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conforme o seu olhar; a única coisa que pedia a esse olhar é que fosse
composto por associações de assuntos justapostos, por memórias e
simultaneidade de tempos, esperando com isso o aflorar da lógica natural
para a consciência do observador.
O desenho ensinado pelo crítico de arte inglês continha uma teoria da
percepção. Na verdade, Ruskin ensinou através de sua produção escrita.
Ruskin ministrou aulas no Working Men’s College em Londres e no Ruskin
School of Drawing and Fine Art em Oxford. Hoje existe o Ruskin
College em Oxford voltado à qualificação profissional de pessoas que não
tiveram acesso aos estudos. O seu ensino do desenho era a sua reforma da
percepção, que por sua vez continha uma proposta de reforma da sociedade
industrial de então.
O desenho ruskiniano se relaciona com a percepção, a educação, a
cultura, e as relações sociais no trabalho. A lógica presente em sua
concepção de razão é quem estrutura todos estes assuntos e faz com que
possam se relacionar.
O ensinar a ver ruskiniano contém, sem dúvida, uma proposta de ética
despertada pelo culto ao belo. No entanto, busca enxergar na paisagem
esse belo. O belo é, portanto, o resultado de um relacionamento entre
objetos, sensações e memórias. O belo é também o resultado de relações
sociais cuja política contém uma ética que, segundo ele, pertence a
lógica da natureza. Esta ética apareceu para a sociedade na forma de uma
organização do trabalho cuja expressão é uma política da ajuda mútua.
Ruskin procurou enxergar essa ética na paisagem qualificando-a de bela.
Ele sentia essa política no qual os seus elementos constituintes
dependem uns dos outros para viver uma situação de harmonia, isso seria
o belo.
A arquitetura apareceu na teoria ruskiniana como o melhor exemplo dessa
lógica. Quando Ruskin visualiza um edifício, enxerga as relações de
trabalho que construíram a sua estética.
Ruskin falou de religião para tratar o assunto da criação arquitetônica.
Explicou a existência de um deus arquiteto construtor da natureza, sendo
seu trabalho criativo e perfeito. Reconheceu a imperfeição do homem, mas
admitiu que poderia ser criativo, porém nunca perfeito. Por ser
imperfeito, teria que pedir ajuda a outros homens. E só seria criativo
caso se associasse aos outros para trabalhar de forma cooperativa
através da ética da ajuda mútua.
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FONTE: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.152/4595 - ACESSO em 25/09/2014.
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sob o escrutínio da razão. Isto significa que este método crê piamente
nas capacidades racionais do ser humano. A perspectiva iluminista supõe
que o conhecimento não somente é exato (e, portanto racional) como
também objetivo. A suposição da objetividade fez com que o modernista
reivindicasse o acesso ao conhecimento desapaixonado. Os sábios modernos
professam ser mais do que meros participantes condicionados do mundo que
observam: declaram-se capazes de vê-lo como observadores imparciais –
isto é contemplam o mundo de uma posição estratégica situada fora do
fluxo da história.
Além de supor que o conhecimento é exato e objetivo, os pensadores
iluministas supõem também que ele é inerentemente bom. Essa suposição da
bondade inerente do conhecimento torna otimista a perspectiva do
Iluminismo. Ela conduz à crença de que o progresso é inevitável, que a
ciência, associada ao poder da educação acabará por nos libertar de
nossa vulnerabilidade à natureza, bem como de toda escravidão social.
Renascença é uma palavra francesa cujo significa é “renascimento” e
designa um período histórico que foi, em certo sentido, o renascimento
do espírito clássico exemplificado nas antigas civilizações grega e
romana.
Sob diversos aspectos, a quintessência do pensamento renascentista foi a
obra do filosofo e cientista inglês Francis Bacon (1561-1626). Embora
fruto da Renascença, Bacon floresceu no limiar da Idade da Razão. Em
certos sentido, portanto, ele marca a transição da Renascença para o
Iluminismo.
Bacon não fez da matemática o centro do conhecimento natural, como
haveriam de fazer os pensadores do Iluminismo que viriam depois dele. De
vários modos Bacon antecipou o projeto do Iluminismo que caracterizaria
a modernidade. Ele estava convencido de que o método científico não
somente conduziria a descobertas individuais como revelaria também suas
inter-relações, fazendo assim com que se unissem num todo único. Em sua
obra publicada postumamente, A Nova Atlântida, descreveu uma sociedade
ideal. Nessa sociedade as pessoas olhariam para a ciência como provedora
da chave para a felicidade. Para Bacon a ciência trazia um meio para
dominar a natureza. Essa compreensão levou Bacon a vislumbrar a
descoberta dos segredos da natureza pelo homem com o objetivo de dominá-
la. A visão de Bacon lançou os fundamentos da sociedade tecnológica
moderna.
