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Colégio

Estadual Deputado José Alves de Assis












Trabalho de História












Alunos: Maryana, Vitória, Guilherme, Karilleny, Ricardo, Paulo
Eduardo, Luan, Pedro Henrique, Laryssa, Leonardo e João
Pedro.




Mineiros
2021
Colégio Estadual Deputado José Alves de Assis









Trabalho de história










Tema: Os limites da cidadania, presentes no estado Imperial e
a participação dos negros, nas lutas sociais das regências.

Turma: 2ºF. Grupo: 2

Alunos: Maryana, Vitória, Guilherme, Karilleny, Ricardo, Paulo
Eduardo, Luan, Pedro Henrique, Laryssa, Leonardo e João
Pedro.


Mineiros
2021
Cidadania

Conceito de cidadania:

Cidadania” é um conceito que não pode ser determinado sem antes se definir o contexto no
qual ele será invocado. Apesar de seu significado clássico remontar a Grécia Antiga com a ideia
de participação política, a ideia de cidadania sempre variou em tempo e espaço, sendo
moldada a depender do que se pretende obter se identificando como cidadão. Enquanto na
Antiguidade a cidadania era a materialização da participação na vida pública da cidade – a pólis
grega –, na Modernidade, seu conceito passou a ser atribuído às conquistas sociais, que se
iniciam no século XVIII com a Revolução.


Cidadania no Brasil do Império à Primeira República (18822-


1930)

Uma cidadania plena, que conjugue liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal,
talvez, inatingível. Contudo, em um país marcado por graves problemas de ordem social, em
que direitos são desrespeitados, inefetivos ou mesmo inexistem, e cuja problemática da
desigualdade e da injustiça, vigente desde a colonização, ainda persiste, é de fundamental
importância compreender os alicerces do desenvolvimento e da consolidação dos direitos do
povo.

Os conceitos dos direitos que, combinados, constituem tal plena cidadania, são bem
conhecidos. Os direitos civis têm como fundamento a liberdade individual, abrangendo os
direitos à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a lei. Os direitos políticos
pressupõem a participação do cidadão na política da sociedade, isto é, consiste na capacidade
de organizar partidos, de votar e de ser votado e de manifestar-se politicamente. Por último,
há os direitos sociais, que incluem a educação, o trabalho, a saúde e a renda justa e têm como
base a justiça social e a igualdade material.

Não se intentará aqui uma análise integral acerca do surgimento sequencial desses direitos. A
especificidade do período objeto deste trabalho destina-se a garantir uma melhor
compreensão do nascimento do fenômeno histórico da cidadania no nosso país. A demarcação
do Império como ponto de partida da análise faz-se coerente uma vez conhecido o avanço que
nossa primeira Constituição representou no que tange aos direitos políticos, despontando, de
fato, em que pesem sua precariedade e simbologia, o início da construção cidadã no Brasil.
Condizente também se faz, de igual modo, a inserção do ano de 1930, término da Primeira
República, como ponto de chegada, visto sua característica de divisor de águas na história
brasileira, a partir do qual avançaram as mudanças sociais e políticas com o advento do Estado
Social de Vargas e com a Constituição de 1934.
O presente artigo pretende, nessa ordem de referência, estudar o modo inicial com que se
delinearam os direitos do cidadão no Brasil, tendo como objeto de análise os dois sujeitos
envolvidos no processo: o Estado Brasileiro e a sociedade civil. Do primeiro buscar-se-á
abordar, particularmente, a partir da análise dos pressupostos de seus esforços na construção
dos ideais dos direitos do cidadão, sua atuação diante dos direitos sociais. E do segundo
objetiva-se colher sua participação nos caminhos tortuosos que tem seguido nossa cidadania.

Séculos de hegemonia da escravidão e da grande propriedade impediram a formação de
verdadeiros cidadãos na colônia. Inexistiam, à grande maioria da população, os direitos civis
básicos da liberdade, das manifestações, da integridade e da própria vida, dada a dependência
absoluta dos escravos, parte considerável da população, perante seus senhores, que podiam
servir-se daqueles como instrumentos. Não havia um poder que se pudesse chamar de
público, estando a justiça e as funções essenciais da administração a cargo do interesse e do
domínio dos particulares mais poderosos, como os latifundiários e a Igreja Católica. Tal quadro
permaneceu praticamente inalterado mesmo com nossa independência de Portugal, a qual,
como sabido, não implicou mudanças significativas na conjuntura vigente.

A Constituição de 1824 regulou os direitos políticos e, para os padrões da época, era muito
liberal, podendo votar quase toda a população masculina. Embora excluídos do voto as
mulheres e os escravos, a concessão desses direitos aos analfabetos implicou a consolidação
de uma das legislações mais liberais do período.

Na prática, contudo, os brasileiros que votavam eram os mesmos que sofreram as amarras da
colonização. Em quase sua totalidade, eram analfabetos, incapazes de ler um texto elementar
e sem prática alguma de exercício cívico. Com a submissão escravocrata ao senhorio, e com
90% da população vivendo em áreas rurais, não é difícil concluir que o voto não representava o
exercício da cidadania, mas, sim, um ato de obediência e de lealdade aos chefes políticos que
dele se aproveitavam para barganhar apoio e oferecer mercadorias a uma população carente
e, sobretudo, sem noção suficiente do significado do direito que “conquistaram” (CARVALHO,
2001).

O constitucionalismo do Império introduziu no país uma forma de organização do poder cujas
ideologias seguiam os princípios fundamentais da ideologia liberal. No entanto, tentou-se
impor um modelo que não refletia a realidade das instituições e estruturas políticas brasileiras
nem garantia sua concreta implementação. O próprio Poder Moderador, “chave de toda a
organização política”, segundo o texto constitucional, impedia a convivência harmônica entre
os três poderes e delegava ao imperador atribuições múltiplas que inibiam a difusão dos
preceitos liberais inseridos formalmente. Sob o manto de um Estado liberal, consubstanciado
no texto constitucional de 1824, escondia-se um poder público cujas práticas e costumes
inviabilizavam o alcance ao povo do real sentido de cidadania como a consciência de subsistir
como sujeito de direitos e deveres perante o Estado. Intocável a observação de Laurentino
Gomes:

Inspirado no modelo europeu, o sistema judicial brasileiro era igualmente exemplar. Pela
Constituição, todo cidadão – categoria na qual não estavam incluídos os escravos – tinha
direito de recorrer à Justiça para assegurar os seus direitos. O ritual previa amplo direito de
defesa dos réus, só passíveis de condenação depois de esgotados todos os recursos. Ninguém
podia ser preso sem culpa comprovada. O direito de liberdade de expressão era tão amplo no
Brasil quanto nos países mais desenvolvidos. Na prática, a execução da lei dependia mesmo
dos chefes locais, que mandavam prender adversários ou soltar aliados de acordo com suas
conveniências. ‘O braço da justiça não é nem bastante longo nem bastante forte para abrir as
porteiras das fazendas’, escreveu Joaquim Nabuco, ao fazer um retrospecto das instituições
imperiais em 1886” (GOMES, 2013, p. 105).

A proclamação da República em 1889 e a libertação dos escravos no ano antecedente
representaram o surgimento de uma alternativa excepcional ao Brasil. Era a possibilidade de
se criar um regime fundado na soberania popular e no exercício pleno da cidadania, esta
ampliada, inclusive, aos setores da população anteriormente marginalizados do jogo político
(DORIGO; VICENTINO, 1999).

No entanto, mais uma vez, em nossa história, deflagra-se um acontecimento de relevante
expressão nacional desacompanhado de medidas voltadas a surtir efeito verdadeiramente
positivo na realidade. As instituições se revelavam impotentes para romper a tradição, o
costume, a imaturidade cívica e os vícios sociais radicados. A ordem constitucional
formalmente estabelecida não era acompanhada na prática, na qual a organização social e as
demais vicissitudes da jovem nação republicana ainda mantinham os costumes do legado que
herdara. Percebia-se a impossibilidade de se alterar a conjuntura vigente apenas com leis
meramente codificadas.

A Constituição Republicana de 1891 eliminou a participação dos analfabetos, constante do
texto de 1824, restringindo significativamente a atuação da sociedade na formação dos
governos representativos e, portanto, esmagando o direito político de quase 90% do
eleitorado. Se a tendência dos países cuja democracia amadurecia era no sentido de ampliar
os direitos de voto, isto é, de participação política, o Brasil, lamenta-se, retroagiu.

