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A experiência religiosa.

A religião do ponto de vista do mundo vital


parte I*
Stefano Martelli

Proêmio colocar, antes das considerações de teoria socioló-


gica, a exposição de alguns resultados obtidos pelas
Depois de ter examinado, no capítulo anterior, a outras disciplinas que se ocupam do fenômeno reli-
Religião sob o ponto de vista “macro-sociológico”, gioso, especialmente pela fenomenologia da Religião
analisando suas funções exercidas no sistema social, e da História das religiões, sem deixar de lado as refe-
consideramos oportuno considerá-la, agora, sob o rências à Antropologia cultural e à Psicologia da Re-
ponto de vista “micro”. De fato, para o indivíduo, a ligião. Por isso, expusemos as linhas gerais dos con-
Religião se define, antes de tudo, como uma relação tributos de Rudolf Otto, Mircea Eliade e Gerard van
interior com a realidade transcendente, isto é, a par- der Leeuw entre os fenomenólogos, sem esquecer a
tir da experiência do sagrado vivida interiormente. escola italiana de História das religiões e a propos-
Não trataremos da experiência religiosa, sob ponto ta de Giuseppe De Luca para uma “história da pie-
de vista psicológico, mas procuraremos examinar a
dade”.2 Retomamos a contribuição dos clássicos da
dimensão social de tal experiência. Adotando essa
sociologia, como Durkheim e Weber, valorizando-a
perspectiva “a partir de baixo”, nos absteremos de
sob o ponto de vista “micro-sociológico”.3 A Socio-
entrar na questão ontológica, isto é, se de fato exis-
logia da Religião de Joachim Wach4 pareceu-nos um
te um correlato objetivo (Deus ou outra Realidade
exemplo de abordagem sociológica integral à experi-
transcendente) para as atitudes religiosas das pessoas.
ência religiosa, capaz de enxertar os contributos dos
Não é próprio da sociologia de religião pronunciar-se
fenomenólogos no tronco dos sociólogos clássicos.
sobre essa questão, embora não seja de sua alçada
nem mesmo ignorar o fato que existem indivíduos e Na perspectiva do processo de institucionalização da
povos que afirmam ter essa experiência. Se preten- experiência religiosa, retomamos a obra de Emst Tro-
de permanecer como ciência empírica, a sociologia eltsch, particularmente útil para delinear a terceira di-
da religião parte de uma posição metodológica que reção de tal processo, isto é, a formação de doutrinas
pode ser chamada “agnóstica”, para retomar o termo a partir das crenças religiosas.
empregado por Peter L. Berger;1 para ela é suficiente Examinando as relações entre doutrinas religiosas
constatar que existem pessoas e grupos sociais que e desenvolvimento social, pareceu-nos ser mesqui-
afirmam viver uma experiência religiosa. Além disso, nhos, se nos esquecêssemos da obra dos sociólogos
naquilo que diz respeito às características do sagrado, italianos de inspiração cristã, como Toniolo e Sturzo.5
ela assume os resultados de outras disciplinas, como Além disso, mediante um breve excursus, considera-
a Filosofia e a fenomenologia da Religião, a Teologia, mos útil exemplificar a dinâmica histórico-social da
a Psicologia e a História das religiões, submetendo-os institucionalização das doutrinas religiosas, referin-
à verificação, a partir das próprias teorias. do-nos a um caso específico dentro do Cristianismo,
A Sociologia contribui para delinear as caracte- o da “doutrina social” da Igreja católica. O panora-
rísticas sociais da experiência religiosa, enquanto se ma sobre o contributo oferecido pelos sociólogos de
propõe descrever e interpretar: inspiração cristã não poderia ser completo, sem um
a) as condições sociais em que ela se verifica; sintético balanço da contribuição da Sociologia reli-
giosa de Gabriel Le Bras e alunos, para o estudo do
b) as conseqüências sociais que daí derivam; catolicismo contemporâneo.6
Nos últimos dois parágrafos, consideramos opor-
c) a correlação existente entre condições sociais e
tuno retomar a Sociologia da religião de Georg Sim-
formas da experiência religiosa.
mel, pouco conhecida entre nós, considerando que
Para compreender as modalidades e as condições nela existam elementos suficientes para configurá-la
de possibilidade da experiência religiosa na socieda- como uma contribuição que merece ser considerada
de moderna e pós-moderna, pareceu-nos oportuno a par com outros “clássicos”. Dentro desse caminho,

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na Segunda consideração intermediária fizemos al- âmbito de suas próprias teorias e métodos. Antes de
gumas reflexões sobre os efeitos de estímulo que “o passar ao contributo oferecido pelos “clássicos” da
movimento teórico” na Sociologia dos anos 80 pode sociologia da Religião, particularmente Durkheim e
ter também na renovação da Sociologia da Religião. Weber,10 julgamos oportuno retomar os dados ofere-
cidos pelos fenomenólogos da Religião. Estes, assim
como os expoentes da nova antropologia religiosa,11
O homem é “religiosus”? A experiência assumem como hipótese de trabalho a prenhe afir-
religiosa entre fenomenologia e história mação de Rudolf Otto (1869-1937) de que “a religião
(Otto Eliade, Van der Leeuw, Pettazzoni, não consiste nas suas expressões racionais”, e sim na
experiência do sagrado.12 Para Otto, a essência de
De Luca) qualquer religião é a experiência de uma realidade
I. Para os fenomenólogos da Religião, o homem é “outra”, que se manifesta na consciência do crente,
“naturaliter religiosus”: a religião aparece como uma antes mesmo (tanto em sentido ontológico como filo-
característica constante dos seres humanos, em todas genético) de ser incorporada nos ritos e nos mitos, e
as épocas. Os dados paleantropológicos mais recen- preservada por um grupo de especialistas.
tes atestam que o “Homo sapiens” antigo (que viveu A impostação dada por Otto aos estudos do fe-
entre 400.000 e 150.000 anos atrás), e provavelmen- nômeno religioso tem como finalidade sublinhar o
te também o “Homo erectus” (que viveu entre 1,7 aspecto objetivo da experiência religiosa, em opo-
e 0,15 milhões de anos atrás), produzia bifaciais e sição às teorias que, reduzindo-a ao aspecto sub-
objetos com incisões de caráter simbólico, os quais jetivo e psicológico, insinuam a suspeita de que a
podiam ter significado cultual e mágico-religioso.7 Religião esteja alicerçada numa auto-ilusão, como
Depois, a partir dos neandertalianos (paleolítico mé- afirma, por exemplo, Sigmund Freud em L’avenire
dio, de 100.000 a 35.000 anos atrás), e especialmente de un’illusione.13 Reagindo ao desconhecimento do
do “Homo sapiens sapiens” (paleolítico superior, de conteúdo real da experiência religiosa, os fenome-
35.000 a 9.000 anos atrás), as expressões do simbo- nólogos da Religião, segundo o exemplo de Edmund
lismo religioso tornam-se explícitas. Práticas funerá- Husserl,14 se propõem “ir até às próprias coisas”, as-
rias (posição ritual do cadáver e uso do bolo armênio, sim como elas aparecem. O fenômeno (do grego to
símbolo de sangue e vida), culto dos ossos, culto dos phainòmenon) é “aquilo que aparece”, que “se mos-
animais agressivos (urso, lobo), ritos de passagem e tra”, e isso implica uma tríplice conseqüência: a) há
ritos propiciatórios,8 são sinais indicadores da espe- qualquer coisa; b) ela se mostra; c) ela é um fenôme-
rança dos primeiros homens na vida além da morte no justamente porque se mostra. Superando de vez
e da crença em um mundo sobrenatural. Especial- a contraposição entre positivismo e espiritualismo, a
mente as práticas funerárias, implicando a fé naqui- fenomenologia da Religião15 sustenta que “o fenôme-
lo que sobrevive à morte, representam para Morin9 no é, ao mesmo tempo, um objeto que se refere a
a “brecha antropológica”, ou seja, a confirmação da um sujeito e um sujeito relativo ao objeto”; a essên-
chegada da hominização. cia do fenômeno “consiste em mostrar-se”, em mos-
Portanto, para os paleantropólogos, o aparecimen- trar-se a “alguém”.16 Estes acenos sobre a abordagem
to do “homo religiosus” não é um evento relativamente fenomenológica da Religião em termos abrangentes,
recente na pré-história. O sentido do sagrado, enten- para nós representa uma alternativa capaz de evitar
dido como reconhecimento e apelo a seres superiores riscos de reducionismo, implícitos nas abordagens da
e transcendentes (de qualquer maneira denominados Religião inspiradas pelos três “mestres da suspeita”
e venerados) é uma atitude constitutiva do homem — Marx, Nietzsche e Freud —, como Paul Ricoeur os
desde as primeiras formas culturais em que se reco- definiu eficazmente.17 De fato, fenomenólogos e no-
nhece a hominização. A expressão religiosa é, desde vos antropólogos da Religião, propõem-se estudar a
os primórdios da humanidade, parte constitutiva e in- Religião “iuxta propria principia”, isto é, partindo de
tegrante das atividades simbólicas, que distinguem o materiais específicos (os fenômenos religiosos), unifi-
“Homo sapiens” dos animais. Então coloca-se outra cados por uma categoria não totalmente racionalizá-
pergunta de como tenha se originado essa experiên- vel (o sagrado) e de um método abrangente.
cia religiosa, que está na raiz das expressões, então Em resumo, para os fenomenólogos, a experiên-
bem diferentes, que podemos encontrar em todas as cia religiosa consiste em experimentar a presença do
sociedades, das pré-literárias às contemporâneas. sagrado. Trata-se de um evento que constitui o espe-
As várias ciências do homem procuraram uma res- cífico da Religião. Contudo, toda religião histórica o
posta para essa pergunta fundamental, cada qual no descreve recorrendo a expressões que são cultural-

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mente condicionadas. Portanto, no plano histórico, é percebido pelo sentimento religioso, não, po-
revelam-se concepções diferentes da divindade, as- rém captado pela razão. Esta, no entanto, pode
sim como formas rituais e sistemas de crenças pro- esclarecer-lhe algumas características, sem con-
fundamente diversos. Todavia, para os fenomenólo- tudo exaurir a sua profundidade, porque o numi-
gos, isso não exclui, de maneira alguma, a possibili- noso é também àrreton, o inefável;
dade de individuar aspectos constantes do fenômeno
religioso. Como sustenta Gerard van der Leeuw, em b) o numinoso é um mistério “tremendum”, en-
todas as religiões podem ser individuados dois signi- quanto suscita no crente sentimentos de tremor
ficados principais do sagrado: este é, quer aquilo que e temor. Em sua forma mais tosca é o “temor
dá a salvação porque é poderoso (do alemão Heil = demoníaco” das religiões primitivas, mas que se
salvação, potencialidade), quer também aquilo que é encontra na Bíblia como “ira ou indignação de
separado (do profano), ou melhor, posto ou colocado YHWH”. Esse aspecto imperativo do numinoso,
à parte (como atestam os antigos nomes qadesh sanc- uma vez racionalizado, está na base dos aspectos
tus, tabu). “Estes dois significados juntos descrevem o morais da justiça divina;
que acontece na experiência religiosa vivida: um po- b-1) o numinoso é um mistério em que se manifesta
der estranho, totalmente diferente, insere-se na vida. uma absoluta potência e alteridade: a “majestas”,
Diante dela, a atitude do homem é, primeiramente, diante da qual o fiel percebe que é somente “pó
de espanto, e no fim, de fé”.18 e cinza”. Trata-se de um sentimento diferente da-
Rudolf Otto, Mircea Eliade e Gerar van der Leeuw, quele de dependência, ao qual Schleiermacher20
cada um partindo de perspectivas diferentes — res- ligava a essência da Religião. Trata-se, ao invés,
pectivamente teológica, histórica e filosófica —, ofe- do sentimento de criaturalidade, que é possível
receram as contribuições mais relevantes para a base encontrar nos testemunhos dos místicos de todas
da hodierna fenomenologia da Religião. Dentro dessa as religiões, desde Mestre Eckhart até o muçul-
abordagem, podemos distinguir, portanto, as diferen- mano Bostami;
tes contribuições desses fenomenólogos “clássicos”.
II. Com a sua célebre obra O sagrado (1917), Ru- b-2) o numinoso é um mistério em que se manifesta
dolf Otto ofereceu-nos um modelo insuperado de uma absoluta energia, vitalidade, paixão; o fiel
análise fenomenológica em chave hermenêutica, da sente-se “invadido” por uma energia transbor-
experiência religiosa. O fundador da Fenomenologia dante, que pode levá-lo ao êxtase (individual) ou
abrangente parte da observação de que a Religião a êxtases de efervescência coletiva.
não consiste apenas de afirmações racionais e de pre- c) o numinoso não é somente um mistério terrível,
ceitos morais: o divino não é somente espírito, razão, mas é também radicalmente um mistério “fasci-
vontade, onipotência, bondade, imensidade etc. No nante”. Como esclarece Otto,21 ele não apenas
divino há um aspecto inefável, percebido pelo senti- afasta, também atrai: “é um impulso singular-
mento como realidade sagrada; esta constitui o fun- mente poderoso de um Bem que somente a Re-
damento meta-racional da própria Religião. Os mís- ligião conhece e que é substancialmente irracio-
ticos, aqueles que fizeram a experiência do próprio nal”. Os conceitos racionais que se desenvolvem
divino na sua realidade íntima, descreveram a experi- a partir desse aspecto do numinoso são o amor,
ência do sagrado como mistério terrível e, ao mesmo a misericórdia, a piedade, o conforto; é nas sole-
tempo, fascinante, que suscita, no crente, múltiplos nidades que se manifesta esse aspecto fascinante
sentimentos. Para o fenomenólogo, tais sentimentos do numinoso;
não são produzidos pela consciência, mas são o efei-
to subjetivo da presença, no eu, de uma realidade c-1) além disso, o numinoso é um mistério admirável,
diferente do próprio eu, que Otto prefere chamar de cuja manifestação imprevista suscita no cren-
o “numinoso” (do latim numen = divindade), ao invés te sentimentos de maravilha, estupor, surpresa,
de “Deus” (termo muito ligado à elaboração teoló- desconcerto: como autêntico mirum, faz ficar
gica das religiões monoteístas). O numinoso, assim sem palavras. Os efeitos, no ânimo humano, da
como o crente o percebe em seu próprio íntimo, é manifestação de uma realidade extra-cotidiana,
definido por Otto como “mysterium tremendum et “totalmente outra”, foi descrita por Santo Agos-
fascinosum”, que se manifesta com as seguintes ca- tinho numa frase das suas Confissões, que ficou
racterísticas:19 famosa: “Et inhorresco, et inardesco. Inhorresco
a) o numinoso é “mysterium”, isto é, o escondido, o in quantum dissimilis ei sum. Inardesco, in quan-
não-manifesto, o extraordinário e o insólito, que tum similis ei sum”,22

