João Guilherme Damiani – RA UNESP: 201120941 – Economia Diurno
O tema da distribuição de renda é um dos assuntos mais discutidos atualmente, talvez
pelo caráter assustador quando revelado os dados da quantia de dinheiro acumulado em pequenos grupos da sociedade, como no Brasil, que 1% da população do país concentra 28,3% da renda total, conforme ranking sobre o desenvolvimento humano (CANZIAN; MENA, 2019). Segundo Thomas Piketty, o próprio capitalismo possui mecanismos internos a ele, que por si só, produzem desigualdades de renda, isso acontece quando a taxa de crescimento da produção de renda é ultrapassada pela remuneração do capital. Em seu livro “O Capital no século XXI”, Piketty trabalha com a formula r > g, que expressa o que o problema exposto acima, sendo r o retorno do capital; e g o crescimento econômico, lógica essa que não é tratada como um erro do mercado, mas sim inerente à este, “quanto mais perfeito (no sentido dos economistas) o mercado de capital, maior a chance de que r supere g” (PIKKETY, 2014, p. 38). Mas qual seria o problema de r > g ou da desigualdade de renda em si? Para Piketty a desigualdade não é o problema, mas sim o aumento dela que o é. Para o mesmo, a desigualdade até pode ter uma face boa, “desde que se justifique, desde que seja ‘fundada na utilidade comum’” (PIKKETY, 2014, p. 42). Mas, é possível apontar os problemas que ela traz, tanto de uma visão interna ao país, quanto da relação internacional com outros países. O problema da desigualdade de renda entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos está no comercio feito entre eles, com um fluxo de capital muito maior saindo dos países que possuem uma economia primária e indo para os países que possuem tecnologias de ponta, do que ao contrário. Isso gera um acumulo de riquezas nesses países desenvolvidos, e diminui a capacidade de investimento nos países que são produtores primários, ou seja, de bens com baixa tecnologia agregada. Outro ponto que corrobora, segundo Wilson Cano, para o aumento da desigualdade é o efeito “demonstração”, que induz a população ao consumo de mercadorias e ter um modo de vida nos padrões dos países desenvolvidos. Isso acontece devido a imensa propaganda de massa e do crescimento da indústria cultural, que vende um “modo de vida” para os países emergentes, induzindo as classes altas a importar bens supérfluos, o que faz com que isso afete a capacidade de investimento (CANO, 2012, p. 251). Devido a essa falta de capital para investimento interno, os países que são obrigados a importar os bens com maior tecnologia, podem sofrer de um maciço desemprego; a entrada de bens supérfluos podem encarecer outros produtos, pelo deslocamento dos fatores de produção para setores menos prioritários; aumentando a dificuldade de investimento em pesquisa e produtos de maior valor agregado, diminuindo a qualidade de mãos de obra e dos salários; e aumento da dívida externa com os países que acumulam o capital, reduzindo assim a possibilidade de gastos com serviços que promoveriam o bem e qualidade social. A concentração de renda, também ocorre dentro das fronteiras do país, não se concentrando apenas nas regiões mais pobres do país, mas sim, disseminando por todo o território nacional, em menor ou maior grau. Em algumas regiões atrasadas, é encontrado estruturas de propriedade muito rígidas, ocasionando um dos processos de concentração de renda, a fragilidade econômica e a as ações e atitudes conservadoras por parte das elites, fazem com que a qualidade vida permaneçam em níveis baixos naquela área, fazendo com que a população migre para outro local. Um exemplo disso é a alta concentração de terras no campo, com os grandes latifúndios, que produzem menos proporcionalmente do que os minifúndios, mas expulsam as pessoas do campo, pelo aumento do uso de tecnologias e diminuição da oferta de emprego. O excedente da mão de obra que migra do campo para cidade é absorvido pelo setor de serviços, e muitas vezes são empregos informais ou subempregos, com baixo nível de produtividade e remuneração salarial. Mas o correto seria o crescimento em paralelo do setor terciário com os setores agrários e industriais, com o setor de serviços, funcionando como suporte para os outros dois. Todavia, isso não ocorre devido a concentração de renda em alguns setores da sociedade. Dentro de um Estado liberal de direito, se tem como premissa à meritocracia para desenvolvimento econômico do cidadão, mas com a desigualdade de renda cada vez mais pungente, esse pressuposto se torna inviável e alvo de críticas. Para tentar diminuir essa disparidade e desiquilíbrios do sistema, o governo pode entrar com políticas de redistribuição de renda, e desenvolvimento regional, desconcentrando a renda. O Estado deve funcionar como órgão regulador, não permitindo a formação de monopólios no mercado, para assim se ter uma concorrência mais justa entre as várias empresas, não concentrando a renda e capital nas mãos de alguns grupos. Como garantia de uma premissa minimamente meritocrático entre os indivíduos, o Estado deve prover a educação básica para todos, associado a uma renda básica, programa tão discutido atualmente, devido ao contexto pandêmico. Ambos os direitos gerariam uma cenário com maior capacidade de competição justa entre os indivíduos. Referências: CANZIAN, Fernando; MENA, Fernanda. Super-ricos no Brasil lideram concentração de renda global. Folha de São Paulo, Brasil, 19 ago. 2019. Disponível em: https://temas.folha.uol.com.br/desigualdade-global/brasil/super-ricos-no-brasil-lideram- concentracao-de-renda-global.shtml. Acesso em: 19 fev. 2021
PIKKETY, Thommas. O capital no século XXI. 1. ed. Rio de Janeiro: EDITORA
INTRÍNSECA LTDA, 2014. 812 p. v. 1. ISBN 978-85-8057-582-8
CANO, W. Introdução à economia: uma abordagem crítica. São Paulo: Ed. UNESP, 2012