Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM GEOLOGIA

RELATÓRIO DE CAMPO TEÓRICO – GEOLOGIA ECONÔMICA

SARAH BORGES SILVA – 17/0053245

BRASÍLIA
2021

1
1. Complexo Máfico-Ultramáfico de Barro Alto – Mina de Bauxita em
Souzalândia

1.1 Histórico

Grande parte dos depósitos de Bauxita foram historicamente descobertos


através de estudos geológicos conduzidos na região amazônica, que contém
grandes reservas de bauxita, e nas regiões sul e sudeste do Brasil. O total de
reservas de bauxita no Brasil, corresponde a aproximadamente 3,8 bilhões de
toneladas e representam 10,6% das reservas globais, sendo que a região norte
contém as maiores reservas, correspondendo a 95% das reservas no Brasil.
O depósito de bauxita de Barro Alto, localizado na região Centro-Oeste foi
descoberto em 1999, correspondendo a 160 milhões de toneladas de reservas.
Esse depósito teve origem a partir dos anortositos das séries superiores do
complexo máfico ultramáfico de Barro Alto, do Neoproterozóico da faixa Brasília.

1.2 Contexto geológico/geotectônico

O maciço de Barro Alto fica localizado entre os municípios de Barro Alto e


Santa Rita do Novo Destino no estado de Goiás. A geomorfologia regional é
composta de três grupos de serras: Santa Barbara, Laguna e Grande.
Serra Grande fica localizada no maciço de bauxita e é compartimentado em
duas serras conhecidas como Morro da Torre e Morro do Buraco. Estes possuem
altitudes de 1500 m e 1300 m respectivamente, contrastando com a morfologia em
volta que possui altitudes entre 550 a 900 metros. O clima da região é tropical,
com uma média anural de chuva de 1600 mm e uma temperatura média de 25° C,
com duas estações definidas (inverno seco e verão úmido). A vegetação consiste
em Cerrado, cujo em altitudes de 1000 metros é preservado.
A geologia da área é constituída por anortositos que fazem contato com
rochas gabroícas ao norte e noroeste, e com rochas ultramáficas ao sudeste. A
área está localizada no contexto da província Tocantins, consistindo de cinturões
orogênicos formados durante o ciclo Brasiliano/Pan-africano Neoproterozóico,
incluindo a faixa brasília. Esses cinturões orogênicos se formaram durante a
colisão de três grandes blocos cratônicos, os cratons Amazônico, São Francisco e
o bloco Paraná.
O complexo Barro Alto está exposto ao longo da porção interna da faixa
brasília, juntamente com os complexos Niquelândia e Canabrava. Esta é uma
exposição bem preservada do cinturão orogênico acrescionário, constituído por
uma espessa e extensa sequência sedimentar ao longo da margem Oeste do
Cráton São Francisco, um arco magmático juvenil (arco magmático de Goiás) na
parte Oeste do orogeno, terrenos antigos constituídos de greenstone-belts
arqueanos e associações TTG e um grande complexo metamórfico consistindo de
granulitos Neoproterozóicos e granitos. O fechamento final do ocoeano e a colisão
continental ocorreram a cerca de 630 Ma atrás.

2
1.3 Rochas encaixantes/hospedeiras

O anortosito é caracterizado macroscopicamente como uma rocha


leucocrática de granulometria média-grossa inequigranular holocristalina, com
coloração que varia de um cinza para um roza claro. A estrutura do anortosito é
caracterizado por alternâncias entre bandas escuras e claras. As bandas mais
claras, contém cristais escuros dispersos, e exibem espessuras que variam de 0,5
cm a 10 cm. As bandas mais escuras são descontínuas e exibem uma espessura
entre 0,3 e 3 cm.
As bandas mais claras são compostas por plagioclásios sem uma
orientação preferencial, com granulometria fina a grossa, correpondendo a cerca
de 95% da composição mineralogica. Estes cristais mostram típica geminação
polisintética com múltiplas albitas, periclíneos e menos comumente carlsbad. O
plagioclásio foi classificado quimicamente como uma bytonita, com teor de anortita
de 77%. Não é observado um zoneamento químico nestes cristais, indicando a
origem metamórfica destes cristais.
As bandas escuras são compostas principalmente de granada (30%),
anfibólio (25%), cpx-opx (20%) e plagioclásio (20%), juntamente com minerais
acessários e secundários (5%). A granada é composta quimicamente de 50% de

