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UNIVERSIDADE FEEVALE

DISCIPLINA DE FARMACOLOGIA

Fármacos que atuam no SNA Parassimpático

Prof. Dr. Andresa Heemann Betti

andresa@feevale.br
Organização do Sistema Nervoso

Músculo Liso
Neurônio motor somático
Célula Glandular

Músculo cardíaco Músculo esquelético


Sistema Nervoso Autônomo (SNA)
SISTEMA VISCERAL = vegetativo = involuntário

Amplamente distribuído pelo corpo

regula os processos corpóreos que não estão sob a dependência direta do


controle voluntário → funcionam abaixo do nível da consciência

Funções gerais do SNA


• respiração
• circulação
• digestão
• temperatura corporal
• metabolismo
• transpiração
• secreções de algumas glândulas
SISTEMA SIMPÁTICO:
- fibras nervosas originam-se na região toráxico-lombar
SNA
SISTEMA PARASSIMPÁTICO:
- fibras nervosas originam-se na região crânio-sacral
CALMA AMEAÇÃ/ESTRESSE

• Pupilas contraídas • Pupila dilata (sistema visual capta mais luz)

• ↑ salivação → sentimos fome • Corpo e mente funcionam bem → pensamos +

• Vontade de ir ao banheiro rápido (neurônios + sensíveis, aguçando

• Respiração e batimentos cardíacos nossos sentidos)

lentos • ♥ acelera (circula nutrientes e gases + rápido)

• Calmo, sonolento • Respiração pesada (fazemos + trocas gasosas)

• Economia e armazenamento de • Pele branca/palidez → vasos são contraídos e

energia o sangue é direcionado para os músculos

• Sistema circulatório e respiratório: • Músculos em força total → começamos a suar

ritmo lento como mecanismo de refrigeração (suor

• Sistema digestório e excretório: escorre na testa)

funcionam bem • Fígado e tecido adiposo liberam suas reservas


no sangue
• Rins e intestinos desaceleram (praticamente
suspendemos produção de urina e fezes)
VIDEOS SUGERIDOS

O estresse e a reação de luta, fuga ou congelamento


https://www.youtube.com/watch?v=xe44K_IHu-w

O QUE É O SISTEMA NERVOSO SIMPÁTICO E O PARASSIMPÁTICO?


https://www.youtube.com/watch?v=FZGaAyPbtDc
SNA SIMPÁTICO
“Fuga ou luta”
Sistema cardiovascular
- vasoconstrição →  PA
-  frequência, velocidade de condução e força de
contração
Trato respiratório
- Relaxamento do músculo liso → broncodilatação
Glândulas secretoras
-  secreções (salivares, lacrimais, nasofaríngeas)
TGI
-  tônus (contração de esfíncter)
-  movimentos peristálticos e atividade secretora
Olhos
- relaxamento do músculo liso da íris → midríase
- relaxamento do músculo ciliar: visão de objetos
distantes
-  pressão intraocular
SNA PARASSIMPÁTICO
“Descanso e digestão”
Sistema cardiovascular
- vasodilatação →  PA
-  frequência, velocidade de condução e força de
contração
Trato respiratório
- Contração dos músculo liso → broncoconstrição
Glândulas secretoras
-  secreções (salivares, lacrimais, nasofaríngeas)
TGI
-  tônus (relaxamento de esfíncter)
-  movimentos peristálticos e atividade secretora
Olhos
- Contração do músculo liso da íris → miose
- Contração do músculo ciliar: visão de objetos
próximos
-  pressão intraocular
NT e receptores do SNA

SNAS e SNAP: principal NT em


SNAS SNAP
fibras pré-ganglionares: ACh

fibras pós-ganglionares

SNAS: NE SNAP: ACh

Receptores adrenérgicos Receptores colinérgicos


• alfa (α) • nicotínicos (N)
• beta (β) • muscarínicos (M)
Acetilcolina (ACh)

Receptores nicotínicos (N): ionotrópicos

Planta Nicotiana tabacum


Agonista: nicotina

• desencadeiam respostas rápidas


• podem ser encontrados:
- na junção neuromuscular (Nm)
- tecido neuronal (Nn)
Acetilcolina (ACh)

Receptores muscarínicos (M): metabotrópicos

• desencadeiam respostas mais lentas: excitatórias ou inibitórias

Subtipos (todos encontrados no SNC, predomínio de M1*):


M1 (Gq): neurônios*, células secretoras
M2 (Gi): neurônios, coração
M3 (Gq): neurônios, músculo liso (intestinos, brônquios, bexiga,
vasos), glândulas secretoras
M4 (Gi): neurônios
Cogumelo Amanita muscaria
M5 (Gq): neurônios Agonista: muscarina

