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FACULDADE DE ECONOMIA E INFORMATICA

Licenciatura em Contabilidade e Auditoria - 2º ANO

CADEIRA: MATEMÁTICA FINANCEIRA

1. Introdução

A Matemática Financeira é um corpo de conhecimento que estuda a mudança de valor


do dinheiro com o decurso de tempo; para isso, cria modelos que permitem avaliar e
comparar o valor do dinheiro em diversos pontos do tempo. Antes de iniciar o seu
estudo, é necessário estabelecer uma linguagem própria para designar as variáveis
que serão estudadas. Os elementos básicos do estudo desta disciplina serão
inicialmente vistos por meio de uma situação prática para, na sequência, serem
definidos.

O seguinte esquema é temporal e de um projecto cuja vida é dividida em n períodos:

Se fosse um esquema mensal, o projecto seria de n meses. O Momento 0 corresponde


ao início do primeiro mês; o Momento 1, ao final desse período e início do segundo
mês.

A Matemática Financeira reconhece que o dinheiro tem valor no tempo. É intuitivo


entender que 1.000,00 Meticais no seu bolso hoje tenham mais valor do que 1.000,00
Meticais que chegarão às suas mãos daqui a seis meses.
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TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


Exemplo prático nº 1:
Você necessita de 50.000,00Mt para atender a uma necessidade financeira. Um banco
lhe propõe um empréstimo nesse valor que deverá ser pago após três meses; o banco
depositará 50.000,00Mt em sua conta e você pagará a ele 60.000,00Mt ao final desse
período.
Essa situação permite a você, estudante, identificar os elementos básicos que serão
estudados na Matemática Financeira. Nessa situação, você pode ver que:
 Existiu uma transacção financeira entre o banco (agente credor) e o cliente
(agente devedor) que será denominada de operação financeira;
 Essa operação financeira tem um valor inicial de 50.000,00Mt que será
denominado de capital e um valor final de 60.000,00Mt que será denominado
montante e teve uma duração de três meses, tempo;
 Há uma diferença entre o montante e o capital que será denominada juro da
operação. Esse juro será um custo para você e uma remuneração para o
banco; e
 Existe um agente que empresta o dinheiro que é denominado credor e existe
um agente que toma o dinheiro emprestado que é denominado devedor.

1.1. Objectivos
Expor os fundamentos da matemática financeira. Estudar as principais características
dos sistemas de juros simples e dos juros compostos e suas principais aplicações
praticas, conhecer a proporcionalidade e equivalência de capitais assim como a sua
actualização. Focar as aplicações do sistema de juros compostos nos fluxos de caixa e
dos fluxos de caixa nos sistemas de amortização. Dar ao estudante base para cursos
mais avançados.

1.2. PRINCIPAIS CONCEITOS


CAPITAL

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


Capital (C) é o valor inicial de uma operação financeira expresso em unidades
monetárias. Esse valor inicial pode ser:
 Numerário ou depósitos bancários disponíveis;
 Valor de um título de dívida no início de um processo financeiro; e
 Valor de activos físicos (prédios, máquinas, veículos e outros) no início de um
processo financeiro.

OPERAÇÃO FINANCEIRA
Operação financeira é o ato económico pelo qual determinado agente possuidor de
capital (C) – denominado credor – transfere esse capital (C) a outro agente económico
– denominado devedor – mediante condições previamente estabelecidas, que
normalmente envolvem:
 A remuneração paga pelo devedor ao credor pela utilização do capital (C);
 Os prazos e as formas de devolução do capital (C) e da remuneração acordada;
e
 As garantias de pagamento que o devedor apresentará ao credor.

A operação financeira é usualmente formalizada por meio de um documento que,


geralmente, será denominado de título de crédito.

Figura 1: Operação financeira

Considere uma operação financeira em que o credor cede um capital (C) ao devedor
por um tempo constituído de (n) períodos unitários ao fim do qual o devedor devolverá

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ao credor a soma do capital (C) e da remuneração acordada. Essa operação está
sintetizada na Figura 1.
A partir da configuração mostrada na Figura 1, podemos definir alguns conceitos
básicos da Matemática Financeira.

JURO
Juro (J) é o valor da remuneração do capital (C) acordado entre o credor e devedor em
uma determinada operação financeira.
A taxa de juro é uma variável positiva (> 0) de proporcionalidade entre o capital e o
juro, para cada período de capitalização, habitualmente expressa na forma percentual
(%).

TEMPO
Período ou quantidade de tempo em que decorre o processo de desembolso do
montante (capitalização).

MONTANTE
Montante (M) é a soma do capital (C) e do juro (J) que foi acordado na operação
financeira e que é devido ao seu final. Essa definição mostra a você a seguinte relação:
M=C+J
 Essa relação é denominada equação básica da Matemática Financeira.

VALOR PRESENTE
Valor presente (PV) é o valor de uma operação financeira na data presente. É um valor
intermediário entre o montante (M) e o capital (C), conforme você pode ver na Figura 2.

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Figura 2: Conceitos e definições básicas

Observe que, para uma operação financeira iniciada hoje, o capital (C) e o valor
presente (PV) coincidem; por essa razão, a expressão valor presente (PV) é,
frequentemente, utilizada como sinónima de capital (C), apesar da diferença conceitual
existente.

VALOR FUTURO
Valor futuro (FV) é o valor de uma operação financeira em qualquer data compreendida
entre a data actual e o vencimento da operação (Figura 2). De modo análogo ao valor
presente (PV) e ao capital (C), também o valor futuro (FV) é, frequentemente, tomado
como sinónimo de montante (M).

VALOR NOMINAL
Valor nominal (VN) é o valor de uma operação financeira constante do título de crédito
que a documenta. Pode ser tanto o valor inicial, ou capital (C), quanto o valor final, ou
montante (M), da operação. Alguns autores adoptam a nomenclatura “valor de face” em
vez de “valor nominal”. Frequentemente, valor nominal (VN), valor de futuro (FV) e
montante (M) são tomados como sinónimos apesar das diferenças conceituais
existentes.