3
almandina, 50% de piropo. Os anfibólios exibem uma coloração marrom-
esverdeada e são geralmente classificados como hornblenda pargasítica. A
composição de clinopiroxênios esta entre a augita e do diopsídio, formando
cristais medindo até 2 mm. O ortopiroxênio ocorre como cristais prismáticos com
pleocroísmo e é classificado quimicamente como hiperstênio.
Os minerais acessórios são espinélio e titanitas. Os espinélio possui uma
coloração esverdeada em luz plano-polarizada e é classificado quimicamente
como um pleonasta, que possui proporções de Fe e Mg similares. A titanita é rara
e forma cristais euédrais pequenos que só são observados no microscópio.
Fraturas que interceptam as bandas escuras e claras podem ocasionalmente estar
preenchidas por minerais secundários como zeólitas. Os contatos abruptos entre
zeólitas e minerais máficos e o contato difuso com plagioclásios sugerem que as
zeólitas são o produto da altração do plagioclásio.
A paragênese da assembleia de mineriais máficos indicam o alto grau de
metamorfismo nas fácies granulito, principalmente em função da presença de
ortopiroxênio e espinélio de protólitos ígneos, com um metamorfismo retrógrado
subsequente, que é indicado pela presença de anfibólio e zeolitas. A textura da
rocha é granoblástica, em que os cristais exibem contato em fácies paralelas com
ângulos de 120°.

1.4 Geometria e estruturação do depósito

O Complexo Barro Alto é a maior intrusão acamadada da região central do


Brasil, se extendendo por 150 Km e com até 30 Km de largura. O complexo é
dividido em um segmento com trend E-W e um seguimento N-S, estes são
separados por uma estrutura de falha onde a maior zona e o acamamento de
ambos os segmentos se truncam.
O seguimento E-W consiste principalmente de gabronoritos e piroxenitos
em menor proporção. Este seguimento possivelmente representa o resultado da
justaposição de várias fatias tectônicas paralelas, o que explica a ausência de
uma tendência coerente de fracionamento. Esta interpretação é suportada pela
existência de uma grande fatia de rochas gnaissicas e sequências supracrustais,
incluindo rochas vulcano-sedimentares metamorfisadas, entre rochas máficas-
ultramáficas acamadadas. Estudos feitos em seções específicas do segmento E-
W indicam a existência de ciclos repetidos de websterita e gabronorito, sugerindo
fracionamento de cumulatos de ortopiroxênios + clinopiroxênios a cumulados de
ortopiroxênio + clinopiroxênio + plagioclásio.
Composições minerais de piroxênios primários e elementos incompativeis
de gabronoritos, websteritos e quartzo-dioritos do segmento E-W são similares
aos obtidos em rochas similares do complexo Niquelândia. O seguimento N-S
consiste de duas zonas grandes mapeadas. A estratigrafia mostra camadas com
tendência N-S e mergulho para oeste. A zona máfica inferior possui cerca de 60
km de comprimento e 15 km de largura, consistindo principalmente de
gabronoritos com websterito e ortopiroxenito. Rochas acamadadas são altamente
tectonizadas no contato a leste da zona de cisalhamento Rio Maranhão.

4
1.5 Mineralogia do minério

O anortosito é a rocha geradora da bauxita em Barro Alto. A composição


mineralógica é predominantemente de plagioclásios (bytownita) com menores
quantidades de granada, anfibólio, piroxênio (orto e clino), minerais acessórios
(espinélio e titanita) e minerais secundários como zeolitas. A sua paragênese
mineralogica, juntamente com a sua textura granoblastica indicam que o protólito
ígneo, passou por um alto grau de metamorfismo (indicado pela presença de
espinélio e ortopiroxênio) e um metamorfismo retrográdo (indicado pela presença
de zeólita e hornblenda).

