompanhar os avanços
tecnológicos. Os próximos dois meses serão conturbados, mas no fim
acho que o esforço terá valido a pena”.

Raccoon Weekly, editorial, 17 de setembro de 1998


IRONS CANDIDATO?

RACCOON CITY — O prefeito Harris vai enfrentar uma disputa acir-


rada nos próximos meses. De acordo com fontes do Departamento de
Polícia, Brian Irons, chefe de polícia há quatro anos e meio, vai se can-
didatar ao cargo mais importante do governo municipal na próxima
eleição, enfrentando o popular Devlin Harris, hoje em seu terceiro man-
dato consecutivo e ainda sem adversários. Embora Irons não confirme
sua possível entrada na arena política, o ex-integrante do S.T.A.R.S.
também se recusou a negar o rumor.
Desde que cessaram os assassinatos brutais ocorridos no verão (ainda
não solucionados) e que foi anunciada a expansão do Departamento de
Polícia, o chefe Irons alcançou um índice recorde de aprovação e pode
mesmo ser o homem capaz de tirar Harris da prefeitura. Resta uma
questão: os eleitores serão capazes de esquecer o suposto envolvimento
de Irons no escândalo das propriedades no distrito de Cider? Ou seu
gosto extravagante por arte e design, que deixou partes do Departa-

11

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 11 05/05/14 18:37


mento de Polícia com aparência de museu? Se Irons de fato entrar na
corrida eleitoral, este repórter não será a única pessoa ansiosa para ana-
lisar os registros financeiros do candidato.

Raccoon Times, 22 de setembro de 1998


ADOLESCENTE É ATACADA EM PARQUE

RACCOON CITY — No início da noite de ontem, a adolescente Shanna


Williamson, de 14 anos, foi abordada por um estranho no Parque
Birch, no centro da cidade, enquanto voltava para casa após o treino de
softbal­l. O homem saiu de trás de uma fileira de arbustos no extremo sul
do parque, derrubando Shanna da bicicleta antes mesmo de agarrá-la.
A jovem conseguiu escapar, sofrendo apenas ferimentos superficiais, e
correu para a residência de Tom e Clara Atkins, perto de onde estava. A
senhora Atkins avisou as autoridades, que realizaram buscas no parque,
mas não foi encontrado nenhum sinal do agressor. De acordo com a
adolescente (segundo comunicado da polícia divulgado hoje de manhã),
o homem parecia ser um indigente, com cabelo e roupas sujas, e chei-
rava mal “como uma fruta podre”. Ela também disse que ele parecia
bêbado, cambaleando e tropeçando enquanto tentava persegui-la.
Com o caso dos homicídios canibalescos ocorridos entre maio e ju-
lho ainda sem solução, o Departamento de Polícia considera grave o
episódio envolvendo Shanna Williamson. Há indícios evidentes de que
o agressor faz parte de uma “gangue” flagrada no Parque Vitória, se-
gundo relatos de testemunhas. O prefeito Harris convocou uma coletiva
de imprensa a ser realizada hoje, e o chefe de polícia Brian Irons já
declarou que, com o primeiro dos policiais recém-contratados prestes a
chegar na próxima semana, as patrulhas regulares deverão ampliar suas
rotas e incluir os parques da região central.

12

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 12 05/05/14 18:37


UM

26 DE SETEMBRO DE 1998

Com os rapazes esperando do lado de fora, no caminhão de Barry,


Jill fez o que pôde para não demorar. Não era fácil; a casa tinha sido
revirada na sua ausência, o chão estava repleto de papéis e livros, e
era difícil transitar no escuro pelos escombros. O fato de que alguém
havia invadido sua casa era perturbador, embora não fosse nenhuma
surpresa. Ela pensou que deveria se sentir aliviada por não fazer o tipo
sentimental — e por não terem encontrado seu passaporte.
Pegou ao acaso uns punhados de meias limpas e de calcinhas na es-
curidão opressora do quarto e enfiou-as dentro da mochila desbotada,
desejando poder acender as luzes. Arrumar a mala sem enxergar nada
era mais difícil do que parecia e continuaria sendo difícil mesmo se a
casa não tivesse sido depredada, mas ela sabia que não podia assumir
riscos. Era improvável que a Umbrella ainda estivesse de tocaia na casa
deles, mas, se houvesse alguém vigiando, uma luz na janela poderia
chamar a atenção.
“Pelo menos você está saindo. Chega de se esconder.”

