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A Luta

Santos, 1º de maio de 2021. Edição especial do Dia Internacional dos Trabalhadores.


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Por que comemorar o 1º de maio? Quem somos???


Nós somos o Boletim A Luta, um veículo de imprensa alternati-
va dirigido e feito por trabalhadores, para outros trabalhadores de San-
tos. Não somos o jornal mais conhecido da Baixada Santista, filiado
àquela rede de TV de maior audiência do Brasil. Nem mesmo seu princi-
pal concorrente regional. Somos formados por um pequeno grupo de
professores, estudantes dos mais diversos cursos, trabalhadores do co-
mércio e de serviços, todos estes que, juntos com um jornalista registra-
do, resolveram fazer a diferença a partir de uma imprensa independente
e que não seja vendida para patrões, governos, e oligarquias locais.
Porém, nada disso quer dizer que inventamos a roda: seguimos a
Comemoração do 1º de maio de 1895. (Foto: Marques Pereira). tradição do pioneirismo das lutas santistas que culminaram na abolição
Não podemos esquecer que o anos de prisão. Assim, no mundo to- municipal da escravatura, 22 anos antes da assinada pela Princesa Isa-
Primeiro de Maio, Dia Internacional do, pouco a pouco, trabalhadores pas- bel, graças às lutas dos quilombos de Jabaquara, Pai Felipe, e Santos-
dos Trabalhadores, é uma homenagem saram a homenagear estes mártires no Garrafão; da fundação do Centro dos Estudantes de Santos, o CES, a
aos lutadores que foram presos e con- 1º de maio, e a data foi escolhida como
primeira entidade estudantil brasileira; da tradição de luta de personali-
denados à morte após participarem de um dia de luta dos trabalhadores e tra-
uma manifestação em defesa da jorna- balhadoras em todo o mundo. dades como João Freire de Oliveira, Adolfo Roitman, Leonardo Roit-
da de oito horas, num sábado, no 1º de A luta por jornadas de trabalho man, Zuleika Alambert e Laudelina Campos Mello na luta por melhori-
maio de 1886 em Chicago, Estados de até oito horas, por salários e remu- as para as diversas categorias de trabalhadores; Patrícia Galvão na cultu-
Unidos. Naquele dia, milhares de tra- nerações dignas, melhores condições
ra; Luiz Rodrigues Corvo, enquanto liderança do extinto Fórum Sindi-
balhadores e trabalhadoras haviam ido de trabalho, garantia de oferta empre-
às ruas lutar pela redução das jornadas gos e de seguridade social sempre esti- cal de Debates e vereador cassado pela ditadura militar; o professor e
de trabalho sem redução de salários. veram presentes nas lutas dos sindica- psicólogo Luiz Celso Manço, nas áreas da educação e da luta antimani-
As jornadas chegavam, na épo- tos e das organizações de trabalhado- comial; mas, também, saudamos a primeira comemoração registrada
ca, a 16 horas por dia nos Estados Uni- res no enfrentamento ao capital e ao
de um 1º de maio no Brasil, ocorrida em Santos em 1895.
dos. O lema do movimento de traba- patronato que vivem da exploração do
lhadores, que daria origem aos sindica- trabalho apropriando-se da maior parte Queremos colocar nossa disposição militante para as pessoas de
tos, era “em um dia trabalharemos oito da riqueza produzida pela classe traba- boa intenção em Santos e Baixada Santista, que vivem de seu próprio
horas, dormiremos outras oito, e fare- lhadora. Por isso mesmo, devemos trabalho, sem qualquer perspectiva de lucro, eleitoreirismo, ou benesses
mos todo o resto noutras oito”, por denunciar tentativas de apropriações
pessoais, no atual contexto de terra arrasada formado pelos governos de
isso esta justa reivindicação foi a senha oportunistas desta histórica data, assim
para grandes manifestações, que de- como até mesmo sindicatos e centrais Rogerio Santos, João Dória e Jair Bolsonaro, uma pandemia gestada
sembocaram numa greve geral. Porém, sindicais que descaracterizam o 1º de por políticas genocidas, e outras decisões definidas pelo compadrio e
como nada é entregue tão facilmente, maio fazendo dele um grande festival pelo “toma lá, dá cá” nesta data histórica de luta da classe trabalhadora
o governo e a burguesia mandaram a despolitizado, às vezes até mesmo com
que se tornou um feriado e vem sendo cada vez mais descaracterizada.