1.6 Estruturas/texturas

Macroscopicamente e microscopicamente, o contato entre o anortosito e a


bauxita é abrupto. Fraturas pré-existentes no anortosito permitem uma progressiva
frente de intemperismo, o qual facilita a percolação de fluídos e promove a
dissolução de minerais primarios e neoformação de minerais subsequente em
duas fases. Na primeira fase, o plagioclásio é alterado diretamente para gibbsita, e
na segunda fase, os minerais ferromagnesianos são transformados em goetita, de
acordo com a ordem de estabilidade do mineral.
Boxworks de gibbsita são formados sobre alteromorfos de minerais
primários, formando uma textura isalteritica. Esta estrutura é caracterizada por
uma rede de boxworks de gibbsita, o qual envolve boxworks de goetita. Os vazios
na bauxita recém formada são abundantes e são derivados do total consumodos
núcleos residuais de minerais primários.

1.7 Controle da mineralização

Em ambiente supergênico, os anortositos foram alterados por soluções de


intemperismo que percolaram zonas de fraqueza dos minerais e foram
inicialmente ajudados pela existência de uma rede de fraturas. A origem destas
fraturas está relacionada com eventos tectônicos e alívios de pressão.
O processo de bauxitização ocorreu em dois estágios. O primeiro estágio
envolveu a transformação da bytownita em gibbsita e o segundo passo envolveu a
transformação de minerais ferromagnesianos em goetita. As fases minerais de
composição química intermediária, como por exemplo, aluminossilicatos ou
silicatos de ferro, não foram observados, o que indica um típico processo de
alitisação. A bauxita formada pela alteração direta de anortositos é porosa e
esbranquiçada, indicando uma pequena dispersão do Fe.

1.8 Modelo genético

Em um estágio mais jovem do processo de alteração, os cristais de gibbsita


ao redor de minerais ferromagnesianos primários que são totalmente ou
parcialmente preservados. Enquanto o processo de intemperismo avança, estes
minerais se transformam diretamente em goetita. Além das fraturas, a frente de
intemperismo avança ao longo de planos de fraqueza dos minerais, formando
5
contornos regulares e irregulares. Os núcleos dos plagioclásios são caracterizados
por fragmentos residuais que são cercados por gibbsita, originada diretamente do
intemperismo do plagioclásio. O espaço que separa os núcleos residuais de
plagioclásio da gipsita é descrito como um contato vazio.

O processo de transformação da bytonita em gibbsita é associado com uma


relativa acumulação de aluminio e lixiviação de outros componentes químicos,
especialmente alcalis e sílica. Uma baixa concentração de Si na bauxita esta
restrita aos minerais ferromagnesianos que não passaram uma mudança
completa. Os minerais ferromagnesianos também mostram uma formação isolada
de núcleos residuais de minerais primários que foram transformados diretamente
em goetita. A completa alteração dos minerais ferromagnesianos ocorre quando o
plagioclásio foi totalmente transformado em gibbsita.

1.9 Bibliografia

Oliveira, F.S.; Varajão, A.F.D.C.; Varajão, C.A.C.; Boulangé, B.; Gomes, N.S.;
Bauxitisation of anorthosites from Central Brazil; Geoderma, Volumes 167–168,
2011, Pages 319-327, ISSN 0016-7061,
https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2011.09.006.

Oliveira, F.S.; Varajão, A.F.D.C.; Varajão, C.A.C.; Boulangé, B.; Soares, C.C.V.;
Mineralogical, micromorphological and geochemical evolution of the facies from
the bauxite deposit of Barro Alto, Central Brazil; CATENA, Volume 105, 2013,
Pages 29-39, ISSN 0341-8162, https://doi.org/10.1016/j.catena.2013.01.004.