13

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 13 05/05/14 18:37


Isso não era pouco. Estavam a caminho de território estrangeiro para
atacar instalações inimigas e muito provavelmente morrer na praia, mas
pelo menos ela não teria de ficar mais em Raccoon. A julgar pelo que
tinha lido nos jornais, isso não parecia tão ruim. Dois ataques na última
semana… Chris e Barry estavam céticos com relação ao perigo, mesmo
sabendo o que o vírus T fazia com as pessoas — Barry pensou que fosse
algum tipo de exibição, que a Umbrella “salvaria” Raccoon antes de
alguém ficar ferido. Chris concordou, argumentando que a Umbrella
não seria capaz de cagar no próprio quintal, por assim dizer; não com
o desastre ainda muito recente ocorrido na propriedade de Spencer.
Mas Jill não estava em condições de presumir nada; a Umbrella tinha
mostrado ser incapaz de controlar a pesquisa. E com o que a equipe de
Rebecca e David Trapp tinha enfrentado no Maine…
Agora não era hora de pensar nisso — eles tinham um avião para
pegar. Ela apanhou a lanterna sobre a cômoda e fez menção de ir até
a sala de estar, quando se deu conta de que havia esquecido de pegar
sutiãs. Sem esconder a irritação, voltou às gavetas abertas e começou
a revirá-las. Já tinha roupas suficientes, escolhidas entre o que Brad
havia deixado para trás quando escapara de Raccoon; ela e os rapa-
zes estavam enfurnados na casa vazia dele havia semanas, desde que a
Umbrella invadira a residência de Barry, e, embora nada do que Brad
tinha servisse no corpo comprido de Chris nem no atarracado Barry,
ela conseguiu se virar bem. Lingerie, no entanto, não era um item que
o piloto do S.T.A.R.S. mantivesse em estoque. E ela não estava muito a
fim de saltar do avião na Áustria para comprar sutiãs.
— Vaidade, seu nome é meia-taça — ela resmungou, escavando
através da pilha amarrotada. Encontrou o que procurava somente de-
pois de vasculhar a gaveta duas vezes e enfiou na sacola enquanto corria
até a pequena sala da frente da casa alugada. Era apenas a segunda vez
que entrava no lugar desde que eles passaram a se esconder, mas tinha
a sensação de que não voltaria tão cedo. Numa das prateleiras de livros,
havia uma fotografia do pai que ela queria levar consigo.

14

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 14 05/05/14 18:37


Caminhando rápido no escuro através da bagunça, ela cobriu parte
da lanterna com a mão e direcionou o feixe de luz estreito para o canto
onde a prateleira costumava ficar. A equipe da Umbrella derrubara
tudo no chão, mas parece que não se dera ao trabalho de vasculhar
os livros. Só Deus sabe o que estavam procurando. Pistas de onde os
renegados do S.T.A.R.S. estavam escondidos, talvez; depois da ofensiva
contra a casa de Barry e da missão desastrosa em Caliban Cove, ela não
se iludia pensando que a Umbrella simplesmente os ignoraria.
Jill encontrou o livro que queria, uma brochura de aparência muito
sinistra intitulada Vida na prisão; o pai dela acharia engraçado. Ela pegou
o volume e folheou as páginas, parando quando a luz iluminou o sorriso
torto de Dick Valentine. Ele tinha enviado a foto em uma de suas cartas
mais recentes, e ela tinha guardado no meio do livro para não perdê-la.
Esconder coisas importantes era um hábito que ela havia criado ainda
jovem e que se mostrou mais uma vez valioso.
Ela deixou o livro cair no chão, e a pressa sumiu repentinamente
enquanto olhava a fotografia. Um pequeno sorriso se insinuou nos lá-
bios. O pai era com certeza o único homem que ela conhecia capaz
de ficar bonito no macacão alaranjado da penitenciária de segurança
máxima. Por um momento imaginou o que ele pensaria da situação
difícil enfrentada pela filha; de maneira indireta ele era responsável, ao
menos por ela ter se envolvido com o S.T.A.R.S. tempos atrás. Depois
de ter sido mandado para a prisão, ele insistiu para que ela mudasse
de vida, dizendo até que havia cometido um erro ao treiná-la para ser
uma ladra…
“…então arranjei um emprego legítimo, trabalhando para a socie-
dade e não contra ela, e as pessoas em Raccoon começaram a morrer.
O S.T.A.R.S. descobriu uma conspiração para criar armas biológicas
com um vírus que transforma seres humanos em monstros. Obviamente
ninguém acreditou na gente: os agentes do S.T.A.R.S. que não se ven-
deram para a Umbrella são desacreditados ou eliminados. Fomos fundo
na tentativa de desencavar provas e voltamos de mãos vazias, enquanto

