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ISCEE – INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS ECONÓMICAS E EMPRESARIAIS

Cálculo e Operações Financeiras


Texto de Apoio

Cilene Sena
10-10-2017

Este documento destina-se aos alunos da disciplina de Cálculo e Operações Financeiras, dos cursos de
Licenciatura em Gestão e em Contabilidade. Não tem o objectivo de substituir os livros referenciados
na Bibliografia, sendo um simples complemento de estudo.
Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

Capítulo I – Conceitos Básicos Fundamentais


1. Enquadramento Geral.

São inúmeras as situações do nosso quotidiano em que estão presentes conceitos de


Cálculo Financeiro, tanto numa óptica de investimento, como numa óptica de
financiamento.

• Investimentos: aplicações financeiras, desde as mais tradicionais como


depósitos bancários, até outras menos frequentes, expressas em produtos
financeiros como obrigações e outros, cada vez mais complexos.
• Financiamentos ou Empréstimos: empréstimos, seja na forma mais clássica de
empréstimos bancários, seja sob outras formas, como a locação financeira ou
compras a prestações.

A essência do Cálculo Financeiro reside naquilo que habitualmente se chama valor


temporal do dinheiro.

Valor temporal do dinheiro: Uma mesma quantia não tem para nós o mesmo valor se
pudermos dispor dela imediatamente ou apenas dentro de algum tempo.

Imaginemos as duas situações seguintes:

1. Fomos contemplados com um prémio de 100 contos, podendo escolher entre


recebê-los imediatamente ou apenas daqui a um ano;
2. Fomos obrigados a pagar uma multa de 100 contos, podendo escolher entre
pagá-la imediatamente ou apenas daqui a um ano;

Que decisões tomaríamos? Provavelmente, todos tomaríamos as mesmas decisões – no


primeiro caso, receber os 100 contos imediatamente, no segundo, pagar os 100 contos
daqui a um ano. É a essência da chamada preferência pela liquidez.

É uma atitude racional. De facto, optando por receber os 100 contos imediatamente, ou
pagá-los apenas daqui a um ano, ficamos com liberdade para decidir que destino lhes
dar no imediato:

1. Consumo
2. Poupança
3. Uma parte a consumo e outra a poupança.

Repare na primeira situação: recebendo os 100 contos apenas daqui a um ano, nenhuma
destas opções é possível. No entanto, caso recebêssemos os 100 contos imediatamente,
e decidíssemos aplicá-los, por exemplo, num depósito bancário (praticamente sem

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risco), daqui a um ano teremos mais que 100 contos, graças aos juros recebidos. Deste
modo, para que ficássemos indiferentes entre recebê-los imediatamente ou apenas
daqui a um ano, exigiríamos certamente que, na última hipótese, o valor a receber fosse
superior a 100 contos.

É pois, intuitiva a importância do factor tempo em qualquer análise que envolva capitais.
Uma vez que assim é, torna-se necessário atribuir-lhe um valor. Esse valor é o juro.1

O Juro pode definir-se como sendo a remuneração de um certo capital, durante um


certo prazo. Esta remuneração justifica-se por três razões:

1. Privação de Liquidez: é o sacrifício por parte de quem empresta, que fica privado
de decidir o que fazer com o capital, dando essa possibilidade à outra parte.
2. Perda do Poder de Compra: A inflação provoca o aumento dos preços.
3. Risco: Quem empresta corre sempre o risco de não vir a receber o que
emprestou.

Note a importância do factor tempo: todas estas razões (privação de liquidez, da perda
de poder de compra e risco) estão intimamente ligadas a este factor comum.

Tendo em conta o exposto, percebe-se que na resolução de qualquer problema que


envolva capitais reportados a momentos diferentes seja essencial, antes de tudo o resto,
exprimi-los numa mesma unidade, ou seja, “homogeneizá-los”.

Todos sabemos que para comprar ou operar com valores expressos em diferentes
unidades de medida (metros ou centímetros, litros ou mililitros, por exemplo) é
fundamental desde logo homogeneizá-los, ou seja, exprimi-los todos numa mesma
unidade (por exemplo, em centímetros e em litros). Só depois é possível compará-los ou
operar com eles.

Do mesmo modo, valores monetários expressos em (ou “reportados a”) momentos


diferentes não são directamente comparáveis. Não se pode operar directamente com
eles. Tentar fazê-lo (somá-los, por exemplo), seria o mesmo que somar directamente
centímetros com metros ou litros com mililitros. Não pode ser feito! Por isso, quando
em causa estão valores monetários expressos em diferentes momentos, a primeira coisa
a fazer é homogeneizá-los, ou seja, exprimi-los “numa mesma unidade”.

Exprimir valores monetários numa mesma unidade é exprimi-los num mesmo momento.

1
Compreende-se que o juro depende de pelo menos dois factores; o capital e o tempo. Voltaremos a
referir-nos ao juro dentro em breve.

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Como é que isso se consegue? Recorrendo a conceitos e técnicas que serão estudadas
no ponto 1.7. do nosso programa, nomeadamente, a Equivalência de Capitais, que
permitem elaborar uma equação (a chamada equação de valor) que traduz
matematicamente a equivalência, nesse momento comum (a que se dá o nome de data
focal), entre todos os capitais envolvidos. Para que esta equação esteja correctamente
construída é, então, imprescindível que todos os capitais nela envolvidos estejam
expressos num mesmo momento.

Em síntese: atendendo ao valor temporal do dinheiro, para comparar (ou operar com)
capitais é necessário que eles estejam reportados a um mesmo momento. Caso
contrário, estamos a comparar (“misturar”) capitais com diferentes valores, isto é,
“coisas diferentes”).

Esta é a chamada Regra de Ouro do Cálculo Financeiro, devendo ser sempre tida em
conta na resolução de qualquer problema financeiro.2

Por fim, considera-se importante fazer referência àquela que se julga ser a melhor forma
de representar a generalidade dos problemas de Cálculo Financeiro: através de um
diagrama temporal (recta do tempo), que não é mais do que uma representação
esquemática que utilizaremos com frequência.

Aconselha-se vivamente que o primeiro passo na resolução de um problema típico de


Cálculo Financeiro seja precisamente representá-lo esquematicamente. Por enquanto,
refira-se apenas que, genericamente, essa representação tem a seguinte configuração:

capitais

tempo

Em problemas de Cálculo Financeiro, um momento é um ponto no tempo no qual ocorre


o vencimento de um capital. A representação acima significa que o capital C0 ocorre (ou
como habitualmente se diz, “está reportado ao”) momento 0; que o capital C1 está
reportado ao momento 1, e assim sucessivamente.

O intervalo de tempo que medeia dois momentos consecutivos designa-se


genericamente por período.

2
Recomenda-se a leitura do interessante artigo “Batatas e Feijões”, da autoria de Pedro Eiras Antunes.

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Quanto aos sinais associados aos capitais (+-), ao longo da disciplina atribuir-se-á aos
capitais (ou fluxos financeiros) os sinais + ou – consoante eles representem entradas de
capital (inflows) ou saídas de capital (outflows).

O facto de representar os capitais deste modo tem uma vantagem inestimável para nós:
ajuda a “visualizar” melhor o problema, sendo em muitos casos um auxiliar precioso na
elaboração da equação de equivalência.

2. Capital, tempo e juro. Operações Financeiras. Definição e características.


Operação activa e passiva.

Em qualquer problema de Cálculo Financeiro existem três variáveis fundamentais: o


capital, o tempo e a taxa de juro. Elas estão presentes em qualquer problema de Cálculo
Financeiro. Do ponto de vista teórico, só faz sentido falar-se de operação financeira se,
na mesma, aquelas três variáveis existirem simultaneamente. Um empréstimo sem
juros, por exemplo, não é, do ponto de vista teórico, uma operação financeira.

Operação Financeira: Operação que transforma um ou mais capitais, de determinado(s)


montante(s), noutro(s) de outro(s) montante(s), por acção do tempo e de uma taxa de
juro.

Só nesta situação é que se está no âmbito


de uma operação financeira – presença
simultânea de capital, tempo e (taxa de)
juro.

Numa operação financeira intervêm, pelo menos duas partes: o mutuário e o mutuante.
Mutuário é aquele que pede emprestado (devedor); Mutuante é aquele que empresta
(credor).

Nas operações financeiras intervêm com frequência a Banca. Os bancos realizam


tradicionalmente dois grandes tipos de operações: por um lado, aceitam e remuneram
depósitos de valores de particulares e empresas; por outro, concedem crédito,
emprestando dinheiro a particulares e empresas, cobrando por isso.

As operações bancárias dividem-se em operações activas e operações passivas. São


operações activas aquelas que têm subjacente o recebimento de juros por parte das
instituições bancárias (tipicamente os empréstimos concedidos); São operações
passivas aquelas que têm implícito o pagamento de juros por parte das instituições

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bancárias (por exemplo, depósitos). Às operações activas estão associadas taxas de juro
activas e às operações passivas estão associadas taxas de juro passivas.

