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ESTRUTURAS MISTAS DE

AÇO E CONCRETO
UNIDADE II
VIGAS MISTAS
Elaboração
Laoana Tuíra Gonçalves Mendes

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE II
VIGAS MISTAS......................................................................................................................................................................................... 5

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO ÀS VIGAS MISTAS............................................................................................................................................. 5

CAPÍTULO 2
PROPRIEDADES DAS VIGAS MISTAS...................................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 3
DIMENSIONAMENTO DE VIGAS MISTAS............................................................................................................................ 19

REFERÊNCIAS................................................................................................................................................26
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VIGAS MISTAS UNIDADE II

Na Unidade II aprofundaremos os estudos sobre as vigas mistas. O Capítulo 1 mostra


a definição de viga mista e o seu comportamento. No Capítulo 2 será possível entender
melhor sobre as propriedades das vigas mistas, enquanto o Capítulo 3 abrange o
dimensionamento de vigas mistas.

Capítulo 1
INTRODUÇÃO ÀS VIGAS MISTAS

1.1. Definição
As vigas mistas podem ser definidas como o conjunto formado pela união de um perfil
metálico e uma laje de concreto ligados por conectores de cisalhamento para que haja
o comportamento conjuntos dos elementos de aço e concreto.

Existem diversos tipos de seções de vigas mistas a depender do tipo de laje, que pode
ser laje de concreto moldado in loco ou laje mista (laje de concreto com fôrma metálica,
será vista na Unidade III), dos formatos dos perfis ou das lajes e do tipo de ligação entre
eles. A Figura 12 demonstra alguns dos tipos de vigas mistas.

Figura 12. Exemplos de vigas mistas.

Fonte: Gonçalves, 2013.

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1.2. Tipos de Apoios das Vigas Mistas


Com relação aos tipos de apoios, as vigas mistas podem ser classificadas em:

» Vigas biapoiadas: apoios são tratados como rótulas.

» Vigas contínuas: perfil metálico e a armação da laje tem continuidade total nos
apoios internos.

» Vigas semicontínuas: apenas a armação tem continuidade total.

Em geral, as vigas biapoiadas são mais vantajosas que as vigas contínuas, pois neste
tipo de apoio, a solicitação do concreto e do aço é mais adequada. Contudo, existem
algumas situações em que a continuidade é desejável. O Quadro 2 mostras as vantagens
das vigas biapoiadas em relação às vigas contínuas e vice-versa.

Quadro 2. Vantagens das vigas biapoiadas e das vigas contínuas.

Vantagens das vigas biapoiadas Vantagens das vigas contínuas


Não há limitação da resistência da viga por flambagem do perfil, pois só uma
pequena parte da alga fica comprimida e a laje trava a mesa sob compressão. Momento positivo menor se submetido ao
A alma pode ser furada para passagem de dutos, pois seu estado de tensões mesmo carregamento.
não é muito elevado.
Sem interação com os vãos consecutivos.
Resiste a cargas horizontais, pois transmite o
Praticamente não transmite momentos transmitidos aos apoios.
momento aos apoios.
Menos fissuração.
Fonte: Oliveira; Silva, 2015; Fabrizzi, 2007.

1.3. Comportamento das Vigas Mistas


Como mostrado no Capítulo 2 da Unidade I, o comportamento das vigas mistas depende
da resistência da ligação entre o aço e o concreto (grau de interação) e também do
método construtivo.

1.3.1. Grau de Interação

Se a quantidade de conectores de cisalhamento conseguir absorver todo o esforço de


cisalhamento longitudinal no contato aço-concreto, tem-se a interação total ou completa.

Por outro lado, se utilizar menos conectores, desde que não reduza significativamente
o momento resistente, tem-se a interação parcial. Quando não há nenhuma ligação

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entre os elementos de aço e concreto, não é possível caracterizar uma viga mista. É o
que chamamos de interação nula.

Na Figura 13 são apresentados os comportamentos desses três tipos de interação, no


que diz respeito à deformada, aos momentos, à situação de compressão na laje, ao corte
na ligação e às deformações no meio do vão com os posicionamentos da linha neutra.