15

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 15 05/05/14 18:37


a Umbrella continua com sua pesquisa perigosa, sem se preocupar com
as consequências, e mais pessoas inocentes morrem. Agora viajamos
rumo à Europa no que será provavelmente uma missão suicida, com o
objetivo de nos infiltrarmos nas instalações de uma corporação multi-
bilionária e impedi-la de destruir o maldito planeta. Fico imaginando o
que você pensaria disso. Supondo que acreditasse numa história fantás-
tica dessas, o que pensaria?”
— Você ficaria orgulhoso de mim, Dick — sussurrou ela, sem se
dar conta de que falava em voz alta e sem certeza nenhuma de que
dizia a verdade. O pai gostaria de vê-la em um trabalho que envolvesse
menos riscos, e, comparado com o que ela e os outros ex-integrantes do
S.T.A.R.S. estavam enfrentando, roubo era tão perigoso quanto con-
tabilidade.
Depois de um intervalo longo, ela guardou com cuidado a fotogra-
fia em um bolso da mochila e olhou em volta para o que restou de sua
casa modesta, ainda pensando no pai e no que ele diria sobre o rumo
estranho que a vida da filha tinha seguido; se tudo acabasse bem, quem
sabe ela mesma pudesse perguntar a opinião dele? Rebecca Chambers
e os outros sobreviventes da missão no Maine ainda estavam escondi-
dos, discretamente fazendo contatos dentro do S.T.A.R.S. em busca de
apoio e à espera do que ela, Chris e Barry diriam a respeito das insta-
lações da Umbrella. O quartel-general ficava na Áustria, embora eles
suspeitassem que as mentes por trás do vírus T tivessem seu próprio
complexo secreto em outro lugar…
“…que você não vai encontrar se não se mexer; o pessoal vai pensar
que você parou para tirar um cochilo.”
Jill colocou a mochila no ombro e deu uma última olhada na sala
antes de ir até a porta dos fundos, atravessando a cozinha. Havia um
odor persistente de fruta podre no ar denso — vinha de uma tigela em
cima da geladeira, com maçãs e peras que tinham virado uma massa
disforme muito tempo antes. Embora ela não se impressionasse com
qualquer coisa, o cheiro fez um tremor percorrer sua espinha; ela alcan-

16

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 16 05/05/14 18:37


çou rapidamente a porta, tentando bloquear os fragmentos de memória
do que tinha acontecido na propriedade de Spencer…
“…apodrecendo enquanto caminhavam, esticando os dedos podres
e úmidos, rostos desfigurados com pus e feridas…”
— Jill?
Ela mal conteve um grito de surpresa ao ouvir a voz suave de Chris
do lado de fora. A porta se abriu em meio à escuridão; uma luz distante
na rua delineava a silhueta dele.
— É, sou eu — disse ela, dando um passo à frente. — Desculpe de-
morar tanto. A Umbrella passou por aqui com um buldôzer.
Mesmo na luz fraca, ela podia ver um sorrisinho de garoto no rosto
de Chris.
— A gente estava começando a achar que os zumbis tinham pegado
você — disse ele, e, embora o tom fosse de brincadeira, dava para notar
que a preocupação era de verdade.
Jill sabia que ele estava tentando aliviar a tensão, mas não conseguiu
forças para sorrir de volta. Muita gente tinha morrido em decorrência
daquilo que a Umbrella soltara na mata fora da cidade; se o vazamento
tivesse ocorrido mais perto de Raccoon…
— Não tem graça — ela disse, também em tom de brincadeira.
O sorriso de Chris desapareceu.
— Eu sei. Você está pronta?
Jill concordou com a cabeça, apesar de não se sentir particular-
mente pronta para o que estava por vir. Mas também não se sentira
pronta para o que estava deixando para trás. Em questão de semanas,
seu conceito de realidade havia sido submetido a uma mudança colos-
sal, transformando pesadelos em algo banal.
“Corporações diabólicas, cientistas malucos, vírus assassinos. E os
mortos-vivos…”
— Sim — disse finalmente. — Estou pronta.
Saíram juntos. Ao fechar a porta atrás de si, Jill foi fulminada por
uma estranha sensação premonitória: a de que nunca mais colocaria os

17

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 17 05/05/14 18:37


pés naquela casa de novo, de que eles não voltariam de jeito nenhum
para Raccoon City…
“…mas não porque alguma coisa vai acontecer com a gente. Algo
vai acontecer, mas não com a gente.”
Enrugando a testa, a mão na maçaneta, ela hesitou por um instante
e tentou entender aquele pensamento bizarro. Se eles sobrevivessem à
missão, se vencessem a luta contra a Umbrella, por que não voltariam
para casa? Ela não sabia, mas a sensação era desconfortavelmente in-
tensa. Alguma coisa ruim estava para acontecer, alguma coisa…
— Ei, você está bem?
Jill olhou para Chris e viu no seu rosto de menino a mesma preo­
cupação que havia percebido antes. Eles haviam se tornado muito pró-
ximos nas últimas semanas, mas ela suspeitava que talvez Chris gostasse
de ficar ainda mais próximo.
“Ah, e você não ia gostar?”
A sensação de algo desagradável prestes a acontecer já estava desa-
parecendo, com outras confusões e incertezas entrando no lugar dela.
Jill tentou se distrair e acenou para Chris, deixando os sentimentos se
dissipar. O voo para Nova York não ia ficar esperando ela mergulhar
numa autoanálise — ou se preocupar com coisas que não podia contro-
lar, imaginadas ou reais.
Ainda assim, aquela sensação…
— Vamos dar o fora daqui! — ela disse com convicção.
Seguiram noite adentro, deixando a casa para trás na escuridão, tão
solitária e silenciosa quanto um túmulo.

18

Resident_CidadeDosMortos_miolo.indd 18 05/05/14 18:37

Você também pode gostar