A lógica da actividade bancária consiste, grosso modo, em remunerar os capitais


depositados a determinada taxa de juro e cobrar pelos capitais emprestados uma taxa
de juro superior. Esta diferença entre taxas activas e taxas passivas designa-se por
spread, sendo a principal fonte de receita das instituições financeiras.

A tendência, em Cabo Verde e no mundo, é para a diminuição do spread, por força da


liberalização dos mercados e consequente surgimento de novos operadores, e das
exigências internacionais derivadas, nomeadamente, da adesão do país à OMC.

3. Juro. Conceito e Cálculo.

Como foi visto, o juro depende de três factores: o capital, o tempo e a taxa de juro,
variando directamente em relação a qualquer deles. Sendo assim, o cálculo matemático
do juro é muito simples: basta multiplicar as três variáveis entre si.

Convencionando então que

J representa o juro
C representa o capital
n representa o tempo
i representa a taxa de juro (na forma decimal)

temos J=Cni -> esta é a chamada fórmula fundamental do juro simples.

Por outro lado, a taxa de juro corresponde ao rácio entre o rendimento proporcionado
pela aplicação de um certo capital e o montante de capital aplicado, ou então, entre o
encargo decorrente da utilização de um certo capital e o montante de capital utilizado.
Em ambos os casos, poderemos, muito simplesmente, definir que
Juro J
Taxa de Juro = ou simplesmente i =
Capital C0

Deste modo, quando nos referimos a uma taxa de juro de 5%, tal significa que um capital
de 100 unidades monetárias permite um rendimento de 5 unidades monetárias, ou, em
vez disso, que o recurso a um financiamento no montante de 100 unidades monetárias
implica um encargo de 5 unidades monetárias.

Juro e Taxa de Juro não devem, assim, ser confundidos, pois enquanto o primeiro
corresponde a uma grandeza absoluta, expressa em unidades monetárias, a segunda
traduz uma grandeza relativa, resultante do confronto entre duas grandezas absolutas,
o juro propriamente dito e a capital aplicado.

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4. Capitalização: Regimes de Capitalização: Juro Simples e Composto Misto.


Equações de capitalização e actualização.

Como visto anteriormente, o juro representa o preço de utilização de um capital alheio


durante determinado tempo.

O processo de produção do juro designa-se por processo de capitalização.

Uma vez produzido, duas coisas podem acontecer ao juro:

1. Sai do processo de capitalização, isto é, não vai gerar juro no(s) período(s)
seguintes. Neste caso, diz-se que vigora o Regime de Juro Simples.
2. É incorporado no capital com que se vai iniciar o período seguinte, vindo a gerar
ele próprio juros no(s) período(s) seguinte(s), ou seja, capitaliza. A este
fenómeno (juro de juros) dá-se o nome de anatocismo. Neste caso, diz-se que
vigora o Regime de Juro Composto.

4.1. Regime de Capitalização simples

Uma vez que o montante de juros produzidos em cada período sai do processo de
capitalização, o capital que serve de base ao cálculo desses juros mantém-se constante
ao longo do tempo. Significa, então, que o juro produzido em cada momento vai
permanecer também constante.

Em termos gráficos:

J1  C0  i
J 2  C0  i
J 3  C0  i
...
...
J n  C0  i

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Donde, genericamente, retiramos que J k  C0  i que é a expressão que nos permite


calcular o montante de juro produzido em cada momento k, ou montante de juro
periódico, no regime de juro simples.

Se pretendermos apurar o montante total dos juros vencidos após n períodos de


capitalização diremos que

J
k 1
k  J 1  J 2  J 3  ...  J n
n

J
k 1
k  C 0  i  C 0  i  C 0  i  ...  C 0  i
n

J
k 1
k  nC 0 i

Donde resulta que o capital acumulado no fim de n períodos de capitalização (que


notaremos por Cn) em regime de juro simples, vai ser igual ao capital inicial acrescido do
montante total de juros produzidos, logo

Cn  C0  nC0 i

Ou então

Cn  C0 (1  ni)

EXEMPLO: Qual o juro produzido por um capital de 5.000 contos, aplicado durante 3
anos, à taxa anual de 5%, em regime de capitalização simples?

Resolução: Com recurso à formula anterior, temos

n
Juro total =  J k  nC0 i  3  5000  0,05  750 cts
k 1

Em alternativa, como o juro periódico é constante, podemos calcular

J 1  J 2  J 3  5000  0,05  250 cts

Por sua vez,

Juro total = J 1  J 2  J 3  250  250  250  750 cts

Resulta ainda que o capital acumulado no final dos 3 anos corresponde à soma do capital
inicialmente aplicado, 5000 cts, e dos juros produzidos, 750 cts, ou também

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C n  C0 (1  ni)
C n  5000(1  3  0,05)  5000  1,15  5750

No exemplo anterior considerou-se que o período de tempo n se encontrava expresso


em anos. Porém, pode suceder que n se refira a meses, a dias, ou ainda, a qualquer
outro período de tempo. Sendo as taxas de juro, em regra, taxas anuais, torna-se
necessário fazer corresponder esses períodos a fracções do ano.

Se o período de tempo surgir expresso em meses, teremos que o juro produzido por um
capital C0, em cada período k, nos é dado por

C0 i
Jk 
12

Ao mesmo tempo, o juro produzido por um dado C0 aplicado durante n meses obtém-
se do seguinte modo:

n
C0 i
J
k 1
k n
12

Já o capital acumulado resultante dessa aplicação, decorrerá da expressão

i
C n  C0 (1  n )
12

EXEMPLO: Qual o valor acumulado por um capital de 3000 contos, se estiver aplicado
em regime de juro simples, durante 7 meses, à taxa anual de 8%?

Resolução:

0.08
C n  3000(1  7 )  3000  1,0466667  3140 cts
12

Entretanto, se o período de tempo se referir a dias, as três expressões anteriores darão


lugar às seguintes:

C0 i
Jk 
360

n
C0 i
J
k 1
k n
360

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i
C n  C0 (1  n )
360

EXEMPLO: Qual o capital que, colocado à taxa anual de6,4%, produziu, durante 63 dias
e em regime de capitalização simples, um juro de 940,8 escudos?

n
Resolução: Sendo conhecido o montante de juro produzido J
k 1
k
, obtém-se

C0  63  0,064
940,8 
360

940,8  0.0112  C0

C0  84000 cts

Revelam-se aqui importantes duas observações:

1º: A utilização de 360 dias no cálculo da fracção do ano, quando na verdade, o ano civil
é composto por 365 dias. Trata-se do juro comercial, calculado com base no ano
bancário.

2ª É fundamental que o período de duração da operação esteja expresso na mesma


unidade de tempo que a do período de referência da taxa de juro. Como o período de
referência das taxas de juro é, na generalidade, o ano, quando o prazo da operação
surge indicado noutra medida de tempo, será necessário convertê-lo em anos. Outra
possibilidade consiste na transformação da taxa anual numa taxa referida ao período de
duração da operação. Disso trataremos adiante.

4.2. Regime de Capitalização composta (ou regime de juro composto)

Ao invés do que sucede no caso anterior, neste regime os juros produzidos em cada
período acrescem ao capital existente no período anterior, para servirem, também eles,
de base ao cálculo dos juros no período seguinte. Daqui decorre a formação dos
denominados “juros de juros”, ou anatocismo, e que constitui o grande traço que
diferencia este sistema.

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Assim sendo, temos

J 1  C0  i

Enquanto

C1  C0  J 1  C0  C0  i  C0 (1  i)

O juro a formar no 2º período resulta da aplicação da taxa de juro ao capital acumulado


no período anterior, e assim sucessivamente.

J 2  C1  i  C0 (1  i)  i

Sendo

C2  C1  J 2  C0 (1  i)  C0 (1  i)  i  C0 (1  i)(1  i)  C0 (1  i) 2

Por sua vez

J 3  C2  i  C0 (1  i) 2  i

Surgindo, ainda, que

C3  C2  J 3  C0 (1  i) 2  C0 (1  i) 2  i  C0 (1  i) 2 (1  i)  C0 (1  i) 3

Generalizando para um dado período k, teremos:

J k  C0 (1  i) k 1  i

Donde resulta

Ck  Ck 1  J k  C0 (1  i) k 1  C0 (1  i) k 1  i  C0 (1  i) k 1 (1  i)  C0 (1  i) k

Para o momento n, surge a expressão Cn  C0 (1  i) n que permite calcular o capital


acumulado em regime de capitalização composto, resultante da aplicação de um dado
capital inicial C0, à taxa de juro i, durante n períodos de tempo.

