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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS

UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE FORMOSA


DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA

INTRODUÇÃO À ANÁLISE REAL

Josimar da Silva Rocha

FORMOSA
GOIÁS - BRASIL
2010
Sumário

1 Supremo e Ínfimo 1

2 Seqüências 5
2.1 Convergência de sequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 Propriedades do limite de sequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Desigualdade de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3 Limites infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.4 Sequências de Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.5 Sequências na forma recorrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2
Capı́tulo 1

Supremo e Ínfimo

Definição 1. Seja A ⊂ R, dizemos que A é limitado inferiormente se existir k ∈ R tal


que x ≥ k, ∀x ∈ A. Neste caso k é dito ser uma cota inferior do conjunto A.

Definição 2. Seja A ⊂ R um conjunto limitado inferiormente e S o conjunto de todas as


cotas inferiores de A. Então o maior elemento de S é dito ser o ı́nfimo de A.

Exemplo 1. 1) A = N = {1, 2, 3, 4, · · · }

A é limitado inferiormente, pois x ≥ 1, ∀x ∈ A.

O ı́nfimo de A é o elemento 1.
1 1 1
2) A = {1, , , · · · , , · · · }
2 3 n
A é limitado inferiormente, pois x ≥ 0, ∀x ∈ A.

O ı́nfimo de A é 0.

Definição 3. Seja A ⊂ R um conjunto limitado inferiormente. Dizemos que m ∈ R é o


ı́nfimo de A se, e somente se,

(i) m ≤ x, ∀x ∈ A;

(ii) Dado ε > 0, existe y ∈ A tal que m + ε > y.

Exemplo 2. Para A = N, infA = 1.

Demonstração. Como 1 ≤ x, ∀x ∈ A, então 1 é cota inferior de A. Além disso, dado ε >


0, 1 + ε ≥ 1. Logo 1 = infA.

1
Exercı́cio 1. Se ε > 0, então existe n0 ∈ N tal que n0 < ε.
1
Demonstração. Suponhamos que ε < , ∀n ∈ N. Assim, n < 1ε , ∀n ∈ N, o que é um absurdo.
n
1
Logo existe n0 ∈ N tal que n0 < ε.

1
1 1
Exemplo 3. Para A = {1, , · · · , , · · · }, infA = 0.
2 n
Demonstração. Como 0 ≤ x, ∀x ∈ A, então 0 é cota inferior de A. Além disso, pelo
1
Exercı́cio 1, dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que n0 < ε = ε + 0. Logo, infA = 0.

Postulado 1 (Postulado de Dedekind). Todo conjunto A ⊂ R de números positivos possui


ı́nfimo.

Definição 4. Seja A ⊂ R limitado inferiormente. Dizemos que m é o mı́nimo de A


(m = min A) se

(i) m ∈ A;

(ii) m ≤ x, ∀x ∈ A.

Isto é equivalente a dizer que m = min A se, e somente se, m ∈ A e m = inf A.

Definição 5. Um conjunto A ⊂ R é dito ser limitado superiormente se existir M ∈ R


tal que x ≤ M, ∀x ∈ A. Neste caso M é dito ser cota superior de A. Se S = {r ∈ R |
x ≤ r, ∀x ∈ A} (S é o conjunto de todas as cotas superiores de A), então o menor elemento
m de S é dito ser o supremo de A (m = sup A ).

Definição 6. Seja A ⊂ R um conjunto limitado superiormente. Então m = sup A se, e


somente se,

(i) m ≥ x, ∀x ∈ A;

(ii) Dado ε > 0, m − ε < y, para algum y ∈ A.

Exemplo 4. Seja A = {−1, − 21 , · · · , − n1 , · · · }, então 0 = sup A mas 0 não é o máximo de


A. Para ser máximo precisa estar no conjunto.

Definição 7. Um conjunto A ⊂ R é dito ser limitado se A é limitado inferiormente e


superiormente.

Proposição 1. Se A é um conjunto limitado, então existe M > 0 tal que |x| ≤ M, ∀x ∈ A.

Demonstração. Como A é limitado, então A é limitado inferiormente e A é limitado supe-


riormente.
Como A é limitado inferiormente, então existe k ∈ R tal que x ≥ k, ∀x ∈ A.
Como A é limitado superiormente, então existe r ∈ R tal que x ≤ r, ∀x ∈ A.
Logo k ≤ x ≤ r, ∀x ∈ A.
Fazendo M = max{|r|, |k|}, teremos que −M ≤ k ≤ x ≤ r ≤ M, ou seja, |x| ≤ M.

