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ESTUDO DO PROCESSO CONSTRUTIVO DE UMA LAJE PRÉ-FABRICADA COM


VIGOTAS TRELIÇADAS

Rogério Roberto Costa, Estudante de Engenharia Civil, Centro Universitário do Norte –


UNINORTE, Manaus/AM.

José Roberto De Queiroz Abreu, Orientador no Centro Universitário do Norte –


UNINORTE, Manaus/AM

RESUMO

As Lajes com vigotas treliçadas estão ganhando cada vez mais espaço no mercado da
construção civil. Elas fazem parte do grupo dos pré-moldados, que assim como eles, também
possui a economia e a praticidade como principal característica. Uma das principais vantagens
desse tipo de laje, é a capacidade que ela possui de vencer grandes vão livres, a agilidade no
processo de montagem e a redução da mão de obra. O presente estudo tem como principal
característica relatar de forma entendível e eficaz o processo construtivo de uma laje treliçada.
Sobrelevando os principais problemas que geralmente ocorrem durante as etapas de execução,
como também as principais vantagens. A metodologia aplicada para esse artigo foi um estudo
de caso, onde foram coletadas informações diretamente do canteiro de obra. Onde por
intermédio de entrevistas com os funcionários e a realização de formulários foi possível obter
as informações necessárias para a elaboração deste trabalho. O estudo constitui-se também de
revisão de literatura, de análise de literatura publicada em artigos, livros, tcc, monografias e
normas. Com essa pesquisa será possível perceber o quão vantajoso é o uso de lajes com vigota
treliçadas.

Palavras-chave: Vigotas treliçadas, laje pré-fabricada, construção civil.


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1. INTRODUÇÃO

As lajes treliçadas são muito utilizadas nos dias de hoje, principalmente em


construções residenciais e comerciais. Elas fazem parte do grupo dos pré-moldados e possui
como principal característica a economia e a praticidade no seu processo construtivo, apesar de
sua facilidade de execução, é de extrema importância que se tenha cuidados especiais durante
esse processo.
Mas, antes de adentrarmos nos parâmetros conceituais das lajes treliçadas em
específico, é de extrema relevância colocarmos os conceitos e definições de lajes, destacando
os principais tipos existentes no mercado. Segundo a NBR 6118:2003, item 14.4.2.1, tem-se
por definição estrutural que lajes ou placas são “elementos de superfície plana sujeitos
principalmente a ações normais a seu plano. As placas de concreto são usualmente denominadas
de lajes”.
Segundo BARROSO (2011), diz que a laje se define em projeto como “a concepção
de espaço, este definido por um plano de apoio – a laje – sobre a qual iremos construir e elaborar
este espaço”.
Já GUIMARÃES (2010), afirma que as lajes serão classificadas como elementos
estruturais planos com preenchimento horizontal e que possuirá duas grandes dimensões que
delimitará a área de determinado compartimento. Esses elementos estruturais terão como
função receber as cargas provenientes da construção, e distribuí-las para os apoios. A meio
destas cargas estão a própria carga da laje e da estrutura, as cargas acidentais e as cargas
variáveis provocadas na laje pela utilização de carros, móveis, pessoas e variados tipos de
equipamentos.
Após definido os conceitos de laje, se faz necessário destacar os principais tipos de
lajes utilizados no mercado, que são: as lajes maciças e as pré-moldadas.
ARAÚJO (2003), diz que as lajes maciças são placas com espessura uniforme, sendo
apoiada ao longo de suas extremidades. Esses apoios podem ser concebidos por alvenarias ou
por vigas, sendo muito utilizada onde os vãos são relativamente pequenos em predominância
nos edifícios residenciais. Nada impede o seu uso em vão maiores, porém, na tentativa de
alcançar a resistência ideal para a estrutura, ela acaba ganhando pesos desnecessários para a
edificação, desperdiçando material e impactando nos custos.
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Com as lajes pré-moldadas o processo é diferente, pois elas são fortemente