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Princípios ou regras, que gerem as relações entre estas variáveis são os
seguintes:
 1º Princípio: A presença de capital e de tempo e ausência de juro é uma
impossibilidade na matemática financeira. Se há capital e tempo, tem que haver
um juro. O juro zero pode ocorrer se e só se o capital for zero e/ ou o prazo for
zero.
 2º Princípio: Qualquer operação matemática sobre dois ou mais capitais requer
a sua homogeneização no tempo. Dados dois capitais quaisquer C e C', podem-
se adicionar, subtrair ou estabelecer uma relação de grandeza entre eles (C> C'
ou C'<C ou C= C') se e só se eles estiverem referidos ao mesmo momento.
 3º Princípio: Sendo J k o juro do período k, C k 1 o capital no início do mesmo

período, isto é, no momento k  1 e i k a taxa de juro em vigor no mesmo período,

será: J k  ik * C k 1 (K = 1, 2, 3 …)

 Assim qualquer capital aplicado durante um determinado período de tempo


(período de capitalização), a uma dada taxa de juro, gera uma remuneração
(juro), que é o produto desse capital pela taxa de juro em vigor nesse período.
 Todas as operações envolvendo capitais devem observar estes princípios.

Exercícios de consolidação da matéria nº 01

1) Retorne ao Exercício prático 1, e identifique cada um dos elementos definidos


em uma operação financeira.
2) Escreva com suas próprias palavras o conceito de juro (J). Construa um
exemplo de uma operação financeira que caracterize bem o conceito.
3) Diga o significado de valor nominal (VN).
4) O valor nominal (VN) é necessariamente o capital (C)? Ou o montante (M)? Por
quê?
5) Faça uma distinção entre capital (C) e valor presente (PV). Crie um exemplo
que ilustre adequadamente esses dois conceitos.
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6) Por que razão esses conceitos ( C e PV) são usualmente vistos como sinónimos?
7) Qual a fórmula básica da Matemática Financeira?
8) Diversos autores dessa área de conhecimento se apresentam nomenclaturas
distintas. Consulte outros autores sugeridos na seção Referências e apresente
as nomenclaturas destas referências e apresente as diferenças.

2. Operações de Capitalização

Capitalização
A aplicação de um capital (capital inicial) durante um determinado período de tempo,
a uma determinada taxa de juro, resulta num determinado rendimento (juro). Ao fim
desse período tempo, o capital inicial transforma-se num montante capitalizado
(capital inicial mais rendimento). A operação que consiste em adicionar o juro do
período ao capital inicial chama-se operação de capitalização.

Um processo de capitalização decorre ao longo de n (n>0) períodos de


capitalização, podendo a taxa de juro em vigor para cada um desses períodos ser
fixa ou variável.

O estudo dos processos de capitalização permite-nos, entre outras coisas, calcular,


em função da taxa de juro, quanto vai valer num momento futuro (capital
acumulado), um capital colocado em capitalização num momento anterior.

2.1. Juros simples


 No regime de juros simples, os juros incidem exclusivamente sobre o capital.

2.2. Juros compostos

 No regime de juros compostos, ao final de cada período de capitalização, os


juros se incorporam ao capital e passam a render juros também

2.3. Período de Capitalização


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Chamamos de período de capitalização ao tempo que, uma vez decorrido, faz
com que os juros sejam devidos ou incorporados ao principal e passem, por sua
vez, a render juros também. A taxa de juros é sempre relacionada a um
determinado período de capitalização. Assim, quando uma taxa é anual (10%
a.a., por exemplo), o período de capitalização é o ano; quando a taxa é mensal
(1% a.m., por exemplo), o período de capitalização é o mês, e assim por diante.
Quando o período a que se refere a taxa de juros é diferente do período de
capitalização, isto deve ser mencionado, tal como na expressão “taxa de 10% ao
ano, capitalizados mensalmente”, e assim por diante.

2.4. Taxa efectiva


Chamamos de taxa efectiva aquela cujo período de capitalização é igual a unidade
de tempo na qual esta expresso o período da operação. São exemplos de taxas
efectivas 12% ao ano capitalizados anualmente, 3% ao mês capitalizados
mensalmente, e assim por diante.

Esta taxa está de acordo com as regras de ouro da matemática financeira e


pressupões que há lugar ao pagamento de juros, correspondentes ao regime de
capitalização de juros compostos. Ou seja, o juro que vai ser gerando ao longo do
tempo, por exemplo, um ano, é independente se o período de capitalização e o
tempo de referência da taxa de juro serem alterados para um mês ou um semestre.
O montante acumulado no final do período vai ser o mesmo.
Por exemplo, se tivermos uma taxa de juro efectiva anual a capitalizar
mensalmente, teremos:
C1ano  Co (1  ianual )1  Co (1  imensal )12

Ou seja: (1  ianual )1  (1  imensal )12

O que é o mesmo que: ianual  (1  imensal )12 / 1  1

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2.5. Taxa nominal
Chamamos de taxa nominal aquela expressa em uma unidade de tempo diferente
da unidade de tempo dos períodos de capitalização. As taxas nominais são
geralmente fornecidas em termos anuais. São exemplos de taxas nominais 12% ao
ano capitalizados mensalmente, 2% ao mês capitalizados diariamente, e assim por
diante.

A conversão do período de referência das taxas de juro nominais faz-se pela regra
da proporcionalidade: A uma taxa de juro anual nominal de 12% correspondem uma
taxa semestral de 6%, uma taxa trimestral de 3%, uma taxa mensal de 1%, uma
taxa bianual de 24%, e assim sucessivamente.
x
Ou seja: i x  ( ) * i y ; em que x e y são os períodos de referência das duas taxas de
y
juro, que devem ser expressos na mesma base temporal (dias, meses, anos etc).

 Ao contrário da taxa efectiva, este tipo de taxa de juro não gera o mesmo
montante acumulado se for alterado o seu período de referência e
capitalização.

2.6. Taxas proporcionais


Duas ou mais taxas de juros são ditas proporcionais quando ao serem aplicadas a
um mesmo capital durante um mesmo prazo de tempo no regime de juros simples,
produzem um mesmo montante. Vê-se, portanto, que o conceito de taxas
proporcionais esta estreitamente ligado ao regime de juros simples. São exemplos
de taxas proporcionais: 1% ao mês e 12% ao ano.

