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Nobre Assessoria Organizacional

Curso de Pós-Graduação em
Fundamentos Teóricos da Psicanálise e suas especificidades
clínicas

DANIEL RIBEIRO PINTO

ENSAIO SOBRE AS PULSÕES DE VIDA E DE MORTE E SUAS


RELAÇÕES COM O DESEJO

Salvador
2020
DANIEL RIBEIRO PINTO

ENSAIO SOBRE AS PULSÕES DE VIDA E DE MORTE E SUAS


RELAÇÕES COM O DESEJO

Dissertação apresentada ao
programa de Pós-Graduação em
fundamentos teóricos da
Psicanálise e suas
especificidades clínicas da Nobre
Assessoria Organizacional como
requisito avaliativo da disciplina
Teoria Psicanalítica I

Professora

Hortência Brandão

Salvador
2020
INTRODUÇÃO

Este ensaio visa definir inicialmente o conceito de pulsão e dentro de sua


subdivisão (pulsão de vida e de morte), estabelecer a conexão com o Desejo
na psicanálise, compreendendo sua evolução conceitual, as mudanças e as
associações com o desejo. O próprio conceito em si é impactado pela tradução
nos escritos freudianos, o que pode levar a interpretações equivocadas, e é por
tal razão que se faz necessário entendimento do termo pulsão para posterior
relação e associação com o desejo do sujeito.

Freud em sua primeira tópica faz a relação da pulsão com a pulsão de auto
conservação e pulsões sexuais e posteriormente, sob a influência do período
pós-guerra mundial, reestrutura a segunda tópica considerando a existência da
pulsão de morte (tânatos) e integrando as pulsões sexuais e de auto
conservação como pulsão de vida (Eros), estabelecendo uma interação
constante na vida do sujeito. Mas então o que viria a ser o desejo? Qual a
relação das pulsões com o desejo? Onde se origina o desejo? É sobre estas
questões que este ensaio se debruça a buscar a inter-relação dos conceitos de
pulsão de vida e de morte com o desejo.
¹SOBRE AS PULSÕES

Diferentemente da palavra instinto ou impulso, a pulsão faz uma conexão maior


com a ideia de algo que advém do inconsciente, e é no próprio consciente ela
habita, E que se insere na dinâmica do recalque, sendo este último quem
transforma a mesma em inconsciente, e é por esta peculiaridade que a pulsão
está sempre tentando driblar a censura. Segundo Freud (1915/2004) define a
pulsão como "conceito limite entre o psíquico e o somático, como
representante psíquico dos estímulos que provêm do interior do corpo e
alcançam a psique, como medida da exigência de trabalho imposta ao psíquico
em consequência de sua relação com o corpo". A pulsão nunca se dá, em si
mesma, nem a nível consciente, nem a nível inconsciente, ela só é conhecida
pelos seus representantes: O representante ideativo (Vorstellung) e o afeto
(Affekt). O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional,
de modo que, a pulsão por seu caráter ser sempre parcial, sempre quer
retornar a um estado de satisfação anterior, na medida em que se encontra a
satisfação, numa equação onde o estímulo (que tem sua característica
inconsciente) nunca acaba, sendo sua fonte somática e psíquica. Freud
percebe a dimensão narcísica e também para além dela, como um ponto onde
a pulsão se põe passiva de alterações constantemente. Nessa direção, Freud
(1915) define quatro destinos possíveis para a pulsão: 1- Reversão ao seu
oposto, o qual é desdobrado a partir de duas operações: mudança da atividade
para a passividade e reversão de seu conteúdo; 2- Retorno ao próprio eu; 3-
Recalque; e 4- Sublimação”.

²SOBRE O DESEJO

“Em Freud, pode-se falar de desejos, no plural, e de suas realizações nos


sonhos, nas formações de sintomas e no amor. A proposta lacaniana encontra-
se na concepção do desejo a partir da falta acentuada numa dialética com o
Outro. O desejo em Lacan se define em sua relação intrínseca com a
necessidade e com a demanda: o homem deseja porque a satisfação de suas
necessidades passa pelo apelo dirigido a um Outro, o que altera a satisfação,
transformada em demanda de amor (Lacan, 1957-1958/1999)”. Dentro dessa
concepção é possível direcionar uma compreensão sobre o desejo como forma
de expressão da pulsão : que não é temporal, que é parcial e por essa razão
não tem atuação momentânea, o que compreende a ideia de que o desejo é
sempre oscilante e está relacionado a uma fonte específica da pulsão, que é
próprio corpo. Segundo Lacan (1960/1998), “Em razão de sua ligação com a
ordem biológica, que não basta a si mesma, o amor, como relação com o Outro
na qual o sujeito se aliena, permanece marcado por uma exigência de
satisfação que não se dará no modo como é demandada. É nessa hiância
entre a necessidade e a demanda que o desejo se situa: ele “se esboça na
margem em que a demanda se rasga da necessidade”.

“... Ele opõe-se à noção de satisfação. O desejo é sua insatisfação; está


sempre em referência à impossibilidade (Miller,1997)”

³RELAÇÕES ENTRE PULSÕES E DESEJO

Há sempre uma representação do desejo sempre inclinado ao impossível de


ser alcançado por isso não tem caráter momentâneo, está em constantes
mudanças e impulsionado pelas pulsões, que insistentemente movimentam a
vida psíquica do sujeito. Segundo Freud (1925), “A pulsão nos aparecerá como
sendo um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, como o
representante psíquico dos estímulos que se originam dentro do organismo e
alcançam a mente, como uma medida de exigência feita à mente no sentido de
trabalhar em consequência de sua ligação com o corpo”. As pulsões de vida e
de morte delimitam onde o sujeito se encontra diante do desejo, dividindo-o, e
o desejo a mercê das pulsões, que ora tendem à manutenção da vida psíquica
ora operam na dimensão da autodestruição (pulsão de morte). Sempre existirá
uma demanda que não pode suportar o que o desejo exige, desta forma o
sujeito sempre estará fadado a incompletude, porque as pulsões nunca
sessam.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da vida psíquica do sujeito, as pulsões e o desejo são componentes


essenciais para o movimento da dinâmica do inconsciente. O desejo vem
representado pela demanda e as pulsões que tendem a se associar a ele, mas
por não depender de regras, não segue script perfeito, existe sempre uma
demanda nova, que é alimentada pelas pulsões e traduzida no desejo, ou seja,
o que mantem o fluxo psíquico em atividade constante.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FREUD, S. (1915). As pulsões e suas vicissitudes. In: Edição standard


brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro:
Imago, 1996, vol. XIV.

Lacan, J. (1999). O seminário livro V: as formações do inconsciente. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar. (Originalmente publicado em 1957-1958)

Miller, J.-A. (1997). O desejo. In Lacan elucidado: palestras no Brasil. Rio de


Janeiro: Jorge Zahar

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