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INTENSIVO I

Fernando Gajardoni
Direito Constitucional
Aula 6

ROTEIRO DE AULA

1. Partes

1.1. Colocação do tema dentro dos elementos da ação

O professor relembra que as ações são identificadas através da análise das partes, do pedido e da causa de pedir.
Não é possível estudar as “partes” sem relacioná-las com os elementos da ação, pois tais elementos são os identificadores
da demanda.
✓ Esses três elementos são fundamentais porque diversos institutos do direito processual dependem da
identificação deles (exemplos: coisa julgada, litispendência, conexão, continência, entre outros).
✓ Até mesmo a competência depende do elemento “parte”, como é o caso da justiça federal, no tocante à definição
dos casos que são ou não julgados pela justiça da União (art.109, I da CF1).
✓ O professor destaca que o estudo do tema “partes” pode ser feito separadamente e pode ser estudado dentro
da teoria dos elementos da ação.

1.2. Conceito de parte


Não é possível conceituar “parte” a partir da negativa de seu conteúdo. Assim, por exemplo, não é possível conceituar a
parte como sendo aquela que não é um terceiro (e vice-versa).

1 CF, art. 109, I: “Aos juízes federais compete processar e julgar:


I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras,
rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça
do Trabalho;”

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Na doutrina mundial, há duas grandes teorias sobre o conceito da parte:
a) Restritivo (Chiovenda) (parte na demanda – relação material): para Chiovenda, somente é parte aquele que faz o
pedido e contra quem se faz o pedido na demanda. Todos os demais sujeitos do processo são terceiros.
✓ O conceito de Chiovenda identifica a parte à luz do direito material. Assim sendo, para o autor, a identificação da
parte está relacionada à titularidade do direito material em litígio.
✓ Em suma: o conceito de Chiovenda é muito mais restritivo e está relacionado ao próprio direito material.

b) Ampliativo (Liebman) (parte no processo – relação processual)


Para Liebman, parte é todo aquele que participa do processo em contraditório. Ele não relaciona o conceito de parte com
as pessoas que pedem ou contra quem se pede algo no processo, ou seja, ele não associa as partes ao direito material,
mas tão somente à relação jurídica processual.
Para Liebman, não importa a demanda (quem pede e contra quem se pede), só importando as partes do processo, ainda
que elas não tenham vínculo com a relação jurídica material.

Diferenças entre a teoria restritiva e ampliativa (exemplos):


✓ Para Chiovenda, o Ministério Público, quando é fiscal da ordem jurídica (art. 178 do CPC2), não é parte. Isso porque
ele não faz pedido para ele e não há pedido contra si. Para Liebman, o Ministério Público, neste caso, é
considerado parte, pois participa em contraditório da relação processual.
✓ Para Chiovenda (teoria restritiva), o amicus curiae não é parte, pois ele não pede nada e não tem pedidos feitos
contra si. Para Liebman (teoria ampliativa), o amicus curiae é parte, pois ele participa do processo em
contraditório, já que faz sustentação oral, participa da audiência pública, pode ingressar com embargos de
declaração com base no art. 138 do CPC3, entre outras coisas.
Obs.: amicus curiae é um terceiro que colabora com o melhor julgamento da causa, pois ele traz elementos que
potencializam o contraditório.

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CPC, art. 178: “O Ministério Público será intimado para, no prazo de 30 (trinta) dias, intervir como fiscal da ordem jurídica
nas hipóteses previstas em lei ou na Constituição Federal e nos processos que envolvam: I - interesse público ou social; II
- interesse de incapaz; III - litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. Parágrafo único. A participação da Fazenda
Pública não configura, por si só, hipótese de intervenção do Ministério Público.”
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CPC, art. 138: “O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda
ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de
quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade
especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos,
ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º.”

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✓ O assistente, no conceito de Chiovenda (teoria restritiva), não é considerado parte. No conceito de Liebman
(teoria ampliativa), entretanto, o assistente é parte no processo, já que participa da relação jurídico processual
em contraditório, peticiona, pode recorrer (excepcionalmente), produzir provas etc.
Obs.: O assistente é um colaborador. Ele tem interesse jurídico no provimento ou não provimento de uma
demanda.

Obs.1: Não há posição dominante em relação a esse tema. Trata-se apenas de discussão doutrinária e, neste âmbito,
segundo o professor, prevalece a teoria ampliativa.

Obs.2: Tanto no conceito restritivo quanto no conceito ampliativo, o juiz não é considerado parte. Justificativas:
• Na teoria restritiva, o juiz não é considerado parte porque ele não pede nada e não tem pedidos feitos contra si.
• Para a teoria ampliativa, o juiz não é parte porque ele é o destinatário do contraditório, não havendo, da parte
dele, nenhum interesse no julgamento da demanda.

1.3. Capacidade de ser parte (1º e 2º do CC – art. 542, CC) x capacidade estar em juízo (capacidade ad processum – art.
70 CPC) x capacidade ad causam (17/18 CPC) (ordinária e extraordinária – parte processual e parte material)

Há três institutos relacionados à capacidade no sistema brasileiro:


a) capacidade (legitimidade) de ser parte: de acordo com o art. 1º4, só o ser humano é sujeito de direitos e de obrigações.
Regra geral, não se reconhece a titularidade de direitos e obrigações em face de animais.
A personalidade se inicia com o nascimento com vida (art. 2º, CC5) e, consequentemente, somente é parte de qualquer
relação jurídica o ser humano vivo.

✓ Regra geral, somente pessoa viva pode ser parte no processo. O professor destaca que, do ponto de vista
sucessório, o fato de a criança nascer viva ou morta possui várias repercussões práticas, as quais não serão
estudadas nesta disciplina.
✓ Obs.: O nascituro é uma exceção ao disposto no art. 1º do CC. Isso porque, em caráter excepcional, conforme
disposto no art. 2º, CC, in fine, a lei pode colocar a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
A capacidade do nascituro não é genérica, mas específica, porque é necessária autorização legal para que o
nascituro seja sujeito de direitos e obrigações.
Exemplo: art. 542 do CC. A depender do caso, o nascituro (representado legalmente) pode ser autor ou réu de
ação que vise a discutir uma doação.
CC, art. 542: “A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal. ”

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CC, art. 1º: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.”
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CC, art. 2º: “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção,
os direitos do nascituro.”

