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revisional de linguagens para o ENEM

Literatura
Manoel Neves
INTERLÚDIO
As palavras estão muito ditas
e o mundo muito pensado.
Fico ao teu lado.
Não me digas que há futuro
nem passado.
Deixa o presente –– claro muro
sem coisas escritas.
Deixa o presente. Não fales.
Não me expliques o presente,
pois é tudo demasiado.
Em águas de eternamente,
o cometa dos meus males
afunda, desarvorado.
Fico ao teu lado.
MEIRELES, Cecília. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1978.
QUESTÃO 01
revisional de literatura para o ENEM
Após a leitura do poema é correto afirmar que
a) na duas primeiras estrofes o eu lírico apela para que haja mais debates e
discussões sobre o passado e o futuro.
b) pela leitura das duas últimas estrofes, percebemos que o eu lírico reforça toda
sua carga de dor e decide viver com a pessoa que pode fazê-lo infeliz.
c) o eu lírico torna claro que teme o presente pelo fato de ser incerto e duvidoso.
d) o desejo do eu lírico em ampliar os debates e as discussões sobre o presente e o
futuro constitui o eixo central do poema.
e) o eu lírico prefere viver o presente porque esse tempo ainda não está definido,
escrito, há muito a registrar, a ser vivido com intensidade.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
No poema em análise, o sujeito poético [que, conforme se lê na terceira estrofe,
tem uma visão bastante dolorida da existência] tece considerações filosóficas
acerca do mundo e do tempo. Para ele, fala-se muito acerca do mundo, do futuro e
do passado. Por isso mesmo, ele deseja viver [ao lado da pessoa que escolheu] o
presente, que é visto como tempo da possibilidade. Marque-se, pois, a alternativa
“e”.
O título do poema, Interlúdio, que significa “intervalo”, “trecho musical entre dois
atos”, tanto aponta para a tese defendida ao longo da enunciação [a visão de que o
presente é um tempo que se situa entre dois outros] quanto para o momento de
produção textual, o neossimbolismo, que tem na musicalidade um de seus traços
mais relevantes.
Era alta e esbelta. Tinha um desses talhes flexíveis e lançados, que são hastes de
lírio para o rosto gentil; porém na mesma delicadeza do porte esculpiam-se os
contornos mais graciosos com firme nitidez das linhas e uma deliciosa suavidade
nos relevos.
Não era alva, também não era morena. Tinha sua tez a cor das pétalas da magnólia,
quando vão desfalecendo ao beijo do sol. Mimosa cor de mulher, se a aveluda a
pubescência juvenil, e a luz coa pelo fino tecido, e um sangue puro a escumilha de
róseo matiz. A dela era assim.
Uma altivez de rainha cingia-lhe a fronte, como diadema cintilando na cabeça de
um anjo. Havia em toda a sua pessoa um quê que fosse de sublime e excelso que
abstraía da terra. Contemplando-a naquele instante de enlevo, dir-se-ia que ela se
preparava para sua celeste ascensão.
ALENCAR, José de. Diva. Rio de Janeiro, José Olympio, 1951.
QUESTÃO 02
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Pela leitura do fragmento, observamos
a) que o herói romântico é, muitas vezes, marginal, desregrado, entregue ao ópio e
ao álcool. Contudo esse procedimento revela não má índole, mas desespero,
repulsa pelo mundo tal como ele o é.
b) que o herói romântico é um tipo movido por propósitos elevados, solitários em
seus anseios e atitudes, um incompreendido pela sociedade a qual ele pertence.
c) que a idealização da mulher romântica é evidente. Ela não existe, paira; não
respira, pulsa; não anda, flutua; tem a prodigiosa propriedade de irradiar luz pelos
poros; é dotada de virtudes tão maravilhosas que fazem dela uma semideusa
praticamente inatingível.
d) que os limites entre loucura e sanidade não são muito simples de delimitar.
Muitas vezes, eles estão condicionados a fatores culturais, temporais, locais ou a
todos ao mesmo tempo. Frequentemente, a loucura se manifesta como uma forma
de rejeição da realidade e da chamada “normalidade”.
e) que o imaginário romântico é riquíssimo e, muitas vezes, suplanta a noção de
realidade. Do mesmo modo, o sonho, ou a capacidade de projetar os desejos e
anseios, permeou a atitude romântica.
SOLUÇÃO COMENTADA
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O romance urbano alencariano visava tanto a fixar os costumes da nascente
burguesia brasileira quanto a construir modelos para os rapazes e as moças
cariocas da segunda metade do século XIX. Para tanto, o locutor, a partir de uma
perspectiva patriarcal e patrimonialista, cria personagens que reforçam
determinados padrões físicos, ideológicos e comportamentais, dentre os quais se
incluem a valorização de traços fenotípicos europeus, da mulher submissa, do
casamento [por amor] e da virgindade. São esses os paradigmas que subjazem à
construção de romances como Diva. Sendo assim, deve-se assinalar a alternativa
“c”.
O texto a seguir apresenta uma crítica feita por Monteiro Lobato, publicada em
1917, por ocasião da exposição de Anita Malfatti.
Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não
dependem do tempo nem da latitude. As medidas de proporção e equilíbrio, na
forma ou na cor, decorrem do que chamamos sentir. Quando as sensações do
mundo externo transformam-se em impressões cerebrais, nós “sentimos”; para
que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia
do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em “pane” por
virtude de alguma grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer
normalmente no homem, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista
diante de um gato não poderá “sentir” senão um gato, e é falsa a “interpretação”
que do bichano fizer um “totó”, um escaravelho, um amontoado de cubos
transparentes.
LOBATO, Monteiro. Paranoia ou mistificação. Texto publicado no Estadinho, suplemento infantil do Estado de São Paulo, em 1917.
QUESTÃO 03
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Com base no texto, é correto afirmar que, para Monteiro Lobato:
a) a arte moderna busca valorizar o poder de abstração do artista, mostrando todo
seu talento e sua capacidade de interpretar a realidade, portanto deve ser
valorizada e estimulada.
b) a arte moderna é uma imitação do mundo visível, logo representa uma
estagnação artística e uma negação do próprio avanço da humanidade.
c) a arte moderna é fruto da distorção cognitiva de seu criador, pois o mesmo não
observa que as leis fundamentais da arte são: proporção, equilíbrio de forma e cor.
d) a harmonia do universo ampara a arte moderna, pois as coisas não devem ser
reproduzidas exatamente como são, mas como a percepção do artista capta.
e) a arte moderna marca a revolta do homem do início do século XX
profundamente marcado pelo decadentismo simbolista que o levou para o plano
da abstração da realidade, sendo, pois, uma expressão artística de grande valor.
SOLUÇÃO COMENTADA
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Lobato, no fragmento do artigo em análise, defende um ideal acadêmico de arte.
Para o autor de Urupês, qualquer representação, deve-se pautar pela proporção e
pelo equilíbrio. Sendo assim, deve-se assinalar a alternativa “c”.
A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela,
sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O carnaval no Rio é o acontecimento
religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo.
Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O
vatapá o ouro e a dança...
REIS, Carlos. O Conhecimento da Literatura: introdução aos estudos literários. Lisboa: Almeida 2008.
QUESTÃO 04
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O fragmento posto acima está relacionado a um movimento surgido após a Semana
de Arte Moderna. Sobre esse movimento é correto afirmar que
a) pregava uma arte genuinamente nacional, de tom ufanista, com a valorização do
elemento indígena e sem fazer quaisquer concessões aos estrangeirismos.
b) apresentava franco caráter direitista, com enunciações fascistas e forte teor
nacionalista.
c) pregava a devoração da cultura e das técnicas importadas e sua reformulação
com autonomia, transformando o produto importado em exportável.
d) propunha uma arte brasileira de exportação, de raiz, telúrica e primitiva.
e) propunha que o escritor se voltasse para a sua região, a fim de retratar os
dramas nordestinos e preservar os valores culturais.
SOLUÇÃO COMENTADA
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A Poesia Pau-Brasil, de 1924, é profundamente nacionalista. Criada por Oswald de
Andrade, em Paris, tinha por princípios a releitura crítica do passado histórico
cultural; a construção de uma poesia de exportação; a criação de uma língua
brasileira: coloquial, sintética e popular; a digestão e a devoração cultural; a base
dupla: primitivo x moderno; o flash cinematográfico; o primitivismo crítico e a
crítica ao academicismo e à colonização. Marque-se, portanto, a alternativa “c”.
A Semana de Arte Moderna foi possível graças à arrecadação de fundos promovida
pelo jornalista René Thiollier, que conseguiu 847 mil réis junto aos fazendeiros e
exportadores de café. O primeiro a subscrever a lista foi Pedro Paulo Prado. O
acontecimento teve também o apoio do presidente do Estado e do prefeito. O
Teatro Municipal de São Paulo, fundado em 1913, com projeto de Domiziano Rossi
e construção de Ramos de Azevedo, foi alugado para a ocasião.
A Semana concentrou-se em três sessões, nos dias 13, 15, e 17 de fevereiro de
1922. Em cada um desses dias houve a predominância de um tema.
MOISÉS, Massaud. A Literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2007.
QUESTÃO 05
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A Semana de Arte Moderna de 1922 tinha como principal objetivo:
a) A convicção estética e política de modernizar a arte brasileira, livrando-a da
influência europeia e buscando criar uma cultura nacional pura.
b) Celebrar a cultura nacional como base ideológica e romper com as correntes
artísticas europeias que dominavam a arte brasileira, assimilando e reelaborando
alguns de seus aspectos.
c) Retomar a arte acadêmica como forma de oposição ao Barroco, celebrado até
então como verdadeira arte nacional.
d) Usar o nacionalismo romântico com sua busca por uma “cor local” como
principal referência para se criar uma arte nacional.
e) Romper com a influência das culturas primitivas dos trópicos (ameríndias e
africanas), buscando aliar a nossa arte à vanguarda europeia.