1.10 Mapa Geológico de Semi-Detalhe e/ou Detalhe do Depósito

6
1.11 Seção Geológica Vertical de Detalhe do Depósito

2. Depósitos de Au-Ag-Ba, Cu-Au e Au do Arco Magmático de Goiás -


Segmento Mara Rosa (Zacarias, Chapada e Posse)

2.1 Histórico

A história da exploração mineral no Arco Magmático de Goiás do


Neoproterozóico, especialmente nas áreas de Chapada e Bom Jardim, datam do
começo dos anos 70. Nessa época a exploração objetivava a descoberta de
depósitos de sulfeto maciços vulcanogenicos, desde associações de rochas
vulcânicas/plutônicas do arco magmático de Goiás foram correlacionadaa com
greenstone belts arqueanos da região de Crixás. No entanto, no começo dos anos
1990, sequências vulcano-sedimentares e unidades plutônicas associadas
hospedando mineralizações de Cu-Au na Chapada e Bom Jardim foram
interpretadas como representantes de associações de arcos magmáticos juvenis
do neoproterozóico, formados entre 0,9 e 0,64 Ga em ambientes geotectônicos
similares aos arcos modernos.
Tabalhos anteriores realizados no depósito Chapada destacaram controvérsias
a cerca da origem e da natureza da mineralização. Trabalhos pioneiros feitos por
Richardson et al. (1986) sugeriam que o depósito era formado por processos
similares aos observados na gênese de depósitos do tipo pórfiro de Cu-Au. Já
Silva and Sá (1986) e Kuyumjian (1989) sugeriram um modelo similar ao dos
depósitos do tipo VMS, em que as rochas ricas em epidoto se formaram através
da interação vulcano-exalativa entre água do mar e rochas vulcânicas máficas a
intermediárias, em um estágio anterior ao da fase de deformação. Os epidositos

7
atuariam como condutos para salmouras carregando metais, incluindo Cu e Au,
enquanto que xistos poderiam representar a alteração hidrotermal e o
metamorfismo fílico.
Tabalhos mais recentes de Kuyumjian (2000, 1995) reformularam o seu
modelo para um modelo mais semelhante ao apresentado por Richardson et al.
(1986), sugerindo que o depósito de Cu-Au Chapada pode ter se formado pela
combinação de processos envolvendo atividade hidrotermal magmática, seguido
por remobilização metamórfica.

2.2 Contexto geológico/geotectônico

O Arco Magmático de Goiás está localizado entre a faixa Brasília, Província


Tocantins, formado entre 600 e 900 Ma devido ao consumo da litosfera oceânica,
convergência e colisão continental, entre o craton amozônico e São
Francisco/Congo, durante uma fase inicial da almagamação do supercontinente
Gondwana. As zonas tectônicas da faixa são, de leste para oeste: Uma zona
foreland com um embasamento de granito-greenstone Arqueno-Paleoproterozóico
coberto por rochas sedimentares neoproterozóicas (grupo bambuí); uma dobra de
cisalhamento com baixa taxa de metamorfismo; nappes metamorficas em facies
xisto verde a granulito; O maciço Goiás, que consiste de núcleos arqueanos TTG
e sequências greenstone belt.
O arco magmático de Goiás forma 1000 km de um cinturão com tendência
NNE de ortognaisses juvenis associados com sequecias vulcano-sedimentares
expostas na porção Oeste de Goiás e Tocantins. As extensões sul e suldeste do
Arco Magmático de Goiás são cobertas por rochas sedimentares Paleozóicas-
Mesozóicas das bacias Parnaíba e Paraná, respectivamente. Duas áreas
discontínuas de crosta continental juvel do neoproterozóico formam o arco Goiás
consistindo de ortognaisses granitícos a dioriticos expostos entre cinturões
vulcano-sedimentares anastomosados de direção NNE: 1) Arco magmático Mara
Rosa em que rochas metassedimentares são dominantes e 2) Arco Magmático
Arenópolis com prevalência de rochas metavulcânicas.
Datações U-Pb indicam que o magmatismo do arco entre dois períodos que
provavelmente refletem um distinto ambiente tectônico. O evento mais velho de
900 a 800 Ma ocorreu em um ambiente similar a arcos de ilha intra-oceânicos
modernos e inclui a sequência vulcano-sedimentar Mara Rosa. O evento mais
jovem ocorreu entre 670 a 600 Ma muito provavelmente em um ambiente de arco
magmático durante o qual a sequência vulcano-sedimentar Santa Terezinha foi
formada.