2
Lista de Exercı́cios

1) Se um conjunto A de R tem uma cota inferior, então A tem inf .

2) Se B é um conjunto que tem uma cota superior, então sup B = − inf(−B), onde
−B = {x ∈ R : x = −b, b ∈ B}. Daı́ se segue que todo conjunto não-vazio, que tem
cota superior, tem um sup .

3) Mostre que o conjunto N dos números inteiros positivos não tem cota superior.

1
4) Mostre que dado um real positivo a, existe um inteiro positivo n tal que < a.
n
5) Mostre que o corpo dos reais é arquimediano, i.e., dados dois reais a, b, com 0 < a < b,
existe um inteiro n tal que na > b.

6) Sejam x ∈ R e A = {x ∈ R : r ∈ Q e x < r}. Mostre que x = inf A.

7) Mostre que o conjunto Q é denso em R. Em outras palavras, dados dois números


reais quaisquer x < y, existem racionais r tais que x < r < y.

8) Sejam A e B conjuntos numéricos não-vazios e limitados.

Prove que

A ⊂ B =⇒ sup A ≤ sup B e inf A ≥ inf B

9) Sejam A e B conjuntos numéricos não vazios, tais que a ≤ b para todo a ∈ A e todo
b ∈ B. Prove que sup A ≤ inf B. Prove ainda que sup A = inf B ⇔ qualquer que seja
ε > 0, existem a ∈ A e b ∈ B tais que b − a < ε.

10) Sejam A e B dois conjuntos numéricos não vazios, limitados inferiormente, e r um


número tal que r ≤ a + b para todo a ∈ A e todo b ∈ B. Prove que r ≤ inf A + inf B.
Enuncie e demonstre resultado análogo para os supremos.

11) Dados dois conjuntos limitados A e B, definimos o conjunto

A + B = {a + b : a ∈ A, b ∈ B}.

Prove que

sup(A + B) = sup A + sup B e inf(A + B) = inf A + inf B

3
12) Dado um conjunto numérico limitado A, e um número real qualquer α, definimos o
conjunto αA = {αa : a ∈ A}. Mostre que sup(αA) = α sup A, inf(αA) = α inf A se
α ≥ 0; e sup(αA) = α inf A se α < 0. Em particular, sup(−A) = − inf A, ou ainda,
sup A = − inf(−A).

13) Seja A um subconjunto dos números naturais limitado. Então existe max A.

14) Seja A um subconjunto limitado de números reais e seja C = {x − y | x, y ∈ A}. Então

sup C = sup A − inf A.

15) Seja A um subconjunto limitado de números reais, então

sup |A| − inf |A| ≤ sup A − inf A.

√ √
16) Seja A = {x ∈ R | x > 2}. Prove que inf (A) = 2.

4
Capı́tulo 2

Seqüências

Seja A um conjunto qualquer e (x1 , x2 , · · · , xn , · · · ) uma lista de elementos neste conjunto


A. Então dizemos que esta lista (x1 , · · · , xn , · · · ) é uma sequência de elementos em A.
Muitas vezes representaremos esta lista na forma (xn ) onde, para cadda n ∈ N o elemento
xn é o n-ésimo elemento da lista (xn ). Como cada posição n está associada a um elemento
xn ∈ A, então uma sequência pode ser vista como uma função ϕ : N → A, onde n 7→ xn .
Se a função ϕ puder ser escrita explicitamente, então muitas vezes utilizaremos (ϕ(n)) para
representar a sequência (xn ). Se (x1 , · · · , xn , · · · ) é uma sequência e (y1 , · · · , yn , · · · ) é uma
sequência obtida de (x1 , · · · , xn , · · · ) eliminando elementos da lista (x1 , · · · , xn , · · · ) então
dizemos que (y1 , y2 , · · · , yn , · · · ) é uma subsequência de (x1 , · · · , xn , · · · ). Neste caso, para
cada k ∈ N existirá nk ∈ N tal que yk = xnk . Portanto, muitas vezes utilizaremos (xnk )
quando queremos representar uma subsequência de (xn ).
A partir de agora utilizaremos o termo sequência ficará restrito a listas infinitas de
números reais.

Definição 8. Uma sequência (xn ) é dita ser monotóna não decrescente se

x1 ≤ x2 ≤ · · · ≤ xn ≤ · · ·

Definição 9. Uma sequência (xn é dita ser monótona não crescente se

x1 ≥ x2 ≥ · · · ≥ xn ≥ · · ·

Definição 10. Uma sequência (xn ) é dita ser crescente se

x1 < x2 < · · · < xn < · · ·

Exemplo 5. As sequências n2 , (en ) e (log n) são sequências crescentes.




