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“Manias!


O mundo é velha cena ensanguentada.
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, - hoje uma ossada -,


Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância, quixotesca.

Aos domingos a deia, já rugosa,


Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,


Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

Cesário Verde, in 'O Livro de Cesário Verde'

Vânia da Silva Silvestre nº27 11ºA


- Saudação
- Leitura
- Análise:
Estrutura externa:
Soneto italiano
2 quadras e 2 tercetos
14 versos (decassilábicos)
Esquema rimático: nas quadras ABAB
Logo é rima cruzada
nos tercetos: CDC

Estrutura interna:
Temas do soneto: amor e a mulher
O sujeito poético conta a história de um conhecido dele que amava uma mulher que se
impunha na relação com o seu parceiro e exercia sobre ele grande influência.

Análise mais pormenorizada: (divisão do soneto em 3 partes)


1ª PARTE: o sujeito lírico faz uma pequena introdução e dá a sua opinião sobre o
mundo e a vida
faz um contraste entre a tragédia e a comédia de que é feita a sociedade

 se por um lado existem pessoa que encaram a vida de uma forma muito trágica
e infeliz
 existem outras que a encaram de uma forma irrefletida

por este contraste de que é feita a sociedade é criada uma antítese

2ªPARTE: o sujeito lírico inicia o relato da história de um rapaz


JÁ FALECIDO: “- hoje uma ossada - ” disfemismo, em vez de se usar MORREU/
FALECEU utiliza-se aquela expressão de forma a “atenuar a situação “
HIFEN: tem a função de introduzir um pequeno à parte que nos dá informação
suplementar
O 1º verso da 2ª quadra serve de suporte para uma visão mais negra do mundo já que
é a partir daqui que se entende o quão prepotente é a mulher sobre o rapaz:
“o dengue em atitude receosa”
Também é nesta 2ª parte que é feita grande parte da caracterização da mulher
“Perverssíssima, esquálida e chagada” : adjetivação e enumeração

3ª PARTE: última estrofe


É apresentada a ideia principal
O sujeito poético critica a obediência do rapaz perante a sua amada, fá-lo de uma
forma sarcástica, o que é percetível por :
“Na sujeição canina mais submissa”: ou seja, ele utiliza esta METÁFORA para fazer de
certa forma uma comparação entre o comportamento dele com o comportamento de
um cão, ele obedecia à mulher como um cão obedece a um dono
É evidenciada a devoção a Deus por parte da mulher:
“O livro com que a amante ia ouvir a missa!” : exclamação e ironia já que
A mulher tratava mal o rapaz mas ia ouvir a missa, como se ir à missa fizesse com que
seja perdoada por todo o mal que fazia ao rapaz

Como conseguimos perceber pela caracterização da mulher, ela é fria, poderosa, só


deve explicações a Deus, é vaidosa, egocêntrica, e por aí vai. Esta imagem de mulher
é o símbolo da qualidade artificial da cidade. Assim, a cidade está no poema na forma
de mulher e isto serve para retratar os valores em decadência e a violência social.
A violência social é aquilo muito notória já que o rapaz é claramente humilhado pela
sua mulher, por quem ama, apesar dela ter mau aspeto “esquálida” e de já ter uma
certa idade “deia rugosa”, o que acentua ainda mais a vergonha que o rapaz passa
Cesário Verde recorre ao Parnasianismo e conseguimos perceber isso por serem
encontradas certas características dessa corrente literária neste poema,
nomeadamente:
A descrição, da mulher, do rapaz, e do mundo, como referido na 1ª estrofe pelo
contraste entre a tragédia e a comédia e esta descrição é feita utilizando termos
concretos e objetivos
E outra grande característica desta corrente literária é o facto de tudo ser descrito
como realmente acontece e conseguimos ver isso espelhado neste poema.
(relação entre o casal)
Como já referi anteriormente este poema de Cesário Verde é de tom satírico já que é
carregado de ironia e sarcasmo o que é evidenciado pelo próprio título do poema
“Manias!”
A meu ver, e como acabei por referir anteriormente, este poema passa a ideia da
cidade como um elemento negativo e da mulher como causa de humilhação.
Eu escolhi-o porque todo o tema abordado, e da forma que foi abordado, ou seja logo
no início o contraste entre a tragédia e a comédia, depois começa então o relato da
história do tal rapaz conhecido do sujeito poético, até mesmo a ironia e o sarcasmo
presentes despertaram em mim um certo interesse e é basicamente essa a razão da
escolha.

Espero que tenham gostado e TENHO DITO

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