Lima Barreto (1998, p.87) descreve a “república imaginária” em seu clássico “Os
bruzundangas”, em que, com efeito, o autor já advertia que “de há muito os políticos práticos
tinham conseguido quase totalmente eliminar do aparelho eleitoral este elemento
perturbador”, qual seja o voto.

Em 1886, estima-se que apenas 0,8% da população total votou nas eleições parlamentares.
Somado a isso, algumas mudanças, como a extinção do Poder Moderador, do Conselho de
Estado, do Senado vitalício e a introdução do Federalismo, embora tivessem escopo
democratizante de descentralização do poder, não vieram associadas a igual expansão da
cidadania política e implicaram a formação de oligarquias cujos interesses individuais
consubstanciaram uma prática política de consequências extremamente negativas. As práticas
eleitorais fraudulentas multiplicavam-se, as eleições eram cada vez mais compradas, e o voto
dos eleitores era simples retórica.

Durante toda a Primeira República, de modo semelhante ao que se via em relação ao sistema
eleitoral, os direito de liberdade, de propriedade e de manifestação encontravam-se no poder
dos coronéis. Num país predominantemente agrícola até 1930, o domínio exercido pelos
grandes latifundiários, claramente, impedia a participação política ao negar os direitos civis.
Sua lei e seu poder imperavam, e o controle sobre seus súditos dava-se nos mais diversos
segmentos da sociedade.

A justiça, pois, controlada pelos agentes privados, na verdade inexistia, e a lei, que deveria ser
instrumento de igualdade, era utilizada aos sabores de grupos particulares, tornando-se objeto
de castigo e perseguição contra inimigos, mas, ao mesmo tempo, de agrado e benevolências
para com os aliados. Desse modo, inviabilizavam-se as condições idôneas ao exercício dos
direitos dos cidadãos.

Durante o período aqui analisado, houve indícios de surgimento de uma cidadania consciente
e participativa, de modo que não se pode desprezar o valor das manifestações que, de fato,
mesmo que não frequentes, ocorreram, como demonstra a historiografia nacional. Embora
raras, apareceram como o marco inicial em nossa história da crença na existência de direitos,
os quais, como se viu, sofriam intensamente a opressão de um sistema que, dia a dia, foi
mostrando-se incapaz de alterar a realidade injusta e insuportável à população.

Convém, no entanto, que se diga que todos esses movimentos deram-se, muito mais, como
reação aos arbítrios do grupo dominante do que, verdadeiramente, pelo interesse de
reivindicar tudo aquilo que parecia razoável. Com efeito, o povo mostrava ter alguma noção
dos direitos dos cidadãos e dos deveres do Estado, embora a cidadania não se manifestasse de
forma propositiva. Eram manifestações reativas, de modo que o Estado era aceito desde que
não interferisse nos valores e elementos julgados essenciais pelos cidadãos. O povo assistia
aos acontecimentos políticos nacionais, mas pouco reivindicava, atentando apenas para
possíveis atuações do governo que lhes parecessem prejudiciais.

Finalmente, se extremamente precários eram os direitos civis e políticos, certo é não haver
como falar de direitos sociais no período em discussão. A assistência social, em quase sua
integralidade, estava no controle de entidades particulares. Irmandades religiosas e
sociedades privadas ofereciam a seus membros apoio em forma de empréstimo, auxílio-
seguro, tratamento de saúde, benefícios à aposentadoria e atendimento de caridade aos
pobres, proporcionalmente à contribuição de cada membro. O governo pouco cuidava de
legislação trabalhista e de proteção ao trabalhador. Não cabia ao Estado promover a
assistência social, o que ficou claro com o retrocesso de 1891, quando a Constituição
Republicana retirou do Estado a obrigação de fornecer a educação primária, constante do
texto de 1824, e proibiu a interferência do governo federal na regulamentação do trabalho,
vendo tal atuação como violação da liberdade do exercício profissional.

Não se despreza que houve medidas importantes na área, como o reconhecimento dos
sindicatos como legítimos representantes dos operários, o estabelecimento da
responsabilidade dos patrões pelos acidentes de trabalho e a criação do Conselho Nacional do
Trabalho e de uma Caixa de Aposentadoria e Pensão para os ferroviários, mas as intenções
padeciam de efetividade, e as poucas leis elaboradas relacionadas com a matéria não surtiram
efeitos práticos, como é o caso do Código de Menores de 1927 e de uma lei de 1926 que
regulou o direito de férias.

O constitucionalismo do Império manifestou uma sensibilidade precursora para o social,
criando o germe de uma declaração social de direitos, nascida sob o bojo da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, expressando sua preocupação, por exemplo, com
os problemas do desemprego e da educação primária. No entanto, os dispositivos ligados à
questão social eram praticamente desconhecidos, constituindo meras considerações de
problemáticas existentes, que não foram inseridas no âmbito de atuação das políticas públicas
e não tinham destinação específica. (ANDRADE; BONAVIDES, 1991).

Revela-se evidente que não se cogitava de promover igualdade material nem assistência
social. Outrossim, quase a totalidade das medidas restringia-se ao meio urbano, ficando o
poder no campo exercido quase plenamente pelos coronéis, que, além de controlarem a
justiça e a política, representavam o único meio de que se podiam valer os trabalhadores no
atendimento de suas necessidades relevantes Era a promiscuidade entre interesses públicos e
privados, presente durante praticamente todo o período em comento. Cerqueira Filho (apud
WOLKMER, 1989, p.46) comenta:

[...] a ‘questão social’ não aparecia no discurso dominante senão como fato excepcional e
episódico, não porque não estivesse já, mas porque não tinha condições de se impor como
questão inscrita no pensamento dominante. Por isso, popularizou-se, na Primeira República, a
sentença: ‘a questão social é um caso de polícia’. Não se inscrevendo como questão no
pensamento dominante, ela era, ao contrário, a grande questão para o pensamento marginal e
dominado. As classes dominantes, na medida em que mantinham o monopólio do poder
político, detinham, simultaneamente, o monopólio das questões políticas legítimas. [...] a
‘questão social’, por ser ilegítima, não era uma ‘questão’ legal, mas ilegal, subversiva e que,
portanto, deveria ser tratada no interior dos aparelhos repressivos do Estado.

Torna-se nítido perceber a fragilidade e a precariedade da cidadania no período ora aferido. Se
limitados e vulneráveis eram os direitos civis e políticos, não se pode deixar de constatar a
quase completa ausência de políticas públicas sociais. Não cogitando o Estado de promover
assistência social, não se pode analisar sua real atuação no que concerne aos direitos sociais, o
que só pode ser realizado a partir do momento em que ele se reconheça como ente
institucionalmente responsável em promover igualdade material e justiça social, mediante
atuações positivas consignadas em legislações específicas. E não é outro o objetivo precípuo
desse trabalho senão a constatação dessa proposição.

Conclusão:
No período histórico compreendido entre 1824 e 1930, no Brasil, constata-se a inexistência de
uma preocupação com políticas prestacionais por parte do Estado, já que este não se reputava
um ente institucional responsável por promover igualdade e justiça material, encontrando-se
as iniciativas a respeito, em quase sua totalidade, a cargo dos particulares. As poucas medidas
adotadas na área revelaram-se bastante tímidas e não surtiram efeito prático significativo.




















A HISTÓRIA E A LUTA DA COMUNIDADE NEGRA
BRASILEIRA QUE RESULTOU NA CONQUISTA DE
DIREITOS CONTEMPORÂNEOS

A escravidão do negro pelo negro na África

Antes da exploração dos negros pelos europeus no século XV, na África


havia a escravidão “doméstica” entre as comunidades ou reinos
africanos. A principal fonte de escravos era a guerra entre
comunidades. Os derrotados na guerra se tornavam cativos, sendo
utilizadas no interior das sociedades vencedoras nas funções de
criados, soldados, concubinas, mas também eram vendidos no
comércio realizado no Deserto Saara, Egito e em navegações no
Oceano Índico.

SOUZA (2012, p. 55) afirma que:

As guerras entre tribos produziam prisioneiros para vencedores e eram


utilizados tanto na agricultura quanto nos trabalhos domésticos. Assim,
escravos de linhagem – aqueles que nasciam na condição de escravo
sob o domínio do mesmo senhor ou tribo dominante – e os escravos
por dívida eram utilizados comumente.

Algumas comunidades apenas faziam de escravos as crianças e


mulheres. Os derrotados tinham, em particular, suas mulheres e
crianças tornadas cativas. Os reinos de Cabem e depois o de Bornu
acometiam, desde o século IX, os povos ao sul do lago Chade para
escravizá-los. Reinos como Gana, Mali, Songai, Haúças, Futa Toro e
Furta Jalom atacavam os inimigos logo após a época das colheitas.
Matavam os idosos e os homens que sobreviviam. Capturavam
mulheres e crianças, unindo-as pelo pescoço com um instrumento
chamado libambo ou com uma corda. (MATTOS, 2012, ps. 58 a 59).

