Você está na página 1de 7

Unidade de Ensino Superior de Feira de Santana

Revisão Bibliográfica

Feira de Santana – Ba
2021
Kátila Ramony Ferreira Santana;

Larissa Pereira Melo.

Venda casada sob o CDC

Trabalho solicitado pelo


Professor Sander Prates Viana
acerca da matéria de Direito
do Consumidor, apresentada
ao curso de Direito, 6º
semestre, matutino, como
requisito para obtenção de
nota.

Feira de Santana – Ba
2021
O QUE É VENDA CASADA?

A venda casada é caracterizada quando a venda de um bem ou serviço é


condicionada à compra de outros produtos ou quando é imposta uma quantidade
mínima de consumo em um estabelecimento.

A lei que define essa prática como uma infração da ordem econômica foi
aprovada em 1990, lei nº 8.078/CDC de 11 de Setembro de 1990, e tem como
objetivo garantir a liberdade de escolha do consumidor.

As vendas casadas também podem acontecer de maneira oculta, isto é,


quando uma pessoa adquire um produto e um serviço adicional não informado que é
embutido no valor pago. Essa prática é muito comum na compra de passagens e
obtenção de crédito em bancos, por exemplo.

Além disso, também se considera venda casada quando um fornecedor


impõe a contratação de outros produtos ou serviços de empresas “parceiras”. Por
exemplo, uma empresa de eventos que exige que o buffet ou a banda da festa seja
a indicada por ela; ou quando um estabelecimento de ensino determina o local para
a compra de uniforme ou de material escolar.

Essa prática é abusiva e proibida, de acordo com o artigo 39, I, do Código de


Defesa do Consumidor (CDC).

“Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de
11.6.1994)

I – condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao


fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa
causa, a limites quantitativos;”

No entanto, ela ainda é muito frequente em diversos tipos de serviços. Por


exemplo, a inclusão de cartão de crédito na abertura de uma conta bancária, ou de
garantia estendida na compra de um produto sem consentimento do cliente.

Em comum, todos essas situações inibem a liberdade de escolha do


consumidor. Por isso, a venda casada é considerada um crime contra a ordem
econômica e contra as relações de consumo.

QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS TIPOS DE VENDAS CASADAS?


Embora essa atividade esteja proibida no país há quase 30 anos, as vendas
casadas ainda são uma realidade em diversos estabelecimentos. Isso é algo
encarado como “natural” por muitos prestadores de serviços. Exemplos mais
frequentes:

1. Consumação mínima em bares, restaurantes e casas noturnas.

Provavelmente um dos mais famosos exemplos de venda casada. Nenhum


consumidor deve ser obrigado a consumir o que não deseja dentro de um
estabelecimento. Por isso, a consumação mínima em qualquer circunstância é uma
prática ilegal.

2. Consumo de alimentos no cinema

O Superior Tribunal de Justiça estabelece que nenhuma empresa de cinema


é autorizada a impedir a entrada de clientes com alimentos comprados em outros
estabelecimentos. Prática de venda casada muito comum, as pessoas eram
comumente obrigadas a comprar pacotes de pipoca por preços elevados dentro dos
cinemas.

3. Compra de passagens com hospedagens e passeios

O STJ também entende a venda de passagens e serviços de hospedagem,


passeio e seguro de maneira conjunta e por uma única operadora de turismo
como má prestação de serviços e conduta passível de acusação por prática abusiva.

4. Contratação de seguro em concessionárias

A venda ou o financiamento de veículos condicionado à contratação de


seguros também é crime! O serviço adicional é opcional e, ainda que o consumidor
opte por contratá-lo, ele deve desfrutar da liberdade de escolha para fechar
negócio com a empresa que desejar.

5. Serviços de internet com TV e telefone

A cobrança de taxas mínimas que independem do consumo do cliente não


pode ser considerada, necessariamente, uma conduta ilegal, pois há um custo para
garantir a disponibilidade do serviço. Entretanto, condicionar o cliente a contratar
serviços adicionais para viabilizar a instalação de um produto é sim uma espécie de
venda casada.

6. Cartão de crédito com títulos de capitalização

A contratação obrigatória de seguros e títulos de capitalização para


concessão de cartões de crédito é considerada uma prática de venda casada.
São serviços diferentes e, portanto, o consumidor deve optar pela contratação de
ambos ou não.

7. Aluguel de espaço com buffet

O aluguel de um espaço e o serviço de buffet são dois serviços distintos.


Sendo assim, o consumidor não pode ser imposto a contratar um deles sob
obrigatoriedade de contratar o outro. Essa é uma clara prática de venda casada.

8. Financiamento de imóvel com seguro habitacional específico

O seguro no contrato habitacional é obrigatório por lei. No entanto, o


consumidor não é obrigado a ser cliente do seguro oferecido pela empresa
responsável pelo financiamento do imóvel. Se o cliente decidir migrar o seguro do
seu contrato para o serviço de outra companhia, ele não pode ser impedido de fazer
isso.

