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Stephanie de Mello Dana Gil

Turma B - Manhã
30/11/2020

Avaliação Final - Audiovisual Contemporâneo Brasileiro

1) Ao analisar o filme Negrume de Diego Paulino, uma das questões mais fortes e
evidentes no filme é a afirmação do lugar da pessoa negra. Com o apagamento de suas
próprias histórias e raízes a narrativa desse documentário tenta conectar essas pessoas a
um novo futuro, uma nova sociedade que eles estão lutando para construir.
O filme acaba tendo sua relação direta com o texto de Carlos Calenti em "Octavia
Butler, Afrofuturismo e a necessidade de criar novos mundos" que traz o tema do
Afrofuturismo à tona. Os protagonistas de Negrume (todos negros) afirmam e enaltecem a
cor de sua pele, tornam-se protagonistas de sua propria história e dialogam com o mundo
que querem construir, porém, não são apenas narrativas individuais mas sim de um
coletivo, pois as histórias das pessoas negras serão sempre fragmentadas devido ao seu
histórico, como visto na introdução do texto feita por Kênia Freitas :

o cinema negro surge como um fragmento narrativo


de uma memória coletiva e das memórias individuais que nunca irão
compor um discurso totalizante – pois existe, desde a sua mais longínqua
origem, como um fragmento, como uma reminiscência de uma/milhões
de história(s) apagada(s).O que veremos na tela, então, é uma história fragmentada de uma
história que só pode ser fragmentada.
CALENTI​, Carlos. Octavia Butler, Afrofuturismo e a necessidade de criar novos mundos. 
Dossiê Mostra Afrofuturismo: cinema e música em uma diáspora intergaláctica. Itaú Cultural, São 
Paulo. 2015. 
 
O texto de Carlos Calenti ainda traz em conta que o afrofuturismo não é apenas uma 
questão de representação mas sim reivindicações, de luta. Lutas por um futuro melhor que 
serão construídas coletivamente por essa comunidade, traçando linhas de fuga para os 
problemas do presente e isso é visto no filme. Cada indivíduo se posiciona nessa luta para além 
de si mesmo, para todos que compartilham na pele o racismo estrutural brasileiro, o machismo, 
a transfobia entre muitos outros.  
Cria-se um discurso no final do documentário sobre a origem do “negrume” que ele veio 
dos céus, do espaço e que ele vai ganhar o seu espaço. Tal jogo de palavras reflete ao figurino e 
questões estéticas como a trilha sonora e montagem que trazem uma sensação de ficção 
científica, cortes da montagem e colorização que lembram em muitos aspectos filmes como 
“Blade Runner” e “Star Wars” que foram o auge da ficção científica nos anos 80. 
Em conclusão, o Afrofuturismo é tão intrínseco ao filme Negrume que se torna 
impossível ter a experiência de ver um sem ver o outro. Suas reflexões e críticas fazem com que 
eles tomem seu lugar de direito, se tornem parte de uma narrativa apagada, mostrem a 
sociedade que vão ser ouvidos pois vão criar um mundo/futuro onde os problemas tão 
enraizados atualmente deixarão de existir. 
2) ​A ficção científica é um dos gêneros mais conhecidos da indústria cinematográfica e um
dos mais recorrentes no mundo atual. Ela é um gênero de cunho temporal pois a mesma
prospecta ao futuro ao mesmo tempo que traz uma análise ao presente, acaba se
deslocando ao tempo para refletir no mundo em que vivemos e que podemos viver algum
dia. Essas reflexões a respeito de um tempo não vivido nascem de um imaginário e vivência
coletiva, trazendo consigo desejos, medos, expectativas, podendo mostrar as ruínas ou
uma salvação futura. Invasões alienígenas, desastres naturais, guerras são apenas reflexos
de uma sociedade que muitas vezes vê a destruição do mundo como uma verdade
absoluta.
Porém a ficção científica tem o poder de “terraformar” um mundo totalmente novo
capaz de embarcar parcelas da população que não vem mais a solução para o presente.
Trazer consigo um ambiente propício para a vida humana, mesmo que a primeira vista essa
ideia parece ser utópica. Como vista em gêneros de “afrofuturismo”, criar um futuro onde
poderíamos reescrever a história daqueles que foram apagados.
Na contextualização do audiovisual brasileiro, obras de ficção vem tomando força e
nascendo em um momento incerto no país. Um dos filmes que flerta com o gênero é o
famoso “Bacurau” de Kléber Mendonça Filho que não precisa ir muito longe em uma linha
do tempo para mostrar um futuro possível onde uma opressão e dominação (já existentes) é
escalonada ao absurdo, mas que no final das contas é totalmente plausível. Assim cria-se
uma crítica ao futuro que possa trazer uma reflexão ao nosso presente. De tal forma que
evidencia ainda mais o poder de transformação da ficção científica.
“ Os melhores trabalhos de ficção
científica são aqueles que arrastam nossas noções pré-concebidas da realidade
para os seus limites, pegam algumas das suas partículas e as saturam ou
tiram tudo delas, de qualquer forma, as compõem em movimentos múltiplos,
delirantes.Produzem, através da linguagem, esses buracos que nos permitem
ver por trás dela, através dela. Neles, também tudo é político e coletivo – a
ação individual não pode existir separada de um mundo novo inteiro criado,
e que essa ação necessariamente cria e transforma continuamente.”
CALENTI​, Carlos. Octavia Butler, Afrofuturismo e a necessidade de criar novos mundos. 
Dossiê Mostra Afrofuturismo: cinema e música em uma diáspora intergaláctica. Itaú Cultural, São 
Paulo. 2015. 
 