2.7. Taxas equivalentes


Duas ou mais taxas de juros são ditas equivalentes quando ao serem aplicadas a
um mesmo capital durante um mesmo prazo de tempo no regime de juros
compostos, produzem um mesmo montante. Vê-se, portanto, que o conceito de

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taxas equivalentes está estreitamente ligado ao regime de juros compostos. São
exemplos de taxas equivalentes: 1% ao mês e 12% ao ano.

Exercícios de consolidação da matéria nº 02

1. O que é a “capitalização”?
2. Qual é a diferença entre “juros” e “taxa de juros”?
3. Qual e a diferença entre “taxa efectiva” e “taxa nominal”?
4. Qual é a diferença entre “regime de juros simples” e “regime de juros compostos”?
5. Qual é a diferença entre “período de capitalização” e “prazo da operação”?
6. Qual é a diferença entre “taxa proporcional” e “taxa equivalente”?

2.8.1. Capitalização em Regime de Juro Simples


A expressão mais elementar de toda a matemática financeira; aquela que deu origem a
todas as outras expressões, é a fórmula dos juros simples. Como foi dito anteriormente,
no regime de juros simples, os juros incidem exclusivamente sobre o capital. A formula
dos juros simples e: J = C * i * n
Onde:
J = juros
C = capital
i = taxa de juros expressa na mesma unidade de tempo do período
n = período

 Com esta expressão, temos a fórmula do “montante”. Como o “montante” é a


soma do capital com os juros, temos que: M = C + C * i * n

 Colocando “C” em evidência, teremos: M = C* [ 1 + ( i * n )]

Exemplo prático nº 2:

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1) Quanto renderia de juros 100,00 Meticais aplicados durante 12 meses, a 1% ao
mês no regime de juros simples?
Resposta:
J=?
C = 100,00Mt
i = 1% ou 0,01 ao mês
n = 12
Formula: J = C * i * n
Substituindo: J = 100 * 0,01 * 12 = 12,00Mt
2) Quanto receberia um investidor que tivesse aplicado 200,00 Meticais durante 2
anos, a 20% ao ano no regime de juros simples?
Resposta:
M =?
C = 200,00Mt
i = 20% ou 0,20 ao ano
n = 2 anos
Fórmula: M = C * [1 + (i * n)]
Substituindo: M = 200 * [1 + (0,2 * 2)] = 280,00Mt

2.8.2. Taxas Proporcionais


Não apenas as formulas acima, mas todas as fórmulas em matemática financeira
pressupõem taxas efectivas de juros, ou seja, taxas expressas em uma unidade de
tempo igual ao período de capitalização. Assim, se o período de capitalização for o mês,
a taxa deverá ser expressa em X% ao mês, se a capitalização for trimestral, a taxa
devera ser expressa em X% ao trimestre, e assim por diante. Acontece que não é isto
que ocorre na prática. Na prática, frequentemente, a taxa de juros é expressa em uma
unidade de tempo (geralmente o mês ou o ano) e o período “n”, em outro. Assim temos
que converter a taxa nominal dada, em uma taxa proporcional, ou seja, uma taxa de
juros referida a unidade de tempo do período “n”, mas que produza o mesmo efeito da
taxa efectiva dada.

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Exemplo prático nº 3:

1) Qual seria o montante devido por uma empresa que houvesse tomado emprestado
100.000,00 Meticais por dois meses, para liquidação de capital e juros no final da
operação, a uma taxa de juros de 24% ao ano no regime de juros simples?

Resposta:
Vê-se no enunciado acima que o período “n” é dois meses e a taxa de juros está
referida ao ano. Então, antes de aplicarmos a fórmula do montante, temos que calcular
a taxa de juros para dois meses que seja proporcional a 24% ao ano. Isto é feito pela
24% * 2
fórmula: i p   0,04  4% Por bimestre
100% *12
x
ix 
*iy
y
2
Também podemos usar a fórmula: i2  * 0,24
12
i2  0,04

É esta a taxa de juros que vai entrar na fórmula do montante. Assim temos que:
M =?
C = 100.000,00Mt
i = 0,04 por bimestre
n = 1 bimestre
Donde:
M = C * [1 + (n * i)] = 100.000 * [1 + (1 * 0,04)] = 104.000,00 Meticais

Formulas que advém:


A partir da fórmula dos juros simples, podemos deduzir as seguintes formulas
derivadas: J = C * i * n

O Capital
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O Capital pode ser expresso por duas fórmulas
J M
C ou C
i*n 1  (i * n)
Taxa de juros
A taxa de juros pode ser expressa por duas fórmulas:
J *n M C
i ou i
C C *n
Período/Tempo
O período de aplicação pode ser expresso por duas formulas:
J M C
n ou n
C *i C *i

Exercícios de consolidação da matéria nº 03

1) Qual o montante acumulado em 12 meses, a uma taxa de 0,02 ao mês, no


regime de juros simples, a partir de um principal de 10.000,00 Meticais?
2) Qual o principal necessário para se ter um montante de 10.000,00 Meticais em
24 meses a uma taxa de 4% ao trimestre?
3) Em quanto tempo um capital dobra a juros simples de 2% ao mês?
4) Quanto receberia em seis meses um investidor que tivesse aplicado 100.000,00
Meticais a 12% ao ano no regime de juros simples?

2.9.1. Capitalização em Regime de Juro Composto


Como já vimos no primeiro capítulo, no regime de juros compostos, ao final de cada
período de capitalização, os juros se incorporam ao principal e passam a render juros
também.
Suponhamos que um capital “C” seja aplicado a uma taxa “i”, no regime de juros
compostos, ao longo de três períodos de capitalização. Ao final do 1º período, o
montante recebido seria M = C x (1 + i), já que “n”, ou seja, o número de períodos, seria
“1”.