Além da guerra, a escravidão também era originada de sequestros e


por imposição de castigos penais por prática de assassinato, adultério
ou roubo. Respaldado em seu poder, um rei, chefe ou mesmo um
membro da família de maior respeito, tornava escravo alguém que lhe
contrariasse.
Alguns reis além de escravizar comunidades rivais, também cobrava
tributos de seu povo mediante a prestação de serviços, entrega de
produtos ou de escravos.

Em algumas comunidades o número de escravos era uma forma de


comprovação de riqueza. MATTOS (2012, p. 59) afirma que “[...] os ibos
costumavam enterrar com o morto um ou dois escravos, mas no caso de
proprietários mais ricos, eram enviados até seis escravos.”

Também havia a imolação de escravos em rituais sagrados


preparatórios para guerras, nas épocas de colheitas, para chamar
chuvas, para saudar os mortos e para dar força espiritual ao chefe da
comunidade.

Além da escravidão do negro pelo negro na África, as comunidades


realizavam transações comerciais com europeus e asiáticos. Essas
transações eram realizadas com produtos e iguarias, mas também
havia a venda de escravos negros.

A partir do século XV, período das grandes navegações, descobertas


de terras e sua colonização e exploração comercial, houve um grande
crescimento na demanda de mão de obra. Desta forma, várias
comunidades negras faziam grandes transações comerciais com os
europeus e vendiam escravos negros que eram levados para trabalhar
nas colônias americanas dos europeus.

O que se constata é que a história da escravidão do negro africano não


teve início com as grandes navegações, mas sim, na própria África em
razão de conflitos ou guerras domésticas entre as comunidades.

Escravidão nas Américas

Nos séculos XV e XVI os escravos ainda eram alvos de disputas de


poder interno entre as comunidades da África. A comercialização de
escravos com europeus e asiáticos permanecia, mas não na mesma
proporção do século XVII em diante, que foi impulsionada pela
produção de riquezas nas colônias europeias nas Américas.

Segundo MATTOS (2012, p. 59) no século XVI, o número total de


escravos comercializados nas rotas do Oceano Atlântico ficou em torno
de 800 mil a 1,3 milhões. Nos séculos XVII e XVIII o volume das
exportações de escravos negros da África cresceu vertiginosamente,
chegando a mais de 7 milhões, o que representaria 70% do total das
exportações de escravos da África. Só para a América foram enviados,
durante o século XVIII, cerca de 60 mil africanos por ano.
Conforme afirma Jaime Pinsky e Carla B. Pinsky (2012, p.447) nas
Américas, o trabalho compulsório constitui –se em um fato social para
o desdobramento da colonização e a produção de riquezas. No final do
século XVI, índios aldeados e africanos trabalhavam juntos como
escravos nas mesmas e péssimas condições nas unidades produtivas
rurais.

Ao longo dos séculos XVII e XVIII, paulatinamente, escravidão vira


sinônimo de escravidão africana, tendo em vista que em meados do
século XVIII foi decretada, mesmo que ficticiamente, o fim da
escravidão indígena. (PINSKY, J. e PINSKY, C., 2012, p.448). Fugas,
revoltas, epidemias e dizimação de um lado, conflitos entre
autoridades, colonos e setores da Igreja de outro marcam os debates
sobre a escravidão, fosse ela indígena ou africana, ela estava
totalmente contemplada pelo projeto escravista cristão. (VAINFAS,
1986)

Enquanto isso há a pressão das economias coloniais por braços de


escravos e, fundamentalmente, o negócio lucrativo do tráfico no
atlântico africano que envolvia, além de comerciantes europeus, as
elites coloniais, sendo estas as que mais lucraram com o tráfico e
constituíram sobre a escravidão negra suas riquezas. Assim, cada vez
mais homens e mulheres africanos escravizados desembarcavam nas
áreas coloniais. Calcula-se que no século XIX a quantidade de africanos
transportados para várias regiões das Américas tenha chegado a 10
milhões, tendo Brasil recebido 40% destes. (PINSKY, J. e PINSKY, C.,
2012, p. 448)

Segundo ALBUQUERQUE e FRAGA FILHO (2006, p. 40) os números não


são precisos, mas estima-se que, entre o século XVI e meados do
século XIX, mais de 11 milhões de homens, mulheres e crianças
africanos foram transportados para as Américas, não sendo incluídos
nesse números os que não conseguiram sobreviver ao processo
violento da captura na África e aos rigores da grande travessia do
Oceano Atlântico.

A escravidão no Brasil

Da travessia do Atlântico à chegada no Brasil

Nos séculos XVIII e XIX, as embarcações que transportavam escravos


da África para o Brasil tinham diferentes tamanhos. As embarcações
mais comuns eram do tipo bergatim, galeão ou corveta que
conseguiam embarcar em média, 500 africanos.

O transporte de negros era totalmente penoso. Eles eram transportados


em porões do navio superlotados, se apertavam para conseguir dormir
no chão duro durante meses de viagem. Os negros ficavam
acorrentados quase todo o tempo de viagem. No momento do
embarque, ou ainda nos barracões, costumavam ter o corpo marcado
a ferro quente com as iniciais ou símbolos dos proprietários. (MATTOS,
2012, p. 101).

Durante a viagem, muitos negros morriam em razão das más condições


em que viajavam, pela falta de higiene nos porões, por doenças que
eram contraídas, pela má alimentação, pelas chibatadas ou surras que
levavam nos navios, entre vários outros motivos que os expunham ao
sofrimento. Os que morriam durante a longa viagem tinham seus
corpos jogados ao mar.

Corroborando esses fatos SOUZA (2012, ps. 58/59) afirma que:

Antes mesmo de embarcarem nos navios negreiros, os africanos eram


marcados a fogo com uma cruz no peito. A travessia para as América, e
particularmente para a colônia brasileira, ocorria sob formas
degradantes. Nas embarcações destinava-se ao cativo um espaço
mínimo. Eram organizados de forma que coubesse o maior número de
africanos (em geral sentados ou deitados retilineamente), sendo
péssimas as condições de higiene. As epidemias eram comunas nas
primeiras viagens e muitos sucumbiam às doenças.

Alguns africanos morriam antes mesmo do embarque, pois,


sucumbiam a meses de espera do embarque em barracões em
precárias condições.

No século XIX as condições das embarcações melhoraram, pois,


passaram a contar com a presença de, ao menos, um cirurgião barbeiro,
um capelão, uma botica. Também houve a separação entre homens e
mulheres. Mesmo assim, as viagens continuavam penosas, com porões
superlotados e com as mesmas condições degradantes, o que também
os levava à morte. (MATTOS, 2012, p. 100/101).

Quando os navios chegavam ao Brasil, os escravos eram levados em


pequenas embarcações até a alfândega para ser feita uma listagem
com dados sobre o carregamento. Os negros eram levados para os
estabelecimentos comerciais, local em que eram vendidos.
Na região Nordeste do Brasil, os fazendeiros e senhores de engenho
faziam encomendas de escravos africanos aos traficantes baianos que
estavam acostumados a buscá-los na região ocidental da África, por
conta da preferência dos mercadores africanos pelo tabaco produzido
na Bahia.

Os traficantes baianos sempre traziam uma quantidade maior de


escravos que eram vendidos em lojas próximas ao porto ou em leilões.
Muitos escravos eram enviados para outras localidades do nordeste
como Maranhão e Pernambuco.

Na segunda metade do século XVIII foi criado o local chamado de


Valongo, localizado no Rio de Janeiro, Freguesia de Santa Rita. Com a
proibição de tráfico de escravos em 1830, dificilmente os negros
passavam pela alfândega, ficando expostos nos estabelecimentos do
Valongo para venda clandestina. (MATTOS, 2012, p. 102).

Assim que chegavam ao Brasil, os escravos tinham o cabelo e barba


cortados, tomavam banho e eram vestidos minimamente, tudo para
melhorar a aparência para a venda. Aqueles que estavam muito
debilitados por conta de doenças, eram isolados e recebiam cuidado
médicos e alimentação adequadas para que se restabelecessem para
a venda.

Alguns negros eram levados em comboios em direção às cidades do


interior ou comprados por tropeiros de São Paulo e Minas Gerais,
configurando-se assim o tráfico interno de escravos. Os Estados do Sul
do Brasil e outros países da América do Sul como Buenos Aires e
Montevidéu também eram abastecidos pelo comércio carioca de
escravos. (MATTOS, 2012, p. 103).

