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Universidade Federal de Alagoas – UFAL

Centro de Tecnologia – CTEC


Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – PPGEC

Disciplina: Métodos dos Elementos Finitos (EES113)


Professor: David Leonardo Nascimento De Figueiredo Amorim
Período Letivo: 2021.1

Trabalho Final
Data de Recolhimento: 24/08/2021

Discente: Gilberto Lucas Leandro dos Santos


Matrícula: 2021106337

Maceió, agosto de 2021


Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Implementação de um programa de elementos finito.


Neste caso, o relatório deve conter dedução do elemento finito denominado CSR
(quadrilátero com 4 nós) e exemplos resolvidos com o elemento finito programado. Obs.:
a) deve-se anexar o programa desenvolvido; b) a linguagem de programação fica a critério
do aluno; c) os arquivos de entrada das simulações também devem ser anexados na
entrega.

Foi adotada a linguagem de programação Python para analisar vigas engastadas em uma
das pontas sob carregamento de forças distribuídas em sua aresta superior.

A primeira parte do relatório apresenta a dedução do elemento finito CSR (quadrilátero


com 4 nós), no Abaqus® é denominado de CPS4 para estado plano de tensão e CPE4 para
estado plano de deformação.

A segunda parte apresenta o problema em questão, sua solução via método dos elementos
finitos e a interpretação dos resultados. Na última parte é apresentado um tutorial de como
usar o programa desenvolvido pelo autor.

Segue em anexo:

Pasta solve_beam com o código implementado (TUTORIAL NA SEÇÃO 6)


Pasta abaqus_models com os arquivos:
• viga_fish_2000.cae (modelo para verificação dos resultados)
• PLACA_1X1.odb e PLACA_1X1.out (resultados com a malha 1x1)
• PLACA_2X2.odb e PLACA_2X2.out (resultados com a malha 2x2)
• PLACA_4X4.odb e PLACA_4X4.out (resultados com a malha 4x4)
• PLACA_8X8.odb e PLACA_8X8.out (resultados com a malha 8x8)
• results.xlsx (arquivo com a comparação dos resultados)

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

1. Dedução do elemento isoparamétrico quadrilateral de 4 nós

O objetivo é definir as funções de forma (𝑁 𝑒 ) e também as derivadas das funções de


forma (𝐵 𝑒 ) para o elemento isoparamétrico mostrado na Figura 1.1.

Figura 1.1 – Mapeamento elemento Isoparamétrico

Fonte: Fish (2000)

Os quatro vértices possuem coordenadas:

(𝜉1 , 𝜂1 ) = (−1, −1)


(𝜉2 , 𝜂2 ) = (1, −1)
(𝜉3 , 𝜂3 ) = (1,1)
(𝜉4 , 𝜂4 ) = (−1,1)

A solução tentativa é:

𝑥 𝑒 (𝜉, 𝜂) = 𝛼1𝑒 + 𝛼2𝑒 𝜉 + 𝛼3𝑒 𝜂 + 𝛼4𝑒 𝜉𝜂


{
𝑦 𝑒 (𝜉, 𝜂) = 𝛼5𝑒 + 𝛼6𝑒 𝜉 + 𝛼7𝑒 𝜂 + 𝛼8𝑒 𝜉𝜂

Podemos escrever em forma matricial:

𝛼1𝑒
𝛼2𝑒
𝛼3𝑒
𝑥 𝑒 (𝜉, 𝜂) 1 𝜉 𝜂 𝜉𝜂 0 0 0 0 𝛼𝑒
[ 𝑒 ]=[ ] . 4𝑒
⏟𝑦 (𝜉, 𝜂) ⏟0 0 0 0 1 𝜉 𝜂 𝜉𝜂 𝛼5
𝜃𝑒 (𝜉,𝜂) 𝑝(𝜉,𝜂) 𝛼6𝑒
𝛼7𝑒
𝛼8𝑒 ]
[⏟
𝛼𝑒
𝜃 𝑒 (𝜉, 𝜂) = 𝑝(𝜉, 𝜂)𝛼 𝑒

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Expressando os valores nodais em termos dos parâmetros 𝛼 𝑒 :