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No primeiro período a taxa de juros incidiu apenas sobre o capital “C”. Já no segundo
período, como os juros do primeiro período se incorporaram ao capital e passaram a
render juros, o novo capital passou a ser C x (1 + i) e, consequentemente, o novo
montante, [C x(1 + i)] + [C x (1+ i)] x i. Colocando a expressão C x (1 + i) em evidencia,
teremos C x (1 + i)x (1 + i), ou seja, C x (1 + i) 2. Repetindo o mesmo raciocínio
teremos que o montante no terceiro período seria C x (1 + i) 3, e assim sucessivamente.
Assim teríamos que:
1º Período M = C x (1 + i)
2º Período M = [C x (1 + i)] + [C x (1+ i)] x i = C x (1 + i)²
3º Período M = [C x (1 + i) 2 ] + [C x (1 + i) 2] x i = C x (1 + i)³

Quando o nº de período for n, M  C * (1  i) n

Caso a taxa de juros estivesse expressa na notação percentual, a fórmula acima


adquiriria a seguinte forma:
n
  i 
M  C * 1   
  100 
Formulas que advém:
A partir da fórmula dos juros compostos, podemos deduzir as seguintes formulas
derivadas:

Capital
O capital pode ser expresso pela fórmula

M
C
(1  i ) n
Taxa de Juros
A taxa de juros pode ser expressa pela fórmula

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M
in 1
C

Período/Tempo
O período de aplicação pode ser expresso por duas fórmulas:

log M  log C
n
log(1  i)
Como se pode ver, algumas fórmulas derivadas são de difícil aplicação por
envolverem complexas operações de potenciação. Antigamente, estas fórmulas
eram resolvidas com o auxílio de tabelas financeiras. Hoje, com o advento das
calculadoras financeiras, estas tabelas ficaram completamente obsoletas e
anacrónicas.
Exemplo prático nº 4:

1) Quanto resgataria um investidor que tivesse aplicado 100,00 Meticais por 12


meses a uma taxa de 1% a.m. a juros compostos?
Resposta.
M=?
C = 100,00
i = 0,01 a.m.
n = 12 meses

M  C * (1  i) n  100 * (1  0.01)12  112,68

2) Um capital de 180.000,00 Meticais aplicado, em regime de juro composto, à taxa


de juro anual de 20% gerou num certo período n, um valor de 390.654,50
Meticais. Calcule o prazo de aplicação.
Resposta:
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log M  log C log 390.654,50  log 180 .000,00
n n
log(1  i) log 1,2

5,5917938  5,2552725
n  n  4,25
0,0788
n = 4 anos e 3 meses

Exemplo prático nº 5:

1) Que capital seria necessário investir numa aplicação que rendesse 2% a.m. a
juros compostos, para que ao final de 6 meses se pudesse resgatar 250,00
Meticais?

Resposta:
C=?
M = 250,00
i = 0,02 a.m.
n = 6 meses
M 250
C   222,00 Mt
(1  I ) n
(1  0,02) 6

2.9.2. Taxas equivalentes


Também no regime de juros compostos as fórmulas pressupõem taxas efectivas de
juros, ou seja, taxas expressas em uma unidade de tempo igual ao período de
capitalização. Na prática, o que acontece quase sempre é a taxa de juros ser
expressa em meses ou anos e o período “n”, em dias. Assim temos que converter a
taxa nominal dada, em uma taxa equivalente, ou seja, uma taxa de juros referida a
unidade de tempo do período “n”, mas que produza o mesmo efeito da taxa efectiva
dada.

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Exemplo prático nº 6:

1) Qual seria o montante devido por uma empresa que houvesse tomado
emprestado 100.000,00 Meticais por dois meses, para liquidação de capital e juros
no final da operação, a uma taxa de juros de 24% ao ano no regime de juros
compostos?

Resposta:
Vê-se no enunciado acima que o período “n” é dois meses e a taxa de juros está
referida ao ano. Então, para transformarmos a taxa nominal numa taxa equivalente,
temos que elevar a expressão (1+ i) por um período “n” que represente o resultado da
divisão de dois meses por um ano (2 ÷12 = 0,1667), ou seja, o inverso do número de
vezes que o período de dois meses está contido no período de um ano. Isto é feito pela
fórmula:
M  C * (1  i) n  100.000 * (1  0,24) 0,1667  103.650,23Mt
2
Decompondo a expressão (1  0,24) , observamos que esta expressão é a forma
12

2
 1

sintética da expressão (1  0,24)  , ou seja, primeiro a expressão foi elevada a
12

 
“1/12”, e, em seguida, elevada a 2. Na prática, isto quer dizer que, primeiro
encontramos a taxa equivalente mês da taxa nominal de 24% ao ano; em seguida
encontramos a taxa equivalente bimestral.
Como já dissemos, na prática, as taxas nominais de juros são, quase sempre, referidas
ao mês ou ao ano, e o período “n”, em dias. Nestes casos, para calcular as taxas
equivalentes, usamos as formulas abaixo que já convertem as taxas efectivas em taxas
equivalentes, e onde o período “n” e expresso em dias:

 n

(1  i)  1 (no caso de taxas mensais expressas na notação decimal) ou
30

 

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 n

(1  i)  1 (no caso de taxas anuais expressas na notação decimal) ou
360

 

 n

(1  i)  1 *100 (no caso de taxas mensais expressas na notação percentual) ou
30

 
 n

 (1  i ) 360
 1 *100 (no caso de taxas anuais expressas na notação percentual)
 

Exemplo prático nº 7:

1) Qual a taxa equivalente para 15 dias à taxa efectiva de 24% ao ano?

Resposta:

 15

(1  0,24)  1  0,009 ou
360

 

 15

(1  0, 24 ) 360
 1 *100  0,9%
 
2.) Qual é a taxa equivalente para 7 dias à taxa efectiva de 4% ao mês?

Resposta:

 7

(1  0,04)  1  0,0092 ou
30

 

 7

(1  0,04)  1 *100  0,92%
30

 

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2.10. Juros Simples vs. Juros Compostos
No regime de juros simples, o montante evolui conforme uma progressão aritmética
cuja razão seja “i”. Sua evolução e, portanto, linear.

Figura 3: Juros Simples


Já no regime de juros compostos, o montante evolui conforme uma progressão
geométrica cuja razão seja “1 + i”. Sua evolução e, portanto, exponencial.