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Se pretendermos conhecer o montante total de juro produzido no processo de


capitalização, este vai corresponder ao diferencial existente entre o valor do capital
acumulado no final do processo (Cn) e o valor do capital aplicado (C0). Deste modo,
obteremos:

J
k 1
k  C n  C0

Substituindo Cn pela expressão deduzida anteriormente, resulta

J
k 1
k  C0 (1  i) n  C0

Ou seja

J
k 1
k  C0 [(1  i) n  1]

EXEMPLO: Consideremos, agora, os mesmos 5000 contos, aplicados durante os mesmos


3 anos, à taxa de 5%, mas em regime de juro composto. Qual será o montante de capital
acumulado?

Resolução: Substituindo na forma anterior, temos

Cn  C0 (1  i) n  5000(1  0.05) 3  5000  1.157625  5788,13 contos

Este montante é necessariamente maior que os 5750 contos obtidos com o mesmo
capital, o mesmo prazo e mesma taxa, no regime de capitalização simples, devido à
produção dos “juros de juros”.

Por sua vez, o montante de juro produzido resulta da diferença existente entre Cn e C0,
isto é

J
k 1
k  C n  C0  5788,13  5000  788,13 contos

Ou do emprego da expressão definida anteriormente

J
k 1
k  C0 [(1  i) n  1]  5000[(1  0.05) 3  1]  5000  0,57625  788,13 contos

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A situação que se acabou de resolver aplica-se aos casos em que a taxa de juro i se
mantém constante ao longo do tempo. Porém, pode suceder que essa taxa se altere,
por motivos relacionados com a conjuntura económica, principalmente se n for elevado.

Na hipótese de as taxas periódicas serem diferentes, a expressão do capital acumulado


virá

n
C n  C0  (1  ik ) , com ik a representar a taxa periódica referente a cada período k.
k 1

O montante de juros produzidos durante o processo de capitalização, que corresponde


ao diferencial existente entre o capital acumulado Cn e o capital inicialmente aplicado
C0, obtém-se com

n n

 J k  Cn  C0  C0  (1  ik )  C0
k 1 k 1

Ou seja

n n

J
k 1
k  C0 [(1  ik )  1]
k 1

EXEMPLO: Um capital de 1000 contos esteve aplicado durante 3 anos em regime de juro
composto. Sabendo que a taxa de juro praticada no 1º ano foi de 4,2%, sendo alterada
no 2º e no 3º anos, respectivamente, para 3% e para 2,25%, qual terá sido o valor
acumulado no final?

Resolução:

n
C n  C0  (1  ik )  1000[(1  0,042)(1  0,03)(1  0,0225)]
k 1

Cn  1000  1,09740835  1097,408 contos

Também aqui o montante de juro produzido num dado período k resultará da


multiplicação da taxa de juro pelo montante do capital acumulado no período anterior.

EXEMPLO: Certo capital esteve aplicado durante 6 anos, em regime de juro composto,
tendo produzido juros no valor de 57.299$50. A taxa praticada na operação foi de 3%
nos dois primeiros anos, 4% nos dois últimos e 3,5% nos anos intermédios. Qual terá
sido a quantia correspondente ao juro periódico produzido no 4º ano de vigência do
empréstimo.

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Resolução: Em primeiro lugar, vamos calcular o capital inicial

n n
Sendo que  J k  C0 [(1  ik )  1] ,
k 1 k 1

57299,5  C0 [(1  0,03) 2 (1  0,035) 2 (1  0,04) 2  1]

57299,5  C0  0,229197950864

C0  250.000 ECV

De seguida, vamos determinar o capital acumulado no final do 3º ano, uma vez que

J 4  C3  i

n
Sendo que C n  C0  (1  ik ) , temos
k 1

C3  250.000(1  0,03) 2 (1  0,035)  274.507,875 ECV.

Como 3,5% é a taxa referente ao 4º ano, resulta que

J 4  274.507,875  0,035  9.607,78 ECV

4.3. Comparação entre o regime de capitalização simples e o regime de capitalização


composto

A função capital acumulado tem um comportamento linear em regime de juro simples


e exponencial em regime de juro composto: Representando estas duas situações em
simultâneo, temos:

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Cn  C0 (1  i) 2

Cn  C0 (1  ni)

Desta representação deve notar-se que só para n = 1 o capital acumulado é o mesmo,


em ambos os regimes de capitalização.

Para valores de n inferiores a 1, o capital acumulado em regime de juro simples é


superior ao capital acumulado em regime de juro composto; para valores de n
superiores 1: o regime de juro composto origina juros sempre superiores.

“O juro composto”, respondeu Albert Einsein quando lhe perguntaram qual havia sido a
invenção mais notável da humanidade.

Bibliografia
Quelhas, Ana Paula; Correia Fernando, Manual de Matemática Financeira; Almedina

Matias, Rogério; Cálculo Financeiro, Teoria e Prática; Escolar Medina

Mateus Alves, Augusto, Cálculo Financeiro, Sílabo;

Instituto Superior de Gestão Bancária; Cálculo Financeiro; 2004

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5. Taxas de Juro.
5.1. Taxas Nominais, efectivas, proporcionais e equivalentes.

A distinção entre taxas nominais e efectivas, e muito principalmente, o modo como


obtemos um tipo em função do outro constituem questões centrais no âmbito do
cálculo financeiro.

Dizem-se nominais as taxas que são declaradas (“nomeadas”) pelo Banco no início de
uma determinada operação financeira. São efectivas as taxas de juro que, segundo os
princípios da matemática financeira, efectivamente presidem à formação do juro.

Por outro lado, uma taxa é nominal, quando existem várias capitalizações no mesmo
período, ou seja, quando a unidade referencial do seu tempo, não coincide com a
unidade de tempo dos períodos de capitalização; e uma taxa é efectiva quando a
unidade de tempo do seu período referencial é idêntica à do período de capitalização.

Para que melhor possamos entender as diferenças existentes entre uma taxa nominal e
uma taxa efectiva, devemos atender a dois conceitos: ao conceito de taxa proporcional
e de taxa equivalente.

5.1.1. Taxas Proporcionais e Equivalentes

Duas taxas dizem-se proporcionais quando, reportadas a períodos diferentes, a razão


existentes entre elas for idêntica àquela que existe entre os períodos de referências das
mesmas.

Notando, respectivamente, por ia e ip, as taxas de juro relativas aos períodos de tempo
correspondentes na e np, surgirá:

𝑖𝑎 𝑛𝑎
=
𝑖𝑝 𝑛𝑝

Assim sendo, temos 12% ao ano será o mesmo que termos 6% ao semestre, 3% ao
trimestre, 4% ao quadrimestre ou 1% ao mês. Na verdade, correspondendo ao ano 12
meses, um semestre a 6 meses, um quadrimestre a 4 meses e um trimestre a 3 meses,
teremos:

12 % 6 % 4 % 3 % 1 %
= = = = =1
12 6 4 3 1
EXEMPLO: Qual é a taxa bienal proporcional à taxa de 2,5% ao trimestre?

Como um biénio corresponde a 8 trimestres, a taxa proporcional vai ser de 20%, uma
vez que:

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1 2,5%
  x  8  2,5%  20%
8 x

EXEMPLO: Qual é a taxa semestral proporcional à taxa de 15% referida a um período de


dois anos e meio?

Um semestre corresponde a 1/5 dos dois anos e meio aos quais a taxa de 15% se refere.
Assim temos:

1 15%
  x  1 / 5  15%  3%
1/ 5 x

Por sua vez, são equivalentes as taxas que, reportadas a diferentes períodos de tempo,
quando aplicadas a um mesmo capital, durante o mesmo prazo global, mas sob
diferentes condições de capitalização, produzem o mesmo juro, ou seja, o mesmo valor
acumulado.

Em Regime de Juros Simples:

C 0 (1  a  ia )  C 0 (1  b  ib )
 a  i a  b  ib
b
 ia   ib
a
ou
a
ib   ia
b

De onde se conclui, que em Regime de Juros Simples, taxas equivalentes serão sempre
taxas proporcionais.

Em Regime de Juros Composto:

C 0 (1  ia ) a  C 0 (1  ib ) b
 (1  ia ) a  (1  ib ) b
b
 ia  (1  ib ) a
1
ou
a
ib  (1  ia ) b
1

EXEMPLO: Qual a taxa quadrimestral que equivale à taxa semestral de 6%?

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

(1  i3 ) 3  (1  i2 ) 2
2
 i3  (1  i2 ) 3
1
2
 i3  (1  0,06) 3
1
 i3  3,96%

5.1.2. Taxas Nominais e Efectivas

Em juro composto, uma taxa é nominal quando a taxa efectiva reportada ao período de
capitalização lhe é proporcional, coincidindo essa proporção com a frequência de
capitalização m.

i( m )
im 
m

Uma taxa é efectiva quando o período a que se reporta coincidir com o período de
capitalização que lhe está associado.