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b) capacidade de estar em juízo (capacidade “ad processum” / legitimidade “ad processum”): é a capacidade genérica
para ajuizar e ser demandado em ações. Essa capacidade é atribuída àquele que tem capacidade civil (art. 70, CPC6).

✓ O conceito trazido pelo art. 70 do CPC equivale a capacidade de estar em juízo à capacidade civil (arts. 3º e 4º do
CC7). O professor destaca que são civilmente capazes as pessoas que já completaram 18 anos e que não estão
abrangidas por nenhuma das hipóteses dos arts. 3º e 4º do CC.
✓ A pessoa que ainda é incapaz somente ingressa com ação representada ou assistida por pessoa que tenha a
capacidade para estar em juízo (capacidade civil). Exemplo: uma criança de 5 anos tem capacidade de ser parte,
mas não tem capacidade de estar em juízo. Assim sendo, ele deverá ser representado em juízo.

c) capacidade “ad causam” (legitimidade “ad causam”): é capacidade específica e exclusiva para a ação que está sendo
ajuizada.
Essa capacidade é atrelada à titularidade do direito material.

✓ Observação: tanto a capacidade de ser parte quanto a capacidade de estar em juízo são analisadas sob o enfoque
processual. Isso porque ambas são capacidades genéricas.
No caso da capacidade ad causam, ela somente é definida à luz do caso concreto, ou seja, à luz do direito material.
Neste caso, é preciso analisar, no caso concreto, se as partes têm relação com o que está sendo pedido.
Exemplo 1: o nascituro não tem capacidade de ser parte, capacidade de estar em juízo nem capacidade ad
causam.

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CPC, art. 70: “Toda pessoa que se encontre no exercício de seus direitos tem capacidade para estar em juízo.”
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CC, arts. 3º e 4º: “Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16
(dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
I - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
II - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015) (Vigência)
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)”

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Exemplo 2: Um garoto de 5 anos tem capacidade de ser parte, mas não tem capacidade de estar em juízo
(capacidade “ad processum”), pois ele não é civilmente capaz. A despeito disso, esse garoto tem capacidade ad
causam para pedir alimentos para o pai, pois ele tem relação com a pessoa contra quem ele pede e com o pedido
em si.

Observações:
1º) Na legitimidade ad causam ordinária, há identidade entre a parte processual e material, ou seja, a pessoa age em
nome próprio pleiteando direito próprio (art. 18, CPC8). Essa é a regra geral do sistema.
Na legitimidade ad causam extraordinária, há uma pessoa que age em nome próprio, mas defende direito alheio. Nesta
situação, é preciso haver autorização legal.
Exemplos de legitimidade extraordinária:
• Art. 1.314, CC9 – Os condôminos podem, em nome próprio e sozinhos, defender toda a área.
• Art. 109, CPC10 – Alienação da coisa litigiosa.

2º) Atenção: quando houver legitimação extraordinária, é possível cindir a parte processual da parte material do processo.
✓ A capacidade extraordinária (substituição processual) está prevista no final do art. 18, CPC. Neste caso, é
necessário lembrar que há uma dissociação entre parte material e parte processual. Isso porque, se o
ordenamento jurídico autorizar, uma pessoa que não é titular do direito material poderá postular direito alheio.
Exemplo: o condômino que propõe a ação é a parte processual, mas o direito material pertence a todos os
condôminos.

3º) Em síntese: a capacidade de ser parte deve ser dividida em 3 momentos:

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CPC, art. 18: “Ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento
jurídico.”
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CC, 1314: “Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos compatíveis
com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.
Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a
estranhos, sem o consenso dos outros.”
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CPC, art. 109: “ A alienação da coisa ou do direito litigioso por ato entre vivos, a título particular, não altera a
legitimidade das partes.
§ 1º O adquirente ou cessionário não poderá ingressar em juízo, sucedendo o alienante ou cedente, sem que o consinta
a parte contrária.
§ 2º O adquirente ou cessionário poderá intervir no processo como assistente litisconsorcial do alienante ou cedente.
§ 3º Estendem-se os efeitos da sentença proferida entre as partes originárias ao adquirente ou cessionário.”

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Capacidade de ser parte: é pressuposto processual de existência ou validade. Isso porque, como visto na aula passada,
há a classificação ampla e restritiva dos pressupostos processuais. Assim, a depender da classificação a ser utilizada, a
capacidade de ser parte pode ser considerada pressuposto processual de existência ou de validade.
Capacidade estar em juízo (capacidade ad processum): é pressuposto processual de validade.
Capacidade (legitimidade) ad causam: é uma condição da ação (majoritariamente).

1.4. Representação (presentação) e assistência


No processo, regra geral, podem ser partes: pessoas físicas, pessoas jurídicas e as pessoas irregulares.

a) Pessoa física:
i) capaz (art. 70) - Regra geral: desnecessária representação (legitimação ordinária)
A pessoa física capaz possui capacidade ad processum.
Em regra, a pessoa física capaz não precisa ser representada ou assistida.
O professor destaca que o padrão do direito brasileiro é a legitimidade ordinária e, portanto, é desnecessária (em regra)
representação da pessoa capaz.
✓ Entretanto, se ela quiser conceder poderes a alguém, pode fazer isso por meio de um contrato de mandato
(procuração).

ii) Incapaz: representação x assistência (artigos 7111 e 3º e 4º do CC12) (NADA)

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CPC, art. 71: “O incapaz será representado ou assistido por seus pais, por tutor ou por curador, na forma da lei.”
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CC, art. 3º e art. 4º: “Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de
16 (dezesseis) anos. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
I - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
II - (Revogado) ; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - (Revogado) . (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; (Redação dada pela Lei nº
13.146, de 2015) (Vigência)
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)”

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Conforme visto anteriormente, o incapaz tem capacidade de ser parte (pois é ser humano) e ele também pode ter
capacidade ad causam. Entretanto, o incapaz não tem capacidade de estar em juízo (capacidade “ad processum”), pois
ele não é civilmente capaz.
✓ Se a pessoa for incapaz, ela precisa ser representada ou assistida (art. 71, CPC). Trata-se de uma ficção jurídica
criada para sanar o problema de incapacidade processual.
Obs.: o CPC faz uma diferenciação entre representação e assistência. A representação é para os absolutamente
incapazes (apenas menores de 16 anos). A assistência é para os relativamente incapazes.