Figura 4: Juros Compostos


A primeira vista fica a impressão que, se a taxa de juros e o prazo forem os mesmos, o
montante produzido pelo regime de juros compostos e sempre maior do que o
montante produzido pelo regime de juros simples. No entanto, nem sempre é isto o que
acontece.

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Exemplo prático nº 8:
Dois investidores aplicaram 100.000,00 Meticais cada, para resgatar em 6 meses.
Ambos aplicaram a uma taxa de juros de 10% ao ano. O primeiro investidor aplicou no
regime de juros simples; o segundo, no regime de juros compostos. Em sua opinião,
qual das duas aplicações rendeu mais no período?

Resposta:
1º Investidor (Taxa de juros simples)
M = C* [1+ ( i * n)] = 100.000 * [1 + (0,10 * 0,5)] = 105.000,00

2º Investidor (Taxa de juros composto)

M  C * (1  i) n  100.000 * (1  0,10) 0,5  104.880,00


 A figura abaixo ilustra o que aconteceu.

Figura 5 - Juros Simples vs. Juros Compostos

Se o prazo de resgates das duas aplicações fosse um ano, ambas teriam rendido o
mesmo, ou seja, teriam rendido juros de R$ 10.000. Se o prazo de resgate fosse
superior a um ano, o investidor que houvesse aplicado a juros compostos teria lucrado
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mais. Como o prazo de resgate foi inferior ao período de capitalização (um ano), o
investidor que aplicou a juros simples ganhou mais.

Conclusão
Todas as vezes que o prazo de resgate for inferior ao período de capitalização, o
regime de juros simples produz um montante superior ao montante produzido pelo
regime de juros compostos.

Exercícios de consolidação da matéria nº 04

1) Qual o montante acumulado em 12 meses, a uma taxa de 2% ao mês, no


regime de juros compostos, a partir de um capital de 10.000,00 Meticais?
2) Qual é o capital necessário para se ter um montante de 10.000,00 Meticais em
24 meses a uma taxa de 4% ao trimestre, capitalizados pelo sistema de juros
compostos?
3) Em quanto tempo um capital dobra a juros compostos de 2% ao mês?
4) Quanto receberia em seis meses um aplicador que houvesse investido
100.000,00 Meticais a 12% ao ano no regime de juros compostos?
5) Qual é a taxa de juros mensal que transformaria um capital de 10.000,00
Meticais em um montante de 12.000,00 Meticais em 12 meses, no sistema de
juros compostos?
6) Qual é a taxa equivalente mês, no regime de juros compostos a 50% a.a.?

3. Operações de desconto e equivalência de capitais

Actualização ou desconto
A actualização ou desconto é o processo de cálculo inverso à capitalização, pelo
qual podemos calcular, em função da taxa de juro, quanto vale num momento
anterior um capital vencível num momento posterior.

3.1. Actualização (desconto) em Regime de Juro Simples

 Desconto por um período


21

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1
C *S
(1  i *1)

Sendo:

S – Valor nominal do capital (Montante) no fim do período

C – Valor actual do capital (descontado durante um período à taxa de


juros i)

D  S C
 1 
D  S  *S
 1  i *1 
 1 
D  S * 1  
 (1  i * 1) 

Sendo:

D – Desconto

C – Valor actual do capital (valor descontado)

S - Valor nominal do capital (Montante) no fim do período

I – Taxa de juro anual simples

Exemplo prático nº 9:
1) Qual é o valor actual correspondente a um valor nominal de 1.000,00 Meticais, a
receber daqui a um ano, considerando uma taxa de juros de 10%, em regime de
juros simples?

Resposta:

1 1
C *S  C  *1000
(1  i *1) (1  0,1 * 1)
C  909,09 Mt

2) Qual é o valor do desconto de um capital de 1.000,00 Meticais, a receber daqui


a um ano, considerando uma taxa de juros anual de 10%, em regime de juro
simples?

Resposta:

22

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


 1 
D  S * 1  
 (1  i * 1) 
 1 
D  1000 * 1  
 (1  0,1 * 1) 
D  90,91Mt

 Desconto por dois períodos

Neste caso o que muda é somente o período.

Exemplo prático nº 10:

1) Qual é o valor actual correspondente a um montante de 1.000,00 Meticais, a


receber daqui a dois anos, a uma taxa de juro anual de 10%, em regime de
capitalização simples?

Resposta:

1
C *1000
(1  0,1 * 2
C  833,33Mt

 Desconto por n períodos

Neste caso o período de actualização ou de desconto é “n”, que pode valores


de 1, 2, 3, . . . n

A fórmula:

1
C *S
(1  i * n)

1
 Factor de actualização em regime de juro simples
1  i * n)

A fórmula de desconto:

 1 
D  S * 1  
 (1  i * n) 

23

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 1 
1    Factor de desconto em regime de juro simples
 (1  i * n 

Exemplo prático nº 11:

1) Uma empresa tem um crédito de 100.000,00 Meticais, a vencer daqui a dois


anos, a uma taxa de juro anual de 10%, em regime de capitalização simples.

a) Considere que a empresa pretende receber esse crédito hoje, qual o


desconto que terá de fazer ao seu cliente?

b) E qual é o valor que irá receber?

Resposta:

a)

 1 
D  S * 1  
 (1  i * n ) 
 1 
D  100 .000 * 1  
 (1  0,10 * 2) 
D  16.666,67 Mt

b)

1
C
(1  i * n)
1
C
(1  0,10 * 2)
C  83.333,33Mt

2) Uma empresa é proprietária de um título de crédito, com valor nominal de


50.000,00 Meticais. Para superar dificuldades financeiras resolveu desconta-
lo quando faltavam 14 meses para o seu vencimento, à taxa de juro anual de
15% ao ano, em regime de juros simples. Qual o valor recebido pela
empresa?

Resposta:

24

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1
C *S
(1  i * n)
1
C
1  12 *14 * 50.000
0 ,15

C  42.553,19 Mt

3.1.1. Desconto por Fora ou Comercial

O desconto por fora, também designado por desconto comercial, corresponde ao


juro produzido pelo valor nominal do capital (valor futuro) durante o prazo que falta
para o seu vencimento.

