Centro de Artes Reitora Violeta Arraes de Alencar Gervaiseau
Curso de Licenciatura em Artes Visuais
Turma: 2016.1/ período: 2019.1 / ano: 2019/ Disciplina: Teoria da Arte
Professor: Mateus Sarmento Nome: Jheine Alves de Moura
Resenha do texto "Teorias da Arte" Parte 2 de Anne Cauquelin
A partir da segunda parte do livro intitulado teorizações secundárias, Anne
Cauquelin logo de início explica que o termo secundário não é em nenhum momento colocado num sentido de menor importância, muito pelo contrário. É preciso tomar secundário como aquilo que intervém posteriormente, aquilo que caminha lado a lado com a obra. As teorizações secundárias podem ser reagrupadas em dois eixos. Um questiona o sentido das obras e do trabalho artístico, sentido esse, semelhante à linguagem. O segundo eixo refere-se à organização dos signos por meio dos quais a obra se manifesta. Essas teorizações muitas vezes se utilizam entre si, sem que isso negligencie seus conceitos. Enquanto a pesquisa de sentido adota tanto a semiologia quanto os elementos da psicanálise, a história da arte está comprometida com as duas. A hermenêutica que anteriormente surge como uma ciência para auxiliar na interpretação de textos sagrados, logo após sua libertação, passa a ser a arte de interpretar obras, sendo ela agora um "método geral" de interpretação, a mesma é adotada sempre que uma leitura ou decifração parecer complicada. Através da hermenêutica, é possível exibir os possíveis sentidos das obras. Desse modo, pretende- se que ela haja como uma mediadora entre a obra e o público. O sentido referido não é uma questão de compreensão abrangida, mas sim, a apreensão de uma unidade entre intenção e resultado. A hermenêutica passa a englobar a experiência estética e encontra legitimidade na experiência de constituição de sentido. Utilizando de uma metáfora, Cauquelin levanta questões como: "não existe obra em si" e " o sujeito não é o artista apenas" mas a própria obra. Esse mundo que nasce com a obra no jogo da arte é linguagem; a interpretação é palavra, diálogo, entendimento com a obra. A obra como linguagem, nessa visão hermenêutica nunca é fechada, está por terminar permanentemente na linguagem, sendo que a própria linguagem ancora-se na obra. No campo fenomenológico pretende-se fazê-las vir ao mundo pela linguagem num processo de "ir às coisas em si". A hermenêutica e a fenomenologia ajustam e acionam os conceitos que encontramos na teoria da fundação, tornando explícitos numa linguagem contemporânea. Contudo, a hermenêutica estende-se para além dos estilos de filosofias abordadas, fazendo uso da psicanálise e história da arte. Com a psicanálise, a obra é tomada como um objeto de análise. Para o analista, esse processo não se limita à compreensão do leitor ou espectador, mas abrange até a fonte, para compreender o que levou a produção da obra e é esse processo de produção que interessa ao analista. O método histórico tomado com rigor, ocupa-se apenas, em princípio, em acumular materiais para uma interpretação racional. Ela trabalha após a obra empenhando-se em contextualizá-la. A contribuição histórica consiste em compreender a complexidade do que está presente diante de nós, a re- situar a obra, a reconstruir uma parte dos elementos que serviram para sua elaboração. Nas práticas teorizadas, obras e discursos são produzidas quase que simultaneamente, essas teorizações se apresentam sob duas formas: Uma é a crítica de arte, que se refere a uma obra em particular, às obras de uma artista ou ainda a todo um movimento artístico, que nesse caso encontra-se concluída, ou seja, a análise é a partir do resultado ( análise externa). A outra teorização é uma prática interna, levando em conta o processo de produção onde não se separa a ação dos artistas, suas notas, escritos, etc. Essa disposição permite distinguir o que remete aos esteticistas, aos especialistas em uma disciplina específica. Nesse caso, pessoas do ramo. Quanto à crítica de arte, essa por sua vez sempre teve um papel definidor, atribuindo/negando valores (status), engajamento. Cauquelin apresenta nesse ponto o papel da crítica de