2.3 Rochas encaixantes/hospedeiras

O Arco Magmático de Goiás é dominantemente composto de ortognaisses


tonalíticos/dioriticos expostos entre cinturões vulcano-sedimentares NNE. Na área
da Chapada – Mara Rosa, as rochas metaplutônicos de composição diorítica a
tonalítica mostram localmente texturas plutônicas bem preservadas como
enclaves e texturas porfiríticas. Dados isotópicos mais recentes demonstraram
que o magmatismo tonalitico e máfico associado, ocorreu em dois momentos
8
distintos: o mais antigo entre 856 e 807 Ma, e o mais jovem e aparentemente o
estágio mais volumo, entre 640 e 622 Ma.
Na área Chapada – Mara Rosa, as rochas supracrustais formam 3 cinturões,
conhecidos como cinturões leste, central e oeste. Estes são separados um do
outro por metatonalitos/metadioritos. Os três são compostos por metabasaltos,
metatufos félsicos e intermediários, metagrauvadas, granada-mica xistos,
metacherts, formações ferrosas, quartzitos e rochas metaultramáficas, todas
metamorfisadas em condições de fácies xisto verde a anfibolito. Datações U-Pb de
pequenos corpos alongados de granitos miloníticos na mina de ouro Posse
apresentam uma idade de cristalização de 862 Ma. Titanitas da mesma amostra
apresentam idades metamórficas de 632 Ma. Anfibolitos da sequência vulcano-
sedimentar são ou toleíitico, ricos em Mg, Ni e Cr ou são calci-alcalinos. O anterior
poderia representar fragmentos de crosta oceânica e o último estão relacionados
com magmatismo de arco.
Na área da Chapada, granda e epidoto anfibolitos são quimicamente similares
aos toleíitos de arcos modernos e são interpretados como tendo originado em um
ambiente de back-arc. Rochas metassedimentares representadas por granada-
mica xistos feldspáticos e biotita gnaisses são abundantes em cinturões
supracrustais, especialmente no cinturão oeste. As composições isotópicas de
Sm-Nd destas rochas possuem idades modelo TDM entre 0,9 e 1,2 Ga. Isto indica
que elas são o produto da erosão de rochas de arco, com pequena contribuição
de fontes mais antigas. A deposição de sedimentos originais pode ter tomado
lugar longe de fontes continentais e provavelmente ocorreu em um ambiente intra-
oceânico. Datações Sm-Nd destas rochas sedimentares indicam uma idade de
733, 765, 604 e 610 Ma. Estas foram interpretadas como o resultado de dois
episódios metamórficos: um mais jovem de 760 Ma e um mais velho com idades
típicas do Brasiliano.
O último evento deformacional afetando as rochas Mara Rosa, em 600 Ma, foi
imediatamente seguido por diversas intrusões graníticas bem como de corpos
gabro-dioritícos. Os corpos graníticos incluem principalmente biotita granitos e
mica leucogranitos, com facies granodioriticas locais. As intrusões máficas são
dioriticas e gabroicas em composição e muito comumente apresentam estrutura
de mistura de magmas.
A evolução precambriana do arco Mara rosa terminou, com um magmatismo
bimodal, o qual foi interpretado como estando associado ao soerguimento final e o
colapso do orogeno Brasiliano. A natureza bimodal deste magmatismo sugere que
a entrada de calor requerida para promover uma fusão em larga escala da crosta
foi provavelmente propiciada pelo alojamento e underplating do magma máfico na
crosta continental.
Os corpos de minérios Zacarias, caracterizado por Au, Ag e associações de
barita, são concordantes com as rochas hospedeiras de anfibolitos de origem
vulcanoclástica, no cinturão central. A zona de minérios consiste em uma lente
concordante de quartzo, barita, muscovita, pirita e em menor quantidade esfarelita,
galena, calcopirita, espinélio e magnetita. Molibdenita também está presente em
quantidades menores. O ouro é encontrado entre grãos de barita e quartzo,
incluido em esfarelita. Do topo para baixo, a sequência da capa é composta pelos
produtos metamorfisados de arenitos feldspáticos, xistos grafíticos, cherts e tufos
9
andesíticos e félsicos. A sequência da lapa é representada por tufos basálticos a
andesíticos com tufos félsicos menores.

