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DOUTO JUÍZO DE DIREITO DA 4º VARA CRIMINAL DA COMARCA DE

CAMPO VERDE-MT

PROCESSO Nº. X X X X X X

CARLINO, já qualificado nos autos do processo-crime em


epígrafe, vem, por seu advogado infra-assinado (documento n. 1), à presença de Vossa
Excelência, com fundamento nos artigos 396/406 do Código de Processo Penal, apresentar
RESPOSTA À ACUSAÇÃO, pelos motivos a seguir aduzidos:

I- DOS FATOS

Consta na Exordial Acusatória, que o Imputado, teria invadido a


casa do Sr. Joãozinho situado na zona rural do município de Chapada dos Guimarães, com 20
(vinte) anos à época dos fatos, conforme certidão de nascimento anexa à Exordial (fls. x).
De acordo com o narrado na Inicial, em 28 de janeiro de 2009,
por volta das 14h00min, o Acusado, foi visto pelo vizinho do Querelante que achou estranho a
movimentação na casa e ligou para seu vizinho.

Ao chegar na residência, Joãozinho se deparou com a porta da


sala arrombada, e com a fechadura estraga, e silenciosamente foi adentrando em sua
residência e deparou com Carlino, conhecido pela região por diversos furtos, o Querelado
estava carregando uma televisão de 55″ polegadas e algumas joias de valores de sua esposa.

Com o susto, Carlino saiu correndo e levando consigo a


televisão e algumas joias que havia encontrado no guarda-roupa do casal, entretanto ao chegar
próximo da porteira da chácara foi repreendido por uma equipe da Polícia Militar que havia
sido acionada por Joãozinho.

Consta ainda que, após o flagrante, Calino foi conduzido para a


delegacia de Chapada dos Guimarães sendo feita a ocorrência e sucessivamente encaminhada
para a Promotoria de Justiça na cidade de Chapada dos Guimarães.

II-DO DIREITO

A– DAS PRELIMINARES

1 – DA INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO

Conforme se extrai dos autos, o juízo da Vara Criminal de


Campo Verde-MT recebeu a denúncia do Ministério Público contra Carlino pela prática de
furto qualificado de natureza leve, previsto no art. 155, §4, I, do Código Penal.

No que tange a regra de competência e notório saber que será da


competência do juízo onde o fato foi praticado, como assim, exposto na jurisprudência:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA Nº 1238471-5 DA


COMARCA DE PONTAL DO PARANÁ - VARA
ÚNICA. SUSCITANTE: JUIZ DE DIREITO DA
COMARCA DE PONTAL DO PARANÁ - VARA
ÚNICA SUSCITADO: JUIZ DE DIREITO DA
COMARCA DE MATINHOS - VARA CRIMINAL.
INTERESSADOS: JUSTIÇA PÚBLICA e
ESTEFANO LEGROSKI RELATORA: DESª MARIA
JOSÉ TEIXEIRA.
1. O Juiz de Direito da Comarca de Pontal do Paraná
suscitou conflito negativo de competência em face do
Juiz de Direito da Vara Criminal da Comarca de
Matinhos, nos autos de nº 2007.0000992-5, em que
figuram como réus Estefano Legroski e Jacson
Fernando Rosa como incurso nas sanções do arts. 33 e
35, ambos da Lei nº 11.343/2006, c/c art. 69, do Código
Penal. O magistrado suscitado (Comarca de Matinhos)
declarou a incompetência do juízo para apreciação do
feito, uma vez que houve a criação e a instalação da
Comarca de Pontal do Paraná em data de 18/12/2018,
devendo ser aplicada a regra geral do art. 70, do
Código de Processo Penal, qual seja, a de que a
competência será determinada pelo lugar em que se
consumar a infração (fl. 144). O Juízo de Direito da
Comarca de Pontal do Paraná) aduziu, em resposta,
que a recém-criada comarca não detém competência
superveniente para o julgamento do processo, por
conta do princípio do juiz natural e do instituto da
perpetuatio jurisdicionais, presentes no art. 87, do
Código de Processo Civil. Citou precedentes do
Superior Tribunal de Justiça e deste próprio Tribunal.
Consignou, finalmente, que a remessa desmotivada de
feitos para a Comarca de Pontal do Paraná, com
precária condição de trabalho e quase nenhum efetivo
humano, sobrecarregaria o Poder Judiciário local, não
atingindo o objetivo inicial com a criação da comarca,
e suscitou conflito negativo de competência (fl. 151/151-
verso).
A 5ª Procuradoria de Justiça Criminal manifestou-se
pela procedência do Conflito de Competência, para
que seja declarado competente o Juízo da Vara
Criminal da Comarca de Matinhos (fls.
160/165).RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL
PENAL. PERPETUATIO JURISDICIONIS. ART. 87
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, C.C. O ART.
3.º DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
MODIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIA.
IMPOSSIBILIDADE. 1. A competência é determinada
no momento em que a ação penal é proposta, sendo
irrelevante a posterior criação de vara no local da
infração, que não altere a competência em razão da
matéria ou da hierarquia. Incabível, portanto, o
deslocamento do feito, nos termos do art. 87 do Código
de Processo Civil, c.c. o art. 3.º do Código de Processo
Penal. Precedentes.
2. Recurso provido. (STJ, REsp nº 799604/PB, 5ª
Turma, Rel. Min.ª Laurita Vaz, j. 28/02/2018, Dje
07/04/2018).