recomendadas quando se deseja vencer grandes vãos sem o auxílio de pilares e vigas
intermediárias, dando maior flexibilidade aos ambientes.
Segundo a NBR 9062 (2001), diz que as lajes pré-moldadas pode ser definido como
elemento pré-fabricado, ou seja, elemento este que é executado industrialmente, mesmo em
instalações temporárias em canteiros de obra, sob condições rigorosas de controle de qualidade,
onde os elementos são produzidos em usina ou instalações analogamente adequadas aos
recursos para produção e que disponham de pessoal, organização de laboratório e demais
instalações permanentes para o controle de qualidade, devidamente inspecionada pela
fiscalização do proprietário.
Já CHAVES (2012), diz que as lajes pré-moldadas são constituídas por vigas pré-
fabricadas de concreto armado, nas quais se apoiam elementos de material leve. Esses
elementos podem ser lajotas de concreto, de cerâmica ou a mais utilizada de EPS. Sobre as
vigas pré-fabricadas e os elementos de material leve, aplica-se uma camada de concreto, de
modo a cobri-los completamente. Geralmente, são usadas para reduzir tempo e mão de obra na
edificação, pois esse modo de construção é um processo construtivo rápido e econômico.
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2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área de estudo desta pesquisa fica localizada no Condomínio Residencial


Renaissance na zona centro-sul da Cidade de Manaus, na Avenida Dr. Theomario Pinto da
Costa, nas proximidades da Praça das Letras, coordenadas (3°05’48’’S 60°01’45’’W). A obra
estudada fica dentro das dependências do condomínio, especificamente ao fundo da área de
lazer, onde será construído a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), conforme figura abaixo.

Figura 01

Fonte: google maps


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3. OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral


Esta pesquisa tem como principal objetivo analisar o processo construtivo de uma laje
pré-fabricada com vigotas treliçadas.

3.2 Objetivos específicos


• Identificar os principais problemas decorrentes do processo construtivo da laje;
• Apresentar as principais vantagens;
• Relatar as etapas do processo construtivo da laje;

4. METODOLOGIA

Para a elaboração deste trabalho, foram feitos estudos em livros, revistas, artigos,
normas, trabalhos científicos e monografias, todos com temas relacionados ao assunto. Logo
em seguida foi feito um acompanhamento do processo construtivo de uma laje com vigotas
treliçadas onde por intermédio do acompanhamento foi possível traçar o seguinte fluxograma
do processo de execução.

Fabricação das
vigotas
treliçadas

Montagem do
escoramento

Posicionament
o das placas
treliçadas

Posicionament
o dos
enchimentos

Armaduras de
distribuição e
negativas

Concretagem

Cura do
concreto

Fonte: Elaborada pelo autor


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4.1 Conceitos gerais e técnicos quanto às lajes pré-moldadas

4.1.1 Lajes pré-moldadas


Segundo a NBR 6118 (2004) no item 14.7.7, diz que as lajes pré-moldadas são as lajes
moldadas no local ou com nervuras pré-moldadas, cuja zona de tração para momentos positivos
está localizada nas nervuras entre as quais pode ser colocado material inerte”. Elas são formadas
basicamente por uma parte pré-moldada de concreto armado (que são as conhecidas vigotas),
por elementos de enchimentos (blocos cerâmicos ou poliestireno expandido-EPS), e por uma
capa de concreto moldada no local, cuja função é de garantir a distribuição dos esforços atuantes
no elemento, aumentar sua resistência à flexão e nivelar o piso.
Cunha (2012) diz que os elementos de enchimento podem ser de blocos de concreto,
blocos cerâmicos ou blocos de poliestireno expandido. Já os elemento pré-fabricado podem ser
encontrados em concreto armado, concreto protendido e em forma de treliça.
Esse tipo de laje é amplamente utilizado, já que seus elementos de enchimentos e as
vigotas, por serem pré-fabricadas, facilitam no processo de montagem e servem de fôrma para
a capa de concreto que é confeccionada no local da obra. Quando comparada com as lajes
maciças, essa característica também traz reduções na quantidade de escoras utilizadas,
proporcionando economia de material e de custo final para a obra. Abaixo segue uma
representação da laje pré-moldada.
Figura 02