SOLUÇÃO COMENTADA
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Os objetivos da Semana de Arte Moderna eram: atualizar as letras nacionais;
destruir a tradição acadêmica [retórica e sentimental]; experimentação estética;
valorização do elemento nacional e defesa de uma independência mental
brasileira. Por isso, deve-se assinalar a alternativa “a”.
Deve-se atentar para o paradoxo que representa a SAM: a ruptura com os modelos
artísticos anteriores é uma atitude de vanguarda, notadamente futurista. Ademais,
é importante ressaltar que a experimentação estética e até mesmo a defesa dos
ideais nacionais são desdobramentos de teses defendidas pelas correntes das
Vanguardas Europeias.
A cozinha é feita fora, sob um telheiro tosco, um puxado no telhado da edificação,
para aproveitar o abrigo de uma das paredes da barraca; e tudo cercado do mais
desolador abandono. Se o morador cria galinhas, elas vivem soltas, dormem nas
árvores, misturam-se com as dos vizinhos e, por isso, provocam rixas violentas
entre as mulheres e maridos, quando disputam a posse dos ovos.
BARRETO, Lima. O moleque. Rio de Janeiro: Livraria Editora, s.d.
QUESTÃO 06
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Além de inferir e de resumir, existe um recurso especial, que identifica os fins para
os quais a linguagem está sendo utilizada no texto que estamos lendo. Esses fins
têm nome de função de linguagem. Os textos se servem da linguagem: eles a
encarregam de representar papéis diferenciados e cumprir funções diversificadas.
Leia o texto acima e assinale a opção em que as características estão associadas ao
trecho em estudo.
a) Função referencial por expressar uma realidade, um fato externo.
b) Função apelativa por expressar conselhos, mudança de comportamentos.
c) Função emotiva por expressar atitudes e emoções.
d) Função poética por expressar por meio da forma um contexto expressivo singular.
e) Função metalinguística por explicar o significado da própria mensagem.
SOLUÇÃO COMENTADA
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No fragmento em análise, percebe-se a construção de um cenário de uma
narrativa. Por isso, é possível afirmar que nele predomina a função poética ou
estética. Marque-se, pois, a letra “d”.
A UM POETA
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
BILAC, Olavo; TEIXEIRA, Ivan (Org.). Poesias. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
QUESTÃO 07
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O soneto de Bilac, como evidencia o título, pode ser entendido como uma profissão
de fé, ou antes, uma espécie de programa poético em que se expõem certos
atributos necessários a um sujeito que deseja se tornar poeta. A escrita poética que
se vincula a esse programa deve aceitar como característica fundamental a
a) impaciência
b) intransigência
c) perfeição
d) animosidade
e) opulência
SOLUÇÃO COMENTADA
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O poema de Olavo Bilac é metalinguístico e articula-se com vistas a defender que a
poesia é fruto do esforço e do trabalho do poeta. Para o locutor, a perfeição só é
atingida por meio do trabalho árduo. Sendo assim, este poema-artefato assemelha-
se a uma joia, cuja beleza parece natural, mas foi obtida graças a um penoso
trabalho de burilamento. Assinale-se, portanto, a letra “c”.
NOVA POÉTICA
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na
primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa
de lama:
É a vida
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as
amadas que envelheceram sem maldade.
BANDEIRA, Manuel. Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1993.
QUESTÃO 08
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A construção de uma nova poética, centrada na opção por uma “poesia sórdida”, é
justificada pela
a) apologia ao “sujeito engomadinho” citado no poema, o qual personifica um
entendimento da poesia desvinculada do real.
b) subversão de temas e formas clássicos, propondo um fazer poético pautado em
versos brancos, liberdade rítmica e ausência de rimas.
c) ironia às manifestações poéticas de vanguarda, as quais, ao radicalizarem o
experimentalismo poético, distanciaram-se da realidade do homem moderno.
d) nulidade própria da vida moderna, que acaba por produzir versos incapazes de
expressar a essencialidade do que seja a humanidade.
e) necessidade de conferir à poesia significados que desestabilizam e inquietas os
sujeitos, opondo-se ao poema de puro deleite.
SOLUÇÃO COMENTADA
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“Sórdido” é sujo, asqueroso, repugnante. Sendo assim, o que se defende neste
metapoema é uma literatura prosaica, cotidiana, próxima da vida do homem
comum. Marque-se, pois, a alternativa “e”. Deve-se atentar para o fato de que a
tese defendida por Manuel Bandeira está em total consonância com os ideais da
Primeira Geração do Modernismo Brasileiro.
EUTANÁSIA
Morrer! Alhures ir… Aonde? Ao paradeiro
Para o qual tudo foi e onde tudo irá ter!
Ser, outra vez, o nada; o que já fui, primeiro
Que abrolhasse à existência e ao vivo padecer!…
Contadas do viver as horas de ventura
E as que, isentas de dor, do mundo hajam corrido,
Em qualquer condição, a humana criatura
Dirá: “Melhor me fora o nunca haver nascido!”
BYRON, George Gordon Noel. Disponível em: http://www.lunaeamigos.com.br. Acesso em: 15 abr. 2005.
QUESTÃO 09
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Byron foi um importante poeta inglês do Ultrarromantismo que influenciou muito
poetas brasileiros da segunda geração romântica, principalmente Álvares de
Azevedo. No fragmento de poema, a morte, tema que tanto fascinou os escritores
do século XIX, é apresentada como uma forma de evasão porque
a) proporciona ao indivíduo o encontro com o ser amado.
b) distancia o indivíduo dos prazeres terrenos.
c) liberta o indivíduo de sua existência vazia e sem sentido.
d) encaminha a alma atormentada do indivíduo para a eternidade.
e) realiza a redenção dos sofrimentos na união com a natureza.
SOLUÇÃO COMENTADA
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No fragmento no poema de Lord Byron, percebe-se que a morte é uma libertação;
a vida, um fardo. Ante o sofrimento, a angústia e a dor de existir, o locutor prefere
não ser. O obsessão com a morte é, pois, uma forma de se libertar do sofrimento
terreno.
Tanto no terceiro verso da primeira estrofe quanto no quarto verso da segunda
estrofe, pode-se ver que a morte não é um portal para uma vida melhor, mas tão
somente uma libertação do ser. Marque-se, pois, a letra “c”.
QUESTÃO 10
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Patativa do Assaré foi um importante poeta nordestino. Sua trajetória é marcada pela
experimentação de estruturas poéticas populares como o cordel, e sua dicção de
repentista alcançou as rádios e a televisão, firmando parceria com importantes
cantores. Entre os temas presentes em sua obra, destaca-se a recorrência de matérias
associadas à seca e à desigualdade social, com o intuito de informar e educar os
sertanejos. Esse posicionamento, que se pode dizer engajado, é percebido nos
seguintes versos:
a) O feiticeiro gritou-lhe:/ Miserável criatura!/ Tu não me juraste fé?/ Não quebres a tua
jura/ Tira aquela grande pedra/ Ali daquela abertura.
b) Os poderosos não devem/ oprimir de mais a mais,/ A justiça é para todos/ Vamos
lutar pela paz/ Ante os direitos humanos/ Todos nós somos iguais.
c) Se eu fui um menino bom/ Fui também um bom rapaz/ E hoje sou pai de família//
Gozando da mesma paz/ Vou queimar estas três velas/ Em tenção de Satanás.
d) Eu venho dêrne menino,/ Dêrne muito pequenino,/ Cumprindo o belo destino/ Que
me deu Nosso Senhô./ Eu nasci pra sê vaquêro,/ Sou o mais feliz brasilêro,/ Eu não
invejo dinhêro,/ Nem diploma de dotô.
e) Tendo por berço o lago cristalino,/ Folga o peixe, a nadar todo inocente,/ Medo ou
receio do porvir não sente,/ Pois vive incauto do fatal destino.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Diz-se da poesia engajada que ela está a serviço de uma leitura da realidade
[social]. Tal posicionamento é facilmente perceptível nos versos transcritos na
alternativa “b”, nos quais se defendem a liberdade e os direitos humanos.
MADRIGAL
Meu amor é simples, Dora,
Como água e o pão
Como o céu refletido
Nas pupilas de um cão.
ARRIGUCCI JR., Davi (Org.). Melhores poemas de José Paulo Paes. São Paulo: Global, 2003.
QUESTÃO 11
revisional de literatura para o ENEM
O sentido do poema de José Paulo Paes é construído por meio de comparações. O
eu lírico, para definir seu amor por Dora, vale-se do recurso da semelhança. Sobre a
relação estabelecida entre o sentimento amoroso e os elementos apresentados no
poema, pode-se inferir que:
a) os elementos “pão” e “água” sugerem que o amor é um sentimento tão
essencial para o eu lírico quanto os alimentos mais básicos.
b) o último verso revela que o amor do eu lírico por Dora carrega a mesma
intensidade do sentimento que ele dispensa a um cão.
c) a imagem do “céu refletido nas pupilas de um cão” sugere que o eu lírico deseja
impressionar a amada com a grandiosidade do seu sentimento.
d) a comparação do amor aos elementos “pão” e “água” revela que o eu lírico
prescinde de qualquer outro elemento para viver.
e) comparações construídas no segundo e no terceiro versos revelam que o amor
do eu lírico por Dora é marcado pela contradição.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
A produção poética de José Paulo Paes situa-se entre as décadas de 1970 e 1990 e
apresenta tanto o apuro formal da Poesia Concreta quanto a simplicidade e o
prosaísmo da poesia marginal [herdeira da Primeira Geração do Modernismo
Brasileiro]. Dentre os distratores fornecidos, aquele que apresenta uma leitura
pertinente para o poema em análise é a letra “a”.
O BICHO
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Record, 2010.