No entanto, ficou mais que demonstrado a referida


demanda em comarca diferente, gerando a incompetência, ferindo as garantias constitucionais
do Querelado.

Em suma, entende-se que o acusado apreciara sua


oposição contra o juiz incompetente, conforme as razoes expostas acima.

Por fim, requer que seja acolhida a preliminar da


incompetência de juízo conforme os argumentos aplicados na jurisprudência, e Vossa Exa.
remeta ao juiz competente, conforme está no Art. 567 do Código de Processo Penal.

2 – DA INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO

No caso em tela, a denúncia oferecida em face de Carlino, como


incursos no Art. 155, §4º, I, do Código Penal, pela prática do crime de furto qualificado, cuja
pena é de reclusão de 02 (dois) a 08 (oito) anos.
Mas, o Acusado na época dos fatos tinha 20 (vinte) anos, sendo
assim, o prazo prescricional deve ser reduzido pela metade, nos termos do Art. 115, do
Código Penal. Partindo deste prisma, de acordo o inciso III, do Art.109, do mesmo Codex,
existe a prescrição “se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito”, neste
caso a prescrição ocorreria após 12 (doze) anos da consumação do crime, mas, tendo ele o
benefício legal para redução pela metade do prazo prescricional da pretensão punitiva que no
caso em tela é de 06 (seis) anos.

Em suma, considerando o tempo em que o crime ocorreu até a


denúncia do acusado, já se passaram 12 (doze) anos não restando a extinção da punibilidade.

A prescrição da pretensão punitiva é chamada impropriamente


de prescrição da ação, onde decurso do tempo faz com que o Estado perca o direito de
punir, no tocante à pretensão do Poder Judiciário julgar a lide e aplicar a sanção abstrata.
Pena abstrata é a cominada no preceito secundário da norma incriminadora. Esse tipo de
prescrição ocorre antes da sentença final transitar em julgado e regula-se pela pena privativa
de liberdade cominada para o delito. Com ela, fica extinta a própria pretensão do Estado de
obter uma decisão a respeito do fato apontado como criminoso. Essa espécie de prescrição é
equiparada à declaração da inocência, para efeitos penais. Não implica responsabilidade ou
culpabilidade do agente, não lhe marca os antecedentes, nem gera futura reincidência.

Portanto, a prescrição da pretensão punitiva sempre ocorrerá


antes de transitar em julgado a sentença penal, onde o reconhecimento dessa espécie de
prescrição tem o mesmo efeito de uma sentença absolutória, logo, o réu continuará sendo
considerado primário e de bons antecedentes.

E M E N T A: PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO
PUNITIVA DO ESTADO – INSTITUTO DE DIREITO
MATERIAL – QUESTÃO PRELIMINAR DE MÉRITO –
CONSEQUENTE IMPOSSIBILIDADE DE EXAME DO
PRÓPRIO FUNDO DA CONTROVÉRSIA PENAL –
PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS DE ORDEM JURÍDICA
RESULTANTES DO RECONHECIMENTO DA
PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO
– DOUTRINA – PRECEDENTES (STF) –
JURISPRUDÊNCIA DOS TRIBUNAIS – EXTINÇÃO, NO
CASO, SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO, DO PROCESSO
EM QUE RECONHECIDA A PRESCRIÇÃO PENAL –
RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO . - A extinção da
punibilidade motivada pela ocorrência da prescrição da
pretensão punitiva do Estado prejudica o exame do mérito
da causa penal, pois a prescrição – que constitui instituto de
direito material – qualifica-se como questão preliminar de
mérito. Doutrina. Precedentes. - O reconhecimento da
prescrição da pretensão punitiva do Estado provoca
inúmeras consequências de ordem jurídica, destacando-se,
entre outras , aquelas que importam em: ( a) extinguir a
punibilidade do agente (CP, art. 107, n. IV); ( b) legitimar a
absolvição sumária do imputado (CPP, art. 397, IV); ( c) não
permitir que se formule contra o acusado juízo de desvalor
quanto à sua conduta pessoal e social; ( d) assegurar ao réu a
possibilidade de obtenção de certidão negativa de
antecedentes penais, ressalvadas as exceções legais (LEP,
art. 202; Resolução STF nº 356/2008, v.g.); ( e) obstar o
prosseguimento do processo penal de conhecimento em
razão da perda de seu objeto; ( f) manter íntegro o estado de
primariedade do réu; e ( g) vedar a instauração, contra o acusado,
de novo processo penal pelo mesmo fato. AI 859704 A GR / PR