𝑥1𝑒 (𝜉1 , 𝜂1 ) = 𝛼1𝑒 − 𝛼2𝑒 − 𝛼3𝑒 𝜂 + 𝛼4𝑒 = 𝑥1𝑒


𝑦1𝑒 (𝜉1 , 𝜂1 ) = 𝛼5𝑒 − 𝛼6𝑒 − 𝛼7𝑒 𝜂 + 𝛼8𝑒 = 𝑦1𝑒
𝑥2𝑒 (𝜉2 , 𝜂2 ) = 𝛼1𝑒 + 𝛼2𝑒 − 𝛼3𝑒 𝜂 − 𝛼4𝑒 = 𝑥2𝑒
𝑦2𝑒 (𝜉2 , 𝜂2 ) = 𝛼5𝑒 + 𝛼6𝑒 − 𝛼7𝑒 𝜂 − 𝛼8𝑒 = 𝑦2𝑒
𝑥3𝑒 (𝜉3 , 𝜂3 ) = 𝛼1𝑒 + 𝛼2𝑒 + 𝛼3𝑒 𝜂 + 𝛼4𝑒 = 𝑥3𝑒
𝑦3𝑒 (𝜉3 , 𝜂3 ) = 𝛼5𝑒 + 𝛼6𝑒 + 𝛼7𝑒 𝜂 + 𝛼8𝑒 = 𝑦3𝑒
𝑥4𝑒 (𝜉4 , 𝜂4 ) = 𝛼1𝑒 − 𝛼2𝑒 + 𝛼3𝑒 𝜂 − 𝛼4𝑒 = 𝑥4𝑒
𝑦4𝑒 (𝜉4 , 𝜂4 ) = 𝛼5𝑒 − 𝛼6𝑒 + 𝛼7𝑒 𝜂 − 𝛼8𝑒 = 𝑦4𝑒

Na forma matricial:

𝑥1𝑒 1 −1 −1 1 0 0 0 0 𝛼1𝑒
𝑦1𝑒 0 0 0 0 1 −1 −1 1 𝛼2𝑒
𝑥2𝑒 1 1 −1 −1 0 0 0 0 𝛼3𝑒
𝑦2𝑒 0 0 0 0 1 1 −1 −1 𝛼4
𝑒
𝑒 = . 𝑒
𝑥3 1 1 1 1 0 0 0 0 𝛼5
𝑒
𝑦3 0 0 0 0 1 1 1 1 𝛼6𝑒
𝑥4𝑒 1 −1 1 −1 0 0 0 0 𝛼7𝑒
[⏟ 𝑒
𝑦4 ] [
⏟ 0 0 0 0 1 −1 1 −1] [⏟
𝛼8𝑒 ]
𝑒 𝑀
𝑑𝑒 𝛼𝑒

𝑑𝑒 = 𝑀𝑒 𝛼 𝑒 ⇒ 𝛼 𝑒 = (𝑀𝑒 )−1 𝑑 𝑒

Lembrando que:
𝜃 𝑒 (𝜉, 𝜂) = 𝑝(𝜉, 𝜂)𝛼 𝑒

Podemos escrever:

𝜃 𝑒 (𝜉, 𝜂) = ⏟
𝑝(𝜉, 𝜂)(𝑀𝑒 )−1 𝑑 𝑒 = 𝑁 𝑒 (𝜉, 𝜂)𝑑 𝑒
𝑁 𝑒 (𝜉,𝜂)

Na forma matricial:

𝑁1𝑒 (𝜉, 𝜂) 0 𝑁2𝑒 (𝜉, 𝜂) 0 𝑁3𝑒 (𝜉, 𝜂) 0 𝑁4𝑒 (𝜉, 𝜂) 0


𝑁 𝑒 (𝜉, 𝜂) = [ ]
0 𝑁1𝑒 (𝜉, 𝜂) 0 𝑁2𝑒 (𝜉, 𝜂) 0 𝑁3𝑒 (𝜉, 𝜂) 0 𝑁4𝑒 (𝜉, 𝜂)

Portanto:
4

∑ 𝑁𝑖𝑒 (𝜉, 𝜂)𝑥𝑖


𝑥 𝑒 (𝜉, 𝜂) 𝑖=1
𝜃 𝑒 (𝜉, 𝜂) = [ 𝑒 ]= 4
𝑦 (𝜉, 𝜂)
∑ 𝑁𝑖𝑒 (𝜉, 𝜂)𝑦𝑖
[ 𝑖=1 ]

