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PME3398 – Fundamentos de Termodinâmica e Transferência de Calor

1 semestre / 2017 – Profs. Bruno Souza Carmo e Antonio Luiz Pacífico


o

Gabarito da Prova de Recuperação

Questão 1: Um grande galpão de armazenamento conta com uma bomba de calor para manter
seu interior aquecido. O ambiente interno do galpão deve ser mantido a 25 °C. A bomba de
calor funciona com um ciclo de refrigeração por compressão de vapor ideal operando com R-
134a, que entra no compressor adiabático e reversível como vapor saturado a −15 °C. A pressão
máxima do ciclo é de 1000 kPa e o R-134a deixa o condensador como líquido saturado. A vazão
mássica de R-134a no ciclo é de 0,27 kg/s. O evaporador do ciclo aproveita a passagem de um
rio muito próximo ao galpão. Por questões de simplicidade de projeto, o evaporador do ciclo
é apenas um tubo metálico com 22 mm de diâmetro externo imerso transversalmente ao fluxo
do rio. No local de imersão do tubo do evaporador, a velocidade da água do rio é de 3 m/s
e sua temperatura vale 15 °C. O condensador é composto de um conjunto de módulos. Cada
módulo, por sua vez, é composto de uma serpentina metálica soldada à uma chapa também
metálica de dimensões 2 m × 1,5 m. O lado de cada chapa que não tem a serpentina soldada
fica exposto à um fluxo de ar com a temperatura do ambiente interno do galpão e velocidade de
10 m/s imposta por pequenos ventiladores que sopram o ar sobre a chapa na direção paralela
ao seu comprimento de 2 m. O lado de cada chapa com a serpentina soldada está isolado
termicamente. Ambos evaporador e condensador são fabricados com materiais metálicos de
elevada condutividade térmica e, portanto, apresentam resistências condutivas praticamente
desprezíveis. Assim, as temperaturas das superfícies externas do tubo evaporador e da chapa
de cada módulo do condensador podem ser tomadas como aproximadamente iguais à do R-134a
ao passar por esses dispositivos.

(a) Para o ciclo determine: a taxa de transferência de calor no evaporador; a taxa de trans-
ferência de calor no condensador; e o coeficiente de desempenho da bomba de calor.
(2,0 pontos)

(b) Qual o comprimento de tubo necessário no evaporador? (1,5 ponto)

(c) Quantos módulos (chapas) deverão ser instalados dentro do galpão para que a quantidade
necessária de calor rejeitado no condensador seja respeitada? Dadas as características
particulares do processo de condensação, a temperatura do R-134a não será constante
durante sua passagem por este dispositivo. Porém, para efeitos de cálculos, considere que
o processo de condensação se dê à uma temperatura média constante, T cond , obtida via
T cond = ṁ.(sQ̇c,scond
−sc,e )
, onde Q̇cond é a taxa de transferência de calor no condensador, ṁ é a
vazão mássica de R-134 através do condensador e sc,e e sc,s são as entropias específicas do
R-134a na entrada e na saída do condensador, respectivamente. (1,5 ponto)

Solução:

(a) Com base nas informações do enunciado, obtém-se as propriedades necessárias do R-134a
para cada estado do ciclo. A Figura 1 ilustra o diagrama T × s de um ciclo de refrigeração por
compressão de vapor ideal.
T [ o C] 2

1 2 : compressor
2 3 : condensador
3 4 : válv. expansão
3
4 1 : evaporador

4
1

s[kJ/kg.K]

Figura 1 – Diagrama T × s de um ciclo de refrigeração por compressão de vapor ideal.

Estado 1: T1 = −15 °C e x1 = 1, assim, h1 = 389,20 kJ/kg, s1 = 1,7354 kJ/kg.K, e


p1 = 165 kPa.

Estado 2: s2 = s1 = 1,7354 kJ/kg.K e p2 = pmax = 1000 kPa, assim, por interpolação,


h2 = 426,79 kJ/kg e T2 = 45,95 °C.

Estado 3: x3 = 0 e p3 = p2 = pmax = 1000 kPa, assim, h3 = 255,56 kJ/kg, s3 = 1,1878 kJ/kg.K,


e T3 = 39,34 °C

Estado 4: p4 = p1 = 165 kPa e h4 = h3 = 255,56 kJ/kg.