QUESTÃO 12
revisional de literatura para o ENEM
Da leitura do poema, verifica-se que:
a) nele, Bandeira mostra os traços simbolistas típicos de sua poesia, marcada pela
evocação dos sentidos, em linguagem metafórica.
b) esses versos mostram o Bandeira modernista, pela exposição crítica da condição
humana, em linguagem simples, prosaica.
c) sua linguagem representa uma exceção no quadro do modernismo, pois este
preferia tratar de temas abstratos, em moldes tradicionais.
d) a maior parte da obra de Bandeira foi escrita sob influência parnasiana, razão
pela qual sua poesia é considerada conservadora.
e) a predileção pela temática humana, em linguagem eloquente, leva a identificar
esse poeta como um dos adeptos do verde-amarelismo.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Percebe-se, no poema de Bandeira, que o sujeito poético opta pela simplicidade,
que aparece tanto na forma [de versos livres e brancos] quanto no conteúdo
[tratamento terno dado a um problema social]. Essa opção atesta sua filiação à
Primeira Geração do Modernismo Brasileiro, que, em linhas gerais, é coloquial,
prosaica, crítica e engajada. Assinale-se, pois, a letra “b”.
Uma aluvião de cenas, que ela [Pombinha] jamais tentara explicar e que até ali
jaziam esquecidas nos meandros do seu passado, apresentavam-se agora nítidas e
transparentes. Compreendeu como era que certos velhos respeitáveis, cuja
fotografia Léonie lhe mostrou no dia que passaram juntas, deixavam-se vilmente
cavalgar pela loureira, cativos e submissos, pagando a escravidão com a honra, os
bens, e até com a própria vida, se a prostituta, depois de os ter esgotado, fechava-
lhes o corpo. E continuou a sorrir, desvanecida na sua superioridade sobre esse
outro sexo, vaidoso e fanfarrão, que se julgava senhor e que, no entanto, fora posto
no mundo simplesmente para servir ao feminino; escravo ridículo que, para gozar
um pouco, precisava tirar de sua mesma ilusão a substância de seu gozo; ao passo
que a mulher, a senhora dona dele, ia tranquilamente desfrutando seu império,
endeusada e querida, prodigalizando martírios, que os miseráveis aceitavam
contritos. “Ah! Homens! Homens!” sussurrou ela de envolta com um suspiro.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 2008. Fragmento.
QUESTÃO 13
revisional de literatura para o ENEM
No texto, os pensamentos da personagem:
a) recuperam o princípio da prosa naturalista, que condena os assuntos repulsivos e
bestiais, sem amparo nas teorias científicas, ligados ao homem que põe em
primeiro plano seus instintos animalescos.
b) elucidam o princípio do determinismo presente na prosa naturalista, revelando
os homens e as mulheres conscientes dos seus instintos em função do meio em
que vivem e, sobretudo, capazes de controlá-los.
c) trazem uma crítica aos aspectos animalescos próprios do homem, mas, por outro
lado, revelam uma forma de Pombinha submeter a muitos deles para obter
vantagens: eis aí um princípio do Realismo rechaçado no Naturalismo.
d) constroem uma visão de mundo e do homem idealizada, o que, em certa
medida, afronta o referencial em que se baseia a prosa naturalista, que define o
homem como fruto do meio, marcado pelo apelo dos seus sentidos.
e) consubstanciam a concepção naturalista de que o homem é um animal, preso
aos instintos e, no que diz respeito à sexualidade, vê-se que Pombinha considera a
mulher superior ao homem, e esse conhecimento é uma forma de se obterem
vantagens.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Paralelamente ao engajamento social subjacente à focalização dos problemas
enfrentados pelas classes menos favorecidas da população, o naturalismo teve
como um de seus dogmas a produção de uma literatura profundamente
influenciada pelas teses científicas da segunda metade do século XIX. Dentre essas
teorias, merece destaque o determinismo, que preconiza que o homem é fruto
tanto de condicionantes sociais quanto genéticos ou corporais, como se pode
vislumbrar no fragmento transcrito do romance O cortiço. Posto isso, deve-se
assinalar a alternativa “e”.
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado
De vossa alta piedade me despido,
Porque, quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.
MATOS, Gregório de. A Jesus Cristo Nosso Senhor. São Paulo: Cultrix, 2003. Fragmento.
QUESTÃO 14
revisional de literatura para o ENEM
Na estrofe, o poeta:
a) dirige-se ao Senhor para confessar seus pecados e submete-se à penitência para
obter a redenção espiritual.
b) invoca Deus para manifestar, com muito respeito e humildade, a intenção de não
mais pecar.
c) estabelece um diálogo de igual para igual com a divindade, sugerindo sua
pretensão de livrar-se do castigo e da piedade de Deus.
d) confessa-se pecador e expressa a convicção de que será abençoado com a graça
divina.
e) arrepende-se dos pecados cometidos, acreditando que, assim, terá assegurada a
salvação da alma.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Na estrofe em análise, o sujeito poético revela-se pecador. Em atitude desafiadora
e paradoxal, afirma, entretanto, que quanto mais peca, mais Deus tem que se
desdobrar para perdoar a ele, sujeito poético. Deve-se, portanto, assinalar a
alternativa “d”.
Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era a
mãe. A aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela
era a mãe de todos. E se de repente não se ergueu, como um morto se levanta
devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a aniversariante ficou mais dura na
cadeira, e mais alta. Ela a mãe de todos. E como a presilha a sufocasse, ela era a
mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava-os. Todos aqueles seus filhos e
netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de repente
como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu
coração, Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo?
Rodrigo com o olhar sonolento e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa.
Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela olhava os outros, a aniversariante. Oh
o desprezo pela vida que falhava.
LISPECTOR. Clarice. Feliz aniversário. In.: Laços de família. Rio de Janeiro: Record, 2008. Fragmento.
QUESTÃO 15
revisional de literatura para o ENEM
No excerto, está presente um:
a) narrador onisciente que descreve cena familiar construída a partir da perspectiva
da mãe aniversariante, valendo-se, para isso, do discurso indireto livre.
b) narrador observador que procura caracterizar uma comemoração entre familiares -
a festa de aniversário da mãe -, posicionando-se de forma neutra e objetiva.
c) narrador protagonista que, confundindo-se com a personagem Mãe, rememora
uma festa de aniversários conflituosa.
d) narrador de terceira pessoa que, ao retratar a festa, utiliza também a voz em
primeira pessoa da protagonista, formalizada em discurso indireto.
e) narrador onipresente que, valendo-se apenas da observação direta, descreve as reações
negativas da família, na ocasião em que se comemora a festa de aniversário da mãe.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
No excerto em análise, há um narrador onisciente, de terceira pessoa, que
apresenta uma cena em que há uma festa de aniversário.
Depois de construir o cenário, o locutor funde-se à perspectiva da aniversariante e,
por intermédio do discurso indireto livre, mostra ao leitor o mundo a partir do
ponto de vista da matriarca. Sendo assim, deve-se assinalar a alternativa “a”.
E – vai-se não ver, e vê-se! Yao o china surgiu sentimental. Xacoca, mascava
lavadeira respondedora, a amada, por apelido Rita Rola – Lola ou Lita, conforme ele
silabava, só num cacarejo de fé, luzentos os olhos de ponto e vírgula. Feia, de se ter
pena de seu espelho. Tão feia, com fossas nasais. Mas, havido o de haver.
Cheiraram-se e gostaram-se. [...]
Ora, casaram-se. Com festa, a comedida comédia: noiva e noivo e bolo. O par – o
compimpo – til no i, ponto no a, o que de ambos, parecidos como uma rapadura e
uma escada. Ele, gravata no pescoço, aos pimpolins de gato, feliz como assovio. Ela,
pomposa, ovante feito galinha que pôs. Só não se davam o braço. No que não, o
mundo não movendo-se, em sua válida intraduzibilidade.
ROSA, J. G. Orientação. Disponível: http://manoelneves.com. Acesso em: 05 abr. 2013.
QUESTÃO 16
revisional de literatura para o ENEM
Atentando aos elementos constitutivos do fragmento de conto transcrito
anteriormente, é possível perceber que
a) os traços de lirismo amoroso são tão fortes que se sobrepõem ao eixo narrativa.
b) a linguagem se articula analogamente à da poesia, com a presença de figuras
fonéticas, semânticas e sintáticas, tais como aliteração, paradoxo e anáfora.
c) não se nota a presença de aforismos na escrita rosiana.
d) há muita simpatia do narrador pelos protagonistas.
e) a linguagem apresenta-se de forma previsível e canônica.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
A linguagem do conto em análise é muito elaborada. Apesar de o texto articular-se
em prosa, nota-se, entre outros recursos, a presença das figuras de linguagem
referidas na letra “b”.
Esse pessoal da ecologia, do meio ambiente, salve as baleias, são uns chatos. Eles
quer impedir o progresso do município. Querem acabar com o turismo, com o
comércio. Querem que a cidade fique sempre pequena. Mas eu vou passar por
cima deles tudo. Eu posso até não ser uma pessoa instruída, mas nasci aqui,
conheço todas as família. Por isso que eu já fui prefeito cinco vezes e ainda vou ser
mais. Ano que vem, entra meu filho, que eu já tô no segundo mandato. Mas depois
eu volto. Já expliquei tudo pro Júnior. Primeiro, vâmu acabar com essa lei de prédio
com menos de três andar. Antes, até dava. Mas o turismo tá crescendo, cada vez
vem mais veranista pra passar o verão, e a gente tem que aguentar receber todo
mundo. Se não fosse esse pessoal que ficaram enchendo o saco pra tombar os
morro, a gente dava um jeito de facilitar as construtora para fazer mais uns
condomínio. Mas agora só dá pra crescer pra cima. Versiti, verfiqui... vestiliza...
verti... Porra, crescer pra cima, fazer prédios mais alto.
