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TRÂNSITO RELIGIOSO:
UM ESTUDO DE CASO EM UMA IGREJA PENTECOSTAL DE GOIÂNIA, GOIÁS
Goiânia
2016
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Figura 4: Culto Dominical na Igreja Pentecostal Ministério Luz Para os Povos da Vila
União
Fonte: Igreja pentecostal Ministério Luz Para os Povos da Vila União – Culto Dominical em 24/01/16
Destaca, ainda, que mais recentemente, no final dos anos 2000, é que
aconteceu um retorno à cooperação mútua com a Igreja da Paz. Um exemplo disso
é a estratégia de discipulado um a um, que tem sido usada como referência nos
últimos anos pelo Ministério Luz Para os Povos da Vila União com bons resultados.
No ano 2000, o Ministério Luz Para os Povos da Vila União uniu-se à Igreja
Batista Independente da Vila União, cujo prédio era vizinho de muros. Esta Igreja
Batista, dirigida à época pelo Pr. Valtuir Martins Ferreira, passava por dificuldades
financeiras e administrativas, além de sofrer com a perda de muitos membros.
Ferreira explica que em acordo verbal, decidiu-se pela fusão. Como a Luz Para os
Povos era maior, assumiu a liderança. O Pr. Valtuir assumiu a função de pastor
auxiliar (ver boletim informativo produzido à época no Anexo I). Na fusão, vieram
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Neste último trecho da entrevista com o Bpo. Ferreira, nota-se, assim como
praticado na igreja sede, o compartilhamento das lideranças entre casais.
Concomitantemente à organização em redes, existem os departamentos da
igreja, também referidos no âmbito da igreja como ministérios, Ferreira informa:
fundação vinha trabalhando com visitação às casas do bairro onde a igreja estava
instalada, momento em que apresentava sua proposta de evangelização e iniciava o
processo de conquista de membros. Para dar continuidade a este processo, valeu-
se da prática de “grupos familiares”.
Sobre grupos familiares, Andrade (2010, p. 57) explica:
discipulado. Além disso, complementa Farias: “Essa cobrança fez com que, ao
mesmo tempo, ganhássemos muita gente, mas perdêssemos muita gente também.
Gente que se sentia oprimida com essa responsabilidade”. Outro problema,
conforme Farias, era o seguinte:
Porque uma pessoa imatura, ela também pode discipular, o problema é que
gera outra pessoa imatura igual a ela. Com o passar do tempo aquilo vai dar
problema. [...] as pessoas erram, mas existem algumas pessoas que não
conseguem conviver com isso, ou seja, as pessoas se decepcionam umas
com as outras [...] elas se decepcionam com você e resolvem sair da igreja. O
discipulado é a espinha dorsal do processo (José de Farias, entrevista
concedida a Jesus, 15/01/16).
O que existe hoje é mais ou menos 20% de pessoas que migram de igreja
para igreja o tempo todo. Elas procuram igrejas como se procura um
supermercado, onde vende a melhor mercadoria, ou mais barata.
Infelizmente isso acontece, mas existe também um grupo fiel, que cria raízes.
Eu digo que existem crentes ‘pé de alface’ e crentes ‘cedro do líbano’. Você
não arranca um cedro do líbano, mas um crente pé de alface, arranca-se com
maior facilidade e planta-se em outro lugar. Existem também os crentes
‘beija-flor’, que bicam aqui e acolá, tirando o mel de cada flor. Existem,
também, os crentes cometa, que de vez em quando aparecem. Esses 20%
que migram frequentemente nunca se fixam em lugar nenhum. Você não
pode contar com eles e eles nunca vão produzir resultados consistentes.
(Sinomar Fernandes da Silveira, entrevista concedida a Jesus, 16/01/16).
Trata-se de uma estratégia que me foi dada por Deus em 1978 [daí o nome do
projeto] e implica em cada membro envolvido ganhar quatro pessoas por ano.
