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história
UM NOVO EQUILÍBRIO GLOBAL
Com a assinatura do armistício entre a França e a Alemanha, a 11 de novembro de 1918, terminava, com a
vitória dos aliados, a 1ª Guerra Mundial.
Um novo equilíbrio mundial emergiu no primeiro pós-guerra, originando novas realidades políticas:
○ A derrota dos Impérios centrais (Alemanha, Austro-Húngaro e Otomano) conduziu à reordenação do mapa
político europeu;
○ Formaram-se novos países com base nas nacionalidades;
○ Redefiniram-se as fronteiras dando origem a um novo mapa político;
○ A organização política dos Estados europeus assentou em princípios democráticos;
○ Na Rússia, as revoluções de 1917 puseram fim à monarquia e levaram à implantação de um regime
comunista e à retirada a Rússia da guerra;
○ A Europa viu a sua importância declinar e os EUA afirmaram-se como primeira potência mundial.
Este conjunto de alterações deu lugar a nova distribuição de forças políticas na Europa e no mundo.
A Conferência de Paz iniciou-se em Paris, a partir de janeiro de 1919, com o objetivo de regulamentar a paz
e proceder à reorganização geopolítica do primeiro pós-guerra. As condições prévias das negociações
foram preparadas pelo presidente americano Woodrow Wilson que as apresentara ao Congresso, em
janeiro de 1918, num discurso onde enunciou os célebres Catorze Pontos.
Os Catorze pontos apresentados por Wilson tornaram-se peça fundamental nas negociações e deram aos
EUA em papel central na nova ordem internacional. O documento visava tornar o mundo seguro, garantir a
paz, a justiça e a transparência.
Os cinco primeiros pontos, do documento apresentado por Wilson, defendiam princípios gerias, tais como:
Os oitos pontos seguintes focavam os problemas que ficavam pendentes para o pós-guerra:
O último ponto defendia a constituição de uma associação de nações que defendesse a independência e a
seguranças, tanto dos grandes como dos pequenos.
Era com base nestes pressupostos que as negociações decorreriam. No entanto, não houve uma
verdadeira negociação entre vencedores e vencidos porque as potências vencedoras negociaram e
elaboraram os tratados de paz entre si. Com efeito, as sessões decisivas contaram apenas com os quatro
grandes vencedores – EUA, França, Grã-Bretanha e Itália, respetivamente por Wilson, Clémenceau, Lloyd
George e Orlando. A Conferência de Paz revelou interesses divergentes quanto às imposições a fazer à
Alemanha, sobretudo entre os EUA e a França. Entre junho de 1919 e julho de 1920, foram assinados
vários tratados de paz com os vencidos, na sequência dos quais foi redesenhado um novo mapa político da
Europa e do Médio Oriente: a 28 de junho de 1919, o Tratado de Versalhes entre a Alemanha e os Aliados,
entre outros.
A amplitude das mudanças no mapa da europa e do Médio Oriente revela que a divisão de territórios teve
em conta o velho princípio das nacionalidades, herdado do século XIX: a Europa em 1914 tinha 22 Estados
e, em 1921, contava com 29.
Todos os tratados atenderam às fronteiras, à questão das minorias, às sanções políticas e às garantias de
aplicação. Os vencedores redesenharam a nova geografia europeia do pós-guerra, afirmando o Estado-
Nação em detrimento dos impérios autocráticos, que se desagregaram. Depois do Império Russo ter caído,
com as revoluções de 1917, era agora a vez dos Impérios Austro-Húngaro, Alemão e Otomano. Em seu
lugar, nasceram novos países, fundados em constituições democráticas liberais e em sistemas
parlamentares:
A redefinição do novo mapa político possibilitou aos países vencedores ampliar o seu território:
O Tratado de Versalhes foi extremamente penalizador para a Alemanha, não só pelas perdas territoriais,
mas também por responsabilizar a Alemanha pela guerra. Assim ficava obrigada ao pagamento de
reparações pelos danos causados aos países invadidos. Além do mais, o Tratado de Versalhes definiu
cláusulas destinadas a limitar o poderio económico e militar alemão:
Os responsáveis alemães foram considerados culpados por crimes de guerra, devendo, por isso, ser
julgados. Estas imposições infligiram um rude golpe no orgulho alemão, deixando adivinhar futuras
tensões.