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c-2) o numinoso é também um mistério portentoso e que não podem ser interpretadas, como sustentam os
inquietante; evolucionistas, como formas inferiores de Religião;
ele propõe interpretá-las a partir do numinoso, isto é,
c-3) finalmente, o numinoso é um mistério “augus- como manifestações do seu fortalecimento a partir do
tum”: ele é reconhecido como um valor objetivo; “estado bruto”, encontrando níveis diferentes de ex-
enquanto o “fascinans” indica o valor subjetivo pressão nas várias religiões históricas. Todavia, para
do numinoso, o beatificante para mim, o “augus- Otto é extremamente difícil conduzir as diferentes re-
tum” indica o valor objetivo, que impõe respeito ligiões do mundo a uma classificação exaustiva, por-
por si. que elas não são gêneros de uma única espécie, e sim
Depois de ter indicado analiticamente esses as- “momentos parciais de uma unidade sintética”.28 As
pectos do numinoso, Otto esclarece que o sagrado “é diferenças entre as religiões dependem das diferen-
uma categoria composta”,23 constituída por um as- tes modalidades e intensidade de racionalização do
pecto racional e um irracional (ou, melhor tradução: numinoso, isto é, das diversidades culturais das res-
meta-racional): justamente o numinoso. A duplicida- pectivas sociedades. Ao mesmo tempo, não se pode
de deriva do devir histórico-cultural da experiência confundir os predicados racionais do divino com
religiosa: ela é sucessivamente institucionalizada em aqueles análogos do espírito humano: se o conteúdo
formas culturalmente definidas; isto é, o numinoso é é o mesmo, a forma, porém, é diferente, que, no caso
saturado de momentos racionais, finalistas, pessoais e dos predicados divinos, tem um caráter de absoluto.
morais. Otto interpreta tal movimento de explicação Em outras palavras, o numinoso como “mysterium”
do sentimento religioso à luz da doutrina kantiana do permanece “radicalmente outro” em relação ao ra-
esquematismo,24 a qual, em seu modo de ver, permite cional, aquilo que não pode ser circunscrito comple-
compreender a relação complexa do momento racio- tamente com o conceito e muito menos esgotar-lhe a
nal e do meta,racional do sagrado, à luz também da- profundidade semântica.
quilo que acontece na esfera estética (por ex.: a poesia Otto enfrenta também o problema da revelação
musicada) ou afetiva (amor, amizade, atração sexual). exterior, posterior àquela íntima da experiência re-
Esse processo de racionalização e moralização do ligiosa. Ele chama de “divinização... a faculdade de
numinoso é compreendido por Otto numa perspecti- conhecer e de reconhecer genuinamente o sagrado
va de Teologia das religiões: em seu modo de ver, con- em sua fenomenologia”,29 e a define como faculdade
figura-se uma espécie de “história da salvação”, que de acolher o sobrenatural. No caso do Cristianismo,
se desenvolve do “terror demoníaco” para o “terror que é uma “religião de redenção”, a divinização nos
dos deuses” e torna-se finalmente “temor de Deus”. permite colher a essência do Cristianismo na pessoa
Em outras palavras, o obscuro sentimento de terror de Jesus, o qual é o sagrado que ainda hoje fala ao
que a manifestação do sagrado inspira, lentamente nosso ânimo.30 Desse modo, Otto responde positiva-
transforma-se em devoção e em comportamento mo- mente à dupla questão que era debatida na Teologia
ral. Contudo, Otto esclarece que a “saturação ética e na História das religiões do seu tempo, isto é, se
da idéia de Deus não representa, de maneira alguma, é possível ainda hoje chegar às palavras autênticas
uma eliminação ou uma substituição do numinoso de Jesus, superando a barreira constituída pelas tradi-
por qualquer outra coisa — uma vez que o resulta- ções histórico-teológicas que deram vida aos Evange-
do não seria um Deus, e sim um substituto de Deus lhos, e se o Cristianismo pode ser considerado como
— mas uma realização completa graças a um novo a forma mais alta de Religião. Na cruz de Cristo, Otto
conteúdo, o que significa que tal realização se dá reconhece o monograma do sagrado, a fusão do ra-
unicamente no numinoso”.25 cional e do meta-racional, isto é, tanto a resposta
III. Aqui não é o caso de entrar em detalhes sobre colocada por Jô na Bíblia (problema de teodicéia),
a justificação filosófica da natureza do sagrado. Otto como a terrível orghè do numen.31 Finalmente, Otto
a define como “uma categoria a priori”.26 Vamos, esclarece a relação entre sagrado, Religião e História:
porém, aprofundar a fenomenologia do sentimento a Religião é o produto da História, enquanto esta por
religioso, do modo como ele se desenvolve no curso um lado desenvolve a disposição para o conhecimen-
da história religiosa, a partir do “estado bruto”,27 isto to do sagrado e, por outro, ela mesma é, em parte, a
é, das manifestações menos puras do sagrado. Otto manifestação do sagrado. A disposição é das massas,
elenca alguns componentes daquilo que ele chama enquanto que a manifestação é obra de naturezas do-
de “pré-religião”, isto é, a magia, o culto dos mor- tadas, isto é, dos profetas.Otto, porém, conclui que a
tos, as noções da alma, poder ou “orenda”, espírito, manifestação plena do sagrado pertence somente ao
puro/impuro. Para Otto, trata-se de formas culturais Filho.

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IV. Aqui não é possível aprofundar detalhadamen- perspectiva da verdadeira vida, da qual a atual é ape-
te a questão da experiência religiosa, assim como ela nas a prefiguração. O simbolismo religioso permite a
se desenvolveu nas análises sobre o sagrado, con- reatualização dessa experiência no hoje: toda hiero-
duzidas pelos fenomenólogos da Religião, os quais fania ou manifestação do sagrado, urânica ou lítica, é
deram origem a variantes diferentes do próprio méto- medrada pelo símbolo. Eliade analisa com particular
do. Lembramos aqui somente os contributos dos ex- atenção o simbolismo religioso,36 pondo em relevo
poentes mais conhecidos, isto é, Mircea Eliade e G. que aquilo que o contradistingue não é a dinâmica
van der Leeuw, os quais representam duas variantes — semelhante àquela de qualquer outro símbolo —,
- um mais atento aos dados históricos, o outro mais e sim o seu caráter de totalidade e a sua referência ao
sensível às questões filosóficas -, dentro da mesma sagrado. Em outras palavras, a obra de Eliade repre-
abordagem abrangente. senta uma ulterior tentativa de analisar a Religião a
Em suas numerosas obras — as principais, sob o partir do seu aspecto essencial, o sagrado, mesmo se,
ponto de vista sistemático, são o Tratado da história diferentemente de Otto, a atenção está mais voltada
das religiões e O sagrado e o profano —,32 Eliade in- para a variada fenomenologia que emerge da história
siste nos caracteres de complexidade e totalidade da das religiões, inclusive a época contemporânea.37
experiência do sagrado. Este manifesta-se não apenas V. A obra de Gerard van der Leeuw, Phänomeno-
nas coisas cotidianas, mas através das coisas cotidia- logie der Religion (1933),38 também constitui uma
nas; na hierofania (irrupção do sagrado no cotidiano), importante contribuição de tipo fenomenológico
um objeto qualquer é “uma outra coisa”, sem contu- para o estudo do sagrado, que se distingue daquela
do deixar de ser ele mesmo. Geralmente, para aquele de Eliade por sua perspectiva sistemática, ao invés
que experimenta o sopro religioso, tecla a natureza de histórica. Nela são recolhidos e inseridos, dentro
pode manifestar-se como sacralidade cósmica. de um sólido quadro filosófico, os testemunhos rela-
Para Eliade,33 a experiência do sagrado é caracte- tivos às experiências religiosas, coletadas em todas
rística do homem enquanto tal, “é um elemento na as religiões do mundo. Existem cinco temas princi-
estrutura da consciência, e não um estágio na história pais: o objeto da Religião, o sujeito, a relação entre
dessa consciência”. Eliade não apenas faz sua a tese os dois, o mundo e, finalmente, as figuras, ou seja, as
principal da fenomenologia abrangente da Religião, tendências de fundo de cada uma das religiões, que
que o homem é “homo religiosus”, mas propõe-se culminam no amor universal pregado pelo Cristianis-
verificá-la também na sociedade secularizada; ou mo. Van der Leeuw não assume intencionalmente ne-
melhor, ele evidencia o caráter mítico de muitos as- nhuma das teorias sobre a origem da Religião, nem a
pectos de tal sociedade. O homem de hoje não só animista, nem a hipótese de um monoteísmo originá-
não é de fato secularizado, como também é até víti- rio sustentada pelo padre Schmidt,39 particularmente
ma de mitos e religiões inautênticas: os mitos secu- debatida na época; de fato, ele tem uma perspectiva
lares, especialmente as ideologias, de fato tendem a fenomenológica e filosófica da Religião, e, como tal,
escravizar o homem e se configuram como pseudo- refuta tanto a abordagem evolucionista como o sim-
religiões.34 ples descritivismo.40
Para o “homo religiosus” o sagrado constitui o As principais características dessa obra, que para
centro do mundo e, contemporaneamente, a fonte da Giovanni Filoramo41 constitui o verdadeiro “mani-
realidade absoluta. Tempo e espaço são sacralizados, festo” da fenomenologia abrangente da Religião, são
isto é, não são homogêneos, pois o fluir homogêneo quatro: a epochè e visão eidética, a centralidade da
do tempo e o estender-se uniforme do espaço são experiência religiosa, a posição hermenêutica e a re-
quebrados pelas hierofanias, e esses eventos passam ferência à teologia cristã. A primeira característica é
a constituir os centros de reorganização do tempo retomada por Edmund Husserl,42 e consiste no uso
(instituição das festas religiosas, nascimento do ca- consciente do método fenomenológico, principal-
lendário) e do espaço (instituição dos santuários). mente da epochè: esta consiste numa operação da
Festas e peregrinações são, além das modalidades di- consciência, com a qual se coloca “entre parênteses”
ferentes de atuação, instituições capazes de proteger tudo aquilo que em seus conteúdos é atividade psi-
o crente dos perigos do próprio tempo e de satisfazer cológica, comportamento ou hábito subjetivo, junta-
a “nostalgia das origens”,35 isto é, a aspiração de to- mente com o lado empírico do objeto. Desse modo,
dos os homens pelo sagrado. Para Eliade, portanto, a suspendendo qualquer juízo sobre o próprio objeto,
experiência religiosa constitui uma possibilidade per- para Husserl é possível finalmente ter acesso à visão
manente da vida cotidiana; a Religião, especialmente eidética, ou seja, à contemplação da essência dos fe-
através do rito, transfigura aquilo que é contingente na nômenos religiosos estudados.