arte, dado determinado momento onde tratava-se unicamente das cores, movimentos e harmonia do quadro, à descrição que dará lugar a biografia do artista, à classificação de suas obras,etc. Seguindo para arte tecnológica contemporânea, que segundo Cauquelin, é onde o crítico de arte fracassa. Porque para textualizá-la, ele faz dela uma prática, assumindo ou imitando a técnica do artista. Mas estes objetos artísticos produzidos pelas novas tecnologias são impenetráveis à crítica na medida que obedecem a regras de produção ainda desprovidas de valor legal até o momento na esfera da arte. Nesse ponto, refere-se aos critérios levantados por esteticistas e críticos, ou o que se pode dizer "fórmulas prontas", a questão é que os instrumentos de avaliação e a linguagem utilizada não dão conta de tudo isso. Visto que se tratando de processos oriundos de cálculos, a crítica deveria não avaliar as imagens, mas os algoritmos que a produziram e que são seus verdadeiros autores. Não se trata apenas de compreender ela mesma e o manuseio das máquinas. Mas também outras tarefas, que antes como exemplo, tinha acesso a um catálogo preparado resumindo vida/obra do artista, e que agora passa a ser levada em conta a equipe responsável, as escolhas do artista dão lugar ao projeto, etc. A nova crítica está , então por vir e deverá descobrir seu caminho entre uma informação precisa e uma apreciação submetida a critérios que terão de ser elaborados teoricamente para serem verdadeiramente pertinentes. Com o surgimento da estética como disciplina, o exercício e ofício de crítico se faz presente. Os primeiros passos na via crítica moderna estão ainda ligados à literatura. Atribuindo-se esse surgimento da crítica moderna a Denis Diderot, um filósofo e escritor francês. Sabe-se que para os filósofos iluministas, todo espetáculo é em si perigoso. No caso de Diderot, as obras precisam serem devidamente esclarecidas e endereçadas ao público. Entre o ver e o viver, a relação deve ser equilibrada. Essa relação é aquilo que dá conta do elo da prática com a teoria, do momento presente experimentado em suas sensações, com sua reflexão no pensamento. Toda crítica deve ser descrição, mas descrição moralizada, ou seja, teorizada. o modelo Diderot, instaurado, não sofrerá grandes alterações mesmo que os paradoxos não sejam os mesmos, ele continua a desempenhar o seu papel mantendo o balanço exato entre subjetividade e objetividade. sobretudo, o espaço do crítico foi ocupado cada vez mais pelos romancistas e jornalistas. São eles que aparecem na mídia de modo a intermediar entre artista e público. Desse modo, o modelo Diderot passa a se inutilizável diante da arte contemporânea, pois, o crítico não pode manter a posição paradoxal, metade descritivo e racional, metade sentimental e apreciativo. Com o surgimento de outro modelo de crítica, Clement Greenberg, considerado por alguns, como o maior crítico do século XX. Greenberg apregoa a especificidade de cada arte: a arte geral deve ser vanguardista, trata-se de uma qualidade geral de toda arte que está de acordo consigo mesma, que reconhece e aprofunda sua relação com sua especificidade. Os dois modelos, o de Diderot e o de Greenberg, embora continuem de fato a trabalhar como modelos dentro do imaginário crítico, são contudo mal adaptados às exigências de uma crítica contemporânea, que fale de uma arte contemporânea em processo de se fazer. Repetir essa dominação passa a ser improvável diante do número, da diversidade e da hibridação das práticas atuais. Quando se trata de aspecto teórico, é necessário levar em conta a doxa afim de repensá-la. Doxa, que até então seria o nome dado a um conhecimento de primeiro grau. É para filosofia clássica, o último grau do “ouvi dizer”. A doxa é concebida apenas dentro da comunidade urbana, e esta nasce com a polis. Ela se faz necessária nesse caso, justamente porque as cidades necessitam de diversidade de ofício e de saberes. O saber dóxico pode mudar ao longo do tempo, mas ainda assim um é muito útil à cidade.
BIBLIOGRAFIA
CAUQUELIN, Anne. Teorias da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2005. 177 p.