repressão policial, e oito trabalhadores sorteios de carros e motos e patrocínios
Hoje, devido ao COVID-19, não vamos nos abraçar, mas apesar disso
anarquistas foram acusados sem pro- de empresas e políticos que não se fur-
vas de explodir uma bomba em direção tam de explorar a classe trabalhadora vamos nos esforçar para permanecer com os corações cada vez mais li-
a policiais: sete deles foram condena- em todos os outros dias do ano. Resga- gados apesar do distanciamento social.
dos à pena de morte e o outro a 15 temos uma Santos de luta!
Texto da UJC 1
cvcvcvcv

Celso Manço, presente!


Luiz Celso Manço nasceu em
Ribeirão Preto-SP em 1943,
onde estudou Psicologia
(USP), participou do movi-
mento estudantil, e foi profes-
sor de cursinho pré-vestibular.
Eram tempos de ditadura mili-
tar, e estas atividades já eram
vistas como subversivas. No iní-
cio da década de 1960 foi re-
crutado pelo PCB, passando a
militar na Aliança Libertadora
Nacional (ALN) por um curto
período de tempo, regressando
Texto da UJC 2 ao PCB antes de 1970 nunca
cvcvcvcv mais saindo do partido.
Em 1970 foi preso por
“subversão” e enviado para a
Operação Bandeirantes
(OBAN) no DOI-CODI, em
São Paulo, onde foi torturado.
No mesmo ano se muda para
Santos com a esposa e passa a
trabalhar na COSIPA quando,
descoberta sua ficha política, é
demitido; todavia, em 1972 é
convidado para fundar e lecio-
nar no Curso de Psicologia da
UNISANTOS, de onde só se
aposentaria em 2014, forman-
do gerações de psicólogos e
tendo atuação fundamental na
intervenção do Hospital Psi-
quiátrico Anchieta (a “casa dos
horrores”). Mais velho, foi co-
autor de vários sambas de en-
redo da Banda da Pompéia.
Faleceu em 21 de junho de
2020 em Santos.
A urgência de um primeiro Por emprego, comida e vacina:
de maio classista! Fora Bolsonaro-Mourão!
De Fórum Sindical, Popular e de Juventudes BASTA, em defesa da Vida – Fora Bolso-
por Direitos e Liberdades Democráticas. naro e Mourão! A classe trabalhadora vai
resistir e para isso é fundamental priorizar
Há 135 anos essa data foi cunhada as pautas que fazem enfrentamento a essa
na luta por melhores condições de trabalho ofensiva. Lockdown nacional, auxílio emer-
contra a fúria e a ganância do Capital. Foi gencial de R$ 600,00, vacina para todas e
assim que em 1886 trabalhadores e traba- todos pelo SUS, com a quebra de patentes e
lhadoras de Chicago (EUA) realizaram o Fora Bolsonaro Mourão traduzem a luta
protestos e foram duramente reprimidos. que todas e todos precisamos organizar.
No Brasil, em 1894 na cidade de Porto Ale- Além disso, a fome, a falta de insumos, a
gre foi registrada a primeira manifestação ausência de condições básicas para os cui-
pública em alusão à luta da classe trabalha- dados contra a pandemia tem classe, tem
dora. No processo de organização da classe raça/etnia e tem gênero!
o 1º de Maio foi se consolidando como Neste cenário, para fazer frente ao
uma data para marcar a luta, para marcar genocídio, à fome, à miséria, ao desempre-
que há resistência contra a exploração e go é fundamental a unidade das entidades
opressão, para marcar sua autonomia e da classe trabalhadora e dos oprimidos:
independência e para marcar o caráter soli- centrais, frentes, sindicatos, movimentos
dário e internacionalista da classe. É com populares, organizações da juventude, asso-
esses princípios que trabalhadoras e traba- ciações de bairros. É muito importante or-
lhadores organizam atividades para firmar ganizar atos classistas e solidários para fa-
essa posição e indicar as pautas necessárias zer um 1º de Maio pela Vida e em nome da
para garantir e ampliar direitos e, ainda, histórica luta da classe trabalhadora.