Figura 13. Tipos de interações das vigas mistas.

Interação nula Interação total Interação parcial

P P P
Deformada

Momentos

Compressão C=0
na laje

q=0 + +
Corte na
ligação
- -
Concreto
Deformações a
meio vão
aço

Fonte: Malite, 1990.

1.3.2. Métodos Construtivos

Como citado, o método construtivo também influencia no comportamento das vigas mistas,
assim, é preciso levar em conta duas situações: sistema construtivo com escoramentos
e sistema sem escoramentos.

No processo construtivo escorado (Figura 14), a solicitação dos elementos sempre será
em conjunto, assim, a seção mista resistirá, após a retirada do escoramento, a todas as
ações, incluindo peso próprio, ações permanentes e acidentais. Além disso, as deformações
serão do elemento misto e não de cada elemento isolado.

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Figura 14. Vigas mistas escoradas.


Seção Distribuição de tensões
Vista longitudinal
resistente (Modelo Elástico)

Estágio de construção

Escoramento retirado
(somente peso próprio aplicado)

Cargas acidentais aplicadas

Fonte: Fabrizzi, 2007.

No sistema não escorado (Figura 15), o perfil metálico deverá resistir a todas as ações
antes da cura do concreto, ou seja, o concreto e os conectores não são solicitados por
estas ações. A seção mista começa a agir depois da cura do concreto, resistindo às cargas
acidentais aplicadas.

Figura 15. Vigas mistas não escoradas.


Distribuição de tensões
Seção Vista longitudinal
(Modelo Elástico)
resistente

Estágio de construção
(somente peso próprio aplicado)

Cargas acidentais aplicadas

Fonte: Fabrizzi, 2007.

Como no estágio de construção o perfil resiste às ações sozinho e o peso próprio é


substancial, as seções das vigas não escoradas são maiores que as seções das vigas
escoradas.

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Capítulo 2
PROPRIEDADES DAS VIGAS MISTAS

A seguir serão listadas algumas das propriedades principais das vigas mistas que
influenciam no dimensionamento. Essas propriedades são diferenciadas com relação à
solicitação que atua na laje, se momento fletor positivo (laje comprimida) ou momento
fletor negativo (laje tracionada).

2.1. Região com Momento Fletor Positivo (Laje


Comprimida)

2.1.1. Grau de Interação

A determinação se a interação é completa ou parcial se relaciona ao valor de FhRd. FhRd é o


menor valor entre a resistência de dimensionamento da laje à compressão e a resistência
de dimensionamento do perfil à tração.

» Resistência de dimensionamento da laje à compressão (Rcd):


Rcd = 0,85fcd btc

» Resistência de dimensionamento do perfil de aço à tração (Rtd):


fy
Rtd = A
1,1

A interação completa se dá quando:


∑Q Rd ≥ FhRd

E será parcial quando:


∑Q Rd < FhRd

Onde,

tc é a altura da laje acima da fôrma metálica;

A é a área da seção transversal do perfil metálico;

ΣQRd é a soma das resistências de dimensionamento dos conectores desde a seção


de momento zero até a seção de momento positivo máximo.

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Utiliza-se o parâmetro ηi para definir o grau de interação, se parcial ou completa:

» Interação parcial:
∑ QRd
=
ηi <1
FhRd

» Interação completa:
ηi =1

No caso da interação completa, a menos que ΣQRd seja maior que FhRd, considera-se que
o grau de interação ηi seja unitário (ηi = 1).

O menor valor permitido para ηi depende do comprimento do vão de referência (Lc):

» Para Lc > 25m:


ηi =1

» Para Lc ≤ 25m:
E
ηi = 1 − ( 0,75 − 0,03Lc ) ou 0,4 (maior )
578fy ,a

2.1.2. Propriedades Elásticas

No caso de interação completa com a linha neutra elástica (LNE) passando fora da laje
de concreto, tem-se que a razão modular será:

» Ações de curta duração:


E
n=
Ec

» Ações de longa duração:


E
n=3
Ec

E a largura da seção transformada será:


b
btr =
n

A Figura 16 mostra a distribuição de tensões em vigas mistas na região de momento


positivo com interação completa.