SANT’ANNA, André. Sexo e amizade. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2007.
QUESTÃO 17
revisional de literatura para o ENEM
Quanto à classificação dos gêneros literários, é possível afirmar que o texto anterior
a) constitui-se de forma narrativa com um locutor que é dotado de uma
consciência crítica que se revela paradoxal, considerada a posição que ocupa na
sociedade.
b) articula-se como uma crônica que convida o leitor a refletir acerca da ocupação
do espaço urbano.
c) é uma prosa poética constituída por um fluxo contínuo no qual se percebe a
hesitação do locutor em procurar ajuda para realizar os seus projetos ambientais.
d) revela um sujeito com profunda consciência acerca de urbanização das
metrópoles nordestinas.
e) é um claro exemplo de peça teatral em que o público é convocado a participar
ativamente da discussão de problemas sociais, econômicos e ecológicos.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
No fragmento do conto em análise, o locutor revela ser prefeito. Sua fala erige um
discurso que paradoxalmente fala dos malefícios ambientais da urbanização
descontrolada e, ao mesmo tempo, engaja-se na defesa do crescimento das
cidades. Sendo assim, deve-se assinalar a alternativa “a”.
THEODOR DE BRY. Nativos americanos vítimas da crueldade dos espanhóis. Disponível em: http://digital.lib.lehigh.edu/trial/
justification/newspain/image. Acesso em 27/05/2012.
THEODOR DE BRY. Representação de banquete antropofágico dos índios tupinambás. Disponível em: http://
www.biblioteca.templodeapolo.net. Acesso em 27/05/2012.
QUESTÃO 18
revisional de literatura para o ENEM
Acerca das imagens, afirma-se:
I. Referem-se ao mesmo período histórico.
II. As imagens confirmam que os europeus agiam de forma civilizada, enquanto os
índios eram realmente selvagens.
III. A imagem 02 apresenta um costume indígena que aparece retratado em vários
momentos da literatura brasileira.
IV. A imagem 01 é um desdobramento do que se convencionou chamar de
etnocentrismo.
V. Os escritos do período em questão, de índios e de europeus, retratam a
colonização de forma bastante diversa.
(ENEM Adaptada) É correto o que se afirma em:
a) I e IV. b) I, II e V. c) IV e V.
d) I, III e IV. e) II, III e V.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Apenas os itens I, III e V propõem análises adequadas para as reproduções de
imagens. Assinale-se, portanto, a alternativa “d”.
Ornemos nossas testas com as flores
E façamos de feno um brando leito;
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre,
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
GONZAGA, T. A. Marília de Dirceu. Lira XIV. Disponível em: http://biblio.com.br. Acesso em: 12 mai. 2015.
QUESTÃO 19
revisional de literatura para o ENEM
Só não é traço do Arcadismo presente no fragmento da Lira de Tomás Antônio
Gonzaga:
a) Ideal de aurea mediocritas, que leva o poeta a exaltar o cotidiano prosaico da
classe média.
b) Tema do carpe diem – uma proposta para se aproveitar a vida, desfrutando o
ócio com dignidade.
c) Ideal de uma existência tranquila, sem extremos, espelhada na pureza e
amenidade da natureza.
d) Fugacidade do tempo, fatalidade do destino, necessidade de envelhecer com
sabedoria.
e) Concepção da natureza como permanente reflexo dos sentimentos e paixões do
“eu” lírico.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
No fragmento em análise, a natureza não é reflexo dos sentimentos do eu lírico.
Deve-se, portanto, assinalar a alternativa “e”.
JOIA
Beira de mar
Beira de mar
Beira de mar é na América do Sul
Um selvagem levanta o braço
Abre a mão e tira um caju
Um momento de grande amor
De grande amor
Copacabana
Copacabana
Louca total e completamente louca
A menina muito contente
Toca a coca-cola na boca
Um momento de puro amor
De puro amor
VELOSO, Caetano. Joia. Disponivel em: http://www.letrasterra.com.br. Acesso em: 10 ago. 2015.
QUESTÃO 20
revisional de literatura para o ENEM
O poema de Caetano Veloso, apesar de ter sido publicado em 1976, dialoga
diretamente com os movimento Pau-Brasil e Antropófago, da Primeira Geração do
Modernismo Brasileiro. Só não é um ponto de contato do texto de Caetano Veloso
com os referidos movimentos poéticos:
a) O emprego da base dupla.
b) A devoração cultural seletiva.
c) A adesão à cultura do estrangeiro.
d) A constatação de que o Brasil está se modernizando.
e) O uso de uma linguagem distante dos cânones da literatura.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
O texto, dos anos 1970, articula-se por intermédio da retomada de procedimentos
da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia, a saber: o uso da base dupla, a devoração
cultural seletiva, os versos livres e brancos, a releitura crítica do passado histórico
cultural e o uso de uma linguagem próxima da fala urbana. Assinale-se, pois, a
alterantiva “c”.
O Delei lançou o Assis no lado direito da intermediária deles. Com a bola
dominada, o Assis entrou na área sozinho e logo chutou no canto direito, a meia
altura. O Raul ficou no meio do caminho, sem saber se ia no Assis ou se ficava
esperando o chute. Não fez nem uma coisa nem outra, e tomou o gol. A torcida do
Flamengo estava gritando é campeão é campeão é campeão e eu eu eu Fluminense
se fudeu e parou de gritar. Foi lá pelos quarenta e cinco minutos e alguma coisa do
segundo tempo. A torcida do Fluminense começou a gritar é campeão é campeão é
campeão e eu eu eu o Flamengo se fudeu. Eu fiquei muito feliz.
SANT’ANNA, André. O Brasil é bom. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.
QUESTÃO 21
revisional de literatura para o ENEM
Quanto à articulação do discurso no fragmento do conto transcrito, percebe-se
claramente que:
a) O locutor apropria-se criticamente dos discursos metafísicos que circulavam na
sociedade brasileira no final dos anos 1990.
b) As vozes que constroem o texto em análise manifestam-se, principalmente, por
meio do discurso indireto livre, com fusão das perspectivas do narrador e da
personagem.
c) O padrão linguístico adotado é o formal, culto, urbano, do início do século XXI, o
que se constata por meio do uso de expressões com “intermediária” e em “chutou
logo no canto direito”.
d) Apesar da presença de verbos discendi, não há marcas gráficas nem conjunções
que indiquem a mudança do locutores ao longo da narrativa.
e) A narrativa é altamente impessoal, o que se nota por meio do distanciamento do
narrador em relação ao objeto do seu relato.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
No excerto em análise, nota-se a presença de um narrador de primeira pessoa que
apresenta, simultaneamente, a narração de alguns lances de uma partida de
futebol e a reação [dele e] da torcida a eles. Sendo assim, deve-se assinalar a
alternativa “d”.
Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme.
PESSANHA, Camilo. Clepsidra. Lisboa: Ulisseia, 1987.
QUESTÃO 22
revisional de literatura para o ENEM
O poema transcrito anteriormente está na abertura do livro Clepsidra, de Camilo
Pessanha. De sua leitura, não é possível depreender que:
a) Oscila entre o hermetismo e a vaguidão ao articular um discurso de caráter
metafísico.
b) Há nitidamente um desejo de elevação, de transcendência; por isso é que se
fala, de início, em verme.
c) O sujeito poético fala de um estado de espírito bastante pessoal e articula seu
discurso na busca de exteriorizar sua visão de mundo.
d) Um tom melancólico e dolorido perpassa o texto, que se articula como
testemunho da dor de viver e da incerteza acerca do que há de vir.
e) O sujeito poético externa sua percepção subjetiva do mundo: os elementos do
mundo exterior são metáforas do modo como ele interpreta o real.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
O discurso veiculado pelo sujeito poético é subjetivo [eu vi], melancólico [minha
alma é lânguida], hermético [inerme] e metafórico. Não é, entretanto,
transcendente, pois fala-se em “sumir-se” “no chão” “como um verme”. Marque-se,
portanto, a letra “b”.
CAMINHO I
Tenho sonhos cruéis: n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente…
Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente
Devendo ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!…
Porque a dor, esta falta de harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu de agora,
Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.
PESSANHA, Camilo. Caminho I. In.: Clepsidra. Lisboa: Ulisseia, 1987.
QUESTÃO 23
revisional de literatura para o ENEM
Marque a alternativa em que apareça uma imagem de caráter paradoxal.
a) Sem ela o coração é quase nada:/ Um sol onde expirasse a madrugada,
b) Saudades desta dor que em vão procuro/ Do peito afugentar bem rudemente
c) Porque a dor, esta falta de harmonia,/ Toda a luz desgrenhada que alumia
d) Vou a medo na aresta do futuro,/ Embebido em saudades do presente…
e) Tenho sonhos cruéis: n’alma doente/ Sinto um vago receio prematuro.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Há, nos versos transcritos na alternativa “d”, imagem de caráter paradoxal, pois o
sujeito poético se descola em direção ao futuro tendo dentro de si o presente. É,
ainda, paradoxal a imagem poética que aponta para a “saudade do presente”.
O nome de Cyro dos Anjos é menos conhecido do que o de muitos companheiros
de sua geração, como Carlos Drummond de Andrade e João Guimarães Rosa, só
para citar os célebres ou de leitura escolar obrigatória. Sua produção literária,
contudo revela a estirpe.
Montanha foi publicado pela primeira vez em 1956 e é a última incursão do autor
mineiro no romance, antes de se dedicar ao ensaio e às memórias. Conta a história
do ex-chefe de polícia Pedro Gabriel, que, em pleno Estado Novo getulista, tanta
subir ao governo da fictícia Montanha.
Para isso, faz um pouco de tudo: lobby, chantagem, tortura psicológica e muito
mais para engambelar quem possa representar um empecilho a seu intento. O
leitor surpreende-se já no primeiro capítulo: à riqueza vocabular associa-se um
ritmo desorientador, nem por isso desestimulante, marcado pela mistura de relato
irônico tradicional com diálogos e memórias involuntárias do personagem. Depois
de se habituar, fica difícil parar de ler.