Quando há o fenômeno da representação ou da assistência, o incapaz (absolutamente ou relativamente) é o titular do


direito material, mas toma emprestada a capacidade “ad processum” do representante ou assistente.
Exemplo: Um garoto de 5 anos tem capacidade de ser parte, mas não tem capacidade de estar em juízo (capacidade “ad
processum”), pois ele não é civilmente capaz. A despeito disso, esse garoto tem capacidade ad causam para pedir
alimentos para o pai, pois ele tem relação com a pessoa contra quem ele pede e com o pedido em si. Neste caso, o garoto
deverá ser representado pela mãe (por exemplo).

Obs.: De acordo com o Código Civil, somente o menor de 16 anos é absolutamente incapaz.

Quando há representação ou assistência, há defesa em nome alheio de direito alheio (NADA).

Cuidado: Não confunda legitimação ordinária (NPDP - nome próprio, direito próprio), legitimação extraordinária (NPDA –
nome próprio, direito alheio), representação e assistência (NADA – nome alheio, direito alheio).
Exemplo de representação: Carlinhos (5 anos), representado pela mãe Carla, ajuíza uma ação contra o pai Carlão. Na capa
do processo, constará o nome de Carlinhos.

✓ Obs.: O professor destaca que há uma diferença prática entre representação e assistência:
• Na representação, todos os atos são feitos mediante citação, intimação ou notificação do representante.
Todas as decisões são tomadas pelo representante. Assim, o ato processual é praticado exclusivamente
pelo representante em nome do incapaz.
Exemplo: ação em face de um menino de 5 anos. Neste caso, a mãe é citada e recebe as demais
comunicações processuais, pois é a representante do menor.
• Na assistência, a rigor, o ato processual é praticado em conjunto.
Exemplo: ação em face de um adolescente de 17 anos. Neste caso, o adolescente e a mãe são citados.

iii) Deficiente: capacidade (Lei 13.146/2015 – art. 1.783-A do CC) ou incapacidade (art. 1.767 do CC)

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De acordo com o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a regra é que o deficiente seja pessoa capaz. Apenas
excepcionalmente há a tomada de decisão apoiada (o deficiente pode nomear 2 apoiadores para ajudá-lo a tomar
decisões).
✓ Obs.: Em outros casos, excepcionalmente, há a curatela. Esta situação ocorre quando o deficiente não possui
condições de praticar nenhum ato jurídico e, nesse caso, pode ser necessária a representação (nos termos do art.
2º do CC).
✓ Como, em regra, o deficiente é capaz, ele pode propor ação no juizado especial (art. 8º da Lei 9099/9513).

b) Pessoa jurídica (art. 75 I, II, III, IV, VIII) (X e §3º - estrangeira – STJ, HDE 410/EX – CE)
O art. 75, CPC, fala sobre a representação da pessoa jurídica. Entretanto, a pessoa jurídica é presentada, ou seja, é a
própria pessoa jurídica que fala, mas por intermédio de uma pessoa física (sócios). Trata-se de uma ficção jurídica.

CPC, art. 75: “Serão representados em juízo, ativa e passivamente:


I - a União, pela Advocacia-Geral da União, diretamente ou mediante órgão vinculado;
II - o Estado e o Distrito Federal, por seus procuradores;
III - o Município, por seu prefeito ou procurador;
IV - a autarquia e a fundação de direito público, por quem a lei do ente federado designar;
VIII - a pessoa jurídica, por quem os respectivos atos constitutivos designarem ou, não havendo essa designação, por seus
diretores;
(...)

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Lei 9.099/95, art. 8º: “Não poderão ser partes, no processo instituído por esta Lei, o incapaz, o preso, as pessoas jurídicas
de direito público, as empresas públicas da União, a massa falida e o insolvente civil.
§ 1o Somente serão admitidas a propor ação perante o Juizado Especial: (Redação dada pela Lei nº 12.126,
de 2009)
I - as pessoas físicas capazes, excluídos os cessionários de direito de pessoas jurídicas; (Incluído pela Lei nº
12.126, de 2009)
II - as pessoas enquadradas como microempreendedores individuais, microempresas e empresas de pequeno porte na
forma da Lei Complementar no 123, de 14 de dezembro de 2006; (Redação dada pela Lei Complementar nº 147,
de 2014)
III - as pessoas jurídicas qualificadas como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, nos termos da Lei no 9.790,
de 23 de março de 1999; (Incluído pela Lei nº 12.126, de 2009)
IV - as sociedades de crédito ao microempreendedor, nos termos do art. 1o da Lei no 10.194, de 14 de fevereiro de
2001. (Incluído pela Lei nº 12.126, de 2009)
§ 2º O maior de dezoito anos poderá ser autor, independentemente de assistência, inclusive para fins de conciliação.

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X - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou
instalada no Brasil.
(...)
§ 3º O gerente de filial ou agência presume-se autorizado pela pessoa jurídica estrangeira a receber citação para qualquer
processo.”

Observação: sobre a questão da pessoa jurídica estrangeira (art. 75, X, CPC), a Corte Especial do STJ, em julgamento da
Homologação de Decisão Estrangeira 410(ementa disponível neste link), estabeleceu que, ainda que formalmente a
pessoa jurídica estrangeira não tenha uma agência, um representante ou uma filial/sucursal instalada no Brasil, se houver
alguém que, de fato, faça o papel da pessoa jurídica estrangeira, esta pessoa poderá ser citada/intimada no território
brasileiro.
O caso em questão se referiu a uma pessoa jurídica estrangeira que não possuía uma agência, um representante ou uma
filial/sucursal instalada no Brasil, mas havia uma outra pessoa jurídica que vendia os produtos da empresa originária.
Neste caso, o STJ entendeu que, com base na teoria da aparência, a segunda pessoa jurídica poderia ser citada/intimada
no território brasileiro.

c) Das empresas irregulares: presentação (75, IX e §2º - irregulares)

Empresa irregular é aquela pessoa que não depositou o seu estatuto social no registro civil de pessoas jurídicas.
Atenção: a irregularidade da constituição da pessoa jurídica não pode impedir que ela seja autora ou ré (art. 75, §2º, CPC),
pois, do contrário, várias delas ficariam na clandestinidade para não serem demandadas. Assim sendo, nestes casos, a
presentação é feita pela pessoa a quem couber a administração de seus bens.

Exemplo: “A” parou no semáforo e comprou um bombom de um menino. No produto, havia uma etiqueta fazendo
remissão a uma determinada fábrica X. “A” passa mal e, ao tentar ajuizar a ação contra a fábrica X, descobre que ela é
uma pessoa irregular. Neste caso, “A” deve processar a fábrica X, presentada pelo sócio administrador XXX.