Após tais fatos apresentados, conclui-se que a constituição de um audiovisual brasileiro 
na ficção científica força a sociedade a pensar em um futuro analisando o presente e que tais 
reflexões podem trazer mudanças para nosso momento caótico no país. Reflexões que fazem 
com que se pense em minorias, injustiças, mudanças que são apagadas e deixadas de lado por 
natureza. Esse gênero faz com que todas as feridas sejam expostas e que não precisamos viajar 
a mil anos luz para trazer uma mudança no presente.  
 
3) ​Nesse segundo semestre de 2020, onde tivemos que estudar remotamente
devido ao covid-19 eu tinha receio que o ensino a distância pudesse ser inferior ao
presencial, entretanto, não só na matéria de Audiovisual Contemporâneo Brasileiro todos os
professores se esforçaram ao máximo para trazer uma experiência boa de aprendizado que
pudesse se equiparar ao acostumado. Assim, nesta matéria especificamente eu senti que
ela cumpriu o seu dever, trazendo o conhecimento que foi proposto no início do semestre.
Pessoalmente eu tentei acompanhar toda a matéria dada pela professora, contando
com os textos extras e sugestões, porém como eu trabalho boa parte do dia não conseguia
dar 100% de minha atenção para a matéria, sendo que tinha vezes que a situação que
estamos presenciando mundialmente com essa doença me influenciava e eu tinha vontade
de fechar meus olhos e esquecer um pouco o caos que estava ocorrendo no mundo
(auxiliando para que eu não conseguisse acompanhar totalmente a matéria). Fiquei um
pouco atrasada na linha de raciocínio mas conseguia levar minhas dúvidas para a
professora na aula e ter todas elas respondidas.
Mesmo diante dessas adversidades acredito que consegui entender o âmago da
matéria e trazer discussões e reflexões que antes eu não era capaz de pensar sozinha. E
esses foram os pontos chaves da aula para mim, pois não era apenas uma aula e sim uma
sala de reflexões sobre nós mesmos perante a sociedade, entender que não moramos em
uma bolha.
Como sugestão para esta matéria, acredito que essas discussões de cunho
sociológico e psicológico deveriam ser mais frequentes, com exercícios que façam cada
aluno perceber onde se enquadra em cada situação, como visto no exercício de privilégios.

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