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Para obter as derivadas das funções de forma:

∇𝜃 𝑒 = 𝐵 𝑒 𝑑 𝑒

𝜕𝑁1𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑁2𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑁3𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑁4𝑒 (𝑥, 𝑦)


𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥 𝜕𝑥
𝐵 𝑒 = ∇𝑁 𝑒 (𝑥, 𝑦) =
𝜕𝑁1𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑁2𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑁3𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑁4𝑒 (𝑥, 𝑦)
[ 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑦 ]

Para obter em função de 𝜉 e 𝜂, usamos a regra da cadeia:

𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝜉, 𝜂) 𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑥 𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑦


= +
𝜕𝜉 𝜕𝑥 𝜕𝜉 𝜕𝑦 𝜕𝜉
𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝜉, 𝜂) 𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑥 𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑦
= +
𝜕𝜂 𝜕𝑥 𝜕𝜂 𝜕𝑦 𝜕𝜂

Na forma matricial:

𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝜉, 𝜂) 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝑥, 𝑦)


𝜕𝜉 𝜕𝜉 𝜕𝜉 𝜕𝑥
𝑒 = . 𝑒
𝜕𝑁𝑖 (𝜉, 𝜂) 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑁𝑖 (𝑥, 𝑦)
[ 𝜕𝜂 ] ⏟[𝜕𝜂 𝜕𝜂] [ 𝜕𝑦 ]
𝐽𝑒

𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝜉, 𝜂) 𝜕


𝜕𝑥 𝑒 )−1 𝜕𝜉 𝑒 )−1 𝜕𝜉 𝑁𝑖𝑒 (𝜉, 𝜂)
= (𝐽 = (𝐽 .[ 𝑒 ]
𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝑥, 𝑦) 𝜕𝑁𝑖𝑒 (𝜉, 𝜂) 𝜕 𝑁𝑖 (𝜉, 𝜂)
[ 𝜕𝑦 ] [ 𝜕𝜂 ] [⏟
𝜕𝜂]
𝐺

Onde 𝐺 é o operador gradiente. Portanto a matriz com as derivadas das funções de forma
pode ser expressa como:

𝐵 = ∇𝑁 𝑒 (𝑥, 𝑦) = (𝐽𝑒 )−1 . 𝐺. 𝑁 𝑒 (𝜉, 𝜂)

Por outro lado:


4 4
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕 𝜕
(∑ 𝑁𝑖 (𝜉, 𝜂)𝑥𝑖 ) (∑ 𝑁𝑖 (𝜉, 𝜂)𝑦𝑖 )
𝜕𝜉 𝜕𝜉 𝜕𝜉 𝜕𝜉
𝑖=1 𝑖=1
𝐽𝑒 = = 4 4
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕 𝜕
[𝜕𝜂 𝜕𝜂] (∑ 𝑁𝑖 (𝜉, 𝜂)𝑥𝑖 ) (∑ 𝑁𝑖 (𝜉, 𝜂)𝑦𝑖 )
[𝜕𝜂 𝑖=1
𝜕𝜂
𝑖=1 ]

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Podemos reescrever como:

𝜕𝑁1 𝜕𝑁2 𝜕𝑁3 𝜕𝑁4 𝑥1 𝑦1 𝜕


𝜕𝜉 𝜕𝜉 𝜕𝜉 𝜕𝜉 𝑥2 𝑦2 𝜕𝜉
𝐽𝑒 = . [𝑥 𝑒
𝑦3 ] = 𝜕 . 𝑁 (𝜉, 𝜂). 𝜃
𝑒
𝜕𝑁1 𝜕𝑁2 𝜕𝑁3 𝜕𝑁4 3
[ 𝜕𝜂 𝜕𝜂 𝜕𝜂 𝜕𝜂 ] 4⏟𝑥 𝑦4 [𝜕𝜂]
𝜃𝑒

𝜃 𝑒 é a matriz com as coordenadas físicas.