Calculando:

Q̇evap = 4 Q̇1 = ṁ. (h1 − h4 ) = 0,27. (389,20 − 255,56) = 36,0828 kW

Q̇evap = 36,1 kW 0,8 pt


Q̇cond = 2 Q̇3 = ṁ. (h3 − h2 ) = 0,27. (255,56 − 426,79) = −46,2321 kW
Q̇cond = −46,2 kW 0,8 pt
|Q̇cond | 46,2321
β0 = = = 4,5552
|Q̇cond | − Q̇evap 46,2321 − 36,0828
β 0 = 4,6 0,4 pt

(b) O cálculo do comprimento do tubo do evaporador implica no conhecimento do coeficiente


de transferência de calor por convecção da água do rio escoamento transversalmente ao tubo
(cilindro), he . Do enunciado, dada a baixa resistência térmica do tubo, foi sugerido que se adota-
se que a temperatura da superfície externa do tubo, Te , fosse tomada como igual à temperatura
do R-134a no seu interior, Ti = T4 = T1 , portanto, Te = −15 °C. Designando por Tf,w e T∞,w
as temperaturas de filme e da água do rio para este caso:
T∞,w + Te 15 − 15
Tf,w = = = 0 = 273 K
2 2
As propriedades da água à Tf,w são: ρw = 1000 kg/m3 , µw = 1,75 × 10−3 Pa.s, kw =
0,569 W/(m.K) e Prw = 12,99. Procedendo ao cálculo de he :

ρw .U∞,w .De 1000.3.0,022


Ree = = = 37714,3
µw 1,75 × 10−3
 !5/8 4/5
0,62.Re1/2 1/3
e .Prw Ree
Nue = 0,3 + h · 1 + = 388,08
282000

2/3 1/4
i
1 + (0,4/Prw )
Nue .kw 388,08.0,569
he = = = 8743,978 W/(m2 .K)
De 0,022
A taxa de transferência de calor no evaporador já foi calculada no intem anterior. Assim:

Q̇evap
Q̇evap = he .π.De .Levap . (T∞,w − Te ) ⇒ Levap =
he .π.De . (T∞,w − Te )
36,0828.1000
Levap = = 1,9902 m
8743,978.π.0,022. [15 − (−15)]
Levap = 2 m 1,5 pt

(c) Foi indicado no enunciado tratar a superfície de cada placa do condensador como uma placa
plana com tempertura superficial constante dada por:

Q̇cond Q̇cond −46,2321


T cond = = =
ṁ.(sc,s − sc,e ) ṁ.(s3 − s2 ) 0,27.(1,1878 − 1,7354)

T cond = 312,6917 K = 39,7 °C


Pelos mesmo motivo descrito no item (b), pode-se adotar que a temperatura da superfície
externa da placa de cada modulo condensador, Tc , seja igual à esta tempertura média do R-
134a acima calculada: Tc = 39,7 °C. Novamente, para chegarmos à quantidade de módulos
condensadores é necessário conhecer o coeficiente de transferência de calor por convecção do
ar escoando sobre cada placa, hc . Chamando Tf,a e T∞,a as temperaturas de filme e do ar no
interior do galpão para este caso:
T∞,a + Tc 25 + 39,7
Tf,a = = = 32,35 °C = 305,4 K
2 2
As propriedades do ar à Tf,a são: νa = 16,42 × 10−6 m2 /s, ka = 26,69 × 10−3 W/(m.K) e
Pra = 0,706. Procedendo ao cálculo de hc :
U∞,a .Lc 10.2
Rec = = = 1.218.027
νa 16,42 × 10−6

Portanto, para se conhecer hc médio (sobre toda a placa), utiliza-se correlação para camada
limite mista:  
Nuc = 0,037.Re4/5
c − 871 .Pra1/3 = 1658,5
Nuc .ka 1658,5.26,69 × 10−3
hc = = = 22,133 W/(m2 .K)
Lc 2
A taxa de transferência de calor no condensador já foi calculada no intem anterior. Assim, cha-
mando de Nm o número de módulos condicionadores e wc a largura de cada placa dos múdulos
condionadores, a área superficial total de troca de calor será dada pelo produto Nm .Lc .wc :

|Q̇cond |
|Q̇cond | = hc .Nm .Lc .wc . (Tc − T∞,a ) ⇒ Nm =
hc .Lc .wc . (Tc − T∞,a )
46,2321.1000
Nm = = 47,37
22,133.2.1,5. (39,7 − 25)
A resposta deve ser um número interior. Assim, sendo conservativo:

Nm = 48 módulos condensadores 1,5 pt


Questão 2: A figura mostra esquematicamente um sistema de fornecimento de ar comprimido
para uma linha industrial. O compressor, que tem eficiência isentrópica de 0,9, suga ar
atmosférico (T0 = 25 °C, p0 = 100 kPa) e eleva sua pressão a p1 = 800 kPa, consumindo para
isso Ẇ = 5 kW de potência. O ar então percorre uma tubulação de aço (ka = 60 W/(m · K))
de 15 mm diâmetro interno, 2 mm de espessura de parede e 40 m de comprimento, até chegar
ao seu ponto de utilização (ponto 2). Neste percurso, o coeficiente de transferência de calor
por convecção natural e forçada combinadas entre a parede externa do tubo e o ar ambiente
vale 40 W/(m2 · K). Determine:
(a) A temperatura do ar na descarga do com-
pressor, T1 , e a vazão mássica fornecida; 0
(1,5 ponto) .
W
(b) A temperatura do ar no ponto de utilização, Compressor
T2 ; (2,5 pontos) 1 2
(c) A taxa de geração de entropia quando o sis-
tema está em operação. (1,0 ponto)
Obs: as temperaturas pedidas devem ser determinadas com incerteza de ±3 K.
Solução: Substância: ar, gás ideal com calores específicos variáveis.
(a) Faremos uma análise de volume de controle no compressor. Consideraremos um estado
hipotético isentrópico 1s na saída do compressor, para depois calcular o estado 1 usando a
informação de eficiência isentrópica da máquina.
Estado 0: T0 = 298,15 K, p0 = 100 kPa
tabelas: h0 = 298,62 kJ/kg 0,2 pt
Estado 1s: p1s = p1 = 800 kPa
p0 pr0 100 1,0907
Processo isentrópico: = ⇒ =
p1 pr1s 800 pr1s

