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JÉSSICA SUZANNA DA COSTA FLORENCIO

A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO MÃE BEBÊ NA CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA

NATAL – RN
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PÓS GRADUAÇÃO EM PSICOMOTRICIDADE CLÍNICA E ESCOLAR
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – DEDFIS/CCS

A IMPORTÂNCIA DA RELAÇÃO MÃE BEBÊ NA CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA

DISCENTE: JÉSSICA SUZANNA DA COSTA FLORENCIO


ORIENTADOR: PROF. DR. JORGE SESARINO

Trabalho de conclusão de
curso apresentado como
requisito parcial para conclusão
do curso em especialização em
Psicomotricidade.

NATAL – RN
2018
AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço ao meu orientador Jorge Sesarino pela atenção e


suporte que foram elementos fundamentais para realização do meu trabalho.
Agradeço a minha filha Luísa que sem saber, instigou meu interesse por mais
conhecimentos nesse assunto tão lindo e importante.
A minha mãe e esposo que com todo carinho e apoio, não mediram esforços
para que eu chegasse até essa etapa.
RESUMO

Um bebê não existe sozinho. Ao nascer, ele se encontra totalmente


dependente do meio maternante. É primariamente na relação mãe-bebê que ele se
constitui SER. Essa dependência absoluta precisa ser suprida para que este bebê
se torne um ser com relativa dependência e um adulto autônomo. Quase todas as
doenças e transtornos emocionais são de origem relacionada ao desamparo infantil.
Quando sobrevivem, essas crianças se tornam adultos carregados de sentimentos
ambivalentes, conflitos íntimos e interpessoais. Alguns deles buscam amparo
profissional, na esperança de serem curados dessa dor que assola a alma. Outros
ficam a ermo, entregues aos subterfúgios que a sociedade dispõe, por exemplo:
drogas, consumismo. Algumas desistem da vida e muitos entram no obscuro mundo
de semblante psicopata. Ninguém adoece ou sofre por se sentir amado, ou por ser
acolhido na necessidade. Ao contrário de quem não recebe amor e acolhimento.

Palavras - chave: Constituição Psíquica, Relação Mãe Bebê, Função materna.


Sumário
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................... 1
1. Constituição Psíquica .................................................................................................................. 3
1.1 Amor materno ............................................................................................................................. 4
1.2 Função materna ......................................................................................................................... 4
1.3 Relação mãe-bebê .................................................................................................................... 8
2. Rejeição materna.......................................................................................................................... 9
Considerações Finais ........................................................................................................................ 10
Referências ......................................................................................................................................... 12
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INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa desenvolver a importância da relação mãe-bebê na


constituição psíquica do sujeito. Este trabalho possui como referência principal os
estudos de Sigmund Freud, Donald Winnicott, entre outros.
Freud, nos textos, ‘Além do princípio do prazer’ e ‘Os instintos e suas
vicissitudes’ explica que o bebê nasce desarticulado, sem recursos para enfrentar as
tensões pelo desejo materno, e que ao investir cuidados ao bebê, o ajudará a
abrandar suas tensões. De acordo com o autor, apenas a ação específica do adulto
é que será capaz de aliviar a tensão que toma o bebê, cujo sem auxílio, não haveria
possibilidade de acontecer, pois o recém-nascido ainda não conta com recursos
próprios para aplacar sua tensão. Nas obras de Freud encontramos textos que
demonstram que o sujeito se constitui e não nasce pronto. Freud afirma que o
sujeito é fundado na linguagem por já existir na história e no desejo de seus pais.
A relação mãe-bebê em uma visão Winnicottiana nos remete a compreensão
dos estágios mais primitivos do desenvolvimento emocional do ser humano. Em sua
prática como pediatra e psicanalista, constatou que boa parte dos problemas
emocionais parecia encontrar sua origem nas etapas precoce do desenvolvimento.
O cerne dos seus estudos concentrou na relação mãe-bebê, pois para ele a base da
saúde mental de qualquer indivíduo são moldadas na primeira infância através do
meio ambiente fornecido pela mãe (Winnicott, 1948). O ambiente tem uma influência
decisiva na determinação do psiquismo precoce. Em seu trabalho dois caminhos são
focalizados e frequentemente se intercruzam. Um deles diz respeito ao crescimento
emocional do bebê e o outro refere-se “as qualidades da mãe”, suas mudanças e o
cuidado materno que satisfaz as necessidades especificas do bebê.
A função materna é essencial para que o bebê organize e se constitua
psiquicamente. Cabe a ela transmitir o desejo ao bebê, de existência
primordialmente; transmitir um sentimento de pertencimento a uma história,
transmitir um desejo de viver que não seja anônimo. A criança tem que experienciar
o sentimento de que ocupa um lugar na vida do outro, pela via de função
desempenhada pela pessoa que cuida, amamenta, olha nos olhos, ouve o que ela
diz. A mãe está atenta aos sinais (orgânicos e emocionais) e ocupa-se de uma série
de pequenas atividades que são de grande importância (cantar, contar histórias...).
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Todas essas atitudes permitem à criança perceber-se como um ser único, amado e
desejado.
O que a psicanalise nos ensina é que no início da vida do bebê, as
experiências que ele vivencia a partir dos cuidados e enquanto é amparado pelo
adulto, contribui positivamente para que a criança se identifique, se reconheça como
sujeito a partir da imagem do seu cuidador. Num primeiro tempo o bebê está
colocado à imagem do adulto e totalmente dependente dele, e no segundo tempo o
bebê começa a se perceber como diferente do outro e passa então a elaborar a
separação deste outro; é neste momento que passa a adquirir sua independência do
outro e a emergir enquanto sujeito. Mas, em alguns casos, há uma falha na função
materna e ocasiona um desamparo das funções que constituem o bebê. Pois, a mãe
ou o cuidador primário, não é capaz de apropriar-se da criança e consequentemente
não consegue exercer as funções necessárias, podendo assim, causar patologias
que afetam o desenvolvimento.
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1. Constituição Psíquica

