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Acordão do Supremo Tribunal Administrativo http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/d856b...

Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo


Acórdãos STA

Processo: 0798/15
Data do Acordão: 10/18/2017
Tribunal: 2 SECÇÃO
Relator: FRANCISCO ROTHES
Descritores: IMPUGNAÇÃO CONTENCIOSA
IMPUGNAÇÃO ADMINISTRATIVA
REMANESCENTE DA TAXA DE JUSTIÇA
Sumário: I - A eventual verificação de vícios na decisão do recurso
hierárquico nunca poderá projectar efeitos invalidantes sobre o
antecedente acto da liquidação.
II - Se tiver já sido interposta impugnação judicial contra a
liquidação, a reclamação graciosa ulteriormente deduzida contra
o mesmo acto não deve ser apreciada pela Administração, mas
antes remetida para apensação à impugnação judicial, em
obediência ao princípio da preferência absoluta dos meios
judiciais de impugnação sobre os meios administrativos e tal
como impõe o n.º 4 do art. 111.º do CPPT.
III - Nos casos em que o valor da causa excede € 275.000,00,
justifica-se a dispensa do remanescente da taxa de justiça devida
em 1.ª instância, quer na totalidade, quer numa fracção ou
percentagem, ao abrigo do disposto no n.º 7 do art. 6.º do RCP,
se a conduta processual das partes não obstar a essa dispensa e
se, não obstante a questão aí decidida não se afigurar de
complexidade inferior à comum, o montante da taxa de justiça
devida se afigurar manifestamente desproporcionado em face do
concreto serviço prestado, pondo em causa a relação
sinalagmática que a taxa pressupõe.
Nº Convencional: JSTA000P22391
Nº do Documento: SA2201710180798
Data de Entrada: 06/25/2015
Recorrente: A....., SGPS, S.A.
Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICA
Votação: UNANIMIDADE
Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Recurso jurisdicional da sentença proferida no processo de


impugnação judicial com o n.º 1368/13.4BELRS
1. RELATÓRIO
1.1 A sociedade denominada “A…….., S.A.” (doravante também
designada por Impugnante ou Recorrente) recorreu para o
Tribunal Central Administrativo Sul da sentença proferida nestes
autos, por que a Juíza do Tribunal Tributário de Lisboa julgou
verificada a litispendência quanto à impugnação judicial da
liquidação de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas
Colectivas (IRC), indeferiu o pedido de convolação da

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impugnação em acção administrativa especial e julgou


improcedente o pedido por ela formulado, de que fossem
apreciados os vícios de forma por ela imputados à decisão do
recurso hierárquico que interpôs da decisão de indeferimento da
reclamação graciosa que deduziu contra aquele acto de
liquidação.
1.2 O recurso foi admitido, para subir imediatamente, nos
próprios autos e com efeito meramente devolutivo e a Recorrente
apresentou as alegações, que sintetizou em conclusões do
seguinte teor:
«A) O presente recurso vem interposto contra a Sentença
proferida, em 20 de Novembro de 2014, no processo de
Impugnação Judicial que correu os seus termos junto da 3.ª
Unidade Orgânica, do Tribunal Tributário de Lisboa, sob o n.º
1368/13.4BELRS, a qual julgou improcedente a pretensão da ora
Recorrente e, bem assim, condenou em custas.
B) A Sentença proferida incorre em erro de julgamento na justa
medida em que, relativamente aos vícios imputados ao despacho
que decidiu o recurso hierárquico não se verifica a excepção de
litispendência.
C) Com efeito, no processo de impugnação judicial n.º
2701/09.5BELRS não se encontra a ser discutida a legalidade da
decisão do recurso hierárquico n.º 3301201210000224 (RHQ
461/12) – facto que decorre, desde logo, da autuação de cada um
dos processos, sendo a impugnação judicial de 2009 e o Recurso
Hierárquico interposto apenas em 2012.
D) Deste modo relativamente a esse concreto pedido de
anulação não se encontram verificados os pressupostos da
litispendência, elencados no artigo 580.º, n.º 1, do Código de
Processo Civil, disposição legal esta violada pela Sentença
recorrida.
E) Não obstante, mesmo que o Tribunal considerasse que o meio
processual utilizado não era apto para a apreciação do pedido
deveria ter sido proferida Sentença nesse sentido, de forma a que
a Recorrente pudesse apresentar nova acção nos termos do
artigo 37.º, n.º 4, do Código de Procedimento e de Processo
Tributário.
F) O Tribunal a quo denegou o pedido de convolação dos autos
em Acção Administrativa Especial invocando falta de interesse na
decisão a proferir dado que a mesma seria inócua na perspectiva
dos efeitos jurídicos.
G) O direito à convolação previsto nos artigos 97.º, n.º 3, da Lei
Geral Tributária e 98.º, n.º 4, do Código de Procedimento e de
Processo Tributário é um corolário do direito de acesso aos
Tribunais previsto no artigo 20.º, da Constituição da República
Portuguesa e visa que o contribuinte não seja prejudicado por ter

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adoptado um meio incorrecto.