CPC, art. 75, IX: “a sociedade e a associação irregulares e outros entes organizados sem personalidade jurídica, pela pessoa
a quem couber a administração de seus bens”

CPC, art. 75, §2º: “A sociedade ou associação sem personalidade jurídica não poderá opor a irregularidade de sua
constituição quando demandada.”

1.5. Personalidade judiciária – capacidade formal (75, V, VI, VII e XI e +); universalidades de fato e de direito e
órgãos/poderes com prerrogativas próprias.
Em caráter excepcional, o sistema brasileiro permite que pessoas que são universalidades de fato e de direito ou que são
órgãos/poderes com prerrogativas próprias possam propor ações.

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Essas entidades existentes apenas no plano jurídico possuem personalidade judiciária, isto é, podem ser parte em um
processo sem possuir personalidade jurídica. Algumas dessas entidades são mencionadas no art. 75, sem que este seja
um rol exaustivo.

“Art. 75. (...)


V - a massa falida, pelo administrador judicial;
VI - a herança jacente ou vacante, por seu curador;
VII - o espólio, pelo inventariante;
XI – o condomínio, pelo administrador ou síndico.”

✓ O professor destaca que, apesar de não constar na lei, os órgãos/poderes com prerrogativas próprias a defender
se incluem nesse rol. Exemplo: Câmara de vereadores.
✓ Nesse diapasão, admite-se a contratação de procuradores para a finalidade de defender órgãos/poderes com
prerrogativas próprias. Exemplo: procuradores legislativos.

ATENÇÃO: Essas entidades não têm personalidade jurídica própria. Entretanto, elas têm prerrogativas próprias para
defender. Assim, essas entidades têm personalidade judiciária.

1.6. O tratamento do cônjuge


O professor destaca que, neste tópico, ele não tratará de uniões estáveis, mas apenas do casamento em si.

a) No polo ativo (73, caput) (não é litisconsórcio ativo) (suprimento: art. 74 CPC).
O art. 73, caput, CPC, cita que, exceto em casos de casamento sob o regime de separação absoluta de bens, há a
necessidade de vênia conjugal para propor ação relativa a direito real imobiliário.
✓ Assim, o cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário,
exceto quando casados sob o regime de separação absoluta de bens. Exemplo: se a pessoa é casada e quer propor
uma ação que verse sobre direito real imobiliário (exemplo: ação reivindicatória, usucapião, anulação de hipoteca,
etc.), ela precisa de vênia conjugal, exceto em casos de casamento sob o regime de separação absoluta de bens.

Observação 1: não se trata de litisconsórcio ativo, pois o CPC fala em “consentimento” e não em litisconsórcio. O
dispositivo não cita que o cônjuge deve entrar com a ação conjuntamente.

Observação 2: atenção para o fato de que, em casos de casamento sob o regime de separação absoluta de bens, não é
necessária a outorga uxória.

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Observação 3: o art. 74 (caput e §único, CPC) afirma que, se o cônjuge não conceder, sem justo motivo, a autorização
necessária, esta pode ser judicialmente suprida (procedimento de jurisdição voluntária). Também é possível haver o
suprimento judicial se o cônjuge estiver impossibilitado de conceder a autorização.

CPC, art. 73: “O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário,
salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.”

CPC, art. 74: “O consentimento previsto no art. 73 pode ser suprido judicialmente quando for negado por um dos cônjuges
sem justo motivo, ou quando lhe seja impossível concedê-lo.
Parágrafo único. A falta de consentimento, quando necessário e não suprido pelo juiz, invalida o processo.”

Obs.: O professor destaca que, no meio acadêmico, há uma discussão sobre o fato de essa outorga uxória ser suprida em
outra ação ou nos mesmos autos da ação de direito real imobiliário. O professor entende que a outorga uxória demanda
uma ação própria.
✓ Se a pessoa ingressar com a ação sem a outorga uxória (quando necessária), o juiz reconhecerá a nulidade do
processo.

b) No polo passivo (art. 73, §§ 1º CPC) (possessória – art. 73, §2º CPC)
Diferentemente do caso anterior, este tópico trata de hipótese expressa de litisconsórcio passivo necessário.
Há quatro hipóteses narradas no art. 73, §1º, CPC, em que há necessidade de litisconsórcio passivo necessário, ou seja,
marido e mulher serão réus na demanda:
• 1º) O inciso I do art. 73 dispõe que, nas ações que versem sobre direito real imobiliário, marido e mulher serão réus no
processo (salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens);

• 2º) O inciso II aponta caso em que ambos os cônjuges contraíram a obrigação;

• 3º) Na hipótese do inciso III, apenas um dos cônjuges contraiu a obrigação, mas ambos foram beneficiados (dívida em
benefício da família); e

• 4º) O inciso IV aponta a ação que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel
de um ou de ambos os cônjuges. Exemplo: “A” quer retirar uma cláusula de inalienabilidade de um imóvel de um dos
cônjuges. Neste caso, como se presume que o imóvel seja do interesse da família, ainda que esteja no nome de apenas
um deles, é razoável que os cônjuges façam parte do processo.

CPC, art. 73, §1º: “Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles;

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III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os
cônjuges.”

Atenção: Conforme o art. 73, §2º, CPC, quando se tratar de questão possessória, somente é indispensável a participação
do cônjuge nos casos de composse ou de ato praticado por ambos.
✓ Obs.: O CPC não informa se a ação possessória imobiliária é abrangida pelo art. 73, caput ou pelo art. 73, §1º, I
do CPC.

CPC, art. 73, §2º: “Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas
hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.”

1.7. O tratamento da união estável (73, § 3º, CPC) (boa-fé)

O CPC/2015 dispõe, no art. 73, §3º, que o mesmo regime aplicado ao casamento será aplicado à união estável, desde que
documentalmente esteja comprovada nos autos.
✓ Assim, aplica-se à união estável o regime do art. 73, caput (autorização) e do art. 73, §§1º e 2º (litisconsórcio
passivo necessário).

Em relação à expressão “documentalmente comprovada”, há muita divergência na doutrina. Alguns afirmam que deve
haver escritura pública (entendimento minoritário), outros dizem que pode ser comprovada por qualquer outro meio
probatório.
✓ O professor adere à corrente que afirma ser necessária apenas a comprovação da união estável de fato, sem a
necessidade da escritura pública. Exemplo: certidão de nascimento de um filho em comum pode, a depender do
caso, ser considerado comprovante de união estável.