A constituição psíquica é um processo pelo qual o bebê precisa passar para


que venha a se constituir enquanto sujeito. O bebê humano nasce com seu sistema
neurológico e perceptivo ainda em formação. Esse fato, conhecido como neotenia,
tem consequências para a formação da consciência de si do sujeito. Para essa
consciência emergir, é necessário que haja uma figura adulta que reconheça a
criança como alguém. Esse bebê, ao nascer, por sua dependência, precisa do Outro
para lhe dar um lugar de existência e, para isso, é necessária a linguagem. Quando
nasce uma criança é como se ela fosse apenas um conjunto de carne e osso, e para
que nela se inscreva algo, é preciso que Outro o faça por meio de significantes.
Assim, o processo do seu desenvolvimento vai ocorrer em função desse Outro que
preencherá suas faltas e, que irá lhe fornecer elementos que estabeleçam um lugar
de onde o bebê será capaz de iniciar o seu reconhecimento e a sua estrutura
subjetiva. Esse Outro estará exercendo a função materna, e o bebê depende dessa
função para sobreviver.
O bebê começa a existir bem antes de ser concebido como significante, na
linguagem, quando é falado. Por exemplo: no desejo dos pais em terem um filho, na
escolha do nome, etc.. O seu corpo (da ordem do Real) é, portanto o receptáculo do
discurso dos pais, é o lugar de inscrição. A sua expressão corporal encontra-se
assujeitada ao Outro a quem o gesto é dado a ver, assujeitada a seu olhar, assim
como a palavra ao ouvido do auditor, e engajada no mesmo semblante e na mesma
busca de ser compreendido, notado, amado (RAMALHO, 1989, p. 68).
Para Lacan (1999), a criança precisa do desejo materno para reconhecer o
seu desejo, e o faz por meio do corpo do Outro. Por intermédio do toque e da fala
que a mãe dirige a esse que chora, respondendo ao filho, ela supõe saber a razão
do seu choro. Possuidora desse saber, a mãe investe no corpo-carne, mapeando
uma zona erógena no corpo do filho e o amarrando a significantes. Ou seja, a mãe,
como Outro de linguagem, vai significando um corpo e, ao mesmo tempo, o
nomeando, dando um lugar a este pequeno ser no discurso. Neste sentido,
compreende-se que:

O sujeito é efeito da obra da linguagem; como tal, está antecipado no


discurso parental. Que tal estrutura opere na criança depende em parte da
permeabilidade que o constitucional e o maturativo lhe ofereçam desde o
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plano biológico. Porém, de forma decisiva depende da insistência com que


os personagens tutelares da criança sustentem essa estrutura na região de
seu limite (JERUSALINSKY, 2004, p. 29).