Definição 11. Uma sequência (xn ) é dita ser decrescente se

x1 > x2 > · · · > xn > · · ·

5
 
1
e e−n são sequências decrescentes.

Exemplo 6. As sequências
n
Observação 1. Toda sequência crescente é uma sequência monótona não-decrescente e
toda sequência decrescente é uma sequência monótona não-crescente.

Definição 12. Uma sequência (xn ) monótona é uma sequência que é monótona não
decrescente ou monótona não crescente.

Definição 13. Uma sequência (xn ) é dita ser uma sequência constante se existe um
k ∈ R tal que xn = k para todo n ∈ N.

Observação 2. Uma sequência monótona não-decrescente e monótona não-crescente é uma


sequência constante.

Observação 3. Se (xnk ) é uma subsequência de (xn ), então (nk ) é uma sequência crescente
de números naturais.

2.1 Convergência de sequências

Dizemos que uma sequência (xn ) converge para um número real L se para todo intervalo
aberto I de R contendo L temos que A = {n ∈ N | xn ∈ I} é infinito e B = {n ∈ N | xn 6∈ I}
é finito, ou seja, se existe uma quantidade infinita de ı́ndices n tais que xn ∈ I e existe uma
quantidade finita de ı́ndices m tais que xm 6∈ I.
Se uma sequência (xn ) converge para L dizemos que o limite da sequência (xn ) é L
e utilizaremos a notação lim xn = L para dizer que o limite da sequência (xn ) é L.
Uma formulação matemática para o conceito de convergência de sequências é a seguinte:

Definição 14. Uma sequência (xn ) converge para um número real L se, e somente se, para
qualquer ε > 0, existe n0 ∈ N tal que

|xn − L| < ε para todo n ≥ n0 .

Proposição 2 (Unicidade do limite). Se lim xn = L e lim xn = M, então M = L.

Demonstração. Suponhamos que L 6= M.


|L−M |
Como lim xn = L e lim xn = M , tomando ε = 2 > 0, existe n0 ∈ N tal que
|xn − L| < ε e |xn − M | < ε para todo n ≥ n0 .
Assim, para n ≥ n0 ,

|L − M | = |L − xn + xn − M | ≤ |L − xn | + |xn − M | < 2ε = |L − M |,

o que é um absurdo.
Logo L = M.

6
Definição 15. Dizemos que uma sequência (xn ) é limitada se existe M > 0 tal que
|xn | ≤ M para todo n ∈ N.

Proposição 3. Toda sequência convergente é limitada.

Demonstração. Seja (xn ) uma sequência tal que lim xn = L. Assim, dado ε > 0 existe
n0 ∈ N tal que
|xn | − |L| ≤ |xn − L| < ε, ∀n ≥ n0 .

Assim, |xn | < ε + |L|, ∀n ≥ n0 . Tomando M = max{|x1 |, · · · , |xn0 |, ε + |L|}, obtemos que
|xn | ≤ M para todo n ∈ N. Logo (xn ) é limitada.

Proposição 4. Toda sequência monótona e limitada é convergente.

Demonstração. Suponhamos que x1 ≤ x2 ≤ · · · ≤ xn ≤ · · · .


Como (xn ) é limitada, então existe m = sup(xn ). Assim, dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal
que m − ε < xn0 ≤ xn ≤ m < m + ε para todo n ≥ n0 . Logo |xn − m| < ε para todo n ≥ n0 .
Portanto lim xn = sup(xn ).

Proposição 5 (Teorema do Sanduı́che). Sejam (xn ), (yn ) e (zn ) sequências tais que xn ≤
yn ≤ zn . Se lim xn = lim zn = L, então lim yn = L.

Demonstração. Como lim xn = lim zn = L, dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que

|xn − L| < ε e |zn − L| < ε, ∀n ≥ n0 .

Daı́,
L − ε < xn ≤ yn ≤ zn ≤ L + ε, ∀n ≥ n0 ,

o que implica em
|yn − L| < ε, ∀n ≥ n0 .

Logo lim yn = L.

Proposição 6. Sejam (xn ), (yn ) sequências tais que xn < yn , ∀n ∈ N. Mostre que se
lim xn = L e lim yn = M, então L ≤ M.

Demonstração. Suponhamos que L > M.


L−M
Como lim xn = L e lim yn = M, então tomando ε = 4 , existe n0 ∈ N tal que

|xn − L| < ε e |yn − M | < ε, ∀n ≥ n0 .