Por tudo isto, o Tratado de Versalhes foi encarado como um Diktat, ou seja, uma imposição, que pôs em
causa o sucesso da República alemã de Weimar, criada a 9 de novembro de 1918, abalada por
extremismos políticos nos anos seguintes. A eficácia do Tratado de Versalhes ficou comprometida devido à
recusa dos EUA em ratifica-lo, quando Wilson o apresentou ao Congresso e ao Senado.
Apesar dos objetivos da SDN perspetivarem uma paz duradoura, na realidade, a nova ordem saída do pós-
guerra acabou por revelar muitas fragilidades.
Foram vários os motivos que contribuíram para pôr em risco o papel da SDN na manutenção da paz
mundial:
○ Assumiu-se como uma organização dos países vencedores;
○ Era dominantemente europeia;
○ Os vencidos na integraram a SDN;
○ Os EUA não aderiram à SDN e não ratificaram o Tratado de Versalhes;
○ Alguns dos países vencedores ficaram insatisfeitos com as compensações;
○ O funcionamento da SDN passava pela regra da unanimidade;
○ A politica de sanções não estava claramente definida;
○ Os recursos humanos e materiais eram insuficientes para prevenir a guerra, manter a paz e a integridade
territorial dos países.
Outro dos motivos para a pouca eficácia da SDN foi o facto de os novos países dependerem da sua
atuação, pois careciam de experiência diplomática internacional. Finalmente, o novo arranjo territorial do
pós-guerra acabou por ser causa de tensões, devido a problemas de nacionalidades de minorias étnicas.
Os mais atingidos foram os países vencidos. O velho continente perdeu a sua supremacia económica e
financeira.
A reconversão da economia europeia dependeu tanto dos capitais americanos, como do pagamento de
reparações de guerra pela Alemanha aos Aliados. Assim, os países europeus podiam pagar aos EUA os
empréstimos contraídos. Na prática, o não pagamento das reparações de guerra, a dificuldade dos países
vencedores em reorganizarem a sua economia e a diminuição, a partir de 1919, dos empréstimos
americanos levaram à emissão de mais papel-moeda, sem que houvesse uma correspondência com o
aumento da produção e da criação de riqueza.
Na procura da estabilização monetária europeia, realizou-se, entre abril e maio de 1922, a Conferência de
Génova, que tinha por objetivo instituir o Gold Exchange Standard, isto é, as moedas nacionais passavam a
ter uma relação fixa entre si, tendo o ouro como referência.
A europa tornou-se dependente dos EUA. Durante a guerra, forneceram aos países beligerantes material
bélico, mantimentos e capitais, o que lhes proporcionou lucros elevados. Depois da guerra, os EUA
emprestaram capitais para a reconstrução de alguns países europeus. As exportações americanas para o
velho continente (produtos industriais e agrícolas) aumentaram. Por tudo isto, de devedores, em 1914, os
EUA passaram, a partir de 1919, a credores da Europa. Assistiu-se, então, à ascensão dos EUA que
consolidaram a sua posição como primeira potência mundial, tanto a nível económico como financeiro.
A partir de 1924, e até 1929, a prosperidade marcou a vida económica, tanto nos EUA como na Europa. Na
Europa, a produção cresceu 17% e nos EUA 5%, voltando-se a confiar nas vantagens do capitalismo.