. O trabalho dos escravos no Brasil

Para atingir os objetivos de exploração econômica das suas colônias na


América, os europeus tiveram que escolher produtos de grande
procura na Europa e que permitissem a produção em grande escala. A
cana-de-açúcar enquadrou-se plenamente nesses propósitos.

O cultivo da cana-de-açúcar iniciou-se na península ibérica por volta do


século XIV. No século seguinte, com a expansão marítima de Portuga e
Espanha, a cana-de-açúcar passou a ser cultivada também nas ilhas do
Atlântico como Madeira, São Tomé, Açores, Cabo Verde e Canárias,
sendo necessária a utilização de mão-de-obra escrava para o seu
cultivo. (MATTOS, 2012, p. 103).
No Brasil, não os colonizadores exploravam toda riqueza natural que
conseguiram encontrar. Nos primeiros séculos de colonização (XV e
XVII) além da cana-de-açúcar, também exploravam o pau-brasil,
utilizando mão-de-obra escrava de índios e negros. Nos séculos XVII e
XVIII há a consolidação da escravidão de negros.

Grande parte do trabalho escravo na produção de açúcar era realizada


no campo ou nos canaviais. O cultivo de cana-de-açúcar e as colheitas
eram tarefas muito cansativas que exigiam força.

Os escravos também eram utilizados no corte de lenhas para serem


utilizadas nas casas de seus senhores, ficando ainda encarregados pela
manutenção da propriedade, construção de cercas, perfuração de
poços, fossos.

Em algumas fazendas ou engenhos, os negros escravizados deveriam


manter a sua própria subsistência cultivando alimentos em um
pequeno pedaço de terra fornecido pelo proprietário. No entanto, o
cultivo para manutenção de seu próprio sustento só era permitido após
a realização de todas as tarefas em favor de seu senhor.

No trabalho do dia a dia havia divisão por sexo, sendo que, enquanto os
homens faziam os trabalhos mais pesados como corte de lenha,
desmatamentos, perfuração ou escavação de poços, as mulheres eram
utilizadas no corte da cana e na produção do açúcar. Algumas mulheres
também realizavam trabalhos domésticos, mas a grande maioria era
utilizada em serviços natureza rural.

Os escravos trabalhavam aproximadamente 20 horas nos engenhos,


geralmente divididos em turnos. Acredita-se que eram necessários 25
escravos por turno. Dependendo da estrutura do engenho eram
necessários de 60 a 80 escravos para o seu adequado funcionamento
(MATTOS, 2012, p. 106).

A exploração dos recursos naturais do Brasil, desde o início de sua


colonização, também era voltada para a exploração de metais
preciosos, principalmente o ouro.

No entanto, apenas na última década do século XVII o ouro foi


descoberto em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso pelos Bandeirantes
Paulistas, que viajavam em busca de aprisionamento de índios para a
coroa Portuguesa e para encontrar tal metal precioso.

Com a propagação da descoberta do ouro houve uma corrida


desenfreada para essas regiões. As condições de trabalho no minério
eram duras e, consequentemente, os escravos foram utilizados nesse
serviço. Mesmo com a crise da mineração no século XIX, Minas Gerais
continuou recebendo quase a metade dos africanos desembarcados
no Rio de Janeiro, que era responsável pela metade das importações
de africanos naquela época.

Em 1808 chega ao Brasil a família real portuguesa e, com a


consequente abertura dos portos ao comércio internacional, as
importações de escravos africanos cresceram enormemente.

Em 1810 a maior demanda de escravos passou a ser das fazendas de


café. Apesar da produção de café ter início no final do século XVIII no
Rio de Janeiro, no século XIX cresceu vertiginosamente ao serem
encontradas terras férteis e clima propício em São Paulo,
especialmente na região do Valei do Paraíba. (MATTOS, 2012, p. 108).

A rotina de trabalho dos escravos nas fazendas de café era árdua, pois,
eles se levantavam antes do sol raiar, se dirigiam aos cafezais a pé ou
em carros de boi e lá passavam 15 horas por dia trabalhando. Quando
voltavam na sede da fazenda, ao anoitecer, ainda eram obrigados a
cortar lenha, preparar comida e torrar o café. Se recolhiam nas senzalas
feitas de pau a pique e sapé por volta das 10 horas da noite (MATTOS,
2012, p. 109).

Os escravos também trabalhavam em fazenda que plantavam outras


culturas agrícolas, como algodão, arroz, milho, mandioca entre outros.
Também trabalhavam na produção de farinha de mandioca, de milho e
água ardente.

No século XIX o trabalho escravo também era explorado nos centros


urbanos. Cuidavam de serviços domésticos, de manutenção de
propriedades, abastecimento de água, limpeza das ruas, transporte de
seus senhores em carruagens, cadeirinhas ou liteiras. Como
carregadores, os escravos levavam sacas de café, arroz, sal até baús e
móveis. Durante a noite, carregavam o lixo e os dejetos das casas até
os rios.

A mão de obra escrava também era empregada em trabalho de ganho


ou aluguel, em que o proprietário colocava o seu escravo para locação
de outras pessoas acertando previamente a duração e o valor do
serviço prestado. Os escravos alugados eram utilizados em tarefas
simples como especializadas como pedreiros, lavadeiras, carregadores
e quitandeiras. Também eram utilizados em ofícios mais especializados
como sapateiro, barbeiro, ferreiro e alfaiate. (MATTOS, 2012, p. 111).
Vê-se, portanto, que a mão de obra escrava no Brasil foi utilizada em
larga escala e em várias atividades diferentes, desde as rurais às
urbanas.

Formas de resistência ao sistema escravista

Apesar de séculos de escravidão, a comunidade negra nunca sempre


resistiu ao cativeiro. Eles regiam de diferentes maneiras diante da
violência e da opressão provocadas pelo sistema escravista.

Os escravos promoviam fugas em busca de sua liberdade. Muitas


vezes, realizavam as fugas com o propósito de negociação por
melhores condições de trabalho.

MATTOS (2012, p. 124) afirma que:

Os escravos reagiam não somente em busca da liberdade, mas por


outros motivos inerentes ao sistema escravista: maus-tratos recebidos
injustamente, péssimas condições de trabalho e de vida, separação de
parentes em caso de venda, proibição de realizar festas e reuniões, não
cumprimento de direitos adquiridos (como cultivo de roças próprias
para a própria sobrevivência.

A fuga era um dos meios de resistência à escravidão mais utilizados


pelos cativos. Apesar de a maioria das fugas serem realizadas em
grupos, o que resultava na formação de mocambos ou quilombos,
algumas vezes elas eram realizadas individualmente, motivo pelo qual,
os escravos procuravam abrigo na residência de algum liberto ou livre
conhecido ou viajavam para outra região e fingiam ser libertos.

Também havia as revoltas, sendo a maior parte planejada com


antecedência e organizada por líderes respeitados no interior do grupo
de escravos. Mesmo que a revoltas fossem reprimidas e não atingissem
o seu objetivo principal, de certa forma, elas ajudavam na promoção do
clima de tensão que propiciava as negociações com os senhores de
escravos por melhores condições de trabalho e de vida.

Mas o risco de fuga e revolta era muito grande, pois raramente o


escravo escapava de castigos físicos, que compreendiam a prisão no
tronco, o açoitamento e até o uso da gargalheira, uma espécie de
coleira de ferro com hastes e ganchos em cima da cabeça.

Diante da difícil condição de vida no cativeiro, incluindo os castigos,


agravado ainda pela separação de seus familiares e a saudade de sua
terra natal, muitos escravos viam no suicídio a última forma de se livrar
da escravidão.

Quilombos

Segundo SOUZA (2012, p. 16) contar a história do quilombismo no Brasil


ainda significa pensar na história contra o discurso oficial e de uma
historiografia tradicional que concebia os africanos escravizados como
obedientes e completamente submetidos à lógica colonial escravista.
Hoje sabemos que não era assim, pois, onde houve escravidão, houve
também resistência.

Jaime Pinsky e Carla B. Pinsky (2012, p. 449) apontam alguns significados


da palavra quilombo em algumas comunidades de negros na África:

A palavra quilombo/mocambo para a maioria das línguas bantu da


África central e Centro-Ocidental que dizer “acampamento”. Em regiões
africanas centro-ocidentais nos séculos XVII e XVIII, a
palavra Kilombosignificava também o ritual de iniciação da sociedade
militar dos guerreiros dos povos imbangalas (também conhecidos
como jagas).