fortalecer a luta coletiva. Infelizmente a maioria das Centrais
O 1º de Maio de 2021 mundialmente Sindicais romperam essa unidade e decidi-
será registrado pela tragédia humanitária: ram convocar um ato nacional de 1º. de
crise sanitária de proporções mundiais e maio convidando muitos algozes da popu-
sem precedentes na história, além da crise lação trabalhadora: vários governadores, os
econômica, social e política. A pandemia presidentes da câmara e do senado, para
pela COVID-19 escancara a barbaridade do citar alguns. O que trabalhadores do trans-
De Unidade Classista. Em Santos também há o des- capitalismo e a destruição do planeta em porte e da educação de São Paulo ou Rio
prezo pela gravidade da pandemia. nome da ganância do capital. Grande do Sul teriam para comemorar com
A crise sanitária que se alas-
Em meio aos mais de 1400 mortos e No Brasil esses interesses estão anco- Dória ou com Leite? O que temos para co-
trou pelo mundo desde o ano passa-
quase 42 mil infectados, o prefeito rados pelo avanço do autoritarismo promo- memorar com Lira e Pacheco? O que temos
do escancarou a podridão do siste-
Rogério Santos, pressionado pelo vido pelo governo Bolsonaro-Mourão e sua para comemorar com Rodrigo Maia, artífi-
ma capitalista. A burguesia, que há
empresariado, flexibiliza de maneira política genocida. Esse governo gerencia ce das reformas trabalhista e previdenciária?
décadas tem avançado violentamen-
irresponsável as já frouxas medidas uma agenda de ajuste fiscal acelerada, com- Por esta razão, o Fórum Sindical,
te sobre os trabalhadores e nos ar-
de isolamento e libera atividades binada com o negacionismo frente à CO- Popular e da Juventude por Direitos e Li-
rancado todas as formas de proteção
religiosas, academias e ensino pre- VID-19 além do brutal ataque aos trabalha- berdades Democráticas não participará des-
social e regulamentação que impeça
sencial - que já vitimou 3 trabalha- dores. te ato das centrais ao lado de vários inimi-
a exploração desenfreada do traba-
dores da educação na rede munici- Bolsonaro e seus lacaios são responsáveis gos da classe trabalhadora. Nada temos a
lho pelo capital, mostrou que mes-
pal e pelo menos 2 na rede privada, pela morte de cerca de 400 mil pessoas e, comemorar com estes algozes. Realizare-
mo em um quadro de pandemia
sem contar os familiares destes tra- em função dessa política criminosa, o Brasil mos uma atividade nacional para ajudar a
suas taxas de lucro devem ser priori-
balhadores e dos estudantes. se transformou no epicentro mundial da organizar nossa classe para as lutas necessá-
dade – ao contrário da vida da mai-
pandemia. Sabotam o distanciamento soci- rias que virão.
oria da população. Neste 1º de maio, data que
al, a vacinação, promovem aglomerações e O Fórum, através das suas entidades
carrega um importante peso históri-
Jair Bolsonaro, expressão atacam as recomendações da ciência. e militantes, estará na linha de frente da
co na luta dos trabalhadores e traba-
política tacanha dos interesses da Essa política é responsável pelo de- organização dos atos unitários e classistas
lhadoras pela emancipação huma-
burguesia brasileira submissa ao semprego de milhões de trabalhadores, pe- nos estados e regiões em defesa da vida; do
na, a Unidade Classista de Santos -
capital estrangeiro, segue à risca a las filas da fome e pela miséria que atinge lockdown nacional; do auxílio emergencial
Comitê Laudelina de Campos Mel-
cartilha neoliberal enquanto ri das várias parcelas da população. Trata-se de de R$ 600,00; da vacinação para todas e
lo se faz presente na defesa dos inte-
quase 400 mil vidas ceifadas pelo um governo racista, patriarcal, heteronor- todos pelo SUS e do Fora Bolsonaro-
resses da nossa classe, sem qualquer
seu descaso. Junto a outros lacaios mativo nas políticas sociais, que promove a Mourão.
concessão à burguesia, em um cená-
do capital financeiro como Paulo repressão contra a juventude preta e pobre
rio de crise política, social e sanitá-
Guedes, o genocida presidente refle- das periferias e as populações indígenas.