CPC, art. 73, §3º: “Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.”

Obs.: A questão da união estável deve ser interpretada à luz do princípio da boa-fé do art. 5º, CPC14. O indivíduo não pode
se valer da condição de convivente para, posteriormente, alegar a nulidade da ação (“nulidade de algibeira”).
Exemplo: a parte se define como solteira durante todo o trâmite processual. Ela perde a ação e, em sede de apelação, ela
alega a nulidade da ação por viver em união estável e por não ter havido a citação do seu companheiro. A isso se dá o
nome de nulidade de algibeira.

1.8. Regularização da representação e consequências da não regularização (76 e 139, IX, CPC)

14
CPC, art. 5º: “Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé.”

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O professor explica que a parte, no curso do processo, muitas vezes deixa de apresentar comprovação da constituição
societária, a procuração do advogado, a representação do incapaz, entre outros. Diante disso, o art. 76, CPC, em
consonância com o art. 139, IX, CPC (princípio do interesse jurisdicional do conhecimento de mérito), estabelece que é
dever do juiz manter a regularidade da representação da parte e do advogado durante todo o curso do processo.
✓ Atenção: Se as partes não regularizarem os vícios do processo, haverá consequências. Veja o disposto nos §§ 1º
e 2º o CPC:

CPC, art. 76: “Verificada a incapacidade processual ou a irregularidade da representação da parte, o juiz suspenderá o
processo e designará prazo razoável para que seja sanado o vício.
§ 1o Descumprida a determinação, caso o processo esteja na instância originária:
I - o processo será extinto, se a providência couber ao autor;
II - o réu será considerado revel, se a providência lhe couber;
III - o terceiro será considerado revel ou excluído do processo, dependendo do polo em que se encontre.
§ 2o Descumprida a determinação em fase recursal perante tribunal de justiça, tribunal regional federal ou tribunal
superior, o relator:
I - não conhecerá do recurso, se a providência couber ao recorrente;
II - determinará o desentranhamento das contrarrazões, se a providência couber ao recorrido.”

CPC, art. 139, IX: “O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
(...)
IX - determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais;”

2. Litisconsórcio

2.1. Aspectos conceituais


Litisconsórcio é sinônimo de “cúmulo subjetivo de demandas”, ou seja, demanda em que há mais de um autor e/ou mais
de um réu.
Em suma: o cúmulo subjetivo de demandas ocorre quando a ação é ajuizada por mais de uma pessoa ou contra mais de
uma pessoa. É também chamada de litisconsórcio.
✓ Obs.: O “cúmulo objetivo de demandas” se refere à cumulação de pedidos (art. 327 do CPC15).

15
CPC, art. 327: “É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre
eles não haja conexão.
§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que:
I - os pedidos sejam compatíveis entre si;
II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;

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2.2. Classificação
As classificações mais relevantes são:

2.2.1. Quanto aos sujeitos


a) Ativo: mais de um autor.
b) Passivo: mais de um réu.
c) Misto: mais de um autor e mais de um réu.

2.2.2 Quanto ao momento de formação


a) inicial (regra geral do sistema): o litisconsórcio será inicial toda a vez que sua formação ocorrer na própria propositura
da ação. É a regra geral do sistema, ou seja, toda a vez que não houver disposição legal em contrário, o litisconsórcio será
inicial. Isso ocorre para preservar o princípio do juiz natural (predefinição do juiz competente), isto é, para não dar às
partes a oportunidade de escolher o juiz da causa.

b) ulterior (exceção – depende de lei): em hipóteses excepcionais, o litisconsórcio ulterior é permitido. Essas hipóteses
estão estabelecidas em lei.

Exemplos:
i. conexão (55 e 58 CPC):
A conexão ocorre quando houver identidade de pedido ou causa de pedir entre duas ou mais ações.
Por questão de economia processual e para evitar decisões contraditórias, o CPC determina que, se possível, as ações
conexas serão reunidas para julgamento conjunto e isso ocorrerá no juízo prevento (art. 58, CPC16).
Exemplo: imagine um acidente de trânsito que envolva 4 veículos e que dê ensejo a 3 ações diferentes. Neste exemplo, a
causa de pedir é a mesma em todas as ações e, portanto, há conexão. Tais ações serão reunidas para julgamento conjunto
no juízo prevento (aquele que recebeu a 1ª ação – art. 59, CPC17). Neste caso, há formação de litisconsórcio ulterior por
conexão.

III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.


§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor
empregar o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos
procedimentos especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as
disposições sobre o procedimento comum.
§ 3o O inciso I do § 1o não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326.”
16
CPC, art. 58: “A reunião das ações propostas em separado far-se-á no juízo prevento, onde serão decididas
simultaneamente.”
17
CPC, art. 59: “O registro ou a distribuição da petição inicial torna prevento o juízo.”

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CPC, art. 55: “Reputam-se conexas 2 (duas) ou mais ações quando lhes for comum o pedido ou a causa de pedir.”

ii. Intervenção iussu iudicis (art. 115, parágrafo, CPC)


Se o juiz, no curso do processo, perceber que a demanda deveria abranger litisconsortes passivos necessários,
determinará a inclusão dos litisconsortes.
Exemplo: “A” processa “B” em uma ação de direito real imobiliário. “B” alega que é casado em regime de comunhão
parcial de bens. Neste caso, o juiz determina a inclusão do cônjuge de “B”.

CPC, art. 115, § único: “Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira a citação
de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo.”

iii. intervenção de terceiros (127, 130, CPC):


Há circunstâncias em que a lei permite a junção de um litisconsorte no processo que já está em andamento.
Exemplo: denunciação à lide (art. 127, CPC) e chamamento ao processo (art. 130, CPC).

CPC, art. 127: “Feita a denunciação pelo autor, o denunciado poderá assumir a posição de litisconsorte do denunciante e
acrescentar novos argumentos à petição inicial, procedendo-se em seguida à citação do réu.”

CPC, art. 130: “É admissível o chamamento ao processo, requerido pelo réu:


I - do afiançado, na ação em que o fiador for réu;
II - dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles;
III - dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns o pagamento da dívida comum.”

iv. art. 1.698 do CC (alimentos avoengos – Súmula 596 do STJ) (pelo autor ou réu – enunciado 523, V Jornada Direito
Civil-CJF18)
O artigo 1.698, CC, cita que, quando aquele que tem a obrigação de pagar alimentos não tiver condição de fazê-lo, poderão
ser chamados os parentes de grau imediato para suportar os ônus.
Exemplo: A criança ingressa com a ação em face do avô paterno. Este contesta a ação e pede para o avô materno integrar
o processo.

