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CENÁRIOS

ECONÔMICOS

Ricardo Q. Machado
Divisão Sul-Americana da IASD

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Editora Universitária Adventista

Editor-chefe: Rodrigo Follis


Gerente administrativo: Bruno Sales Ferreira
Editor associado: Alysson Huf
Supervisor administrativo: Werter Gouveia
CENÁRIOS
Ricardo de Queiroz Machado
Mestre em Ciências: Economia Aplicada ECONÔMICOS

1ª Edição, 2021

Editora Universitária Adventista


Engenheiro Coelho, SP
Cenários econômicos
Editora Universitária Adventista
1ª edição – 2021
Caixa Postal 88 – Reitoria Unasp e-book (pdf)
Engenheiro Coelho, SP – CEP 13448-900
Tel.: (19) 3858-5171 / 3858-5172

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Israel Ferreira Júnior
Doutor em Administração pela
Universidade Federal do Paraná - UFPR

Coordenação editorial: Luiza Simões e Perez Sales Conselho editorial e artístico: Martin Kuhn, Telson
Preparação: Adriane Rodrigues da Silva Vargas, Rodrigo Follis, Adolfo Suárez, Afonso Cardoso,
Allan Novaes, Antônio Marcos Alves, Diogo Cavalcanti,
Projeto gráfico: Ana Paula Pirani Douglas Menslin, Eber Liesse, Edilson Valiante, Fabiano
Leichsenring, Fabio Alfieri, Gilberto Damasceno, Gildene
Capa: Jonathas Sant’Ana Silva, Henrique Gonçalves, José Prudêncio Júnior, Luis
Diagramação: Felipe Rocha Strumiello, Reinaldo Siqueira

Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)


(Ficha catalográfica elaborada por Hermenérico Siqueira de Morais Netto – CRB 7370)

Campagnoni, Mariana / dos Santos, Diego Henrique Moreira


Formação da identidade profissional do contador [livro eletrônico] / Mariana Campagnoni. -- 1.
ed. -- Engenheiro Coelho, SP : Unaspress, 2020.

1 Mb ; PDF

ISBN 978-85-8463-172-8

1. Carreira profissional 2. Contabilidade 3. Contabilidade como profissão 4. Contabilidade como


profissão - Leis e legislação 5. Formação profissional 6. Negócios I. Título.

20-33026 CDD-370.113

OP 00123_115

Editora associada:

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a reprodução por quaisquer meios, sem prévia autorização escrita da editora, salvo
em breves citações, com indicação da fonte.
SUMÁRIO

VISÃO GERAL DE ECONOMIA..................................11


Introdução.........................................................................................12

Fundamentos da teoria e política macroeconômica........................13

Fundamentos da teoria e política macroeconômica........................15


Desemprego.............................................................................18
O desemprego no Brasil...........................................................21
Inflação.....................................................................................28
Crescimento econômico...........................................................35
Distribuição de Renda..............................................................38

Contabilidade social..........................................................................41

Fundamentos microeconômicos:
demanda e oferta.............................................................................59

Determinação do nível de renda e produto Nacional......................63

Referências........................................................................................74
POLÍTICA ECONÔMICA............................................77
Introdução.........................................................................................78

O Lado Monetário da Economia:


Conceitos de moeda e funções da moeda.......................................79

O lado monetário da economia:


mercado financeiro e política monetária.........................................96

Política Fiscal e Setor Público...........................................................113

Considerações finais........................................................................119

Referências.......................................................................................121

MONITORANDO A ECONOMIA...............................123
Introdução........................................................................................124

Monitorando a economia................................................................125

Indicadores: inflação e crescimento................................................126


Inflação....................................................................................127
Crescimento econômico..........................................................148

Evolução do crescimento econômico e da inflação no brasil.........155

Desemprego e mercado de trabalho...............................................160


Mercado de trabalho e emprego no Brasil......................................164

Outros fatores de produção (Terra e Capital)...................................168

Considerações finais........................................................................170

Referências.......................................................................................173

O SETOR EXTERNO.................................................177
VOCÊ ESTÁ AQUI

Introdução........................................................................................178

Comércio exterior brasileiro.............................................................179


Balança comercial e balanço de pagamentos........................188
Taxa de câmbio.......................................................................200
Regimes cambiais...................................................................202

Conjuntura econômica internacional..............................................215

Considerações finais........................................................................223

Referências.......................................................................................226
PARA OTIMIZAR A IMPRESSÃO DESTE ARQUIVO, CONFIGURE
A IMPRESSORA PARA DUAS PÁGINAS POR FOLHA.
EMENTA
Revisão de elementos essenciais de
EMENTA
microeconomia e macroeconomia.
Discussão do conceito de cenário
econômico e sua utilidade. Apresentação
dos aspectos característicos da estrutura
e dinâmica da economia brasileira.
Análise e interpretação de indicadores
econômicos e construção de cenários.
Compreensão da conjuntura nacional,
considerando aspectos sociais, ecológicos
e os impactos de variáveis internacionais.
UNIDADE 4

O SETOR EXTERNO

- conhecer os principais elementos da análise macroeconômica aplicados à


realidade brasileira;
- aplicar os conhecimentos relativos à economia brasileira para traçar cenários
OBJETIVOS

econômicos;
- subsidiar a elaboração de estratégias competitivas para as organizações;
- utilizar as informações econômicas para tomar decisões a partir de uma visão
sistêmica da realidade do país;
- analisar criticamente o cenário econômico brasileiro.
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

INTRODUÇÃO
Caro leitor, por meio deste conteúdo abordaremos os
principais aspectos do setor externo. Inicialmente, trataremos do
comércio exterior brasileiro, examinando suas características
e sua evolução ao longo das décadas: as relações de compra e
venda de produtos, bens e serviços, importações e exportações,
além de dados estatísticos referentes às tais operações. Desta
forma buscaremos analisar a importância do comércio entre
países para a geração de renda e sua importância para o
crescimento econômico e desenvolvimento das economias.

Para isso, será necessário compreender a política cambial


brasileira e seus efeitos no comércio, a finalidade e a aplicação
das taxas de câmbio e os regimes cambiais existentes. Dessa
forma, o leitor será apresentado aos fatores que contribuem
para a abertura comercial entre países, além de compreender
os fundamentos do que é usualmente conhecido como política
comercial, no contexto das transações internacionais.

Por meio da compreensão das relações interacionais entre


países, buscaremos também conhecer a conjuntura econômica
internacional, mediante a análise dos cenários econômicos
mundiais. O leitor irá compreender o papel do Brasil nas
relações comerciais entre os países, bem como os mecanismos

178
O setor externo

de funcionamento do comércio exterior e a posição ocupada


pelas maiores economias neste contexto. Depois de estudar este
conteúdo, esperamos que o leitor compreenda sobre:

• as estatísticas referentes às transações internacionais;

• as dinâmicas comerciais das principais


economias do mundo;

• comércio exterior brasileiro;

• conjuntura econômica internacional;

Bom estudo!

COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO


Uma parte importante da teoria econômica se volta ao
estudo das consequências e às razões para a existência do
comércio entre os países. Nesta parte da teoria econômica,
conhecida como teoria do comércio internacional, algumas
razões surgem como justificativas para que o comércio entre as
nações seja realizado.