1.1 Amor materno


O amor materno instintivo, como se fosse próprio da espécie humana amar e
proteger, como se esse amor estivesse arraigado na genética, foram ideias
disseminadas socialmente. Mas na verdade o amor materno é uma construção de
base psíquica. Ao contrário do que se pensa esse amor imenso e oceânico (como
descreveu Freud), faz parte de uma evolução emocional, que toma forma e se
transforma na experiência subjetiva de cada mulher. Essa experiência subjetiva é
toda história de vida que habita internamente em cada sujeito. Para psicanálise, o
amor materno não é instinto, não existe instinto humano, não estamos arraigados na
nossa genética, mas sim na linguagem e no simbólico-, e desejo que é a síntese das
pulsões de vida e de morte que nos habita, conforme Freud em “Pulsões e Destino
das Pulsões”, 1915.
Como afirma Menezes (2007):

[...] a maternidade, enquanto uma condição biológica é natural, visto que é


da natureza da mulher uma predisposição orgânica para gerar e gestar um
bebê, mas o amor materno está longe de ser uma condição inata (p. 24).

O discurso de Elisabeth Badinter em seu livro “Um amor conquistado: o mito


do amor materno” vai ao encontro do construtivismo na medida em que a autora
considera que o vínculo afetivo estabelecido entre mãe e bebê não é natural, mas
construído. Ela adverte que o amor materno foi por tanto tempo considerado um
instinto que fica difícil compreendê-lo como não fazendo parte da natureza de toda
mulher. Nesse contexto o que podemos afirmar é que o amor materno, assim como
outros comportamentos, é, provavelmente, apenas resultado do que fazemos com
ele.

1.2 Função materna


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A Função Materna é considerada pela Psicanálise, como função necessária


para a estruturação e desenvolvimento do psiquismo da criança. A função materna,
não precisa ser necessariamente exercida pela mãe biológica, podendo também ser
exercida pelo pai, pela avó, tia, babá, entre outros. Mas, é de grande importância
que exista um adulto que cumpra essa função. Pois, a função materna é essencial
para a organização psíquica do infante e sua constituição como sujeito.
Winnicott (1994) nos diz que a função materna é necessária, bem mesmo
antes do nascimento do bebê, através do desejo no qual o casal insere o filho. É de
grande importância o contexto do lar onde a criança vai ser gerada, a harmonia e a
forma de convivência do casal, que são fatores primordiais para a função materna
ser exercida positivamente.
As primeiras relações na vida de um bebê são fundamentais para curso do
desenvolvimento e estão vinculadas à formação de um forte vínculo com a mãe ou
mãe substituta (cuidador primário). Os bebês nascido pré- termo ou prematuros, os
seus pais precisam de um acompanhamento especial de apoio, pois, para garantir
que toda instrumentalização tecnológica dos aparelhos modernos surtam efeitos e
resultados bons, os vínculos emocionais também devem receber atenção especial.
O psicanalista René Spitz evidenciou essa tese em 1945, ao observar um trabalho
em um orfanato onde os bebês que eram apenas alimentados e vestidos sem
receber afeto, apresentavam uma síndrome que Spitz chamou de hospitalismo.
Esses bebês tinham dificuldades no seu desenvolvimento, não ganhavam peso e,
com o tempo, perdiam o interesse por relacionar, o que levava a maioria dos bebês
a orbito. Apesar dos riscos e da fragilidade que um bebê prematuro pode apresentar
as chances de recuperação aumentam quando vínculos emocionais parentais são
reforçados e estimulados em um ambiente UTIN humanizado, tornando maior a sua
capacidade para se recuperar e resistir bem às intervenções médico-hospitalares.
Um dos principais fatores de previsão positiva para um desenvolvimento saudável
do prematuro é a capacidade dos pais de se relacionarem com o bebê e trabalharem
em sua recuperação.

Pode-se dizer que é a partir da organização psicológica desenvolvida do


relacionamento com a mãe ou com a sua cuidadora, que a criança
conquista a capacidade de se relacionar com o resto do mundo, dos objetos
humanos (Coppolillo, 1990).
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Os bebês precisam de colo, de aconchego, de apoio para suportar o