H) No caso em apreço estão verificados todos os pressupostos
de que a Lei faz depender a possibilidade de convolação – o
pedido, a causa de pedir e a tempestividade – tendo o Tribunal a
quo violado o disposto nos artigos 52.º, do Código de
Procedimento e de Processo Tributário, 97.º, n.º 3, da Lei Geral
Tributária e 193.º, n.º 3, do CPC.
I) O interesse em agir afere-se pela relação jurídica controvertida
tal como configurada pelo Autor (cfr. Acórdão do STJ de 13 de
Janeiro de 1994, proferido no Recurso n.º 6449/93 e artigo 30.º,
do CPC).
J) Tendo a Recorrente sido notificada de uma decisão que,
ilegalmente (na sua opinião) indefere um pedido formulado em
Recurso Hierárquico é manifesto que, tal como a questão foi
configurada, e independentemente do sentido da decisão, existe
interesse em agir.
K) Com efeito, a Recorrente foi confrontada com um acto de
liquidação em que é feita expressa menção à possibilidade de ser
contestado administrativa ou judicialmente.
L) Nos termos do artigo 60.º, do Código de Procedimento e de
Processo Tributário os actos tributários são definitivos e a
indicação dos meios de defesa vincula a Administração tributária
(cfr. artigos 36.º e 37.º, do Código de Procedimento e de
Processo Tributário).
M) As decisões proferidas em sede de “contencioso
administrativo” não beneficiam de tais efeitos nem das mesmas
decorre caso julgado pelo que, para todos os efeitos legais, se a
Recorrente não contestar judicialmente a decisão do recurso
hierárquico existe um acto de liquidação definitivo que se
consolida na ordem jurídica;
N) Assim, a Recorrente tem interesse na decisão a proferir na
acção administrativa especial, na medida em que da mesma,
quando transitada em julgado, decorrerá caso julgado quanto à
natureza e efeitos da 3.ª liquidação notificada.
O) A acção administrativa especial é o meio adequado para a
apreciação da legalidade do fundamento invocado pela Fazenda
Publica, no âmbito da decisão de indeferimento, na medida em
que se demonstrou contrário à lei.
P) A convolação em acção administrativa especial atende aos
interesses da Recorrente em demandar, pelo que, não podia o
Tribunal a quo ter considerado que a apreciação seria inócua.
Q) O Tribunal a quo fixou o valor da acção em montante distinto
do indicado pela Recorrente;
R) No caso concreto, impunha-se a dispensa de pagamento do
remanescente da taxa de justiça como, aliás, tem entendido a
jurisprudência (cfr. Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo,

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de 26 de Abril de 2012, Processo n.º 0768/11).


S) Com efeito, a criação de situações em que esta taxa pode
atingir uma quantia visivelmente desproporcionada, quer pelas
características do caso concreto, quer por força da inexistência
de um limite máximo de custas judiciais tem sido razão para a
discussão da sua conformidade com a Constituição da República
Portuguesa, na perspectiva do princípio da proporcionalidade e
do direito ao acesso aos tribunais.
T) O Tribunal Constitucional declarou como inconstitucional, por
violação do direito ao acesso aos tribunais, conjugado com o
princípio da proporcionalidade, a interpretação segundo a qual o
montante da taxa de justiça é definido em função do valor da
causa, sem limite máximo ao montante das custas (cfr. Acórdão
proferido no âmbito do processo n.º 227/07).
U) Atentas as características do caso em apreço, que não reveste
especial complexidade, bem pelo contrário, deve pois, a
Sentença proferida ser alterada também na parte relativa à
condenação em custas dispensando-se expressamente o
pagamento do remanescente da taxa de justiça.
Termos em que, e nos mais de direito aplicáveis, sempre com o
douto suprimento de vossas excelências, deve ser concedido
provimento ao presente recurso, devendo a sentença proferida
em 20 de Novembro de 2014 ser anulada com as necessárias
consequências legais, designadamente a remessa dos autos ao
tribunal de 1.ª instância para apreciação do pedido na parte não
afectada pela excepção de litispendência ou para convolação em
acção administrativa especial.
Mais requer a revogação da sentença na parte relativa a custas,
determinando a dispensa de pagamento do remanescente da
taxa de Justiça».
1.3 Não foram apresentadas contra-alegações.
1.4 O Tribunal Central Administrativo Sul declarou-se
incompetente em razão da hierarquia, indicando como tribunal
competente o Supremo Tribunal Administrativo, ao qual os autos
foram remetidos a requerimento da Recorrente.
1.5 Recebidos os autos neste Supremo Tribunal Administrativo,
foi dada vista ao Ministério Público e o Procurador-Geral Adjunto
emitiu parecer no sentido de que seja negado provimento ao
recurso, mas concedida a requerida dispensa do pagamento do
remanescente da taxa de justiça, com a seguinte fundamentação:
«[…]
2. Na sentença recorrida julgou-se verificada a excepção dilatória
de litispendência, que obstava a que o tribunal conhecesse do
mérito da causa, na parte do pedido que contende com a
liquidação e juros compensatórios, por haver identidade de
sujeitos, de fundamentos e de pedido aos apresentados na acção

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n.º 2071/09.5BELRS, que corria termos no mesmo tribunal.