2.4 Geometria do depósito, mineralogia do minério e estruturas

O arco Mara Rosa contém alguns depósitos importantes de Au (Posse,


Zacarias, Mundinho) e de depósitos Cu –Au (Chapada). Depósitos de ouro e ouro-
cobre do arco Mara rosa ocorrem em quatro associações principais: 1) Au-Ag-Ba
(zacarias), o qual é interpretado como um depósito vulcanogênico disseminado
estratiforme; 2) Cu-Au (Chapada), o qual é interpretado seja como vulcanogênico,
ou seja, um depósito formado entre uma pilha vulcânica durante atividade
vulcânica, ou como um depósito do tipo pórfiro; 3) depósitos de Au (Posse), o qual
tem sido interpretado como um depósito epigenético disseminado, controlado por
uma zona de cisalhamente.
O depósito Zacarias, possui geometria lenticular e metavulcânicos básicos e
metassedimentos químicos como rochas hospedeiras, representa diferentes tipos
de rochas ricas em sulfeto e barita formadas em um ambiente proximal vulcânico.
Quartzo-biotita xistos aluminosos, provavelmente o produto do metamorfismo da
argila, detritos ricos em sericita derivados de fontes hidrotermais, são
representativos de alteração hidrotermal no depósito. Pelo seu caráter estratiforme
o depósito Zacarias, assumisse uma origem singenética (tipo VMS), o qual pode
ter sido formada dentro de uma caldeira de fundo oceânico localizada dentro de
uma bacia de back arc.
A mineralização do ouro ocorre no quartzito em três zonas principais
conhecidas como faixas sul, central e norte. De longe, o mais importante é a faixa
sul que se estende por cerca de 700 m ao longo do curso, tem 2 - 15 m de largura.
O teor de ouro tende a ser proporcional ao teor de barita. Os teores de ouro nos
quartzitos com barita variam de 3,0 a 15,0 g / t.
O depósito de Cu-Au Chapada fica localizado a 3 km a sudoeste de Alto
Horizonte (Chapada). É hospedado por uma sequência de quartzito feldspático,
biotita xisto feldspático de provável origem tufácea, anfibolito calc-alkalino e rocha
rica em epidoto, pirita-magnetite-quartzo-sericita xisto, e estaurolita--anfibolito
contendo cianita como produto da alteração hidrotermal durante o evento de
mineralização. A principal zona de minério da Chapada é uma lente alongada
subhorizontal com aproximadamente 2 km de comprimento, 500 m de largura, 12–
60 m de espessura e até 150 m de profundidade. Os recursos compreendem 30
Mt de zona de minério 0,6 g / t de Au e uma zona de minério de sulfeto com
aproximadamente 200 Mt com 0,43% de Cu e 0,4 g / t de Au. A zona de minério
coincide com as tendências estruturais dos principais eixos das dobras isoclinais.
A mineralização foi remobilizada para a zona do eixo da estrutura de dobra. O
corpo de minério é constituído por pirita, calcopirita e magnetita disseminada em
biotita xisto feldspática (80%), mas também em xisto rico em sericita (10%),
gedrita-antofilita xisto (10%) e zona silicificada subordinada. A mineralogia do
minério também inclui hematita, bornita, calcocita, esfalerita, galena, pirrotita e
molibdenita. O ouro é de granulação muito fina, incluída na calcopirita e ocorre
menos comumente como ouro de granulação grossa, nos limites de grão entre os