CC, art. 1.698: “Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o
encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas

18
Enunciado 523, V JDC: “O chamamento dos codevedores para integrar a lide, na forma do art. 1.698 do Código Civil,
pode ser requerido por qualquer das partes, bem como pelo Ministério Público, quando legitimado.”

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devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser
chamadas a integrar a lide.”

Súmula 596-STJ: “A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no
caso de impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais.”

✓ Atenção: a hipótese do art. 110 do CPC (sucessão causa mortis)19 não constitui litisconsórcio ulterior. Segundo o
professor, não se trata de litisconsórcio ulterior, pois, neste caso, os sucessores estão na demanda presentando
o espólio. Nesta situação, não são ampliadas as partes do processo, mas somente os “presentantes” de uma das
partes.

2.2.3. Quanto aos efeitos (definição a partir do direito material)


O que define se o litisconsórcio será simples ou unitário é o direito material.
Quanto aos efeitos, o litisconsórcio pode ser simples ou unitário.

a) simples (exemplo: art. 1.698 do CC): litisconsórcio simples é aquele cujos efeitos da decisão, a partir do direito material,
podem ser distintos/diferentes para os litisconsortes.
Assim, toda vez que o juiz puder decidir de modo diferente para os litisconsortes, ele será simples.
Exemplo 1: obrigação alimentar (art. 1.698, CC) – como a obrigação é divisível, o resultado pode ser diferente para cada
litisconsorte. Neste caso, por exemplo, podem ser chamados os quatro avós e a quantia a ser arbitrada a cada um pode
tanto ser igual (1/4 para cada) ou pode ser diferente, a depender da condição financeira de cada um deles.
Exemplo 2: sentença de procedência da usucapião. Neste caso, as partes são o proprietário, os confinantes e a Fazenda
Pública. Se a ação é julgada procedente, a decisão é diferente para cada um dos envolvidos: o proprietário perdeu a
propriedade do bem imóvel; os vizinhos ganharam um novo vizinho; e a Fazenda Pública municipal terá um novo sujeito
passivo do IPTU.

b) unitário (art. 116 CPC20) (exemplos: art. 158 do CC; 1.571, II do CC etc.): neste caso, o efeito da decisão deve ser o
mesmo para todos os litisconsortes. É impossível que os efeitos da decisão sejam diferentes entre os litisconsortes do
mesmo polo.

19
CPC, art. 110: “Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a sucessão pelo seu espólio ou pelos seus sucessores,
observado o disposto no art. 313, §§ 1º e 2º .”
20
CPC, art. 116: “O litisconsórcio será unitário quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito
de modo uniforme para todos os litisconsortes.”

16
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Exemplos: ação pauliana (art. 158, CC21) e ação anulatória de casamento (art. 1571, II, CC 22). Perceba que é impossível,
em uma ação pauliana ou em um casamento, anular o negócio jurídico ou o casamento (respectivamente) para apenas
uma das partes.
✓ Em suma: É necessário analisar a (in) divisibilidade do direito material debatido: se o direito material em debate
for cindível, o litisconsórcio será simples. Entretanto, se a relação jurídico-material for incindível, estar-se-á diante
de uma hipótese de litisconsórcio unitário.
✓ Atenção: No caso do litisconsórcio simples, basta a possibilidade de as decisões serem diferentes, ainda que o
juiz decida igualmente para todos os litisconsortes.

2.2.4. Quanto à obrigatoriedade


a) facultativo (113, CPC): é aquele opcional, ou seja, caso haja ausência de formação desse litisconsórcio, não há vícios ao
processo. É critério exclusivo do autor.

CPC, art. 113: “Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.”

i. comunhão (art. 264, CC): ocorre quando os direitos ou obrigações dos litisconsortes são os mesmos.
✓ A intensidade do vínculo entre as partes é maior no litisconsórcio facultativo por comunhão.
Exemplo: solidariedade (art. 264 do CC23). “A” e “B” são credores solidários de “C”. Neste caso, “A” e “B” podem cobrar a
dívida conjuntamente ou separadamente.

ii. conexão (art. 55 do CPC) – Quando as partes têm identidade de pedidos ou de causas de pedir, é possível a formação
de litisconsórcio.
✓ A intensidade do vínculo entre as partes é intermediária no litisconsórcio facultativo por conexão.

21
CC, art. 158: “Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente,
ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como
lesivos dos seus direitos.
§ 1 o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2 o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.”
22
CC, art. 1571, II: “A sociedade conjugal termina: (...)
II - pela nulidade ou anulação do casamento;”
23
CC, art. 264: “ Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor,
cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda.”

17
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Exemplo: acidente de trânsito que envolva 3 veículos. Neste caso, cada um dos envolvidos pode propor a ação
separadamente ou em conjunto.

iii. afinidade (litisconsórcio impróprio): nesse caso, não há comunhão de direitos ou obrigações e não há identidade entre
pedidos ou causas de pedir, mas as questões de fato ou de direito no processo são comuns (afins). Neste caso, por razões
de economia processual, o processo pode ser proposto conjuntamente.
✓ A intensidade do vínculo entre as partes é menor no litisconsórcio facultativo por afinidade.
Exemplo: ações relativas a direitos de servidores públicos podem ser propostas individualmente ou conjuntamente.

b) necessário (art. 114, CPC) (legitimidade ad causam plúrima): nesse caso, o litisconsórcio é obrigatório, sob pena de
invalidade ou ineficácia da relação jurídico processual.

A legitimidade “ad causam” é a relação entre quem pede, o que pede e contra quem pede. Ela é vista à luz do direito
material.
✓ Às vezes, o sistema estabelece a legitimidade “ad causam” plúrima, que ocorre quando a lei/sistema só considera
a pessoa parte legítima se ela estiver em conjunto com outro titular do direito material.
Assim sendo, se, exemplificativamente, há um caso em que o litisconsórcio necessário não foi formado, o juiz
indefere a inicial por falta de condição da ação (ilegitimidade da parte).

CPC, art. 114: “O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza da relação jurídica
controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que devam ser litisconsortes.”