Assim, para n ≥ n0 ,

L − ε < xn < L + ε e M − ε < yn < M + ε.

7
L−M L−M
Logo L − ε < M + ε, o que implica em ε = 4 > 2 , o que é um absurdo.
Logo L ≤ M.

|L|
Proposição 7. Se lim xn = L 6= 0, então existe n0 ∈ N tal que |xn | > 2 para todo n ≥ n0 .

|L|
Demonstração. Como lim xn = L então tomando ε = 2 > 0, existe n0 ∈ N tal que

|L| − |xn | ≤ |xn − L| < ε, ∀n ≥ n0 .

|L| |L|
Logo, |xn | > |L| − ε = |L| − = , ∀n ≥ n0 .
2 2
Proposição 8. lim xn = L se, e somente se, para k > 0, dado ε0 > 0, ∃n0 ∈ N tal que
|xn − L| < ε0 k para todo n ≥ n0 .

ε
Demonstração. Dado ε > 0, tome ε0 = k > 0. Portanto, para este ε0 > 0, existe n0 ∈ N tal
que
ε
|xn − L| < ε0 k = · k = ε para todo n ≥ n0 .
k
Logo lim xn = L.
Reciprocamente, se lim xn = L então, para qualquer escolha de ε0 > 0, tome ε = ε0 k > 0.
Assim, para este ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que |xn − L| < ε = ε0 k para todo n ≥ n0 .

Exemplo 7. Para cada n ∈ N, seja 0 ≤ tn ≤ 1. Se lim xn = lim yn = a, então

lim[tn xn + (1 − tn )yn ] = a.

De fato, como lim xn = lim yn = a, ento, dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que para todo
n ∈ N tal que n ≥ n0 ,
ε ε
|xn − a| < e |yn − a| < .
2 2
Assim, para todo n ∈ N tal que n ≥ n0 ,

|tn xn + (1 − tn )yn − a| = |tn xn + (1 − tn )yn − (tn a + (1 − tn )a|

= |tn (xn − a) + (1 − tn )(yn − a)| ≤ |tn ||xn − a| + |1 − tn ||yn − a|


ε ε
= tn |xn − a| + (1 − tn )|yn − a| < tn + (1 − tn ) = ε.
2 2
Exemplo 8. Se N = N1 ∪ N2 ∪ · · · ∪ Nk e limx∈N1 xn = limx∈N2 xn = · · · = limx∈Nk = a,
então limn∈N xn = a.

De fato, como lim xn = lim xn = · · · = lim = a, então dado ε > 0 existem n1 ∈


x∈N1 x∈N2 x∈Nk
N1 , n2 ∈ N2 , · · · , nk ∈ Nk tais que

|xn − a| < ε, ∀n ∈ Ni tal que n ≥ ni , i = 1, · · · , k.

8
Tomando n0 = max{n1 , n2 , · · · , nk }, temos que

|xn − a| < ε, ∀n ∈ N1 ∪ N2 ∪ · · · ∪ Nk = N tal que n ≥ n0 .

Logo lim xn = a.
x∈N

2.2 Propriedades do limite de sequências

Proposição 9. Sejam (xn ), (yn ) sequências tais que lim xn = L e lim yn = M, onde L, M ∈
R. Então

(i) lim (xn + yn ) = L + M.

(ii) lim (kxn ) = kL, ∀k ∈ R.

(iii) lim xn yn = LM.


xn L
(iv) lim = , se M 6= 0.
yn M

Demonstração.
ε
(i) Como lim xn = L e lim yn = M, então, dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que |xn − L| <
2
ε
e |yn − M | < , ∀n ≥ n0 . Assim, utilizando a Desigualdade Triangular,
2
ε ε
|xn + yn − (L + M )| = |xn − L + yn − M | ≤ |xn − L| + |yn − M | < + = ε, ∀n ≥ n0 .
2 2

Portanto, lim(xn + yn ) = L + M.

ε
(ii) Como lim xn = L então dado ε > 0, ∃n0 ∈ N tal que |xn − L| < |k|+1 , ∀n ≥ n0 .
|k|
Assim, |kxn − kL| = |k||xn − L| < ε < ε, ∀n ≥ n0 .
|k| + 1
(iii) Como lim xn = L e lim yn = M, então

– (xn ) é limitada, ou seja, existe K > 0 tal que |xn | ≤ K, ∀n ∈ N.


ε ε
– Dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que |xn −L| < e |yn −M | < , ∀n ≥
|M | + K |M | + K
n0 .