pr1s = 8,7256 ⇒ h1s = 541,04 kJ/kg 0,3 pt

Da 1a Lei da termodinâmica: h0 + ws = h1s ⇒ ws = −242,42 kJ/kg 0,3 pt


ws ws
Da eficiência isentrópica: η = = ⇒ h1 = 567,98 kJ/kg 0,3 pt
w (h0 − h1 )
Interpolando na tabela: T1 = 562,39 K 0,2 pt
A vazão mássica é encontrada com a potência consumida:
5
Ẇ = ṁ(h1 − h0 ) ⇒ ṁ = = 0,01856 kg/s 0,2 pt
567,98 − 298,62

(b) Trata-se de um problema de convecção forçada em escoamento interno, com temperatura


externa constante. Precisaremos avaliar o valor do coeficiente global de troca de calor, U , e
para isso precisamos de todas as resistências térmicas do transporte de calor radial no tubo.
Resistência de condução:

ln(De /Di ) ln(0,019/0,015)


Rcond = = = 1,568 × 10−5 K/W 0,3 pt
2πLka 2π × 40 × 60
Resistência de convecção externa:
1 1
Rcv,e = = = 1,047 × 10−2 K/W 0,2 pt
he πDe L 40 × π × 0,019 × 40

Para calcular a resistência térmica com relação à convecção no escoamento interno, é preciso
antes de mais nada estimar um valor de Tm para avaliar as propriedades médias do ar. O
valor de Tm tem que estar entre T1 = 562,39 K e T0 = 298,15 K. Vamos usar inicialmente
Tm = 400 K 0,2 pt . Propriedades do ar a esta temperatura:

cp = 1014 J/(kg · K); µ = 2,301×10−5 Pa · s; kf = 0,0338 W/(m · K); Pr = 0,690 0,2 pt

4ṁ 4 × 0,01856
Re = = = 68466 0,2 pt
πDi µ π × 0,015 × 2,301 × 10−5

Como Re > 4000, o escoamento é turbulento. O comprimento de entrada fluidodinâmico é


Le = 4,4Re /6 Di = 0,422 m e o comprimento de entrada térmico LeT = 10Di = 0,15 m. Ambos
1

são muito menores do que o comprimento do tubo, portanto podemos considerar escoamento
plenamente desenvolvido.
Nu D kf
Nu D = 0,023Re 0,8 Pr 0,3 = 152,0; 0,3 pt hi = = 342,4 W/(m2 · K) 0,2 pt
Di

1
Resistência de convecção interna: Rcv,i = = 1,549 × 10−3 K/W 0,2 pt
hi πDi L
Coeficiente global de troca de calor:
1 1
= Rtot ⇒ Ui =
Ui πDi L (1,047 × 10−2 + 1,568 × 10−5 + 1,549 × 10−3 ) × π × 0,015 × 40

Ui = 44,08 W/(m2 · K) 0,2 pt

 
πDi L

= 298,15 + (562,39 − 298,15)e(− 0,01856×1014 ×44,08)


− Ui π×0,015×40
T2 = T0 + (T1 − T0 )e ṁcp

T2 = 301,35 K 0,3 pt

Reiterando com Tm = T0 − ∆Tml = 356,28 K:

cp = 1009,7 J/(kg · K); µ = 2,114 × 10−5 Pa · s; kf = 0,0306 W/(m · K); Pr = 0,699

Re = 74528; Nu D = 163,2; hi = 332,5 W/(m2 · K); Rcv,i = 1,505 × 10−3 K/W


Ui = 43,91 W/(m2 · K); T2 = 301,34 K 0,2 pt

O procedimento convergiu.
(c) Considerando todo o sistema como volume de controle, teremos que a taxa de geração de
entropia será dada por

Ṡger = ṁ(s2 − s0 ) −
T0
800
!
p2
 
(s2 − s0 ) = s0T2 − s0T0 − R ln = 6,86498 − 6,86305 − 0,287 × ln
p0 100

(s2 − s0 ) = −0,59587 kJ/(kg · K) 0,3 pt

Q̇ = ṁcp (T2 − T1 ) = 0,01856 × 1,0097 × (301,34 − 562,39) = −4,8922 kW 0,3 pt

!
−4,8922
∴ Ṡger = 0,01856 × (−0,59587) − = 5,368 × 10−3 kW/K 0,4 pt
298,15

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