No que respeita ao pedido de anulação do despacho da senhora
subdirectora geral dos impostos de 24/04/2013, considerou o
tribunal não ser possível a convolação em acção administrativa
especial, como sugerido pela impugnante e aqui recorrente, por a
impugnação judicial ser o meio processual próprio para impugnar
o indeferimento do recurso hierárquico. E quanto ao mérito do
pedido, considerou-se o mesmo improcedente, na medida em
que fosse qual fosse a decisão a mesma seria inócua na
produção de efeitos jurídicos na esfera da impugnante, uma vez
que prevalecia sobre os meios administrativos a análise da
legalidade do acto tributário realizada na acção judicial em curso
(proc. n.º 2071/09.5BELRS).
3. A questão que se coloca consiste em saber se a decisão
recorrida ajuizou correctamente ao entender ficar prejudicado o
conhecimento dos vícios formais imputados à decisão do recurso
hierárquico.
Como se alcança da matéria de facto dada como assente na
sentença recorrida, a Recorrente obteve parcialmente vencimento
numa primeira reclamação graciosa apresentada contra o acto de
liquidação de IRC de 2001 e respectivos juros compensatórios,
tendo apresentado impugnação judicial da parte em que a sua
pretensão não foi satisfeita e que deu origem à acção n.º
2071/09.5BELRS. E posteriormente, na sequência de notificação
de um reacerto de juros compensatórios em execução do
deferimento parcial da reclamação, apresentou nova reclamação
graciosa e do indeferimento deste recurso hierárquico, de cujo
indeferimento foi apresentada impugnação judicial.
Como se deixou exarado na sentença recorrida a impugnação
contenciosa dos actos administrativos proferidos em recurso
hierárquico interposto de indeferimento de reclamação graciosa,
tendo por objecto a apreciação da legalidade de actos de
liquidação, é feita através do processo de impugnação judicial,
como resulta do artigo 97.º, n.º 1, alínea p) e n.º 2 “a contrario”,
do CPPT (neste sentido Jorge Lopes de Sousa, in CPPT
Anotado, vol. I págs. 616 e 667/668).
Ora, não havendo dúvidas que o acto de liquidação sindicado
pela Recorrente respeitava à parte do acto tributário que se
mantinha após o deferimento parcial da primeira reclamação
graciosa, que por sua vez fora objecto de impugnação judicial no
processo n.º 2071/09.5BELRS, é manifesto que o mesmo não era
passível de impugnação administrativa. Por um lado porque o
mesmo nada vinha inovar em relação à parte do acto tributário
que não fora revogado pela administração tributária, carecendo
de lesividade própria. E por outro lado porque estando pendente
um meio de impugnação contenciosa tendo por objecto o mesmo

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acto e uma vez que o mesmo prevalece sobre os meios de


impugnação administrativa, não pode simultaneamente correr
termos qualquer meio de impugnação desta última natureza.
Assim a própria AT, aquando da recepção da reclamação
graciosa ou do recurso hierárquico, devia ter-se abstido de se
pronunciar sobre tais meios de impugnação administrativos e
remeter os mesmos para o tribunal a fim de serem juntos à
referida acção n.º 2071/09.5BELRS, como se alcança do disposto
no n.º 4 do artigo 111.º do CPPT – cfr. neste sentido Jorge Lopes
de Sousa, in ob. cit., vol. I, pág. 670.
De modo que, a decisão de indeferimento do recurso hierárquico
não era passível de impugnação contenciosa, como prescreve o
n.º 2 do artigo 76.º do CPPT.
Assente que a acção de impugnação judicial apresentada pela
Recorrente tem por objecto o acto de liquidação de IRC e
respectivos juros compensatórios relativos ao exercício de 2001,
o qual é objecto igualmente da acção n.º 2071/09.5BELRS, é
óbvio que a impugnação judicial não devia ter sido admitida. E
sendo tal situação constatada pelo tribunal após o despacho
liminar, a acção deve ser julgada improcedente, por
inadmissibilidade da mesma.
Em face do exposto, entendemos que o recurso deve ser julgado
improcedente. Já no que respeita à dispensa do pagamento da
taxa de justiça remanescente afigura-se-nos que se mostram
reunidos os respectivos requisitos».
1.6 Colheram-se os vistos dos Conselheiros adjuntos.
1.7 Cumpre apreciar e decidir.
***
2. FUNDAMENTAÇÃO
2.1 DE FACTO
A Juíza do Tribunal Tributário de Lisboa efectuou o julgamento da
matéria de facto nos seguintes termos:
«1. Subsequente à realização de acção inspectiva externa
realizada à impugnante foi efectuada a liquidação adicional de
IRC n.º 20058310120826 acrescida da liquidação dos juros
compensatórios respectivos, no valor total de € 6.147.246,37 –
Acordo;
2. Dessa liquidação deduziu reclamação graciosa que obteve
despacho de deferimento parcial, consubstanciada na liquidação
n.º 20098310018923, no valor de € 4.700.466,44 e juros
compensatórios no valor de € 329,30 – cfr. fls. 97 a 99 do
processo administrativo em apenso aos autos;
3. Em 28/10/2009, relativamente à parte da liquidação indeferida
do IRC/2001, a ora impugnante apresentou impugnação judicial
junto deste Tribunal Tributário de Lisboa a que coube o processo
n.º 2071/09.5BELRS – cfr. proc. impugnação n.º 2071/09.5

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BELRS, disponível no SITAF;


4. A impugnação judicial mencionada no ponto anterior visa
sindicar [a] liquidação de IRC n.º 20098310018923, referente ao
exercício de 2001 e respectivos juros compensatórios e
consequentemente o acerto de demonstração de contas n.º
200500001273659 – cfr. proc. impugnação n.º 2071/09.5 BELRS,
disponível no SITAF;
5. Nessa impugnação com [o] n.º 2071/09.5BELRS a impugnante
apresenta como causa de pedir: i) falta de fundamentação dos
actos de liquidação; ii) a não consideração das menos-valias com
a dissolução e liquidação da A……. Finance; iii) a incorrecta
aplicação do benefício fiscal relativamente ao emprego para
jovens, previsto no art. 17.º do EBF; iv) a ilegalidade da
liquidação dos juros compensatórios – cfr. processo de
impugnação n.º 2071/09.5BELRS disponível no SITAF;
6. Em 03/09/2010, a AT elabora liquidação de reacerto financeiro
“devido a erro no sistema informático” repondo o valor de juros
compensatório que deveriam ter sido considerados originalmente
na liquidação n.º 20098310018923 – cfr. fls. 97 a 99 do processo
administrativo em apenso aos autos;
7. Assim, através da nota de cobrança n.º 20101856549, de
03/09/2010, é efectuada a liquidação de IRC mantendo o valor de
€ 4.700.466,44 (IRC) e, elaborando o reacerto da liquidação de
juros compensatórios pelo valor de € 861.972,11 – cfr. fls. 97 a 99
do processo administrativo em apenso aos autos;
8. Posteriormente, na sequência do reacerto financeiro efectuado
pela AT através da liquidação de IRC/2001 n.º 20098310018923
e respectiva demonstração de acerto de contas, a impugnante
veio solicitar a este tribunal a ampliação do pedido no âmbito do
processo de impugnação n.º 2071/09.5BELRS, solicitando o
seguinte: “(…) i) atendendo ao facto de ter sido anulada a
liquidação objecto da impugnação (imposto e juros) e emitida
nova liquidação de imposto com referência ao exercício de 2001,
a impugnante invoca a caducidade do direito ao Estado à
liquidação do tributo; ii) requer que a impugnação prossiga
também contra este (novo) acto de liquidação notificado à
impugnante em 07/09 nos termos e com os fundamentos já
avançados na petição inicial” – cfr. fls. 112 do processo
administrativo em apenso aos autos;
9. Por despacho judicial proferido no processo de impugnação n.º
2071/09.5BELRS, foi decidido admitir a alteração e ampliação do
pedido formulado pela impugnante – cfr. fls. 112 do processo
administrativo em apenso aos autos;
10. Em 04/01/2011, a ora impugnante, apresentou reclamação
graciosa pretendendo a anulação da liquidação de IRC de 2001
n.º 20098310018923 e do reacerto financeiro de 03/09/2010