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Figura 16. Distribuição de tensões em vigas mista com interação completa.

btr
0,85fcd 0,85fcd 0,85fcd
tc tc Ccd tc Ccd a Ccd
hf fyd fyd yc LNP
tf yc yp
yp Cad Cad
d1 LNP d1
LNP
d hw

Tad Tad
tw
Tad yt
yt
fyd fyd fyd
bf
LNP na Alma LNP na Mesa LNP na Laje

Fonte: ABNT NBR 8800, 2008.

Quando a LNE cortar a laje (Figura 17), a espessura de laje sob compressão (a) será
obtida ao igualar o momento na região acima (concreto) com o momento abaixo (aço).

Figura 17. LNE no concreto.

btr
a LNE
tc

Fonte: elaboração própria da autora.

Então, considerando A sendo a área da seção transversal do perfil metálico e a partir da


distribuição de tensões apresentada na Figura 16, o equilíbrio de momentos estáticos
se dá da seguinte maneira:
a b
btr a = A ( d1 + hf + tc − a ) → tr a 2 + Aa − Aw = 0, com w = d1 + hf + tc
2 2

− A + A2 + 2btr Aw
a=
btr

Assim, a posição da LNE será:


∑ Ai y i
y0 =
∑ Ai

Dessa maneira, o momento de inércia da seção transformada é obtido pela seguinte


expressão:
Itr = ∑ Ai y i 2 + ∑ I0 − ( ∑ Ai ) y 02

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UNIDADE II | Vigas Mistas

Portanto, o módulo resistente elástico da seção transformada pode ser calculado com
a equação a seguir:
Itr
Wtr =
d
y0 +
2

2.1.3. Interação Parcial

A Figura 18 mostra a distribuição de tensões em vigas mistas na região de momento


positivo com interação parcial.

Figura 18. Distribuição de tensões em vigas mista com interação parcial.

btr
0,85fcd
a Ccd LNP
tc
na laje
hf fyd
tf Cad
yc
yp
LNP no
perfil
d hw

tw
Tad
yt

bf fyd

Fonte: ABNT NBR 8800, 2008.

Se a interação for parcial, faz-se necessária a redução das propriedades da seção


transformada.

Assim, o momento de inércia efetivo será:


Ief =Ia + ( Itr − Ia ) ηi

Da mesma forma, o módulo resistente elástico efetivo é dado por:


Wef =Wa + (Wtr − Wa ) ηi

Onde,

ηi é o grau de interação;

Ia é o momento de inércia da seção metálica;

Wa é o módulo resistente de inércia da seção metálica.

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2.1.4. Momento Fletor Resistente de Dimensionamento à


Plastificação

2.1.5. Relação entre Largura e Espessura da Alma

Existe uma razão largura/espessura da alma tal que o momento de plastificação total
da seção seja atingido. Essa relação é dada por:
hw E
≤ 3,76
tw fy

2.1.6. Interação Completa

Para determinar a posição da LNP analisam-se os valores de Ccd e Tad. Assim, se Ccd ≥
Tad, a LNP passa pela laje e, por equilíbrio (Figura 16), tem-se:
fy Afyd
0,85fcd ba
= A →=
a
1,1 0,85fcd b

Quando Ccd < Tad significa que a LNP corta o perfil metálico, podendo ser na alma ou
na mesa.