Por exemplo, uma taxa anual é efectiva se o período de capitalização que lhe
corresponde for o ano, ou ainda, uma taxa trimestral é efectiva se a mesma produzir
juros ao trimestre. Porém, se tivermos uma taxa anual com capitalização ao trimestre
esta taxa não é efectiva. Podemos calcular a taxa efectiva que lhe corresponde utilizando
a relação de proporcionalidade acima referida.

Consideremos a taxa anual nominal de 12%, com capitalização ao semestre. Esta taxa é
uma taxa nominal, não sendo, contudo, uma taxa efectiva, uma vez que se encontra
reportada ao ano e a capitalização ocorre ao semestre. A taxa efectiva para o período
de capitalização, no caso, o semestre, será de 6%. Verifica-se que a relação de
proporcionalidade que existe entre a taxa nominal reportada ao período inicial, 12%, e
a taxa efectiva para o período de capitalização, 6%, é de 2, que coincide com o número
de vezes que a capitalização ocorre durante o ano.

A problemática de diferenciação entre taxas nominais e efectivas coloca-se apenas no


regime de capitalização composto, em que as taxas proporcionais não são equivalentes,
e, bem assim, as taxas equivalentes não são proporcionais.

Em regime de capitalização simples, não havendo formação de “juros de juros”, as taxas


proporcionais são também equivalentes, donde resulta que as taxas nominais são
também taxas efectivas, como aliás, foi demonstrado anteriormente.

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

Dada a Taxa de Juro

NÃO Há sincronismo?
SIM

A taxa é NOMINAL!

A taxa é EFECTIVA!

Aplicar a
Proporcionalidade para
obter a taxa efectiva

O período de SIM
capitalização da taxa é
o que necessita?

NÃO

Aplicar a Equivalência
para obter a taxa
efectiva pretendida

Utilizar a Taxa!

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Cálculo e Operações Financeiras

5.1.3. Hipóteses de Problemas:

São quatro as hipóteses de problemas com os quais podemos ser confrontados:

a) Determinação de uma taxa efectiva em função de outra taxa efectiva;


b) Determinação de uma taxa efectiva em função de uma taxa nominal;
c) Determinação de uma taxa nominal em função de uma taxa efectiva;
d) Determinação de uma taxa nominal em função de uma outra taxa nominal,
tendo havido alteração no período de capitalização.

5.1.3.1. Determinação de uma taxa efectiva em função de outra taxa efectiva

Este problema surge quando se altera a frequência da capitalização. Recorremos a uma


relação de equivalência, de modo a obtermos a nova taxa efectiva para o novo período
de capitalização.

EXEMPLO: Qual a taxa mensal efectiva que corresponde a uma taxa trimestral efectiva
de 2%?

(1  i12 )12  (1  i4 ) 4
1
 i12  (1  i4 ) 3
1
1
 i12  (1  0,02) 3
1
 i12  0,66277%

5.1.3.2. Determinação de uma taxa efectiva em função de uma taxa nominal

Esta questão coloca-se quando estamos em presença de uma taxa nominal referente a
um dado período, mas com um período de capitalização não coincidente com a
referência da taxa, e pretendemos obter a taxa efectiva para esse período de referência.

Em primeiro lugar, através de uma relação de proporcionalidade, calculamos a taxa


proporcional referente ao período de capitalização. De seguida, por intermédio de uma
relação de equivalência, apura-se a taxa efectiva para o período de referência da taxa
nominal.

EXEMPLO: Qual a taxa efectiva anual correspondente à taxa anual nominal de 6%, no
caso da capitalização se efectuar ao trimestre?

1º Encontrar a taxa proporcional para o período de capitalização:

i( 4 ) 6%
i4    1,5%
4 4

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Cálculo e Operações Financeiras

2º Determinar a taxa efectiva ao ano, por intermédio de uma relação de equivalência:

(1  i )  (1  i4 ) 4
 i  (1  i4 ) 4  1
 i  (1  0,015) 4  1
 i  6,14%

5.1.3.3. Determinação de uma taxa nominal em função de uma taxa efectiva

Nesta situação, estamos em presença de uma taxa efectiva, referente a um determinado


período, e pretendemos conhecer a taxa nominal que lhe deu origem. Devemos, então
percorrer o trajecto exactamente inverso ao do caso anterior, isto é, utilizamos,
primeiramente, uma relação de equivalência de modo a obtermos a taxa efectiva
correspondente ao período de capitalização. Seguidamente, fazendo uso de uma
relação de proporcionalidade, calculamos a taxa proporcional para o período de
referência da taxa efectiva que partimos.

EXEMPLO: Qual a taxa nominal com capitalização mensal que corresponde à taxa
efectiva anual de 12,6825%?

1º Determinar a taxa equivalente para o período de capitalização:

(1  i12 )12  (1  i)
1
 i12  (1  i) 12
1
1
 i12  (1  0,126825) 12
1
 i12  1%

2º Obter a taxa nominal anual, recorrendo a uma relação de proporcionalidade:

i(12)  i12  12  1%  12  12%

5.1.3.4. Determinação de uma taxa nominal em função de uma taxa nominal

Faz sentido falarmos desse tipo de problemas quando temos uma dada taxa nominal,
referida a um certo período de tempo, mas com um período de capitalização que não
lhe é correspondente, e pretendemos obter uma outra taxa nominal, referida ao mesmo
período de tempo inicial, mas com um período de capitalização diferente.

Este tipo de problemas deve ser resolvido em três etapas:

• Em primeiro lugar, através de uma relação de proporcionalidade, determinamos


a taxa proporcional para o período inicial de capitalização;

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Cálculo e Operações Financeiras

• Em segundo lugar, aplicando uma relação de equivalência, determinamos a taxa


equivalente para o novo período de capitalização;
• Por último, recorrendo de novo a uma relação de proporcionalidade, calculamos
a taxa correspondente ao período de referência da taxa inicial. Obtém-se assim,
a nova taxa nominal, com um novo período de capitalização, mas com um
período de referência coincidente com o da taxa inicial.

EXEMPLO: Qual a taxa nominal com capitalização ao trimestre que corresponde à taxa
anual nominal com capitalização diária de 12,6%?

1º Calcular a taxa proporcional para o período de capitalização:

i(360) 12,6%
i360    0,035%
360 360

2º Determinar a taxa efectiva para o novo período de capitalização, recorrendo à


relação de equivalência

(1  i4 ) 4  (1  i360 ) 360
 i4  (1  i360 ) 90  1
 i4  (1  0,00035) 90  1
 i4  3,19957%

2º Obter a taxa nominal anual, recorrendo a uma relação de proporcionalidade:

i( 4)  i4  4  3,19957%  4  12,79828%

5.2. Taxa Média da Aplicação

Em presença de um certo número de capitais, colocados em simultâneo, às taxas e pelos


períodos de tempo respectivos, designa-se por taxa média da aplicação aquela que,
substituindo as taxas iniciais, produz, nos prazos correspondentes, o mesmo montante
total de juros.

Notando do I a taxa média da aplicação, no caso de Regime de capitalização Simples,


teremos:

C1i1 n1 C 2 i 2 n2 C i n C In C In C In
  ...  n n n  1 1  2 2  ...  n n
360 360 360 360 360 360

Se colocarmos I em evidência, surge

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

C n C n C n  Cin C i n C i n
I  1 1  2 2  ...  n n   1 1 1  2 2 2  ...  n n n
 360 360 360  360 360 360

Donde

I
C i nk k k

C n k k

EXEMPLO: Qual a rendibilidade média obtida pelos seguintes capitais, aplicados, a partir
de hoje, em regime de capitalização simples: 660 contos, por 30 dias, à taxa de 8,5%;
240 contos, por 15 dias, à taxa de 5%; 450 contos, por 50 dias, à taxa de 10%.

660  30  0,085  240  15  0,05  450  50  0,1


I
660  30  240  15  450  50

I  0,0896078  8,96%

NOTA: No exemplo anterior, os períodos de tempo e a taxa deverão estar expressos na


mesma unidade de tempo. Subentendeu-se a respectiva conversão de dias, em anos,
pois que, acontecendo simultaneamente no numerador e no denominador da expressão
o quociente anular-se-ia.

Se nos encontrarmos em Regime de Capitalização Composto, a taxa média da aplicação


de n capitais é a taxa I que torna possível a seguinte identidade:

C1[(1  i1 ) n1  1]  C 2 [(1  i2 ) n2  1]  ...  C n [(1  in ) nn  1] 


C1[(1  I ) n1  1]  C 2 [(1  I ) n2  1]  ...  C n [(1  I ) nn  1]

Ou ainda

C1 (1  i1 ) n1  C2 (1  i2 ) n2  ...  Cn (1  in ) nn  C1 (1  I ) n1  C2 (1  I ) n2  ...  Cn (1  I ) nn

Podendo I ser obtida através de interpolação linear.

EXEMPLO: Qual a taxa média de aplicação dos seguintes capitais, que se encontram
ambos colocados em regime de juro composto: 2.000 contos por 3 anos, à taxa anual de
7,5%; 1.750 contos, por 2 anos e meio, à taxa anual de 6%.