GOMES (2011, p. 9/10) aponta como a palavra quilombo foi introduzida


no Brasil com o significado hoje empregado:

Nas Américas, as comunidades de fugitivos receberam diferentes


nomes. [...]. No Brasil, ficaram conhecidas como mocambos e depois
quilombos, termos que, na maioria das linguas bantas da África Central,
significavam” acampamento”. Em quimbundo e em quicongo, a palavra
mukambu significa “pau de fieira”, um tipo de suporte vertical terminado
em forquilhas utilizado para erguer choupanas nos “quilombos”, os
acampamentos. Mas porque as denominações “mocambo” e
“quilombo” se difundiram no Brasil e não em outras áreas coloniais que
também receberam africanos da África Central e onde houve várias
comunidades de fugitivos? Uma hipótese seria a propagação dessas
palavras a partir da documentação produzida pela administração
colonial portuguesa. Havia uma constante circulação de agentes
administrativos pelas várias partes do Império Português na América,
na Ásia e na África. [...] Esses agentes podiam tratar de assuntos
diferente – acampamentos de guerra, prisioneiros africanos na África e
comunidades de fugitivos no Brasil, mas os nomeavam de forma
semelhante. [...] O termo “quilombo” só aparece para se referir a
Palmares no final do século XVII. Em geral, o mais usado era mesmo”
mocambo”, com variações locais.
A própria definição dos termos mocambo e quilombo remetem à
resistência. De um lado, a palavra mocambo no sentido de instrumento
(pau de fieira) para montagem de uma barraca ou acampamento. De
outro lado, a palavra quilombo como o significado de acampamento.

Para os portugueses, tanto a palavra mocambo quanto a palavra


quilombo não tinham o simples significado de um simples
acampamento. Eles imaginavam essas palavras no sentido de um
acampamento montado em razão da fuga ou da resistência à
escravidão.

SOUZA (2012, p. 20) citando MOURA (1987, p.11) aponta que:

Quilombo foi um termo atribuído pela Coroa Portuguesa, em resposta


à consulta do Conselho Untramarino, datada de 2 de dezembro de 1740,
significando “... toda habitação de negros fugidos que passem de cinco,
em parte despovoada, ainda que não tenham ranchos levantados nem
se achem polões neles.

A palavra quilombo, por seu turno, é a incorporação à língua portuguesa


de um termo africano que significa esconderijo e incorpora
linguisticamente no Brasil, o sinônimo de núcleo de escravos em

O que se constata, mesmo com a definição linguística empregada nas


palavras, é que mocambo ou quilombo passaram a ser sinônimos de
ajuntamento de negros em resistência ou fuga do sistema escravista.

Dentre as várias e complexas experiências históricas de protesto e


agenciamento político nas sociedades escravistas destaca-se a
formação de quilombos. Os quilombos tão somente abordados na
perspectiva de protesto contra a escravidão podem ser analisados no
contexto de formação de microssociedades camponesas de negros.

A formação de quilombos ao longo do Brasil escravista não ficou alheio


ao sistema sociológico e econômica de algumas regiões ou do próprio
país. Sem limites e entre fronteiras de relevante economia ou de
estratégico localização demográfica, os negros dos quilombos, na
medida do possível, articulavam-se com o restante da sociedade.

Nesse sentido PINSKY, J. e PINSKY, C. (2012, p. 453) apontam:

Do ponto de vista socioeconômico, estas relações sociais mantidas


pelos quilombolas articularam alguns grupos ao mercado de
abastecimento de alimentos e comércio clandestino. A frequência,
volume, periodicidade, continuidade e importância dessas relações
dependeram dos contextos específicos de algumas áreas e das
estratégias dos grupos quilombolas que nelas se estabeleceram.
Diversos fatores econômicos, geográficos e demográficos tiveram
impacto sobre a formação de grupos de fugitivos. As estratégias dos
quilombolas para manter sua autonomia relacionavam-se a contextos
geográficos e socioeconômicos diversos.

A formação de quilombos não se resume à resistência da violência do


sistema escravocrata. Também influencia na inserção do negro no
sistema socioeconômico do Brasil, mesmo que de forma clandestina.

Quilombo dos Palmares

O quilombo dos palmares foi a maior comunidade de negros fugitivos


no Brasil Colonial. Segundo GOMES (2011, p. 13) data de 1597 a primeira
referência à Palmares.

Localizado entre Alagoas e Pernambuco. Situava-se à distância de 120


quilômetros do litoral pernambucano, nas serras, entre as quais a
principal era chamada de Outeiro da Barriga, onde havia abundância de
palmeiras, o que faz surgir o nome Palmares. (GOMES, 2011, p. 13).

Em Palmares, havia uma complexa estrutura de organização, com ruas,


casas, muros, capelas, oficinas de fundição, produção de cerâmica e
utensílios em madeira, lavouras de feijão, milho, mandioca e cana de
açúcar. (MATTOS, 2012, p. 144)

O Quilombo dos Palmares era constituído de várias aldeias ou


mocambos, numa extensão que ia do Rio São Francisco ao Cabo de
Santo Agostinho. (GOMES, 2011, p. 13). Todas as aldeias tinham seus
respectivos chefes, no entanto, essas aldeias eram comandadas por
uma comunidade principal, onde ficava o líder do quilombo. Estima-se
que a população de Palmares entre seis e dez mil pessoas.

Segundo MATTOS (2012, p. 144) entre 1645 e 1678, o líder do quilombo


de Palmares foi Ganga Zumba. Desde 1612, os portugueses
organizavam expedições militares para destruir Palmares.

O empenho das investidas militares contra Palmares se dava em razão


do temor da noticiada dificuldade de sua destruição em razão da
dificuldade territorial e da adaptação dos negros ao local, de difícil
acesso, inclusive para fins de conflito.

A crescente população de negros que colocava Palmares como


sinônimo de escapadas ou ajuntamento de fugitivos, o que conflitava
ou desafiava o sistema escravista. Além disso, havia o interesse de
fazendeiros pelas terras em que Palmares estava estabelecida.

Entre 1645 e 1678, o líder do Quilombo de Palmares foi Ganga Zumba.


Diante de várias investidas militares para destruir Palmares, em 1678,
Ganga Zumba fez um acordo com o Governador de Pernambuco, Aires
de Souza e Castro, que culminaria com a liberdade dos negros de
Palmares, a entrega das terras em que estava estabelecido Palmares e
a posse das terras de Cucaú, ao Norte de Alagoas, aos Quilombolas.

Ocorre que, o acordo firmado por Ganga Zumba não foi consenso entre
os quilombolas de Palmares. Além disso, o acordo não foi cumprido
pelo Governo de Pernambuco e os quilombolas que se dirigiam a
Cucaú foram reescravizados.

Não há um consenso sobre o ocorrido com Ganga Zumba após esse


acordo. MATTOS (2012, p. 144) aponta que Ganga Zumba foi
assassinado pelo seu sobrinho Zumbi e por outros quilombolas em
razão de não haver consenso em relação ao tratado de paz proposto ao
Governo de Pernambuco. No entanto, acredita-se que Ganga Zumba
pode ter cometido suicídio.

Com a morte de Ganga Zumba em 1678, seu sobrinho Zumbi assume a


liderança de Palmares.

Depois de várias investidas, Palmares foi destruído em 1694 por uma


expedição comandada pelo paulista Domingos Jorge Velho. Esse
conflito causou a morte e a escravização de vários quilombolas. Apesar
de conseguir fugir, Zumbi foi preso em 20 de novembro de 1695. Foi
morto e teve a sua cabeça decapitada e exposta em público. (MATTOS,
2012, p. 144).

Abolição da escravatura

Entre 1840 e 1860 a opinião abolicionista existente criou força,


principalmente em razão das grandes transformações
socioeconômicas do período.

MAESTRI (1994, p. 98) aponta que:

Desde 1847, devido a grandes secas no nordeste e sobretudo no Ceará,


os cativos dessas regiões eram vendidos para o Centro-Sul cafeicultor.
Antes da publicação da lei, grandes quantidades de cativos foram
importados preventivamente quando elas se esgotaram, os
cafeicultores do Centro-Sul passaram a comprar, a alto preço, cativos
das cidades e das províncias do Brasil. Por décadas, o tráfico interno
alimentaria as necessidades de produção cafeicultora. Porém, o novo
comércio de trabalhadores escravizados modificaria, de forma
revolucionária, a sociedade. Valorizados, cativos empregados em
regiões ou em atividades menos produtivas eram vendidos, de todos
os pontos do Brasil, aos cafeicultores. Pela mesma razão, os senhores
urbanos desfaziam-se de seus negros. Com a concentração de cativos
no Centro-Sul e importantes regiões despovoando-se de escravos, em
poucos anos rompeu-se a unanimidade escravista no Brasil. Pela
primeira vez na história do Brasil, surgem, nas cidades e nos campos,
regiões e grupos sociais que não dependiam do trabalho escravizado.