A LNP passará pela alma, se:


 fy  fy 0,85fck
( A − Af )   ≥ Af + btc
 1,1  1,1 1,4

Por equilíbrio (Figura 16), com a LNP passando pela alma:


0,85fcd btc + Af fyd + y ptw fyd = Af fyd + ( hw − y p ) tw fyd

hw tw fyd − 0,85fcd btc


yp =
2tw fyd

A LNP cortará a mesa, caso:


 fy  fy 0,85fck
( A − Af )   < Af + btc
 1,1  1,1 1,4

Fazendo o equilíbrio das forças, pela Figura 16, com a LNP passando pela mesa, tem-se:
0,85fcd btc + bf y pfyd= bf ( tf − y p ) fyd + ( A − Af ) fyd

bf tf fyd + ( A − Af ) fyd − 0,85fcd btc


yp =
2bf fyd

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UNIDADE II | Vigas Mistas

Onde, Af é a área da mesa.

Após determinada a posição da LNP é possível calcular o momento fletor resistente de


dimensionamento à plastificação (Mpl,Rd):
M pl ,Rd = ∑ ( Fid y i )

Em que,

Fid é a força de dimensionamento no centro do elemento i;

yi é a distância da força Fid até a linha neutra plástica.

2.1.7. Interação Parcial

Na situação de interação parcial existem duas LNP, uma na laje e outra no perfil metálico
(Figura 18). A LNP na laje é dada por:
Ccd
a=
0,85fcd b

E a LNP no perfil pode cortar a alma ou a mesa. A LNP passará pela alma, se:
 fy  fy
( A − Af )   ≥ Af + Ccd
 1,1  1,1

Por equilíbrio (Figura 18), com a LNP passando pela alma:


Ccd + Af fyd + y ptw fyd = Af fyd + ( hw − y p ) tw fyd

hw tw fyd − Ccd
yp =
2tw fyd

A LNP cortará a mesa, caso:


 fy  fy
( A − Af )   < Af + Ccd
 1,1  1,1

Fazendo o equilíbrio das forças, pela Figura 18, com a LNP passando pela mesa, tem-se:
Ccd + bf y pfyd= bf ( tf − y p ) fyd + ( A − Af ) fyd

bf tf fyd + ( A − Af ) fyd − Ccd


yp =
2bf fyd

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Vigas Mistas | UNIDADE II

Onde, Af é a área da mesa.

Da mesma maneira que na interação completa, após determinada a posição da LNP é


possível calcular o momento fletor resistente de dimensionamento à plastificação (Mpl,Rd):
M pl ,Rd = ∑ ( Fid y i )

Em que,

Fid é a força de dimensionamento no centro do elemento i;

yi é a distância da força Fid até a linha neutra plástica que corta o perfil metálico.

2.2. Região com Momento Fletor Negativo (Laje


Tracionada)
A seção considerada resistente ao momento negativo inclui a seção do perfil metálico e
a armadura longitudinal da laje de concreto dentro da largura efetiva.

2.2.1. Grau de Interação

As regiões de momentos negativos sempre devem ter interação completa. Assim, o


dimensionamento dos conectores alocados entre as seções de máximo momento negativo
e momento nulo deve ser maior ou igual à resistência de dimensionamento da armadura
longitudinal da laje. Portanto, a interação completa se dá quando:
∑ QRd ≥ Tds

Em que,

ΣQRd é a soma das resistências de dimensionamento dos conectores desde a seção


de momento zero até a seção de momento negativo máximo.

Tsd é a resistência de dimensionamento da armadura de aço à tração, dada por:


fy ,s
Tsd = Asl
1,15

Com,

Asl sendo a área da armadura longitudinal da laje;

fy,s sendo a resistência ao escoamento do aço da armadura.

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2.2.2. Propriedades Elásticas

A Figura 19 mostra a distribuição de tensões em vigas mistas na região de momento


negativo.

Figura 19. Distribuição de tensões em vigas mista para momento negativo.

btr
Área tracionada (Aat) Tsd
d3
Aatfyd
CG área
LNP tracionada d4 fyd
d5
Área comprimida (Aac)
CG área
comprimida yt Aacfyd
fyd

Fonte: ABNT NBR 8800, 2008.