179
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

Tendo em vista que a abertura comercial de um país lhe


permite ampliar os mercados para seus produtos, o outro
lado pode se apresentar como uma ameaça aos produtores
locais no caso em que uma das condições de competições
seja desfavorável e evidencie as dificuldades e características
produtivas da produção local.

Passos e Nogami (2005), por exemplo, apontam algumas


razões para a existência de comércio entre os países: a existência
de desigualdades entre as reservas de recursos naturais (que
não são reprodutíveis), as diferenças climáticas entre os países
assim como as diferenças nos solos e da própria natureza, as
diferenças na disponibilidade de capital e trabalho, além das
diferenças no nível tecnológico entre os países.

Dessa forma, haveria aqueles países com maior aptidão


na produção de determinados produtos e aqueles que
enfrentariam maiores desafios na produção de outros, de
forma que a partir destes fatores surgiria uma divisão, em nível
internacional, no trabalho. Essa divisão, por sua vez, resultaria
em uma especialização na produção por parte das nações.

Vasconcellos (2015) se utiliza da teoria clássica do comércio


internacional para explicar a situação e apontar as vantagens
da existência do comércio; isso tomando como base as ideias e

180
O setor externo

teorias originais de David Ricardo (1772-1823), como exemplo:


a “teoria das vantagens comparativas” (1817) para explicar os
possíveis ganhos com o comércio. De acordo com essa teoria, os
países deveriam focar nas suas vantagens comparativas.

O princípio das vantagens comparativas afirmava


que ao focar na produção daqueles bens para o qual o país
apresentasse maior eficiência, sua produção poderia apresentar
menores custos de produção, em comparação com outras
economias. Assim, a economia deveria focar nessa produção e
disponibilizar esses produtos para as trocas internacionais, já
que seriam mais baratos para os demais países do que se eles
resolvessem produzi-los por conta própria (por serem menos
eficiente apresentariam mais custos de produção).

Para ilustrar essa teoria, Passos e Nogami (2005)


apresentam um exemplo hipotético entre duas economias
que produziriam dois produtos distintos, e produtividades
também diferentes. A ilustração proposta apresenta como
produtos ilustrativos o milho e os tecidos. Na comparação
entre os dois produtos, os americanos apresentariam a
necessidade do trabalho de um trabalhador durante um
ano para produzir 1.200 quilos de milho, ou então o mesmo
trabalho seria utilizado para a produção de 600 metros de
tecido. Na ilustração, os brasileiros utilizariam o trabalho de um

181
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

trabalhador durante um ano para produzir 400kg de milho ou


400 metros de tecido.

Na teoria que vigorava anteriormente as ideias de David


Ricardo (Teoria das vantagens absolutas), os Estados Unidos
deveriam produzir os dois produtos, já que o país se mostrava
mais eficiente na produção deles (menos horas de trabalho para
produzir ambos). Porém, ao se comparar a produção dos dois
produtos nos Estados Unidos, proporção de troca entre esses
produtos mostraria que relativamente (ou seja, na comparação
entre os produtos), um dos dois apresentaria vantagens em
relação ao outro.

Utilizando os dados da ilustração, verifica-se que para


poder produzir 1 kg de milho, os Estados Unidos teriam
que abrir mão da produção de 0,5 metros de tecido (600
metros/1200 quilos). Verificando-se a mesma relação para
o Brasil, pode-se perceber que para produzir 1kg de milho,
seria necessário abrir mão da produção de 1 metro de tecido
(400kg/400 metros).

Segundo Krugman e Obstfeld (2007) a vantagem


comparativa é a condição pela qual o custo de oportunidade
de um bem é relativamente mais baixo em um país do que nos
demais. Apresentam ainda que o custo de oportunidade, neste

182
O setor externo

contexto, pode ser entendido como as perdas correspondentes à


produção daqueles produtos dos quais se abre mão ao escolher
a produção de um produto em detrimento de outros. Assim, a
vantagem comparativa surge quando o custo de oportunidade
na produção de um bem em um país se apresenta mais baixo
do que em outros, ou seja, as perdas em função da escolha pela
produção de um produto em detrimento de outro, são menores.

Ao apresentarem a sua revisão de literatura sobre o


comércio internacional, Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr.,
(2011) ainda discorrem sobre as atualizações existentes na
teoria sobre comércio internacional e apresentam o modelo de
Heckscher – Ohlin e as complementações de Krugman e Linder.
Segundo essa teoria, a existência de vantagens no comércio
também continuava a ser considerada.

Ela ainda destaca as vantagens do livre comércio e


apresenta importantes mudanças quanto à explicação para o
padrão de comércio que, de acordo com essa teoria, os países
deveriam focar a sua produção local não só em produtos
apontados a partir da vantagem comparativa observada, mas
sobretudo, naqueles produtos para os quais apresentariam
maior disponibilidade do fator de produção necessária para sua
produção, sejam eles a mão-de-obra, o capital, a terra, ou ainda
outro fator.

183
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

Assim, países com disponibilidade proporcional maior


de mão de obra em relação à disponibilidade de capital
focariam sua produção em bens que exijam mão de obra
mais intensa. Já os países que possuem uma disponibilidade
de capital proporcionalmente maior focariam sua produção
para a exportação de bens que se utilizem de maneira mais
expressiva desse fator de produção, tornando ainda mais
evidente a diferença na pauta de exportação entre países ricos
e pobres, com foco em produtos primários e de alto valor
agregado, respectivamente.

Apesar dessas evidências, não é incomum que ao se


estabelecerem as políticas de comércio internacional, muitas
economias adotem medidas que visam restringir o comércio
entre os países. Passos e Nogami (2005) apontam para uma
série de razões pelas quais os países ainda se utilizam de
mecanismos para restringir o comércio entre os países, como
o argumento da indústria nascente, da segurança nacional, da
proteção do emprego e do combate aos déficits comerciais.

Pelo argumento da indústria nascente se justificam as


medidas tomadas para restringir o comércio internacional
em função da proteção às empresas nacionais que, por
ocasião da abertura comercial, ainda estariam em um estágio
competitivo bastante desfavorável. Assim, em caso de uma

184
O setor externo

abertura comercial sem que condições


de preparação fossem atendidas
previamente, faria com que a concorrência
se mostrasse muito desvantajosa para
as empresas iniciantes no comércio e na
competição globalizada. Desta forma,
medidas como o aumento de tarifas de
Um argumento
importação se justificariam.
utilizado para
Ademais, algumas indústrias
estabelecer
poderiam apresentar um papel estratégico as restrições
importante para a indústria nacional, além comerciais é o
de trazerem segurança para a indústria estabelecimen-
do país, e serem geradoras de emprego to de restrições
e de renda para o país, que poderiam ser aos saldos
perdidos caso a concorrência internacional comerciais ne-
estabelecesse condições de desvantagem gativos (déficit
para as empresas nacionais. comercial).