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contra o acto de liquidação de juros compensatórios n.º


201000001552137 de 03/09/2010 – cfr. fls. 218 e segs. dos autos
de reclamação graciosa em apenso aos autos;
11. Da reclamação graciosa, referida no ponto anterior, foi
proferido despacho de 30/04/2012, pelo Director de Finanças
Adjunto de Lisboa, indeferindo o pedido formulado pela
reclamante – cfr. fls. 246 a 254 dos autos de reclamação graciosa
em apenso aos autos;
12. A fundamentação apresentada para o indeferimento da
reclamação é sucintamente a seguinte “O reacerto financeiro
referente ao acto de liquidação n.º 20098310018923 e, ao acto
de liquidação de juros compensatórios n.º 20100000155714,
subjacente à presente reclamação graciosa consubstancia o acto
de execução da decisão proferida no proc. de reclamação
graciosa n.º 40000439/06 e que determinou a anulação parcial da
liquidação adicional de IRC n.º 20058310120826 (…)” – cfr. fls.
246 a 254 dos autos de reclamação graciosa em apenso aos
autos;
13. Em 06/06/2012, face ao indeferimento da reclamação
graciosa, a ora impugnante deduz recurso hierárquico – cfr. fls. 2
e segs., do processo de R.FT. em apenso aos presentes autos;
14. O recurso hierárquico veio a ser indeferido por despacho da
Subdirectora Geral dos Impostos de 24/04/2013, por se ter
concluído não estarem verificadas a preterição de formalidades
essenciais alegadas pela recorrente, ou seja, falta de
fundamentação, falta de direito de audição prévia e caducidade
do direito à liquidação – cfr. fls. 34 a 41 do processo de R.H. em
apenso aos presentes autos;
15. Em 23/05/2013, é apresentada neste Tribunal Tributário
petição inicial que consubstancia a presente impugnação – cfr.
fls. 2 e segs. dos presentes autos;
16. Na presente data, o processo de impugnação judicial com [o]
n.º 2071/09.5BELRS encontra-se pendente de decisão neste
Tribunal Tributário – cfr. informação disponibilizada no SITAF».

*
2.2 DE FACTO E DE DIREITO
2.2.1 AS QUESTÕES A APRECIAR E DECIDIR
À sociedade ora Recorrente, na sequência de uma acção de
inspecção, foi liquidado adicionalmente IRC e respectivos juros
compensatórios, com referência ao ano de 2001, no montante
global de € 6.147.246,37 (liquidação n.º 20058310120826).
Aquela sociedade, inconformada com a liquidação, apresentou
reclamação graciosa, que foi deferida parcialmente, sendo que
em cumprimento dessa decisão foi elaborada “a liquidação n.º
20098310018923”, no valor de € 4.700.466,44, a que crescem

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juros compensatórios no valor de € 329,30.


A sociedade, não se conformando com a decisão da reclamação
graciosa na parte em que lhe foi desfavorável, apresentou
impugnação judicial, que deu origem ao processo com o n.º
2071/09.5BELRS.
Sucede que, entretanto (i.e., entre a data em que foi elaborada a
liquidação subsequente ao deferimento parcial da reclamação
graciosa e a data em que foi instaurada a referida impugnação
judicial), a AT, dando-se conta de que tinha incorrido em erro no
cálculo dos juros compensatórios, procedeu ao “recálculo” ou
“reacerto” dos mesmos, em virtude do que emitiu nova “nota de
liquidação”, com o n.º 20101856549, mantendo o valor de
imposto de € 4.700.466,44 e passando o montante dos juros
compensatórios para € 891.972,11, que notificou à sociedade.
Na sequência dessa notificação, a sociedade pediu a ampliação
do pedido no processo de impugnação judicial com o n.º
2017/09.5BELRS, de modo a incluir o novo valor de juros
compensatórios, a qual foi admitida. Esse processo encontra-se
pendente no Tribunal Tributário de Lisboa a aguardar decisão.
Do mesmo passo, a sociedade deduziu reclamação graciosa
contra a “liquidação n.º 20098310018923” e o acto de “recálculo”
dos juros compensatórios, reclamação graciosa que veio a ser
indeferida – com o fundamento de que «O reacerto financeiro
referente ao acto de liquidação n.º 20098310018923 e ao acto de
liquidação de juros compensatórios n.º 2010000055714,
subjacente à presente reclamação graciosa consubstancia o acto
de execução da decisão proferida no processo de reclamação
graciosa n.º 40000439/06 e que determinou a anulação parcial da
liquidação adicional de IRC n.º 20058310120826» – sendo que
desse indeferimento a sociedade interpôs recurso hierárquico, o
qual, por seu turno, foi indeferido.
Na sequência da notificação da decisão de indeferimento do
recurso hierárquico, a sociedade veio apresentar a presente
impugnação judicial, na qual, para além de pedir a anulação da
liquidação pelos mesmos fundamentos invocados na impugnação
judicial n.º 2071/09.5BELRS, pediu também a anulação do
despacho por que foi indeferido o recurso hierárquico, com
fundamento em diversos vícios formais
Ulteriormente, a Impugnante, para a eventualidade de proceder a
excepção de litispendência invocada pela Fazenda Pública, pediu
a convolação da impugnação judicial, no que respeita ao pedido
de anulação do despacho de indeferimento do recurso
hierárquico, em acção administrativa especial, para aí serem
apreciadas as questões relativas os vícios imputados à decisão
do recurso hierárquico.
A Juíza do Tribunal Tributário de Lisboa começou por apreciar a