desconhecido. Colo é o lugar onde o bebê encontra segurança e proteção. Quando
a criança está no colo materno ela é capaz de sentir acolhida, a respiração materna
confirma sua existência, os batimentos cardíacos afirma seu vigor, o cheiro acalma,
o contato com a pele proporciona prazer, o olhar é a prova da existência do amor
incondicional. Essa dependência quando bem suprida faz com que ganhe
amadurecimento emocional. Crianças precisam de uma figura de apego para
finalizar emoções positivas.
Ao nascer o bebê não tem percepção individual do seu corpo, de 0 a 6 meses, o
bebê tem uma dependência absoluta do cuidador, na verdade ele se percebe
integrado continuamente ao corpo materno, por isso a relação do tato entre mãe e
bebê é tão importante. Os bebês precisam que os pais os abracem, que os toquem,
que os embalem. Eles crescem melhor dessa maneira. Isso os mantém seguros
porque todos os sistemas corporais e neuronais ainda estão se estabelecendo,
descobrindo como vão funcionar. Se os adultos deixam que os bebês chorem muito,
esses sistemas desenvolverão um gatilho fácil para o estresse. Por isso, os adultos
que tiveram menos contato e menos carinho costumam ter reações de estresse mais
vezes e sentem dificuldades para se acalmar.
A posição da mãe, ou de quem exerce a função materna, é baseada
primeiramente em preencher as funções que o bebê necessita, entre elas, a função
da alimentação, da higiene, do suporte, de deslocamento. Mas além de fazer com
que a criança sobreviva, o sujeito nesta função também está encarregado de dar
significação à todas essas necessidades e inscrever um sujeito nesse bebê. Desse
modo, a função materna sustenta para a criança uma imagem que serve para ela
como referência para constituir-se subjetivamente.
Segundo Winnicott há três funções maternas primordiais: o
holding(sustentação) que refere-se ao acolhimento, proteção, sustento físico e
psíquico, uma vez que esse bebê está totalmente desamparado, ele não sabe quem
ele é. Um holding ineficiente possui aflição na criança, sensação de
despedaçamento, sensação de um sentimento de que a realidade exterior não pode
ser usada para o reconforto interno. Essa função holding permite a função de
integração, onde o bebê a partir de um outro integrado se integra também. No início
o bebê não sabe que ele é um ser e a mãe é outro, ele não sabe que o seio da mãe
pertence a ela. Ao se perceber como pessoa a partir do outro, o bebê vai integrando
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sua personalidade, pouco a pouco. Mas, depende das condições ambientais que se
referem as funções materna. O principal ponto dessa função é a integração. Em seu
artigo intitulado “Teoria do relacionamento paternoinfantil” (1960), Winnicott
descreve com mais detalhes essa função da mãe: Protege da agressão fisiológica;
leva em conta a sensibilidade cutânea do lactante – tato, temperatura, sensibilidade
auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade à queda (ação da gravidade) e a falta de
conhecimento do lactante da existência de qualquer coisa que não seja ele mesmo;
inclui a rotina completa de cuidado dia e noite; segue também as mudanças
instantâneas do dia-a-dia que fazem parte do crescimento e do desenvolvimento do
lactante, tanto físicas como psicológica. (1983, p. 48). Nesta fase, o bebê se
encontra no estado de dependência absoluta, ou seja, encontra-se totalmente
dependente dos cuidados maternos, mesmo não tendo consciência disto.
No handling(manejo) refere-se aos cuidados físicos, como por exemplo troca
de fraldas, arrumar a criança, nomear as partes do corpo enquanto da o banho. As
experiências no bebê são totalmente sensoriais e todas vão formando psiquismo do
bebê. E assim ele vai formando a personalização, que se dar ao conhecimento das
partes do corpo.
Em relação ao estado de “preocupação materna primária" desenvolvido no
início da maternagem, Winnicott (1983) ao descrever este estado também chama a
atenção para a importância do ambiente: um estado de sensibilidade aumentada, no
qual a mãe volta-se inteiramente para seu bebê, um adoecer do qual se recuperará
progressivamente quando o desenvolvimento do filho a for dispensando. Para viver
esse momento, todavia, a mãe necessita ter um desenvolvimento sadio e um
ambiente protetor que a sustente. (WINNICOTT, 1983, p. 491). As marcas
primordiais que antecedem o bebê, ou seja, a sua estrutura simbólica, determinarão
a sua existência dependendo do modo como isto se efetua e se organiza em seu
corpo, de modo inconsciente. Assim, se o bebê não é ouvido no registro do desejo,
ele não consegue ter eficácia psíquica e, ao ser escutado no registro da
necessidade, facilita-se a possibilidade de instalação de um fenômeno
psicossomático. Desse modo, entende-se que:

O bebê começa a existir bem antes de ser concebido como significante, na


linguagem, quando é falado. Por exemplo: no desejo dos pais em terem um
filho, na escolha do nome, etc.. O seu corpo (da ordem do Real) é, portanto
o receptáculo do discurso dos pais, é o lugar de inscrição. A sua expressão
corporal encontra-se assujeitada ao Outro a quem o gesto é dado a ver,
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assujeitada a seu olhar, assim como a palavra ao ouvido do auditor, e


engajada no mesmo semblante e na mesma busca de ser compreendido,
notado, amado (RAMALHO, 1989, p. 68).

