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MATEMÁTICA

FINANCEIRA

Adriana Claudia Schmidt


Séries uniformes de
pagamento: outros modelos
de operações financeiras
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir compras parceladas.


 Construir uma série de pagamentos de previdência privada.
 Descrever séries diferidas e intermediárias.

Introdução
Ao efetuar compras de uma determinada mercadoria, o cliente pode
escolher pelo pagamento à vista ou parcelado. Comprar a prazo é uma
das opções para quem não tem o valor total para o pagamento, visto
que, dessa forma, o valor total é dividido em parcelas.
Além de realizar compras em várias prestações, é possível usufruir de
parcelas em benefício próprio, como, por exemplo, adquirir títulos de
capitalização, seguros de vida, previdência privada, entre outros. Grande
parte dos consumidores parcela suas compras, o que pode ser feito de
diferentes maneiras, como com entrada, sem entrada ou, ainda, com
uma carência, que pode chegar a meses para o primeiro pagamento.
Neste capítulo, você conhecerá diferentes maneiras de realizar pagamen-
tos. Além disso, verá o processo de construção de uma série de pagamentos
de previdência privada. Por fim, conhecerá as séries diferidas e intermediárias.

1 Compras parceladas
É bastante comum, na prática, defrontar-se com operações financeiras que
são representadas por fluxos de caixa, como, por exemplo, pagamentos ou
recebimentos de aluguéis, empréstimos, prestações decorrentes de compras
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parceladas, entre outras diferentes situações que a maioria das pessoas usufrui
por não ter o valor total para o pagamento à vista.
As compras parceladas são comuns e, muitas vezes, representam uma
facilidade para adquirir um bem que não poderia ser adquirido se não exis-
tisse essa condição. Para pagamentos parcelados, há diferentes opções de
pagamentos, os quais podem ser realizados com entrada, sem entrada ou,
ainda, com carência para a primeira prestação. Conforme Assaf Neto (2012),
os fluxos de caixa podem ser verificados das mais diferentes formas e tipos
em termos de períodos de ocorrência (postecipados, antecipados ou diferidos),
periodicidade (períodos iguais entre si ou diferentes), duração (limitados ou
indeferidos) e valores (constantes ou variáveis).
Para melhor compreensão das compras parceladas, pode-se dizer que
as prestações são os valores de uma dívida adquirida hoje em forma de
empréstimo ou de algum bem adquirido a prazo, ou, ainda, que são paga-
mentos realizados periodicamente com a finalidade de usufruir de um bem
ou serviço. De acordo com Veras (2005), cada um dos pagamentos da série
é chamado de termo, prestação ou, simplesmente, pagamento da renda. As
rendas podem ser certas ou aleatórias. As rendas certas são aquelas cujos
pagamentos têm vencimentos, valores e números preestabelecidos e taxa de
juros fixa. Já as aleatórias são aquelas cujos pagamentos têm vencimentos,
valores e números aleatórios e taxa variável, como ocorre com os rendimentos
de ações ou prêmios de seguro.

Para Castanheira e Macedo (2010), a sucessão de depósitos e/ou saques, ou, ainda,
de recebimentos e/ou pagamentos, em dinheiro (caixa), previstos para determinado
tempo, é denominada fluxo de caixa.

Neste capítulo, as prestações serão tratadas como PMT, e, para as demais


variáveis, será utilizada a mesma simbologia adotada anteriormente: valor
principal (PV), valor futuro (FV), juro (J), período de tempo (n) e taxa de
juros (i). Para melhor compreensão das formulações e aplicações práticas do
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fluxo de caixa, estas podem ser representadas sob diferentes formas e tipos.
Conforme Assaf Neto (2012), pode-se esquematizar e identificar o fluxo de
pagamentos ou recebimentos com base na seguinte classificação:

Nesse momento, será abordada uma sucessão de recebimentos ou paga-


mentos postecipados e antecipados. O modelo postecipado é considerado o
modelo-padrão, em que os recebimentos ou pagamentos iniciam logo após o
fim do primeiro intervalo de tempo. Contudo, para Assaf Neto (2012, p. 106):