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excepção de litispendência invocada na contestação, e,


considerando que os fundamentos invocados nesta impugnação
judicial, no que se refere à liquidação de IRC do ano de 20001
com o n.º 20098310018923 e respectivos juros compensatórios
(do valor de € 861.972,11), são os mesmos que foram invocados
contra o mesmo acto pela mesma sociedade na impugnação
judicial anteriormente instaurada sob o n.º 2017/09.5BELRS,
decidiu pela procedência da excepção e absolveu a Fazenda
Pública da instância.
Depois, apreciando o pedido de anulação do despacho de
indeferimento do recurso hierárquico, também formulado na
petição inicial e com fundamentos próprios, após considerar
inviável a sugerida convolação em acção administrativa especial
– por, nos termos do disposto no art. 97.º, n.º 1, alínea c), do
CPPT, a impugnação judicial ser o meio processual próprio para
impugnar judicialmente a decisão de indeferimento da
reclamação graciosa –, julgou-o improcedente com o fundamento
de que, estando a legalidade da liquidação a ser apreciada na
impugnação judicial n.º 2071/09.5BELRS, o julgamento aí a
proferir prevalecerá sobre os meios administrativos.
A Impugnante insurge-se contra essa decisão na parte em que
considerou prejudicado o conhecimento dos vícios formais
imputados à decisão do recurso hierárquico e a inviabilidade da
convolação da impugnação judicial em acção administrativa.
Sustenta, em síntese, que, no que concerne aos vícios imputados
ao despacho que decidiu a reclamação graciosa não se verifica a
excepção da litispendência [cfr. conclusões B) a D)]. Mas,
permitimo-nos realçar desde já, que a sentença nunca afirmou o
contrário, tendo inclusive deixado expresso, por mais do que uma
vez, que a litispendência não abrange os fundamentos invocados
relativamente à decisão do recurso hierárquico, como resulta das
seguintes afirmações: «A presente acção concorre, em parte,
com os fundamentos invocados na primeira impugnação» e
«julgo verificada a excepção dilatória de litispendência, o que
obsta a que o Tribunal conheça, nos presentes autos, parte do
mérito da causa, i.e., na parte do pedido que contende com a
liquidação […] e juros compensatórios», estas efectuadas ainda
na parte da sentença que destinou ao conhecimento da
excepção, e «Não obstante o que supra foi decidido na fase do
saneamento do processo, vem ainda a impugnante pedir nos
presentes autos a convolação destes autos em acção
administrativa especial, tendo por base outros fundamentos
também deduzidos» (sublinhados nossos em todas as passagens
transcritas), esta feito logo no início da parte que sujeitou à
epígrafe «DO DIREITO».
Sustenta também a Recorrente que a sentença fez errado

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julgamento ao não admitir a convolação da impugnação judicial


em acção administrativa, uma vez que estão verificados todos os
requisitos para essa convolação, sendo a acção administrativa
especial o meio adequado para apreciar a legalidade do
indeferimento da decisão do recurso hierárquico [cfr. conclusões
E) a P)].
Finalmente, sustenta que deve a sentença ser alterada no sentido
de à ora Recorrente ser concedida a dispensa do pagamento do
remanescente da taxa de justiça, «[a]tentas as características do
caso em apreço, que não reveste especial complexidade» [cfr.
conclusões Q) a U)].
Assim, as questões que cumpre apreciar e decidir são as de
saber i) se a sentença recorrida fez correcto julgamento ao
decidir não ser viável a convolação da petição inicial, na parte em
que foi pedida a anulação da decisão administrativa de
indeferimento do recurso hierárquico em acção administrativa e ii)
ao julgar improcedente a impugnação judicial nessa parte e iii) se
devia o Tribunal Tributário de Lisboa ter dispensado o pagamento
do remanescente da taxa de justiça por a causa “não revestir
especial complexidade”.

*
2.2.2 DA INVIABILIDADE DA CONVOLAÇÃO DA IMPUGNAÇÃO
JUDICIAL EM ACÇÃO ADMINISTRATIVA E DA
IMPROCEDÊNCIA DA IMPUGNAÇÃO JUDICIAL
2.2.2.1 Como deixámos já dito, a sentença entendeu que a
impugnação judicial, na parte em que nela foi pedida a anulação
do despacho que indeferiu o recurso hierárquico, não pode ser
convolada em acção administrativa especial, como propôs a
Impugnante depois de ser notificada da contestação e para a
eventualidade de ser julgada procedente a excepção de
litispendência aí invocada.
Isto, em síntese, porque a impugnação judicial é o meio
processual próprio para impugnar o indeferimento do recurso
hierárquico interposto do indeferimento de reclamação graciosa,
uma vez que esta tinha por objecto a apreciação da legalidade da
liquidação.
Pese embora a discordância da Recorrente, entendemos que a
sentença decidiu correctamente.
Antes do mais, cumpre ter presente que a reclamação graciosa a
que se refere a decisão do recurso hierárquico ora impugnada,
como bem salienta o Procurador-Geral Adjunto no parecer junto a
estes autos (referido em 1.5), teve por objecto o acto de
liquidação na parte em que esta se mantinha após o deferimento
parcial da primeira reclamação graciosa.
Ora, o meio processual adequado para a impugnação