ria onde só a organização e mobili- “As ameaças e as guerras
te a brutalidade da luta de classes Um governo que promove o desmonte das
zação dos trabalhadores pode garan- Havemos de atravessá-las,
nos dias de hoje: enquanto a maio- políticas públicas, realiza as privatizações,
tir sua emancipação contra o capi-
ria se vira com migalhas de um mi- ataca a educação e a ciência. O desmonte é Rompê-las ao meio, cortando-as
tal. Exigimos a vida acima do lucro,
serável auxílio de R$ 150,00, ban-
a vacinação urgente para toda a po-
deliberado. O ataque aos direitos é parte Como uma quilha corta as ondas”
queiros, igrejas e parlamentares desse projeto genocida! (Maiakovski)
pulação e um rigoroso lockdown com
comprados nas eleições da câmara e Por isso, o Fórum Sindical, Popular
Auxílio Emergencial digno para
senado recebem as grandes fatias da e de Juventude por Direitos e Liberdades
todos.
riqueza socialmente produzida. Democráticas conclama todas e todos:
O 1º de maio também deve discutir gênero...
De acordo com a PNAD-contínua (IBGE),
só no terceiro trimestre do ano passado o Brasil
registrou 8,5 milhões de mulheres desempregadas.
Contudo, quando falamos de emprego, às mulhe-
res estão reservados os postos de trabalho mais
explorados e mal remunerados, sobretudo os ter-
ceirizados; mesmo quando uma mulher ocupa a
mesma função que um homem na iniciativa priva-
da, não é incomum que ela receba menos que este,
embora as mulheres sejam a maioria entre os por-
tadores de diploma de ensino superior no Brasil de
acordo com as “Estatísticas de Gênero: Indicado-
res Sociais das Mulheres no Brasil”. Mesmo na
30 anos sem Laudelina.
Europa, onde não está consolidada a cultura da Laudelina Campos Mello,
“empregada doméstica” e da diarista, mulheres conhecida como “dona Nina”,
recebem 16,2% menos que os homens conforme a
nasceu em 12 de outubro de
Eurostat.
1904 em Poços de Caldas-MG,
Na maioria das famílias o trabalho domésti-
co, remunerado ou não, é exclusividade feminina.
filha de pais alforriados pela
Cabe a todos nós questionarmos estes lugares pos- Lei do Ventre-Livre em 1871.
tos e, aos homens, empunhar as esponjas, as vas- Casou-se aos 20 anos, quando
souras, os panos e as panelas, dividindo o trabalho se mudou para Santos com o
doméstico com esposas, irmãs, mães e filhas. marido, com quem ficaria ca-
sada por cerca de 14 anos.
Em 1936 filiou-se ao PCB, ano
Outro título que também fundou o primeiro
Cagdfgdfg sindicato de trabalhadores do-
mésticos do país. Convém lem-
brar que na época as emprega-
das domésticas quase não ti-
nham direitos, e os que tinham
praticamente lhes eram nega-
dos. A atuação de Laudelina
foi fundamental para que as
empregadas domésticas con-
quistassem o direito à Carteira
de Trabalho e Previdência So-
cial.
Sua trajetória de vida pela luta
contra o racismo, o machismo,
e a exploração da classe traba-
lhadora, combatendo também
a discriminação da sociedade
em relação às empregadas do-
mésticas, por isso a ela rende-
mos nossa homenagem.
Laudelina faleceu em 12 de
maio de 1991 em Campinas.
EXPEDIENTE: Boletim “A Luta”, fundado em 1936 (mimeo.), reativado em 2019, sempre a serviço das lutas populares. Órgão oficial do Partido Comunista Brasilei-
ro (PCB) em Santos-SP, sucursal do Jornal Poder Popular no município. Colaboração da Unidade Classista - Comitê Laudelina Campos Melo (Santos-SP); União da
Juventude Comunista (UJC) - Núcleos Baixada Santista e UNIFESP; Fórum Sindical, Popular e de Juventudes por Direitos e Liberdades Democráticas; e Secretaria de
Agitação e Propaganda do PCB em Santos-SP. Jornalista responsável: Felipe de Oliveira Queiroz (MTb nº 0089901/SP).
Endereço eletrônico: http://aluta.blog | E-mail: boletimaluta@gmail.com

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