sulfetos. Os minerais de sulfeto são freqüentemente alongados, curvados e
10
também ocorrem como inclusões em minerais metamórficos, o que indica a
natureza sin ou pré-metamórfica da mineralização da Chapada.
Os halos de alteração hidrotérmica associados são alongados paralelamente
às principais falhas no depósito e também à unidade metassedimentar oriental
adjacente que hospeda a mineralização Cu –Au. As zonas ricas em epidoto e
epidosito maciço podem resultar da interação intensiva e de alta temperatura da
água do mar com rochas basálticas antes do evento tectônico responsável pela
xistosidade penetrativa nas rochas da Chapada. Os epidositos podem representar
o sistema alimentador através do qual as soluções hidrotermais se movem para
formar os depósitos de minério, enquanto a magnetita–pirita–quartzo-sericita
xistos, também muito comuns na região da Chapada – Mara Rosa, hospedando a
zona de minério, pode representar a zona de alteração metamorfisada fílica,
formada por metassomatismo imposto por soluções hidrotermais.
Mais recentemente, foi proposto que o depósito da Chapada foi originalmente
formado por deposição de soluções hidrotermais profundas e de fluidos liberados
por intrusões de tonalito e diorito, seguido por extensa redistribuição metamórfica
em zonas de cisalhamento da seqüência Neoproterozóica Mara Rosa sobre o
greenstone belt do Arqueano Pilar de Goiás durante a Orogenia Brasiliano
Neoproterozóica. Fluidos metamórficos percolaram as rochas supracrustais no
final desse evento e foram responsáveis pelo enriquecimento local de ouro. Por
outro lado, o depósito da Chapada representa os restos de um depósito pórfiro de
cobre formado em um arco de ilha, no qual a maior parte da mineralização foi
hospedada pela rocha encaixante. O teor, a tonelagem e os valores do ouro são
compatíveis com os dos depósitos de cobre pórfiro em arco de ilha.
O depósito de ouro Posse está localizado na unidade Posse do cinturão
oriental. É hospedado por gnaisses de microclina derivados de rochas félsicas,
interpretado como rochas vulcânicas a subvulcânicas ou intrusivas,
respectivamente. Rochas vulcânicas básicas metamorfisadas ocorrem na
sequência da lapa e hospedam localmente a mineralização. A alteração
hidrotermal é intensa e afeta tanto as sequências da capa quanto da lapa. A
alteração hidrotermal de rochas máficas é representada pela presença de sericita,
pirita, silimanita, cianita, clorita. O ouro ocorre em associação com teluretos, mas
principalmente como grãos de Au nativo. A mineralização do ouro ocorre em uma
série de lentes paralelas. A jazida tem comprimento máximo de 1 km e largura de
300 m na porção sul e largura de 400 m na porção norte.
Foi delineada uma reserva aberta de 1,7 Mt classificando 2,24 g / t Au a uma
profundidade de 60 m abaixo da superfície. Os estudos sobre o depósito de Posse
são controversos, não só quanto à gênese da mineralização, mas também quanto
à natureza das rochas parietais. Os gnaisse de microclina que hospedam o
depósito de Posse representam rochas vulcanicas ácidas metamorfisadas que
foram previamente alteradas pela circulação de soluções aquosas.