BRESIGHELLO, Mário. Montanha. In. Guia Folha. 29 mar. 2014. p.14.
QUESTÃO 24
revisional de literatura para o ENEM
Ao escolher este gênero textual, o produtor do texto objetivou
a) construir uma apreciação irônica do livro.
b) evidenciar argumentos contrários ao livro de Anjos.
c) elaborar uma narrativa com descrição de tipos literários.
d) apresentar ao leitor um painel da obra e se posicionar criticamente.
e) afirmar que o livro transcende o seu objetivo inicial e, por isso, perde sua qualidade.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
O texto transcrito nesta questão visa a apresentar resumida e criticamente o livro
Montanha. Trata-se de uma resenha que objetiva despertar a atenção do leitor
para que ele compre o livro. Isso pode ser percebido, por exemplo, no uso de
estruturas como depois de se habituar, fica difícil parar de ler para se referir à obra
em análise. Marque-se, pois, a alternativa “d”.
Estava andando na rua apressada, atrasada, quando vi um rapaz de uns 15 anos no
máximo, parado numa esquina, tentando, desacertadamente, ajeitar uma trança
no cabelo da irmãzinha, que devia ter uns seis anos. Resolvi parar e ajudá-lo, ele
estava perdido bagunçando ainda mais os cachinhos dela. Depois que eu consegui
ajeitá-la ele me agradeceu sem graça, colocou a mochila rosa da irmã nas costas,
segurou a mãozinha dela e saiu andando, caminhando lentamente, acompanhando
os passinhos curtos da pequena. Não sei explicar exatamente o porquê, mas esse
menino botou um sorriso no meu rosto e fez o meu dia melhor. Em meio a
adolescência, hormônios, rebeldia e espinhas, esse menino andava com a irmã e
segurava a mochilinha rosa como se ela naquele momento fosse seu bem mais
precioso, como se tivesse nascido para proteger aquela pessoinha. Eu posso estar
emotiva, de tpm ou retardada, mas essa cena de hoje me deu uma puta alegria.
CHEFFINS, Karla. Sem título. In.: Facebook. 25 mar. 2014.
QUESTÃO 25
revisional de literatura para o ENEM
As escolhas linguísticas, as intencionalidades, os elementos da narrativa, bem como
o modo de articular o discurso são índices de literariedade e auxiliam não só na
transmissão da mensagem, mas também na configuração da espécie literária
específica. Acerca do texto de Karla Cheffins, é pertinente o seguinte comentário:
a) Trata-se de um poema em prosa, pois se nota claramente a ausência de elementos
da narrativa e que o locutor articula seu discurso como tentativa de comentar o real.
b) Trata-se de uma crônica, pois se percebe que, além de construir uma narrativa
altamente lírica, o locutor se põe a analisar a cena por uma ótima bastante singular.
c) Trata-se de um conto, devido ao fato de o texto articular-se como um relato
curto, com uma cena corriqueira, ainda que se notem elementos da narrativa,
como narrador, enredo, tempo e espaço e personagens.
d) Trata-se de um depoimento, cujo objetivo é convencer o leitor de que os eventos
apresentados podem acontecer com qualquer um.
e) Trata-se de um apólogo, narrativa altamente metafórica que se descola do senso
comum e visa a levar o leitor a fazer reflexões existenciais sobre as relações
familiares.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
O texto de Karla Cheffins é uma crônica. Trata-se de uma narrativa altamente lírica
que possui traços de relato e visa a fazer uma reflexão filosófica sobre a condição
humana. Marque-se a letra “b”.
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores. [...]
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras DIAS, Gonçalves. Canção do exílio. Disponível em: http://
Onde canta o Sabiá. pt.wikipedia.org/wiki/Canção_do_Ex%C3%ADlio.
Minha terra tem Datena,
Bolsonaro e Sheherazade,
Que me causam muita pena,
Mas nenhuma piedade.
Ao ouvir o reverendo,
Especulo me mudar,
Tem neguinho defendendo
Ditadura militar.
Minha terra tem pastores
Que dão medo de escutar.
Ao ouvir o reverendo,
Especulo me mudar.
O patife faz a cena
E virou parlamentar.
Que me mandem pra Gomorra,
Pra Crimeia ou Bagdá!
Deus me livre dos pastores,
Que eu não sou Ali Babá!
Aos acólitos da ARENA: SANTIAGO, Emmanuel. Canção do exilem-me. In.: Facebook. 25 mar.
Vade retro – sarava! 2014.
QUESTÃO 26
revisional de literatura para o ENEM
Observando as relações que a “Canção do exilem-me” estabelece com a “Canção
do exílio”, de Gonçalves Dias, nota-se que o poema de Emmanuel Santiago:
a) constitui uma paráfrase, pois se apropria de vários elementos temáticos e
formais do texto de Gonçalves Dias.
b) é claramente um pastiche, na medida em que articula-se como uma cópia do
estilo do texto do poeta romântico.
c) é um meme, pois, além de apresentar todas as características de um “viral”, foi
publicado nas redes sociais e possui caráter eminentemente irônico.
d) é uma bricolagem, porque apresenta elementos linguísticos que reproduzem a
mesma estrutura gramatical da “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.
e) trata-se de uma paródia, pois os dois textos tratam do mesmo tema, ainda que a
abordagem de Santiago adote uma linha ideológica diferente do texto de Dias.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
O texto de Santiago apresenta o mesmo tema do de Gonçalves Dias, entretanto
revela uma visada crítica em relação ao Brasil. Trata-se, pois, de uma paródia.
Marque-se, portanto, a letra “e”.
Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou
ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e
temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim
os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa
que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem!
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br. Acesso em: 04 mai. 2014.
QUESTÃO 27
revisional de literatura para o ENEM
Considerada por muitos a “certidão de nascimento do Brasil”, a Carta, de Pero Vaz
de Caminha, é um texto que, dentre outros aspectos, apresenta, denotativamente,
ideais que auxiliam na definição da identidade nacional. Para além disso,
entretanto, é possível perceber aspectos tipicamente europeus. Identifique, entre
os itens apontados a seguir, um elemento central da cultura brasileira que aparece
pela primeira vez nos textos do escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral.
a) o nativismo
b) o metalismo
c) o ufanismo
d) a linguagem
e) o antropocentrismo
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Dentre os elementos apontados nos distratores, aquele que atravessa toda a
história da literatura brasileira é o nativismo – referência a elementos da natureza.
A justificativa para tal ocorrência é o fato de, desde o século XV, os escritores
articularem um discurso em que pátria e natureza aparecem indissociáveis.
Ademais, nas palavras do crítico Antonio Candido, a recorrência dessa temática
tanto aponta para as idiossincrasias exóticas brasileiras quanto para a ausência de
projetos de desenvolvimento e de nação. Marque-se, pois, a alternativa “a”.
A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons
narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de
encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca
disso são de grande inocência. Ambos traziam o lábio de baixo furado e metido
nele um osso verdadeiro, de comprimento de uma mão travessa, e da grossura de
um fuso de algodão, agudo na ponta como um furador. Metem-nos pela parte de
dentro do beiço e os dentes é feita a modo de roque de xadrez. E trazem-no ali
encaixado de sorte que não os magoa, nem lhes põe estorvo no falar, nem no
comer e beber.
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta. São Paulo: Dominus, 1963.
QUESTÃO 28
revisional de literatura para o ENEM
Considere as afirmações a seguir.
I. Manifesta-se no fragmento lido a incidência da Visão Paraíso de que trata Sérgio
Buarque de Holanda em seu livro Raízes do Brasil.
II. O confronto entre o corpo do índio e o do europeu é pretexto para criticar o
habitante das terras americanas.
III. Há no fragmento presença de analogia.
IV. A clareza e a objetividade no relato do cronista são manifestações do
pensamento renascentista.
São corretas apenas as assertivas:
a) I e IV. b) I, II e IV. c) I, III e IV.
d) II e III. e) III e IV.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Apenas nos itens I, III e IV há análises adequadas do fragmento transcrito. Marque-
se, pois, a alternativa “c’.
A América é uma terra vasta onde vivem muitas tribos de homens selvagens com
diversas línguas diferentes. Também há muitos animais bizarros. Essa terra tem
uma aparência amistosa, visto que as árvores ficam verdes por todo o ano, mas os
tipos de madeira que lá existem não são comparáveis com os nossos. Todos os
homens andam nus, pois naquela parte da terra situada entre os trópicos nunca faz
tanto frio quanto, entre nós, no dia de São Miguel. [...] Na terra em questão,
nascem e crescem, tanto nas árvores quanto nas terras, frutos de que os homens e
os animais se alimentam. Por causa do sol forte os habitantes da terra tem uma cor
de pele marrom-avermelhada.
STADEN, H. A verdadeira história dos selvagens, nus e ferozes devoradores de homens. RJ: Dantes, 1998.
QUESTÃO 29
revisional de literatura para o ENEM
Leia, agora, considerações acerca do texto de Hans Staden.
I. O tema do fragmento é a apresentação do homem americano, o selvagem
antropófago referido no título da publicação.
II. Predomina no fragmento acima, tal qual na Literatura de Informação, tanto a
denotação quanto a descrição, traços que tanto conferem um tom objetivo ao texto
quanto o tornam mais simples e de fácil compreensão.
III. O texto em análise é um desdobramento das grandes navegações do século XV e
apresenta símiles entre elementos europeus e elementos brasileiros.
Assinale a alternativa que apresente apenas afirmações corretas:
a) I e II. b) II. c) II e III.
d) III e) I, II e III.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Todas as análises propostas para o texto de Hans Staden estão corretas. Deve-se,
portanto, assinalar a alternativa “e”.