2. Matriz de rigidez do elemento no sistema local

Sabe-se que o elemento será analisado em estado plano de tensões, ou seja:

𝜎𝑧 = 𝜏𝑦𝑧 = 𝜏𝑥𝑧 = 0

as deformações são dadas por:

𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕𝑢 𝜕𝑣
𝜀𝑥 = ; 𝜀𝑦 = ; 𝛾𝑥𝑦 = 𝛾𝑦𝑥 = + .
𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥

Onde 𝑢 e 𝑣 são os deslocamentos nas direções horizontais e verticais, respectivamente.


O modelo constitutivo elástico linear:

𝐸 𝐸 𝐸
𝜎𝑥 = (𝜀𝑥 + 𝜈𝜀𝑦 ) 𝜎𝑦 = (𝜀 + 𝜈𝜀𝑥 ) 𝜏𝑥𝑦 = 𝛾
1−𝜈 2 1 − 𝜈2 𝑦 2(1 − 𝜈 2 ) 𝑥𝑦

Onde 𝐸 e 𝜈, são, respectivamente, os valores de módulo de elasticidade e coeficiente de


Poison do material. Reescrevendo a equação acima na forma matricial, tem-se:

𝜎𝑥 1 𝜈 0 𝜀𝑥
𝐸 𝜈 1 0
[ 𝜎𝑦 ] = 2
[ 𝜀
(1 − 𝜈)] [ 𝑦 ]
1−𝜈
⏟𝜏𝑥𝑦 0 0 𝛾
⏟𝑥𝑦
𝜎
⏟ 2 𝜀
𝐷

𝜎=𝐷𝜀

𝐷 é denominada de matriz constitutiva. Nesse contexto, a energia de deformação por


unidade de volume (energia específica) é:

1
𝑈0𝑒 = (𝜎𝑥 𝜀𝑥 + 𝜎𝑦 𝜀𝑦 + 𝜏𝑥𝑦 𝛾𝑥𝑦 )
2
1 𝑇 1
𝑈0𝑒 = 𝜀 𝜎 = 𝜀𝑇 𝐷 𝜀
2 2

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

A energia total é calculada integrando a energia específica no volume do domínio do


elemento (Ω), ou seja:

1 𝑇 1
𝑈 𝑒 = ∫ 𝑈0𝑒 𝑑Ω = ∫ 𝜀 𝐷 𝜀𝑑Ω = ∫ 𝜀 𝑇 𝐷 𝜀𝑑Ω
2 2
Ω Ω Ω

Na seção 1, foi desenvolvido que:

𝜃 𝑒 (𝑥, 𝑦) = 𝑁 𝑒 𝑑 𝑒

Sabendo que:

𝜀 = [𝜕]𝜃 𝑒 = [𝜕]𝑁
⏟ 𝑒 𝑑 𝑒 = 𝐵𝑑𝑒
𝐵

Onde [𝜕] é o operador derivada, dado por:

𝜕
0
𝜕𝑥
𝜕
[𝜕] = 0
𝜕𝑦
𝜕 𝜕
[𝜕𝑦 𝜕𝑥]

Substituindo a expressão acima na equação da energia total, temos:

1
𝑈𝑒 = ∫ (𝐵𝑑 𝑒 )𝑇 𝐷 𝐵𝑑 𝑒 𝑑Ω
2
Ω

1
𝑈𝑒 = ∫ (𝑑 𝑒 )𝑇 𝐵 𝑇 𝐷 𝐵𝑑 𝑒 𝑑Ω
2
Ω

Observe que 𝑑𝑒 não depende de 𝑥 ou 𝑦, e adotando um valor constante para a espessura,


os termos (𝑑 𝑒 )𝑇 e 𝑑𝑒 podem sair da integral, que por sua vez será integrada sobre a área
do elemento finito.

1
𝑈 𝑒 = (𝑑𝑒 )𝑇 ∫ 𝐵 𝑇 𝐷 𝐵𝑑𝛺 𝑑 𝑒
2

𝐴
𝐾𝑒

𝐾 𝑒 (𝑥, 𝑦) = ∫ 𝐵 𝑇 (𝑥, 𝑦) 𝐷 𝐵(𝑥, 𝑦)𝑑𝐴


𝐴

Onde 𝐾 𝑒 é a matriz de rigidez do elemento.

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Podemos expressar 𝐾 𝑒 em função de 𝜉 e 𝜂 através de uma mudança de variável.