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contenciosa da decisão proferida em recurso hierárquico


interposto de indeferimento de reclamação graciosa, quando
nesta está em causa a apreciação da legalidade de actos de
liquidação, é o processo de impugnação judicial, como resulta do
disposto no art. 97.º, n.ºs 1, alínea p) e 2, este a contrario (Neste
sentido, JORGE LOPES DE SOUSA, Código de Procedimento e de
Processo Tributário anotado e comentado, Áreas Editora, 6.ª edição, I
volume, anotação 9 ao art. 67.º, pág. 616, e anotação 7 ao art. 97.º, págs.
667/669.).
Acresce que, mesmo a aceitar-se a tese da Recorrente (o que
apenas fazemos para fins de exposição), porque no que respeita
ao pedido de anulação da liquidação nenhuma dúvida subsiste
quanto à adequação do meio processual utilizado, isso, por si só,
obstaria à convolação da impugnação judicial em acção
administrativa especial, pois, como este Supremo Tribunal
Administrativo tem vindo a afirmar, formulados pedidos a que
correspondem diferentes formas processuais torna-se inviável a
convolação, já que o tribunal está impedido de optar por qualquer
uma delas.
Inexistia, pois, motivo para a convolação.
A sentença, na medida em que decidiu nesse sentido, não
merece reparo.
2.2.2.2 A Recorrente também discorda da sentença na parte em
que julgou improcedente o pedido de anulação do despacho que
indeferiu o recurso hierárquico.
Mas, também neste segmento, a sentença não merece crítica.
É que, como bem salientou a sentença, qualquer que fosse a
decisão a proferir sobre o indeferimento do recurso hierárquico, a
mesma seria inócua, i.e., insusceptível de produzir efeitos na
esfera jurídica da Recorrente, uma vez que a legalidade da
liquidação já está a ser discutida em sede de impugnação judicial,
mais concretamente, no processo de impugnação judicial com o
n.º 2071/09.5BELRS.
Ora, como bem salientou a sentença recorrida, louvando-se em
jurisprudência da Secção de Contencioso Tributário do Supremo
Tribunal Administrativo (Para além dos acórdãos aí citados, também o
seguinte:
- 27 de Janeiro de 2016, proferido no processo n.º 174/15, disponível em
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931
/29e85eee45a6d43480257f4e003e6834.), a eventual verificação de
vícios na decisão do recurso hierárquico nunca poderia projectar
efeitos invalidantes sobre o antecedente acto da liquidação.
Por outro lado, quando foi deduzida a reclamação graciosa a que
se refere a decisão do recurso hierárquico ora impugnada – em 4
de Janeiro de 2011 (cfr. facto provado sob o n.º 10) – a ora
Recorrente já tinha instaurado, em 28 de Outubro de 2009,
impugnação judicial contra a liquidação (cfr. facto provado sob o

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n.º 3), motivo por que a reclamação graciosa nem sequer deveria
ter sido objecto de pronúncia por parte da AT, que antes a deveria
ter apensado ao processo de impugnação judicial, ou remetido a
juízo para esse fim, como prescreve o n.º 4 do art. 111.º do CPPT,
em obediência ao princípio da preferência absoluta dos meios
judiciais de impugnação sobre os meios administrativos (Cfr.
JORGE LOPES DE SOUSA, ob. cit., II volume, anotação 5 ao art. 111.º,
pág. 241. ). Isto, porque, como salienta JORGE LOPES DE
SOUSA, «[n]o caso de ser deduzida impugnação judicial, parece
que não será apreciado recurso hierárquico que tenha sido
interposto de decisão de reclamação graciosa, pois é atribuída ao
tribunal competência para decidir todas as questões que tenham
sido suscitadas administrativamente relativas ao acto judicial
impugnado, mesmo que não tenham sido suscitadas na
impugnação judicial, como se infere do n.º 4 daquele art. 111.º»
(Ob. cit., I volume, anotação 9 ao art. 76.º, pág. 670.).
Assim, a sentença recorrida, também na parte em que julgou que
o conhecimento dos vícios formais imputados pela Impugnante à
decisão do recurso hierárquico (a efectuar em impugnação
judicial) ficou prejudicado, não merece censura.
*
2.2.3 DA DISPENSA DO REMANESCENTE DA TAXA DE
JUSTIÇA
Resta apreciar o pedido de dispensa do pagamento do
remanescente da taxa de justiça, formulado pela Recorrente com
fundamento em que a acção não se reveste de especial
complexidade.
Nos termos do n.º 7 do art. 6.º do RCP, «[n]as causas de valor
superior a (euro) 275.000, o remanescente da taxa de justiça é
considerado na conta a final, salvo se a especificidade da
situação o justificar e o juiz de forma fundamentada, atendendo
designadamente à complexidade da causa e à conduta
processual das partes, dispensar o pagamento».
Ou seja, como este Supremo Tribunal Administrativo tem vindo a
afirmar, a dispensa do pagamento do remanescente da taxa de
justiça tem natureza excepcional, pressupõe uma menor
complexidade da causa e uma simplificação da tramitação
processual aferida pela especificidade da situação processual e
pela conduta das partes. A jurisprudência tem vindo também a
admitir essa dispensa quando o montante da taxa de justiça
devida se afigurar manifestamente desproporcionado em face do
concreto serviço prestado, pondo em causa a relação
sinalagmática que a taxa pressupõe, configurando uma violação
dos princípios constitucionais do acesso ao direito e da tutela
jurisdicional efectiva, da proporcionalidade e da necessidade (A
título de exemplo, vide o seguinte acórdão da Secção de Contencioso