Portanto,

|xn yn − LM | = |xn yn − xn M + xn M − LM | = |xn (yn − M ) + M (xn − L)|

≤ |xn ||yn − M | + |M ||xn − L| ≤ K|yn − M | + |M ||xn − L|


ε ε
<K + |M | = ε, ∀n ≥ n0 .
|M | + K |M | + K

9
(iv) Como lim xn = L e lim yn = M então

|M |
– Existe n1 ∈ N tal que |yn | > , ∀n ≥ n1 .
2
ε|M |2 ε|M |2
– Dado ε > 0, ∃n2 ∈ N tal que |xn − L| < e |yn − M | < .
2(|M | + |L|) 2(|M | + |L|)
Assim, para todo n ≥ n0 = max{n1 , n2 },

xn L |xn M − yn L|
yn − M =

|yn ||M |

|xn M − LM + LM − yn L| |M (xn − L) + L(M − yn )|


= =
|yn ||M | |yn ||M |
1 2
≤ (|M ||xn − L| + |L||yn − M |) ≤ (|M ||xn − L| + |L||yn − M |)
|M ||yn | |M |2
|M |2 |M |2
 
2
< |M |ε + |L|ε
|M |2 2(|M | + |L|) 2(|M | + |L|)
2 (|M | + |L|)|M |2
= ε = ε.
|M |2 2(|M | + |L|)
xn L
Portanto lim = .
yn M

Exemplo 9. Se lim xn = L e lim(xn − yn ) = 0, então lim yn = a.

Como lim xn = a e lim(xn − yn ) = 0, então lim yn = lim[xn − (xn − yn )] = a − 0 = a,


pelas propriedades do limite da soma e do limite do produto por uma constante.

b
Exemplo 10. Se lim xn = a 6= 0 e lim xn yn = b então lim yn = .
a
Como lim xn = a 6= 0 e lim xn yn = b então

xn yn b
lim yn = lim = ,
xn a

pela propriedade do limite do quociente.

a
Exemplo 11. Seja b 6= 0. Se lim xn = a e lim xynn = b, então lim yn = .
b
xn xn a
Como lim xn = a e lim = b, então lim yn = lim xn = , pela propriedade do limite
yn yn b
do quociente.

10
Desigualdade de Bernoulli

Proposição 10. Para todo n ∈ N e a > −1,

(1 + a)n ≥ 1 + na

Demonstração. Para n = 1 temos que (1 + a)1 = 1 + a ≥ 1 + 1 · a.


Suponhamos que
(1 + a)n ≥ 1 + na para algum n ∈ N. (2.1)

Desta forma, como 1 + a > 0, multiplicando ambos os membros da inequação (2.1) por
(1 + a), obtemos

(1 + a)n+1 ≥ (1 + na)(1 + a) = 1 + a + na + na2

= 1 + (n + 1)a + na2 ≥ 1 + (n + 1)a.

Logo, por indução, (1 + a)n ≥ 1 + na para todo n ∈ N e a > −1.



n
Exemplo 12. Para qualquer a > 0, lim a = 1.

Analisaremos os casos a ≥ 1 e 0 < a < 1:



(i) Se a ≥ 1, seja (xn ) tal que n
a = 1 + xn . Desta forma, como a ≥ 1, temos que
xn ≥ 0. Portanto, a = (1 + xn )n ≥ 1 + nxn , pela Desigualdade de Bernoulli. Assim,
a−1
≥ xn ≥ 0.
n
Como lim a−1
n = 0, então, segue que lim xn = 1, pelo Teorema do Sanduı́che.

n
Logo lim a = lim 1 + xn = 1 + 0 = 0, pela Propriedade do Limite da soma.

1 q √ q
(ii) Se 0 < a < 1, então > 1. Assim, por (i), lim n a1 = 1. Portanto, lim n a = n 11 =
a a
1
q
n 1
, pela Propriedade do limite do quociente.
a

p √
n n
Exemplo 13. lim n = 1.
p√ √2
Observe primeiro que lim n n n = lim n n. Como no exemplo anterior, se (xn ) é uma

2 2
sequência tal que n n = 1+xn , então xn ≥ 0 e n = (1+xn )n ≥ 1+n2 xn , pela Desigualdade
n−1
de Bernoulli. Com isto, 0 ≥ xn ≥ Assim, como lim n−1
n2
. n2
= 0, temos que lim xn = 0, pelo
p √
n n

2
Teorema do Sanduı́che. Logo, lim n = lim n n = lim 1 + xn = 1, pela Propriedade do
Limite da Soma.

n
Exemplo 14. lim n = 1.