A Renascença lançou os fundamentos da mentalidade moderna, porém, não
foi responsável pela edificação de sua superestrutura. A cosmologia
renascentista elevou a humanidade ao centro do universo, contudo, não
fez do ego individual o centro autodeterminante do mundo. O espirito
renascentista solapou a autoridade da igreja, mas não entronizou a
autoridade da razão. A história intelectual do Ocidente passou por um
período de grande fermentação que se estendeu aproximadamente de 1650 a
1800 e é geralmente conhecido como Iluminismo ou Idade da Razão. O
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notas
1
AMARAL, C., S.. John Ruskin e o ensino do desenho no Brasil. São Paulo:
Editora UNESP, 2011.
2
FRAMPTON, K.; PEVSNER, N.; VAN LOON, W. H.; GOMBRICH, E. H. J.; CURTIS,
W.; ARGAN, G. C. e outros.
3
“In 1849 Ruskin argued, in the Seven Lamps for the rejection of styles
and the pursuit of styles:”We wantno new style in architecture. (...)
But we want some styles”. Once a singlestyle had become universally
accepted, its adaptation would eventually produce a new style suitable
to a new world. Unfortunately, however, Ruskin recommended not one style
but a choice of four: Prisan romanesque, as in the Baptistry and
Cathedral at Pisa, Early Gothic of the western Italian republics, as at
Sta. Croce, Florence; Venetian Gothic – Sta. Maria dellÓrto, for
example, and early English decorated, as the north transept at Lincoln.
(COOK. In: HUNT, J. The Ruskin Polygon, Manchester University Press, p.
69, 1982.)
4
HELSINGER, E. Ruskin and the art of the beholder. Massachusetts: Harvard
University Press, 1982.
5
HERSEY, G. “Ruskin as an optical thinker”. In: The Ruskin Polygon.
Manchester: Manchester University Press, 1982.
6
HUNT, J. Op. Cit.
7
Bradley fala da fúria dos especialistas em relação a Ruskin emitir
opiniões sobre o que, a princípio, não havia se aprofundado. (BRADLEY,
J. Ruskin, the critical heritage. Londres: Routledge & Kevan Paul, ps.
14, 17, 113, 272. 1984.)
8
HASLAM, R. Looking, drawing and learning with John Ruskin at the Working
20
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13
GAMA, R. Op. Cit., p.138.
14
Alguns autores, assim como Gama vinculam Béthencourt a Lebreton. “As
idéias de Lebreton contidas nos manuscritos mencionados (pelo Prof.
Mário Barata), nâo se concretizaram. Ele morreu no Rio de Janeiro em
1819, e apenas em 1856 começaram a aparecer os frutos de suas idéias.”
Ver: GAMA, R. Op. Cit., p. 141.
15
GAMA, R. Op. Cit., p.67.
16
GAMA, R. Op. Cit., p. 133.
17
SQUEFF, L. C. O Brasil nas letras de um pintor: Manuel de Araújo Porto
Alegre. Mestrado, FFLCH da USP, 2000, p. 167.
18
O Liceu visava: “formar os artífices da indústria Nacional e os
operários aperfeiçoados de que ela tanto necessitava para progresso,
próprio e do país. Verdadeira escola de arte aplicada à indústria, ela
proporcionava, além de aritmética, da álgebra, da geometria, da física,
da química, da geografia e da história, um curso completo de desenho
aplicável a todos os ofícios industriais”. Ver: Gama. R. Op. Cit.,
p.142)
19
BARBOSA, R. O Desenho e a Arte Industrial. Rio de Janeiro: Rodrigues &
Cia. 1947, p.31.
20
BARBOSA, R. Reforma do Ensino Primário. Rio de Janeiro: Ministério da
Educação e Saúde. 1946, p. 252.
21
BARBOSA, R. O Desenho e a Arte industrial. Rio de Janeiro: Rodrigues &
Cia. 1949, p. 38.
22
“O nosso curso não fazia questão de diretrizes estéticas, não se
obrigavam os estudantes a seguir as opiniões particulares do professor,
que dava plena liberdade de expressão, cuidando unicamente da técnica; e
por isso, pode-se afirmar que raramente foram alcançado na gravura
artística resultados tão interessantes.” Ver: BARROS, P. Op. Cit., p.
331.
23
BARBOSA, R. Op. Cit., 1949.
24
A formação de um mercado de trabalho era uma condição necessária para
iniciar um processo de industrialização. Isto já estava posto desde os
tempos de Lebreton: “substituindo as antigas escolas de latim, os
ginásios humanísticos. Sua missão era romper os moldes estreitos das
escolas realistas até então existentes e promover a formação de homens
livres e não de escravos de uma profissão. Nelas era mais importante a
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FONTE: http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/13.152/4595 - ACESSO em 25/09/2014.
44
ARGAN, G., C. Op. Cit., p. 149.
45
ARGAN, G., C. Op. Cit., p. 236.
46
Extraído de GRENZ, J., S. Op. Cit.
bibliografia complementar
AFANÁSSIEV, V., G. Fundamentos da Filosofia. Moscow: Edições Progresso,
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AMARAL, C., S. The influence of John Ruskin on the teaching of drawing
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São Paulo: Editora Moderna Ltda., 1990.
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sobre o autor
Claudio Silveira Amaral é Prof. Dr. Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação da UNESP.
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