Planta Atropa belladonna


Antagonista: atropina
Sinapse colinérgica

NT na fenda sináptica → ACh


• liga-se a receptores N ou M

• metabolizada pela acetilcolinesterase


(AChE), localizada na porção externa das
membranas celulares da fenda sináptica

• retroalimentação negativa (feedback


negativo)
Fármacos que atuam no SNA Parassimpático

Colinérgicos
Parassimpaticomiméticos diretos
Anticolinesterásicos
Parassimpaticomiméticos indiretos

Parassimpaticolíticos
Antimuscarínicos
Colinérgicos ou parassimpaticomiméticos
A) Diretos
• efeitos semelhantes aos da ACh → agem como agonistas dos receptores M e N

• uso terapêutico limitado → falta de especificidade/seletividade nesses receptores

RECEPTOR M3
• Sistema gastrointestinal
• Sistema geniturinário
• Olho
• Glândulas secretoras
• Aparelho respiratório
• Coração (pouco, mais M2)
Colinérgicos ou parassimpaticomiméticos
A) Diretos

SISTEMA GASTROINTESTINAL (M3) TRATO URINÁRIO (M3)


•  da atividade peristáltica •  do peristaltismo uretral
•  da atividade secretora • relaxamento do esfíncter

Uso terapêutico Uso terapêutico


• desordens TGI: • desordens da bexiga:
- íleo-paralítico - retenção urinária (pós-operatória,
- atonia ou paralisia gástrica pós-parto)
Fármaco: Fármaco:
• betanecol → estimula a motilidade GI • betanecol → ajuda no esvaziamento da
bexiga
Colinérgicos ou parassimpaticomiméticos
A) Diretos
OLHO (M3)
• contração do músculo liso da íris → miose
• contração do músculo ciliar (contração para visão próxima)

Uso terapêutico
• oftalmologia:
- produção de miose em procedimento cirúrgico → ACh ou carbacol (colírios)
- terapia de glaucoma → carbacol, pilocarpina (atravessa a membrana
conjuntival) → capacidade de  a resistência ao movimento de líquido (humor aquoso)
com  da pressão intraocular
Colinérgicos ou parassimpaticomiméticos
A) Diretos
Efeitos adversos
• diarreia ( do peristaltismo)
• cólica abdominal
• urgência urinária ( do tônus do esfíncter da bexiga)
• sudorese, salivação, suco gástrico ( das secreções)
• náusea (receptores M no centro emético)
• dificuldade de acomodação visual (devido à miose)
• vasodilatação cutânea (pele com aspecto avermelhado, rubor)
• ↓ PA
• ↓ f cardíaca Contra indicações
• broncoconstrição • asma (precipita ataques devido à broncoconstrição)
• insuficiência coronária/cardíaca ( f, F e v cardíacas)
• úlcera péptica (devido ao  de secreções, como HCl)
Colinérgicos ou parassimpaticomiméticos
A) Diretos

EM CASOS DE INTOXICAÇÃO

Crise colinérgica:
 função parassimpática:
• salivação, rubor, hipotensão, bradicardia, broncoespasmo, náusea, dor
abdominal, diarreia,, acesso ao SNC

• TRATAMENTO:
Antagonista muscarínico → ATROPINA (s.c. ou i.v.)
ou
Agonista adrenérgico → adrenalina para efeitos cardiovasculares
Anticolinesterásicos ou parassimpaticomiméticos
B) Indiretos
Mecanismo de ação
• inibem a atividade da enzima AChE
ACh AChE colina + acetato

Classificação
❑ Anticolinesterásicos reversíveis (uso médico): inibem a AChE por um determinado
tempo →  de ACh na sinapse (ações N e M)
- neostigmina
- edrofônio
- fisostigmina
❑ Anticolinesterásicos irreversíveis (inseticidas e agentes tóxicos): inibem a AChE de
forma permanente
- organofosforados (parathion)
- carbamatos (inseticida “chumbinho”)
- tabun, sarin, soman
Anticolinesterásicos ou parassimpaticomiméticos
B) Indiretos