Outro argumento utilizado para


estabelecer as restrições comerciais é o
estabelecimento de restrições aos saldos
comerciais negativos (déficit comercial).
Uma vez que a abertura comercial
poderia gerar aumento das importações

185
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

e o consequente desequilíbrio entre


as importações e exportações de um
país, com a consequente distorção
entre a quantidade de recursos que
entra e sai do país, o desequilíbrio no
saldo comercial também é utilizado
para justificar o estabelecimento de
impedimentos ao comércio.

Dessa forma, são várias as maneiras


pelas quais os agentes econômicos se AGENTES ECONÔMICOS

utilizam para restringir o comércio. Segundo o site Como investir,


Sobre esses artifícios, Passos e Nogami Agente econômico é toda e
qualquer entidade capaz de
(2005) destacam as medidas de barreiras exercer alguma influência na
tarifárias e as barreiras não tarifárias. economia […] pessoa, um
Como medidas tarifárias destacam grupo de pessoas, uma institui-
ção ou até mesmo a configura-
aquelas que passam a funcionar como ção de um ambiente, segundo
um imposto a ser adicionado ao preço alguns teóricos.
do produto importado, encarecendo o Fonte: https://comoinvestir.
produto e tornando o produto nacional thecap.com.br/agente-
economico/. Acesso em: 02 set.
mais competitivo. 2021.

Verifica-se nessa categoria que o efeito


atinge o preço do produto importado que,
se por um lado resultará na diminuição da

186
O setor externo

demanda pelo produto importado, também poderá resultar em


um aumento de custos para o setor que depende de insumos de
origem estrangeira.

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) (2017), em seu


manual sobre barreiras comerciais e os investimentos, amplia
a discussão ao apontar que entre as barreiras tarifárias, além
do imposto de importação, são considerados ainda o imposto
de exportação e as quotas tarifárias (de importação e de
exportação), sendo que no caso das cotas tarifárias existe uma
parte das importações que fica isenta dos impostos.

Já no caso das medidas não tarifárias, em vez de se


utilizar de alterações nos preços dos produtos, faz-se uso de
instrumentos que afetem a quantidade de produto importado ou
que acrescentem entraves regulamentares para que o produto
encontre dificuldades para acessar o mercado nacional. É o caso
do estabelecimento de cotas de importação e da requisição de
certificados específicos, que tornam o processo mais oneroso e
burocrático, inviabilizando algumas das operações.

A CNI (2017) aponta que dentro das medidas não tarifárias


são consideradas ainda as medidas de regulamentação
técnica, as medidas sanitárias e fitossanitárias, os padrões
de normas privadas e normas voluntárias, subsídios,

187
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

propriedade intelectual, além de


outras regras. Além desse conjunto de
medidas são consideradas medidas de
tributação interna, controle de preços e PROCEDIMENTOS
ADUANEIROS
procedimentos aduaneiros.
São os procedimentos utilizados,
Desta forma, medidas podem ou no comércio internacional, para
receber ou despachar as merca-
não ser adotadas de modo que, a partir dorias e envolvem a parte buro-
das visões pretendidas, as medidas de crática de registro, liberação etc.
estímulo ou de impedimento sejam
adotadas, afetando os resultados das
transações comerciais realizadas pelos
países. Uma das formas de avaliação e
acompanhamento dos resultados dessas
medidas podem ser verificadas a partir do
balanço de pagamentos.

BALANÇA COMERCIAL E
BALANÇO DE PAGAMENTOS
O balanço de pagamentos é o registro
contábil da totalidade das transações de
uma economia com as demais, segundo
Vasconcellos (2015). Dessa maneira,

188
O setor externo

para tal objetivo são necessários ser


considerados os valores das exportações e
importações, mas também os pagamentos
ROYALTY
de juros, a remessa de royalties, o
envio de lucros para a matriz fora do Segundo o site Franquias de
marketing digital, royalty é o
país, pagamento de fretes, o envio de valor pago pelo direito da Pes-
direitos, empréstimos e financiamentos, soa A usar algo de propriedade
intelectual da Pessoa B.
investimentos realizados com fins
Fonte: https://
especulativos etc.
franquiademarketingdigital.
com.br/blog/royalties. Acesso
Para tanto, o balanço de pagamentos em: 02 set. 2021.

se divide em balança comercial (que


se refere ao comércio de mercadorias),
serviços e rendas (que consideram
os juros, lucros e royalties), a conta
transferências unilaterais corrente (conta
donativos), a conta transações correntes
(balanço comercial, de serviços, e de
transferências unilaterais), a conta capital
e financeira (que representa o movimento
de capitais) e a conta erros e omissões
(que registra a diferença obtida entre a
variação nas reservas e o saldo no balanço
de pagamentos).

189
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

Ademais, a balança comercial é um termo usado em


economia para definir a diferença entre as importações
e exportações de um país. Abrange produtos vendidos e
comprados, além de bens e serviços. Essa balança reflete
a situação da economia de um país, e como defino por,
Dornbusch, Fischer e Startz (2013), representa o fluxo líquido de
moeda estrangeira para um país, tendo como origem as vendas
realizadas para outros países

Buscando detalhar as contas pertencentes a balança


comercial, Passos e Nogami (2005) apontam: na balança
comercial são considerados os valores das mercadorias
exportadas e importadas pelo país, além de se registrarem
os valores a partir do valor do embarque das mercadorias,
desconsiderando-se os valores dos fretes e seguros necessários
para o transporte.

Essas condições, ao se considerar os valores quando a


mercadoria é embarcada, definem o conceito de valor FOB (Free
On Board). Esse termo de comércio internacional significa que
a entrega do produto é considerada a partir do momento em
que a mercadoria é colocada a abordo no navio indicado pelo
comprador e, a partir do momento do embarque, os custo que
poderão surgir já serão de responsabilidade do comprador e
não mais do vendedor.

190
O setor externo

Na conta de serviços estão consideradas os bens intangíveis


por meio de respectivos valores. Desta forma, inclui-se nesta
conta os valores referentes aos fretes e seguros, os pagamentos
de viagens, além dos serviços financeiros (corretagem,
comissões, garantias, por exemplo), e serviços como serviços
técnicos, pessoais, culturais e de recreação.

Na conta Renda, consideram-se as remunerações do


trabalho (salários), lucros, dividendos, bonificações em ações,
juros relativos a empréstimos entre empresas, mas não se
consideram os ganhos de capital, para o qual existe conta
específica na conta de capital e financeira.

Na conta transferências correntes consideram-se as


doações, aposentadorias e a manutenção de estudantes no
exterior, por exemplo. Os donativos são considerados tanto
como donativos por intermédio de divisas como os donativos
realizados por meio de mercadorias.

Já como transações correntes são considerados o somatório


do saldo da balança comercial, de serviços e rendas, e de
transferência correntes. No caso das transações correntes, se
for observado um saldo negativo, há a indicação de que o país
comprou mais bens e serviços do exterior do que foi vendido ao

191
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

exterior pelo país, aumentando as obrigações de pagamentos do


país com o exterior.

Na conta de capital e financeira, são considerados o


investimento direto líquido, os financiamentos, empréstimos, além
de capitais de curto prazo, como aplicações no mercado financeiro.
Os erros e omissões se apresentam como uma consequência do
sistema de partidas dobradas, que em função de diferenças no
tempo do apontamento dos valores a partir de diferentes fontes de
dados implicam uma conta para equalizar essa diferença.