A atuação do movimento abolicionista, especialmente em São Paulo,


contou com a participação de advogados, jornalistas, estudante, lojas
maçônicas, ferroviários comerciários entre vários outros.

Também no Rio de Janeiro, em meados de 1879, foi fundada por André


Rebouças a Sociedade Contra a Escravidão. Nesse mesmo ano, surgiu
a Confederação Abolicionista, composta por Joaquim Nabuco, João
Clapp e José do Patrocínio. (MATTOS, 2012, 149).

O envolvimento governamental da efervescência das pregações


abolicionistas e a posição conservadora dos cafeicultores chegaram ao
ápice em 1871, quando acabou sendo aprovada a Lei do Ventre Livre. A
Lei determinava que os filhos de escravas nascidos a partir daquela
data seriam considerados livres. A tramitação da Lei do Ventre Livre
afastou o governo das elites mais poderosas do país, fixadas no Centro-
Sul do Brasil, que argumentavam que a medida era uma afronta ao
direito de propriedade sobre os cativos.

Os efeitos da Lei do Ventre Livre não tiveram tanto efeito, eis que, o filho
de escravos, ao nascer, permanecia sob a tutela de seus pais escravos
até atingir 8 anos de idade. Nesse momento, o proprietário escolhia
entre receber uma indenização ou explorar gratuitamente o trabalho
escravo desse menor até que ele atingisse a maioridade aos 21 anos de
idade. (VICENTINO e DORIGO, 1997, p. 255).

Em 1885, foi aprovada a Lei dos Sexagenários, que libertava os escravos


com mais de 65 anos de idade. Obviamente, apenas um número muito
reduzido de escravos chegou a essa idade, tendo em vista a crueldade
do sistema escravista. Além disso, aos 65 anos de idade o escravo
apenas representava custo ao proprietário por não mais conseguir
trabalhar, tanto pela idade quanto pelo peso dos trabalhos e punições
cruéis.
O apoio abolicionista também chegou ao exército brasileiro. Algumas
províncias, como Ceará e Amazonas, anteciparam-se ao governo
imperial, abolindo a escravidão em seus territórios desde 1884. Em São
Paulo, surgia o grupo dos caifazes, voltados ao combate à escravidão
através de medidas práticas e revolucionárias, através da infiltração em
alojamento de escravos planejando e ajudando a realizar fugas em
massa. (VICENTINO e DORIGO, 1997, p. 255).

Nos últimos anos do século XIX, a resistência escravista criou um tipo


específico de quilombo, chamado abolicionista, tendo como líderes
pessoas conhecidas do movimento pró-abolição e que eram influentes,
tanto politicamente quanto socialmente. Por isso, esses quilombos
tinham um contato maior com a sociedade.

A grande pressão exercida por escravos fugitivos e rebeldes, apoiados


pelos abolicionistas, sem dúvida nenhuma, influenciou o governo
imperial a promover a abolição da escravidão.

MATTOS (2012, p. 150) aponta que “no senado, alguns políticos também
discursavam em favor da liberdade. Até mesmo na Corte essa ideia
tornou-se viável, em particular, pela Princisa Isabel [...].

No ano de 1888, a Princesa Isabel, governando interinamente o país em


lugar de seu pai, D. Pedro II, então em viagem, assinou a Lei Áurea,
decretando a libertação de todos os escravos no Brasil.

Segundo VICENTINO e DORIGO (1997, p. 256) com o fim do tráfico de


escravos, as fugas dos escravos ainda existentes e a expansão
demográfica mais intensa de homens negros livres do que cativos, a Lei
Áurea poderia ser considerada mais uma consequência da lenta
decadência que pelo qual o sistema escravista estava passando do que
propriamente uma causa do lento processo abolicionista.

Independente dos motivos que levaram à assinatura da Lei Áurea, o


importante era que o Brasil estava livre de um sistema cruel e
desumano que pairou por séculos em suas terras.

A luta dos negros pela dignidade desde a abolição até a


atualidade

Passado o terror da escravidão, inicia a luta do negro por sua inserção


na sociedade com igualdade de direitos. Libertos, os negros não
encontravam local de trabalho e, sem condições sociais adequadas,
acabavam se sujeitando a tarefas menos qualificadas e mais penosas,
pagos com valores irrisórios.
Como se não bastasse, as ações do governo apontavam para uma
campanha de branqueamento da população brasileira, através da
europeização do Brasil.

Corroborando este fato, MATTOS (2012, p. 186) aponta que:

Para a elite brasileira, o negro, por conta de seu “caráter bárbaro” e


“estado de selvageria”, era um empecilho à formação de uma nação,
pretendida o mais próximo possível da civilização. Portanto, o negro
deveria ser excluído da sociedade brasileira, sendo proibida a sua
entrada no país. [...] O governo republicano, além de incentivar, destinou
recursos próprios para a imigração europeia, proporcionando, em
grande medida, a exclusão dos negros do mercado de trabalho formal.
Italianos, portugueses, espanhóis e alemães foram chegando em
grandes levas e encaminhados para trabalhar tanto nas áreas rurais,
quanto urbanas do Brasil, mas principalmente como colonos nas
regiões mais prósperas, isto é, nas fazendas do centro-oeste de São
Paulo. Aos negros sobraram as tarefas menos qualificadas e, em geral,
sem qualquer tipo de contrato firmado, sendo, portanto, empregados e
pagos por cada serviço prestado.

O que se constata é que, a experiência secular de luta contra a


escravidão não está marcada tão somente pela formalização jurídica
decretada pela Lei Áurea. Com o fim da escravidão, passa-se ao
processo de luta contra as desigualdades, a falta de oportunidade, o
preconceito entre tantos outros males que são atuais desde 1888.

Apesar não sentir a dor das chibatadas, o negro sofre como a


indiferença e se torna escravo de um sistema de exclusão social.

Nesse sentido PINSKY, J. e PINSKY, C., (2012, p.462) aponta:

O escravo vira negro. Como? Não mais havendo a distinção jurídica


entre trabalhadores, a marca étnica – e histórica – da população negra
é reinventada como fato social. A sociedade brasileira, mais do que
permanecer desigual em termos econômicos, sociais e
fundamentalmente raciais a partir de 1888 (portanto, temos que
considerar as experiências desde a colonização), reproduz e aumenta
tais desigualdades, marcando homens e mulheres etnicamente. A
questão não foi somente a falta de políticas públicas com relação aos
ex-escravos e seus descendentes no pós-abolição. Houve mesmo
políticas públicas no período republicano reforçando a intolerância
contra a população negra: concentração fundiária nas áreas rurais,
marginalização e repressão nas áreas urbanas.
Mesmo com a desigualdade social que existe desde os tempos da
abolição da escravidão a comunidade negra nunca perdeu a sua força
e vem conquistando espaço na sociedade brasileira.

Ao longo do século XX os negros passaram a atuar em associações


culturais, organizaram a Frente Negra Brasileira, fundaram o Clube
Negro de Cultura Social, participaram de ativismo político desde a
república velha, participaram de movimentos sindicais desde a década
de 1960, lutaram contra as ditaduras e se organizam cotidianamente em
favor da igualdade.

Especificamente na seara cultural, os negros, desde os tempos da


colonização, contribuíram de forma significativa com o Brasil. Neste
sentido MATTOS (2012, p. 156) aponta que:

Os africanos, quando chegaram ao Brasil, passaram a conviver com


diversos grupos sociais – portugueses, crioulos, indígenas e africanos
originários de diferentes partes da África. Nesse caldeirão social
tentaram garantir a sobrevivência, estabelecendo relações com seus
companheiros de cor e de origem, construindo espaços para a prática
de solidariedade e recriando sua cultura e suas visões de mundo. Dessa
maneira, integraram as irmandades católicas, praticaram o islamismo e
o candomblé e reuniram-se em batuques e capoeiras. Com isso, os
africanos influenciaram profundamente a sociedade e deixaram
contribuições importantes para o que chamamos hoje de cultura afro-
brasileira.

São séculos de contribuição cultural negra a preço de sangue, suor e


dor. Nesse tempo, vários costumes trazidos da África foram adaptados
à realizada do Brasil. A capoeira é um dos grandes exemplos, pois,
apesar de ser praticada por negros, em sua maioria por africanos, teve
sua origem em solo brasileiro.