Considere o elemento infinitesimal de área 𝑑𝑎 definido pelos vetores 𝑎⃗ e 𝑏⃗⃗, conforme
ilustrado na Figura 2.1.

Figura 2.1 – Elemento infinitesimal

𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑥 𝜕𝑦
𝑎⃗ = 𝑑𝜉 ∙ 𝑖⃗ + 𝑑𝜉 ∙ 𝑗⃗ 𝑏⃗⃗ = 𝑑𝜂 ∙ 𝑖⃗ + 𝑑𝜂 ∙ 𝑗⃗
𝜕𝜉 𝜕𝜉 𝜕𝜂 𝜕𝜂

Dessa forma, o diferencial de área pode ser calculado como:

𝑖⃗ 𝑗⃗ ⃗⃗
𝑘
𝜕𝑥
| 𝑑𝜉 𝜕𝑦
𝑑𝜉 0| 𝜕𝑥 𝜕𝑦 𝜕𝑦 𝜕𝑥
𝑑𝐴 = | 𝑎⃗ × 𝑏⃗⃗| = 𝜕𝜉 𝜕𝜉 =( − ) 𝑑𝜉𝑑𝜂
|𝜕𝑥 𝜕𝑦 | ⏟𝜕𝜉 𝜕𝜂 𝜕𝜉 𝜕𝜂
𝑑𝜂 𝑑𝜂 0 𝑑𝑒𝑡(𝐽(𝜉,𝜂))
𝜕𝜂 𝜕𝜂

𝑑𝑒𝑡(𝐽(𝜉, 𝜂)) é o determinante do Jacobiano em função de 𝜉 e 𝜂, portanto:

𝑑𝐴 = |𝐽(𝜉, 𝜂)|𝑑𝜉𝑑𝜂

e a Matriz de rigidez pode ser escrita como:


1 1

𝐾 𝑒 (𝑥, 𝑦) = ∫ ∫ 𝐵 𝑇 (𝜉, 𝜂) 𝐷 𝐵(𝜉, 𝜂)|𝐽(𝜉, 𝜂)|𝑑𝜉𝑑𝜂


−1 −1

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

3. Quadratura de Gauss para calcular numericamente a matriz de rigidez do


elemento

Utilizar uma expressão para o cálculo da matriz de rigidez do elemento que possa ser
calculada numericamente é útil para que o cálculo 𝐾 seja implementado em linguagens
computacionais. Considere o elemento isoparamétrico apresentado na Figura 3.1.
Figura 3.1 – Pontos de Gauss

Os pontos e pesos de Gauss são apresentados na Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Pontos de Gauss

Ponto de Gauss Coordenadas Pesos (𝑤)


1 1
𝑔1 (− ,− ) 1
√3 √3
1 1
𝑔2 ( ,− ) 1
√3 √3
1 1
𝑔3 ( , ) 1
√3 √3
1 1
𝑔4 (− , ) 1
√3 √3

De acordo com a técnica da quadratura de Gauss, a matriz de rigidez é calculada por meio
da expressão:
2 2
𝑒 (𝑥,
𝐾 𝑦) = ∑ ∑ 𝐵𝑇 (𝑥(𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 ), 𝑦(𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 )) 𝐷 𝐵(𝑥(𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 ), 𝑦(𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 ))|𝐽(𝑥(𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 ), 𝑦(𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 ))|𝑤𝜉𝑖 𝑤𝜂𝑗
𝑖=1 𝑗=1

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4. Análise de vigas engastadas sob carregamentos transversais

Neste capítulo o objetivo é calcular os campos de deslocamentos transversais e


longitudinais de vigas engastadas sob carregamentos transversais em sua aresta superior,
conforme o exemplo apresentado na Figura 4.1. A geometria da viga analisada pode ser
alterada, respeitando apenas que as arestas laterais sejam verticais. As arestas superiores
e inferiores podem ser inclinadas.

Figura 4.1 – Exemplo de vigas analisadas

Fonte: Fish (2000)

Nesse sentido, os graus de liberdade no elemento são:

Figura 4.1 – Graus de liberdade do elemento

Pelo PTV (aqui substitui-se o sobrescrito e (elemento) por g (global), pois a estrutura será
analisada em todo seu domínio),

𝐾𝑔 . 𝑢 = 𝐹𝑔

Onde 𝐾 𝑔 é a matriz de rigidez global associada a estrutura e 𝐹 𝑔 é o vetor de forças globais.