Fonte: maisengenharia.wordpress.com
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Conforme citado acima, irão existir três tipos de elementos pré-fabricados. Porém, esse
estudo irá particularizar apenas os elementos formados por vigotas treliçadas, por serem o
objeto de estudo dessa pesquisa.
4.1.1.1 Vigotas com armação treliçada
Conforme a NBR 14859-1, item 3.1.1, diz que as vigotas “são constituídas por
concreto estrutural, executadas industrialmente fora do local de utilização definitivo da
estrutura, ou mesmo em canteiros de obra, sob rigorosas condições de controle de qualidade.
Englobam total ou parcialmente a seção de concreto da nervura longitudinal.
CUNHA (2012) diz que as vigotas são formadas pela armação treliçada e pela base de
concreto, podendo ainda inserir armadura adicional dependendo do carregamento e
dimensionamento da laje. Ela irá ser o produto final que deverá ser entregue pelo fabricante ao
cliente, juntamente com os blocos de enchimento e um projeto de montagem. Ela é
dimensionada não somente para resistir aos esforços após a concretagem da laje, mais também
deve ter a rigidez para resistir ao transporte e montagem. A figura 03 representa o formato de
uma vigota treliçada.
Figura 03

Fonte: obramax.com .br

4.1.1.2 Armação treliçada


Segundo o Manual Técnicos de Lajes Treliçadas, “a armação treliçada é uma estrutura
metálica espacial prismática em que se utilizam fios de aço (CA60), soldados por eletrofusão
ou caldeamento, de modo a formar um elemento rígido composto de duas treliças planas,
inclinadas e unidas pelo vértice superior”.
Já a NBR 14862 (2002), diz que as armaduras treliçadas são armaduras de aço pronta,
pré-fabricada, em forma de estrutura espacial prismática, constituída por fios de aço paralelos
na base (banzo inferior), os quais resistem às forças de tração oriundas do momento fletor
positivo e um fio de aço no topo (banzo superior), que colabora como armadura de compressão
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durante a montagem e concretagem da laje treliçada, e pode colaborar na resistência ao


momento fletor negativo interligados por eletrofusão (caldeamento) aos dois fios de aço
diagonais (sinusóides), com espaçamento regular (passo), conforme indicado nas figuras 04 e
05.
Conforme o Manual técnico de Lajes treliçadas, as armaduras treliçadas iram possuir,
altura, base, passo saliência inferior, comprimento e diâmetro dos fios. A altura (h) é a distância
entre a superfície limite inferior (face inferior da saliência inferior) e a superfície limite superior
(banzo superior), perpendicular à base e no eixo da seção treliçada, dada em mm. A base (b) é
a distância entre as faces externas entre os fios que compõem o banzo inferior, dada em mm, e
mede entre 80 e 120 mm. Passo (p) é a distância entre eixos dos nós entre os aços que compõem
a armação treliçada, dada em mm, e tem sempre 20 mm. A saliência inferior é a distância entre
a face inferior do banzo inferior e a superfície limite inferior da armação treliçada.

Figura 04

Fonte: NBR 14862, 2002

Figura 05

Fonte: NBR 14862, 2002


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Geralmente, as armações são fabricadas em três comprimentos: 8, 10, e 12 metros,


pois a partir desses valores é possível obter os comprimentos de vãos mais comuns em projetos.
Abaixo, será apresentada uma tabela para consulta, com as padronizações das treliças
e solicitações de treliças especiais. Na primeira coluna, mostra os variados tipos de modelos de
treliças, diferenciados pela altura (h) e pelas suas linhas: leve (L), média (M), reforçada (R) e
pesada (P). Na segunda coluna, obedecendo os critérios da NBR 14862, especifica a treliça
(TR) discriminando novamente sua altura e na sequência o diâmetro dos seus fios.

Tabela 01

Fonte: Livro “Manual Técnico de Lajes Treliçadas”

4.1.1.3 Armaduras Complementares


Segundo a NBR 14860-1 (2002), item 3.1.3, diz que as armaduras complementares são
armaduras adicionadas na obra, quando dimensionadas e disposta de acordo com o projeto da
laje. Podem ser:

• Longitudinais: utilizada quando da impossibilidade de fazer a integração de toda a


armadura passiva na pré-laje;

• Transversais: são armaduras que irão compor as armaduras inferiores das nervuras
transversais de travamento (caso haja necessidade);
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• De distribuição: são armaduras que são posicionadas na capa de concreto nas duas
direções transversal e longitudinal, com seção de no mínimo 0,9 cm²/m para aços CA
50, CA 60, contendo 3 barras por metro e tela soldada. Esse tipo de armadura tem como
funções: combater os efeitos da retração, consolidar a estrutura da nervura com a capa,
efetuar um controle da abertura de fissuras e efetivar a distribuição das cargas pontuais;