POEMA DO BECO
Que importa a paisagem, a baía, a glória, a linha do horizonte?
O que eu vejo é o beco.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
QUESTÃO 30
revisional de literatura para o ENEM
Dadas as afirmações.
I. Nota-se, na estrutura do poema, a presença da antítese.
II. É possível ver, no texto, a afirmação da vida como um beco sem saída.
III. Há exploração de elementos ópticos.
IV. O culto às formas tradicionais de poesia faz-se presente no poema de Bandeira.
V. No texto, manifesta-se o lirismo metafísico ou filosófico, além do social.
É correto o que se afirma em:
a) I, II e V. b) II e III. c) I, II, III e IV.
d) I, III e V. e) II e IV.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Os itens que propõem análises pertinentes ao Poema do Beco são I, III e V.
Marque-se, pois, a letra “d”.
MORRER... AMAR...
Morrer... dormir... não mais! Termina a vida,
E com ela terminam nossas dores;
Um punhado de terra, algumas flores,
E, às vezes, uma lágrima fingida!
Sim! minha morte não será sentida;
Não deixo amigos, e nem tive amores!
Ou, se os tive, mostraram-se traidores,
- Algozes vis de uma alma consumida.
Tudo é podre no mundo! Que me importa
Que ele amanhã se esboroe e que desabe,
Se a natureza para mim é morta!
É tempo já que o meu exílio acabe…
Vem, pois, ó Morte ao nada me transporta…
Morrer... dormir... talvez sonhar... quem sabe?
OTAVIANO, F. Disponível em: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=861&sid=169. Acesso em 23 mai. 2014.
QUESTÃO 31
revisional de literatura para o ENEM
Francisco Otaviano de Almeida Rosa foi advogado, poeta e jornalista. Sua obra
reflete bastante claramente o mal-do-século da poesia do romantismo brasileiro. O
soneto acima, entretanto, dialoga com ideais das poéticas barroca e simbolista. Tal
diálogo se faz presente, porque
a) a morte é vista como momento de comunhão com Deus e com os homens.
b) a vida é vista como uma sucessão de sofrimentos e de frustrações.
c) a morte é vista como libertação do rosário de mágoas que é a existência.
d) o fim da existência culmina com o amor em sua mais alta manifestação.
e) a vida é um sudário de mágoas e a morte é algo ainda mais aterrorizante.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
O diálogo entre as estéticas barroca, romântica e simbolista presente no poema
reside no fato de a morte ser vista pelo sujeito poético como fim do sofrimento
terreno. Marque-se, pois, a alternativa “c”.
Todas as estrelas [estão no Céu] por sua ordem; mas é ordem que faz influência,
não é ordem que faça favor. Não fez Deus o Céu em xadrez de estrelas, como os
pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está Branco,
da outra há de estar Negro, se de uma parte está Dia, da outra há de estar Noite; se
de uma parte dizem Luz, da outra hão de dizer Sombra; se de uma parte dizem
Desceu, da outra hão de dizer Subiu. Basta que não havemos de ver num sermão
duas palavras em paz? Todos hão de estar sempre em fronteira com o contrário?
VIEIRA, A. Sermão da sexagésima; fragmento. Disponível em: http://manoelneves.com. Acesso 23 ago. 2013.
QUESTÃO 32
revisional de literatura para o ENEM
Padre Antônio Vieira, no Sermão da sexagésima, critica veementemente o
virtuosismo dos pregadores, que usavam intrincados jogos verbais na construção
de suas prédicas. Paradoxalmente, entretanto, percebe-se, no fragmento transcrito,
o uso expedientes cultistas, dentre os quais:
a) paradoxos e hipérbatos
b) antíteses e anáforas
c) eufemismos e metáforas
d) paralelismos e zeugmas
e) antonomásias e sinédoques
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
No fragmento em análise, há antíteses e anáforas em abundância. Deve-se
assinalar, portanto, a alternativa “b”.
Copo com auto fluxo de Robert Boyle. Disponível em: http://autopiadonexooposto.blogspot.com.br/2011/09/como-se-nada-
contrariasse-o-que-quer.html. Acesso em: 21 mai. 2014.
QUESTÃO 33
revisional de literatura para o ENEM
Robert Boyle (Lismore, 25 de janeiro de 1627 — Londres, 31 de dezembro de 1691)
foi um filósofo natural, químico e físico irlandês que se destacou pelos seus
trabalhos no âmbito da física e da química. A imagem acima reproduz uma de suas
ideias. Ela pode ser considerada uma utopia, porque máquinas de moto-contínuo
não existem. A ideia, absurda de acordo com a física e a lógica científica, encontra
uma explicação na literatura, que é:
a) a ironia
a) a metonímia
c) o paradoxo
d) a analogia
e) a reificação
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
O conceito impossível apresentado na imagem pode ser considerado um paradoxo
– fusão dos contrários ou ideia aparentemente absurda. Assinale-se, pois, a
alternativa “c”.
Logo todos na cidade souberam: Halim se embeiçara por Zana. As cristãs maronitas
de Manaus, velhas e moças, não aceitavam a ideia de ver Zana casar-se com um
muçulmano. Ficavam de vigília na calçada do Biblos, encomendavam novenas para
que ela não se casasse com Halim. Diziam a Deus e ao mundo fuxicos assim: que
ele era um mascate, um teque-teque qualquer, um rude, um maometano das
montanhas do sul do Líbano que se vestia como um pé rapado e matraqueava nas
ruas e praças de Manaus. Galib reagiu, enxotou as beatas: que deixassem sua filha
em paz, aquela ladainha prejudicava o movimento do Biblos. Zana se recolheu ao
quarto. Os clientes queriam vê-la, e o assunto do almoço era só este: a reclusão da
moça, o amor louco do “maometano”.
HATOUM, M. Dois irmãos. São Paulo: Cia. das Letras, 2006 (fragmento).
QUESTÃO 34
revisional de literatura para o ENEM
Dois irmãos narra a história da família que Halim e Zana formaram na segunda
metade do século XX. Considerando o perfil sociocultural das personagens e os
valores sociais da época, a oposição ao casamento dos dois evidencia
a) as fortes barreiras erguidas pelas diferenças de nível financeiro.
b) o impacto dos preceitos religiosos no campo das escolhas afetivas.
c) a divisão das famílias em castas formadas pela origem geográfica.
d) a intolerância com atos litúrgicos, aqui representados pelas novenas e ladainhas.
e) a importância atribuída à ocupação exercida por um futuro chefe de família.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Dois irmãos, um dos romances mais representativos dos anos 2000, trata da
colonização libanesa na região amazônica. A obra oferece uma mirada intimista
acerca de aspectos regionais e dos conflitos vividos pelos imigrantes no Norte do
país. Dentre os temas abordados por Milton Hatoum, destacam-se os conflitos
religiosos, como se vê no fragmento transcrito nesta questão. Por isso mesmo,
deve-se assinalar a alternativa “b”.
DOIS QUADROS
Na seca inclemente do nosso Nordeste,
O sol é mais quente e o céu mais azul
E o povo se achando sem pão e sem veste,
Viaja à procura das terras do Sul.
De nuvem no espaço, não há um farrapo,
Se acaba a esperança da gente roceira,
Na mesma lagoa da festa do sapo,
Agita-se o vento levando a poeira.
ASSARÉ, Patativa do. Dois quadros. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/seca-
inverno-634217.shtml. Acesso em: 23 abr. 2010 (fragmento).
ABC DO NORDESTE FLAGELADO
O – Outro tem opinião

de deixar mãe, deixar pai,
porém para o Sul não vai,
procura outra direção.

Vai bater no Maranhão
onde nunca falta inverno;
outro com grande consterno
deixa o casebre e a mobília
e leva a sua família

pra construção do governo.
Disponível em: www.revista.agulha.com.br. Acesso em: 23 abr. 2010 (fragmento).
QUESTÃO 35
revisional de literatura para o ENEM
Os Textos I e II são de autoria do escritor nordestino Patativa do Assaré, que, em
sua obra, retrata de forma bastante peculiar os problemas de sua região. Esses
textos têm em comum o fato de abordarem
a) a falta de esperança do povo nordestino, que se deixa vencer pela seca.
b) a dúvida de que a ajuda do governo chegará ao povo nordestino.
c) o êxodo do homem nordestino à procura de melhores condições de vida.
d) o sentimento de tristeza do povo nordestino devido à falta de chuva.
e) o sofrimento dos animais durante os longos períodos de estiagem.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Nos dois fragmentos, o mesmo tema – o deslocamento do nordestino em busca de
melhores condições de vida – recebe tratamento diferente: enquanto no primeiro,
o migrante desloca-se para o Sul do país; no segundo, há uma migração regional.
Assinale-se, portanto, a alternativa “c”.
hoje à noite
até as estrelas
cheiram a flor de laranjeira
LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
QUESTÃO 36
revisional de literatura para o ENEM
Considerando os elementos constitutivos do texto, do gênero e da espécie literária,
é correto afirmar que:
a) o texto se constrói como uma elegia, pois apresenta considerações doloridas
acerca da passagem do tempo.
b) há uma micronarrativa que se articula por intermédio de observações da natureza e
de um grande envolvimento do sujeito poético com as personagens.
c) articulado em três movimentos, o texto apresenta três painéis que funcionam como
falas de personagens, o que acaba por se configurar como um texto dramático.
d) o poema se estrutura em três movimentos, que sugerem que o locutor está na
contemplação de uma paisagem.
e) os sentimentos do sujeito poético contaminam a paisagem; por isso mesmo, a
paisagem se dá a conhecer gradativamente: noite, estrelas, laranjeira.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Marque-se a letra “d”, pois o poema é um hai cai, que articula por intermédio de
três cenas da natureza. Infere-se que o locutor está contemplando uma paisagem e
meditando.