2000(1  0,075) 3  1750(1  0,06) 2,5  2000(1  I ) 3  1750(1  I ) 2,5


4509,023505  2000(1  I ) 3  1750(1  I ) 2,5

Recorrendo à interpolação linear:


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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

x y
x0=6% y0=4.406,461755
xint=? y=4.509,023505
x1=7,5% y1=4.581,404378
x1  x0
xint  x0  ( y  y0 )
y1  y 0

Substituindo a fórmula interpoladora pelos valores, obtém-se:

7,5%  6%
xint  6%  (4509,023505  4406,461755)
4581,404378  4406,461755
xint  6,88%

5.3. Taxas de Juro de Fiscalidade

Os juros de depósitos, os rendimentos de títulos da dívida, bem como os rendimentos


resultantes de operações similares, estão, em regra, sujeitos a um imposto sobre o
rendimento por retenção na fonte, a uma taxa liberatória de 20%.

Devemos então atender aos conceitos de taxa bruta e de taxa líquida. Enquanto a taxa
bruta incorpora o que é retido na fonte a título de imposto, a taxa líquida, encontra-se
desonerada desse encargo.

iliq  ibruta  ibruta  20%


iliq  ibruta  (1  20%)

EXEMPLO: Um capital de 1.000 contos esteve aplicado durante 3 anos, em regime de


juros composto, à taxa anual de 5%. Calcule o montante de juro líquido produzido,
considerando uma taxa de imposto de 20%.

iliq  ibruta  (1  20%)


iliq  0,05  (1  20%)
iliq  4%

Sendo que:

J n  C 0 [(1  iliq ) n  1]
J n  1000[(1  0,04) 3  1]
J n  124,864

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

No exemplo anterior, considerámos uma taxa efectiva anual, sendo que tributação
ocorre também anualmente, em concreto, no final de cada ano. Porém, como é sabido,
o período de capitalização nem sempre coincide com o ano.

Nesses casos, a tributação vai ocorrer em cada produção de juros, pelo que a solução
surge em três passos: 1) cálculo da taxa efectiva para o período de capitalização; 2)
cálculo da taxa líquida correspondente e 3) transformação do período de tempo da
aplicação em função do período de capitalização.

EXEMPLO: Qual a taxa efectiva anual líquida que corresponde à taxa anual nominal
bruta de 5%, com capitalizações ao semestre?

Sendo 5% uma taxa nominal, calcula-se, primeiramente, a taxa efectiva para o período
de capitalização:

i( 2) 5%
i2    2,5%
2 2

Calcula-se, de seguida, a taxa líquida respectiva:

iliq  ibruta  (1  20%)


iliq  0,025  (1  20%)
iliq  2%

Havendo duas capitalizações durante o ano, a taxa efectiva anual líquida, decorre da
relação de equivalência:

i  (1  i 2 ) 2  1
i  (1  0,02) 2  1  4,04%

5.4. Taxa de Juro e Inflação

Em épocas de inflação, a taxa de juro é composta por duas partes: uma destinada a
remunerar a cedência do capital, outra destinada a compensar o efeito do aumento dos
preços e a consequente perda de valor do capital.

Assim, podemos distinguir as taxas de juro a preços correntes, que incorporam o efeito
da inflação e as taxas de juro a preços constantes, como tal desoneradas desse efeito.
Estas últimas são denominadas taxas de juro reais.

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Cálculo e Operações Financeiras

Sendo i a taxa de juro (a preços correntes), i’ a taxa de juro real (a preços constantes) e
z a taxa de inflação, teremos:

C0 (1  i)  C0 (1  z)(1  i' )

Ou de outro modo,

(1  i)  (1  z)(1  i' )

Logo

1 i
1  i' 
1 z

1 i
i'  1
1 z

iz
i' 
1 z

EXEMPLO: Qual foi o montante real de juro proporcionado por um capital de 500 contos,
que esteve aplicado durante um ano, à taxa de 6% sabendo que nesse mesmo ano, a
inflação atingiu os 2,8%?

Em primeiro lugar, devemos calcular a taxa real anual:

i  z 0,06  0,028
i'    3,11284%
1 z 1  0,028

O montante de juro é obtido, por

J  C0  i '
J  500  0,0311284  15,564contos

5.5. Taxa de Custo/ Rendibilidade Real

A taxa de custo/ rendibilidade de uma operação de crédito/ aplicação financeira corresponde


à taxa que torna equivalentes o valor cedido e o valor recebido, ou de outro modo, é a taxa que
torna equivalentes as obrigações do mutuante, que cede o capital, e as obrigações do mutuário,
a quem o capital é cedido a título de empréstimo.

Nesse sentido, a taxa de custo/ rendibilidade real corresponde, respectivamente, à taxa de


custo efectiva ou de rendibilidade efectiva de uma operação de crédito ou de uma aplicação
financeira.

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

Porém, nem sempre os encargos do mutuário coincidem com os recebimentos do mutuante.


Devemos então atender a dois conceitos: Taxa anual de encargos efectiva global (TAEG) e ao
de taxa anual efectiva (TAE).

A Taxa anual de encargos efectiva global (TAEG) é a taxa que torna equivalentes, os valores
actualizados dos recebimentos, por um lado, e dos pagamentos, por outro, realizados ou por
realizar pelo consumidor.

Assim, a TAEG é a taxa que satisfaz a condição:

 R (1  TAEG )   Pk (1  TAEG )
 nk  nk
k

No que concerne à taxa anual efectiva, é a taxa de juro que, para uma determinada operação
de crédito, torna equivalentes, numa base anual, os valores recebidos e emprestados por uma
Instituição bancária. Constitui a taxa de rendibilidade real da instituição bancária.

EXEMPLO: Calcule a TAEG de um empréstimo concedido nas seguintes condições:

• Capital mutuado: 200 contos;


• Prazo: 1 ano;
• Taxa de Juros: 10%
• Despesas de contratação: 1.500$00
• Comissão: 1,5%

Para cálculo da TAEG há que igualar os fluxos de entrada e de saída:

200.000  1.500  3.000  220.000  (1  TAEG ) 1

TAEG  12,53%

5.6. Indexantes

No dia-a-dia, muitas operações bancárias são efectuadas com taxas de juro associadas a outras
taxas. Diz-se que são indexadas a essas outras taxas, tidas como referência, que se designam
indexantes.

A taxa indexante mais utilizada actualmente é a Euribor. A Euribor é a taxa à qual os bancos
trocam dinheiro entre si. É calculada com base nas taxas praticadas pelos principais bancos
europeus.3

3
Para mais informações sobre o Euribor sugere-se a consulta da página http://pt.euribor-rates.eu/

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Cálculo e Operações Financeiras

A taxa praticada na maioria dos empréstimos é indexada à Euribor (geralmente a 6 meses,


representada por Euribor 6M), à qual os bancos aplicam um spread.

EXEMPLO: Calcule a TAN de um empréstimo habitação, sobre o qual sabe-se o seguinte:

• Taxa de juro anual nominal: indexada à Euribor 6M, acrescida do spread;


• Euribor 6M: 2,945%;
• Spread: 1,5%

TAN  2,945%  1,5%  4,495%

Esta taxa será revista, salvo convenção em contrário, no final de cada semestre.

Bibliografia
Quelhas, Ana Paula; Correia Fernando, Manual de Matemática Financeira; Almedina

Matias, Rogério; Cálculo Financeiro, Teoria e Prática; Escolar Medina

Mateus Alves, Augusto, Cálculo Financeiro, Sílabo;

Instituto Superior de Gestão Bancária; Cálculo Financeiro; 2004

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Cálculo e Operações Financeiras

6. Valor Actual e Desconto. Desconto por dentro ou desconto racional. Desconto por
fora ou desconto comercial. Comparação entre o desconto por dentro e o
desconto por fora. Desconto composto.

Como referimos anteriormente, o valor de um dado capital varia consoante o momento


em que é considerado (ou, como também se diz, a que está reportado ou na qual tem
vencimento). Um capital de 100 contos considerado hoje não tem para nós o mesmo
valor que 100 contos tinham há um ano atrás, nem terá certamente o mesmo valor de
100 contos daqui a um ano.

Como temos vindo a acentuar, um capital tem um certo valor num certo momento;
reportado a outro momento, o seu valor é outro (normalmente inferior se reportado a
um momento anterior e superior se reportado a um momento posterior)

Reportar determinado valor a um momento anterior diz-se actualizar (ou descontar)


esse valor; reportá-lo a um momento posterior diz-se capitalizar esse valor.

De um modo geral, estamos mais familiarizados com as operações de capitalização. Por


exemplo, num depósito tradicional, se depositarmos hoje determinado capital, daqui a
algum tempo teremos um capital superior.