• Superior de tração: são armaduras dispostas sobre os apoios nas extremidades das pré-
lajes, no mesmo alinhamento das nervuras longitudinais (NL) e posicionadas na capa.
Proporcionam a continuidade das nervuras longitudinais e destas com o restante da
estrutura, o combate à fissuração e a resistência ao momento fletor negativo, de acordo
com o projeto da laje;

• Outras; são utilizadas para atender às necessidades particulares de cada projeto,


especificadas caso a caso.

4.1.1.4 Capa
Conforme NBR 14860-1 (2002) diz que capa é “placa superior da laje cuja espessura
é medida a partir da face superior do elemento de enchimento, formada por concreto
complementar”.

4.1.1.5 Concreto complementar


Segundo a NBR 14859-1 (2002) diz que o concreto complementar é o concreto
adicionado na obra, com a resistência, trabalhabilidade e espessuras especificadas de acordo
com o projeto da laje e as especificações de execução. Deve ser:

• Complementação das pré-lajes para a formação das nervuras e das nervuras transversais;

• Formação da capa;

Já o Manual Técnicos de Lajes treliçadas, diz que o concreto complementar é o


elemento que irá compor a mesa da nervura de maneira a resistir aos esforços de compressão
da laje em serviço e também em distribuir as cargas nas nervuras. Deve ter, no mínimo 3 cm de
altura, e em edifícios de múltiplos andares, utilizando uma altura mínima de 5 cm, este elemento
pode absorver esforços de vento dando maior rigidez à estrutura.
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4.1.1.6 Elementos de enchimento


SILVA (2012), diz que elementos de enchimentos são constituídos por materiais
inertes, maciços ou vazados, usualmente cerâmicos, de concreto ou poliestireno expandido
(EPS) e devem atender os requisitos da norma quanto ao desempenho, propriedades e
utilização. Estes são dispostos entre as vigotas com a função de substituir parte do concreto da
região tracionada e servir como fôrma para o concreto complementar fresco, diminuindo o peso
próprio da laje e o volume de concreto.
Apesar de não contribuir estruturalmente para a laje, a boa qualidade deste material é
de extrema importância principalmente durante a fase da montagem e concretagem da laje. Já
que os blocos de enchimentos serão os responsáveis por transferir o peso do concreto ainda
fresco às vigotas, que se apoiam sobre a linha de escora. Por conta disto, torna-se essencial,
traçar uma resistência mínima para este material, de modo que não comprometa essa função.
Segundo o Manual Técnico de Lajes treliçadas, diz que a resistência dos elementos de
enchimento deve ser tal que suporte uma carga mínima de 1,0 KN ou 100 KG, o suficiente para
suportar esforços de trabalho durante a montagem e concretagem da laje.
Os blocos de enchimento mais utilizados na atualidade são os blocos cerâmicos e os
blocos de poliestireno expandido (EPS). O EPS possui o peso mais leve como enchimento,
porém o cerâmico tem um custo menor. Uma outra característica do EPS é o alto grau de
isolamento térmico e acústico. Esses materiais possuem em suas extremidades laterais uma
espécie de dente de encaixe, cuja função é de garantir o posicionamento de suas bordas nas
vigotas. Assegurando que não ocorra o vazamento de concreto. A grande maioria dos blocos de
enchimentos possui chanfros na região dos seus vértices superiores, no intuito de reforçar a área
de concreto, e aumentar a resistência das nervuras.
Os blocos de enchimentos irão possuir algumas alturas padronizadas que serão
aplicadas em função da altura total da laje pré-fabricada. Conforme tabela abaixo.