Assim, o saldo do balanço de pagamentos equivale ao


somatório das contas balanço de pagamentos, a conta corrente,
conta de capital, a conta e financeira e a conta erros e omissões. O
saldo resultante dessas contas representa as variações nas reservas
internacionais de um país, e estão apontadas na Figura 10.

Figura 10 - Saldo Balanço de pagamentos Brasil (1995 – 2018) – milhões de dólares

Fonte: elaborado pelo autor a partir de dados do Banco Central (2021)

192
O setor externo

É possível verificar claramente que, para o período


considerado, existe um período de queda no balanço de
pagamentos entre 1995 e 1999, com saldos negativos, entre
1997 e 2000 e com expressivo aumento entre 2003 e 2011, com
exceção do ano de 2008, em função da crise mundial. Mas a
partir de 2011 a tendência se reverte, com quedas nos saldos
observados. Na figura 11 é possível verificar a evolução de dois
dos componentes do balanço de pagamentos:

Figura 11 - Transações correntes e balança comercial brasileira - 1995 a 2018

Fonte: elaborado pelo autor (2021) a partir de dados do Banco Central

Na figura 11 fica explícita uma importante característica


brasileira no período: embora a balança comercial (produtos)
tenha se mostrado positiva para a maior parte do período,
indicando assim que as exportações foram maiores do que as
importações no período, com exceção feita ao período anterior
ao ano 2000 e no ano de 2013, as transações correntes só foram
positivas para o período entre 2002 e 2006.

193
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

Além do mais, essa condição fica ainda mais evidente se


destacarmos apenas a conta financeira (Figura 12). Como essa
conta é responsável por veríficar itens como investimento
direto no país, empréstimos e passivos, observa-se claramente a
movimentação dos investimentos no país.

Após se observar uma tendência de melhora nos saldos


da conta financeira a partir de 1997, obtendo ainda valores
positivos entre 2002 e 2006, apresentou-se um período de
deterioração nessa conta. A conta financeira só deixou de
apresentar um aumento do saldo negativo em 2014, quando
então apresenta uma tendência de mehora, até 2016, ainda que
não obtendo saldo positivo até 2017.

Figura 12 - Conta financeira (1995 – 2017)

Fonte: elaborado pelo autor (2021) a partir de dados do Banco Central

Já o investimento direto no país representa os volumes


financeiros de passivos para com credores de fora do país.

194
O setor externo

Pode representar ainda os valores de investimento direto no


país, que significa a entrada de recursos estrangeiros aplicados
nas empresas nacionais, além do retorno da alienação de
capital (total ou parcial) das empreas e ganhos de capital
correspondentes a essa alienação de capital. Na prática,
corresponde aos investimentos estrangeiros para ampliar a
capacidade de crescimento no negócio, sendo destinados para
construção de instalações, fusões e aquisições, reivenstimento
de lucros obtidos no exterior e empréstimo entre empresas.

Ao se observar o perído de 1995 e 2018, na Figura 13,


observa-se um crecimento robusto nos investimento estrangeiro
no país até 2011, apresentando a partir de então uma queda
que só volta a apresentar alguma recuperação a partir de
2015. Dessa forma esses movimentos acabam por descrever a
variação do interesse dos investidores estrangeiros para com a
economia nacional e suas variações.

Figura 13 -Investimento direto no País -1995 a 2018

Fonte: elaborado pelo autor (2021) a partir de dados do Banco Central

Uma vez que a balança comercial braileira evidencia uma 195


tendência histórica de apresentar saldos positivos, é importante
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

compreender quais são os produtos brasileiros mais importados


e exportados. O Banco central do Brasil (BCB) (2019), ao apontar
para a evolução da pauta exportadora brasileira, indica algumas
características importantes para o período entre 1996 a 2017.

Embora, ao se avaliar os dados a nível mundial, as


exportações de produtos manufaturados tenham apresentado uma
queda entre 2005 e 2014, a partir desse período a particiapação
desses produtos voltaram a aumentar sua participação no
comércio global. Contudo essa recuperação não é obsservada ao se
considerar a evolução brasileira de produtos manufaturados.

No caso brasileiro, a queda observada até 2014 se mantém


até 2017, pelo menos. Essa queda representou uma diminuição
do percentual de produtos manufaturados no total das
exportações brasileiras, que passou de aproximadamente
56% das exportações nacionais para algo próximo de 35% das
exportações brasileiras.

Neste período, enquanto os produtos manufaturados


perdem participação nas exportações brasileiras, os produtos
básicos passam a ganhar destaque, chegando ao final do
período com cerca de 50% das exportações. Merece ainda mais
atenção o crescimento da parcela destes produtos básicos que
são destinados à China (BCB, 2019).

196
O setor externo

Vasconcelos e Rocha (2017) buscam descrever a pauta


de exportação brasileira entre os anos de 2006 e 2015, e
destacam que o grupo de produtos que passou a representar
a maior parte dos produtos exportados pelo país concentra-
se no grupo das commodities. Por commodities são
conhecidos os produtos que apresentam uma produção
mundial em larga escala e com padrões similares, além de
representarem importância para o comércio mudial, como
soja, petróleo, e minério de ferro, por exemplo.

Em 2006 a maior parcela dos produtos exportados se


concentrava nos produtos minerais (15,2%) e era seguido pelo
conjunto de máquinas e equipamentos (12,6%), que ocupava
a segunda posição, já em 2015 os produtos de origem vegetal
ocupavam a primeira posição com 17,8% das exportações
brasileiras, seguido de produtos minerais (16,3%) e produtos
de gênero alimentício (11,7%). Já o conjunto máquinas passou a
representar menos de 8% do total exportado pelo país.

Em 2019, a soja já representou 12% do total das exportações


realizadas pelo Brasil para aquele ano, com um valor
aproximado de US$26 bilhões, sendo que 79% desse valor eram
destinados para a China. Para aquele ano, o petróleo ocupou
a segunda posição, com US$24 bilhões, seguido pelo minério
de ferro, com US$22,18 bilhões. A celulose foi o 4º produto

197
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

(US$7,49 bilhões), seguido do milho com US$7,34 bilhões (5º) e


da carne bovina US$6,49 bilhões (6º).

Ao se considerar as importações realizadas pelo Brasil,


ao longo da década de 1990 foram experimentados os efeitos
da abertura comercial realizada no país. Markwald (2001)
apresenta os coeficientes de penetração de importação para
o período entre 1990 e 2000 para demonstrar as mudanças
ocorridas nas importações após a abertura comercial, já que
o coificiente busca expressar qual a parcercela da oferta
disponível no mercarcado interno é atendida pela importação.

Esse dados mostram que, de maneria generalizada,


a participação total dos importados na oferta disponível
para o País passa de 6,4% em 1990 para 14,6% em 2000. Se
considerados de forma desagregada, é possivel notar ainda que
setores como o de Metal-Mecânica chegam a ter 27% da oferta
atendida por produtos importados, e subconjuntos como os de
eletroeletrônicos passam de 9,6% para 66,1%, no mesmo período.

