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1- Introdução
Em um sistema federativo, os entes dispõem de autonomia política e
administrativa para fazerem suas escolhas quanto às políticas a serem
implementadas em seu território. Compreender os motivos e processos que levam
a adoção de políticas por estes entes é o objeto de atenção dos estudos de
difusão de políticas públicas.
1
Dados disponíveis em: <https://aplicacoes.mds.gov.br/sagi/RIv3/geral/>. Último acesso em 26/05/2019.
estudados e os segundos para verificarmos as diferenças nos resultados da
implementação da política de assistência social em contextos assemelhados.
Para orientação de quais dados seriam relevantes para a gestão da política
de assistência social nos valemos das orientações contidas na Portaria MDS nº
113 de 2015 que regulamenta o planejamento, a execução e a prestação de
contas dos recursos transferidos na modalidade fundo a fundo dos Programas,
Projetos e dos Blocos de Financiamento dos serviços de Proteção Social Básica,
Especial de Média e de Alta Complexidade, além dos Índices de Gestão
Descentralizada do Programa Bolsa Família e do Sistema Único de Assistência
Social – SUAS.
Organizamos os dados dos municípios a partir das 26 DRADS (Diretorias
Regionais de Assistência e Desenvolvimento Social), órgãos descentralizados da
estrutura administrativa da Secretaria Estadual de Assistência e Desenvolvimento
Social de São Paulo, responsáveis pelo acompanhamento e apoio técnico aos
municípios paulistas.
Das 26 DRADS, 5 foram excluídas do escopo deste trabalho - Alta Paulista
em Dracena, Capital em São Paulo, Fernandópolis, Itapeva e Vale do Ribeira em
Registro – visto que não dispõem de municípios de grande porte. Também não
foram incluídas no escopo deste trabalho outras 8 DRADS: Alta Sorocabana
(Presidente Prudente), Avaré (Ourinhos), Barretos, Botucatu, Franca, Marília,
Mogiana (Mogi Guaçu) e São José do Rio Preto que dispunham de apenas um
município de grande porte, não sendo possível a comparação interna na
respectiva Direção Regional.
Das 13 DRADS que contêm mais de um município de grande porte – Alta
Noroeste em Araçatuba,Araraquara, Baixada Santista em Santos, Bauru,
Campinas, Grande São Paulo ABC em Santo André, Grande São Paulo Leste em
Mogi das Cruzes, Grande São Paulo Norte em Guarulhos, Grande São Paulo
Oeste em Osasco, Piracicaba,Ribeirão Preto, Sorocaba e Vale do Paraíba em
São José dos Campos – buscamos estabelecer critérios de similaridade
contextual, a partir de duas variáveis: contingente populacional e orçamento
anual. O desempenho no SUAS e o proxy para autonomia foram verificados
através das variáveis: Nivel de habilitação da gestão, Índices de gestão, Rede de
equipamentos (CRAS, CREAS e Centro POP) e Montante de recursos
repassados ao FMAS.
Com esse método, isolamos as variáveis que poderiam interferir no
resultado de nossa análise – contingente populacional, recursos orçamentários e
perfil regional – e assim verificamos se existe variação no desempenho e perfil
dos municípios na gestão local do SUAS em contextos equivalentes, sugerindo a
autonomia dos municípios em realizar suas escolhas de implementação de
políticas em seus territórios, mesmo sob forte coordenação central a partir dos
Sistemas Únicos.
Após aplicarmos os critérios de similaridade, apenas 7 DRADS tiveram
municípios equivalentes onde foi possível realizarmos a comparação dos dados:
a) DRADS Araraquara: Municípios de Araraquara e São Carlos2
Indicadores Araraquara São Carlos
Orçamento (2011) R$368.100.000,00 R$368.100.000,00
População (2010) 208662 221950
Extrema Pobreza (2010) 1,10% 0,9%
Orçamento Assistência Social (2011) 3,26% 1,49%
Gestão (2017) Plena Plena
IGD-M e IGD-SUAS (2018) 0,77 – 0 0,72 – 0,86
Nº CRAS, CREAS e Centro POP (2018) 10 – 1 – 1 5–1–1
Repasse CadÚnico – PBF (2018) R$212.806,84 R$129.774,30
Repasse PSB (2018) R$371.699,91 R$571.699,91
Repasse PSE (2018) R$893.670,00 R$147.060,00
Repasse Total (2018) R$1.491.623,02 R$1.033.720,46
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A análise mais detida de São Carlos e Araraquara se dá por uma demonstração mais direta de um
exemplo. Para as outras DRADS, os dados são apresentados e a análise geral é feita ao fim da apresentação.
Orçamento R$ 592.900.000 R$566.300.000 R$497.800.000
Achados:
O porte do município não é um indicador sensível para organizar
metodologicamente a comparação entre municípios. O intervalo da classificação
de grande porte (100 a 900 mil habitantes) agrupa matizes muito grandes de
perfis municipais. Um fator importante, neste sentido, são as diferenças regionais:
mesmo compondo o mesmo estado, as regiões paulistas possuem características
muito diferentes (região metropolitana, litoral, interior), tanto no que se refere às
atividades econômicas e até mesmo características culturais. Assim o método
utilizado foi importante para agrupar e comparar de fato municípios de grande
porte equivalentes.
Pudemos observar que a maior quantidade de recursos orçamentários
investidos na área de assistência social não se correlaciona a melhor ou pior
desempenho no SUAS. Ao mesmo tempo, IGD e IGD-SUAS não guardam relação
direta com o montante de recursos repassados.
O nível de habilitação da gestão do SUAS não está diretamente ligada ao
montante orçamentário ou contingente populacional do município: há municípios
com menores estruturas e gestão plena; e municípios maiores com gestão básica.
A estrutura de rede (nº de CRAS, CREAS e Centro POP), embora faça
diferença no IGD-SUAS e amplie os atendimentos realizados não é decisivo na
ampliação dos repasses, visto que especialmente a proteção especial é realizada
hegemonicamente por entidades sociais credenciadas.
De maneira geral, observamos que municípios equivalentes apresentam
escolhas e resultados diferentes em relação ao SUAS, o que indica que mesmo
sujeito aos mesmos estímulos externos, há fatores internos que condicionam as
escolhas e o desenho de política a ser implementada em seu território. Assim, a
adesão dos municípios ao SUAS não significa necessariamente a difusão da
política, visto que há espaço para, mesmo aderindo, o município possa construir
trajetória diferenciada.
Importante salientar a limitação deste estudo, que não observou séries
históricas, estando limitado aos indicadores de gestão do SUAS referentes ao ano
de 2018, e dados demográficos e orçamentários relativos a 2010 e 2011.
5- Referências Bibliográficas
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