AGENTES IRREREVERSÍVEIS
Organofosforados
o isoflurofato, malathion, parathion (inseticidas)
• são bem absorvidos pela pele, conjuntiva, pulmão, intestino e BHE → perigosos
Ações
• fósforo do organofosforado se fixa à enzima AChE → inativação da enzima →
acúmulo de ACh → estimulação colinérgica → paralisia da função motora (levando à
dificuldade respiratória), convulsões, intensa miose
Antídoto
• antes da fixação do fósforo, usar PRALIDOXIMA, um fármaco/antídoto que rompe a
ligação fósforo-enzima regenerando a enzima livre (deve ser usada rapidamente para
evitar a fixação e danos no SNC)
• reversão: ATROPINA
Anticolinesterásicos ou parassimpaticomiméticos
B) Indiretos

AGENTES REVERSÍVEIS

MEDICAMENTO USO TERAPÊUTICO


edrofônio (i.v.) - miastenia gravis

neostigmina (Prostigmine®) - miastenia gravis


(i.v., i.m., s.c.) - reversão do bloqueio neuromuscular causado pelos relaxantes
musculares (descurarização antes da interrupção da anestesia)
- íleo paralítico, atonia da bexiga urinária, ausência de
peristaltismo (câncer)
piridostigmina (v.o., i.m.) - miastenia gravis, tratamento crônico

fisostigmina - glaucoma (colírio: duração de ação 2-4h)


- intoxicação por atropina
rivastigmina - doença de Alzheimer: melhora déficits cognitivos e funcionais
Miastenia gravis
• doença autoimune que afeta a junção neuromuscular: decorrente da produção
autoimune de anticorpos dirigidos contra os receptores colinérgicos
• usar um inibidor da AChE (anticolinesterásico) →  ACh → contração muscular (Nm)
• mas esse efeito não é seletivo para o músculo, ocorrendo efeitos adversos relacionados
ao  da ACh também nos receptores M
• usar ATROPINA para bloquear esses receptores M e impedir os efeitos adversos dos
demais órgãos, deixando livre apenas o receptor
Nm no músculo
•  doses: crise colinérgica
Parassimpaticolíticos
Antimuscarínicos

Mecanismo de ação:
• bloqueiam a ação dos fármacos colinérgicos

❖ antimuscarínicos: ANTAGONISTAS dos receptores M → são antagonistas da


ACh ou de agonistas muscarínicos exógenos
❖ antagonistas competitivos

Uso terapêutico: dificultado pela  seletividade


Parassimpaticolíticos
Antimuscarínicos
Escopolamina (alcaloide natural da Datura stramonium)
• efeitos periféricos semelhantes à atropina mas com
maior duração de ação e maior ação no SNC
• doses : sedação, calmante
• doses : excitação → potencial de abuso (euforia)
Usos terapêuticos:
• espasmolítico (=antiespasmódico) na cólica biliar, renal ou uterina (administrada v.o.
não tem ação SNC): Buscopan®, Buscopan Composto® (+ dipirona), Buscopan Plus®
= Buscopan Duo® (+ paracetamol)
• ação amnésica e bloqueio da memória de curta duração (vantagem em procedimentos
anestésicos)
X outros antieméticos
• anti-cinetótico/antiemético (enjoos de movimento, náusea) Plasil®: metoclopramida (antag. D2)
Dramin®: dimenidrinato (antag. H₁)
• efeito cardíaco quase nulo
Parassimpaticolíticos
Antimuscarínicos
Atropina (alcalóide natural da Atropa belladona)
-  afinidade por receptores M (antagonista)

Principais indicações

• Oftalmologia: midriático (duração do efeito: 24h) → bloqueio da atividade


colinérgica no olho: midríase persistente, ausência de resposta à luz e ciclopegia
(incapacidade de focar a visão de perto)

• Pré-anestésico: para  as secreções brônquicas

• Xerostomia (bloqueio das glândulas salivares)

• Antídoto em intoxicações por inseticidas

• alívio de cólicas renais e biliares (Atroveran®: papaverina (alcalóide) + dipirona +


Atropa belladonna, atropina)
Parassimpaticolíticos
Antimuscarínicos
INTOXICAÇÃO POR ATROPINA
Caso + comum de intoxicação por atropina (crianças): ingestão dos frutos tipo cereja da
dama-da-noite causam distúrbios visuais (midríase intensa)
• SNC: intranquilidade motora que evolui para agitação maníaca, desorientação e
alucinações (atropina = tollkirsche (“cereja de louco”)
• xerostomia (“boca seca”)
• taquicardia
• hipertermia
•  da atividade peristáltica: constipação
Tratamento com agonista M:
• fisostigmina (alcança o SNC)
• neostigmina (não alcança SNC)
• lavagem gástrica
Parassimpaticolíticos
Antimuscarínicos
Via inalatória→ broncodilatadores (promove relaxamento da musculatura lisa respiratória);
→ redução da produção de muco
Ipratrópio (Atrovent®) (ação curta: aplicado 4 x/dia) (aerossol, solução para inalação: gotas)
Tiotrópio (Spiriva®) (ação longa: 1 x/dia: + seletivo para M1 e M3): melhor qualidade de vida,
menos exacerbações e internações, mais seguro (pó: menos suscetível a causar glaucoma)