11

Como no exemplo anterior, se (xn ) é uma sequência tal que n n = 1+xn , então xn ≥ 0 e
q
n = (1+xn )n = nk=0 nk xkn ≥ 1+ n2 x2n = 1+ n(n−1) 2 Desta forma, 0 ≤ x ≤ 2(n−1)
P  
n xn n n(n−1) =
q √ √
2 √2 √2
n = n e, como lim n = 0, temos que lim xn = 0, pelo Teorema do Sanduı́che.

1
Exemplo 15. lim(n2 + n) 2n+1 = 1.
1 1 1 1 1
p
n
√ √
Observe que 1 ≤ (n2 + n) 2n+1 ≤ (n2 + n2 ) 2n+1 ≤ (2n2 ) 2n = 2 2n (n2 ) 2n = 2 n n.
p
n
√ √ √ √
Portanto, como lim 2 = 1 e lim n n = 1, temos que lim 2 n n = 1, pela Propriedade
1
do Limite do Produto. Logo, lim(n2 + n) 2n+1 = 1, pelo Teorema do Sanduı́che.

2.3 Limites infinitos

Definição 16. Dizemos que o limite de uma sequência (xn ) tende para o infinito, +∞, se
para qualquer K > 0 escolhido existir n0 ∈ N tal que para todo número natural n ≥ n0 ,
tenhamos xn > K.

Exemplo 16. lim n2 = +∞.

De fato, dado K > 0,

n2 ≥ n > K sempre que n ≥ n0 > K.

Exemplo 17. lim(n3 − 5n2 + 2) = +∞.

De fato, dado K > 0,

9n3 − 5n2 + 7 ≥ 9n2 − 5n2 + 7 = 4n2 + 7 > 4n2 > n2 > n > K,

sempre que n ≥ n0 > K.

Definição 17. Dizemos que o limite de uma sequência (xn ) tende para menos infinito,
−∞, se para qualquer K < 0 escolhido existir n0 ∈ N tal que xn < K, ∀n ≥ n0 .

Exemplo 18. lim(−4n5 + 5n2 ) = −∞.

De fato, dado K < 0,

n≥2
−4n5 + 5n2 < −4n5 + 3n5 = −n5 < −n < K

sempre que n ≥ n0 > max{−K, 2}.

12
2.4 Sequências de Cauchy

Definição 18. Dizemos que um ı́ndice i de uma sequência (xn ) é um elemento destacado
se xi ≥ xn para todo n ≥ i.

Teorema 1 (Teorema de Bolzano-Wierstrass). Toda sequência limitada possui uma sub-


sequência convergente.

Demonstração. Sejam (xn ) uma sequência limitada e A o conjunto dos elementos destacados
para esta sequência. Se A for infinito então existe uma sequência (nk ) de elementos desta-
cados, onde n1 < n2 < n3 < · · · < nk < · · · , o que implica em xn1 ≥ xn2 ≥ · · · ≥ xnk ≥ · · · .
Logo (xnk ) será uma subsequência monótona não-crescente e limitada de (xn ). Portanto,
pela Proposição , (xnk ) é convergente.
Se A for finito então existirá n1 ∈ N maior que todos os elementos de A. Desta forma,
comoo n1 6∈ A, então existirá n2 > n1 tal que xn2 > xn1 e n2 6∈ A. Portanto, como n2 6∈ A,
existirá n3 > n2 tal que xn3 > xn2 e n3 6∈ A. Continuando este processo, teremos uma
sequência de ı́ndices (nk ) tal que n1 < n2 < · · · < nk < · · · com xn1 < xn2 < · · · < xnk <
· · · . Logo, (xnk ) é uma subsequência monótona e limitada de (xn ) e, portanto, (xnk ) é
convergente.

Definição 19. Uma sequência (xn ) é uma sequência de Cauchy se para qualquer escolha
de ε > 0, existir n0 ∈ N tal que para todos m, n ≥ n0 ,

|xn − xm | < ε.

Proposição 11. Toda convergente é uma sequência de Cauchy.

Demonstração. Seja (xn ) uma sequência convergente. Desta forma, existirá L ∈ R tal que
ε ε
lim xn = L. Portanto, dado ε > 0 existe n0 ∈ N tal que |xn − L| < 2 e |xm − L| < 2 para
todos m, n ≥ n0 . Assim, para m, n ≥ n0 ,

ε ε
|xn − xm | = |xn − L + L − xm | ≤ |xn − L| + |xm − L| < + = ε.
2 2

Logo (xn ) é uma sequência de Cauchy.

Proposição 12. Toda sequência de Cauchy é limitada.