[...] o modelo-padrão de um fluxo de caixa é verificado quando os termos de


uma sucessão de pagamentos ou recebimentos apresentam ao mesmo tempo
as seguintes classificações:
a) Postecipados – indica que os fluxos de pagamentos ou recebimentos come-
çam ocorrer ao final do primeiro intervalo de tempo. Por exemplo, não havendo
carência, a prestação inicial de um financiamento é paga ao final do primeiro
período do prazo contratado, vencendo as demais em intervalor sequenciais.
b) Limitados – o prazo total do fluxo de caixa é conhecido a priori, sendo
finito o número de termos (pagamentos e recebimentos).
c) Constantes – indica que os valores dos termos que compõem o fluxo de
caixa são iguais entre si.
d) Periódicos – é quando os intervalos entre os termos do fluxo são idênticos
entre si. Ou seja, o tempo entre um fluxo e outro é constante.

Conforme o autor, para o cálculo do valor presente em um fluxo de caixa


postecipado, denominado modelo-padrão, foi desenvolvido um fator de ajuste
do valor presente, equiparando-se à soma de uma progressão geométrica (PG)
de n termos. Por meio do desenvolvimento da fórmula da PG, chega-se ao
fator de ajuste do valor presente .
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A Figura 1, a seguir, apresenta o fluxo de caixa do modelo-padrão.

Figura 1. Fluxo de caixa modelo-padrão: postecipado.

Conforme a Figura 1, pode-se verificar que, no modelo-padrão, o PMT


inicial ocorre em n = 1: postecipado; a diferença entre a data de um termo e
outro é constante, periódico; o prazo é preestabelecido, limitado ou finito; e
os valores das prestações são constantes.
Mediante o fator de valor presente (FPV), a fórmula do valor presente de
um fluxo de caixa uniforme é a seguinte:

ou:

Seguindo a mesma linha, a fórmula para o cálculo da prestação de uma


anuidade postecipada é:

Os cálculos de uma renda certa postecipada também podem ser calculados


na calculadora HP 12c, seguindo os mesmos procedimentos demonstrados an-
teriormente, que serão desenvolvidos nos exemplos no decorrer deste capítulo.
Acompanhe o Exemplo 1, a seguir, que traz uma situação do cotidiano na
compra de um automóvel.
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Exemplo 1
Um automóvel, cujo preço à vista é R$ 35.000,00, é vendido em 36 prestações mensais,
iguais e postecipadas, à taxa de 1,5% a.m. Qual é o valor de cada prestação?

Para realizar esse cálculo na calculadora financeira HP 12c, siga os seguintes passos:
 f REG (limpa todos os registros);
 35.000 CHS PV (introduz, como sinal trocado, o valor do bem financiado);
 36 n (introduz o número total de prestações)
 1,5 i (introduz a taxa de juros);
 PMT 1.265,33 (calcula o valor das prestações).

O Exemplo 2, a seguir, apresenta o cálculo de empréstimo, em que se


conhece o valor das prestações e é preciso encontrar o valor financiado.

Exemplo 2
Uma pessoa contrai um empréstimo a ser pago em 24 prestações mensais postecipadas
de R$ 258,00, no fim de cada mês. Se a taxa cobrada pela financeira é de 2,1% ao mês,
qual é o valor do empréstimo?

Para realizar esse cálculo na calculadora financeira HP 12c, siga os seguintes passos:
 f REG (limpa todos os registros);
 258 CHS PMT (introduz, como sinal trocado, o valor das prestações);
 24 n (introduz o número total de prestações);
 2,1 i (introduz a taxa de juros);
 PV 4.824,96 (calcula o valor do empréstimo).
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Valor presente de uma anuidade antecipada


O valor presente de uma anuidade antecipada ocorre quando o primeiro
pagamento é efetuado na entrada, ou seja, no ato da compra, sendo que o
valor da entrada é igual ao valor das demais prestações. Ao comparar os dois
modelos — antecipado e postecipado —, percebe-se que a única diferença
é que o primeiro termo, na renda postecipada, ocorre no fim do 1º período,
ao passo que, na renda antecipada, o 1º pagamento ocorre no instante zero,
conforme a Figura 2.