O contexto histórico da escravidão e a incansável luta do negro desde


o embarque no navio negreiro, mostra a força da comunidade negra
mais forte principalmente pelas atuais conquistas que vêm alcançando
no Brasil.

Podemos citar como conquistas da comunidade negra no Brasil as


importantes aprovações de Leis que garantem a sua inserção plana no
convívio social, com destaque para a Constituição Federal do Brasil de
1988 que em seu artigo 5º, caput, preceitua que todos são iguais
perante a Lei.

A Constituição de 1988, também trouxe o art. 68 dos Atos das


Disposições Transitórias prevendo que “aos remanescentes das
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é
reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os
títulos respectivos.”1 Trata-se de um reconhecimento relativamente
contemporâneo da existência de quilombos garantindo direito de
propriedade aos quilombolas descendentes de escravos.

Algumas leis criadas também são sinônimas das lutas da comunidade


negra para defesa da igualdade e manutenção de sua identidade, social
e cultural, como as seguintes:

A) Lei nº 7.660, de 22 de agosto de 1988 – Autoriza o Poder Executivo a


constituir a Fundação Cultural Palmares e dá outras providências;

B) Lei nº 7.716 de 05 de janeiro de 1989 (Lei Caó) – Define os crimes


resultantes de preconceito de raça ou de cor;

C) Lei nº 9.459, de 13 de maio de 1997 – Altera os arts. 1º ao 20 da Lei


7.716, de 05 de janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de
preconceito de raça ou de cor, e acrescenta no art. 140 do decreto
2.848, de 7 de dezembro de 1940. (Estabelecendo pena para o crime de
injúria racial);

D) Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003 – Estabelece as diretrizes e


bases para incluir no currículo oficial da rede de ensino a
obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira;

E) Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 – Institui o Estatuto da Igualdade


Racial; Altera as Leis nºs 7.716, de 05 de janeiro de 1989; 9.029, de 13 de
abril de 1995; 7.347, de 24 de julho 1985; e; 10.778, de 24 de novembro
de 2003; e;

F) Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011 – Institui o Dia Nacional de


Zumbi e da Consciência Negra, e várias outras normas.

G) Lei nº 12.990 de 9 de junho de 2014 – Reserva aos negros 20% (vinte


por cento) das vagas oferecidas nos concursos públicos para
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da
administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas,
das empresas públicas e das sociedades de economia mista
controladas pela União.

Lentamente mecanismos de combate à exclusão do negro vêm sendo


criados e executados e alguns resultados do combate contra a
exclusão social do negro vem sendo notados.
Destarte, toda a história da escravidão não é para ser apagada. É para
ser vista do ponto de vista reflexivo para que a sociedade
contemporânea não cometa os mesmos erros da exclusão social e
exploração do ser humano em razão da cor da pele.

Conclusão
O presente trabalho mostrou o contexto histórico da luta da
comunidade negra desde os tempos em que escravidão negra estava
concentrada na África. A escravidão de negros por negros na África
tinha como motivo, guerras, dívidas, punições, sacrifícios religiosos,
entre outros. Logo houve o interesse de europeus e asiáticos na
comercialização de escravos, o que, acabou se expandindo para o
continente americano em razão das grandes navegações a partir do
século XV.

O mercado de escravos era abastecido na África pelos próprios negros,


que tornavam cativos negros de outras tribos, na maioria das vezes
mediante sequestro. Os motivos que levavam o negro a vender outros
negros eram vários, como o interesse por armas e outras especiarias
fornecidas pelos europeus.

A dor do negro iniciava com a separação de sua tribo e de seus


familiares, além de violência sofrida durante seu sequestro. Também
era tortuosa a espera pelo embarque nos navios negreiros, momento
em que tinham seus corpos marcados a de ferro quente, em especial
na região da face.

Na travessia do Oceano Atlântico rumo às Américas, as viagens eram


longas. O negro viajava em porões superlotados com
aproximadamente 500 outros negros, com péssimas condições de
higiene e de alimentação, além dos maus tratos e agressões físicas. Os
negros ficavam acorrentados e dormiam no chão duro. Muitos não
resistiam o sofrimento da viagem e acabavam morrendo, tendo seus
corpos eram jogados em alto mar.

Quando chegavam ao seu destino, eram vendidos como simples


mercadorias. Eram obrigados a trabalhar em fazendas, engenhos,
minérios, exploração de recursos naturais, em outros serviços. Em
geral, os escravos cumpriam uma jornada excessiva de
aproximadamente 20 horas e exerciam tarefas extremamente pesadas.
Viviam acorrentados em senzalas, que também possuíam péssimas
condições de habitação e sofriam todo tipo de violência física e moral.
Os negros resistiam todo esse sofrimento como podiam, desde o
momento em que eram sequestrados, até o memento em que se
tornavam propriedade. Geralmente através de fugas, o que ocasionava
a tortura por meio de vários instrumentos, não sendo raro o uso de
chibatas. A fuga muitas vezes resultava na constituição ou ingresso em
quilombos.

Na maioria das vezes em que eram capturados, os negros apanhavam,


podendo chegar até a morte. Outros negros preferiam o suicídio a
aguentar o sofrimento da escravidão. Quando formavam quilombos
eram duramente atacados por senhores de engenho ou pelo governo.
Quando não morriam ou conseguiam fugir nos ataques contra os
quilombos, eram reescravizados.

Vários quilombos foram sinônimo de resistência negra, sendo o mais


conhecido o Quilombo de Palmares, no Estado de Alagoas, liderado
inicialmente por Ganga Zumba e depois por Zumbi, seu sobrinho.

Os quilombos, além de representação de resistência da comunidade


negra, também influenciam na economia da região em que estão
estabelecidos. Produziam vários alimentos e produtos que, inclusive,
eram exportados para a Europa.

Em razão da queda do enfraquecimento da escravidão no Mundo, pela


mudança no cenário econômico que influenciou na baixa utilização do
negro cativo e pela pressão dos abolicionistas, em 13 de maio de 1888
foi assinada a Lei Áurea, pondo fim à escravidão no Brasil. Era o fim da
dor ocasionado pela chibata do feitor e o início da dor causada pela
exclusão social.

Apesar de já haver negros livre e mestiços no século XIX, houve um


significativo aumento no número de negros em razão da abolição da
escravatura. Desta forma, o problema passou a ser a falta de emprego,
de moradia e de direitos iguais ao negro, que ainda era visto pela
população burguesa, como pessoas bárbaras. Muitas vezes restava ao
negro viver na condição de escravo ou análoga à de escravo para poder
sobreviver ou manter o sustento de sua família.

De 1888 a 1988, a luta do negro pela conquista de igualdade nunca


cessou, vendo acontecer nos séculos XX e XXI algum progresso na
conquista pelo mínimo direito para subsidiar um mínimo de dignidade
no Brasil.

A Constituição de 1988 e várias outras Leis posteriores vieram tentar


amenizar a catastrófica história da degradação do negro desde o século
XV. Alguns falam em dívida histórica, outros apenas em garantia de
direitos contemporâneos.

Fato é que, várias conquistas são evidentes, principalmente no campo


legislativo e de inserção do negro como agente de direitos, no entanto,
muita há que se conquistar no Brasil em matéria de direitos e garantias
à comunidade negra no Brasil.

Por trás de todo o sofrimento histórico que a comunidade negra passou,


houve resistência, ou seja, todos os direitos contemporâneos
conquistados pela comunidade negra são créditos de todos os negros
que de alguma forma resistiram à dor à indiferença, mesmo que dentro
de um porão de um navio negreiro no século XV.

A resistência persiste, mas o objetivo é lutar contra os grilhões


contemporâneos do descaso, da desigualdade social, da desigualdade
econômica e da ignorância. A conquistas, no Brasil, ainda estão no
campo cultural. O brasileiro precisa ainda conhecer a história do negro
e entender que se deve pugnar pela igualdade para constituir um país
mais justo.

O passo inicial foi dado , pois a aprovação da Lei nº 10.639, de 09 de


janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases para incluir no
currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática
História e Cultura Afro-Brasileira, visa construir, ao longo do tempo, uma
sociedade que conhece e respeita a história, a luta, o sofrimento e as
conquistas da comunidade negra, desde a sua retirada do seio materno
africano a partir do século XV até a contemporaneidade no Brasil.

Conclui-se, portanto, que o processo histórico de resistência e luta da


comunidade negra, desde sua história a partir do século XV até a até a
contemporaneidade no Brasil, garantiu resultados e direitos
importantes.