Filho meu, guarda as minhas palavras, e esconde dentro de ti os meus
mandamentos.
Guarda os meus mandamentos e vive; e a minha lei, como a menina dos teus
olhos.
Ata aos teus dedos, escreve-os na tábua do teu coração.
BÍBLIA SAGRADA. Velho Testamento. Provérbios. Português. Reed. Versão de Anttonio Pereira de Figueiredo. São Paulo:
Editora das Américas, 1950. Cap. 07, ver.1-3.
QUESTÃO 37
revisional de literatura para o ENEM
Pela análise do texto, percebe-se a presença marcante de uma determinada função
da linguagem, por intermédio da qual o locutor:
a) imprime ao texto as marcas de sua atitude pessoal, seus sentimentos.
b) transmite informações objetivas sobre o tema de que trata o texto.
c) busca persuadir o receptor do texto a adotar um certo comportamento.
d) procura explicar a própria linguagem que utiliza para construir o texto.
e) objetiva verificar ou fortalecer a eficiência da mensagem veiculada.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Os verbos no imperativo guarda, esconde, guarda, ata e escreve indicam que
predomina, no texto, a função conativa ou apelativa, por intermédio da qual o
locutor busca persuadir o interlocutor a adotar um comportamento. Marque-se,
pois, a letra “c”.
Vou apertar, mas não vou acender agora
Se segura malandro, pra fazer a cabeça tem hora
É que você não está vendo
Que a boca tá assim de corujão
Tem dedo de seta adoidado
Todos eles a fim de entregar os irmãos
Malandragem, dá um tempo
Deixe essa pá de sujeira ir embora
É por isso que eu vou apertar,
Mas não vou acender agora.
É que o 281 foi afastado
O 16 e o 12 no lugar ficou
E uma muvuca de espertos demais
Deu mole e o bicho pegou
Quando os home da lei grampeiam,
o coro come toda hora
É por isso que eu vou apertar,
Mas não vou acender agora.
LEMINSKI, Paulo. Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
QUESTÃO 38
revisional de literatura para o ENEM
Na construção textual, por vezes, ao articular seu discurso, o autor vale-se da
linguagem conotativa. Dois dos procedimentos figurativos mais comuns são a
substituição e a analogia. Indique, dentre os fragmentos abaixo, extraídos da letra
da música Malandragem, dá um tempo, aquele cuja natureza é eminentemente
metonímica:
a) “É que... tá assim de corujão”;
b) “dedo... a fim de entregar os irmão”;
c) “pra fazer a cabeça tem hora”;
d) “uma muvuca deu... o bicho pegou”;
e) “quando os home da lei grampeia”.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
A metonímia opera pela substituição. O “dedo”, na alternativa “b”, ocupa o lugar da
pessoa que chama o policial.
Sabe o Bezerra da Silva, aquele malandrinho simpático do “Vou apertar/ Mas não
vou acender agora”? Já prestaram atenção à letra? “É que o 281 foi afastado/ O 16
e o 12 no lugar ficou”. Além de malandrinho e simpático, ainda versado nas letras
da lei! Ele sabia que o art. 281 do Código Penal de 1940 fora revogado pela Lei
6368/76 (hoje já revogada), cujos artigos 12 e 16 descreviam as condutas
relacionadas ao consumo, porte e tráfico de drogas. Razoável conhecimento
técnico-jurídico da malandragem que dá um tempo.
V de justiça. Disponível em: http://cantandonotoro.blogspot.com.br/2011/08/justica-da-vinganca.html. Acesso em 03 abr. 2014.
QUESTÃO 39
revisional de literatura para o ENEM
O parágrafo acima, extraído do texto V de justiça articula-se como uma leitura da
letra de música Malandragem, dá um tempo, transcrita anteriormente. Percebe-se,
muito claramente, que sua intencionalidade é fazer uma leitura de um fragmento
do texto cantado por Bezerra da Silva. Para atender ao seu objetivo discursivo, o
autor:
a) incorpora parodicamente o texto que se propõe a analisar, na medida em que
aborda o mesmo tema.
b) comprova suas hipóteses por intermédio de opiniões e de constatações, o que
configura seu algo nível de argumentação.
c) usa diferentes variantes linguísticas, o que acaba por garantir uma
heterogeneidade tipológica ao texto.
d) articula seu texto por intermédio de sequências expositivas e argumentativas, tal
qual se faz na dissertação.
e) mantém, o tempo todo, o uso do padrão formal, culto, da linguagem, conforme
exige o suporte de que se vale.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Marque-se a letra “d”, pois o locutor apresenta uma hipótese e, para comprová-la,
exibe dados e estratégias argumentativas.
O telefone tocou.
— Alô? Quem fala?
— Como? Com quem deseja falar?
— Quero falar com o sr. Samuel Cardoso.
— É ele mesmo. Quem fala, por obséquio?
— Não se lembra mais da minha voz, seu Samuel? Faça um esforço.
— Lamento muito, minha senhora, mas não me lembro. Pode dizer-me de quem se
trata?
ANDRADE, C. D. Contos de aprendiz. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. Fragmento.
QUESTÃO 40
terceira aplicação do ENEM-2014
Pela insistência em manter o contato entre o emissor e o receptor, predomina no
texto a função
a) metalinguística
b) fática
c) referencial
d) emotiva
e) conativa
SOLUÇÃO COMENTADA
terceira aplicação do ENEM-2014
A função da linguagem cuja intencionalidade é estabelecer contato com o leitor é a
fática. Deve-se, pois, assinalar a alternativa “b”.
RESUMO
Gerou os filhos, os netos,
Deu à casa o ar de sua graça
e vai morrer de câncer.
O modo como pousa a cabeça para um retrato
é o da que, afinal, aceitou ser dispensável.
Espera, sem uivos, a campa, a tampa, a inscrição:
1906-1970.
SAUDADE DOS SEUS, LEONORA.
PRADO, A. Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2007.
QUESTÃO 41
terceira aplicação do ENEM-2014
O texto de Adélia Prado apresenta uma mulher cuja vida se “resume”. Sua
expressão poética revela
a) contradições do universo feminino infeliz.
b) frustração relativa às obrigações cotidianas.
c) busca de identidade no universo familiar.
d) subterfúgios de uma existência complexa.
e) resignação diante da condição social imposta.
SOLUÇÃO COMENTADA
terceira aplicação do ENEM-2014
O poema de Adélia Prado articula-se como uma biografia poética de uma
personagem [feminina] que está totalmente resignada à encenação dos papeis a
ela destinados pela sociedade. Tal afirmação pode ser comprovada pelos versos 5 e
6. Sendo assim, deve-se assinalar a alternativa “e”.
Pecados, vagância de pecados. Mas, a gente estava com Deus? Jagunço podia?
Jagunço – criatura paga para crimes, impondo o sofrer no quieto arruado dos
outros, matando e roupilhando. Que podia? Esmo disso, disso, queri, por pura
toleima; que sensata resposta podia me assentar o Jõe, broreiro peludo do Riachão
do Jequitinhonha? Que podia? A gente, nós, assim jagunços, se estava em
permissão de fé para esperar de Deus perdão de proteção? Perguntei, quente.
— “Uai? Nós vive... — foi o respondido que ele me deu.
ROSA, G. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. Fragmento.
QUESTÃO 42
terceira aplicação do ENEM-2014
Guimarães Rosa destaca-se pela inovação da linguagem com marcas dos falares
populares e regionais. Constrói seu vocabulário a partir de arcaísmos e da
intervenção nos campos sintático-semânticos. Em Grande sertão: veredas, seu livro
mais marcante, faz o enredo girar em torno de Riobaldo, que tece a história de sua
vida e sua interlocução com o mundo-sertão. No fragmento em referência, o
narrador faz uso da linguagem para revelar
a) inquietação por desconhecer se os jagunços podem ou não ser protegidos por
Deus.
b) uma insatisfação profunda com relação à sua condição de jagunço e homem
pecador.
c) confiança na resposta de seu amigo Jõe, que parecia ser homem estudado e
entendido.
d) muitas dúvidas sobre a vida após a morte, a vida espiritual e sobre a fé que pode
ter o jagunço.
e) arrependimento pelos pecados cometidos na vida errante de jagunço e medo da
perdição eterna.
SOLUÇÃO COMENTADA
terceira aplicação do ENEM-2014
Apesar de o enunciado da questão direcionar o leitor, de modo bastante simplista,
para a alternativa que apresenta uma cópia literal da parte final do fragmento e
permitir ao aluno assinalar a letra “a” sem ter tido uma compreensão um pouco
mais profunda do trecho transcrito, o texto em análise apresenta ricamente a
inquietação existencial do jagunço-narrador Riobaldo acerca da possibilidade de
Deus proteger quem está a serviço da cólera do homem [de posses?]. Deve-se
destacar que tal angústia é traduzida por intermédio de uma sequência de seis
perguntas, o que, tanto aponta para cabala, posto que, em tal sistema de crença,
seis é o número da imperfeição [refere-se ao homem e ao próprio Demônio],
quanto para certo barroquismo, traduzido nas espirais sugeridas pela sequência de
perguntas e pela elaboração [cultista] da linguagem.
A DESPROPÓSITO
Olhou para o teto, a telha parecia um quadrado de doce.
Ah! — falou sem se dar conta de que descobria,
durando desde

a infância, aquela hora do dia, mais um galo cantando,
um corte de trator, as três camadas de terra,
a ocre, a marrom, a roxeada. Um pasto,
não tinha certeza se uma vaca
e o sarilho da cisterna desembestado, a lata
batendo no fundo com estrondo.
Quando insistiram, vem jantar, que esfria,
ele foi e disse antes de comer:
“Qualidade de telha é essas de antigamente”.
PRADO, A. Bagagem. Rio de Janeiro: Record, 2007.