Figura 2. Fluxo de caixa: antecipado.

Na renda antecipada, como a primeira prestação é paga no ato da compra


(data zero), seu valor atual (valor presente) é obtido capitalizando-se um
período de juros no valor presente da renda imediata, conforme a fórmula
a seguir:

Para o cálculo das prestações em uma renda antecipada, a fórmula utilizada


é a que segue (lembre-se de que os cálculos também podem ser estimados
pela calculadora financeira HP 12c):
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Para o desenvolvimento na calculadora financeira HP 12c, deve-se ter um cuidado na


hora dos cálculos. Para a renda antecipada, o “begin” deve aparecer no visor; para isso,
digite g BEG (7). Já para o cálculo da renda postecipada, aperte g END (8).

O Exemplo 3, a seguir, traz uma situação do cálculo de uma renda antecipada.

Exemplo 3
Uma empresa conseguiu um financiamento de R$ 200.000,00 a ser liquidado em 8
prestações, sendo que a primeira é paga no ato da liberação dos recursos, a uma taxa
de 1,7% ao mês. Qual é o valor de cada prestação a ser paga pela empresa?

Para realizar esse cálculo na calculadora financeira HP 12c, siga os seguintes passos:
 f REG (limpa todos os registros);
 g BEG (estabelece o sistema antecipado);
 200.000 CHS PV (introduz, como sinal trocado, o valor do bem financiado);
 8 n (introduz o número total de prestações);
 1,7 i (introduz a taxa de juros);
 PMT 26.499,61 (calcula o valor das prestações).

2 Série de pagamentos
O valor futuro de uma renda é obtido por meio da capitalização de um perí-
odo de juros no valor inicialmente obtido. A renda é dita antecipada quando
o vencimento do primeiro termo se dá na data zero. Como, nesse caso, o
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depósito é feito no início do período, ao fim desse período, ela dará origem a


um montante. Assim, o valor futuro de uma renda antecipada é a soma dos
valores futuros de cada um dos seus termos, conforme a Figura 3.

Figura 3. Valor futuro de um fluxo de caixa.

A soma dos valores futuros é obtida por meio da soma dos termos de uma
PG. Conforme Assaf Neto (2012), o valor futuro é determinado pelo somatório
dos montantes de cada um dos seus termos, ou, ainda, capitalizando-se o valor
presente para a data futura. Desse modo, a fórmula para o cálculo do valor
futuro de uma renda antecipada é dada por:

Atualmente, a maioria da população está preocupada com o futuro,


por isso, muitos se preocupam em guardar dinheiro, ou seja, adquirir uma
previdência privada. A previdência privada é uma aposentadoria que não
está ligada ao sistema do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ela é
complementar à previdência pública. Conforme a Brasilprev, muito além da
aposentadoria, a previdência privada é uma maneira de formar uma reserva
financeira, um modo de guardar dinheiro para realizar projetos a médio e
longo prazos.
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As principais formas de recebimento do plano de previdência são: paga-


mento único (recebe o montante em uma só vez); renda por prazo certo (você
determina por quantos anos receberá mensalmente o montante acumulado) e
renda vitalícia (renda mensal pelo resto da vida).
O Exemplo 4, a seguir, traz uma demonstração do recebimento de uma
previdência privada com pagamento único após determinado tempo.

Exemplo 4
Antônio deseja ter um futuro com tranquilidade, então resolveu adquirir um plano de
previdência privada em uma instituição financeira. Ele tem 40 anos, e o valor mensal
que conseguirá guardar é de R$ 180,00. Antônio depositará imediatamente esse valor, e,
durante todos os meses até completar 70 anos, o banco irá lhe assegurar um rendimento
de 1% ao mês. Em 30 anos, quanto Antônio terá para resgatar e viver com tranquilidade?
Transforme:
n = 30 anos = 360 meses
i = 1% a.m. = 0,01 a.m.

Para realizar esse cálculo na calculadora financeira HP 12c, siga os seguintes passos:
 f REG (limpa todos os registros);
 g BEG (estabelece o sistema antecipado);
 180 CHS PMT (introduz, como sinal trocado, o valor da prestação);
 360 n (introduz o número total de prestações);
 1 i (introduz a taxa de juros);
 FV (calcula o valor final).