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Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:


- de 1 de Fevereiro de 2017, proferido no processo n.º 891/16, disponível
em
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931
/bc712805391451a8802580c00036138a.).
No caso sub judice, a Recorrente aponta como fundamento do
seu pedido a menor complexidade da causa.
Estamos perante situação em que se justifique a dispensa do
pagamento do remanescente da taxa de justiça, pelo motivo
invocado ou por outro?
Quanto à invocada menor complexidade da causa, não podemos
concordar com a Recorrente. Se a litispendência, na medida em
que levou a uma absolvição da instância, poderia justificar essa
qualificação, a verdade é que essa não foi a única questão
tratada nos autos; nestes também foi conhecido o pedido de
apreciação dos vícios da decisão de indeferimento do recurso
hierárquico, o que levou a que se tivesse de apreciar a questão
do meio processual adequado e da concatenação entre os meios
contenciosos e graciosos de impugnação.
No que se refere à complexidade da causa, não encontramos
motivo para a considerar inferior à normal.
No que respeita à tramitação processual, a mesma não difere da
normalidade, a não ser pela formulação e aceitação de uma
ampliação do pedido, e, quanto à conduta das partes, as mesmas
limitaram-se a cumprir o que delas se espera em termos de
comportamento processual.
Em todo o caso, afigura-se-nos que o valor a pagar a título de
remanescente (Segundo o nosso cálculo, porque o valor fixado à causa
foi de € 5.562.437,50, o remanescente da taxa da justiça devida
- pela acção totaliza € 64.872,00 (€ 5.562.437,50 – € 275.000,00 = €
5.287.437,50; € 5.287.437,50 / 25.000,00 = 211,4975; 212 x (3 x € 102) =
€ 64.872,00)
- pelo recurso totaliza € 32.436,00 (€ 5.562.437,50 – € 275.000,00 = €
5.287.437,50; € 5.287.437,50 / 25.000,00 = 211,4975; 212 x (1,5 x € 102)
= € 32.436,00).) revela-se desproporcionado em face do serviço
prestado. Na verdade, não podemos perder de vista que a taxa
de justiça, como todas as taxas, assume natureza bilateral ou
correspectiva (cfr. arts. 3.º, n.º 2, e 4.º, n.º 2, da Lei Geral
Tributária), constituindo a contrapartida devida pela utilização do
serviço público da justiça por parte do sujeito passivo.
É certo que, como este Supremo Tribunal tem vindo a afirmar
(Nesse sentido, a título exemplificativo e com citação de numerosa
jurisprudência, o seguinte acórdão da Secção de Contencioso Tributário
do Supremo Tribunal Administrativo:
- de 8 de Outubro de 2014, proferido no processo n.º 221/12, disponível
em
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931

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/251bdf3381d62ed580257d730037ac0d.), não se exige uma


equivalência rigorosa entre o valor da taxa e o custo do serviço,
que, as mais das vezes, nem seria viável apurar com rigor.
Assim, como afirmou já o Tribunal Constitucional, o legislador
dispõe de uma «larga margem de liberdade de conformação em
matéria de definição do montante das taxas»; mas, como logo
advertiu o mesmo Tribunal, é necessário que «a causa e
justificação do tributo possa ainda encontrar-se, materialmente,
no serviço recebido pelo utente, pelo que uma desproporção
manifesta ou flagrante com o custo do serviço e com a sua
utilidade para tal utente afecta claramente uma tal relação
sinalagmática que a taxa pressupõe» (Cfr. os seguintes acórdãos do
Tribunal Constitucional:
- de 28 de Março de 2007, com o n.º 227/2007, disponível em
http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20070227.html;
- de 15 de Julho de 2013, com o n.º 421/2013, disponível em
http://www.tribunalconstitucional.pt/tc/acordaos/20130421.html.).
Mais tem vindo a considerar a jurisprudência constitucional que
«os critérios de cálculo da taxa de justiça, integrando normação
que condiciona o exercício do direito fundamental de acesso à
justiça (art. 20.º da Constituição), constituem, pois, a essa luz,
zona constitucionalmente sensível, sujeita, por isso, a parâmetros
de conformação material que garantam um mínimo de
proporcionalidade entre o valor cobrado ao cidadão que recorre
ao sistema público de administração da justiça e o custo/utilidade
do serviço que efectivamente lhe foi prestado (artigos 2.º e 18.º,
n.º 2, da mesma Lei Fundamental), de modo a impedir a adopção
de soluções de tal modo onerosas que se convertam em
obstáculos práticos ao efectivo exercício de um tal direito».
Note-se, aliás, que foi para obviar à violação desses princípios
constitucionais que o art. 2.º da Lei n.º 7/2012, de 13 de
Fevereiro, aditou ao art. 6.º do RCP o n.º 7, que veio permitir
(poder-dever) que se atenda ao referido limite máximo de €
275.000,00 e a dispensa do pagamento do remanescente da taxa
de justiça nas situações também já referidas (Para maior
desenvolvimento, vide o acórdão da Secção de Contencioso Tributário do
Supremo Tribunal Administrativo de 9 de Julho de 2014, proferido no
processo n.º 1319/13, disponível em
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931
/b9dbbe59c0cd923880257d16002f0290.
Como nesse aresto ficou dito, «No acórdão n.º 421/2013, de 15/7/2013,
processo n.º 907/2012, in DR, 2.ª série - n.º 200, de 16/10/2013, pp.
31096 a 31098, o Tribunal Constitucional havia julgado inconstitucionais,
por violação do direito de acesso aos tribunais, consagrado no art. 20.º da
CRP, conjugado com o princípio da proporcionalidade, decorrente dos
arts. 2.º e 18.º, n.º 2, segunda parte, da CRP, as normas contidas nos
arts. 6.º e 11.º, conjugadas com a tabela I-A anexa, do Regulamento das
Custas Processuais, na redacção introduzida pelo DL n.º 52/2011, de