Tabela 02

Fonte: Livro “Manual Técnico de Lajes Treliçadas”


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4.2 Conceitos gerais e técnicos quanto ao sistema de escoramento


Segundo a NBR 15696 (2009) diz que os escoramentos são “estruturas provisórias
com capacidade de resistir e transmitir às bases de apoio da estrutura do escoramento todas as
ações provenientes das cargas permanentes e variáveis resultantes do lançamento do concreto
fresco sobre as fôrmas horizontais e verticais, até que o concreto se torne autoportante”. De
modo geral, o principal objetivo dos escoramentos é de garantir que não ocorra nenhum
problema durante a concretagem.
O sistema de escoramento é montado por guias-mestre e pontaletes, podendo ser
metálicos ou de madeira, com cerca de 30 cm de cutelo, com base em 3 pernas ou mais na
divisão do vão. Sob as pernas são colocados reforços para que não penetrem no chão (cunhas
de madeira) mais antes o chão deve ser preparado, em nível e compactado. Afim de se evitar
recalques prejudiciais provocados no solo ou na base de apoio do escoramento provocadas pelas
cargas por este transmitidas. A NBR 15696 (2009) afirma que, deve-se prever o uso de lastro,
piso de concreto ou pranchões, no intuito de corrigir irregularidades e melhorar a distribuição
das cargas, assim como cunhas ou hastes reguláveis, para ajustes de níveis. Também são
colocadas guias para o contraventamento e uma tábua de espelho que transfere as cargas
construtivas aos pontaletes. A figura 06 apresenta a etapa de escoramento.

Figura 06

Fonte: Livro “Manual Técnico de Lajes Treliçadas”


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Os escoramentos devem ter rigidez para assegurar o formato e as dimensões das peças
da estrutura projetada, respeitando minimamente as tolerâncias indicadas pela norma NBR
14931. Eles devem também ser suficientemente estanques, de modo a impedir a perda de pasta
de cimento, admitindo-se como limite o surgimento do agregado miúdo da superfície do
concreto, conforme a norma NBR 15696 (2009).
Um ponto muito importante durante a execução dos escoramentos é a previsão das
contra-flechas. Segundo a NBR 14859-1 (2002), diz que a contra-flecha é o deslocamento
vertical intencional aplicado nas vigotas durante a montagem, por meio do escoramento. Ela é
utilizada como recurso para compensar as consequências indesejáveis das deformações devidas
à ação das cargas nas lajes. Geralmente, elas são requisitas pelo fabricante das treliças ou
conforme normas disponíveis em catálogos. A tabela abaixo apresenta algumas contra-flechas
aplicadas em função do vão da laje.

Tabela 03

Fonte: https://polyconcreto.jimdo.com/escoramento/

4.3 Processo executivo das lajes com vigotas treliçadas (estudo de caso)
Neste tópico será apresentado o estudo de caso da execução da laje com vigotas
treliçadas executada em um condomínio residencial na cidade de Manaus-AM. Serão
detalhados o processo construtivo, os principais problemas decorrentes da execução e no final
será apresentada as principais vantagens que esse método construtivo pode nos oferecer.
O processo executivo das lajes nervuradas treliçadas segue as normas da NBR 14931
de execução do concreto igualmente as de laje maciça simples e além disso também as normas
da NBR 9062 de execução de pré-moldados.
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4.3.1 Etapa 01: processo de fabricação das vigotas treliçadas


Nessa etapa foram produzidas as vigotas treliçadas. Na grande maioria das vezes, as
vigotas são produzidas em indústrias e empresas especializadas em pré-moldados, onde o
cliente tem a oportunidade de comprar diretamente da empresa o produto pré-fabricado,
agilizando no processo de montagem da laje. Mas, elas podem também, ser produzidas in loco.
Na obra estudada, optou-se por utilizar a fabricação das vigotas no canteiro de obras, no intuito
de obter economia com a racionalização do uso dos materiais e da mão de obra.
Para a realização desta etapa, foram necessários o uso de armações treliçadas, formas
metálicas, concreto, óleos desmoldantes e espaçadores. O processo inicia com a aplicação de
óleo desmoldante nas fôrmas metálicas. O uso do desmoldante facilita na hora da desforma e
garante um acabamento liso e totalmente sem bolhas na superfície das vigotas. Na grande
maioria das vezes, o operário por falta de conhecimento técnico acaba utilizando esse material
de forma incorreta, ou exagerando na aplicação ou aplicando material insuficiente, gerando
desperdícios desnecessários e causando danos estruturais nas vigotas no momento da realização
desfôrma.
Após a aplicação do óleo desmoldante e seguindo as orientações dos cálculos
estabelecidos pelo departamento de engenharia. São colocados os espaçadores, as ferragens de
distribuição e as treliças, com altura e largura requisitadas em projeto.
A próxima etapa consiste na concretagem das treliças, onde se utilizou um concreto
com resistência característica de 25 MPa. Segundo a NBR 14859-1 (2002), diz que o concreto
que compõe as vigotas pré-moldadas deve atender às especificações das NBR 6118, NBR 8953,
NBR 12654 e NBR 12655. A resistência característica à compressão será a especificada pelo
projeto estrutural, sendo exigida no mínimo classe C20. O concreto da classe C20 corresponde
à resistência característica à compressão aos 28 dias, de 20 Mpa. Assim sendo, a resistência
característica utilizada está dentro dos padrões estabelecidos nas normas.
Após o processo de concretagem, as vigotas passaram por um procedimento de cura
que consiste inicialmente em receber hidratamento com água nas primeiras 24 ou 36 horas. Em
seguida a vigota foi desformada e armazenada para concluir o seu processo de cura, conforme
figura abaixo.
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Figura 07