Não é tão fácil, numa primeira fase, perceber as operações de actualização (ou de
desconto), mas a verdade é que elas são muito frequentes e uteis no dia-a-dia.
Pensemos, por exemplo, numa dívida de determinado montante, com vencimento
numa determinada data futura, cujo pagamento se pretende antecipar.

6.1. Operações de Desconto

Uma operação de desconto é a operação financeira que torna equivalentes um dado


capital com vencimento num momento futuro (Cn) e um outro capital com vencimento
num dado momento (n-t) anterior ao momento de vencimento do primeiro.

Atendendo aos princípios básicos de Cálculo Financeiro, o valor do capital reportado ao


momento n-t vai ser menor que o valor que esse capital assume no vencimento. Na
verdade este último engloba o montante dos juros que eventualmente seriam
produzidos até ao momento n. Há, então, que descontar o montante desses juros ao
capital no seu vencimento, donde resulta a designação de operação de desconto.

As operações de desconto são recorrentes na actividade económica, particularmente


nos casos em que se revela necessários dispor, no imediato, de um capital com
vencimento futuro.

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Cálculo e Operações Financeiras

Assim sendo, questão central é a de saber qual o montante do desconto, isto é, qual o
montante que iremos deduzir ao capital com vencimento em n.

À semelhança do apontado para o caso das operações de capitalização, em que o juro


que acresce ao capital inicialmente aplicado depende do regime de capitalização em
vigor, no caso das operações de desconto, o montante a deduzir dependerá da
modalidade de desconto adoptada.

6.2. Modalidades de Desconto

Existem, basicamente, três modalidades de desconto: o desconto por dentro, o


desconto por fora e o desconto composto.

Nas duas primeiras, o montante do desconto é calculado em acordo com o regime de


capitalização simples. Porém a diferença entre ambas reside no processo de cálculo:
enquanto no desconto por dentro (ou racional) o montante a deduzir a Cn é calculado
sobre o valor presente do capital, isto é, sobre Cn-t, no desconto por fora (ou comercial)
esse valor é determinado tendo por base o valor futuro do capital, ou seja. Cn. Resulta,
então, claro que, perante idênticos capitais, taxas e prazos, o valor a retirar ao capital
futuro será sempre maior no caso do desconto por fora que no caso do desconto por
dentro.

Por sua vez, como o próprio nome indica, o desconto composto é calculado atendendo
ao regime de capitalização composto.

6.2.1. Desconto por dentro:

Sendo que o montante do desconto é o que resulta da diferença entre o valor de uma
capital em um determinado momento n (Cn) e o valor do mesmo num determinado
momento n-t (Cn-t) e notando por D, esse montante, teremos:

D  Cn  Cnt

No caso do desconto por dentro (cujo montante passaremos a designar D d), o valor a
deduzir é calculado sobre o próprio produto líquido do desconto, logo sobre C n-t.
Significa, então, que o desconto por dentro corresponde ao juro simples vencido pelo
valor líquido do desconto no prazo que decorre entre a data do vencimento do capital e
aquela em que se realiza a operação, o mesmo é dizer em t. Daí que se formalize:

Cn  Cnt  Dd

Ou de outro modo

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Cálculo e Operações Financeiras

Cn  Cnt  Cnt  i  t

Donde resulta

Cn  Cnt (1  it )

E por consequência,

Cn
C n t 
1  it

A expressão anterior permite-nos, assim, conhecer o capital líquido do desconto, Cn-t,


em função do respectivo valor no vencimento, Cn.

Para encontrar a expressão que permite calcular o montante de desconto, valor


substituir a expressão acima em Cn  Cnt  Dd .

Temos assim,

Cn
Dd  C n 
1  it

C n (1  it )  C n
Dd 
1  it

Logo

C n it
Dd 
1  it

O que permitirá obter, de modo directo, o valor do desconto por dentro partindo de Cn.

EXEMPLO: Qual o desconto por dentro sofrido por um capital de 275 contos, à taxa de
7%, quando faltavam 50 dias para o seu vencimento?

Uma vez que partimos do montante do capital no seu vencimento – e não do produto
líquido do desconto – vamos recorrer à fórmula encontrada anteriormente:

C n it
Dd 
1  it

50
275  0.07 
Dd  360  2,648
50
1  0.07 
360
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Ou

Cn
C n t 
1  it

275
C n t   272,352
50
1  0.07 
360

Resta agora calcular

Dd  C n  Cnt

Dd  275  272,352  2,648

Ou ainda

Dd  C nt  i  y

50
Dd  272,352  0,07   2,648
360

6.2.2. Desconto por fora

Esta modalidade de desconto é também designada por desconto comercial ou desconto


bancário, uma vez que é utilizado pela banca nas operações e desconto de letras, como
teremos ocasião de desenvolver adiante.

Nesta modalidade, o montante de desconto é calculado sobre o valor futuro do capital,


isto é, sobre Cn. Se designarmos Df, o montante do desconto por fora, resulta:

D f  Cn it

Igualmente:

D f  Cn  Cnt

Substituindo, somos conduzidos a

C n it  C n  C nt

C nt  C n  C n it

De onde resulta

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Cnt  Cn (1  it )

Esta fórmula permite calcular o valor actual de um determinado capital em função do


seu valor futuro, o mesmo é dizer, o produto líquido do desconto de um determinado
capital, caso seja praticada a modalidade do desconto por fora.

EXEMPLO: Qual o desconto por fora sofrido pelo capital de 275 contos que
considerámos no ponto anterior, à mesma taxa de 7% e quando faltavam os mesmos 50
dias para o seu vencimento?

Atendendo que D f  Cn it , temos

50
D f  275  0,07   2,674
360
No caso de pretendermos determinar, também, o produto líquido do desconto, bastará
aplicar directamente a fórmula

Cn t  Cn (1  it )

50
Cn t  275  (1  0,07  )  272,326
360

Ou muito simplesmente:

C n t  C n  D f
Cnt  275  2,674  272,326

6.2.2.1. Taxa de Custo Real4 do Desconto por fora

Numa operação de desconto comercial a taxa efectivamente suportada pelo mutuário


é superior à taxa anunciada. Vejamos então qual é a taxa “real” associada ao desconto
comercial. Ela será a taxa que, aplicada ao capital actual (Cn-t), permite obter, após o
mesmo prazo, no mesmo regime de capitalização (regime de juro simples), o capital
nominal Cn.

Ou seja, será uma taxa que designaremos por df, tal que:

Cnt (1  d f t )  Cn

Isto é,

4 Taxa real é a taxa única que em RJS traduz todos os encargos inerentes à operação de desconto

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

C n (1  it )(1  d f t )  C n
(1  it )(1  d f t )  1
1
(1  d f t ) 
(1  it )
1
(1  d f t ) 
(1  it )
1
dft  1
1  it
1  1  it
dft 
1  it
it 1
df  
1  it t

i
df 
1  it

Note-se que a taxa real em desconto por fora, depende do tempo, sendo que quanto
maior for t, maior é a diferença entre df e i. Dito de outro modo, em desconto por fora,
para cada data focal, há uma taxa real diferente.

Este aspecto é muito importante porque limita muito o campo de aplicação deste tipo
de desconto.

1
Na verdade, o limite da aplicabilidade teórica deste tipo de desconto é dado por t 
i
1 1 1
(ou, i  ), ou seja, para prazos superiores a ou taxas superiores a , o valor actual
t i t
calculado pelo desconto por fora é negativo, o que não tem sentido prático.

6.2.3. Desconto composto

Quando falamos de desconto composto, estamos a pressupor que o montante a deduzir


ao valor nominal corresponderá ao valor do juro composto a vencer pelo produto líquido
do desconto, de modo a perfazer, no vencimento, o próprio valor nominal do capital.

Sendo

Cn  Cnt (1  i) t

Daqui resulta que

Cnt  Cn (1  i) t , que é a fórmula fundamental do desconto composto, à taxa i.

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

Por consequência, correspondendo o desconto ao diferencial existente entre o valor


nominal e o produto líquido do desconto, temos:

Dc  C n  C n  t

Dc  C n t (1  i) t  C n t

Dc  C n t [(1  i ) t  1]

A expressão anterior permite-nos conhecer o montante do desconto composto em


função do capital líquido do desconto Cn-t. Formalizando em função dos parâmetros Cn,
i, t, obtém-se

Dc  C n  C n t

Dc  C n  C n (1  i ) t

Dc  C n [1  (1  i ) t ]

EXEMPLO: Calcular o desconto composto sofrido por um capital de 1000 contos, por um
período de 3 anos, à taxa de 5%.

Basta aplicarmos a fórmula anterior Dc  Cn [1  (1  i) t

Dc  1000[1  (1  0,05) 3 ]  136,162

Em alternativa, poder-se-ia calcular, primeiramente, o capital líquido do desconto

C nt  C n (1  i ) t

C nt  1000(1  0,05) 3  863,838

E de seguida

Dc  Cnt [(1  i) t  1]

Dc  863,838[(1  0,05) 3  1]  136,162

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

Observámos o caso em que o desconto composto é efectuado à taxa de juro i. Vejamos,


a hipótese, que lhe equivale, em que o desconto composto é efectuado à taxa de
desconto d5.

