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Agora vamos a outro teste, para comprovar a construção que o cérebro faz
diante de certas situações, mas desta vez, em relação à memória. Leia-se a lista
de palavras abaixo. A seguir, quando terminar, cubra-a com a mão:
Agora responda: quais palavras não constam na lista: cama, modorra, dormir
ou gasolina? Se você respondeu "gasolina" acertou, mas certamente não
percebeu que a palavra "dormir" não está na lista. Isso acontece porque as
palavras que compõem a lista estão tão intimamente relacionadas entre si que o
cérebro considerou que a palavra "dormir" também fazia parte dela, ou seja,
nosso cérebro criou uma situação inexistente! Ou seja, quando tentamos nos
lembrar de algo que aconteceu, sempre aparece algo mais em relação às
imagens, sons e demais percepções que registramos em relação ao evento que
desejamos resgatar. Isso sem contar que o que foi gravado passou pela
capacidade de percepção sensorial, emocional e mental do observador. Talvez
isso explique a origem do adágio popular que diz "quem conta um conto,
aumenta um ponto".
Locke era defensor da ideia de que nossos sentidos nos forneciam imagens fiéis
da realidade (realismo). O mesmo faziam os escolásticos. Mas, no século XIX,
Kant criou a teoria do idealismo e expôs a mente humana como uma grande
farsante, conforme explana Gilbert:
Na década de 20, Piaget descobriu que as crianças não fazem distinção entre as
características reais de um objeto e a percepção que têm dele; acreditam que as
coisas são como parecem ser, e ainda, que os outros as veem da mesma
maneira. A criança não entende como mentes diferentes podem conter coisas
diferentes. De acordo com a classificação acima, as crianças são "realistas",
mas conforme amadurecem, vão chegando à conclusão de que percepções não
passam de pontos de vista e que o veem não corresponde necessariamente ao
que a coisa é; além disso, que duas pessoas podem perceber a mesma coisa e
acreditar nela de maneiras diferentes. Tornam-se, assim, gradativamente,
"idealistas". Piaget concluiu que a criança tem um pensamento realista e que
seu desenvolvimento consiste em escapar desse realismo inicial. Entretanto,
mesmo entre adultos, as "recaídas" realistas são muitas e presentes, isto é, não
há, na prática, uma real superação do realismo. No adulto, há sim a tendência a
disfarçá-lo. A primeira percepção de algo é sempre realista. Em seguida, o
objeto é comparado com o que temos na memória e com o que nossa
imaginação sugere. Criamos então uma opinião pessoal sobre o assunto, que
certamente será razoavelmente falsa, pois é baseada nas construções fictícias
do cérebro.
A esta altura, a noção de como estamos sujeitos a ilusão, latu sensu, já começa
a fazer sentido. Ao mesmo tempo, a constatação de que somente a experiência,
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ou seja, a interação com o objeto pode nos fornecer uma noção mais fiel (ainda
assim filtrada por nossas limitações de percepção e ação). Por isso não se deve
obstar a experimentação, com todos os seus eventuais erros e acertos, pois
somente assim podemos reduzir o impacto do mundo ilusório sobre nosso ser.