Fonte: Registro do autor

4.3.2 Etapa 02: processo executivo do escoramento


Para esse processo de escoramento, os construtores optaram por utilizar escoras de
madeira (madeirites, tábuas e pernamancas) por serem mais econômicas e de fácil utilização.
Como a laje possuía um vão variando de (3,40m a 5m), foram utilizadas apenas duas fileiras de
pontaletes, respeitando as orientações do “Manual Técnico de Lajes Treliçadas”.
O primeiro passo consistiu em realizar o nivelamento e a compactação do terreno. De
modo que fosse possível a realização do nivelamento das escoras (garantindo o perfeito
alinhamento e nivelamento do material), e que permitisse as condições ideais para realizar a
construção das escoras, sem que ocorresse a inconveniente situação dos afundamentos dos
pontaletes no solo mal compactado. Para esse último caso usa-se cunhas de madeira como base
para os pontaletes afim de garantir a estabilização do mesmo.
Em seguida, com o solo nivelado e compactado deu-se início a montagem das escoras
realizando todos os processos de contraventamentos e travamentos dos pontaletes, impedindo
qualquer deslocamento que venha a ser gerado durante a concretagem da laje. Os construtores
se atentaram também em deixar uma altura adicional dos escoramentos no intuito de possibilitar
a execução das contra-flechas necessárias para a laje. Segue abaixo figura do processo
executivo das escoras.
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Figura 08

Fonte: Registro do Autor

4.3.3 Etapa 03: Posicionamento das vigotas treliçadas e dos blocos de enchimento
Após o termino da construção dos escoramentos, é dado início à colocação das vigotas,
que devem sempre ser apoiadas sobre a linha de escoramento. A colocação das vigotas deve
seguir as especificações sinalizadas em projeto, respeitando os espaçamentos e o sentido de
locação em relação ao vão. Para auxiliar na colocação, na grande maioria das vezes, é usado o
material de enchimento como conferência de gabarito, que foi exatamente o que os construtores
fizeram. O material de enchimento utilizado foi o EPS. Na medida em que se colocava as
vigotas, os blocos de enchimento eram igualmente colocados, sempre no intervalo de duas
vigotas. Após terminado as primeiras fiadas de blocos de EPS era inserido uma outra vigota,
que no mesmo instante era iniciado a colocação de outra fiada, e assim seguia colocando a
primeira fiada de cada carreira de mais uma vigota correspondente ao vão até que o pano de
laje seja completo por vigotas espaçadas pelos blocos de enchimentos. A figura 09 ilustra esta
etapa no processo.
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Figura 09