Uso terapêutico:
• *asma
• bronquite
• doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC): tiotrópio
• usado em casos de bradicardia e bloqueio AV:  frequência e facilita a condução do
impulso cardíaco (não penetra no SNC:  risco de distúrbios centrais)
x fenoterol (Berotec®), formoterol (Alenia®), salbutamol (Aerolin®): agonistas β2-adrenérgicos
Parassimpaticolíticos
Antimuscarínicos
Soluções oftálmicas
• tropicamida (Mydriacyl®) (+ usado): midríase por 6h ( pressão intraocular →
contraindicado em caso de glaucoma)
• ciclopentolato: midríase por 24h
• atropina: midríase por mais de 24 h

Uso terapêutico:
- midriáticos: midríase → permite examinar o fundo do olho
- atuam no músculo ciliar da íris, causando a sua paralisia e consequente dilatação da
pupila
Parassimpaticolíticos
Antimuscarínicos
Outros
Oxibutinina
• redução da hiperatividade vesical (dor abdominal crônica é uma das razões mais
frequentes para consulta médica)

Biperideno
• tratamento de sintomas extrapiramidais → antiparkinsoniano

Toxina botulínica
• previne liberação de ACh na fenda → relaxa os músculos da face, impedindo a
contração muscular, através de um bloqueio temporário da movimentação
• Botox® (Laboratório Allergan): é apenas uma das marcas da toxina botulínica; a
marca pioneira e mais famosa no mundo
Parassimpaticolíticos

BLOQUEADORES NEUROMUSCULARES
• = antagonistas dos receptores Nm

• na anestesia, são usados na fase de intubação: efeito rápido


- Competitivos ou não-despolarizantes: tubocumarina, pancurônio, rocurônio, vecurônio,
atracúrio (Tracrium®) (+ potentes)
- Não competitivos ou despolarizantes: succinilcolina
Parassimpaticolíticos

Reversão do bloqueio neuromuscular → DECURARIZAR (veneno curare)

AGENTES ANTICOLINÉRGICO = PARASSIMPATOMIMÉTICOS INDIRETOS


neostigmina (com atropina)
• Neostigmina inibe a AChE → contração muscular (recuperação do paciente)
• Atropina trata os sintomas
sugamadex
• Vantagem: reverte o bloqueio neuromuscular sem inibir a AChE
RELAXANTES MUSCULARES

Carisoprodol
ASSOCIAÇÕES
• Dorilax® ou Paceflex® (carisoprodol + cafeína + paracetamol)
• Tandrilax® (carisoprodol + diclofenaco Na + cafeína + paracetamol)
• Mionevrix® (carisoprodol + cloridrato de piridoxina + cloridrato de tiamina +
cianocobalamina + dipirona)
• Mioflex® (carisoprodol + paracetamol + fenilbutazona)
OUTROS RELAXANTES MUSCULARES

Baclofeno (Lioresal®)
• Agonista de receptores GABAb → deprime a transmissão dos reflexos da medula
espinhal → indicado em contraturas dolorosas (ação antinociceptiva também)

Ciclobenzaprina (Miosan®)
• Antagonista de receptores 5-HT2 →  5-HT
• Atua no tronco encefálico e na medula espinhal,
diminuindo a atividade dos neurônios motores →
relaxamento muscular
• Tratamento de espasmos musculares e fibromialgia
MAPA CONCEITUAL
Estudo dirigido

1. Diferencie o mecanismo de ação dos fármacos parassimpaticomiméticos (diretos e


indiretos) e parassimpaticolíticos.

2. Descreva os principais efeitos farmacológicos dos fármacos parassimpaticomiméticos


e parassimpaticolíticos.

3. Em um caso de intoxicação por um fármaco parassimpaticomimético, qual o


procedimento a ser adotado? Justifique sua resposta.

4. A neostigmina é um fármaco usado em pacientes com câncer com comprometimento


dos movimentos peristálticos. Justifique o porquê desse uso.

5. Os fármacos parassimpaticomiméticos diretos e indiretos podem desencadear uma


crise colinérgica. Descreva em que situação isso pode acontecer e as principais
características dessa crise.

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