Assim, a posição da LNE será:


∑ Ai y i
y0 =
∑ Ai

Dessa maneira, o momento de inércia da seção é obtido pela seguinte expressão:


Ineg = ∑ Ai y i 2 + ∑ I x − ( ∑ Ai ) y 02

Portanto, o módulo resistente elástico inferior da seção pode ser calculado com a equação
a seguir:
I
Wneg = neg
d
y0 +
2

2.2.3. Momento Fletor Resistente de Dimensionamento à


Plastificação

2.2.4. Relação entre Largura e Espessura

No caso de regiões de momentos negativos a relação entre a largura e a espessura para


que o momento de plastificação total da seção seja atingido é feita tanto para a mesa
quanto para a alma.

» Mesa comprimida:
bf
2 ≤ 0,38 E
tf fy

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Vigas Mistas | UNIDADE II

» Alma:
2hwc E
≤ 3,76
tw fy

Onde, hwc é a altura da região comprimida da alma formada pelo perfil metálico e pela
armadura da laje.

2.2.5. Ligação Mista

A resistência da ligação mista deve ser verificada conforme o Capítulo 3 da Unidade I.

2.2.6. Posição da LNP

Para determinar a posição da LNP é preciso saber se ela corta a alma ou a mesa.

A LNP cortará a alma, se:


 fy  fy
( A − Af )   ≥ Af + Tsd
 1,1  1,1

Por equilíbrio (Figura 19), com a LNP passando pela alma:


Tsd + Af fyd + y ptw fyd = Af fyd + hwc tw fyd

hwc tw fyd − Tsd


y=
p , com hwc
= hw − y p
tw fyd

A LNP passará pela mesa, caso:


 fy  fy
( A − Af )   < Af + Tsd
1,1
  1,1

Fazendo o equilíbrio das forças, pela Figura 19, com a LNP passando pela mesa (hwc=hw),
tem-se:
Tsd + bf y p fyd = bf ( tf − y p ) fyd + Af fyd + hw tw fyd

bf tf fyd + Af fyd + hw tw fyd − Tsd


yp =
2bf fyd

Onde, Af é a área da mesa.

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UNIDADE II | Vigas Mistas

2.2.7. Momento Fletor Resistente de Dimensionamento à Plastificação

Após determinada a posição da LNP é possível calcular o momento fletor resistente de


dimensionamento à plastificação (Mpl,Rd):
M pl ,Rd = ∑ ( Fid y i )

Em que,

Fid é a força de dimensionamento no centro do elemento i;

yi é a distância da força Fid até a linha neutra plástica.

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Capítulo 3
DIMENSIONAMENTO DE VIGAS MISTAS

3.1. Estados Limites Últimos (ELU)


No dimensionamento ao ELU, as solicitações não podem ser superiores às resistências
tanto para o caso de ruptura do perfil metálico, devido às solicitações aplicadas antes
da cura do concreto, quanto para o caso de ruptura da viga mista, quando estão sujeitas
a todas as ações, antes e depois da cura.

3.1.1. Ruptura do Perfil Metálico

Esse dimensionamento é de um perfil metálico biapoiado e não de uma peça mista. As


verificações, então, devem seguir conforme NBR 8800 (2008), para as seguintes situações:

» Flambagem local da mesa (FLM).

» Flambagem lateral com torção (FLT).

3.1.2. Ruptura da Viga Mista

Os estados limites últimos a serem verificados são:

3.1.3. Ruptura por plastificação pelo momento fletor positivo

Nesta verificação o momento fletor solicitante de dimensionamento (MSd) deve obedecer


à seguinte relação:
MSd ≤ βvmMpl,Rd

Onde,

Mpl,Rd é o momento fletor resistente de dimensionamento;

βvm é um coeficiente ligado ao grau de plastificação, dado por:

› Vigas semicontínuas: βvm ≈ 0,85 a 0,95.

› Vigas biapoiadas: βvm =1.

Se o valor da resistência de dimensionamento de uma viga contínua à flambagem por


distorção (item 1.2 e), ajustada pelo coeficiente de 1,55, resultar em um valor maior ou
igual aos momentos resistentes de dimensionamento M-Rde (tramo esquerdo) e M-Rdd

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UNIDADE II | Vigas Mistas

(tramo direito), é possível determinar o momento solicitante de dimensionamento


(MSd) por uma análise rígido-plástica:
L−x x
MSd ,q M − Rde
MSd =− − M − Rdd
L L

Em que,

MSd é o momento fletor de dimensionamento máximo;

MSd,q é o momento fletor de dimensionamento na seção;

L é o comprimento do trecho analisado.