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13/4, (anteriormente, portanto, à alteração introduzida pela Lei n.º 7/2012,


de 13/2) quando interpretadas no sentido de que o montante da taxa de
justiça é definido em função do valor da acção sem qualquer limite
máximo, não se permitindo ao tribunal que reduza o montante da taxa de
justiça devida no caso concreto, tendo em conta, designadamente, a
complexidade do processo e o carácter manifestamente desproporcional
do montante exigido a esse título.// Neste mesmo sentido se decidira já
nos acs. desta Secção do STA, de 31/10/12 e de 26/4/2012, nos procs.
n.ºs 0819/12 e 0768/11, respectivamente».).
É certo que o juízo de proporcionalidade entre a taxa cobrada e o
valor do serviço prestado se apresenta como problemático, pois
envolve a ponderação de diversas variáveis, nem todas
objectivas. Mas nem por isso o tribunal se pode eximir do mesmo.
Assim, aplicando a referida interpretação normativa ao caso dos
autos, ponderada a tramitação dos autos e o comportamento
processual da ora Recorrente, mas também o elevado valor da
causa (mais de 5 milhões de euros) e a utilidade económica dos
interesses a ela associados (não podendo ignorar que quando,
como na situação sub judice, se discute o valor da matéria
tributável, o valor económico associado será apenas o resultante
da repercussão desse valor na liquidação do imposto), a
complexidade da questões submetidas a juízo – que, vimos já, se
situa na média –, considera-se adequado dispensar a Recorrente
do pagamento de 90% do remanescente da taxa de justiça, na
parte que corresponderia ao excesso sobre o valor tributário de €
275.000, apenas sendo, deste modo, a pagar pela Recorrente,
para além do inicialmente devido, o valor de 10% do dito
remanescente, quer em 1.ª instância quer neste Supremo
Tribunal Administrativo.
Note-se, finalmente e justificando a dispensa parcial, que a norma
do citado n.º 7 do art. 6.º do RCP, referindo apenas a dispensa,
deve ser interpretada no sentido de ao juiz ser lícito dispensar o
pagamento, quer da totalidade, quer de uma fracção ou
percentagem do remanescente da taxa de justiça devida pelo
facto de o valor da causa exceder o patamar de € 275.000,
consoante o resultado da ponderação das especificidades da
situação, feita à luz dos princípios da proporcionalidade e da
igualdade (Sobre a questão, o acórdão do Supremo Tribunal de Justiça
de 12 de Dezembro de 2013, proferido no processo n.º 1319/12.3TVLSB-
B.L1.S1, disponível em
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814
/548e998f5426206780257c4500596f1c.
Admitindo a dispensa parcial do pagamento do remanescente da taxa de
justiça e também decidindo nesse sentido, respectivamente, os seguintes
acórdãos da Secção de Contencioso Tributário do Supremo Tribunal
Administrativo:
- de 7 de Maio de 2014, proferido no processo n.º 1953/13, disponível em
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931

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/08669054164750cc80257cd600455a0e;
- de 3 de Dezembro de 2014, proferido no processo n.º 1351/14,
disponível em
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931
/928de9796124623280257dc8004e1289;
- de 23 de Novembro de 2016, proferido no processo n.º 923/16,
disponível em
http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931
/4512fb7b603617a5802580760051cb4e.).
Assim, ao abrigo do disposto no art. 6.º, n.º 7, do RCP, e
deferindo parcialmente a pretensão da ora Recorrente,
reduziremos em 90% o montante do remanescente da taxa de
justiça a pagar, quer relativamente à acção quer relativamente ao
recurso.
*
2.2.4 CONCLUSÕES
Preparando a decisão, formulamos as seguintes conclusões:

I - A eventual verificação de vícios na decisão do recurso


hierárquico nunca poderá projectar efeitos invalidantes sobre o
antecedente acto da liquidação.
II - Se tiver já sido interposta impugnação judicial contra a
liquidação, a reclamação graciosa ulteriormente deduzida contra
o mesmo acto não deve ser apreciada pela Administração, mas
antes remetida para apensação à impugnação judicial, em
obediência ao princípio da preferência absoluta dos meios
judiciais de impugnação sobre os meios administrativos e tal
como impõe o n.º 4 do art. 111.º do CPPT.
III - Nos casos em que o valor da causa excede € 275.000,00,
justifica-se a dispensa do remanescente da taxa de justiça devida
em 1.ª instância, quer na totalidade, quer numa fracção ou
percentagem, ao abrigo do disposto no n.º 7 do art. 6.º do RCP,
se a conduta processual das partes não obstar a essa dispensa e
se, não obstante a questão aí decidida não se afigurar de
complexidade inferior à comum, o montante da taxa de justiça
devida se afigurar manifestamente desproporcionado em face do
concreto serviço prestado, pondo em causa a relação
sinalagmática que a taxa pressupõe.

***
3. DECISÃO
Face ao exposto, os juízes da Secção do Contencioso Tributário
deste Supremo Tribunal Administrativo acordam, em conferência,
em conceder parcial provimento ao recurso e, revogando a
sentença na parte respeitante à condenação em custas, substituí-
la, nesse segmento, pelo seguinte: Custas pela Impugnante, com
dispensa do pagamento do remanescente da taxa de justiça, na

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proporção de 90% (cfr. 2.2.3).


Custas pela Recorrente, na proporção de 75%, e com dispensa
do pagamento de 90% do remanescente da taxa de justiça (cfr.
2.2.3).

Lisboa, 18 de Outubro de 2017. - Francisco Rothes - Isabel


Marques da Silva - Dulce Neto.

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