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A segunda característica, isto é, a centralidade da VI. O principal mérito de raffaele Pettazzoni (1883-
experiência religiosa, visa colocar a atenção sobre a 1959) foi o de ter introduzido na Itália, a partir dos
Religião como experiência vivida, e configura a feno- anos 20, uma disciplina — o estudo histórico das re-
menologia como uma psicologia não redutiva e não ligiões — que se afirmara, há muito tempo, em outros
subjetiva, mas atenta às formas de vida que brotam países europeus, embora com o nome de “ciência das
das diversas religiões. Por sua vez, a posição herme- religiões” e adotando a perspectiva evolucionista e o
nêutica é o aspecto que caracteriza a fenomenolo- comparativismo como método: é suficiente lembrar
gia abrangente da Religião, distinguindo-a daquela os nomes de Max Muller, Edward B. Tylor, James G.
descritivo-comparativa, de matriz evolucionista, as- Frazer e A. Lang.53
sim como da abordagem da história das religiões.43 Pettazzoni teve de superar muitas dificuldades en-
A compreensão (Verstehen) é o princípio e o fim do tes de conseguir o objetivo de introduzir o ensino de
método fenomenológico: sem empatia (Einfühlung), História das religiões dentro do programa dos estudos
o perito não pode compreender nem o objeto nem o universitários italianos (obteve a cátedra em 1924, em
sujeito da experiência religiosa e, muito menos, revi- Roma). Por um lado, na cultura italiana existia uma
vê-lo, a fim de poder experimentá-lo em si mesmo. forte insensibilidade a respeito dos fatos histórico-reli-
Finalmente, a quarta característica é a referência à giosos, típica herança do liberalismo pós-renascentis-
teologia cristã: tarefa da fenomenologia da Religião, ta, que encontrara ulteriores argumentos na filosofia
como da teologia natural, é mostrar cientificamente a historicista de Benedetto Croce.54 Este, não obstante
naturalidade da experiência religiosa, isto é, de como a impostação histórica dada por Pettazzoni à disci-
o homem, partindo dela, pode chegar a captar a verda- plina, atacou-a duramente, partindo da negação de
de, que se revelou em sua plenitude, no Cristianismo. uma autonomia categorial na esfera do espírito para
Por estes rápidos acenos pode-se notar a solidez o fenômeno religioso, e reconduzindo-o para dentro
da construção assumida pela fenomenologia da Re- da ética, da filosofia ou, no máximo, da estética.55
ligião na obra de van der Leeuw, o qual se valeu dos Pettazzoni encontrou análoga oposição por parte de
resultados das correntes filosóficas alemãs antiposi- Omodeo,56 filósofo que se aproximou das posições
tivistas do séc. XX. Além da fenomenologia de Hus- de Croce. O qual afirmou que “o método compara-
serl e da hermenêutica de Dilthey,44 van der Leeuw tivo é a contradição absoluta da História”. Por outro
valeu,se também da sociologia do conhecimento de lado, Pettazzoni teve de superar uma diferente, mas
Max Scheler45 e da sociologia da Religião de Georg igualmente radical insensibilidade em nível interna-
Simmel,46 e também da antropologia filosófica de Karl cional, cujo estudo comparativo das religiões tendia
Jaspers47 e daquela psicológica de Ludwig Binswan- a menosprezar o momento histórico, ou seja, a di-
ger:48 autores esses que contribuíram para esclarecer mensão processual dos fenômenos religiosos.
o aspecto existencial da Religião. O comparativismo, na primeira forma que lhe
Aqui não podemos esquecer a corrente de feno- deu Muller na obra Mitologia comparada (1856), era
menologia da Religião, conhecida como a Escola de de tipo lingüístico e partia das descobertas da raiz
Marburgo, desenvolvida em ambiente alemão com comum indo-européia dos termos para individuar
a intenção de continuar a obra de Rudolf Otto. A os elementos comuns das religiões grega e védica.
ela pertencem Friedrich Heiler (1892-1967),49 Gus- A superação dessa autolimitação folológica foi ofe-
tav Mensching (1901-1978)50 e, mais recentemente, recida pelo emprego de dados etnológicos feito por
Kurt Goldammer e Günter Lanczkowski.51 Em âmbito Edward B. Tylor, especialmente em Primitive Culture
holandês, ao invés, desenvolveu-se mais a primeira (1871), que permitiu a comparação sistemática en-
abordagem, isto é, a fenomenologia descritivo-com- tre as formas elementares encontram-se também nas
parativa, cujos expoentes são sobretudo W.B. Kristen- religiões universais. Como observou Angelo Brelich,
sen (1867-1953), Carl J. Bleeker e J. Waardenburg, dessa descoberta “nasce uma singular historiografia
embora estes também se tenham proposto continuar, às avessas, voltada inteiramente para a pesquisa das
em certos aspectos, a obra de van der Leeuw. Final- origens, ao invés do devir histórico, atenta mais para
mente, em âmbito sueco e italiano, registram-se ten- tudo aquilo que é genericamente comum, e não para
tativas de combinar a fenomenologia com a História: o que é específico e particular em cada uma das for-
entre os primeiros, lembramos os nomes de Geo Wi- mações culturais. O grande princípio hermenêutico
dengren52 e Ake Hultkrantz, ao passo que, agora, nos da comparação nasceu, mas com as taras de sua épo-
atemos, por causa de sua relevância no contexto ita- ca: o Positivismo e o Evolucionismo”.57
liano, à obra de Pettazzoni e dos outros historiadores Embora permanecendo fundamentalmente ape-
das religiões. gado ao método comparativo, Pettazzoni integrou-o

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na perspectiva histórica, isto é, levando-o a inverter na antologia dirigida por Gandini.65 Pettazzoni recri-
a perspectiva derivada do Evolucionismo — a pes- mina Eliade por propor uma religião como evasão da
quisa da presumida origem comum das formas reli- História, como nostalgia das origens paradisíacas da
giosas primitivas —, naquela mais prática e fecunda humanidade; nisso ele parte de uma posição de hu-
da reconstrução dos processos, através dos quais as manismo laicista — “pessoalmente crente na religião
religiões atingem as formas historicamente conheci- do homem”, o definira De Martino no discurso oficial
das. Trata-se de uma posição historicizante, fruto não de comemoração feito em 1962.66 Este último interes-
tanto de uma reflexão teórico-metodológica e sim de se, embora crítico, mostrado por Pettazzoni para com
uma viva sensibilidade do pesquisador, que acompa- a fenomenologia, foi considerado por alguns como
nhou Pettazzoni em suas numerosas investigações, uma espécie de debandada dentro de uma vida de
por mais de quarenta anos, sobre um amplo arco de pesquisa coerentemente historiográfica,67 tanto que
temas.58 Primeiramente, Pettazzoni analisou as reli- os seus mais íntimos alunos e colaboradores, como
giões clássicas e do Oriente Médio; dessas pesquisas Angelo Brelich (1913-1977),68 Ernesto De Martino
restam ainda as monografias sobre a religião de Zara- (1908-1965)69 E Vittorio Lanternari,70 o abandonaram
tustra e sobre a Grécia antiga;59 depois, ele aprofun- mais ou menos conscientemente. Como observou
dou a questão do ser supremo, junto aos povos pré- oportunamente Carlo Prandi, “na verdade, o fundador
literários,60 procurando confutar a hipótese de padre da escola romana (Pettazzoni) percebera naqueles rá-
Schmidt61 sobre a existência de um monoteísmo puro pidos acenos, fruto da pesquisa crítica das instâncias
e ético entre esses povos, o qual teria precedido o eliadianas, o problema epistemológico central da
politeísmo. Somente nos últimos escritos, como o se- pesquisa história-religiosa contemporânea... Mas isso
gundo prefácio à La religione nella Grécia ântica fino se repropõe em toda a sua urgência e complexidade:
ad Alessandro e sobretudo em Il método comparati- Hic rodus, his salta!”71 Nesse sentido, a relação entre
vo,62 Pettazzoni expressou, de maneira formalmente fenomenologia e História das religiões ainda perma-
completa, sua posição metodológica, que se apre- nece como algo a ser inteiramente aprofundado.
senta como o assumir original de uma “terceira via” VII. Não podemos terminar este capítulo, dedica-
entre o comparativismo — que não é mais aquele do a delinear, em rápida síntese, as principais aborda-
obsoleto, de matriz positivista e evolucionista, da “ci- gens sobre o fenômeno religioso feitas por disciplinas
ência das religiões”, mas sim aquele, filosoficamente “a latere” da Sociologia, sem fazer mencionar a ori-
bem mais apurado, praticado pelos fenomenólogos ginal, embora freqüentemente relegada, contribuição
da religião, colocado em confronto com o historicis- dada pela obra de Giuseppe de Luca (1898-1962).
mo de Croce. Depois, de ter apresentado os defeitos Sacerdote de origem lucana, mas residente em Roma
das duas perspectivas, que Pettazzoni define como desde os estudos juvenis no seminário menor, com a
sendo “uma fenomenologia sem vigor historiográfi- sua “história de piedade”, De Luca traçou uma espé-
co e uma historiografia sem adequada sensibilidade cie de via intermediária entre a História das religiões,
religioso”,63 ele propõe as suas obras como exemplo Antropologia cultural e Fenomenologia religiosa.
de uma possível integração entre as duas perspectivas Não é fácil dizer em que consista essa nova dis-
“em termos sistemáticos, trata-se de superar as posi- ciplina, a história da piedade, proposta por De Luca.
ções unilaterais da fenomenologia e do historicismo Ele próprio não nos ajuda muito nessa tarefa: na In-
integrando-as reciprocamente, isto é, potenciando a troduzione all’Archivio per la storia italiana della pietà
fenomenologia religiosa com o conceito historicista (1951), ele afirma que pode dar, aqui, apenas uma
de desenvolvimento, e a historiografia com a instân- descrição, ou melhor, “noções preliminares”; não tem
cia fenomenológica do valor autônomo da Religião, intenção de fazer uma história, mas “preparar a histó-
ficando, assim, esclarecida a fenomenologia na His- ria”.72 O grande motivo dessa reticência está somente
tória e, ao mesmo tempo, reconhecido o caráter de ci- no fim do seu longo ensaio, no qual o próprio De
ência histórica qualificada para a história religiosa”.64 Luca, citando uma frase de Bossuet, admite não ter
Essa tese, também por causa do desaparecimen- ainda completado as suas pesquisas sobre o assunto.73
to de Pettazzoni poucos meses depois, permaneceu, De Luca entende a piedade não no sentido pietis-
mais do que qualquer outra coisa, uma declaração ta ou sentimentalista, mas volitivamente cristão: ela
programática. O encontro entre fenomenologia e coincide com a caritas evangélica,74 Istoé, indica a
história fora sugerido a Pettazzoni também pelo con- ligação entre Deus e o homem produzida pela Re-
fronto crítico com a obra de Mircea Eliade, como denção, que cada um percebe em seu próprio íntimo.
mostram as últimas anotações que ele deixou em dois De Luca esclarece o objeto da sua disciplina com es-
cadernos de notas, em setembro de 1959, coletadas tas palavras:

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Quando o homem experimenta Deus presente em si em seu duplo sentido, subjetivo e objetivo: o amor
mesmo, não em puro conceito, mas no amor, nós di- que Deus mostrou aos homens e que culmina em
zemos, então, que ele é piedoso; não presente apenas Cristo e o amor com que os homens respondem à ini-
um momento ou somente uma vez, embora longamen- ciativa divina, mesmo no caso em que não puderam
te, como um episódio avulso, e sim presente por força conhecer a Cristo).
de um hábito interior, contínuo e quase continuado,
embora não ininterruptamente em ato. Não é piedade Nessa investigação, De Luca mostra ter amadu-
uma chama momentânea; para ser piedade, deve ser recido uma sensibilidade que o aproxima de outros
como uma vida... Deus presente no amor. Amor não é pensadores do séc. XX. Como Simmel e Husserl, com
mero sentimento, é sobretudo vontade, força racional James e Bérgson, para não falar nos existencialistas,
que desemboca na ação. Pode haver vontade sem sen- que ele demonstra conhecer, 81 em De Luca é clara
timento, porém não pode haver sentimento sem pre- a rejeição ao positivismo, ao idealismo e ao histori-
sente, não apenas pela paixão do sentimento, mas em cismo e, em geral, a todos os ismos, isto é, às abstra-
toda a nossa humanidade: contemplação e ação, razão ções que matam a vida, inclusive as teológicas. De
e sentido, vontade e sentimento.75
Luca quer atingir um saber aberto para o mundo da
A disciplina que De Luca delineia não é nem uma vida, capaz de falar daquilo que vive no coração do
Teologia, nem uma Psicologia, nem uma Filosofia da homem, que saiba mostrar as fontes das quais a hu-
História ou da Religião, nem uma Literatura mística, manidade se alimenta. De Luca individua, na história
nem uma História das religiões, nem uma Antropolo- da piedade, essa “via régia” ao coração do homem,
gia cultural.76 Também no campo da história religiosa, assim como individuam no Cristianismo, as fontes da
à qual certamente pertence, a história da piedade dis- civilização européia. Todavia, sua atenção não se vol-
tingui-se da história da Igreja, assim como da Patrolo- ta para as formas oficiais da Religião, mas freqüente-
gia, da História da Liturgia, da Ascese ou da Mística; mente àquelas mais humildes, até agora desprezadas
somente a história da espiritualidade está mais perto pelo estudo dos historiadores e dos filólogos, e que
daquela da piedade, com a diferença de que esta ain- são encontradas nas diversas expressões da literatura
da está quase que inteiramente por se fazer.77 monástica, hagiográfica, litúrgica, artística, devocio-
O percurso intelectual seguido por De Luca para nal. De Luca, vai à procura de manifestações de pie-
chegar a conceber essa nova disciplina, a história da dade até nas leis, nas artes, na poesia, na música, en-
piedade — ele que nunca foi professor ou participou quanto interpreta como sendo o seu contrário, isto é,
da vida acadêmica — aparece na própria dedicação do a impiedade, as principais manifestações do ateísmo
Archivio a um erudito (André Wilmart), a um escritor militante, desde a crítica iluminista da Religião até o
e historiador do sentimento religioso na França (René utopismo marxista e à exaltação positivista da ciência.
Bremond) e a um teólogo da espiritualidade (Giuse- VIII. Parece-nos que a história da piedade de De
ppe de Guilbert).78 Indicando esses três meses como Luca pode ser considerada uma tentativa de conciliar
os “pais intelectuais” do seu trabalho, De Luca teste- a fenomenologia em a História, colocando-se, assim,
munha, de modo eloqüente, que a história da pieda- na perspectiva deste capítulo. De fato, a história da
de pretende constituir uma sínteses original entre um piedade emprega o método histórico; todavia, ele es-
método científico (o histórico-filosófico),79 a pesquisa clarece que a história da piedade interroga a “histó-
erudita e uma perspectiva delicadamente religiosa. ria retórica ou literária, assim como aquela política,
Na introdução, definida por alguns como o “dis- econômica e jurídica... sub specie pietatis”. Sob esse
curso do método” de De Luca, podemos perceber o ponto de vista, a abordagem de De Luca parece-nos
modo concreto com que ele “inventa” caminho ao muito semelhante à da fenomenologia de Rudolf
fazer a sua própria disciplina. Ele “percorre” os mo- Otto, mesmo se, no primeiro, a história e a erudição
numentos da literatura de todos os povos e de todos ocupam o lugar que a Filosofia ocupa no segundo.
os gêneros, para coletar os testemunhos que em todas De Luca, porém condivide com os fenomenólogos a
as épocas ilustram “a presença amorosa de Deus no atenção para com a vida, para com o homem que é
homem”, pois é assim que De Luca entende a pieda- “o mesmo em todo lugar e tem o mesmo coração”;82
de.80 Citações de escritores gregos e latinos convivem ele afirma, com convicção, a unicidade da huma-
na mesma página com trechos de obras de filósofos e nidade, da fundamental igualdade das experiências
teólogos medievais, e estes com passagens tiradas de humanas. Do mesmo modo, é único o divino com o
trabalhos de historiadores e filólogos modernos. De qual o homem se relaciona num vínculo indissolúvel,
Luca extrai, de todos os lugares. Testemunhos de pie- que pode ser de amor (a piedade) ou, ao contrário,
dade com os quais tece a história do amor de Deus de ódio (a impiedade): “tema do Archivio será, junta-
entre os homens (onde o genitivo deve ser entendido mente com a piedade ou presença amada de Deus, a

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impiedade, que é presença odiada de Deus”.83 Toda- tentativa de se realizar uma história da piedade espe-
via, De Luca se precavê de traçar uma linha clara de ra ainda quem lhe dê continuidade.
divisão entre piedosos e ímpios: depois de ter lembra- Todavia, parece-nos que o caminho traçado por
do que a acusação de impiedade foi dirigida ao pró- De Luca, enquanto intermédia entre a história erudita
prio Cristo pelo sinédrio, De Luca acena para a “vida e fenomenologia, seja não apenas original, mas tam-
inextricável de luz e de sobra no coração do homem bém fecunda, pois chama a atenção para aspectos
diante de Deus, de desejo e de revolta, de piedade e da vida religiosa cotidiana, como a literatura popu-
de impiedade”.84 Romana Guarnieri85 comentou que lar, as tradições e os costumes que, embora sempre
a piedade para De Luca, é a dos primeiros anos de considerados aspectos “menores” da Religião, repre-
seu sacerdócio, e essa será a sua contribuição mais sentam, porém, poderosos fatores que plasmaram a
original e profunda para o pensamento e para a cul- sensibilidade religiosa dos povos. Por essa atenção
tura do século XX. à vida cotidiana, a história da piedade antecipa fi-
Como Sturzo,86 De Luca recusa a acusação de lões de estudo que foram somente agora aprofunda-
colocar no centro de sua disciplina um objetivo in- dos, como as pesquisas da sociologia histórica90 ou
visível — para alguns, inexistente —, isto é, o nexo os estudos sobre a religião popular, mesmo se De
entre natural e sobrenatural. O esforço de De Luca Luca certamente não tivesse condividido a interpre-
é construir, graças aos testemunhos da piedade que tação que lhe foi dada em termos materialistas, isto é,
a humanidade deixou no curso da História, aquele como religiosidade das classes subalternas, conforme
movimento do espírito (o amor de Deus) que tem a perspectiva de Gramasci.91
efeitos bem visíveis e reais. Documentos literários,
monumentos arquitetônicos, movimentos culturais,
obras de arte, atestam nas sociedades de todos os
A experiência religiosa nos clássicos da
tempos e lugares, mas com força especial na civi- sociologia (Durkheim e Weber)
lização européia, a existência de homens movidos Sob o ponto de vista sociológico, qual é a origem
pela piedade. A reconstrução dessas vidas, segundo da Religião? No capítulo anterior já vimos que os
ele, “traria muita luz para o estudo dos movimen- “clássicos” da Sociologia se interessam pela Religião,
tos tipicamente intelectuais e até civis e políticos”87 a partir das mudanças sociais começadas pelo pro-
de nossa civilização. Nessa perspectiva, a história cesso de industrialização, e com a intenção de resol-
da piedade seria um precioso complemento para o ver, ou pelo menos, aliviar os problemas que surgiam
conhecimento das ideais, ou melhor, da cultura de por causa da transição para a sociedade moderna.
cada uma das sociedades. Partindo dessa perspectiva macro-sociológica, os
Parece-no que a proposta de De Luca seja estimu- clássicos da Sociologia enfrentam também a questão
lante, mas que não consegue sair do plano de uma da origem da religião e, indiretamente, descrevem
ainda que riquíssima erudição, e que também para também a possibilidade da experiência religiosa na
sustentar-se nesse nível exija um esforço de elabora- sociedade moderna. Não nos ateremos à tese mar-
ção tipológica. O projeto do Archivio Italiano per la xista, pois elam ligando a origem da Religião ao me-
storia della pietà previa, quando De Luca escreveu canismo de projeção de imagens antropológicas que
a Introdução, “volumes sobre o quietismo, sobre a se originam de relações sociais alienadas, nega deci-
história literária do amor, sobre estatutos das confra- didamente que possa existir uma experiência religio-
rias leigas, sobre vidas originais de Santas e Beatas sa não alienada nem alienante, isto é, que o homem
de 1200, sobre textos da impiedade medieval, sobre possa relacionar-se com um “quid” que o transcende;
lendas hagiográficas nas primeiras versões popula- em segundo lugar, para Marx não haverá religião na
res, sobre temas iconográficos (o êxtase, as visões em sociedade sem classes, pois esta, realizando, na His-
imagens, os gestos da oração etc) e volumes de re- tória, o próprio homem, tirará qualquer fundamento
pertórios orgânicos”.88 Contudo, aparecem somente real para a alienação religiosa.92 Já vimos os limites
seis volumes entre 191 e 1970, dos quais quatro são ideológicos e a falsidade empírica da tese marxiana.93
póstumos. Propondo-se a abraçar todo o conhecível Portanto, preferimos voltar-nos para os contributos que
humano, o empreendimento de De Luca talvez fos- Durkheim e Weber ofereceram ao tema da experiên-
se sustentável somente por uma escola agrupada em cia religiosa, enquanto eles nos apresentam as prin-
torno de uma personalidade excepcional. Mesmo as- cipais abordagens clássicas à Sociologia da Religião.
sim, o êxito não estaria assegurado, como mostram I. Já vimos anteriormente94 que a abordagem
as peripécias da escola durkheimiana, especialmente durkheimiana procura identificar o social com o moral
dos “Annales”.89 Não é de se admirar, portanto, que a e com o religioso. Dessa perspectiva “sócio-religioló-