São duas as hipóteses de litisconsórcio necessário:


i. por força da lei (Exs. 73, § 1º; 683, parágrafo único, CPC): ocorre quando há determinação legal.
Exemplo 1: litisconsórcio necessário entre os cônjuges, como, por exemplo, nas ações de direito real imobiliário (art. 73,
§1º, CPC).
Exemplo 2: oposição (art. 683, §único, CPC) – Imagine que “A” e “B” brigam por um bem. Neste caso, “C” ingressa em
juízo e afirma que o bem, na verdade, é dele. Neste caso, a oposição deve ter, como réus, os autores da ação original.

CPC, art. 73: “§ 1o Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os
cônjuges.”

CPC, art. 683: “O opoente deduzirá o pedido em observação aos requisitos exigidos para propositura da ação.

18
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Parágrafo único. Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoa de seus respectivos
advogados, para contestar o pedido no prazo comum de 15 (quinze) dias.”

ii. por força da unitariedade:


Se, eventualmente, a relação jurídica material for incindível, necessariamente, todos os que serão atingidos pela decisão
serão partes no processo.
✓ Como regra geral, a mesma razão que impõe o litisconsórcio unitário, impõe o litisconsórcio necessário, ou seja,
a incindibilidade do direito material em debate.
Exemplos: ação pauliana (exemplo: anulação de compra e venda simulada); e ação anulatória de casamento.

Combinação das figuras e nota geral


O professor destaca que, como regra, é possível a combinação de todas as classificações feitas anteriormente (quanto aos
sujeitos, ao momento, aos efeitos e à obrigatoriedade).
Exemplo: É possível ter um litisconsórcio ativo, inicial, simples e facultativo.
✓ Obs.: Apesar de, regra geral, ser possível a combinação entre as classificações feitas anteriormente, existem
exceções que serão abordadas posteriormente.

Nota geral: O litisconsórcio facultativo, em regra, é simples. O litisconsórcio necessário, em regra, é unitário.
O litisconsórcio por força (incindibilidade) da relação jurídica será unitário e necessário (regra geral), salvo quando a lei
expressamente admitir a legitimação concorrente (Exs. arts. 103 da CF24, 5º da LACP25, 1.314 do CC26, etc.) - , caso em que
será facultativo e unitário.

24
CF, art. 103 (incisos): “Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de
constitucionalidade: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V o Governador de Estado ou do Distrito
Federal; VI - o Procurador-Geral da República; VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII - partido
político com representação no Congresso Nacional; IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.”
25
Lei 7347/85, art. 5º (incisos): “Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:
I - o Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a
autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação que, concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou ao
patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. (Redação dada pela Lei nº 13.004, de 2014)”
26
CC, art. 1.314: “Cada condômino pode usar da coisa conforme sua destinação, sobre ela exercer todos os direitos
compatíveis com a indivisão, reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a respectiva parte ideal, ou gravá-la.

19
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✓ Nestes casos, ainda que a relação jurídica seja incindível, o litisconsórcio será facultativo e unitário.
Exemplo: No caso do art. 103 da CF, é possível que o Procurador-Geral da República proponha a ADI junto com a
OAB. Entretanto, é impossível que a ação seja julgada inconstitucional para o PGR, mas seja julgada constitucional
para a OAB (relação jurídica incindível).

2.3. Figuras problemáticas


Como dito anteriormente, apesar de, regra geral, ser possível a combinação entre as classificações feitas anteriormente,
existem figuras problemáticas.

2.3.1 Litisconsórcio ativo, facultativo e ulterior (art. 5º, XXXVII, CF)


Esse litisconsórcio, salvo com expressa autorização legal, é vedado pelo sistema, pois essa composição (litisconsórcio
ativo, facultativo e ulterior) pode violar o princípio do juiz natural.
Exemplo: a empresa de tabaco “A” ajuíza uma ação tributária para discutir determinada tese. O processo é distribuído
para a 3ª vara estadual e, neste juízo, é dada uma decisão liminar para suspender a exigibilidade do crédito tributário. A
empresa de tabaco “B” poderia ter entrado com a ação juntamente com a empresa de tabaco “A”, mas não o fez. Se fosse
possível que a empresa de tabaco “B” formasse o litisconsórcio ativo, facultativo e ulterior, ela estaria escolhendo o juízo
da demanda e faria isso por conta da concessão da liminar.
✓ Assim sendo, regra geral, o litisconsórcio ativo, facultativo e ulterior é inconstitucional. A exceção ocorre quando
há expressa autorização legal. Exemplos: casos de conexão, intervenção de terceiros etc.

CF, art. 5º, XXXVII: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
(...)
XXXVII - não haverá juízo ou tribunal de exceção;”

2.3.2. Litisconsórcio ativo necessário


Se o litisconsórcio é ativo, ele tem que ser formado por mais de um autor. Se o litisconsórcio é necessário, cria-se uma
situação problemática, pois há violação concomitante do acesso à justiça da parte que quer propor a ação e da liberdade
de agir de quem não quer propor a demanda.
✓ Em suma: se a outra pessoa se recusa a ingressar com a ação, a pessoa que deseja ingressar em juízo será
prejudicada (ou seja, não poderá ingressar sozinha). Se, entretanto, a outra pessoa for obrigada a ingressar em
juízo, ela terá seu direito à liberdade de agir violado.
Em relação a isso, há duas posições:

Parágrafo único. Nenhum dos condôminos pode alterar a destinação da coisa comum, nem dar posse, uso ou gozo dela a
estranhos, sem o consenso dos outros.”

20
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a) inexiste (art. 115, §único, CPC) (75, § 1º, CPC): é a posição dominante. Para os adeptos dessa posição, o litisconsórcio
ativo é sempre facultativo.

Obs.: O art. 115, § único do CPC informa que o juiz apenas poderá determinar a formação do litisconsórcio no polo passivo.

CPC, art. 115: “Parágrafo único. Nos casos de litisconsórcio passivo necessário, o juiz determinará ao autor que requeira
a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro do prazo que assinar, sob pena de extinção do processo.”

Obs.: O art. 75, §1º não diz que a ação terá que ser proposta por todos os herdeiros, mas apenas cita que todos eles
deverão ser intimados.