Revolta dos malês

No século XIX aconteceram várias revoluções pelo Brasil. Esses movimentos ocorreram por
causa da insatisfação de boa parte da população. Com os escravos não era diferente. Eles
queriam deixar de exercer o trabalho forçado e passar por constrangimentos como: abusos
sexuais, humilhações públicas, torturas, violências físicas e psicológicas.

A data escolhida pelos líderes para realização do motim não foi aleatório. Na verdade, ela
representava o “Ramadã” - período mais importante para os muçulmanos, no qual
acontecem muitas preces e jejuns. A rebelião ocorreu justamente no final do mês de jejum,
25 de janeiro.
Os escravos queriam se livrar das péssimas condições em que levavam as suas vidas e, por
isso, desejavam o fim da escravidão. Na Bahia, a insatisfação com o sistema político e
econômico que imperava pelo Brasil também era comum entre os escravizados . Além
desses fatores, lutaram pela liberdade religiosa, pois eram obrigados a aderir o catolicismo.
A revolta dos Malês foi liderada por Luís Sanim (pertencente ao povo tapa, conhecido
também como nupes), Manoel Calafate, Pacífico Licutan e outros. Ela aconteceu no centro
da cidade de Salvador - Bahia e começou com um ataque ao Exército, para libertar os
escravos dos engenhos e tomar o controle da cidade.
Outros líderes da revolta dos Malês, a maior parte nagô, foram: Ahuna; Dassalu ou Damalu;
Elesbão do Carmo ou Dandará (haussá); Gustard e Sule ou Nicobé.
“Malê” é um termo que se origina da palavra “imalê”, que por sua vez tem origem na língua
iorubá. Na língua iorubá significa “muçulmano” e é um idioma referente à família linguística
nígero-congolesas.

Objetivo

Os escravos estavam insatisfeitos porque queriam conquistar a carta de alforria e a tão


sonhada liberdade. No entanto, aqueles que conseguiam ficar livres sempre tinham de
enfrentar todo o tipo de discriminação. Isso era comum de acontecer, mesmo quando
passavam a ocupar cargos de alfaiataria, artesanato, carpintaria e pequenos comércios.

Os principais objetivos da revolta dos Malês eram:

• Confisco dos bens dos brancos e mulatos.


• Conquista dos mesmos direitos que tinha os cidadãos brancos.
• Criação de uma república islâmica.
• Direito de liberdade ao culto baseado a religião islâmica.
• Fim da descriminação racial.
• Fim da imposição religiosa do catolicismo.
• Extinção do regime escravocrata.
Entre os rebeldes que participaram da revolta, muitos tinham outras religiões, mas isso não
os impediram de lutar lado a lado pela conquista do direito de uma vida melhor.
Eles queriam deixar de sofrer com problemas de discriminação racial, já que eram
marginalizados e punidos rigorosamente por serem negros e impedidos de seguir os
próprios rituais religiosos, totalmente diferentes daqueles que eram impostos pelos
brancos.
A ideia era reunir a maior quantidade de malês, provenientes de todas as partes da cidade
de Salvador, e assim poder começar o motim. Todo o esboço do plano de ataque foi escrito
em árabe. Há indícios de que foi um escravo chamado Mala Abubaker quem o escreveu.
A primeira etapa da revolta era libertar os negros escravizados que estavam presos
na Câmara Municipal de Salvador, mas a estratégia fracassou. Então se dirigiram
para libertar os cativos de engenhos.
Em seguida, prenderam os brancos e se apropriaram de seus bens. Na madrugada de 25 de
janeiro de 1835, os rebeldes tomaram as ruas contra as tropas do governo da Bahia.

Os malês tiveram uma chance muito grande de conquistar a liberdade. Falavam várias línguas,
eram mais letrados do que a elite portuguesa e isso gerou muito medo nos senhores dos
escravos. Além de tudo, eles tinham saberes cosmopolitas, integrando vivências das
sociedades por onde passaram”, reconta Ale.




Guerra dos queixadas


Surgem os queixadas: panelas de cimento contra panelas de ferro
Em 1925, a empresa canadense Drysdale y Pease instalou a planta da Fábrica de
Cimento Portland Perus. Foi a primeira fábrica a produzir cimento em larga escala no
Brasil. Sua localização não foi por acaso. Em 1914, a estrada de ferro Perus-Pirapora já
ligava a região da fábrica à cidade vizinha, Cajamar, onde estava localizada uma
enorme jazida de calcário, ingrediente fundamental da receita do cimento tipo
Portland.
À época, o distrito de Perus representava um dos extremos norte da cidade de São
Paulo, que iniciava seu processo de verticalização. A fábrica foi a maior fornecedora de
cimento para os novos empreendimentos imobiliários. Aliás, a maioria da matéria-
prima para a construção de Brasília saiu de seus fornos.

A história do bairro, por sua vez, confunde-se com a expansão da malha ferroviária
paulista. Em 1867 foi inaugurada a estação Perus, como extensão da São Paulo
Railway, a ferrovia Santos-Jundiaí (hoje linha 7 Rubi da CPTM), o tronco irradiador do
desenvolvimento do estado na época. Tanto essa estação quanto sua conexão com a
já citada estrada de ferro Perus-Pirapora permitiram o adensamento populacional das
redondezas e a instalação de fábricas e comércios na região.

Epicentro do distrito, a fábrica da Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus


ditava o ritmo da rotina dos seus moradores. Na obra de Larissa Gould e Jéssica
Moreira, “Queixadas: Por trás de 7 anos de greve”, as jornalistas apresentam relatos de
sobreviventes e parentes do tempo da Grande Greve, que contam como o apito da
fábrica – para a entrada, para o almoço e para o fim do expediente – ditava o ritmo do
bairro, que girava em torno da fabricação de cimento.

Em 1951 o deputado federal José João Abdalla assume a gestão da Fábrica de Perus,
integrando-a ao seu império. Além de deputado, Abdalla foi secretário do trabalho do
governador Ademar de Barros, entre 1950 e 1951, e era proprietário de fazendas,
bancos, pedreiras e ferrovias. Foi a partir desse momento que os conflitos entre
patrão e empregados começaram a se acirrar. Abdalla tinha fama de não pagar em dia
seus empregados e, na década de 1950, era tratado pelos jornais de grande circulação
como um “mau patrão”.

As condições de trabalho dos operários envolvidos na fabricação de cimento eram


difíceis e insalubres. Ficavam expostos às altas temperaturas dos fornos e sujeitos à
grossa fuligem do cimento, que cobria telhados de casas e a vegetação dos entornos.
Por isso, dependiam diretamente do bom relacionamento com os proprietários para
amenizar tais dificuldades do trabalho diário.

É nesse contexto, de primeiros anos de uma nova gestão, que eclode a primeira greve
na Fábrica de Perus. Em 1958 os operários paralisaram suas atividades por 46 dias,
reivindicando aumento salarial proporcional à valorização do cimento.

Em acordo coletivo recém-firmado entre empresas do grupo Abdalla e a Federação dos


Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Paulo ficara acertado o
percentual de reajuste salarial de 30% para o ano de 1958. Contudo, o Sindicato dos
Trabalhadores na Indústria do Cimento, Cal e Gesso de São Paulo, que representava
grande parte dos empregados da Cia Brasileira de Cimento Portland Perus, tomou
conhecimento que Abdalla pretendia aumentar o preço do cimento em 40%, sem
repassar os mesmos índices aos seus empregados. Diante disso, a fábrica parou.
Em julgamento de dissídio coletivo no TRT-2, 35 dias após o início da greve, os juízes
decidiram pelo aumento de 30%, sendo apenas um voto a favor dos 40%. Esse único
voto foi o suficiente para dar esperança aos trabalhadores, que decidiram manter as
paralisações até o julgamento do recurso no TST, que naquela época ainda estava
instalado no Rio de Janeiro (o órgão iria para Brasília apenas em 1971).

Foi nesse contexto da greve de 1958 que o apelido “queixadas” foi criado, para
designar o ímpeto de união e justiça existente entre os trabalhadores da Fábrica de
Cimento Portland Perus.

Outra passagem importante da história dessa greve foi sua repercussão positiva na
mídia paulistana e a simpatia por parte de Jânio Quadros, governador de São Paulo na
época.
Quarenta e seis dias depois do início da greve, os queixadas, recém-batizados,
conquistaram sua primeira vitória. Firmou-se um acordo que cedeu 40% de reajuste
salarial, o direito de retorno dos grevistas ao trabalho e o pagamento dos dias de
paralisação.

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