É calculado sobre o valor nominal do capital (valor futuro), a expressão que


representa o desconto por fora será:

Df = S*i*n
Sendo:

Df – Desconto por fora

S – Valor actual ou valor descontado

i – Taxa de desconto por período

n – Tempo ou tempo de antecipação

3.1.2. Desconto por Dentro ou Racional

O desconto racional ou por dentro, equivale aos juros simples, calculado sobre o valor
actual do título. Ou seja, é aquele em que a taxa de desconto incide sobre o valor
líquido do título.

S *i * n
Dd 
(1  i * n)
Sendo:

Dd – Desconto por dentro

S – Valor actual ou valor descontado


25

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i – Taxa de desconto por período

n – Tempo ou tempo de antecipação

Exemplo prático nº 12:

1) Um banco operou o desconto comercial de um título com valor nominal de


3.000,00 Meticais, e vencimento para 90 dias e aplicou uma taxa de juros de 3%
a.m. Qual o valor do desconto e qual o valor recebido pelo detentor do título?

Resposta:
Df = S * i * n
Df = 3.000,00 * 0,03 * 3 = 270,00

O portador do título receberá:


Sn = S – Df = 3.000,00 – 270,00 = 2.730,00

2) Uma empresa tem um crédito de 100.000,00 Meticais, a vencer daqui a dois


anos, a uma taxa de juro anual de 10%, em regime de capitalização simples.

a) Se a empresa pretender receber esse crédito hoje, qual é o desconto que terá
de fazer ao seu cliente?

b) E qual o valor que irá receber?

Resposta:

a)

Df = S * i * n

Df = 100.000*(0,10*2)

Df = 20.000,00Mt

b)

26

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Sn = S – Df = 100.000,00 – 20.000,00 = 80.000,00

3) Um banco operou o desconto racional de um título no valor nominal de 3.000,00


Meticais com vencimento para 90 dias e aplicou uma taxa de juros de 3% am.
Qual o valor do desconto e qual o valor recebido pelo detentor do título?
Resposta:

S *i * n 3.000 * 0,03 * 3 270


Dd     247 ,70
(1  i * n) 1  0,03 * 3) 1,09

O portador do título receberá:


Sn = S – Dd = 3.000,00 – 247,70
PV = 2.752,30

3.1.3. Desconto composto


A definição de desconto composto é a mesma que do sistema de capitalização
simples. O que diferencia um do outro é justamente o sistema de capitalização, que
neste caso é composto.

S
A fórmula de desconto composto é: Dcp 
(1  i) n

Exemplo prático nº 13:

1) Calcular o desconto composto de um título de 3.600,00 Meticais, a taxa de 4,5%


a.m. e antecipado em 2 meses.

27

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S
Dcp 
(1  i ) n
3.600
Dcp 
(1  0,045) 2
3.600
Dcp   3.296,70
1,093

Utilizando a fórmula geral de desconto: D  S  C

D  3.600  3.296,70  303,30

Exercícios de consolidação da matéria nº 05

1) Uma empresa necessitando financiar a sua tesouraria, envia ao banco para


desconto o seguinte mapa de títulos de crédito.

Cliente Sacado Valor de Resgate (Valor Nominal) Prazo até ao Vencimento

Cliente X 50.000,00 Mt 15 dias

Cliente Y 25.000,00 Mt 25 dias

Cliente W 100.000,00 Mt 1 mês

Cliente Z 150.000,00 Mt 3 meses

Valor Total 325.000,00 Mt

a) Se a taxa anual simples de desconto cobrado pelo banco for de 20%, qual
será o valor que a empresa irá receber pelo desconto dos vários títulos?

2) Um título de 10.000,00 Meticais será negociado em 3 meses antes do seu ven-


cimento, a taxa de 8% a.m. Determine o valor presente no regime de juro
composto..

28

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3.2. Actualização (desconto) em Regime de Juro Composto

Vimos no regime de juro simples que a actualização ou desconto é a operação


inversa da capitalização. O processo mais comum de actualização ou desconto
é o desconto composto, operação inversa da capitalização de juros compostos.

i) Actualização por “n” períodos

S  Co * (1  i) n
1 ou Co  S * (1  i)  n
Co  *S
(1  i) n

Sendo:

Co – Valor Actual (valor descontado)

S – Valor nominal (valor acumulado ao fim de n períodos)

i – Taxa de juro

Exemplo prático nº 14:

1) Quanto vale hoje a quantia de 1.000,00 Meticais a receber daqui a dois anos,
em regime de juro composto. Se a taxa de juro anual for de 10%?

Resposta:

1 1
Co  * S  Co  *1.000  C o  826,45Mt
(1  i ) n
(1  0,10) 2

ii) Desconto por “n” períodos

D  S  Co

D  S  S * (1  i) n  S * 1  (1  i) n 

D  S * 1  (1  i) n 
Sendo:

D – Desconto

Co – Valor Actual (Valor descontado)

S – Valor nominal (valor acumulado ao fim de n períodos)

i – Taxa de juro
29

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Exemplo prático nº 15:

1) Qual é o valor do desconto de um capital de 1.000,00 Meticais em regime de


juro composto, a receber daqui a dois anos, a uma taxa de juro anual de 10%?

Resposta:

   
D  S * 1  (1  0,10) 2  D  1.000 * 1  (1  0,10) 2  D  173,55Mt

iii) Actualização (ou desconto) por n períodos

1
C *S ou C  S * (1  i)  n
(1  i ) n

Sendo:

C – Valor actual (Valor descontado)

S – Capital acumulado ao fim de n períodos

(1  i) n - Factor de actualização em regime de juro composto

Exercícios de consolidação da matéria nº 06

1) Um capital aplicado em regime de juro composto á taxa anual de 5,5%, produziu,


ao fim do 5º ano, um valor acumulado de 13.069,60 Meticais. Determine o
capital inicial.