1.3 Relação mãe-bebê

O primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe: a sua expressão,


o seu olhar, a sua voz. É como se o bebê pensasse: olho e sou visto, logo,
existo. (WINNICOTT, 1978, p. 103).

A comunicação não verbal pode ser percebida desde os primeiros instantes


de vida do bebê. Após o nascimento, é natural que o bebê tenha que reatar o
contato com as funções fisiológicas da mãe, particularmente a sua respiração.
Conforme afirma Winnicott (1990, p. 168), os bebês precisam de contato pele a pele
com a mãe, de serem movimentados pelo sobe e desce de sua barriga, de sentirem
a respiração materna para diminuírem a acelerada respiração após o nascimento,
aproximando-se dos batimentos cardíacos da mãe e aprendendo a brincar de ritmos
e contra ritmos em uma relação de mutualidade. O primeiro contato após o
nascimento é de extrema importância para a mãe e para o bebê.. Winnicott não se
cansou de chamar a atenção: por um lado, o quão valioso é para a mãe ver e sentir
o seu bebê contra o seu corpo imediatamente após o nascimento, e por outro, o
quão necessário é para o bebê entrar em contato com o corpo materno, visto que a
sensibilidade da sua pele está muito aguçada. O bebê, assim, nasce totalmente não
integrado, ou seja, sem nenhuma experiência de contato com a realidade do mundo
externo. Dito de outro modo, ele nasce sem o sentido da sua própria corporeidade,
sem as dimensões de tempo e espaço, sem conseguir reunir a experiência que
viveu em útero. É através da relação mãe/bebê que a criança vai se subjetivando e
se tornando um sujeito desejante. Essa experiência do olhar e do toque entre a mãe
e o filho são estruturantes para o psiquismo e constituição da imagem corporal. É o
desejo da mãe que vai impulsionar o desenvolvimento da criança, fornecendo-lhe
elementos que irão estabelecer um lugar de onde ela poderá dar início à sua
subjetividade. O desenvolvimento emocional e os caminhos para estruturação da
personalidade estão diretamente relacionados às primeiras interações mamãe-bebê.
Winnicott foi um dos maiores estudiosos nessa área e enfatizou sua obra na
premissa de que a saúde mental de qualquer indivíduo está relacionada com as
bases do seu desenvolvimento emocional primitivo quando era bebê.
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Freud afirma que o sujeito é fundado na linguagem por já existir na história e


no desejo de seus pais. Lacan, ao tomar a teoria de Freud, mostra que o sujeito
depende de Outro para a sua constituição, sendo ele essencialmente discursivo. O
sujeito, ao ser inserido no discurso dos pais já está na linguagem, pois estes são os
que o perpassam e transmitem os significantes das histórias familiares que vão
fundar o sujeito.
Winnicott fala que é na presença da mãe suficientemente boa que a criança
pode iniciar um processo de desenvolvimento pessoal e real. Para ele, a mãe
suficientemente boa é aquela que está sempre atenta às necessidades do bebê e se
coloca no lugar da criança. A mãe suficientemente boa é aquela que durante os
primeiros meses de vida do filho, identifica-se com ele e adapta-se as suas
necessidades, ou seja, que seja boa o bastante para que seu bebê possa conviver
com ela sem prejuízo para sua saúde psíquica.
Já a mãe insuficientemente boa pode corresponder a uma mãe real ou a uma
situação. Em se tratando de mãe real, Winnicott fala de uma mãe que não consiga
se identificar com as necessidades de seu filho. Essa mãe não é capaz de
complementar a onipotência do lactante. Dessa maneira, podem-se supor
psicopatologias no desenvolvimento emocional do bebê, pois a acatexia dos objetos
externos não é iniciada. Assim, ele permanece isolado, sobrevivendo “falsamente” e
apropriando-se de um self falso.