3 Séries diferidas e intermediárias


A carência indica que o pagamento das parcelas iniciará após o término do
primeiro período, conforme a Figura 4.
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Figura 4. Fluxo de caixa: diferido.

Na Figura 4, a série inicia-se no período imediatamente após o fim do


terceiro intervalo de tempo, indicando, consequentemente, uma carência de
três períodos. Se a série iniciar no momento dois do gráfico, a carência atinge
um período; no momento três do gráfico, a carência atinge dois períodos;
no momento quatro do gráfico, a carência atinge três períodos, e assim
sucessivamente, pois o primeiro período não é considerado carência, e sim
modelo-padrão, com o primeiro pagamento após o primeiro período.
De acordo com Assaf Neto (2012), a base de comparação para se definir
uma carência é o fim do primeiro período. Para a matemática financeira, a
carência existe quando se verifica o primeiro fluxo de caixa após o fim do
primeiro período, ou seja, após ter decorrido “c” períodos de tempo.
A fórmula para o cálculo da prestação de uma anuidade diferida é a seguinte:

Para calcular o valor presente de uma anuidade diferida, pode-se usar a


mesma fórmula, onde:
PMT = prestação;
PV = preço à vista ou valor financiado;
c = tempo de carência;
i = taxa unitária;
n = tempo ou quantidade de prestações.
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O Exemplo 5, a seguir, traz a demonstração de um empréstimo realizado


com carência.

Exemplo 5
Uma financeira emprestou a quantia de R$ 57.700,00, pelo prazo de um ano, para
recebimento em 8 prestações mensais, iguais e consecutivas, sendo que a primeira
deverá vencer no final do quinto mês e a taxa cobrada é de 4,5% ao mês. Determine
o valor das prestações:

Para realizar esse cálculo na calculadora financeira HP 12c, siga os seguintes passos:
 f REG (limpa todos os registros);
 57.700 CHS PV (introduz o valor presente);
 4 n (introduz a carência);
 4,5 i (Introduz a taxa de juros);
 0 PMT (introduz a prestação nula);
 pressione FV;
 pressione CHS PV;
 8 n (introduz o número de prestações);
 0 FV (zera o FV);
 PMT (determina a prestação).

Nas séries de pagamentos antecipadas, postecipadas ou diferidas, podem


ocorrem pagamentos ou recebimentos intermediários, ou seja, entre as parcelas,
como evidencia o Exemplo 6.
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Exemplo 6
Um terreno é vendido a prazo em 60 prestações mensais iguais de R$ 5.500,00, com
vencimento da primeira prestação 3 meses após a compra, e mais 5 intermediárias
no final de cada ano, no valor de R$ 35.000,00 cada, com uma taxa de juros de 25%
ao ano (1,88% a.m.). Qual é o preço à vista do terreno?
Primeiramente, é preciso fazer o cálculo do valor presente das prestações mensais:

Agora, faça o cálculo do valor presente das parcelas anuais intermediárias:

Logo, somando-se os dois valores, é possível concluir que o valor à vista desse
terreno seria R$ 283.789,12.

Como visto, existem diversas situações financeiras para investimentos,


aplicações, pagamentos, empréstimos e recebimentos, logo, é preciso conhecer
os processos que estão inseridos em cada situação. Na matemática financeira,
pode-se encontrar diversos procedimentos para auxiliar na decisão de qual a
melhor alternativa, e todos esses passos requerem uma sequência de aplicação
de fórmulas matemáticas e o uso de calculadoras financeiras.
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ASSAF NETO, A. Matemática financeira e suas aplicações. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
BRASILPREV. Previdência privada. São Paulo: BrasilPrev, [2020]. Disponível em: https://
www1.brasilprev.com.br/previdencia-privada.html. Acesso em: 16 jan. 2020.
CASTANHEIRA, N. P.; MACEDO, L. R. D. Matemática financeira aplicada. 3. ed. Curitiba:
Ibpex, 2010.
VERAS, L. L. Matemática financeira. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

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