3.3. Equivalência de capitais

Quando trabalhamos com operações financeiras, é comum a antecipação ou o


pagamento em atraso dos títulos, ou ainda a troca de título(s) por outros títulos. É
nestes casos que precisamos utilizar os conceitos de equivalência de capitais ou
capitais equivalentes, para sabermos se estamos lidando com os mesmos valores.
Neste sentido, é necessário o entendimento de alguns conceitos considerados
essenciais, a saber: (a) Data focal que representa a data a ser considerada como
base de comparação de valores referidos a datas diferentes, é conhecida também
como data de avaliação ou data de referência. Então quando estamos trabalhando
com equivalência de capitais necessita-se de uma data de parâmetro que é a nossa
data focal. Já a equação de valor possibilita realizar a igualdade de capitais

30

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


diferentes, em períodos diferentes, trazidos para uma mesma data focal com taxas
de juros fixada. Essa equação é utilizada na igualdade de valores distintos trazidos
para uma mesma data focal.

Dois ou mais capitais são equivalentes, quando levados para uma mesma data
focal e com mesma taxa de juros, possuem valores iguais.

Exemplo: Suponha que você tem a receber um valor nominal de 20.000,00


Meticais com vencimento em dois anos, e possui 25.000,00 Meticais hoje para
aplicar sob uma taxa de 2% a.m. durante dois anos. Considerando que a taxa de
juro o hoje é de 2% a.m., pergunta-se:
 Quanto você possui hoje?
 Quanto você possuirá daqui a um ano?
 Quanto você possuirá daqui a dois anos?

TEMOS:
X = valor que possui na data zero;
Y = quantia que possuirá após um ano;
Z = quantia que possuirá após dois anos.
Assim, temos:
20.000,00
Hoje: 25.000,00   25.000,00  12.434,43  37.434,43
(1  0,02) 24
Daqui a um ano:
20.000,00
25.000,00 * (1,02)12   31.706,04  15.770,38  47.476,42
(1  0,02)12
Daqui a dois anos:

25.000,00 * (1,02) 24  20.000,00  40.210,93  20.000,00  60.210,93

Assumindo-se uma taxa de juros “i”, os capitais serão equivalentes na data de


referência zero, se:
31

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


C1 C2 C3 Cn
O valor actual VA     .... 
(1  i ) 1
(1  i ) 2
(1  i ) 3
(1  i ) n

Exemplo prático nº 16:

1) Admitindo-se uma taxa de juros compostos de 5% a.a., verificar se os


capitais são equivalentes na data de referência zero.

Resposta:

C1 1.050,00
V1    1.000
(1  i ) 1
(1,05)1
C2 1.102,50
V2    1.000
(1  i ) 2
(1,05) 2
C3 1.157 ,52
V3    1.000
(1  i ) 3
(1,05) 3
C4 1.215,51
V4    1.000
(1  i ) 4
(1,05) 4
C5 1.276,28
V5    1.000
(1  i ) 5
(1,05) 5
Deste modo, podemos concluir que: V1 = V2 = V3 = V4 = V5

Pelos cálculos acima, podemos afirmar que os capitais são equivalentes. Então,
é normal possuir qualquer um dos valores acima nas respectivas datas de
vencimento. Desta forma, possuir 1.276,28 Meticais dentro de cinco anos ou
1.000,00 Meticais hoje. Esta é a lógica da equivalência de capitais, que permite
comparar valores diferentes tendo como parâmetro uma data de referência zero.

3.3.1. Equivalência de Capitais em Regime de Juros Simples


Dois Capitais ou fluxos de caixa são equivalentes quando os seus valores
presentes, calculados para a mesma taxa de juros, forem iguais, ou seja:

C1  C2 ou FC1  FC2
Essa equivalência pode ser representada por:

32

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


C1  C2 ou FC1  FC2
C1 – Capital 1 e C2 – Capital 2
E
FC1 – Fluxo de caixa 1 e FC2 – Fluxo de caixa 2

Dois fluxos de caixa ou capitais forem equivalentes para uma dada taxa de juros,
então, se seus valores presentes ou sua actualização/desconto calculados a
essa taxa de juros, forem iguais.

Com essa definição, é possível comparar capitais e fluxos de caixa alternativos


para decidir qual deles é o melhor em termos do seu “custo”. Para isso, em
primeiro lugar, deve descontar todos os seus componentes para uma única data
que é denominada data de referência e, em seguida, somá-los algebricamente
para determinar o valor presente do capital ou dos fluxos de caixa. Em regime
de juros simples, a comparação de fluxos de caixa deve ser feita sempre na data
de referência “zero”.

Para que os dois fluxos de caixa ou capitais sejam equivalentes, eles devem
produzir valores presentes iguais quando descontados a uma mesma taxa de
juros. A taxa que garante essa igualdade é denominada taxa de juros (ou de
desconto) de equivalência.

Observe que o desconto para o cálculo dos valores presentes de capital ou dos
fluxos de caixa pode ser feito em modelo racional ou em modelo comercial. Por
simplificação, deste ponto em diante, nos referiremos simplesmente a uma taxa
que poderá ser racional (taxa de juros) ou comercial (taxa de desconto)
conforme a situação em análise.

 Equivalência de capitais ou de Fluxos de Caixa em Desconto


Racional

33

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


Você pode obter as relações de equivalência calculando os valores atuais dos
dois fluxos de caixa, pelo critério do desconto racional (utilizando a fórmula: C
= M/(1+i*n)) e lembrando-se de que:
C1 C2 Cm
S c1  ; Sc2  ;....S m 
(1  i *1) (1  i * 2) (1  i * m)
C1 C2 Cn
S c1  ; Sc2  ;....S n 
(1  i *1) (1  i * 2) (1  i * n)
Assim temos:
C1 C2 Cm
S c1    .... 
(1  i *1) (1  i * 2) (1  i * m)
C1 C2 Cn
Sc2    .... 
(1  i *1) (1  i * 2) (1  i * n)
De acordo com a definição de equivalência, esses dois fluxos de caixa serão
equivalentes, em desconto racional, quando os seus valores actuais forem iguais
(para a taxa de juros), ou seja:

S C1  S C 2

 Equivalência de Capitais ou Fluxos de Caixa em Desconto Comercial


A equivalência de capitais em desconto comercial é determinada fazendo os
descontos dos valores futuros para a data presente com a aplicação das
fórmulas do desconto comercial.