CPC, art. 75, §1º: “Quando o inventariante for dativo, os sucessores do falecido serão intimados no processo no qual o
espólio seja parte.”

b) existe (114, § 2º, CF) (26 EOAB)


Apesar de a posição anterior ser a dominante, há exemplos de que o litisconsórcio ativo necessário existe. São eles:
• O art. 114, §2º da CF afirma que, quando houver litígio entre as categorias, elas devem tentar negociar a solução
do problema. Não havendo acordo, é possível levar o caso ao Poder Judiciário por meio de dissídio coletivo. O
dissídio coletivo somente será aberto se ambas as categorias recorrerem ao Poder Judiciário (STF, ADI 3423)

CF, art. 114, §2º: “Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de
comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito,
respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas
anteriormente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)”

• O art. 26, Lei 8.906/94, afirma que o advogado substabelecido não pode cobrar honorários sem a participação do
advogado que substabeleceu.

Lei 8.906/94 (EOAB), art. 26: “O advogado substabelecido, com reserva de poderes, não pode cobrar honorários sem a
intervenção daquele que lhe conferiu o substabelecimento.”

2.3.3. Litisconsórcio passivo eventual (com preferência) (art. 326, CPC)


2.3.4. Litisconsórcio passivo alternativo (sem preferência)(Ex. 547, CPC)

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O litisconsórcio passivo eventual e o litisconsórcio passivo alternativo não possuem previsão legal, mas a existência deles
pode ser inferida da leitura do art. 326 do CPC27.

Obs.: Embora sem previsão legal expressa, a doutrina admite a formação de um litisconsórcio com mais de uma parte
para que, não sendo possível o julgamento contra uma, seja possível o julgamento contra a outra. Em outras palavras, em
ambos (litisconsórcio passivo eventual e litisconsórcio passivo alternativo), os pedidos são direcionados a mais de um
requerido, mas eles são direcionados com o fito de que, não sendo possível a condenação de um, seja deferida a
condenação em relação ao outro.
• No litisconsórcio passivo eventual, é apresentada uma preferência de ordem em relação a quem será condenado.
• No alternativo, não há essa preferência.

Exemplo de litisconsórcio passivo eventual (com preferência): ação de investigação de paternidade proposta em face de
dois prováveis pais, em que a mãe aponta uma das partes passivas como preferencial em relação à outra parte.

Exemplo de litisconsórcio passivo alternativo: ação de investigação de paternidade proposta em face de dois prováveis
pais, em que a mãe não aponta uma das partes passivas como preferencial.

Exemplo de litisconsórcio passivo alternativo: art. 547, CPC 28- Na consignação em pagamento, se houver dúvida, o juiz
autoriza o ajuizamento de ação contra os dois supostos credores. Neste caso, o autor quer apenas que se declare o
pagamento da dívida, não importando necessariamente quem é o credor.

2.4 Litisconsórcio (ativo/facultativo) multitudinário (art. 113, §§ 1º e 2º CPC).


Multitudinário vem da palavra “multidão”. Assim, haverá esse tipo de litisconsórcio quando houver um número
relativamente grande de autores.

Nos termos do art. 113, CPC, o juiz, na fase de conhecimento ou na fase de liquidação e execução, pode limitar o número
de autores com o objetivo de:
i) proteger a celeridade;
ii) defender o direito de defesa; ou
iii) viabilizar o cumprimento de sentença.

27
CPC, art. 326: “É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior,
quando não acolher o anterior.
Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz acolha um deles.”
28
CPC, art. 547: “Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o pagamento, o autor requererá o depósito
e a citação dos possíveis titulares do crédito para provarem o seu direito.”

22
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Obs.: O juiz apenas pode limitar o número de litisconsortes no litisconsórcio facultativo.

CPC, art. 113: “Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente, quando:
I - entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente à lide;
II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
III - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito.
§ 1o O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes na fase de conhecimento, na
liquidação de sentença ou na execução, quando este comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o
cumprimento da sentença.
§ 2o O requerimento de limitação interrompe o prazo para manifestação ou resposta, que recomeçará da intimação da
decisão que o solucionar.”

Questões importantes:
a) Qual o número de litisconsortes que prosseguem? A resposta para essa questão depende do caso concreto.

b) Pode de ofício ou o réu deve requerer? (art. 113, § 2º, CPC) É possível que haja a limitação de ofício ou a requerimento
do réu.

Obs.: nos termos do art. 113, §2º, CPC, o requerimento de limitação interrompe o prazo para a contestação, que
recomeçará da intimação da decisão que o solucionar.

c) Quem define quais serão excluídos? Na opinião do professor, quem define as partes que ficam no processo que
prossegue e quem será dele excluído é o advogado da parte e não o juiz.

d) Quem desmembra o feito? O professor ressalta que, na prática, o próprio advogado das partes fará o
desmembramento.

e) O juiz da ação originária é competente para as ações desmembradas? Essa questão é polêmica e há divergência na
doutrina.
✓ Apesar de a ideia da cisão ser dividir serviço para vários juízes, o artigo 286 do CPC29 acaba por informar a
distribuição por dependência à vara da ação desmembrada (prevenção). Esta é a posição majoritária.

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CPC, art. 286: “Serão distribuídas por dependência as causas de qualquer natureza:
I - quando se relacionarem, por conexão ou continência, com outra já ajuizada;
II - quando, tendo sido extinto o processo sem resolução de mérito, for reiterado o pedido, ainda que em litisconsórcio
com outros autores ou que sejam parcialmente alterados os réus da demanda;
III - quando houver ajuizamento de ações nos termos do art. 55, § 3o, ao juízo prevento.

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f) Cabe recurso da decisão que limita ou não limita (art. 1015, VII e VIII, CPC30)?
Sim. Conforme disposto no art. 1.015, VII e VIII, CPC, cabe agravo de instrumento.

g) Pode substituir pelo art. 139, VI, CPC?


O professor entende que é possível que o juiz substitua a limitação do litisconsórcio multitudinário pela ampliação do
prazo do art. 139, VI31, CPC.
✓ Assim, nas hipóteses em que o fundamento do desmembramento for a dificuldade do direito de defesa, o juiz
pode ampliar o prazo com base no art. 139, VI, CPC.

Parágrafo único. Havendo intervenção de terceiro, reconvenção ou outra hipótese de ampliação objetiva do processo, o
juiz, de ofício, mandará proceder à respectiva anotação pelo distribuidor.”
30
CPC, art. 1.015, VII e VIII:
“Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:

(...)
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;(...)”
31
CPC, art. 139, VI: “dilatar os prazos processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às
necessidades do conflito de modo a conferir maior efetividade à tutela do direito;”

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