Vários foram os fatores que contribuíram para a prosperidade americana, mas também europeia:
Afirmou-se a sociedade de consumo. Viveu-se o período dos “loucos anos 20” em que o modelo americano
de consumo e de vida conquistou a Europa. Generalizaram-se os bens de consumo, desde automóveis,
fonógrafos e rádios, a eletrodomésticos variados, adquiridos com recurso facilitado ao crédito.
O seu programa revelava caráter burguês da Revolução de Fevereiro. No entanto, a continuação na Grande
Guerra e a crise generalizadas acentuou o descontentamento social e fragilizou o poder do Governo
Provisório que, sucessivamente, adiou as reformas desejadas.
Na prática, o poder era partilhado entre duas forças, assumindo o caráter de um “poder dual”: o poder do
Governo Provisório, apoiado pelos setores moderados e liberais; o poder dos sovietes (conselhos ou
assembleias) de operários e soldados, que reuniam forças políticas diversas, ligadas ao socialismo
revolucionário, e que alimentava um ambiente insurrecional constante.
O Soviete dos Operários e dos Soldados de Petrogrado exercia oposição ao Governo Provisório,
apresentando propostas diferentes para o rumo da revolução: quanto à participação da Rússia ma guerra,
o Soviete defendia o fim da participação no conflito, sem anexações e indeminizações, enquanto que o
governo provisório considerava que a Rússia devia continuar a combater com os aliados, até à vitória.
Quanto à questão da propriedade, enquanto que o Soviete defendia a redistribuição imediata das terras, o
Governo provisório entendia que somente a Assembleia Constituinte, a eleger, poderia resolver a questão
agrária.
Foi este contexto político e social que Lenine encontrou na Rússia, quando chegou do exílio. No dia 4 de
abril, apresentou à assembleia de mencheviques e bolcheviques as Teses de Abril nas quais defendia
algumas das linhas orientadas da ação política:
○ A saída da Rússia da guerra, pois considerava que o conflito não era mais do que a expressão do
imperialismo;
○ A recusa do apoio ao governo provisório e da república parlamentar e a defesa da república dos sovietes,
atribuindo-lhes um papel revolucionário;
○ O apelo ao fim do capitalismo na Rússia e na Europa;
○ A defesa da ideia de que o projeto revolucionário tinha um caráter internacional;
○ Defendeu que a Rússia não precisava de passar pela etapa do desenvolvimento capitalista e que deveria
passar à fase da revolução socialista.
A tendência mais organizada, no seio do soviete de Petrogrado, os bolcheviques, liderada por Lenine,
procurava tirar partido da situação. No seu programa respondia às quatros grandes reivindicações: paz
imediata; redistribuição da terra aos camponeses; entrega das fábricas, minas e indústrias aos comités
operários, reconhecimento dos sovietes como poder, em substituição do Governo Provisório.
Desde o inicio de outubro, Lenine procurara convencer os seus apoiantes da necessidade imperiosa de
fazer a revolução socialista. Na noite de 24 para 25 de outubro de 1917, desencadeou uma ofensiva, com
apoio dos Guardas Vermelhos, para controlar os principais pontos da cidade. O II Congresso dos Sovietes
de toda a Rússia aprovou a passagem de poder para o soviete de Petrogrado e para os bolcheviques.
Formou-se um novo governo, liderado pelo Conselho de Comissários do Povo, presidido por Lenine. Estava
consumada a Revolução de Outubro.
O Decreto sobre a Terra determinou a abolição da propriedade fundiária, sem qualquer indemnização, e
reconheceu as terras que tinham sido confiscadas pelos comités de camponeses. Com esta medida, os
bolcheviques procuraram garantir o apoio do campesinato russo, classe indispensável à revolução. Foram
ainda tomadas duas outras medidas importantes: o Decreto do Controlo Operário, que instaurou o
controlo operário nas fábricas, e o Decreto das Nacionalidades, que reconheceu a igualdade e a soberania
das diferentes nacionalidades que compunham a Rússia Soviética.