2. Rejeição materna

Por volta do sexto mês de vida intrauterina a memória do bebê já é capaz de


armazenar sensações e percepções, assim, as experiências da vida no útero
tornam-se marcas primitivas para o resto da vida de qualquer ser humano.
Obviamente que não nos lembramos delas conscientemente, mas, as memórias
estão registradas em algum espaço da nossa cognição, sobre tudo quando são
ativadas emocionalmente. Dessa forma, um bebê que sofreu rejeição ainda no
ventre da mãe, sofrerá consequências em sua vida fora do útero.
Estudos neurológicos comprovam que a rejeição materna afeta o cérebro do
bebê. A criança rejeitada tem uma chance muito maior de se envolver em crimes
violentos, tornar-se viciada em drogas, ser incapaz de conduzir sua vida adulta de
forma emocionalmente equilibrada. Além disso, este filho infeliz também será mais
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propenso a desenvolver doenças mentais e outras condições prejudiciais ao longo


de sua vida.
O professor Allan Schore, da Universidade de Los Angeles, diz que, durante
os dois primeiros anos de existência, os bebês dependem do forte vínculo materno
para que seus cérebros se desenvolvam de maneira saudável. Isso se deve ao fato
de que cerca de 80% das células cerebrais crescem durante os dois primeiros anos
da vida humana, e é por isso que os bebês que não desenvolvem corretamente seus
cérebros podem continuar sendo afetados pelo resto de suas vidas. Os
neurologistas responsáveis dizem que essas varreduras fornecem mais evidências
de que a negligência nos primeiros anos de uma criança não só dificulta seu
desenvolvimento emocional, mas também pode afetar negativamente o tamanho
final de seu cérebro. A partir do nascimento se inicia um processo dinâmico de
trocas sociais e afetivas, é nessa relação que o bebê aprende a estabelecer as
bases para uma boa interação, os estímulos adequados desde o nascimento farão
toda a diferença para o desenvolvimento saudável da primeira infância
principalmente nas esferas das habilidades motoras e linguagem.
Não há nada mais devastador do que a falta de vínculo materno e a falta de
acolhimento nos primeiros anos de vida.
Se o pai, ou qualquer outro adulto percebe a deficiência materna e traz para
sim o acolhimento e a maternagem que a criança precisa, o final da história tem
grandes possibilidades de ser ótimo. Porém, quando nem mãe, nem ninguém têm a
consciência de seu papel, o sofrimento dos filhos é previsível e vai repercutir em seu
desenvolvimento de todas as formas, dificultando seus relacionamentos em qualquer
nível, pela insegurança que acarreta.

Considerações Finais

Este trabalho teve como princípio o estudo sobre a relação mãe-bebê na


constituição psíquica, abordando um pouco sobre as consequências de uma rejeição
materna. Todo ser humano precisa passar pelo processo de constituição psíquica
para que possa se constituir enquanto sujeito. Podemos observar a importância da
psicomotricidade desde o nascimento. Uma vez que precisamos do toque, do olhar,
do acolhimento e do afeto para nos constituirmos sujeito.
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No caso de patologias decorrentes de uma falha na função materna, o


terapeuta é quem vai ocupar o lugar do Outro primordial, ou seja, vai operar com a
função materna que falhou, com a finalidade de oportunizar, através do trabalho da
psicomotricidade, o surgimento de um sujeito.
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Referências

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precoce. Escritos da Criança. Centro Lydia Coriat, Porto Alegre, n.1, 2. ed, 1987.

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LACAN, Jacques. (1953). O estádio do espelho como formador da função do eu. In:
Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
JERUSALINSKY, Alfredo. Desenvolvimento e Psicanálise. In: Psicanálise e
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Lichtenstein. 3ª edição – Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2004.

JERUSALINSKY, Julieta. (1971). A demanda de tratamento na clínica com bebês:


quando o futuro fica em xeque. In: Enquanto o futuro não vem: a psicanálise na
clínica interdisciplinar com bebês. Bahia: Ágalma, 2002 (Calças Curtas).

LEVIN, E. A Clínica Psicomotora: o corpo na Linguagem. Petrópolis: Vozes, 1999.

FREUD, S. (1914). Sobre o narcisismo: uma introdução. In: Edição standard


brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro:
Imago, 1996, vol. XIV.

FREUD, S. (1915). As pulsões e suas vicissitudes. In: Edição standard brasileira das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, vol.
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KHAN, M. Introdução In: WINNICOTT, D. W. Da Pediatria à Ppsicanálise: obras


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13

WINNICOTT, D. W. (1896-1971). A família e o desenvolvimento individual. 3.ed. São


Paulo: Martins Fontes, 2005. (Psicologia e Pedagogia.)

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