Em 2000, com destaque, os principais produtos com


compunham a pauta de importação brasileira foram máquinas,
aparelhos e material elétrico com US$9,7 bilhões; materiais
de transporte com US$ 5,2 bilhões; o grupo composto pro

198
O setor externo

produtos químicos, com US$4,7 bilhões e o grupo de materias


de transporte, com US$1,8 bilhão.

SAIBA MAIS

A abertura de um país para a entrada de bens e serviços


produzidos por outros países é chamada de abertura co-
mercial. Destacamos a abertura comercial brasileira que
ocorreu na década de 1990, que teve início pouco antes
do governo de Fernando Collor. Foi um período de gran-
de importância para a economia do país, marcado pela
diminuição das tarifas de importação, a abolição dos re-
gimes especiais para produtos importados e a unifica-
ção de tributos incidentes sobre as compras externas.
Disponível em: https://maisretorno.com/portal/termos/a/abertura-comercial. Acesso em:
24 ago. 2021

Já em 2019, os óleos combustíveis de petróleo ou de


minerais betuminosos ocuparam a primeira posição, com
cerca de US$12,81 bilhões; seguido de adubos ou fertilizantes
(US$8,95 bilhões), produtos para a indústria de transformação
(U$S7,9 bilhões). Na quarta posição, observou-se os
equipamentos de telecomunicações, e na quinta posição o
conjunto de dispositivos eletrônicos, como válvulas, diodos e
transitores com US$5,7 bilhões. Na sexta posição, apareceram

199
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

os compostos organoinorgânicos e demais componentes deste


grupo, com importações de US$5,5 bilhões.

Completando o grupo das dez primeiras posições das


importações brasileiras para o ano de 2019, aparecem na sétima
posição as obras de ferro ou aço, com importações com um
valor correspondente a US$4,9 bilhões; as partes de veículos dos
automóveis, ocupando a oitava posição e correspondendo ao
equivalente a US$4,8 bilhões. Na nona posição, aparecem os óleos
brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, representando
2,6% das importações, ou US$4,7 bilhões. Por fim, as plataformas e
estruturas flutuantes, com US$4,56 bilhões, em importações.

Veja que é possível notar as marcantes diferenças entre a


composição das duas pautas (importação e exportação); mais do
que isso, fica evidente o papel assumido pela economia brasileira
ao focar sua exportação em produtos do setor agropecuário e
primário estrativista e se tornar um país importador de produtos
intensivos em capital e maior valor agregado.

TAXA DE CÂMBIO

Tendo em vista que as trocas comerciais realizadas entre


os países carecem de intermediários que viabilizem esses

200
O setor externo

movimentos, faz-se necessário compreender o papel e a


importância das taxas de câmbio para com essa finalidade.
Passos e Nogami (2005) definem a taxa de câmbio como sendo
o preço de uma unidade da moeda estrangeira em termos da
moeda nacional. Desta forma, ao se afirmar que o US$ vale
R$4,00, se expressa que a taxa de câmbio para o dólar estará
estabelecida em US$1,00 = R$4,00.

Nota-se que variações nesta taxa resultaram em mudanças


nos preços de produtos importados e exportados, estimulando
ou restringindo as ações nestas duas vertentes. Supondo que,
partindo do exemplo acima, o dólar sofra uma valorização.
Neste caso, o valor do dólar aumentaria em relação ao real,
sendo necessária uma quantidade maior de reais para comprar
a mesma quantidade de dólares

Veja este exemplo: se o importador estivesse adquirindo


um produto de US$1.000,00, inicialmente ele teria que
desembolsar R$4.000,00 para fazer essa compra. Mas a partir
da valorização do dólar e da consequente desvalorização
do real, ele irá precisar desembolsar R$5.000,00 para fazer a
mesma compra, ainda que o exportador estrangeiro continue
a receber os mesmos US$1.000,00, tornando assim a compra
mais cara.

201
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

Por outro lado, imagine um exportador brasileiro que


vendesse seu produto por R$1.000,00. Quando o dólar estava
sendo cotado a R$4,00, o estrangeiro que comprasse o produto
brasileiro precisaria desembolsar US$250,00. Mas com a
desvalorização do real, ele precisará desembolsar apenas
US$200,00 para realizar essa compra, o que torna o produto
nacional mais barato para o importador.

É em função destas características e efeitos que a taxa de


câmbio suscita atenção e é sujeita às políticas específicas, sendo
utilizada como um importante instrumento de estímulo ou de
contração da atividade comercial, sendo então um dos principais
instrumentos de determinação dos fluxos comerciais, juntamente
com o nível de renda de economia e os preços internos e externos.

REGIMES CAMBIAIS

A forma com que as taxas de câmbio são estabelecidas


também são objetos de regimes específicos e de estabelecimento
de condições específicas. Vasconcellos (2015), por exemplo,
afirma existirem dois tipos principais de conjuntos de
normas, regulamentação ou acordos para a realização das
transações financeiras e as trocas entre as diferentes moedas,

202
O setor externo

compreendendo as taxas de câmbio fixas e as taxas de câmbio


flutuante (flexíveis).

Esses dois regimes extremos representam as condições em


que a determinação da taxa de câmbio é feita pela autoridade
monetária e se ela se ajusta livremente a partir das relações
de mercado. No primeiro caso, quando a taxa é definida pela
autoridade monetária, o sistema é chamado de câmbio fixo, e
faz contraponto ao sistema de câmbio flutuante, quando não
existe controle.

Assim, no regime de câmbio fixo, é a autoridade monetária


que estipula a relação de conversão da moeda, por isso,
chamado de fixo, já que o valor é fixado por essa autoridade.
No caso brasileiro, seria a condição em que o Banco Central
determinaria essas taxas; em caso de aumento dessa proporção
de troca, ou seja, com a necessidade de mais moeda nacional
para se obter uma determinada moeda estrangeira.

Isso representaria uma desvalorização da moeda nacional, ou


alternativamente, uma valorização do câmbio. Já no caso de uma
diminuição da quantidade de moeda nacional utilizada para realizar
a conversão, ocorreria uma valorização de moeda nacional, o que
também representaria uma desvalorização cambial.

203
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

No caso de um regime cambial flexível, a taxa de câmbio


é determinada pela oferta e procura pela moeda, quando em
momentos de grande procura pela moeda estrangeira o seu
preço tende a subir, representando uma desvalorização da taxa
da moeda nacional (valorização cambial). Já em momentos
que a procura pela moeda estrangeira diminui ou a sua oferta
aumenta, a taxa de câmbio diminui, valorizando a moeda
nacional e desvalorizando a taxa de câmbio.

Ainda são utilizados regimes intermediários e variações


desses dois extremos apresentados. Por exemplo, pode-se citar
o regime de bandas cambiais, pelo qual são estipulados limites
(superiores e inferiores), dentro do qual a taxa de câmbio flutua
a partir das relações de mercado.

Entretanto, quando as oscilações de mercado levam a taxa


de câmbio para além dos limites estipulados, a autoridade
monetária passa a agir, comprando ou vendendo divisas, para
atuar sobre a oferta e demanda, de modo a manter as taxas
dentro dos limites estabelecidos.