Demonstração. Seja (xn ) uma sequência de Cauchy. Portanto, para ε > 0 existirá n0 ∈ N
tal que para todos n, m ≥ n0 ,
|xn − xm | < ε.

13
Em particular, se m = n0 , teremos |xn | − |xn0 | ≤ |xn0 − xn | < ε para todo n ≥ n0 . Assim,
|xn | < |xn0 | + ε, ∀n ≥ n0 .
Tomando M = max{|x1 |, · · · , |xn0 −1 |, ε+|xn0 |}, obtemos que |xn | ≤ M para todo n ∈ N.
Logo (xn ) é limitada.

Proposição 13. Toda sequência de Cauchy é convergente.

Demonstração. Seja (xn ) uma sequência de Cauchy. Pela Proposição anterior, (xn ) é li-
mitada. Portanto, pelo Teorema de Bolzano-Wierstrass, existe uma subsequência (xnk ) de
(xn ) convergente. Desta forma, se lim xnk = L, dado ε > 0 existe n1 ∈ N tal

ε
|xnk − L| < , ∀k ≥ n1 .
2

Além disso, como (xn ) é uma sequência de Cauchy, para este ε > 0, existirá n2 ∈ N tal que

ε
|xn − xm | < , ∀m, n ≥ n2 .
2

Em particular, como nm ≥ m, teremos que

ε
|xn − xnm | < , ∀m, n ≥ n2 .
2

Tomando n0 = max{n1 , n2 },

ε ε
|xn − L| = |xn − xnm + xnm − L| ≤ |xn − xnm | + |xnm − L| < + , ∀m, n ≥ n0 .
2 2

Logo, lim xn = L, i.e, (xn ) é convergente.

2.5 Sequências na forma recorrente

Definição 20. Dizemos que uma sequência (xn ) é escrita na forma recorrente se o
termo geral desta sequência é escrito em função dos termos anteriores, ou seja, se existir
uma função f de forma que (xn ) tem uma apresentação na forma xn = f (x1 , · · · , xn−1 ).

Exemplo 19. As seguintes sequências são sequências escritas na forma recorrente:

(i) xn = xn−1 + xn−2 , x1 = 1, x2 = 1;


(ii) yn+1 = yn , y1 = 2;
p √
(iii) zn+1 = 2 + zn , z1 = 1.


Proposição 14. Se xn = xn−1 com x1 = a > 1, então lim xn = 1.

14
Demonstração. Mostraremos primeiramente que xn > 1 para todo n ∈ N. De fato, como
√ √ √ √
x1 = a > 1 e x2 = x1 = a > 1 > 1. Suponhamos que xn > 1. Assim, xn+1 = xn >

1 = 1. Logo, por indução, xn > 1 para todo n ∈ N.

Como xn > 1 para todo n ∈ N, temos que xn = xn−1 < xn−1 para todo n ∈ N.
Portanto, (xn ) é monótona decrescente e limitada. Logo (xn ) é convergente.

De xn = xn−1 temos que x2n = xn−1 e como (xn ) é convergente, digamos lim xn = L,
teremos que L2 = L ⇒ L2 − L = 0 ⇒ L(L − 1) = 0. Logo L = 0 ou L = 1. Mas lim xn ≥ 1.
Logo, lim xn = L = 1.

Proposição 15. Se xn = 2 + xn−1 com x1 = a, onde 0 < a < 2, então lim xn = 2.

Demonstração. Mostraremos primeiramente que xn < 2 para todo n ∈ N. Como x1 = a < 2


√ √ √
e supondo que xn < 2, temos que xn+1 = 2 + xn < 2 + 2 = 4 = 2. Logo, por indução,
xn < 2 para todo n ∈ N.
Além disso, como xn < 2 para todo n ∈ N, temos que x2n − xn − 2 < 0. Assim,
√ p
xn+1 = 2 + xn < x2n = xn−1 .
Logo, (xn ) é monótona e limitada e, portanto, convergente. Assim, existe L ∈ R tal que

lim xn = L e como xn = 2 + xn−1 , temos que x2n = 2 + xn−1 ⇒ lim x2n = lim 2 + xn−1 ⇒
L2 = 2 + L ⇒ L2 − L − 2 = 0. Assim, L = −1 ou L = 2. Mas de xn > 0, temos que
lim xn = L ≥ 0. Logo lim xn = L = 2.