Fonte: Registro do autor

4.3.4 Etapa 04: Instalação das armaduras de distribuição e negativas


Com a laje totalmente preenchida com as vigotas e os blocos de enchimento, é dado o
momento para a colocação das ferragens de distribuição e as ferragens negativas. Vale ressaltar
que para esta etapa, é de suma importância que seja dada a devida atenção às orientações e
recomendações estipuladas pelo projeto estrutural. O não cumprimento desta etapa, pode gerar
problemas irreversíveis para a laje.
O responsável pela instalação (ferreiro), iniciou a etapa com a instalação das ferragens
de distribuição. O material utilizado foram telas pré-fabricadas de aço soldado, constituídas por
fios de aço CA-60 nervurado, material de alta resistência mecânica, sobreposto e soldados entre
si em todos os pontos de cruzamento, formando malhas quadradas. O processo consistiu
basicamente em colocar as ferragens no sentido transversal às vigotas, tendo apenas o devido
cuidado em posicionar as telas de modo que ficasse no meio da capa, evitando o máximo do
possível para que elas não fossem amarradas ao fio superior da treliça. A figura 10 ilustra o
processo de colocação das armaduras de distribuição.
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Figura 10

Fonte: Registro do autor

Com as ferragens de distribuição instaladas, encerra-se essa etapa do processo com a


colocação das armaduras negativas. O procedimento é simples, porém deve-se seguir
rigorosamente as orientações de locação das armaduras (contidas no projeto estrutural) para que
ela seja colocada apenas nas regiões onde o momento negativo irá atuar. Geralmente essas
regiões são sobre vigas e na passagem de uma laje para outra, conforme figura abaixo.

Figura 11

Fonte: Registro do autor


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4.3.5 Etapa 5: Concretagem da laje


Nessa etapa é praticamente o encerramento do processo de montagem da laje. É a etapa
mais importante e delicada da obra, pois qualquer erro que tenha sido executado nas atividades
anteriores pode acarretar em seríssimos problemas que podem prejudicar a concretagem.
Antes da realização da concretagem foi realizado uma limpeza na laje despejando
água, de modo que fosse removido qualquer indício de partículas ou resíduos existentes na laje.
A água serve também para saturar os blocos e as nervuras, para que no momento do
despejamento do concreto, a nata do concreto não seja perdida para esses elementos. Nessa
etapa deve-se ter o cuidado para não jogar água concomitantemente com o concreto, pois isso
pode acarretar na modificação da resistência característica do concreto.
Com a laje livre de impurezas e totalmente saturada é dada a partida para iniciar a
concretagem. O concreto foi espalhado preenchendo todos os espaços vazios, principalmente
nos encontros entre as vigas e os blocos de enchimento (EPS) garantindo a solidez do conjunto.
Nessa etapa foi fundamental o uso do vibrador, pois ele garantiu o total adensamento do
concreto na laje. As figuras 12 e 13 ilustram a etapa da execução da concretagem.

Figura 12

Fonte: Registo do autor


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Figura 13

Fonte: Registro do autor

Abaixo segue alguns pontos que foram colocados para que a concretagem da laje fosse
executada sem a ocorrência de problemas, que foram:

• O devido cuidado no lançamento do concreto para que não ocorresse


sobrecargas na laje em pontos isolados.
• Nunca pisar diretamente sobre os blocos, evitando possíveis acidentes com a
quebra dos EPS.
• Colocar tábuas sobre as vigotas no sentido transversal para auxiliar no trânsito
sobre a laje.
• Verificar na medida do possível o Slamp do concreto, para que ele esteja
sempre atendendo a resistência característica solicitada pelo projeto e que
esteja com uma boa trabalhabilidade para a concretagem.

4.3.6 Etapa 06: Cura do concreto


Após terminado a concretagem da laje, é iniciado o processo de cura do concreto. A
cura do concreto é a técnica que visa à hidratação do concreto com o objetivo de diminuir os
efeitos da evaporação prematura da água na estrutura concretada, que tem como consequência
o surgimento de fissuras e trincas. A NBR 14931 (2004), diz que enquanto não atingir o
endurecimento satisfatório, o concreto deve ser curado e protegido contra agentes prejudiciais
para: evitar a perda de água pela superfície exposta, assegurar uma superfície com resistência
adequada e assegurar a formação de uma capa durável. A norma NBR 14931 (2004) fala
também que para elementos estruturais de superfície como as lajes, a cura deve ocorrer até que
o concreto alcance a resistência à compressão igual ou superior a 15Mpa.
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O tratamento de cura para a laje estudada durou algo em torno de sete dias. Durante
sete dias consecutivos o servente realizava o processo de hidratação da laje. Ele molhava a laje
com frequência no intuito de evitar o seu ressecamento. O procedimento era realizado três vezes
ao dia, sempre respeitando os horários indicados que eram por volta das 8h, 12h e 15h. A figura
14 ilustra o processo de hidratação da laje.
Após realizado o tratamento de cura do concreto, o próximo passo é apenas esperar
que a laje atinja o seu período de cura, que segundo a norma NBR 6118, pode durar de 18 a 28
dias. Contados a partir da data de concretagem.