Para tanto, se a taxa de câmbio se eleva e se aproxima de


romper o limite superior estipulado para a banda cambial, a
autoridade monetária passa a oferecer mais moeda estrangeira
no mercado para forçar a queda na taxa. Quando a taxa se

204
O setor externo

aproxima do limite inferior, o governo passa a comprar mais


dessas divisas, ampliando a demanda por essas moedas e
forçando a sua taxa a se elevar.

SAIBA MAIS

Quando se é utilizada uma moeda para além da sua re-


gião originária, essa moeda é chamada de divisa. Des-
sa forma, tanto o dólar como o euro, ou mesmo outra
moeda estrangeira, quando utilizada no Brasil, recebe o
nome de divisa, e tem o seu valor regulado pelo mer-
cado de câmbio. As divisas representam um papel fun-
damental para a realização de trocas entre as diferentes
economias no atual mundo globalizado.
Disponível em: https://conceitos.com/divisas-moeda-estrangeira/. Acesso em: 27 ago.
2021

Além disso, Vasconcellos (2015) aponta o regime de


flutuação como sendo o regime corrente no Brasil. Nesse regime,
funcionam as regras de câmbio flutuante, todavia com o governo
intervindo no mercado quando julga necessário, visando
assim manter a taxa dentro de níveis avaliados por eles como
adequados para se atingir os seus objetivos e ajustar a economia.

Considerando a integração do mercado financeiro


internacional e as possibilidades de transações serem realizadas

205
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

em diferentes locais ao mesmo tempo, Krugman e Obstfeld


(2007) destacam a arbitragem cambial como instrumento de
geração de ganhos para os agentes no mercado de câmbio. Isso
corre porque mediante uma operação de compra e venda de
uma moeda (seja ela nacional ou estrangeira) em diferentes
mercados, se aproveita de diferenças entre as cotações
observadas nas diferentes localidades para se obter lucro.

Por exemplo, se o euro está sendo cotado no mercado


americano a US$1,00 e está sendo cotado no mercado
inglês a US$1,50, um agente pode fazer uma compra de
€1.000.000,00 do mercado americano, pagando por isso o
valor de US$1.000.000,00, e o vendendo imediatamente no
mercado britânico por US$1.500.000,00, gerando um ganho de
US$500.000,00 nesta operação.

Veja: diferenças como essas na cotação entre dois mercados


fariam com que a procura por euros no mercado americano
apresentasse grande aumento, já que outros agentes gostariam
de aproveitar essa mesma oportunidade. Assim, o crescimento
da demanda neste mercado faz com que se eleve a taxa de
câmbio entre euros e dólares no mercado americano, fazendo
com que a diferença entre as cotações diminua rapidamente.
Ademais, o constante monitoramento dos mercados pelos

206
O setor externo

agentes em busca destas oportunidades faz com que elas surjam


em pequena quantidade e desapareçam rapidamente.

Visando comparar adequadamente o poder de compra


entre as economias, Krugman e Obstfeld (2007) destacam
a teoria da paridade do poder de compra. Segundo essa
teoria, a melhor maneira de se comparar duas moedas é
pela capacidade de poder de compra delas, considerando
os diferentes mercados. Se um produto apresenta o mesmo
valor nos dois mercados da comparação, o poder de compra
é o mesmo, mas quando são observadas diferenças entre os
preços, verifica-se que existem alterações no poder de comprar
dos produtos.

Considere o seguinte exemplo: suponha que em um


determinado momento, o dólar esteja sendo cotado a R$5,00
no Brasil, e que um certo produto esteja sendo vendido por
R$25,00 no Brasil e por US$6,00 nos Estados Unidos. Veja
que neste caso, ao se considerar o preço dos produtos nos
dois países, a relação de preços entre os países apresenta uma
proporção de 4,16 vezes (R$25,00/US$6,00), indicando que a
cotação que indicaria o equilíbrio entre os dois países deveria
ser de R$4,16, ao se considerar o preço dos produtos.

207
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

Entretanto, como a cotação do dia indica um valor


acima deste (R$5,00), a cotação real é diferente e indica que o
americano, no exemplo, possui maior poder de compra que o
brasileiro, já que precisaria de menos de US$5,00 para comprar
o produto no Brasil. O índice Big Mac é uma tentativa de
apresentar essa relação mundo afora.

SAIBA MAIS

Em 1986, a revista The Economist elaborou um índice que


buscava comparar o poder de compra entre as diferen-
tes economias, utilizando-se de um produto que pudesse
apresentar características similares às do redor do mundo.
Foi criado então o famoso índice Big Mac, que permite ve-
rificar como o poder de compra de um país está relacio-
nado com os demais. Em julho de 2021, por exemplo, o
preço do Big Mac era de R$22,90 no Brasil e de US$5,65
nos EUA, indicando que a taxa de câmbio que equilibraria
a renda entre os países deveria ser de R$4,05.
Disponível em: https://www.dicionariofinanceiro.com/big-mac-index/.
Acesso em: 27/08/21

Tomando como referência os principais regimes cambiais,


Vasconcellos (2015) sintetiza as características, as vantagens
e desvantagens das diferentes formas de câmbio. Para ele, o
regime de câmbio fixo apresenta a vantagem de permitir maior
controle sobre a inflação, já que permite controle sobre os

208
O setor externo

preços de produtos importados e desta forma o controle sobre


os custos de produção.

Contudo, por outro lado, isso acaba fazendo com que as


economias que adotam esse regime fiquem mais expostas às
oscilações no mercado externo e precisem manter elevadas
reservas de moeda estrangeira, a fim de poder determinar a
taxa de juros do país em alinhamento com a política monetária
executada e não ficar refém das mudanças no cenário
internacional e dos ataques especulativos.

Já no caso do regime de câmbio flexível, Vasconcellos


(2015) destaca como vantagens a maior independência da
política monetária, além de manter as reservas cambiais
menos vulneráveis a ataques especulativos. Por outro lado,
o câmbio pode se tornar muito volátil em alguns momentos
quando o mercado financeiro internacional fica relativamente
instável, além de apresentar condições menos favoráveis ao
combate da inflação.

Tendo em vista a relação entre a moeda nacional e a


moeda estrangeira na taxa de câmbio, Passos e Nogami
(2005) apresentam a taxa de câmbio como o preço da moeda
estrangeira em termos de moeda nacional e destacam a taxa de
câmbio como um dos fatores determinantes das importações e

209
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

exportações, sendo que a desvalorização cambial (valorização


da moeda nacional) apresentaria um aumento nas importações.

As mudanças na taxa de câmbio afetam as relações de


comércio exterior, por dois motivos em especial (CARNEIRO,
2014). O efeito via preços relativos e o efeito direto na absorção.
A partir de uma revisão teórica sobre os efeitos da taxa de
câmbio sobre o desempenho de comércio exterior, é apontado
que a partir de mudanças na taxa de câmbio, as decisões
sobre compra e venda (demanda e oferta) são afetadas pelas
consequentes mudanças nos preços relativos.

Além da alteração no preço dos produtos que podem se


tornar mais baratos ou mais caros a partir da alteração da
taxa de câmbio, os agentes buscam ajustar a quantidade de
moeda estrangeira disponível, aumentando ou diminuindo as
compras e vendas para determinar o estoque de moeda que
desejam sustentar.