Essas pessoas teriam uma carreira ministerial. Elas se convertem, vão para o
encontro com Deus, batizam, passam por treinamentos durante um ano. Após
este ano a pessoa estará apta a se reproduzir, ganhando também 4, e aqueles
4 se transformam em 16, os 16 em 64 e os 64 em 1024. É visão exponencial
(Sinomar Fernandes da Silveira, entrevista concedida a Jesus, 16/01/16).
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Você vai gastar de 80 a 100 mil de despesa. Tem que mexer com pessoal
qualificado. O equipamento é caro, então administrar isso é muito difícil.
Tenho colegas que se meteram nessa área e se arrependeram. É melhor
você locar 2 horas numa rádio ou televisão, fazer uma boa programação, do
que ter uma emissora em suas mãos (Sinomar Fernandes da Silveira,
entrevista concedida a Jesus, 16/01/16).
Sobre esta questão, também ouviu-se duas lideranças da igreja local, Ávila e
Rosa. Para ambos, “por ser celular, na Luz Para os Povos há muito rodízio de
pessoas” (Ávila e Rosa, entrevista concedida a Jesus, 04/01/16).
Quanto aos principais motivos que levam as pessoas tanto a abandonarem
suas religiões, cultos ou igrejas, como a procurarem novas igrejas, Ferreira
considera que isso acontece a partir “expectativas não supridas”. Ferreira explica:
Não investimos em mídia de massa e procuramos atrair aqueles que não são
evangélicos. Abominamos atrair pessoas de outras igrejas evangélicas. Vejo
que atualmente a mídia é muito mal usada, pois acaba atingindo membros de
outras igrejas evangélicas. Esse não deveria ser o foco. Existe uma
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orientação para que se busque ganhar almas junto a outras religiões, e não
“pescar no aquário” das outras igrejas evangélicas (Gilmar Martins Ferreira,
entrevista concedida a Jesus, 21/11/15).
Os primeiros dois, três anos quando chegou o G12 foi muito bom. Depois o
sistema não funcionou adequadamente e ficamos perdidos. Durante um
tempo que algumas igrejas começaram a procurar alternativas e nós
começamos a nos reaproximar da Igreja da Paz no fim dos anos 2000 e
começamos a aprender com eles. Atualmente, nosso Apóstolo montou um
sistema muito parecido (Gilmar Martins Ferreira, entrevista concedida a
Jesus, 21/11/15).
Para o líder de redes Ávila, com o intuito de se trazer de volta pessoas que se
afastam da igreja, “faz-se visitas e busca-se a identificação dos motivos” (Ávila,
entrevista concedida a Jesus, 04/01/16). Sobre esta questão, a líder de redes Rosa,
entende que é essencial “pedir perdão” para que o membro afastado volte. Tanto
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Ávila como Rosa afirmam que, em alguns casos, com estes procedimentos, os
membros voltam a frequentar a igreja.
No que tange à importância da estrutura física para atração e manutenção de
membros, o Bpo. Ferreira não crê que numa influência relevante:
Ainda sobre a questão da estrutura física, Ávila entende que uma boa
estrutura “ajuda na atração de pessoas nas igrejas dedicadas a campanhas, o que
não é o caso da Luz Para os Povos” (Ávila, entrevista concedida a Jesus, 04/01/16).
Sobre campanhas, afirma com veemência: “campanhas atraem muita gente, mas
não as mantém. Penso que a igreja não deve ficar de campanha em campanha, pois
isso não edifica o crente” (Ávila, entrevista concedida a Jesus, 04/01/16).
Para a líder de redes Rosa, por sua vez, a estrutura física é importante, mas
não é primordial. “Um bom ambiente dá uma boa primeira impressão. Na verdade
[quando deixa a desejar] pode servir de pretexto para a pessoa sair” (Rosa,
entrevista concedida a Jesus, 04/01/16).
Até este ponto, foram apresentadas as informações levantadas junto às
lideranças entrevistadas. Parece importante uma análise crítica das mesmas e um
cruzamento de informações com vistas a enriquecer a análise geral do fenômeno do
trânsito religioso. Porém, antes de se analisar as percepções das lideranças, serão
apresentadas, a seguir, observações acerca da aplicação da abordagem
empresarial que ficou evidenciada, tanto na opinião das lideranças como na
caracterização da instituição religiosa.