S Cn1  C n1 * (1  1 * i)  C n 2 * (1  2 * i)  ...  C m * (1  m * i)
SCn 2  Cn1 * (1  1 * i)  Cn 2 * (1  2 * i)  ...  Cm * (1  n * i)
Como dito, os dois fluxos de caixa serão equivalentes, em desconto
comercial, se os seus valores atuais forem iguais (para a mesma taxa de
desconto i), ou seja:

S Cn1  S Cn 2
Exemplo prático nº 17:

34

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


Um título de 2.000,00 Meticais com vencimento para 60 dias foi renegociado e
credor e devedor ajustaram a dívida para dois pagamentos iguais com
vencimentos para 90 e 120 dias.
Considerando a taxa de juros de 2% am, calcule os novos valores pelo modelo
racional

a) Dívida actual S C 1 = 2.000,00, n1 = 2 m;

b) Dívida futura S C 2 = C2 = ?, n2= 3 m, C3=C =?,

n3 = 4 m, i = 2% am.

Resposta:
Aplicando a fórmula do desconto racional para o cálculo do valor presente dos
fluxos de caixa, temos:
- Para o primeiro fluxo de caixa (n1= 1 mês, n2 = 2 meses):

C1 2.000
S C1   S C1 
(1  i * 2) (1  0,02 * 2)
S C1  1.923,08

- Para o segundo fluxo de caixa (n2= 3 meses, n3 = 4 meses):

C2 C3
SC 2  
(1  0,02 * 3) (1  0,02 * 4)
Como C2 = C3 = C, escreve-se,
C C C C
SC 2    
(1  0,02 * 3) (1  0,02 * 4) 1,06 1,08
1,08 * C  1,06 * C
SC 2 
1,06 *1,08
SC 2  1,86932 * C
 Aplicando a condição de equivalência para os dois fluxos de caixa, temos:
35

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


S C1  1.923,08  S C 2  1,8693 * C

Disso obtém-se: C = 1.028,77

E se o modelo fosse o comercial? A solução seria análoga, apenas com a


aplicação da fórmula de desconto comercial, qual seja:

SCn  Cn * (1  i * n)
SCn1  2.000,00 * (1  0,02 * 2)  1.920,00
SCn 2  Cn * (1  0,02 * 3)  Cn * (1  0,02 * 4)
SCn 2  0,94 * C  0,92 * C  1,86 * C

Igualando os dois valores atuais:

S Cn1  1.920,00  S C 2  1,86 * C


Obtemos: C = 1.032,258
Exercícios de consolidação da matéria nº 07

1) Aplicam-se 50.000,00 Meticais à taxa de juros de 12% aa em um período de


quatro meses. Um mês após essa aplicação, faz-se nova aplicação à taxa de juros
de 20% aa e por três meses. Qual o valor desta segunda aplicação para que os
montantes das duas operações sejam iguais?
a) Considerando o modelo racional.
b) Considerando o modelo comercial.

2) Uma mercadoria, cujo valor à vista é $ 20.000,00, foi vendida em três


pagamentos para 30, 60 e 90 dias da data da venda. Sabendo que cada pagamento
supera o anterior em $ 2.000,00 e que a i da operação é 24% aa, determine o valor
de cada pagamento.
36

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


a) Considerando o modelo racional.
b) Considerando o modelo comercial.

3.3.2. Equivalência de Capitais em Regime de Juro Composto

A definição de equivalência de capitais ou fluxos de caixa em regime de juros simples,


é idêntica no regime de juros compostos: diz-se que dois fluxos de caixa são
equivalentes para uma dada taxa de juros quando os seus valores presentes,
calculados para aquela taxa de juros, são iguais.

Dois fluxos de caixa serão equivalentes quando os seus valores presentes forem iguais
para uma dada taxa de juros, isto é, quando:

S C1  S C 2
Utilizando o critério de desconto racional composto, temos:
C1,m C 2,m C m,m
S C1    ... 
(1  i )1 (1  i ) 2 (1  i ) m
C1,n C 2,n C n,n
SC 2    ... 
(1  i )1 (1  i ) 2 (1  i ) n
 E esses valores devem ser iguais para uma dada taxa de juros.

Exemplo prático nº 18:

1) Considere o fluxo de caixa, a seguir, e determine seu valor presente


considerando a taxa de juros efectiva de 3% am.
PERÍODO FLUXOS/CAPITAL (Mt) Cj
1 412,00 C1
2 318,28 C2
3 327,81 C3

 A partir da definição de valor actual de fluxo de caixa, escreva:

37

TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


Sc  C1,m  C2,m  C3,m
C1,m C 2,m C 3, m
SC   
(1  i )1 (1  i ) 2 (1  i ) 3
412 318,28 327 ,81
SC   
(1  0,03)1 (1  0,03) 2 (1  0,03) 3
S C  412,00 * 097087  318,28 * 0,94260  327 ,81 * 0,91514
S C  400  300  300
S C  1.000,00

Exercícios de consolidação da matéria nº 08

1) Considere o fluxo de caixa, a seguir, e determine o seu valor presente


considerando uma taxa de juros efectiva de 3% am.
PERÍODO FLUXOS/CAPITAL (Mt) Cj
1 309,00 C1
2 318,28 C2
3 437,09 C3

2) Calcule o valor presente dos fluxos de caixa abaixo, para uma taxa de desconto
de 8% anual.
Ano Fluxo 1 Fluxo 2
1 80,00 301,92
2 80,00 301,92

3 80,00 301,92

4 1.080,00 301,92

Total 1.240,00 1.207,60

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TEXTOS DE APOIO Por: Remígio Silveira


4. BIBLIOGRAFIA
 Matias, Rogério, “Calculo Financeiro: Teria e Prática” Lisboa: Editora Escolar; 2ª
edição; 2007
 Cadilhe, Miguel e Soares, "Lições de Matemática Financeira", 2ª edição 1988
 Mateus, J. M. A.; 1995; Cálculo Financeiro; 4ª Edição; Lisboa; Edições Silabo
 ASSAF NETO, Alexandre. Matemática Financeira e suas aplicações. São
Paulo: Atlas, 2008.
 PUCCINI, Aberlado Lima. Matemática financeira objetiva e aplicada. São
Paulo: Saraiva, 2008

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