Muitos outros efeitos são apontados para a economia a


partir da determinação da taxa de câmbio, além dos efeitos para
a balança comercial. Vasconcellos (2015), por exemplo, aponta
os efeitos para com a inflação e a dívida externa de um país.
Uma vez que a valorização da moeda nacional implica aumento
de poder de compra da população para a compra de produtos

210
O setor externo

importados, a ocorrência da desvalorização cambial faz com


que o mercado nacional passe a enfrentar maior concorrência
de produtos importados. E essa concorrência leva os produtores
locais a controlarem o preço de seus produtos, ajudando a
combater a inflação.

Já no caso da dívida externa, uma mudança na taxa


de câmbio que desvalorize a moeda nacional e estimule
as exportações e desestimule as importações faz com que
a dívida do país em moeda estrangeira fique maior em
moeda nacional, já que serão necessários mais reais para
pagar a mesma dívida. De forma oposta, caso ocorra uma
valorização da moeda nacional (desvalorização de câmbio), a
dívida externa se torna menor em moeda nacional, já que são
necessários menores volumes de moeda nacional para efetuar
esse pagamento.

Assim, a política cambial em conjunto com a política


comercial, passam a ser os instrumentos pelos quais os países
executam sua política externa. Se no contexto da política
cambial são determinadas as condições de alteração da taxa
de câmbio, a política comercial, por outro lado, diz respeito
aos mecanismos de regulamentação da troca de produtos e
serviços, e se utiliza de tarifas, regulamentação de comércio e
subsídios para a execução dos objetivos propostos.

211
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

Ao analisarem os instrumentos de
política comercial, Krugman e Obstfeld
(2007) apontam as tarifas como o
instrumento mais simples de política
comercial, ao se utilizar de um imposto
sobre o produto importado, contudo,
apontam ainda que essas tarifas podem
se apresentar como tarifas específicas e
AD VALOREM
ad valorem.
Segundo o site Intelipost, “Ad
Como tarifa específica, são valorem (ou Frete Valor) é uma
taxa cobrada dentro da tabela de
consideradas aquelas em que um valor fretes que representa o custo do
fixo é adicionado ao preço unitário de seguro da carga”.
produto importado. Já as tarifas ad Fonte: https://www.intelipost.
valorem são consideradas a partir de um com.br/blog/o-que-e-ad-
valorem/. Acesso em: 03 set.
percentual sobre o bem importado, e em 2021.
ambos os casos os efeitos representam
aumento no valor do produto, diminuída
sua importação.

Segundo Nogami (2012), se tratando


de política comercial internacional,
medidas e instrumentos utilizado pelos
governos são adotados para interferir
no que seria o livre comércio. Assim,

212
O setor externo

as ações elaboradas são utilizadas para buscar o incremento


das exportações e/ou redução das importações de modo
a aumentarem a renda nacional. Alguns autores ainda
ampliam o rol de mecanismos utilizados no conjunto das
políticas comerciais. Krugman e Obstfeld (2007), por exemplo,
apresentam uma série de outros instrumentos que estão
listados a seguir:

• Subsídios à exportação: por meio de um pagamento


realizado a uma pessoa ou empresa que realiza
a exportação, podendo ser específico ou ad
valorem. Desta forma, o preço do produto se torna
artificialmente mais barato, se tornando mais
vantajoso para o importador e aumentando a
quantidade de produtos exportados pelo país.

• Cotas de importação: já na cota de importação, um


limite quantitativo é estipulado para a importação
de determinado produto, para o qual os montes
excedentes importados passam a enfrentar
uma taxa diferenciada e menos vantajosa. Essa
restrição apresenta como efeito um aumento de
preço do produto, diminuindo a sua demanda
no mercado interno. Contudo, a estipulação

213
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

da cota não gera receita para o governo, como


seria no caso de uma taxa de importação.

• Restrições voluntárias à exportação: neste caso as


restrições são estipuladas pelo país exportador, a
pedido do país importador, a fim de não enfrentarem
mais barreiras no país importador. Essas restrições
também resultam em elevação de preço do produto
no mercado importador, sem a correspondente
contrapartida de impostos para o governo.

• Necessidade de conteúdo local: a ideia por trás


deste mecanismo é minimizar os efeitos das
importações ao exigir que parte da produção se
utilize de produtos fabricados dentro do país, e
assim minimize os efeitos da importação. Porém,
apesar de transferir parte desta produção para
o país local, faz com o que o preço do produto
seja afetado pelos preços nacionais dos bens
utilizados na produção, o que eleva o preço
do produto final para o consumidor local.

• Barreiras burocráticas: a fim de não formalizar os


impedimentos ao comércio entre os países, alguns
países podem adotar formas de impedimentos

214
O setor externo

que alteram os procedimentos normais, para


criar maiores empecilhos ao comércio, exigindo
normas específicas, regulamentos sanitários e
técnicos para que a importação se torne inviável.

• Desta forma, apesar das reconhecidas vantagens


que o comércio pode apresentar para as economias,
muitos instrumentos são adotados com a
intenção de “proteger” as economias do comércio
internacional e de eventuais efeitos danosos
para sua economia. Para buscar minimizar essas
ações e aumentar o debate sobre as vantagens
comerciais, organismos internacionais como
a Organização Mundial do Comércio (OMC)
têm buscado adotar medidas mitigatórias e
aumentar a negociação entre as economias.

CONJUNTURA ECONÔMICA
INTERNACIONAL
Buscando descrever a economia mundial para o período
após a segunda guerra mundial, Gremaud, Vasconcellos e
Toneto Jr., (2011) destacam as mudanças no sistema monetário
internacional como sendo o principal problema enfrentado pela
economia mundial entre a década de 1940 e a década de 1970;

215
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

embora não tenha sido o único fator de importância para a


economia mundial no período (ganham destaque a questão das
empresas multinacionais, o mercado europeu e o movimento
que irá culminar com a globalização mundial).

O rompimento com o padrão ouro vigente até aquele


momento transforma as relações internacionais e faz emergir
o sistema monetário internacional que surge a partir da
Conferência de Bretton Woods, por meio da prevalência da
proposta do secretário de tesouro americano (Henry White)
sobre a proposta de John Maynard Keynes.

SAIBA MAIS

Após a segunda guerra mundial, alguns acordos foram es-


tipulados para criar as bases do que viria a ser a estrutura
do sistema financeiro mundial. Assim, por meio dos acor-
dos que receberam o nome de Bretton Woods, em função
da cidade americana onde foram firmados, ficou deter-
minado que o dólar passaria a ser a moeda de referência
nas trocas mundiais, além de ser a única com sua emissão
relacionada com a quantidade de ouro nas reservas ame-
ricanas, além da criação do FMI e banco mundial.
Disponível em: https://www.infoescola.com/historia/acordo-de-bretton-woods. Acesso
em: 02 set. 2021.