O exemplo adotado não considera as forças de campo. Por sua vez, 𝑢 é o vetor de
deslocamentos.

Nas seções anteriores foi apresentada a formulação para montar a matriz de rigidez em
cada elemento. Para encontrar os campos de deslocamentos é necessário montar a matriz
de rigidez global e o vetor de forças globais do sistema. Para o problema em questão é
adotada uma discretização horizontal (𝑑ℎ) e uma vertical (𝑑𝑣). Os índices globais dos
nós são numerados da esquerda para a direita e de baixo para cima. Os índices dos
elementos são determinados da mesma forma, como ilustra a Figura 4.2.

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Figura 4.2 – Exemplo de discretização (2x2)

A Figura 4.2 apresenta um exemplo de discretização 2 x 2. Para outras discretizações o


número de total de elementos, número total de nós e número total de graus de liberdade
da estrutura podem ser calculados pelas expressões.

𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑠 = 𝑑𝑣 ∙ 𝑑ℎ
𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑛ó𝑠 = (𝑑𝑣 + 1) ∙ (𝑑ℎ + 1)
𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑔𝑟𝑎𝑢𝑠 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑏𝑒𝑟𝑑𝑎𝑑𝑒 = (𝑁ú𝑚𝑒𝑟𝑜 𝑑𝑒 𝑛ó𝑠) ∙ 2

O número de equações a serem resolvidas é igual ao número de graus de liberdade. A


partir das conectividades de cada elemento é feita a alocação dos termos da matriz de
rigidez do elemento na matriz de rigidez global.

As forças externas globais são determinadas para grau de liberdade de cada nó. Para o
problema em questão, não existem forças horizontais (pode ser implementado
futuramente). Adicionalmente, as forças são posicionadas na borda superior da viga. De
acordo com Fish (2000), podemos calcular o vetor força nos elementos e a partir das
conectividades alocar os termos do vetor de forças no elemento no vetor de forças globais,
semelhante ao que é realizado na matriz de rigidez global. A Figura 4.3 mostra como o
vetor de forças globais pode ser determinado de forma direta.

Figura 4.3 (a) – Exemplo de aplicação das forças na estrutura

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Figura 4.3 (b) – Exemplo de aplicação das forças na estrutura

A força é dividida de forma igual para todos os elementos da borda superior. Com a
incidência do vetor de forças do sistema local no sistema global os efeitos são
sobrepostos.

Alguns termos do vetor de deslocamentos globais são conhecidos (condições de contorno


do problema), para simular um engaste na borda esquerda da viga, todos os graus de
liberdade associados aos nós desta borda são restringidos. No entanto, é necessário
determinar as forças de reações nesses apoios, conforme ilustra a Figura 4.4.

Figura 4.3 (b) – Exemplo de restrições de deslocamentos

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Neste caso o vetor de deslocamentos e vetor de forças são:

0 𝑟1𝑥
0 𝑟1𝑦
𝑢2 0
𝑣2 0
𝑢3 0
𝑣3 0
0 𝑟4𝑥
0 𝑟4𝑦
𝑢 0
𝑢= 5 𝑒 𝐹𝑔 =
𝑣5 0
𝑢6 0
𝑣6 0
0 𝑟7𝑥
0 𝑟7𝑦 − 10
𝑢8 0
𝑣8 −20
𝑢9 0
[ 𝑣9 ] [ −10 ]

Note que as parte das incógnitas do sistema estão no vetor 𝑢 e outra parte no vetor 𝐹 𝑔 .
Há alguns métodos para calcular todas as incógnitas, como por exemplo o
particionamento do sistema de equações e o método das penalidades. Neste trabalho é
implementado o método das penalidades. O método consiste em zerar toda a linha e
coluna da matriz de rigidez global onde o grau de liberdade restringidos e colocar 1 no
𝑔 𝑔
termo 𝐾𝑖𝑖 . Para o vetor de forças, o termo 𝐹𝑖 é zerado, onde 𝑖 refere-se ao índice do grau
de liberdade restringido.