Figura 14

Fonte: Registro do autor

5. RESULTADOS E DISCUÇÕES

Diante do estudo apresentado e da análise realizada do processo construtivo da laje,


foi possível identificar as principais vantagens que esse método construtivo pode nos
proporcionar, que são:
• A redução do peso próprio da laje;
• Redução do tempo gasto para executar a laje em comparação com as lajes
convencionais;
• Possui a capacidade de vencer grandes vãos com quantidade mínima de altura;
• Redução no uso de formas e escoras;
• Redução da mão de obra;
• Facilidade de execução;
• Possui a capacidade de ser executada sem vigas, necessitando apenas de elementos que
evitem a punção de pilares;
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• Possuem menores momentos em grandes vãos quando comparadas com as lajes


maciças;
• Facilidade nas instalações elétrica e hidráulicas;
• Possui melhor isolamento térmico e acústico;
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6. CONCLUSÃO

Este trabalho teve como principal objetivo analisar o processo construtivo de uma laje
pré-moldada com vigotas treliçadas, identificando os principais problemas decorrentes de sua
execução e apresentando as principais vantagens que esse método construtivo pode nos
proporcionar.
Em primeiro momento foram colocados, de forma generalizada, alguns conceitos
fundamentais referentes a lajes. Que conforme foi exposto, são elementos de superfície plana
sujeitos principalmente a ações normais a seu plano. Vimos também, que na grande maioria das
vezes, as lajes estarão classificadas como lajes maciças e lajes pré-moldadas.
As maciças, são as convencionais lajes de concreto armado, definidas como placas
com espessura uniforme, sendo apoiadas ao longo de suas extremidades. E as pré-moldadas,
são as lajes constituídas por elementos pré-fabricados, ou seja, elemento este que é executado
industrialmente.
A laje objeto de estudo para essa pesquisa, foi a laje pré-moldada com vigotas
treliçadas. Que conforme foi definido neste trabalho, é um tipo de laje formada por uma vigota
com armação treliçada, por blocos de enchimentos, por armadura de distribuição e negativa e,
por uma capa de concreto. Esse tipo de laje, é considerada um método construtivo totalmente
vantajoso e revolucionário, pois irá apresentar características que beneficiarão a obra como um
todo.
Diante do que foi colocado neste trabalho, e levando em consideração o
acompanhamento realizado in-loco. Pode-se dizer, que as lajes com vigotas treliçadas é uma
opção de laje que oferece uma gama de benefícios para a sua obra. Disponibilizando recursos
que os métodos convencionais de lajes não oferecem.
Sendo assim, fica constatado no fim desta pesquisa, que o método construtivo
analisado apresentou ser a melhor solução técnica e econômica para esta modalidade, por
apresentar as maiores vantagens e facilidades construtivas.
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7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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estruturas de concreto – procedimentos. Rio de Janeiro. ABNT, 2007.

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ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14859 – 1: Laje


pré-fabricada – requisitos – Parte 1; Lajes unidirecionais. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14862:


Armaduras treliçadas eletrossoldadas – requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2002.

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 14931: Execução


de estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2004.

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Dissertação do mestrado, USP, São Paulo, 1997.

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Universidade Federal de Minas Gerais, 2008.

CHAVES, Roberto. Manual do construtor: para engenheiros, mestres de obras e


profissionais de construção em geral. Dissertação de Mestrado. Escola de Engenharia de São
Carlos – USP. São Carlos, 2012.
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nervuradas treliçadas. Trabalho de Conclusão de Curso. Lajeado: Centro Universitário
UNIVATES, 2014.

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Treliçada. 2012. 87f. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) – Escola de
Engenharia de são Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2012.

Manual Técnico de Lajes Treliçadas. Disponível em:


<http://longos.arcelormittal.com.br/pdf/produtos/construcao-civil/outros/manual-tecnico-
trelicas.pdf>. Acesso em: 01.05.2019

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