QUESTÃO 43
terceira aplicação do ENEM-2014
A poesia brasileira sofreu importantes transformações após a Semana de 1922,
sendo a aproximação com a prosa uma das mais significativas. O poema da
mineira Adélia Prado rompe com a lírica tradicional e se aproxima da prosa por
apresentar
a) travessão, estrutura do verso com pontuação comum a orações e aproximação
com a oralidade, elementos próprios da narrativa.
b) uma estrutura narrativa que não segue a sequência de estrofes nem utiliza de
linguagem metafórica.
c) personagem situado no tempo e espaço, descrevendo suas memórias da
infância.
d) discurso direto e indireto alternados na voz do eu lírico e localização espacial.
e) narrador em primeira pessoa, linguagem discursiva e elementos descritivos.
SOLUÇÃO COMENTADA
terceira aplicação do ENEM-2014
A indistinção [/fusão] dos gêneros [e das espécies literárias] é um dos principais
traços da poesia [marginal] produzida no Brasil desde o final dos anos 1960. No
texto de Adélia Prado, os traços narrativos estão indicados na alternativa “a”.
José tinha um verso do poeta morto tatuado na barriga, logo abaixo do umbigo.
Um dia, a família viva do poeta morto viu José refestelando-se na areia da praia,
com o tal verso bem à vista, logo acima da sunga amarela. Horrorizada com o
acinte, a família o processou. Era um inequívoco oferecimento da obra ao
conhecimento público — e num local de frequência coletiva. A família ganhou a
causa e a tatuagem, que hoje está emoldurada na grande sala de estar, logo acima
do sofá vermelho.
STIGGER, V. Disponível em: http://culturaebarbarie.org. Acesso em: 28 jul. 2012.
QUESTÃO 44
terceira aplicação do ENEM-2014
No texto, o verso tatuado no corpo de José é reinvindicado pelos herdeiros do
poeta, que não aceitam sua exposição pública. Nesse sentido, o texto tem como
objetivo
a) abordar a questão dos limites dos direitos autorais.
b) fazer uma reflexão sobre as diversas formas de circulação do texto poé†co.
c) explicar que a poesia pertence à coletividade e não à família herdeira do poeta.
d) evidenciar a perda do caráter sagrado da poesia, ao mencionar a localização da tatuagem.
e) chamar atenção do leitor para as políticas de divulgação de obras literárias.
SOLUÇÃO COMENTADA
terceira aplicação do ENEM-2014
O fato de a família do poeta morto ficar horrorizada com a reprodução não
autorizada de parte da obra de seu parente permite afirmar que o poema em prosa
analisado discute de modo alegórico os direitos autorais. Marque-se, pois, a letra
“a”.
A sua concepção de governo [do Marechal Floriano Peixoto] não era o despotismo,
nem a democracia, nem a aristocracia; era a de uma tirania doméstica. O bebê
portou-se mal, castiga-se. Levada a coisa ao grande o portar-se mal era fazer-lhe
oposição, ter opiniões contrárias às suas e o castigo não eram mais palmadas, sim,
porém, prisão e morte. Não há dinheiro no tesouro; ponham-se as notas recolhidas
em circulação, assim como se faz em casa quando chegam visitas e a sopa é pouca:
põe-se mais água.
BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Brasiliense, 1986.
QUESTÃO 45
terceira aplicação do ENEM-2014
A obra literária de Lima Barreto faz uma crítica incisiva ao período da Primeira
República no Brasil. No fragmento do romance Triste fim de Policarpo Quaresma a
expressão “tirania doméstica”, como concepção do governo florianista, significa
que
a) o regime político era omisso e elitista.
b) a visão política de governo era infantilizada.
c) o presidente empregava seus parentes no governo.
d) o modelo de ação política e econômica era patriarcal.
e) o presidente assumiu a imagem populista de pai da nação.
SOLUÇÃO COMENTADA
terceira aplicação do ENEM-2014
No fragmento em análise, pode-se perceber que, para o enunciador, a visão política
de Floriano é bastante míope: ele via qualquer ato contrário ao seu pensamento
como algo pessoal. Ademais, o adjetivo “doméstico” permite pressupor que o
Presidente seria o pai e administraria as questões sociais [portar-se mal], políticas
[ter opiniões contrárias] e econômicas [falta de dinheiro no tesouro] como algo de
foro familiar. Deve-se, pois, assinalar a alternativa “d”.
E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu a maior transição deste
livro. Vejam: o meu delírio começou em presença de Virgília; Virgília foi o meu grão
de pecado de juventude; não há juventude sem meninice; meninice supõe
nascimento; e eis aqui como chegamos nós, sem esforço, ao dia 20 de outubro de
1805, em que nasci. Viram?
ASSIS, M. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar. 1974. Fragmento.
QUESTÃO 46
terceira aplicação do ENEM-2014
A repetição é um recurso linguístico utilizado para promover a progressão textual,
pois indica entrelaçamento de ideias. No fragmento do romance, as repetições
foram utilizadas com o objetivo de
a) marcar a transição entre dois momentos distintos da narrativa, o amor do
narrador por Virgília e seu nascimento.
b) tornar mais lento o fluxo de informações, para finalmente conduzir o leitor ao
tema principal.
c) reforçar, pelo acúmulo de afirmações, a ideia do quanto é grande o sentimento
do narrador por Virgília.
d) representar a monotonia, caracterizadora das etapas da vida do autor: a
juventude e a velhice.
e) assegurar a sequenciação cronológica dos fatos representados e a precisão das
informações.
SOLUÇÃO COMENTADA
terceira aplicação do ENEM-2014
Por intermédio da repetição vocabular, apresentam-se ao leitor quatro marcos da
vida do narrador, a saber: amor, juventude, infância, nascimento. Posto isso, a
alternativa que apresenta a melhor análise do referido recurso coesivo é a letra “a”.
Tu choraste em presença de morte?
Em presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste meu filho não és!
Disponível em: http://www.biblio.com.br
Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, que os bravos
Só pode exaltar
Disponível em: http://www.biblio.com.br
QUESTÃO 47
revisional de literatura para o ENEM
Os dois textos possuem uma ideia em comum:
a) a exaltação das belezas naturais do Brasil;
b) a negação da paternidade;
c) a fortaleza moral do índio diante da adversidade;
d) visão idealista e rósea da existência;
e) constatação da fragilidade espiritual do índio.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Nos dois fragmentos, há a idealização da figura do silvícola. Assinale-se, pois, a
alternativa “c”.
Enterra o corpo de tua esposa ao pé do coqueiro que tu amavas. Quando o vento
do mar soprar nas folhas, Iracema pensará que é a tua voz que fala entre seus
cabelos. O doce lábio emudeceu para sempre; o último lampejo despediu-se dos
olhos baços. Poti amparou o irmão na grande dor. Martim sentiu quanto um amigo
verdadeiro é precioso na desventura.
ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Ática, 2005.
QUESTÃO 48
revisional de literatura para o ENEM
Referindo-se ao texto acima, indique o comentário não pertinente:
a) Os romances indianistas podem ser vistos como recriações literárias do processo
colonizatório brasileiro.
b) O escritor romântico, ao construir sua obra, tinha por objetivo traçar um perfil
da alma e da identidade nacionais.
c) Há, na dicção romântica indianista, um afastamento do ideário colonialista
europeu.
d) O processo civilizatório traz apenas benefícios para os habitantes da terra
americana.
e) Alencar é o único, dentre os prosadores românticos, a construir romances
indianistas.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
Da leitura do fragmento depreende-se que houve perdas no processo colonizatório.
Metaforicamente, é possível entrever que, para que houvesse a formação do Brasil,
foi necessário que o elemento natural indígena fosse dizimado. Marque-se, pois, a
alternativa “d”.
Acha-se ali sozinha e sentada ao piano uma bela e nobre figura de moça. As linhas
de perfil desenham-se distintamente entre o ébano da caixa de piano, e as bastas
madeixas aqui negras do que ele. São tão puras e suaves essas linhas, que fascinam
os olhos, enlevam a mente e paralisam toda análise. A tez é como o marfim do
teclado, alva que não deslumbra, embaçada por uma nuança delicada, que não
sabereis dizer se é leve palidez ou cor-de-rosa desmaiada.
GUIMARÃES, Bernardo. A escrava Isaura. São Paulo: Ática, 2001.
QUESTÃO 49
revisional de literatura para o ENEM
Extraído do romance A escrava Isaura, o trecho exemplifica uma característica
romântica, que é:
a) consciência da solidão;
b) ânsia de glória;
c) idealização da personagem;
d) contestação da ideologia europeia;
e) valorização do negro.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
No fragmento em análise, o locutor apresenta a personagem Isaura, uma escrava,
como portadora dos traços físicos e dos comportamentos típicos das heroínas
românticas tradicionais. Marque-se, pois, a alternativa “c”.
NEL MEZZO DEL CAMIN...
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
BILAC, O. Disponível em: http://www.revista.agulha.nom.br/bilac2.html
QUESTÃO 50
revisional de literatura para o ENEM
Sobre a primeira estrofe do famoso poema de Bilac:
a) O eu lírico se oculta na subjetividade característica da estética parnasiana.
b) O eu lírico mostra-se reservado na manifestação de seus sentimentos.
c) Apesar de parnasiano na forma, identifica-se com o Romantismo na
manifestação de sentimentos do eu lírico.
d) A presença da palavra sonhos identifica-o com a estética simbolista.
e) Corresponde plenamente ao ideário da estética parnasiana.
SOLUÇÃO COMENTADA
revisional de literatura para o ENEM
A forma do poema de Bilac é parnasiana [soneto decassílabo, rimas ricas,
vocabulário elevado, chave de ouro]. A temática e a perspectiva adotada pelo
locutor para abordar o assunto são totalmente românticas [subjetividade e
envolvimento emocional]. Deve-se, pois, assinalar a alternativa “c”.

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