3.1.4. Ruptura por flambagem ou plastificação da alma do perfil metálico


pela força cortante

A verificação da alma é feita da mesma forma que as vigas metálicas, seguindo as


orientações da NBR 8800 (2008), no item 5.4.3:
VSd ≤ VRd

Se o valor da resistência de dimensionamento de uma viga contínua à flambagem por


distorção (item 1.2 e), ajusta pelo coeficiente de 1,55, resultar em um valor maior ou
igual aos momentos resistentes de dimensionamento M-Rde (tramo esquerdo) e M-Rdd
(tramo direito), é possível determinar a força cortante solicitante de dimensionamento
(VSd) por uma análise rígido-plástica:

M − Rde − M − Rdd
=
VSd VSd ,q +
L

Em que,

VSd é a força cortante de dimensionamento máximo;

VSd,q é a força cortante de dimensionamento na seção;

L é o comprimento do trecho analisado.

3.1.5. Ruptura dos conectores de cisalhamento localizados entre seção


de momento nulo e seção com carga concentrada

Onde houver momento positivo, é preciso verificar a soma das resistências de


dimensionamento dos conectores localizados entre as seções de momento nulo (seção
S1) e com atuação da carga concentrada (seção S2), conforme mostra a Figura 20.

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Vigas Mistas | UNIDADE II

Figura 20. Ruptura dos conectores próximos a uma carga concentrada.

Região A Região B

MPSd

S1 S2 MSd

Fonte: Queiroz et al., 2012.

Assim,
MPSd − MaRd
( ∑ QRd )região A ≥ ( ∑ QRd )regiões A e B
MSd − MaRd

Onde,

MaRd é o momento fletor resistente de dimensionamento do perfil metálico isolado


(Estado Limite FLA);

MPSd é o momento fletor solicitante de cálculo na seção S2.

Caso necessário, a condição acima pode ser atendida ao transferir os conectores da


região B para a região A, desde que na haja uma redução do valor de (ΣQRd)(regiões A e B).

3.1.6. Falha da laje por cisalhamento nas regiões próximas ao perfil


metálico

Conforme apresentado na Figura 21, é possível ocorrer rupturas na laje nas regiões
representadas por a-a, que ficam próximas ao perfil metálico. Para evitar que esses tipos
de ruptura ocorram, armaduras transversais à viga devem ser previstas.

Figura 21. Seções com possibilidade de ruptura por cisalhamento.


a a a

a a a

(a) Laje maciça (b) Laje com fôrma metálica - (c) Laje com fôrma metálica -
nervura transversal ao eixo da viga nervura longitudinal ao eixo da viga

Fonte: Adaptado de Queiroz et al., 2012.

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UNIDADE II | Vigas Mistas

Primeiramente faz-se o cálculo da força de cisalhamento de dimensionamento na


extensão Lm (entre momento nulo e momento máximo, positivo ou negativo), dada por:
∑ Qm,Rd
(VSd )total =
Lm

Em que,

ΣQm,Rd é a soma das resistência de dimensionamento dos conectores.

Essa força total é dividida proporcionalmente à largura efetiva dos diversos planos
longitudinais da laje, à direita e à esquerda do perfil. Assim, a força em um desses planos
varia linearmente do seu valor máximo, próximo ao perfil até o valor nulo, na seção
onde finda a largura efetiva.