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gica”95 origina-se a tese sócio-genética de Durkheim: sagrado; nisso se distingue da magia, que é uma prá-
a Religião origina-se da efervecência de um grupo tica individual. Para Durkheim, o sentimento religio-
social. Em momentos particulares de entusiasmo co- so, embora dirigindo-se a divindades diferentes, tem
letivo, como as festas religiosas, os indivíduos fazem sempre a mesma origem em todos os lugares; ele nas-
a experiência do sagrado que, para Durkheim, como ce do sentimento de dependência que a sociedade,
já vimos, é a totalidade social. Tal experiência é cons- como poder coletivo e autoridade moral, inspira em
titutiva da religião, pois o sagrado é representado em seus próprios membros e que é projetado e objetiva-
símbolos, crenças e práticas religiosas, as quais, por do fora das consciência em um objeto, depois consi-
sua vez, contribuem para alimentar e reforçar o prór- derado sagrado.
pio sentimento religioso. II Durkheim encontra sete características do sagra-
A tese sociogenética durkheimiana é precedida, do: 1) ele é um poder ou uma força, que se expande
nas Formas elementares da vida religiosa (1912), por das coisas e dos símbolos considerados sagrados, e
uma cerrada crítica que Durkheim faz às duas prin- que é experimentada pelos fiéis; 2) o sagrado é ambí-
cipais interpretações sobre a gênese da Religião que guo: é tanto positivo como negativo, atraente e repug-
prevaleciam no final do séc. XIX, isto é, o animismo nante, benéfico e perigoso; 3) o sagrado não é utilitá-
e o naturismo. O animismo, cujo principal represen- rio; 4) não é empírico; 5) não implica o conhecimen-
tante foi Tylor (Primitive Culture, 1871), Durkheim to fundado sobre a experiência sensível; 6) dá susten-
acusa de querer fazer derivar a idéia de alma, das ex- tação e força; 7) urge sobre a consciência humana
periências de suspensão da vida cotidiana, como os como uma obrigação moral, um imperativo ético.100
sonhos. Para Durkheim, com tal interpretação dá-se Sob certos aspectos, existem semelhanças com
por certo que o caráter da Religião é ilusório e misti- as características do sagrado encontradas por Rudolf
ficador; desse modo, não se explica — é a principal Otto e pelos fenomenólogos da Religião, provavel-
objeção de Durkheim ao animismo —96 como a Re- mente também porque as fontes são as mesmas; radi-
ligião, embora não tendo fundamento na realidade, calmente diferente, porém, é a perspectiva. Durkheim
pode perpetuar-se em toas as épocas e em todas as insiste muito na dimensão imperativa e normativa: o
sociedades. sagrado está no centro de um sistema de práticas (po-
A segunda teoria sobre a origem da Religião que sitivas e negativas), isto é, ele funciona como regula-
provoca as críticas de Durkheim é o naturismo. Para dor do agir social dos membros e como integrador
Max Müller (Lectures on the Origin and Growth of da sociedade. Para os fenomenólogos, porém, a di-
Religion, 1878; Natural Religion, 1889), a religião mensão cognoscitiva e, ainda mais, meta-racional, é
deriva da tentativa do homem primitivo de dar ima o aspecto mais relevante: o sagrado, como vimos, é
explicação aos fenômenos naturais. A essa tese, antes de tudo uma presença que suscita sentimentos
Durkheim97 objeta dizendo que não é plausível que ambivalentes e extra-cotidianos; somente depois, es-
os homens puderam se enganar por tanto tempo so- pecialmente com a institucionalização da experiên-
bre a real origem de tais fenômenos. O próprio senti- cia religiosa, é que o crente assume atitudes e com-
mento de maravilha diante dos fenômenos naturais é portamentos definidos.
uma manifestação do sentimento do sagrado, e esse A segunda diferença radical entre Durkheim e
é o real fundamento da Religião.98 os fenomenólogos é sobre a tese sociogenética.
Depois de ter livrado o terreno das teorias con- Durkheim encontra o momento genético da Religião
correntes, Durkheim coloca a sua teoria. Ele parte do nos estágios de efervescência coletiva, isto é, naque-
pressuposto de que a gênese da Religião seja mais les momentos em que os membros de um grupo so-
facilmente encontrada lá onde é possível observar cial atingem uma intensidade de sentimentos tal que
populações em estado ainda “primitivo”. Sua análi- se sentem como que fundidos numa única realida-
se do totemismo religião das tribos australianas99 — de.101 Para os fenomenólogos, porém, o ritual e a di-
procura demonstrar que, na origem da Religião está mensão social não são a causa, mas apenas a ocasião
uma força impessoal e anônima, que toma forma em para que se manifeste uma Presença e um Poder que
seres, animais ou plantas, os quais são considerados não deriva das realidades humanas. Colocando-nos,
sagrados. Como vimos anteriormente, para Durkheim agora, em perspectiva crítica, notamos que a tese so-
o sagrado não é senão o símbolo da própria socie- ciogenética durkheimiana baseia-se no pressuposto
dade; particularmente, o sentimento do sagrado não que as for, mas primitivas de Religião não apenas são
é senão o sentimento de dependência do indivíduo, as primeiras em sentido temporal, mas são também a
do grupo social. Além disso, é importante notar que, essência do fenômeno religioso. Se o primeiro ponto
para Durkheim, a Religião é experiência coletiva do não pode ser facilmente concedido, dadas as ressal-

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vas expressas pelos etnólogos sobre a primitividade Weber,105 para Durkheim revela-se sem dramaticida-
do totemismo, leva, das, ademais, ao conhecimento de: “Na Religião há algo de eterno, destinado a so-
de Durkheim por seu próprio sobrinho e estreito co- breviver a todos os símbolos particulares dos quais o
laborador Marcel Mauss,102 a segunda equivalência pensamento religioso foi sucessivamente rodeado”, é
é ainda menos sustentável. Mesmo admitindo que a conclusão das Formas elementares.106 Retomando
todas as religiões, desde as tribais até aquelas univer- uma expressão de Moscovici,107 para Durkheim a so-
sais, exerçam a mesma função sob o ponto de vista ciedade é “uma máquina de criar deuses” e, como tal,
social — mas isso, como vimos no capítulo anterior, o sagrado estará sempre presente na sociedade futura.
é bastante controvenido —, isso não prova necessa- III. Cabe a Max Weber e à sua teoria do carisma,
riamente que a essência da Religião seja captada, de o mérito de ter fornecido à Sociologia geral — e não
uma vez por todas, apenas por meio do esclareci- somente à da Religião — uma importante contribui-
mento sobre as circunstâncias da sua gênese. Ter en- ção à teoria da mudança social, mostrando o influxo
contrado o “como?” surge um fenômeno não esgota, das idéias religiosas no surgimento de comportamen-
de fato, o conjunto das questões que se colocam ao tos inovadores. Além disso, a teoria weberiana do
cientista social, a começar pelo aspecto hermenêuti- carisma, introduzindo elementos dinâmicos na con-
co, ou seja, pela pergunta, para muitos decisiva, do cepção talvez demasiadamente linear da abordagem
“por quê?”; em outras palavras, esclarecer a gênese durkheimiana, fornece uma perspectiva que liga a gê-
da Religião não significa esgotar,lhe o fim nem o sig- nese da religião à questão do seu futuro. Weber, que
nificado. Finalmente, como já notamos, Durkheim quase nunca usa o termo “sagrado”, nota que as reli-
não aprofunda a questão de como a experiência reli- giões universais originam-se da pregação de um pro-
giosa pode se reproduzir numa sociedade moderna, feta ou de uma figura carismática, isto é, uma pessoa
na qual os efeitos da divisão de trabalho diferencia- dotada de um “dom de graça”, ao redor do qual se
ram os papéis e, portanto, isolaram sempre mais os reúnem discípulos.108 O profeta, seja ele Cristo, Buda
indivíduos uns dos outros. Diminuindo a solidarieda- ou Maomé, partilha um ensinamento ético e religio-
de mecânica das sociedades primitivas, aumentando so que freqüentemente se coloca em aberto contraste
a diferenciação social e a importância das profissões com a tradição, e que exige obediência por causa do
— ou seja, a racionalização da sociedade, diria We- carisma que emana do próprio profeta. Weber define
ber —, a probabilidade que se produzam estágios de o carisma como “uma qualidade considerada extra-
efervescência coletiva torna-se cada vez mais rara. ordinária... que se atribui a uma pessoa. Por conse-
Não é por acaso que Durkheim não se detém, como guinte, esta começa a ser considerada como alguém
observamos, em analisar a Religião na sociedade mo- dotado de força e de propriedades sobrenaturais ou
derna; ele se limita somente a uma menção relativa à sobre-humanas, ou pelos menos, excepcionais de
Revolução francesa, que cita como exemplo de efer- forma específica, não acessível aos demais, ou en-
vescência coletiva em época recente capaz de gerar tão, como enviada por Deus, ou como revestida de
uma nova religião, a da “deusa Razão”.103 A expli- um valor exemplar”.109 Uma vez que uma pessoa foi
cação de tal descuido deve ser procurado, provavel- reconhecida pelos seguidores como portadora de ca-
mente, no fato que o foco de atenção de Durkheim risma, cria-se uma situação de “statu nascenti”, que
está menos na sociologia da religião e mais naquela representa a antítese de tudo aquilo que é cotidiano,
geral. Em outras palavras, as Formas elementares che- tradicional, regulamentado; “ela deriva da excitação
gam à conclusão de sua pesquisa sobre os efeitos da comum de um grupo de homens, nascida de algo ex-
divisão do trabalho social, como uma resposta con- traordinário e da dedicação ao heroísmo, seja qual
fortadora — mas procurada no passado mais remoto for o conteúdo que ele possua”.110
— para a interrogação sobre como reagir, hoje, ao Em Weber, o conceito de carisma não é exclusiva-
perigo da anomia e à crise social geral. Durkheim mente usado em sentido religioso; de fato, ele apare-
encontra a resposta para o problema da auto-repro- ce em relação com a análise dos tipos de poder e das
dução da sociedade, no terreno ideal, na confiança estruturas de domínio,111 e, por isso, pode ser aplica-
inteiramente leiga que a “Sociedade”, diferentemente do também para explicar fenômenos não religiosos,
dos indivíduos que a compõem, seja imortal. Nesse como o fascínio exercido pelos ditadores no século
sentido, Céléstin Bouglé e, mais recentemente, Du- XX,112 ou também os movimentos sociais,113 a análise
vignaud104 denominaram a sociologia de Durkheim das instituições114 e da relação centro/periferia.115 O
como “sociologia espiritualista”. Nessa perspectiva, que distingue o carisma dos outros dois tipos de ide-
que pane da estreita ligação — no máximo, identida- ais de poder indicados por Weber, isto é, o tradicional
de — de social, moral e religioso, a questão do futuro e o legal, racional, é o fato de que a sua ação se exer-
da Religião na época moderna, que tanto preocupou ce mediante a via emocional, com base numa meta-

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11
nóia, numa conversão interior dos seguido, res; estes Isso tem importantes conseqüências também na
assumem como um dever a obediência ao portador natureza da experiência religiosa: os seguidores do
do carisma. Em suas manifestações mais intensas, o fundador de religião, não possuindo, em primeira
carisma demonstra ser “o poder revolucionário espe- pessoa, o carisma, devem limitar-se a reviver a ex-
cificamente ‘criador’ da história”,116 capaz de derru- periência dele, de forma secundária, isto é, media-
bar a regra e a tradição. A frase de Jesus: “Está escri- da por símbolos e ritos. Em outras palavras, os discí-
to... eu, porém, vos digo...”, representa eficazmente pulos institucionalizam o carisma, isto é, criam um
a descontinuidade existente entre o “status quo” e o corpo doutrinal, práticas cultuais e uma organização
carisma, cujo portador sente-se investi, do de uma sacerdotal, que constituem outros tantos suportes (e
“vocação” ou “missão”, apta a renovar a sociedade. mediações) para poder reviver, na vida cotidiana, a
Para Weber, as outras características do carisma experiência religiosa do fundador. As vicissitudes do
são o seu caráter irracional, isto é, a falta de regras e o Cristianismo, desde a morte de Jesus na cruz até a
alheamento a considerações econômicas, e a sua labi- constituição da primeira comunidade apostólica em
lidade. De fato, o portador do carisma deve dar provas Jerusalém, ilustram amplamente o processo de trans-
que continua investido: uma derrota leva ao abandono formação do carisma do funda, dor em prática coti-
dos seguidores. Além disso, a instabilidade do carisma diana. Assim formou-se a Igreja, um tipo particular
deve-se ao fato de estar ligado à pessoa do portador: de “hierocracia” (poder sagrado), enquanto é a asso-
com o desaparecimento ou a morte deste, impõe-se, ciação de fiéis que funda a própria autoridade “sobre
especialmente no caso de um líder religioso, a neces- o monopólio da concessão ou recusa dos bens de
sidade da institucionalização do próprio carisma, sob salvação”,120 ou seja, sobre a administração de um
pena de desaparecer e de perder a mensagem a ele “carisma de ofício”.121
conexa, como aconteceu no caso do Budismo, não IV. Weber como Marx, e diferentemente de
mais presente nos lugares da pregação originária.117 Durkheim, condivide a distinção de princípio entre
Em particular, dois são os problemas que o desa- Religião e sociedade;122 mas, ao contrário de Marx,
parecimento do chefe carismático coloca para o gru- aceita ambos os sentidos da relação entre os dois ter-
po dos seus seguidores: de um lado, há a questão da mos. De fato, a Religião pode ser tanto a legitimação
sucessão na função de chefe da comunidade religio- do status quo, por meio da “ética social orgânica”,
sa; do outro, impõe-se a estabilização da mensagem como pode produzir conseqüências revolucionárias,
(codificação) e a regularidade no abastecimento dos quando é “religiosidade de virtuosos”, os quais se pro-
meios inclusive materiais de sustentação, não poden- põem instaurar no mundo corrupto uma “lei natural
do mais contar com o fascínio pessoal do chefe ca- absoluta e divina.123 Por isso, segundo Weber, a Re-
rismático. Essa crise pode ser superada somente por ligião pode ter efeitos tanto de reforço e justificação
meio de um processo social que Weber chama de dos ordenamentos sociais existentes, como de crítica
“rotinização do carisma”, isto é, a transformação do e subversão destes últimos. O fulcro da atenção de
carisma em prática cotidiana:118 isso implica a solu- Weber desloca-se portanto sobre os efeitos que de-
ção do problema da sucessão ao chefe carismático e terminadas imagens religiosas do mundo, mediante
do problema da penetração, no social, da sua mensa- as respectivas normas éticas, têm sobre as respectivas
gem. A comunidade dos discípulos pode sobreviver sociedades, em particular sobre o agir econômico.124
ao desaparecimento do fundador somente modifi- Particular importância teve o influxo do carisma pro-
cando, de maneira radical, o caráter do carisma e da fético no Judaísmo antigo que, por meio da criação
autoridade que se funda sobre ele. De dom de graça, da religiosidade dos “virtuosos” em sentido ativo, isto
cuja possessão pode ser confirmada e provada, mas é, a ascese intramundana voltada a plasmar o mundo
não comunicada e apropriada, com a rotinização, segundo a vontade de Deus,125 começou o processo
o carisma pode ser transmitido por meios, original- de racionalização da sociedade, que levou à forma-
mente mágicos, a novos discípulos, oportunamente ção do mundo moderno.126
recrutados, socializados e colocados à prova, isto é, Nessa perspectiva de análise, para Weber a secu-
toma-se “um possível objeto de educação” e de aqui- larização consiste no progressivo afrouxamento das
sição.119 Todavia, isso implica uma transformação da relações entre Religião e sociedade. As diversas es-
experiência carismática: com a institucionalização de feras de vida — a política, a economia, mas também
normas, a formação de uma comunidade estavelmen- a esfera estética e erótica — no Ocidente são regidas
te organizada e a racionalização na gestão dos aspec- por normas próprias e têm relações cada vez mais
tos materiais e espirituais, a comunidade religiosa faz fracas com a ética religiosa; a Religião perdeu sua
com que o carisma entre de novo na vida cotidiana. capacidade de influenciar o agir social.127 O proces-