Com estas medidas, a Rússia deixou de ser uma república liberal e burguesa, e tornou-se na república dos
sovietes (de deputados operários, soldados e camponeses), pelo que a democracia passava a ser concebida
como expressão dos interesses do proletariado. Lenine passou a ser o líder incontestado da Rússia.
Lenine tinha oportunidade de pôr em prática as ideias de Marx e Engels, ao adequar a doutrina marxista à
situação concreta da Rússia, uma sociedade dominantemente camponesa, com um operariado pouco
numeroso, devido ao atraso na industrialização e à tardia afirmação do capitalismo. A aplicação por Lenine
das ideias marxistas ficou conhecida como marxismo-leninismo, ideologia central na construção da Rússia
soviética. Segundo Lenine, a revolução deveria ser conduzida pelo partido bolchevique, que assumia o
poder político, pois era a vanguarda revolucionária que incarnava os interesses do proletariado que,
segundo o marxismo-leninismo, era composto pelos operários e camponeses.
O marxismo-leninismo defendia que a revolução proletária deveria ser internacional, não olhando a
fronteiras ou nacionalidades.
○ Proibição de qualquer forma de oposição e de liberdade de expressão, traduzida na proibição dos jornais
não bolcheviques;
○ Proibição dos partidos políticos, exceto o bolchevique (designado comunista a partir de 1918).
○ Criação em 1919, em Moscovo, da III Internacional Comunista (ou Komintern), para reforçar a coordenação e
controlo dos partidos comunistas e preparar a revolução mundial;
○ Reforço da polícia política, a Tcheka, criada em dezembro de 1917, que perseguiu os contrarrevolucionários
e os inimigos do proletariado (religiosos, nobres e burgueses).
○ Nacionalização das indústrias e empresas com mais de cinco; dos bancos; do comércio externo;
○ Instauração do trabalho obrigatório e controlo do operariado através da obrigatoriedade do registo
operário, com longas jornadas de trabalho e baixos salários;
○ Coletivização das terras e requisição obrigatória dos produtos agrícolas, para serem distribuído conforme as
necessidades revolucionárias;
○ Proibição do comércio livre e imposição da venda de produtos a preços fixados pelo Estado, e abolição do
pagamento de serviços que passaram a ser fornecidos pelo Estado.
○ Desnacionalização das empresas com menos de 21 operários, com vista a desenvolver o setor industrial;
permissão para a associação de empresas privadas sob a forma de trusts e formação de empresas de capital
misto;
○ Manutenção do controlo estatal nos setores-chave da economia (energia, banca, indústria pesada, comércio
externo);
○ Atribuição de prémios de produção e hierarquização dos salários, como incentivos ao aumento da
produtividade; substituição das requisições por um imposto pago em géneros;
○ Abrandamento da nacionalização das terras; autorização de venda dos excedentes nos mercados, de modo a
estimular a produção agrícola; reintrodução da livre concorrência para fomentar o comércio interno, com o
ressurgimento de estabelecimentos comerciais; estabilização da moeda;
○ Contratação de técnicos estrangeiros; importação de equipamentos; atração de investimento estrangeiro,
com a assinatura de acordos comerciais com a Alemanha e a Inglaterra.
Os resultados da NEP foram animadores no campo económico: a recuperação da produção industrial para
níveis anteriores à guerra (1913); a superfície semeada aumentou e a produção agrícola também cresceu.
Em termos sociais, assistiu-se ao aparecimento de um novo tipo social, o nepmen, composto por pequenos
industriais e comerciantes, e pelo ressurgimento de pequenos proprietários rurais (kulaks), que
aproveitaram as oportunidades criadas por este novo sistema económico. Colocavam-se em causa os
princípios em que a Rússia soviética se tinha fundado: o da abolição da propriedade privada e o da
sociedade sem classes. Apesar de dividir as opiniões quanto ao recuo na abolição da propriedade privada,
a NEP revitalizou a sociedade e permitiu a inserção do novo regime na cena internacional.
O CENTRALISMO DEMOCRÁTICO