COMO O CONSUMIDOR DEVE PROCEDER EM CASOS COMO ESSES?

Verificada a prática ilegal, o consumidor deve denunciá-la aos órgãos e às


instituições responsáveis pela fiscalização e defesa do consumidor. São eles o
Procon (Programa de Orientação e Proteção ao Consumidor), o Ministério Público e
a Delegacia do Consumidor que está disponível em algumas cidades.

O consumidor que já adquiriu um bem ou serviço por meio de uma venda


casada pode solicitar a devolução ou o cancelamento do item adicional
posteriormente. A maneira mais simples, e também mais amistosa, de resolver a
situação é entrar em contato com a empresa ou enviar uma carta de notificação
esclarecendo a sua reivindicação.

Se a empresa recusar o reembolso e insistir na venda casada, é fundamental


fazer a denúncia para os órgãos de defesa do consumidor para que as devidas
providências legais sejam tomadas. Para agilizar o processo, um advogado pode ser
contratado para solicitar o cancelamento da transação adicional em Juízo.

QUANDO A VENDA CASADA NÃO É CRIME?

A venda casada é proibida, mas há momentos em que a aplicação da lei não


faz justiça. Não se tratam de “exceções à regra”, mas de situações em que não há
como praticar a venda de outra maneira.

Uma sorveteria que comercializa apenas potes fechados com quantidades


padronizadas não é obrigada a oferecer porções menores aos seus clientes. Uma
churrascaria que define um peso mínimo para o preparo de uma porção também não
pode ser condenada, uma vez que o preparo de porções muito pequenas pode ser
inviável para o estabelecimento.

As famosas promoções “leve 2, pague 1” e similares também não são ilegais.


Não há como calcular um preço proporcional a uma quantidade específica definida
por um consumidor, pois existem diversas variáveis incluídas como a embalagem, a
distribuição, a divulgação e outros. Além do mais, nesse caso, o cliente continua
sendo livre para aceitar ou rejeitar a promoção.

Já houve uma discussão se a venda computadores com sistemas


operacionais e softwares previamente instalados poderia configurar uma venda
casada. Considerando que o consumidor tem o direito de escolher e adquirir outras
soluções, muitas delas gratuitas, inclusive, a instalação prévia de produtos pagos
poderia ser considerada uma prática abusiva.

Entretanto, nunca houve um esclarecimento formal sobre esse caso


específico e a venda de desktops e laptops com sistemas pré-instalados permanece.
O consumidor, porém, tem o direito de questionar o estabelecimento caso ele não dê
a opção de compra do computador sem o software adicional.

CASO JULGADO ACERCA DO ART 39, I, DO CDC/90

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO.


AÇÃO DE CONSUMO. NET COMBO. VENDA CASADA. MÁ
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DANO MORAL. VENDA CASADA. -
Ausente qualquer indício de prova de que a parte autora tenha sido
compelida a adquirir o serviço de TV a cabo, o ilícito não está
demonstrado. MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. - A aplicação do
Código de Defesa do Consumidor à relação contratual mantida entre
as partes, em especial da inversão do ônus da prova nos moldes de
seu art. 6º, VIII, não implica a desnecessidade de produção da
demonstração do fato constitutivo da parte autora, cabendo
comprovar de modo verossímil a alegada falha na prestação dos
serviços de TV a cabo. DANO MORAL NÃO CARACTERIZADO. -
Não violado direito personalíssimo indevido o reconhecimento de
dano moral. O mero dissabor, decorrente de uma violação de relação
negocial, mesmo com repercussão econômica, por si só, não gera
direito ao recebimento de indenização por dano moral. APELO
DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70075254615, Décima Sétima
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim
Stocker, Julgado em 23/11/2017).

(TJ-RS - AC: 70075254615 RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Data


de Julgamento: 23/11/2017, Décima Sétima Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 28/11/2017)

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei Federal nº 8.078 de 11 de setembro de 1990. Regulamenta o


art. 39, inciso I do Código de Defesa do Consumidor, Dispondo sobre a proteção do
consumidor e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078compilado.htm>. Acesso em: 09 de
abril de 2021.

CONTENT, Retador Rock. Saiba o que são vendas casadas e 8 tipos que
podem ser denunciados. Rockcontent. 19 de março de 2019. Disponível em:
<https://rockcontent.com/br/blog/vendas-casadas/>. Acesso em: 09 de abril de 2021.

Saiba o que é venda casada. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor –


IDEC. 05 de maio de 2011, atualizado em, 25 de maio de 2016. Disponível em:
<https://idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/saiba-o-que-e-a-venda-casada>.
Acesso em: 09 de Abril de 2021.

Venda Casada. Procon. Santa Catarina. Disponível em:


<https://www.procon.sc.gov.br/index.php/orientacoes-ao-consumidor/290-venda-
casada>. Acesso em: 09 de Abril de 2021.

Você também pode gostar