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12
so de racionalização, que com a ética profissional de um niquilismo de estilo nietzschiano,133 mas, ao
puritana atingiu o seu ponto mais elevado, traduziu- contrário, como crítica a um modo errado de conce-
se, por um lado, na renúncia da legitimação religio- ber a ciência moderna que supervaloriza e, ao mes-
sa por parte da atividade econômica e política, em mo tempo, desvaloriza a sua potencialidade.134
nome de uma crescente autonomia; por outro lado, O conceito de carisma constitui um exemplo de
verificou-se a diminuição da capacidade de manter a como Weber soube superar o duplo reducionismo
tensão entre carisma e prática cotidiana, que implica realizado pela crítica iluminista da Religião, isto é, a
a marginalização (renúncia ao mundo de tipo místico redução do simbolismo religioso a um epifenômeno
ou utópico), ou a irrelevância, por causa da excessi- dos processos econômicos e a conexa redução da ex-
va adaptação da Religião ao mundo. Na sociedade periência religiosa a processos psíquicos. Ao contrário
moderna, os processos sociais se fundam sobre uma de Durkheim que, nesse ponto, permanece substan-
racionalidade instrumental, que não requer nenhuma cialmente positivista, Weber renuncia a reduzir em
legitimação transcendente; ao mesmo tempo, o pro- termos imanentistas a experiência religiosa do crente,
cesso de racionalização penetra nas próprias igrejas e embora não renuncie, de maneira alguma, a compre-
em grupos cristãos, favorecendo uma reinterpretação ender-lhe o quadro de referência e a reconstruí-lo na
das crenças (por exemplo, no diabo, no inferno etc.). “linguagem” própria das ciências humanas, isto é, de
Se, nessas análises, Weber parece seguir, não nas maneira ideal-típica. Weber pensa, menos ainda, que
premissas, mas nos resultados, a crítica iluminista da seja possível deduzir do processo de racionalização,
Religião, em outras oportunidades ele evidencia, na que ele evidenciou, a impossibilidade do carisma re-
sociedade moderna, o surgimento de “religiões subs- presentar-se nas sociedades modernas. Depois de ter
titutivas” (Ersatz der religion),128 como a ciência, a distinguido três etapas da racionalização do carisma
arte, o erotismo etc. Estas se distinguem das religiões — o mago, o profeta, o salvador —, ao que poderia
universais por uma transcendência mediata, isto é, ser acrescentada a “iluminação carismática da razão”
que não tem referência a poderes sobrenaturais e que, que apareceu no Iluminismo,135 de modo algum ele
contudo, é capaz de exercer a função de conferir um exclui que aconteçam novos fenômenos carismáticos
sentido (contingente) ao cotidiano, sem, porém, pro- na época atual, nem lhe escapa a possibilidade de
duzir as mesmas conseqüências sobre o agir social. traduzir as expectativas de “salvação” dos estratos
Em outras palavras, em Weber parecem opor-se proletários nas ideologias de classe. Todavia, como
duas atitudes em relação à modernidade, que não o carisma é um poder extra, racional, Weber prefere
são facilmente conciliáveis, deixando o sociólogo não fazer previsões sobre a questão, pois lhe parece
de Heidelberg num dramático conflito interior.129 Por coisa imprudente, para uma ciência que queira res-
um lado, Weber apresenta-se como herdeiro do ra- peitar seus próprios limites.136
cionalismo clássico: em cenas passagens, a moderni- Por esses motivos, a noção de carisma teve uma
dade lhe parece um ponto sem retomo e a Religião ampla aplicação no campo sociológico e até hoje
um saber pré-científico, que requer o “sacrifício do continua preciosa para interpretar fenômenos, como
intelecto”,130 e que por iso é necessariamente colo- o surgimento de novos movimentos religiosos na so-
cada em crise pela ciência. Em outros lugares, Weber ciedade pós-industrial,137 o neomisticismo presente
mostra-se crítico a respeito da modernidade, que lhe no associacionismo católico,138 ou até a própria figura
aparece como o lugar das ambigüidades e contradi- de João Paulo II.139 Assinalamos, porém, a tendência
ções,131 capaz de transformar repentinamente as pró- de reinterpretar o carisma em sentido mais interior e
prias promessas de progresso e racionalidade num subjetivo; esta seria uma significativa transformação
irracionalismo capaz das piores barbáries. Todavia, do sentido que o carisma sorte na sociedade pós-in-
como Schluchter sustentou recentemente,132 em We- dustrial em relação à maior objetividade e possibi-
ber dá-se a superação definitiva da crítica iluminista lidade de verificação do dom de graça na tradição
da Religião: enquanto esta pretende substituir a Teo- pré-industrial.140
logia pela Antropologia (Feuerbach e Marx) ou pela V. O principal motivo que toma Weber muito crí-
ciência positiva (Comte), com Weber a Sociologia da tico em relação à modernidade e ao evolucionismo
Religião reconhece ao fenômeno religioso o caráter progressista, que caracterizava a teoria sociológica
de um universo de sinais e símbolos que tem leis pró- em sua época, é o caráter paradoxal do processo de
prias, no qual se expressa uma genuína experiência racionalização. Retomamos, aqui, o discurso feito em
humana. Nessa perspectiva, o “politeísmo dos valo- nível “macro-sociológico”,141 pois a crítica de Weber
res”, de que Weber fala, não deve ser interpretado à modernidade permite distinguir um ponto forte de
como afirmação de um subjetivismo insuperável ou conexão com o plano “micro”. Para Weber, a con-

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13
tradição fundamental da modernidade é que ela não Nessa tipologia já se pode perceber a relevância
está em grau de satisfazer a necessidade de sentido, a diferente que a experiência do sortimento e da dor
qual aumenta proporcionalmente à difusão da cultu- teve na história religiosa da humanidade. Sob esse
ra e da racionalização que ela mesma promove. Con- ponto de vista, também assiste-se a um processo de
forme a própria Antropologia, Weber142 descobre no racionalização das crenças: desde a primitiva teodi-
homem uma “necessidade metafísica de encontrar, céia, que considera a infelicidade como uma puni-
apesar de tudo, um sentido comum nestas tensões in- ção das próprias culpas, passando pela ascese como
superáveis”, isto é, de acolher um “significado” ético libertação da infelicidade (mediante a renúncia dos
na partilha desigual dos bens, que se constata, es- prazeres) e a aparição da figura carismática que traz
pecialmente na sociedade moderna. É esse o modo a redenção, até à religiosidade do Salvador (em Cristo
atual com que se coloca um problema universal que é o próprio Deus que experimenta o sortimento), We-
Weber chama, de acordo com a terminologia teológi- ber nota que a pergunta de significado torna-se mais
ca, o “problema da teodicéia”, ou seja, a justificação, elevada e, ao mesmo tempo, a resposta também se
do sofrimento, por parte de Deus, do mal e da morte toma mais profunda.
no mundo. Como a Bíblia narra no livro de Jó, Deus Todavia, a perspectiva de Weber não é evolucio-
é acusado de deixar que o justo sofra e o ímpio pros- nista: ao sublinhar esse aspecto, Tenbruck145 também
pere. Weber descobre a origem da Religião na expe- ressaltou que as diversas soluções oferecidas pelas
riência que cada homem realiza do próprio sortimen- religiões universais ao problema da teodicéia perma-
to ou do sofrimento do outro, que tanto mais o fere, necem como alternativas e não como seqüências em
quanto mais lhe parece imerecido, e na conseqüente perspectiva evolutiva. Sobretudo, permanece a al-
necessidade de encontrar uma resposta para esse es- ternativa de fundo entre uma concepção ascética da
candaloso limite da condição humana. Nas histórias vida (de tipo extra ou intramundano), em base à qual
das religiões, à pergunta universal de sentido foram o homem se considera “um instrumento de Deus”,
oferecidas diversas respostas; entre elas, Weber143 e uma concepção de tipo místico (também ela extra
distingue três sistemas coerentes, quais sejam: ou intramundana), pela qual o homem se compara
a) a doutrina hindu do karma: o sofrimento supor- a um vaso, enchido pelo divino.146 A via ascética foi
tado e a conduta de vida justa permitem adquirir sugerida pelo antigo Judaísmo e, em seguida, pelo
méritos para a outra vida, até que a alma consiga Puritanismo, enquanto que a via mística caracteriza
escapar do ciclo de reencarnações, subtraindo- as religiões da Índia. Não nos devemos esquecer, po-
se, assim, definitivamente, do sortimento e da rém, que o Catolicismo como ortodoxia e, em medi-
morte; da menor, o Luteranismo, conservaram em si a pos-
sibilidade de percorrer tanto um como outro desses
b) a doutrina dualista de Zaratustra: postulando o caminhos de salvação.147
etemo contraste entre o Deus bom e o Deus mau,
Weber observa que a idade moderna, porém, não
essa doutrina justifica a presença do mal no mun-
parece estar em grau de oferecer soluções ao proble-
do e assegura ao crente o triunfo final do bem;
ma da teodicéia, a não ser aquelas oferecidas pelas
c) a doutrina calvinista da predestinação (dupla): religiões universais: o “politeísmo dos valores” e a
a concepção do “Deus absconditus” que, com impossibilidade de assegurar, não obstante as pro-
decreto imperscrutável e imutável, predestina messas da Declaração Universal dos direitos huma-
uns para a salvação e outros para a condenação, nos, felicidade e justiça social para todos, caracteri-
justifica também as diferenças sociais e profissio- zam dramaticamente a modernidade. Weber soube
nais, como prova da eleição divina. expressar, com aguda sabedoria, o caráter conflitual
e paradoxal da racionalização — o incremento expo-
A esses três tipos puros de teodicéia do sortimen- nencial da pergunta de sentido e a impossibilidade
to, individuados na Sociologia das religiões, Weber de respondê-la permanecendo dentro da razão instru-
acrescenta um quarto tipo em Economia e socieda- mental —; contudo, seria fora de propósito contrapor
de: trata-se da escatologia messiânico-mundana, que carisma e racionalização, considerando esta última
oferece uma compensação dos sofrimentos presentes como sinônimo de secularização. Como foi oportu-
no futuro imediato ou também num futuro longínquo, namente demonstrado por Seyfarth,148 ao reconstruir
mas sempre em nível intra, mundano, empenhando a o debate sobre sociologia alemã dos anos 70, o pen-
ação das gerações presentes em vista das conseqüên- samento weberiano não pode ser considerado como
cias redentoras ou punitivas que poderá ter para as uma teoria da secularização, por dois motivos: pri-
gerações futuras.144 meiro, porque tal pensamento não é sistemático; em