Dessa forma encontramos os deslocamentos por meio da expressão.

𝑢 = (𝐾 𝑔𝑎 )−1 . 𝐹 𝑔𝑎

Onde 𝐾 𝑔𝑎 e 𝐹 𝑔𝑎 , é a matriz de rigidez e o vetor de forças após a aplicação das


penalidades, respectivamente. Após determinar 𝑢, podemos calcular o vetor de forças 𝐹 𝑔
e encontrar as reações de apoio.

𝐹𝑔 = 𝐾𝑔 . 𝑢

De posse do vetor de deslocamentos 𝑢, podemos observar sua incidência no sistema local


(𝑢𝑒 ) e calcular as deformações e tensões nos pontos de Gauss de qualquer elemento, por
meio das expressões:

𝜀 𝑒 (𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 ) = 𝐵 𝑒 (𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 ). 𝑢𝑒 𝜎 𝑒 (𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 ) = 𝐷𝜀 𝑒 (𝜉𝑖 , 𝜂𝑗 )

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

5. Exemplo para validação da implementação computacional

O exemplo para validação (ver Figura 5.1) é apresentado por Fish (2000), além de
apresentar todos os passos para solução (usando 1 elemento finito), o autor apresenta um
tutorial para modelagem do mesmo exemplo usando o a ferramenta comercial Abaqus®.

Figura 5.1 – Exemplo de validação da implementação

Fonte: Fish (2000)

É considerado um módulo de elasticidade 𝐸 = 30 × 107 𝑃𝑎 e um coeficiente de Poisson


𝜈 = 0.3.

São analisados os deslocamentos no último nó e as tensões no último elemento, (ver


Figura 5.2) para realizar a comparação dos resultados entre o modelo implementado neste
trabalho e o modelo simulado no Abaqus®.

Figura 5.2 – Último nó e último elemento

O problema é simulado com 4 discretizações diferentes, conforme apresenta a


Tabela 5.1.
Tabela 5.1 – Discretizações utilizadas

Malha 𝑑ℎ × 𝑑𝑣 Elementos Nós Equações


1 1×1 1 4 8
2 2×2 4 9 18
3 4×4 16 25 50
4 8×8 64 81 162

Os gráficos da Figura 5.3 apresentam os resultados de deslocamentos horizontais (U1) e


verticais (U2) obtidos com a modelagem proposta neste trabalho e com a modelagem no
Abaqus®. Adicionalmente, os triângulos vermelhos mostram a diferença relativa entre os
resultados para cada malha gerada.

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Figura 5.3 – Comparação com o Abaqus® dos campos de deslocamentos

Para os dois campos de deslocamento os resultados foram semelhantes para todas as


malhas. Com malhas mais refinadas a diferença relativa entre os resultados alcançados
com os simuladores foi diminuindo e tendendo a 0. Com relação as tensões nos pontos de
Gauss no último elemento, houve uma diferença máxima entre os simuladores de
0.00000482% (segue em anexo o arquivo results.xlsx com os resultados).
Adicionalmente, A Figura 5.4 compara o conjunto: malha de elementos finitos
indeformada e deformada entre os dois simuladores. A esquerda temos os resultados
alcançados com o Abaqus®, a direita com o simulador desenvolvido pelo autor.

Figura 5.3 – Comparação com o Abaqus® das malhas indeformadas e deformadas

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

De forma análoga é feita a comparação dos campos de deslocamentos horizontais (U1),


na Figura 5.4 e verticais (U2), na Figura 5.5.

Figura 5.4 – Comparação com o Abaqus® dos campos de deslocamentos horizontais (U1)

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Figura 5.5 – Comparação com o Abaqus® dos campos de deslocamentos verticais (U2)

Portando a implementação deste tipo específico do problema está validada. Com o


objetivo de avaliar a convergência dos resultados são geradas mais duas malhas de
elementos finitos.

Tabela 5.2 – Discretizações utilizadas

Malha 𝑑ℎ × 𝑑𝑣 Elementos Nós Equações


5 16 × 16 256 289 578
6 32 × 32 1024 1089 2178

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Figura 5.5 – Estudo de convergência dos resultados

É observado que pra malha tipo 6 já não há variação dos campos de deslocamento. Como
a discretização do domínio é um fator preponderante no tempo de análise do problema,
uma malha do tipo 6 está suficiente com relação a qualidade dos resultados.