A força cortante resistente de dimensionamento em cada plano é obtida pela seguinte


expressão:
0,6ηA cv fctk,inf A s fys A F fyF 0,2ηA cv fck 0,6A F fyF
VRd
= + + ≤ +
1,4 1,15 1,1 1,4 1,1

Com,
ρc
η 0,3 + 0,7
=
2400

Onde,

ρc é a massa específica do concreto;

fctk,inf é a resistência à tração característica inferior do concreto (ABNT NBR 6118,


2014), dada por:
fctk ,inf = 0,21 fck 2/3

Acv é a área do plano de cisalhamento;

AF é a área da fôrma metálica no plano de cisalhamento;

As é a área da armação transversal no plano de cisalhamento;

fyF é a resistência ao escoamento do aço da fôrma;

fys é a resistência ao escoamento do aço da armadura.

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Vigas Mistas | UNIDADE II

A verificação é garantida quando,


VSd ≤ VRd

Cabe lembrar que a armadura mínima deve ser atendida em todas as situações, com:
As,mín 0,2% Acv ≥ 1,5cm 2 / m
=

3.1.7. Flambagem da seção transversal com distorção

Esse tipo de falha ocorre nas regiões de momento negativo quando a alma deixa de
ser plana e por deslocamento lateral da mesa inferior. O momento fletor resistente de
dimensionamento neste caso será:
MRd,dist = χdistMRd

Onde,

MRd é o momento resistente de dimensionamento;

χdist é um fator de redução ligado ao índice de esbeltez λdist:


0,25
  fy   h0  tf 
2 3
 t h
λ dist= 5,0  1 + w 0      
 4bf tf   ECdist   tw  bf 

Em que,

h0 é a distância entre as mesas do perfil metálico;

Cdist é um coeficiente dependente dos momentos no comprimento L, conforme as


tabelas apresentadas no Anexo O da NBR 8800 (2008).

3.1.8. Ruptura por rotação dos apoios

A capacidade de rotação das ligações mistas deve ser verificada conforme Capítulo 3
da Unidade I.

3.1.9. Ruptura local das ligações

Quando aplicável, a resistência das ligações mistas deve ser verificada conforme o
Capítulo 3 da Unidade I.

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UNIDADE II | Vigas Mistas

3.2. Estados Limites de Serviço (ELS)

3.2.1. Flecha Excessiva

O valor da flecha para vigas mistas é dado pelo somatório das flechas do perfil metálico
isolado (δpa) com carga permanente e com as da viga mista (δvm) com combinação rara.
Seu limite é de L/350. Ademais, δvm não deve ser maior que 15mm, em caso de presença
de alvenarias.

3.2.2. Vibrações Excessivas

Segundo a NBR 8800 (2008), para evitar vibrações excessivas, a flecha da viga mista
com combinações frequentes não deve ser superior a:

» 20mm: piso de passagem de pedestres;

» 5mm: piso com atividades muito repetitivas;

» 9mm: piso com atividades pouco repetitivas.

3.2.3. Fissuração do Concreto nos Apoios

A seguir são apresentadas as principais recomendações da NBR 8800 (2008) a fim de


reduzir a fissuração do concreto nos apoios.

3.2.4. Vigas biapoiadas

A fissuração ocorre por rotação do apoio, então, coloca-se uma armadura longitudinal
dentro da largura efetiva da laje, com área mínima de:
0,72fct ,ef Act
As,min =
ó st

Em que,

fct,ef é a resistência do concreto à tração;

Act é a área obtida pela multiplicação da largura efetiva da laje e da altura acima da
fôrma;

σst é a tensão de tração máxima que a armadura suporta:


0,5
 w k fck2/3 
=σst 810   ≤ fys
 φ 

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Vigas Mistas | UNIDADE II

Onde,

φ é o diâmetro da armadura;

wk é a abertura característica das fissuras, dada por:

› CAA Moderada: 0,3mm.

› CAA Muito Forte: 0,2mm.

3.2.5. Vigas semicontínuas

De acordo com a tensão de tração máxima para combinações frequentes, calculam-se


o diâmetro e o espaçamento máximos das barras:

» σst = 280 Mpa: φmax = 16mm e smax = 150mm;

» σst = 320 Mpa: φmax = 12,5mm e smax = 100mm;

» σst = 360 Mpa: φmax = 10mm e smax = 50mm.

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REFERÊNCIAS

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