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14
segundo lugar, porque o núcleo da reflexão de Weber do” de maneira alguma exclui a possibilidade que se
é dado pela antítese entre carisma e tradicionalismo/ instaure uma nova dialética entre carisma e razão,
vida cotidiana. Nessa perspectiva, o diagnóstico pes- capaz de superar o ingênuo reducionismo da crítica
simista que ela realiza sobre o “desencanto do mun- iluminista da razão.149

(Footnotes)
*
Texto extraído da obra A religião na sociedade pós-moderna, de Stefano Martelli, São Paulo, Paulinas, 1995, pp 135-
206.
1
Cf. P. L. Berger, La sacra volta. Elementi per una teoria sociologica della religione, SugarCo, Milano, 1984, Apêndice; (ed.
or.: 1967). Tradução brasileira, O Dossel Sagrado. Elementos para uma teoria sociológica da Religião, Paulinas, SP, 1984.
2
Cf. par. l.
3
Cf. par. 2.
4
Cf. par. 3.
5
Cf. par. 4.
6
Cf. par. 5.
7
Cf. Facchini, Il sacro, le origini l`uomo arcaico, la morte, in Ries, ao cuidado de, Trattato di antropologia del sacro, I: Le
origini e il problema dell`Homo religiosus, Jaca Book-Massimo, Milano,1989, 141-165, especialmente 150.
8
Cf. E. Anati, Elernenti fondamentali della cultura, Jaca Book, Milano, 1983; Id., Origini dell’arte e della concettualità, Jaca
Book, Milano, 1988.
9
Cf. E. Morin, L’uomo e Ia morte, Newton Compton, Roma, 1980.
10
Cf. Também, par. 2.
11
Cf. J. Rios, Introduzione, in Id., ao cuidado de, Trattato di antropologia del sacro, I, 24-25.
12
R. Otto, II sacro, L’irrazionale nella Idea Del divino e la sua relazione al rezionale, (ed. or. 1917), Feltrinelli,
Milano, 19842, 18s.
13
Cf. S. Freud, L’avvenire di un’illusione (1927), in Opere, Boringhieri, Torino, 1979, X, 435,489.
14
Cf. E. Husseri, Meditazioni cartesiane, Bompiani, Milano, 19702.
15
A expressão “terminologia da Religião” é do holandês P. D. Chantepie de la Saussaye, que desde 1878
ensinou História das Religiões na Universidade de Amsterdã. Todavia, não obstante a nova terminologia,
tratava-se somente do momento sistemático de um método que permanecia substancialmente de tipo
histórico-comparativo, conforme os estudos da época sobre a Religião em perspectiva evolucionista dos
quais, Tylor e Frazer eram os expoentes mais conhecidos.
Para Giovanni Filoramo (Le scuole fenomenologiche, in G. Filoramo-C. Prandi, Le scienze delle religioni,
Morcelliana, Brescia, 1987, 33), a obra de Chantepie, além de seu valor intrínseco, é um exemplo da
primeira maneira de entender a fenomenologia da Religião, isto é, como “análise descritiva e sistemática dos
fenômenos religiosos sobre base comparada”. O segundo e mais relevante modo de entendê-la é, porém,
a fenomenologia abrangente, que se coloca na esteira da “reviravolta hermenêutica” realizada nas pegadas
de Schleiermacher, por Wilhelm Dilthey (cf. L’etica di Schleiermacher, Guida, Napoli, 1974, e a obra maior
Id., Introduzione alle scienze dello spirito. Ricerca di un fondamento alle scienze della società e della storia,
Einaudi, Torino, 1949); pesquisa que chega a uma maior consciência, após as pesquisas metodológicas de
Edmund Husserl (a partir de Idee per una fenomenológica pura e per una filosofia fenomenológica, (1913),
Einaudi, Torino, 1950) e seguidores.
16
G. Van Der Leeuw, Fenomenologia della religione, (1933), Boringhieri, Torino, 19702, 530.
17
Cf. P. Ricoueur, Della interpretazione. Saggio su Freud, Il Saggiatore, Milano, 1967.
18
Cf. Van Der Leeuw, Fenomenologia della, 537; em itálico no texto.
19
Cf. Orlo, Il sacro, c. II-IV.
20
Cf. F. D. E. Schleiermacher, Discorsi sulla religione e Monologhi, La Nuova Italia, Firenze, 1947 (ed. or.
1799).
21
Otto, Il sacro, 48.
22
Agostino D´lppona, As Confissões, 1.XI, IX. “Eu tenho medo dele e, ao mesmo tempo, ardo por ele; medo,
enquanto me sinto totalmente diferente dele; ardor, enquanto eu sou semelhante a ele”.
23
Otto, Il sacro, 113.
24
Otto, Il sacro, 57-60.
25
Otto, Il sacro, 113.

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15
26
Otto, Il sacro, 113-134.
27
Otto, Il sacro, c. 18, 130-131.
28
Otto, Il sacro, 131.
29
Otto, Il sacro, 140.
30
Otto, Il sacro, c. 22, 153-162.
31
Otto, Il sacro, 162.
32
Cf. M. Eliade, Trattato di storia delle religioni, Boringhieri, Torino, 19813; (ed. or.: 1948). Tradução portuguesa,
Tratado de História das Religiões, cosmos, Lisboa, 1977. Id., Il sacro e il profano, Boringhieri, Torino, 1967.
(ed. or.: 1957). Tradução portuguesa, Sagrado e Profano, Livros do Brasil, Lisboa.
33
M. Eliade, Storia delle idee e delle credenze religiose, 4 vol., Sansoni, Firenze, 1981, I, 7. Tradução brasileira,
História das idéias e Crenças Religiosas, Záhar, RJ, 1978-1984 (5 vol.).
34
Cf. M. Eliade, Miti, sogni e misteri, Rusconi, Milano, 1976; Tradução portuguesa, Mitos, Sonhos, Mistérios,
Edição 70, Lisboa, 1988. ld., Occultismo, stregoneria e mode culturali, Sansoni, Firenze, 1982. Tradução
brasileira, Ocultismo, Bruxaria e Correntes Culturais, Luterlivros, Belo Horizonte, 1973. Para uma crítica
profunda dos mitos das sociedade contemporânea, cf. também G. Morra, Dio senza Dio: I: L’esperienza
religiosa; II: Ateismo e secolarizzazione, Japadre, L´Aquila-Roma, 1981-1989; ld., Il quarto uomo, in “Studi
di sociologia” XXIII (1985)4, 329-337.
35
Cf. M. Eliade, La nostalgia delle origini. Storia e significato nella religione, Morcelliana, Brescia, 1972.
Tradução portuguesa, Origens-História e Sentido da Religião, Edição 70, Lisboa, 1989.
36
Cf. M. Eliade, lmmagini e simboli, Jaca Book, Milano, 1981. (ed. or.: 1952). Tradução portuguesa, Imagens
e Símbolos, Ed. Arcádia, Lisboa, 1979.
37
De Eliade, Storia delle idee e delle credenze religiose, e Miti, sogni e misteri, cf. também M. Eliade,
Occultismo, stregoneria e mode culturali, Sansoni, Firenze, 1982.
38
Van der Leeuw, Fenomenologia della religione.
39
W. Schmidt, Manuale di storia comparata delle religioni, Morcelliana, Brescia, 19494, 9.
40
Cf. Van der Leeuw, Fenomenologia della religione,X.
41
Cf. G. Filoramo-C. Prandi, Le scienze delle religioni, 35.
42
Cf. E. Husseri, Idee per uma fenomenologia pura e per una filosofia fenomenológica, 82-112.
43
Cf. o par. VI.
44
Além de L’etica di Schleiermacher, e da obra maior, Introduzione alle scienze dello spirito, já citadas na nota
15, de W. Dilthey, recordamos Critica della ragione storica, Einaudi, Torino, 1954.
45
Cf. M. Scheler, L’Eterno nell’uomo, Fabbri, Milano, 1972 (ed. or. 1933); para outros particulares, cf. c.
1.2.VI.
46
Cf. também c. 2.6.
47
Cf. K. Jaspers, Metafisica, ao cuidado de U. Galimberti, Munia, Milano, 1972.
48
Cf. L. Binswanger, Per un’antropologia fenomenologia, Feltrinelli, Milano, 1984.
49
Cf. F. Heiler, Le religioni dell’umanità, Jaca Book, Milano, 1985 (ed. or. 1960).
50
Cf. G. Mensching, Soziologie der Religion, Rohnscheid V., Bonn, 1947.
51
Cf. G. Lanczkowski, Einsführung in die Religionsphänomenologie, Wissenschaftliche Buchgesellschaft,
Darmastadt, 1978. Para outras informações sobre a escola de Marburgo e sobre a escola fenomenológica
holandesa, remeteremos ao que escreveu Filoramo, Le Scuole fenomenologiche,, in Filoramo-Prand, Le
scienze delle religioni, 40-49 e 49-53, respectivamente. Filoramo vislumbra uma espécie de “pêndulo
interpretativo” entre o problema comparativo e o hermenêutico, os quais mostram os dois principais
endereçamentos da fenomenologia da Religião, o descritivo-comparativo e o abrangente (cf. Ibidem, 63).
52
Cf. G. Widengren, Fenomenologia della religione, EDB, Bologna, 1984 (ed. or. 1969).
53
Cf. também c. 2.2.1.
54
Cf. o testemunho de Sabbatucci, La lezione inaugurale [de Pettazzoni, n.d.r.] in A. Brelich-D. Sabbatucci-
U. Bianchi-G. Widengren, Dedicato a Raffaele Pettazzoni, in “Studi e Materiali di Storia delle Religioni”
VII(1983),18.
55
Cf. B. Croce, Le condizione presenti della storiografia in Italia, II: La storiografia della filosofia e della
religione, in “La Critica”, vol. 27, 161-176; reimpressa in Id., La Storia della storiografia italiana nel secolo
decimonono, Laterza, Bari, 1929.
56
Cf. A. Omodeo, Tradizioni morali e disciplina storica, Laterza, Bari, 1920,85.

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16
57
Cf. U. Bianchi, Raffaele Pettazzoni e la JAHR (Internacional Association for the History of Religion), in
Brelich-Sabbatucci-Bianchi-Widengren, Dedicato a Raffaele Pettazzoni, 11.
58
Cf. A cuidadosa bibliografia de e sobre Pettazzoni, organizada por M. Gandini como complementação da
sua reconstrução da obra do mestre, in E. De Martino-A. Donini-M. Gandini, Raffaele Pettazzoni e gli studi
storico-religiosi in Italia, Forni, Bologna, 1969, 31-45.
59
Cf. R. Pettazzoni, La religione nella Grecia ântica fino ad Alessandro, UTET, Torino, 1953.
60
Cf. R. Pettazzoni, L’onniscienza di Dio, Einaudi, Torino, 1955; Id., Miti e leggende, 4 vol., UTET, Torino,
1948-1963; Id., L’essere supremo nelle religioni primitive, Einaudi, Torino, 19772.
61
Cf. W. Schmidt, Manuale di storia comparata delle religioni, Morcelliana, Brescia, 19494.
62
Cf. Pettazzoni, Il metodo comparativo, “Numen”, VI, republicado em M. Gandini, ao cuidado de, Religione
e società, Ponte Nuovo, Bologna, 99-113.
63
Pettazzoni, Il metodo comparativo, 108.
64
Pettazzoni, Il metodo comparativo, 110.
65
Pettazzoni, Il metodo comparativo, 121-138.
66
Cf. in E. De Martino-A. Donini-M. Gandini, Raffaele Pettazzoni e gli studi storico-religiosi in Italia, Forni,
Bologna, 1969, 90ss.
67
Cf. A. Di Nola, La Religioni, storia delle, em Enciclopedia delle Religioni, Vallecchi, Firenze, 1974, V, 292-
294.
68
Cf. A. Brelich, Introduzione alla storia delle religioni, Ed. Dell’Ateneo, Roma, 1966; Id., Mitologia, contributo
a un problema di fenomenologia religiosa, in Líber Amicorum. Studies in Honour of C. J. Bleeker, Brill,
Leiden; Id., Storia delle religioni: perché?, Liguori, Napoli, 1979; Id., Saggi di metodologia della storia delle
religioni, Ed. dell’Ateneo, Roma, 1979.
69
Cf. C. De Martino, Morte e pianto rituale nel mondo antico, Einaudi, Torino, 1958 (ed. Ss. Boringhieri, ivi).
Id., Sud e magia, Feltrinelli Milano, 1959; Id., La terra del rimorso, Il Saggiatore, Milano, 1961.
70
Cf. V. Lanternari, Occidente e Terzo Mondo, Dedalo, Bari, 1967; Id., Movimenti religiosi di libertà e di
salvezza dei popoli oppressi, Feltrinelli, Milano, 1974 (1ª ed.: 1959). Tradução brasileira, As Religiões dos
Oprimidos, Perspectiva, São Paulo, 1974. Id., La religion populaire. Perspective historique et anthropologique,
in “Archives des Sciences Sociales des Religions” 53 (1982) 2, 121-143; Id., Festa, carisma, apocalisse,
Sellerio, Palermo, 1983; Id., Rispensado a Mircea Eliade, in “La Critica sociologica” (1986) 79, 67-82.
71
Cf. Prandi, Le scuole storico-religiose, in Filoramo-Prandi, Le scienze delle religioni, 78-79.
72
G. de Luca, Introduzione allá storia della pietà, p. I: Archivio italiano per la storia della pietà (1951); p. II;
Scrittori di religione del Trecento (1954), Edizioni di Storia e Letteratura, Roma, 1962, 9.
73
“J edis beaucoup de peroles parce que je ne suis pas encore au found que je cherche” (cf. De Luca,
Introduzione allá storia della pietà,132). A frase pode ser traduzida do seguinte modo: “Digo muitas palavras,
porque ainda não cheguei ao fim da minha busca”.
74
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 26.
75
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 7-8.
76
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 27-37; 94-95.
77
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 101-104.
78
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 122.
79
Cf. De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 121.
80
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 37.
81
Cf. De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 107.
82
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 71.
83
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 49.
84
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 49.
85
R. Guarnieri, Don Giuseppe De Luca (1898-1962) tra cronaca e storia, in G. Rossini, ao cuidado de,
Modernismo, facismo, comunismo. Aspetti e figure della cultura e della politica dei cattolici nel’ 900, II
Mulino, Bologna, 1972, 257-258.
86
Cf. c. também 2.4.
87
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 177.
88
De Luca, Introduzione alla storia della pietà, 115.
89
Cf. S. Martelli, Marcel Mauss. Uma Introduzione, Armando, Roma, 1987, c. 2, especialmente 33s.