6. Tutorial do programa computacional

O programa (solve_beam) contém 2 pastas:

Pasta Code: Arquivos de Classes para a solução do problema.


Pasta Models: Subpastas com cada modelo. Dentro dessas subpastas há um arquivo .py
com as propriedades do modelo.

Caso o usuário deseje reproduzir outra geometria, é sugerido criar outra geometria é
preciso criar uma pasta (ex: ..solve_beam/Models/NewModel) e dentro dela criar um
novo modelo (ex: model.py).

Antes da utilização do programa é preciso instalar o Python (ver:


https://www.python.org/downloads/) e instalar algumas bibliotecas. Dentro da pasta
solve_beam há um arquivo (Pacotes.bat) que instala as bibliotecas necessárias.

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Para o exemplo mostrado na seção 5, foi criada uma pasta Viga_Fish_2000 dentro da
pasta models.

E dentro da pasta Viga_Fish_2000 há o arquivo com as propriedades do modelo.

Alguns aspectos podem ser alterados pelo usuário para a geração dos gráficos e do
arquivo de resultados. O fator de escala é definido na linha 38 do arquivo: Solve_Beam.py
que está dentro da pasta code.

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

A priori é definido o nome do modelo, pois o arquivo resposta terá o mesmo nome. A
montagem da geometria é feita primeiro definindo os dois pontos base da viga, o ponto 1
deve ser sempre a origem.

Posteriormente são definidas as alturas das arestas esquerda e direita.

São definidas as propriedades do material (elástico linear), pelo modulo de elasticidade e


coeficiente de Poisson. A geometria é discretizada de acordo com o número de elementos
por meio de uma divisão vertical (dv) e uma horizontal (dh) que devem ser sempre
números inteiros positivos.

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

O programa gera automaticamente uma imagem da geometria do problema e da malha de


elementos finitos. O usuário deve marcar como “True” se deseja observar os campos de
deslocamentos horizontais e verticais. Todas essas imagens podem ser salvas caso o
usuário deseje. Por fim, é gerado um arquivo de resultados com os deslocamentos em
todos os nós, tensões e deformações em todos os pontos de Gauss para cada elemento da
malha.

Lembrando que os índices globais dos nós são numerados da esquerda para a direita e de
baixo para cima. Os índices dos elementos são determinados da mesma forma, como
ilustra a Figura 4.2. Os pontos de Gauss são identificados conforme a Figura 3.1.
Para simular o exemplo basta ir na pasta (..solve_beam/Models/ Viga_Fish_2000) e
digitar “cmd” no diretório da pasta.

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

No prompt de comando do Windows é só digitar o nome do arquivo .py (neste caso:


Placa.py)

E são apresentados os gráficos de geometria (há opção de salvar):

Para dar continuidade a execução do programa, basta fechar a tela de apresentação do


gráfico. Após a geometria é ilustrada a malha de elementos finitos:

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Malha de elementos finitos deformados:

Campo de deslocamentos horizontais:

Campo de deslocamentos verticais:

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Métodos dos Elementos Finitos – MEF 2021

Com o fim da execução é gerado o arquivo de resultados e aparece a mensagem no prompt


de comando:

É importante que os nomes das pastas não contenham espaços, pois o Python não encontra
os diretórios.

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Referências
FISH, Jacob; BELYTSCHKO, Ted. Um primeiro curso em elementos finitos. Grupo Gen-LTC,
2000.
Renato Picelli, Notas de aula (Método dos Elementos Finitos), USP, 2020, Disponível em:
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5404755/mod_resource/content/3/aula3_slides1.pdf>
Acesso em: 7 de agosto de 2021.
Serafim, E. S.. Implementação de uma biblioteca informática para diversos tipos de elementos
finitos em 2D e 3D. Santa Catarina, 1998. 97p. Dissertação de Mestrado – Pós-graduação em
Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/xmlui/bitstream/handle/123456789/77748/262782.pdf?sequence
=1&isAllowed=y > Acesso em: 7 de agosto de 2021.

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