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XXIV-SBRH0648

TRANSFORMAÇÕES
HIDROSSOCIAIS DA VILA IDEAL
À LUZ DA PERSPECTIVA DE
GÊNERO
Thaís Zimovski Garcia de Oliveira
Rafael Gonçalves Silva, Gabriel Farias Alves Correia e
Alexandre de Pádua Carrieri
UFMG/CEPEAD
OBJETIVO
Analisar, por uma perspectiva de gênero, as transformações das relações hidrossociais estabelecidas

na comunidade Vila Ideal na região metropolitana de Belo Horizonte. Para tanto, buscamos resgatar

memórias de mulheres que vivem na região desde sua origem até o momento presente, cujas

trajetórias desvelam imbricações entre gênero, água e resistência política.


METODOLOGIA
Produção de narrativas

Diálogo entre pesquisadora e demais participantes da pesquisa

Entrevistas semiestruturadas de história oral sobre a ocupação da Vila Ideal

Produção de imagens e anotações de campo


CONTEXTUALIZAÇÃO DO CAMPO
Localizada no município de Ibirité, o qual faz parte da Bacia do Paraopeba, a Vila Ideal teve seu
surgimento como uma ocupação urbana ainda na década de 1990. Muitos dos seus moradores ainda
são os mesmos desde sua origem. Era comum que as pessoas cercassem seus terrenos de modo
informal. Mulheres com filhos tinham prioridade no processo de ocupação e a construção das casas,
de modo geral, foi realizada de forma apressada.
TOPOGRAFIA

Fotografia dos autores no momento da pesquisa

Imagem extraída do Google Maps


PRINCIPAIS RESULTADOS
• Relação entre o solo e água: dificuldade na vedação das casas e riscos de desabamento

• Falta de estrutura: suprimento de água, construção das casas e descarte de água

“Estava ruim demais… aquele barro danado... e a gente tinha que tá empurrando a lona pra sair

aquele tanto de água” (Excerto da entrevista – Vanessa).

• Relação entre água e gênero


ÁGUA E GÊNERO
• Função de captar a água nas diversas bicas era naturalizada como de mulheres e crianças: riscos e
tempo de trabalho doméstico

“Mas tinha a mina que era pra... pra beber...né… pra cozinhar, com essa água... os meninos
lavavam vasilha ali (...) a gente colocava um negócio pra ela sair limpinha… descia onde que…
lavava roupa, lavava vasilha…”

• Lazer para crianças: “os meninos iam pra lá… tomavam banho… eles colocavam um coqueiro, que
aí, a água caia, todo mundo tomava banho” (Excerto da entrevista – Vanessa)
ÁGUA E GÊNERO
• Mulheres negras são responsáveis pela sobrevivência do grupo: tanto pelas necessidades diretamente
relacionadas a água, quanto indiretamente, nas atividades discursivamente masculinas, como a
construção das casas em que a água é material essencial.

• Dupla jornada de trabalho das mulheres silenciada pelo discurso de que apenas os homens saem para
trabalhar: Interseccionalidade de raça, gênero e classe social
• Compartilhamento de água como resistência política
“nós tirava (sic) muita água mesmo [da poço artersiano], graças a Deus, tinha muita água
mesmo… aí… a vizinha lá em cima né, pra não citar o nome…[falava], ‘ah… vou pegar água aqui
não… vou pegar água não, olha aí como ela está amarela’. Ué?! Tinha que deixar juntar primeiro,
porque é mina, né? Aí discuti com ela e falei assim, ó, ‘se não pegar agora não precisa pegar
depois também não’… ignorância né…A gente fala [brincando], a Dirce, a branquela…”
TRANSFORMAÇÕES HIDROSSOCIAIS
• Perfuração de poços artesianos e instalações da COPASA

• Deterioração das nascentes: até certo momento, muitas atividades eram realizadas no próprio local
da nascente. Pouco tempo depois os moradores dos bairros acima passaram, nas palavras da
entrevistada, a “sujar ela lá em cima lá, então já estava descendo com barro, o pessoal estava
sujando ela lá em cima… lavava as coisas, lavava pé, lavava… não estava chegando de acordo”.
(Excerto da entrevista – Vanessa).

• Aumento da densidade populacional: necessidade em enxergar abastecimento e descarte como


processos associados
TRANSFORMAÇÕES HIDROSSOCIAIS
“A água nascia limpa, mas ela vinha descendo ali, né? Ninguém jogava
rede de esgoto. Aí em 1996 que eles começaram a instalar água, né?
Que o pessoal começou a jogar o cano de esgoto lá, mas fora isso tudo ali
era limpo. Ó, eu, Paulo, o Felipe, o Renato, o Gui, nós tudo pegava (sic)
[água].. nós falava (sic), galão, né? Aquele galãozinho, subia pra lá, virava
na lata, esquentava, aí com essa água, lavava vasilha, bebia, tomava
banho e fazia tudo com água.” (Excerto – Entrevista Pedro).

“Meus meninos ficavam aqui com a menina mais


velha e o mais velho né, que eu trabalhava, não podia deixar de
trabalhar…aí a vizinha pegou meu menino assim ó, balançando as
perninhas… la na fossa, na privada… em tempo de cair lá” (Excerto –
Fotografia dos autores no momento da pesquisa Entrevista Vanessa)
PRINCIPAIS CONCLUSÕES
• Mulheres se organizam para viver e lidar com o duplo desafio do cotidiano: o da ausência do governo no
provimento de água e saneamento básico e o da luta pela autonomia em uma sociedade estruturalmente
racista e misógina. Criam estratégias organizacionais as quais foram relacionadas aos diferentes “modos de
fazer”, instrumentos próprios e com a forma em que o gênero é percebido em todos estes processos.
• Foram abordados diferentes momentos das transformações hidrossociais da região por meio da história e
das memórias de seus moradores com uma metodologia sensível à subjetividade. Isso porque se considerou
não apenas os elementos relacionados à água e gênero, mas questionamentos como “qual cenário conduziu
cada trajetória de vida até a ocupação e qual é seu sentido?”.
• A forma de se relacionar com a água influenciou a vida dessas mulheres de forma determinante: pela
urgência em proteger os filhos da água da chuva, da contaminação, na tarefa de captação e pelo risco
constante de desabamentos de terras. Por outro lado, notamos também uma série de relações afetivas
relacionadas aos artefatos utilizados nesses momentos, como baldes, filtros, cisternas, momentos de lazer
das crianças, contato com a natureza e o compartilhamento de água como ato de resistência política.
Obrigado!

Thaís Zimovski
Thais.zimovski@yahoo.com.br / (31)999162869

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