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90
Cf. P. Abrams, Sociologia storica, Il Mulino, Bologna, 1983; C. Prandi, Dinamismi del sacro fra storia e
sociologia, Morcelliana, Brescia, 1988.
91
Cf. c. 1.2.V. e c. 4.3.
92
Cf. K. Marx-F. Engels, Scritti sulla religione, Savelli, Roma, 1969. Tradução portuguesa, Sobre a Religião,
Edição 70, Lisboa.
93
Cf. c. 1.2.II-III.
94
Cf. c. 1.3.II.
95
Cf. J. A. Prades, Persistance ou métamorphose du sacrè, PUF, Paris, 1987.
96
Cf. É. Durkheim, Le elementari della vita religiosa. Il sistema totemico in Australia, Comunità, Milano,
19712, 51-74.
97
Cf. Durkheim, Le forme elementari, 75-107.
98
Cf. também M. Halbwachs, Les origines du sentiment religieux après Durkheim, Stock, Paris, 1925, 49-50.
99
Cf. c. 1.3.III.
100
Cf. T. O’Dea, Sociologia della religione, Il Mulino, Bologna, 1968, 37-39.
101
Cf. Durkheim, Le forme elementari, 227ss.
102
Mostramos a extensão das pesquisas sócio-religiosas feitas por Mauss e Hubert, de cujos resultados se valeu
o próprio Durkheim em Le forme elementari, no nosso Marcel Mauss, c. II, 33-81, ao qual remetemos para
maiores aprofundamentos.
103
Cf. Durkheim, Le forme elementari, 236.
104
Cf. Duvinaud, Durkheim. Sa vie, son oeuvre, avec un exposé de sa philosophie, in J. Duvignaud-F.
Ferrarotti-A. Izzo, Individuo e società in Durkheim, Ianua, 1981, especialmente as páginas 31-34. A tese
já tinha sido proposta por C. Bouglé, Le spiritualisme d’Émile Durkheim, in “Revue Bleue” LXII, 550-553,
e depois retomada por G. Gurvitch, La vocation actualle de la sociologie, PUF, Paris, 19502. Barbano é de
parecer diferente; para ele, o novo curso que levou Durkheim a estudar o fenômeno religioso não deve ser
interpretado como “mudança ou substituição de argumentos de pesquisa”, mas como a “transformação
dos interesses estruturais em interesses culturais, para a qual a “religiosidade”, como fato de cultura,
se dicotomiza com a “socialidade” como fato de estrutura” (F. Barbano, Scienza sociale e socialismo:
Durkheim e dopo, ensaio introdutórioa E. Durkheim, Il socialismo, Angeli, Milano, 1973, 105, em cursivo
no texto). Além disso, Barbano esclarece que, ao contrário de Parsons, Durkheim entende a “dicotomia
estrutura-cultura como vinda logo após a dicotomia estrutura material-consciênciacoletiva. (Ibidem,
170).
105
Cf. c. 1.4.
106
Cf. Durkheim, Le forme elementari, 467.
107
Cf. S. Moscovici, La machine à faire des dieux, Fayard, Paris, 1988, 119.
108
Cf. M. Weber, Economia e società, 2 vol., Comunità, Milano, 1961, I, parte II, c. V, 4, 445ss.
109
Cf. M. Weber, Economia e società, I, 238. Cf. também M. Weber, Sociologia delle religioni, UTET, Torino,
1976, I, 360-361. O próprio Weber declara ter tomado o têrmo “carisma”, do teólogo protestante R. Sohn,
Kirchenrecht, Leipzig, 1893.
110
Cf. M. Weber, Economia e società, II, 442.
111
Cf. M. Weber, Economia e società, II, c. IX, 3, sessão. VI, 431ss.
112
Cf. F. L. Cavalli, Il capo carismatico. Per uma sociologia weberiana della leadership, Il Mulino, Bologna,
1981; Id., Carisma e tirannide nel secolo XX. Il caso Hitler, Il Mulino, Bologna, 1982.
113
Cf. F. Alberoni, Stati nascenti, Il Mulino, Bologna, 1968; Id., Movimento e istituzione, Il Mulino, Bologna,
1977.
114
Cf. S. N. Eisenstadt, La teoria dell “Ética Protestante” in un contesto analitico e comparativo, in “Quaderni
Storici delle Marche” (1967)5, 161-186; Id., Carisma e istituzioni: Max Weber e la sociologia moderna, in
“Studi di sociologia” (1969)3.
115
Cf. E. Shils, Il carisma, in Id., Centro e periferia, Morcelliana, Brescia, 1984.
116
Cf. Weber. Economia e società, II, 438.
117
Cf. Weber. Economia e società, II, 445.
118
Cf. Weber. Economia e società, I, 238-248.
119
Cf. Weber. Economia e società, II, 466.
120
Cf. Weber. Sociologia delle religioni, I, 359.
121
Cf. Weber. Sociologia delle religioni, II, 489.

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122
Cf. L. Cavalli, Max Weber: religione e società, Il Mulino, Bologna, 1968, especialmente 465-491.
123
Cf. Weber. Sociologia delle religioni, II, 603.
124
Cf. M. Rossi, L’analisi sociológica delle “religioni universali”, in Id., ao cuidado de, Max Weber e l’nanalisi
del mondo moderno, Einaudi, Torino, 1981, 130ss.
125
Cf. Weber. Sociologia delle religioni, 352-355.
126
Cf. c. 1.4.III.
127
Cf. Weber. Sociologia delle religioni, II, 595-607.
128
Cf. Weber. Sociologia delle religioni,
129
Cf. A. Mitzman, The Iron Cage, crosset & Dunlop, New York, 1971.
130
Pensemos nas últimas páginas da Ciência como profissão, em que Weber exprime claramente o caráter
paradoxal da racionalização — o incremento exponencial da pergunta de sentido e a impossibilidade de
respondê-la permanecendo dentro da razão instrumental —; elas conferem à sua análise da modernidade
um pathos e uma dramaticidade ainda bastante atuais: “É o destino de nossa época, com sua característica
racionalização e inteletualização, e sobretudo com seu desencanto do mundo, que precisamente os valores
supremos e sublimes se tenham tomado alheios ao grande público, para refugiar-se no reino extramundano
da vida mística ou na lratemidade das relações imediatas e diretas entre os indivíduos. Não é por acaso
que a nossa melhor arte seja intima e não monumental e que hoje somente no seio das mais restritas
comunidades, na relação homem a homem, no pianissimo, palpite aquele indizível que antes pervadia e
cimentava como um sopro profético e uma chama impetuosa as grandes comunidades. Tentemos forçar e
‘suscitar’ um sentido monumental da arte e eis que nasce um piedoso aborto como aquele dos numerosos
monumentos comemorativos dos últimos 20 anos. Algo de semelhante se reproduzirá na esfera interior,
com efeitos ainda mais deletérios, se tenta cogitarmos novas formas religiosas sem uma nova e genuína
profecia... Para quem não esteja em grau de enfrentar virilmente esse destino da nossa época é preciso
aconselhá-lo a retomar ao silêncio, sem a costumeira conversão publicitária, mas pura e simplesmente,
nos braços das antigas igrejas, ampla e misericordiosamente abertas” (cf. M. Weber, La scienza come
professione e La politica como professione, in Id., Il lavoro intellettuale come professione, Einaudi, Torino,
19662, 41-42.
131
Cf. J. Séguy, Rationalisation, modernité et avenir de la religion chez Max Weber, in “Archives des Sciences
Sociales dês Religions” XXXI (1986) 61/1, 127-138.
132
Cf. W. Schiluchter, Der Kampf der Götter: von der Religionskritik zur Religionssoziologie, Heidelberg,
1988, 5-6.
133
Para uma reconstrução do debate sobre o assunto, permita-nos remeter a S. Martelli, Max Weber nichilista?
Uma discussione sulla “Weltanschauung” e sulla “dottrina della scienza” weberiane, in G. Morra, La scure
del nulla. Nichilismo e società, Japadre, L’Aquila, 1984, 163-193.
134
Cf. Schluchter, Der Kampf der Götter, 12-13.
135
Cf. Weber. Economia e società, II, 540.
136
Cf. M. Weber, L’etica protestante e lo spirito del capitalismo, Sansoni, Firenze, 19773, 306.
137
Cf. J. A. Beckford, ao cuidado de, Nuove forme del sacro. Movimento religiosi e mutamenti sociali, Il
Mulino, Bologna, 1990; T. Robbins-J. A. Beckford, ao cuidado de, Cults, Converts and Charisma: The
Sociology of New Religious Movements, in “Curret Sociology”, 36 (1988)1 primavera.
138
Cf. E. Pace, Asceti e mistici in una società secolarizzata, Marsílio, Vvenezia, 1983. Para um maior
aprofundamento, remetemos ao c. 4.2.5.
139
Cf. J. Séguy, Charisme de fonction et charisme personnel: le cas de Jean-Paul II, in J. Séguy-H. Hervieu-
Légier-F. Champion e outros, Voyage de Jean-Paul II en France, Cerf, Paris, 1988, 1-34.
140
Cf. F. Ferrarotti, Una fede senza dogmi, Laterza, Roma-Bari, 1990, 232; E. Tedeschi, Per una sociologia del
millennio. David Lazzaretti: carisma e mutamento sociale, Marsílio, Venezia, 1989.
141
Cf. c. 1.4.III.
142
Cf. Weber, Sociologia delle religione, II, 624.
143
Cf. Weber, Sociologia delle religioni, I, 325-366, e II, 623-625.
144
Weber, Economia e società, I, 515-522.
145
Cf. F. H. Tenbruck, The Problem of Thematic Unity in the Works of Max Weber, in “British Journal of
Sociology” 31(1981), 313-351.
146
Cf. Weber, Sociologia delle religioni, I 354-355.

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147
Cf. H. J. Helle, Max Weber e le scienze sociali dell’età contemporanea, in “Fenomenologia e Società”
V(1982) 17.59.
148
Cf. C. Seyfarth, The West German Discussion of Max Weber’s Sociology of Religion since the 1960s, in
“Social Compass” XXVII (1980) 1, 22-23.
149
Cf. W. Schuchter, Der Kampf der Göther: Von der Religionskritik zur Religionssoziologie, Heidelberg,
1988.

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