yn = +∞. Se lim xynn = a, então


P
Proposição 16. Seja yn > 0 para todo n ∈ N, com

x1 + x2 + · · · + xn
lim = a.
y1 + · · · + yn

Demonstração. Como lim xynn = a, então dado ε > 0 existe n1 ∈ N tal que

xn ε
yn − a < 2 , ∀n ≥ n1

P
Como yn = +∞, então lim (y1 + · · · + yn ) = +∞.
Assim, tomando K > |x1 − ay1 + · · · + xn1 − ayn1 |, para este ε > 0, existe n2 ∈ N tal
que
2K
y1 + · · · + yn > , ∀n ≥ n2
ε
Portanto, tomando n0 = max{n1 , n2 }, então para todo n ≥ n0 , temos


x1 + · · · + xn x1 + · · · + xn − a(y1 + · · · + yn )
y1 + · · · + yn − a =

y1 + · · · + yn

(x1 − ay1 ) + (x2 − ay2 ) + · · · + (xn − ayn )
=
y1 + · · · + yn

15
|(x1 − ay1 ) + · · · + (xn1 − ayn1 )| |(xn1 +1 − ayn1 +1 ) + · · · + (xn − ayn )|
≤ +
y1 + · · · + yn y1 + · · · + yn

K yn1 +1 xn1 +1 yn xn
< + − a + · · · + + · · · +
− a
y1 + · · · + yn y1 + · · · + yn yn1 +1
y1 + · · · + yn yn

ε yn1 +1 ε yn ε
<K + + +··· +
2K y1 + · · · + yn 2 y1 + · · · + yn 2
 
yn +1 + · · · + yn ε ε
< 1+ 1 < (1 + 1) = ε.
y1 + · · · + yn 2 2
x1 + x2 + · · · + xn
Logo lim = a.
y1 + · · · + yn
x1 +···+xn
Proposição 17. Se lim xn = a, pondo yn = n , então lim yn = a.

Demonstração. Considere (x̃n ) e (ỹn ) sequências tais que x̃n = xn e ỹn = 1 para todo n ∈ N.
yn = +∞. Além disso, como lim xn = lim x̃ỹnn = a, temos que
P
Desta forma, ỹn = 1 > 0 e
x1 + · · · + xn x̃1 + · · · + x̃n
lim = lim = a,
n ỹ1 + · · · + ỹn
pela Proposição 16.

Proposição 18. Se lim xn = a e os xn ’s são todos positivos, então



lim n
x1 · x2 · · · xn = a.

Demonstração. Considere (x̃n ) uma sequência tal que x̃n = ln xn para todo n ∈ N. Assim,
xn = ex̃n e como lim xn = a, então lim x̃n = ln a. Desta forma,
√ √
n
lim n
x1 · x2 · · · xn = lim ex̃1 · · · ex̃n

n x̃1 +···+x̃n
= lim ex̃1 +···+x̃n = lim e n = eln a = a.

Proposição 19. Se (yn ) é crescente e lim yn = +∞, então


xn+1 − xn xn
lim = a ⇒ lim = a.
yn+1 − yn yn
Demonstração. Sejam (x̃n ) e (ỹn ) sequências satisfazendo x̃n = xn+1 − xn e ỹn = yn+1 − yn .
Assim, como (yn ) é crescente e lim yn = +∞, temos que ỹn > 0 e ỹ1 + · · · + ỹn = (y2 − y1 ) +
n+1 −xn
(y3 − y2 + · · · + (yn+1 − yn ) = yn+1 − y1 → +∞. Portanto, como lim x̃ỹnn = lim xyn+1 −yn = a,
xn+1 −x1
temos que lim x̃ỹ11 +···+x̃ n
+···+ỹn = lim yn+1 −y1 = a, pela Proposição 16. Agora, como yn → ∞, temos
 
y1 x1 xn+1 xn+1 − x1 y1 x1
que lim yn+1 = 0 e lim yn+1 = 0. Observe agora que = 1− + .
  y n+1 y − y
n+1  1 yn+1 y n+1
xn xn+1 xn+1 − x1 y1 x1
Assim, lim = lim = lim 1− + = a(1 − 0) + 0 = a, pelas
yn yn+1 yn+1 − y1 yn+1 yn+1
Propriedades do Limite do Produto e do Limite da soma.

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Referências Bibliográficas

[1] Figueiredo, D. G., Análise I, LTC - Livros Técnicos e Cientı́ficos, Rio de Janeiro,
1996.

[2] Lima, E. L., Curso de Análise, Vol. 1, Projeto Euclides, IMPA - CNPq, 1995.

[3] Ávila, G., Introdução á Análise Matemática, Editora Edgard Blücher Ltda., 2a
¯
Edição, São Paulo, 1993.

[4] Lang, S., Analysis I, Addison-Wesley, 1968.

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