Dc  Cn [1  (1  i) t

Se considerarmos que dc é o desconto sofrido por um capital =1, durante um tempo t=


1, temos:

d c  [1  (1  i ) 1 ]
1
dc  1 
(1  i )1

i
dc 
1 i

Esta expressão permite-nos formalizar a taxa de desconto d em função da taxa de juro


i. Por sua vez, poderemos também expressar i em função de d, ou seja:

d c (1  i )  i
d c  id c  i

dc
i
1 dc

Atendendo à fórmula do Desconto Composto, e substituindo pela expressão acima,


temos:

d c t
Dc  Cn [1  (1  ) ]
1  dc

Ou ainda:

Dc  Cn [1  (1  d c ) t ]

Obtivemos, assim, a expressão do desconto composto, ocorrendo este à taxa de desconto dc.

6.2.4. Desconto Bancário de Letras

5 Taxa de Desconto é a redução sofrida por uma unidade de capital descontada durante uma unidade de tempo.

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

Letra é um título de crédito pelo qual uma pessoa – o sacador – ordena a outra – o
sacado – que lhe pague a si próprio ou a um terceiro – o tomador ou beneficiário – uma
determinada importância, em determinada data.

No desconto de letras, designa-se por desconto bancário a totalidade de encargos a


deduzir ao valor nominal do título. Para além do montante dos juros (calculados pelo
desconto por fora) existem outros custos que passamos a descrever:

1. Comissão de Cobrança: trata-se de uma percentagem (ou permilagem) que


incide, em regra, sobre o valor nominal da letra. O seu valor depende da tabela
de preços praticada por cada Banco.
2. Imposto de Selo: calculado à taxa legal em vigor, o imposto de selo incide sobre
o somatório do montante dos juros calculados através do desconto por fora e da
comissão de cobrança.
3. Portes: à semelhança do que sucede com as comissões de cobrança, o valor dos
portes depende do estabelecido na tabela de preços de cada Banco, muito
embora, sejam, em regra, de montante reduzido. O seu montante é fixo por
letra, ou conjunto de letras.

Assim sendo, o montante do desconto bancário (DB), pode ser obtido através da
expressão seguinte:

DB  D f  CC  IS  P

Sendo:

• Df = montante dos juros calculados através do desconto por fora;


• CC = montante da comissão de cobrança;
• IS = imposto de selo, calculado à taxa legal em vigor;
• P = portes.

Notando:

VN – valor nominal;
PLD – Produto Líquido do Desconto;
D – taxa de desconto;
Cc – taxa da comissão de cobrança;
Is – taxa do imposto de selo;
t – prazo da operação.6

6 Notar que na expressão do desconto bancário acrescem dois dias ao período de tempo decorrente desde o
desconto até ao vencimento da letra. Tal deve-se à possibilidade consentida pela lei de uma letra poder ser
liquidada nos dois dias ulteriores ao seu vencimento.

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

Teremos:

t2 t2
DB  VN   d  VN  CC  (VN   d  VN  CC )  Is  P
360 360

t 2 
DB  VN   d  CC (1  Is)  P
 360 

Deste modo, se em vez do desconto bancário pretendermos apurar qual o montante a


creditar na conta do cedente, designado por Produto Líquido do Desconto, bastará
deduzir o montante do desconto bancário ao valor nominal do título. Surge então:

PLD B  VN  DB

t 2 
PLD B  VN  VN   d  CC (1  Is)  P
 360 

 t 2  
PLD B  VN 1    d  CC (1  Is)  P
  360  

EXEMPLO: Descontou-se no Banco V uma letra com o valor nominal de 130.000$00


quando faltavam 88 dias para o seu vencimento. Encargos do desconto: juros à taxa de
14,5%, comissão de cobrança 0,5%, imposto 4% e portes 150$00. Calcule o produto
líquido do desconto.

Cálculo do Desconto por fora:

88  2
D f  VN  d  t  130000  0,145   4.712,5
360

Cálculo da Comissão de Cobrança:

CC  VN  Cc  130000  0,005  650

Cálculo do Imposto do Selo:

IS  ( Df  CC )  I s  (4712,5  650)  0,04  214,5

Cálculo do PLD:

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

DB  4712,5  650  214,5  150  5727


PLD  VN  DB  130000  5727  124.273$00

Ou da aplicação directa da fórmula:

 t 2  
PLDB  VN 1    d  CC (1  Is)  P
  360  
  88  2  
PLDB  1300001    0,145  0,005 (1  0.04)  150  124.273$00
  360  

6.2.5. Reforma de Letras

Na data de vencimento de um título de crédito, duas situações podem ocorrer: o


devedor procede ao pagamento em dívida ou pode suceder que não disponha dos meios
suficientes para liquidar a quantia em dívida.

É situação corrente, aquela que, no vencimento, o sacado não possui a quantia


necessária para solver o montante em dívida. É então necessário proceder a uma
operação de reforma, que consiste na substituição do título de crédito anterior por um
novo título de crédito. O valor nominal do novo título resultará do efeito conjugado de
um certo número de factores.

Questão essencial, entre esses factores, é a de saber se se trata de uma reforma


integral, isto é, quando no vencimento o devedor não efectuou qualquer pagamento,
sendo o valor nominal do novo título calculado em função do total do valor nominal do
título inicial, ou se, em vez disse, se trata de uma reforma parcial, quando parte da
dívida é liquidada no vencimento e o novo título é emitido tendo por base o valor
remanescente.

A situação mais comum é aquela em que o sacado liquida uma parcela do valor da dívida,
aceitando uma nova letra pelo valor remanescente – a reforma parcial.

A questão fundamental que então se coloca é a de saber qual o valor nominal da nova
letra. Em ambas as situações, do desconto imediato da letra de reforma resulta um
produto líquido igual ao montante não liquidado no vencimento da letra inicial.

Teremos, PLDR  VN I  PP , havendo reforma parcial, ou simplesmente PLDR  VN I ,


no caso de reforma integral.

PLDR – Produto líquido de desconto da letra de reforma;

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

VNI – Valor nominal da letra inicial (reformada);


PP – Parcela paga
Por sua vez, em ambas as situações, o produto líquido do desconto da letra de reforma
é obtido por:

 t 2  
PLDR  VN R 1    d  CC (1  Is)  P
  360  

Assim sendo, o valor nominal da letra de reforma será obtido, em caso de reforma
parcial, recorrendo à expressão:

 t 2  
VN I  PP  VN R 1    d  CC (1  Is)  P
  360  

Enquanto isso, tratando-se de uma reforma integral, a expressão surgirá:

 t 2  
VN I  VN R 1    d  CC (1  Is)  P
  360  

Resolvendo em ordem a VNR, obter-se-á, em ambos os caos, o valor nominal da letra de


reforma.

EXEMPLO: O sacado de uma letra de valor nominal de 500 contos, cujo vencimento
ocorre hoje, verificou não dispor de meios financeiros para proceder à sua liquidação.
Solicitou, então, a reforma integral da mesma por um período de 45 dias. Sabendo que
a nova letra engloba os encargos decorrentes de um possível desconto bancário
imediato e que as condições praticadas pela banca em operações similares são:

• Taxa de Desconto: 8%;


• Comissões de Cobrança: 2,25%;
• Imposto Selo: 4%;
• Portes: 200$00.

a) Determine o valor nominal da nova letra

Tratando-se de uma reforma integral, resulta na fórmula:

  45  2  
500  VN R 1    0,08  0,0225 (1  0,04)  0,2
  360  
VN R  517,946contos

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

O valor nominal da nova letra será de 517,946 contos. O montante do desconto bancário
da letra de reforma será exactamente 17,946 contos; a letra de reforma, uma vez
descontada, há-de produzir um produto líquido de desconto exactamente igual à
quantia em dívida.

b) Reconsidere os dados anteriores atendendo a que, na data de vencimento, o


sacado procedeu à entrega de 40% do valor em dívida.

PP  500 * 0,4  200

  45  2  
500  200  VN R 1    0,08  0,0225 (1  0,04)  0,2
  360  
VN R  310,850contos

Bibliografia
Instituto Superior de Gestão Bancária; Cálculo Financeiro; 2004

Matias, Rogério; Cálculo Financeiro, Teoria e Prática; Escolar Medina

Mateus Alves, Augusto, Cálculo Financeiro, Sílabo;

Quelhas, Ana Paula; Correia Fernando, Manual de Matemática Financeira; Almedina

Rodrigues, José Azevedo; Nicolau, Isabel; Elementos de Cálculo Financeiro, Almedina

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

7. Equivalência de Capitais. Equações de Valor. Capital comum, vencimento comum


e vencimento médio.