2.5 Controle da mineralização

Depósitos do tipo pórfiro de cinturões orogênicos pré-cenozóico e


especialmente do pré-mesozóico possuem uma maior probabilidade de possuírem
tamanho pequeno e um baixo teor devido a sua pobre preservação durante o
11
soerguimento e a erosão. Por outro lado, depósitos hipogênicos grande de altos
teores, comumente se desenvolvem em arcos desenvolvidos na crosta continental
passando por um tectonismo compressivo e altas taxas de soerguimento durante
intrusões e mineralizações. Alteração hidrotermal é extensa e tipicamente
zoneada em escala de depósito e também são próximos de veios e fraturas
individuais.
Zonas de alteração típica de depósitos do tipo pórfiro incluem uma zona interior
potássica rica em biotita e K-feldspato e uma zona exterior propilítica com calcita,
epidoto, clorita e quartzo com albita e pirita subordinadas. Zonas de alteração fílica
e argilítica podem ocorrer entre as zonas potássicas e propilíticas ou como zonas
jovens irregulares ou tabulares superimpostas sobre antiga alteração e assembléia
sulfetada.

2.6 Modelo genético

Dentre os diversos aspectos relacionados à evolução tectônica e cronológica


da mineralização Cu –Au e Au no Arco Magmático de Goiás, destaca-se: (i) as
relações temporais e espaciais entre os Cu - Mineralização de Au e Au no arco
Mara Rosa; (ii) a importância geotectônica da falha do Rio dos Bois, associada ao
arco Mara Rosa e (iii) a importância geológica dos produtos de extensa alteração
hidrotérmica no distrito Chapada –Mara Rosa Cu –Au. Com relação ao primeiro
aspecto, há um consenso geral entre os geólogos que trabalham na área de que
os depósitos Zacarias Au –Ag –Ba e Chapada Cu –Au estão associados aos
estágios iniciais da evolução magmática / hidrotérmica do arco de Mara Rosa .
Também é geralmente aceito que o depósito de Zacarias foi formado por
processos vulcânicos.
Modelos para a origem do depósito da Chapada são, no entanto, mais
controversos. Richardson et al. (1986) comparam o depósito da Chapada com
depósitos de pórfiro Cu –Au de arcos de ilha, enquanto Kuyumjian (1989) sugere
que o depósito é de origem vulcânica exalativa e sofreu intenso retrabalho durante
um evento posterior. Independentemente do modelo genético usado, há a
mineralização é aproximadamente coeva com eventos ígneos que deram origem
aos primeiros tonalitos e dioritos de Mara Rosa. A origem das jazidas de ouro
remanescentes da região de Mara Rosa –Chapada está claramente relacionada
com o desenvolvimento dos lineamentos regionais. O depósito Posse Au é um
depósito de ouro típico associado a uma zona de cisalhamento mesozonal e
formado após o pico do principal evento metamórfico/deformacional regional.
Outro aspecto importante envolve o significado geotectônico da Falha Rio dos
Bois. Esta estrutura foi gerada durante um evento compressional NW –SE e
representa um sistema de zonas de cisalhamento reverso de alto ângulo de NE
para NE. Este evento deformacional foi responsável pelo desenvolvimento da
fácies anfibolito metamórfica nas rochas metamórficas do depósito Chapada Cu –
Au, dando origem a importante remobilização do minério de Cu. Este sistema de
falhas controla não apenas o depósito de Posse, mas também ocorrências
menores próximas a Mara Rosa.

12
2.7 Bibliografia

Oliveira, C.G.; Pimentel, M.M.; Melo, L.V.; Fuck, R.A.; The copper–gold and gold
deposits of the Neoproterozoic Mara Rosa magmatic arc, central Brazil; Ore
Geology Reviews -2004- 25 - 3-4 -285-299; doi:10.1016/j.oregeorev.2004.04.006

Oliveira, C.G.; Oliveira, F.B.; Giustina, M.E.S.D.; Marques, G.C.; Dantas, E.L.;
Pimentel, M.M.; Buhn, B.M.; The Chapada Cu–Au deposit, Mara Rosa magmatic
arc, Central Brazil: Constraints on the metallogenesis of a Neoproterozoic large
porphyry-type deposit, Ore Geology Reviews, Volume 72, Part 1, 2016, Pages 1-
21, ISSN 0169-1368, https://doi.org/10.1016/j.oregeorev.2015.06.021.

2.8 Mapa Geológico de Semi-Detalhe e/ou Detalhe do Depósito e Seção


Geológica Vertical de Detalhe do Depósito

Figura 1 Mapa geológico esquemático do arco magmático Mara Rosa (Retirado de Oliveira et al., 2004)

13
Figura 2 Mapa geológico do depósito Chapada (Retirado de Oliveira et al., 2004)

14

Você também pode gostar