III – DO MÉRITO

DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE PELA


PRESCRIÇÃO

Punibilidade é a aplicabilidade da pena cominada em


abstrato na norma penal pela prática de um fato definido na lei como crime.
Para Mirabete “a punibilidade é sempre uma consequência
jurídica a partir da verificação da conduta culpável do agente nesta fase o "jus puniendi"
estatal sai do abstrato e se materializa na sanção ou na possibilidade desta”.
No mesmo sentido João José Leal afirma que a “lei penal
incriminadora define uma hipótese que se mantém no plano genérico e abstrato até o agente
infringi-la”.
O Art. 107 enumera 13 causas de extinção: morte do
agente, anistia, graça, indulto, abolitio criminis, prescrição, decadência, perempção, renúncia,
perdão do ofendido, retratação, casamento com a vítima ou terceiros nos casos definidos neste
artigo, perdão judicial.
Apesar da enumeração, não é taxativo, há várias causas de
extinção espalhadas pelas leis e no próprio código. Citando alguns: ressarcimento do dano no
peculato culposo (art.312 § 3); morte do cônjuge ofendido no adultério (art. 240 § 2); na lei
9099/95 os artigos 74 § único; 84 § único; a ausência de representação no 88 e 91; 89 § 5
dentre outros.
A extinção antes de transitar em julgado tem efeitos
absolutórios, assim mesmo o agente não sofrerá qualquer efeito da condenação.
Neste caso em tela o crime ocorreu em 28 de janeiro de
2009 e até a sua denúncia em 04 de junho de 2021, sendo aqui notoriamente observado a
prescrição Vossa Excelência, se passaram mais de 12 anos. É infundada qualquer justificativa
do Ministério Público que por motivos de grande volume deixar passar tal manifestação de
fato.
Isto posto, o entendimento jurisprudencial é no sentido de
que:
“APELAÇÃO CRIMINAL. CONTRAVENÇÃO
PENAL. ART. 50, CAPUT, DO DECRETO-LEI Nº
3.688/41. ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA. INSURGÊNCIA
MINISTERIAL. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
PELA PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
DO ESTADO. Ainda que a recorrida fosse condenada
à pena máxima prevista à contravenção penal pela
qual foi denunciada, a punibilidade estaria extinta,
pela prescrição. Assim, o recurso ministerial, apesar de
tempestivo, não apresenta efeito prático. DE OFÍCIO,
DECLARADA EXTINTA A PUNIBILIDADE PELA
PRESCRIÇÃO. RECURSO PREJUDICADO.
(Apelação Criminal, Nº 70083188516, Quinta Câmara
Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Lizete
Andreis Sebben, Julgado em: 29-11-2019) (TJ-RS -
APR 70083188516 RS, Relator: Lizete Andreis Sebben,
Data do Julgamento: 29/112019, Quinta Câmara
Criminal, Data da Publicação: 16/12/2019)

Dessa maneira, evidencia-se a pretensão punitiva do


acusado, dando-lhe a Absolvição do acusado nos termos do inciso IV, do Art. 397, do Código de
Processo Penal.

III- DOS PEDIDOS

Por todo o exposto requer a anulação do processo, nos termos do


art. 564, I, do Código de Processo Penal.
Subsidiariamente postula-se a absolvição sumária, com
fundamento no artigo 397, III, do Código de Processo Penal.
Por fim, não sendo esse o entendimento de Vossa Excelência,
postula-se:
I – Se houver necessidade de documentos, requerer a juntada.
II – Se houver necessidade de diligências, requerer a realização,
mostrando a necessidade e a importância da diligência para busca da verdade real.
III – Requer a notificação das testemunhas do rol abaixo para
virem depor em juízo, em dia e hora a serem designados, sob as cominações legais.
IV – O acusado pretende provar o alegado por todos os meios de
prova em Direito admitidos, especialmente pelo Boletim de Ocorrência, lavrado no dia da
consumação do fato, depoimento pessoal do Acusado, prova documental, prova pericial,
oitiva das testemunhas e o que mais se fizer necessário.
Nestes Termos,
Pede deferimento.

Cidade, data.

ADVOGADA
OAB

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