Atendendo às noções estudadas até agora, admitamos uma dívida de 1.000 contos, com
vencimento daqui a um ano, e os dois casos seguintes:

1. O devedor deseja diferir o pagamento da dívida por uma ano, ou seja pagá-la
somente daqui a dois anos (um ano depois da data inicialmente prevista). Parece
razoável admitir que, nessa data (daqui a dois anos), pague um valor superior a
1.000 contos. Quanto exactamente? Depende da taxa de juro adoptada.
2. O devedor deseja antecipar o pagamento da dívida um ano, isto é, pagá-la ainda
hoje (um ano antes da data inicialmente prevista). Parece razoável admitir que,
nesta data (hoje), pague um valor inferior a 1000 contos. Quanto exactamente?
Depende da taxa de actualização adoptada.

O que importa, neste momento, é que se compreenda que, em qualquer dos casos, vai
ser necessário estabelecer uma equivalência entre os capitais envolvidos, ou seja, por
um lado, os 1000 contos com vencimento daqui a um ano, e, por outro,

✓ o capital que deve ser pago daqui a 2 anos (situação 1), seguramente superior a
1000 contos;

ou

✓ o capital que deve ser pago hoje mesmo (situação 2), seguramente inferior a
1000 contos.

Esquematicamente,

Generalizando, podemos dizer que a equivalência entre capitais pode ser obtida
capitalizando (isto é, reportando-os a um momento posterior) ou actualizando (isto é,
reportando-os a um momento anterior).

É esta a essência da equivalência de capitais e, no fundo, é à sua volta que gira todo o
Cálculo Financeiro (valor temporal do dinheiro).

7.1.1. Equações de Equivalência


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Cálculo e Operações Financeiras

A equivalência dos capitais obtém-se matematicamente através de uma equação (a


chamada equação de equivalência, ou equação de valor) que representa todos os
capitais envolvidos, devidamente reportados a esse momento comum – a data focal da
operação de equivalência, de acordo com o regime, e, no caso de ser necessário
actualizar, a abordagem (comercial ou racional) adoptados.

Em síntese, temos as seguintes possibilidades de efectuar a equivalência de capitais:

Equivalência de Capitais

Actualização
(ou desconto) Capitalização

RJS RJC RJS RJC

Solução Solução Solução Capitalização Capitalização


Comercia Racional Racional SIMPLES COMPOSTA
l __ __
__ Desconto Desconto
Desconto for Compost
for fora Dentro o

Assim, dependendo da data focal definida e dos vencimentos originais envolvidos, pode
acontecer que, em determinada operação de equivalência, seja necessário

✓ Actualizar todos os capitais;


✓ Capitalizar todos os capitais;
✓ Actualizar alguns capitais e capitalizar outros.

É igualmente possível que um ou mais capitais não necessitem de ser capitalizado nem
actualizados – basta que o seu vencimento coincida com a data focal definida.

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Texto de Apoio à disciplina de
Cálculo e Operações Financeiras

É forçoso que qualquer equação de valor, para estar bem elaborada, apresente todos os
capitais envolvidos reportados a um mesmo momento (a data focal definida para a
operação de equivalência).

No fundo, qualquer equação de equivalência deve ser elaborada respondendo


sequencialmente a três questões: o quê; quando; como.

1º) O quê?
Entre que capital ou capitais, por um lado (1º membro da equação) e que capital
ou capitais, por outro (2º membro da equação), se pretende estabelecer a
equivalência?
2º) Quando?
Para que data se pretende estabelecer a equivalência (isto é, qual a data focal da
operação de equivalência)?
3º) Como?
De que forma se pretende estabelecer a equivalência? Através do Regime de
Juro Simples, ou do Regime de Juro Composto? No caso de a equivalência
envolver actualização de capitais, esta é feita segundo a solução racional ou
comercial?

EXEMPLO: O Sr. Fernando tem duas dívidas para com o Sr. António: uma no montante
de 300 contos, com vencimento daqui a 6 meses; a outra, no montante de 500 contos,
com vencimento daqui a 10 meses.

O Sr. Fernando está a ponderar antecipar o pagamento destas duas dívidas, pensando
poder fazê-lo dentro de 2 meses.

Se as partes acordarem na utilização da taxa anual efectiva de 12%, quanto deverá pagar
o Sr. Fernando nessa altura (daqui a 2 meses) em substituição das duas dívidas originais?

Assuma como data focal, o dia de hoje e responda considerando cada um dos seguintes
cenários:

a) Regime de juro simples, solução comercial;


b) Regime de juro simples, solução racional;
c) Regime de Juro composto.

Comecemos por representar a situação num diagrama temporal:

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Texto de Apoio à disciplina de
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Respondamos às três questões que devemos colocar com vista à elaboração da equação
de equivalência:

O quê?

A equivalência deve ser efectuada entre:

• Por um lado, as duas dívidas iniciais de 300 e 500 contos (que constituem um dos
membros da equação;
• Por outro, o pagamento único, X, com que se pretende substituir as duas dívidas
originais (que constitui o 2º membro da equação).

Assim: X  300  500  ERRO GROSSEIRO!! VIOLAÇÃO DA REGRA DE OURO DO


CALCULO FINANCEIRO

A equação de valor não pode ficar assim. Os capitais envolvidos na equação não estão
reportados a um mesmo momento.

Quando?

Hoje mesmo (momento 0), que foi a data focal definida para a equivalência. Assim todos
os capitais envolvidos na equação de equivalência têm de ser reportados para o
momento 0. Neste caso, todos eles têm de ser actualizados: X tem que ser actualizado
por 2 meses, os 300 contos, por 6 meses e os 500 contos por 10 meses, ou seja

X (...)  300(...)  500(...)

Em (…) estarão os factores de equivalência adequados.

Como?

De acordo com o regime (regime de juro simples ou regime de juro composto) e solução
(solução comercial ou solução racional) definidos.

Assim temos na alínea a), mediante utilização do desconto por fora: Cnt  Cn (1  it )

2 6 10
X  (1  0.12  )  300  (1  0.12  )  500  (1  0.12  )
12 12 12

Valor reportado Valor reportado Valor reportado


ao momento 0 ao momento 0 ao momento 0
X  746,939contos

Cn
No regime de juro simples, solução racional (desconto por dentro) temos C nt 
1  it

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Assim, na alínea b) fica

X 300 500
 
2 6 10
(1  0.12  ) (1  0.12  ) (1  0.12  )
12 12 12
X  752,316contos

No desconto composto, o capital actualizado é calculado por Cnt  Cn (1  i) t . Assim,


temos:
2 6 10
X  (1  0.12) 12
 300  (1  0.12) 12
 500  (1  0.12) 12

X  752,494

7.1.2. Capital Comum e vencimento comum

Capital comum é o capital único que substitui um conjunto de capitais. Vencimento


comum é a data do vencimento do capital comum.

7.1.3. Importância da data focal no desconto simples

Vamos servi-nos de um exemplo para demonstrar as fraquezas do regime de juro


simples (em especial do desconto comercial) e a robustez do regime de juro composto,
que fazem com que, na prática:

• O campo de aplicação do regime de juro simples seja sobretudo o curto prazo;


• O regime de juro composto seja o mais utilizado.

EXEMPLO: Assuma os dados do exemplo anterior, alterando a data focal para daqui a
dois meses (data do pagamento X).

Esquematicamente temos:

Assim, no caso da alínea a), ou seja, do desconto por fora:

4 8
X  300  (1  0.12  )  500  (1  0.12  )
12 12
X  748contos

Na alínea b), pelo desconto por dentro, fica:

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Cálculo e Operações Financeiras

300 500
X  
4 8
(1  0.12 
) (1  0.12  )
12 12
X  751,425contos

No caso do desconto composto, temos:


4 8
X  300  (1  0.12) 12
 500  (1  0.12) 12

X  752,494

Em resumo:

Situação Desconto por fora Desconto por dentro Desconto composto


Quanto, daqui a 2 meses)
746,939 contos 752,316 contos 752,494 contos
Data focal: hoje
Quanto, daqui a 2 meses)
Data focal: daqui a 2 748 contos 751,425 contos 752,494 contos
meses

Conclusões:

1. No regime de juro simples, cada data de equivalência é única. Dito de outro


modo, capitais equivalentes em determinada data, não o serão necessariamente
noutras datas, anteriores ou posteriores.
2. Em regime de juro composto, estabelecida a equivalência para uma data focal,
ela permanece válida, mesmo que se altere a data focal. Dito de outro modo,
capitais equivalentes em certa data, também o serão numa data anterior ou
posterior.7

É por esta razão que o Regime de Juro Composto é o regime de eleição do Calculo
Financeiro e o campo de aplicação de Regime de Juro Simples é sobretudo o curto prazo,
e de preferência, num contexto de taxas baixas, situação em que as suas fragilidades são
“toleráveis”.

7 O Regime de Juro Composto goza do Principio da Cindibilidade.

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