216
O setor externo

Neste modelo, adotado a partir de então, não mais se


utilizaria do ouro como ativo que garantiria o valor da moeda
circulante. A partir deste momento, a proposta vencedora
determinava que o dólar se tornaria a principal moeda nas
trocas internacionais e assim, como principal moeda do
sistema financeiro. Para tanto, o dólar continuaria vinculado ao
ouro, garantindo a sua conversibilidade, e as demais moedas
mundiais eram conversíveis ao dólar através de uma taxa de
câmbio fixo.

Embora esse padrão tenha funcionado de maneira


adequada por muito tempo, as pressões eram crescentes e a
garantia para que o modelo continuasse a funcionar dependia
da expansão das reservas mundiais de dólares. Esse modelo
que favoreceu a economia americana por muito tempo, mas
com as guerras da Coreia e a do Vietnã e os crescentes déficits
externos da economia américa, a partir da década de 60, vai
enfraquecendo até ter seu fim decretado no ano de 1971, pelo
presidente americano Richard Nixon (VASCONCELLOS, 2015).

Gremaud, Vasconcellos e Toneto Jr. (2011) complementam


que a proposta vencedora em Bretton Woods estipulava a
criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), que passaria
a administrar o sistema monetário internacional e teria como

217
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

principais objetivos evitar instabilidades


cambiais e garantir a estabilidade
financeira, além de ser responsável por
ajudar os países associados ao FMI e
que enfrentassem problemas com seus
balanços de pagamento.

Como resultado de Bretton Woods,


também foram criados o Banco Mundial
que teria o objetivo de socorrer os
A partir do
países afetados pela guerra e, em um GATT, em
momento posterior, auxiliar os países em 1995 é criada
desenvolvimento. Outro organismo criado a organização
posteriormente, a partir das discussões de mundial do
Bretton Woods, foi o General Agreement comércio
on Tariffs and Trdade (GATT) que visava (OMC).
regulamentar e reduzir as restrições ao
comércio internacional e a ampliação da
liberalização do comércio.

Embora o sistema financeiro adotado


tenha sido deixado de lado, essas demais
instituições continuam a exercer papeis
importantes na economia mundial,
mesmo com diminuição da relevância

218
O setor externo

das instituições em função de um movimento de aumento


do protecionismo e redução do impulso liberal observado no
pós-guerra. Com o posicionamento do governo americano
de Donald Trump, em 2017, adotando uma postura mais
unilateral e de menor negociação no cenário internacional,
questionamentos são levantados quanto à relevância de
organismos como a OMC.

Mesmo com oscilação entre a década de 1960 e 2020, a


economia mundial encontrou um período de crescimento
econômico para quase todo o período de analisado. Com
exceção da crise mundial observada em 2008 e dos efeitos
da pandemia em 2020, todos os demais anos apresentaram
crescimento para a economia mundial.

Tal evolução é em grande medida resultado do novo


contexto econômico mundial e resultado de um modelo
que priorizou e valorizou as trocas comerciais e integração
comercial entre os países. Mesmo que tal crescimento não tenha
sido experimentado por todas as economias, e existirem aquelas
economias que enfrentaram ganhos desiguais, para a economia
mundial fica evidente a tendência de crescimento encontrada
pela economia mundial. Observe a Figura 14:

219
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

Figura 14 - Crescimento econômico mundial - 1960 a 2020

Fonte: Banco mundial (2021)

Tentando projetar o crescimento econômico mundial e o


das principais e maiores economias mundiais, alguns estudos
são atualizados com frequência. Em especial, dois estudos
que buscam criar os cenários e analisar as possibilidades para
a economia mundial para 2050 e períodos posteriores a esse
podem ser citados, a saber: os estudos da Price Waterhouse
Cooper (PWC) e o da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Conquanto as projeções possam não se concretizar, quando


de sua elaboração, apontam para as condições consideradas e
as potencialidades das economias a partir dos modelos criados,
olhando para economia mundial em 2050 e 2060, respectivamente,
e projetando os cenários para a economia mundial

220
O setor externo

De acordo com a PWC (2017), a economia mundial


poderia mais que dobrar de tamanho até 2050, sendo as
economias de países emergentes aquelas que atuaram como
motor da economia mundial, passando de 35% da economia
mundial para metade da economia do globo, no final do
período. Essas projeções já levavam em consideração que
as políticas seriam favoráveis ao crescimento, mesmo com o
crescente aumento do protecionismo.

Nesta projeção, a economia dos países da União Europeia


(com 27 países) se reduziria a 10% da economia mundial, se
tornando uma economia menor do que a economia indiana.
Já Vietnã, Índia e Bangladesh seriam as economias que
mais cresceriam neste período. Contudo, as economias mais
avançadas continuariam a apresentando uma renda média
superior ao de países emergentes.

Países como o Brasil, a Nigéria e a Turquia apresentariam


relevante potencial de crescimento, ainda que enfrentassem
condições complicadas no período da publicação do estudo.
Para tanto, o conjunto das economias emergentes precisariam
realizar reformas para estabilizar a economia e diversificar a
atividade econômica para não ficar dependente dos recursos
naturais e desenvolver as condições políticas e jurídicas para
buscar maior eficiência nestas questões.

221
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

Segundo Guillemette e Turner (2018), na visão da OCDE,


que tomava como cenário básico a diminuição da taxa de
crescimento econômico mundial diminuindo de 3,5% no ano
de 2018 para uma taxa de 2,0% em 2060, essa diminuição seria
justificada pela redução da taxa de crescimento das grandes
economias emergentes, embora esses países ainda continuassem
com os principais índices de crescimento no mundo.

Este estudo da OCDE ainda evidenciou a necessidade


e as oportunidades na elevação no nível educacional nos
países emergentes, além de um aumento na concorrência para
os mercados dos países desenvolvidos. Mas ao apontar as
justificativas para a visão mais pessimistas quanto ao crescimento
mundial ao final do período, destaca ainda que os efeitos da
reversão na tendência da liberalização comercial podem ser
ainda maiores que os projetados pelo estudo, e aponta um
importante desafio para a economia mundial no futuro.

O estudo da PWC não só projeta a posição das economias,


como também apresenta as evoluções parciais, considerando
como ponto intermediário o ano de 2030. Nessa projeção que
considerava a paridade do poder de compra como referência de
medição e comparação, já apontava a economia chinesa como
a ocupante da primeira posição já em 2016 e mantendo esta
posição por todo o período até 2060.

222
O setor externo

Por outro lado, a economia americana se manteria na


segunda posição até 2030, mas em 2060 perderia a posição
para a Índia e se tornaria a terceira maior economia. A quarta
economia, de acordo com a projeção, deve ser a Indonésia,
então seguida pelo Brasil, que ocuparia a quinta posição.
Completariam ainda o grupo das dez maiores economias, a
Rússia, o México, o Japão, a Alemanha e o Reino Unido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta unidade tivemos a oportunidade de conhecer aspectos
importantes do setor externo e do comércio internacional. Com
base em dados estatísticos e históricos do cenário econômico
mundial, examinamos o comércio exterior brasileiro e sua
evolução nas últimas décadas, e os índices e movimentos
ocorridos ao longo dos anos que trouxeram o Brasil ao cenário
atual. Foi possível se verificar os principais componentes da
pauta de exportação brasileira, bem como os principais produtos
importados pelo país, comparando-se os anos de 2000 e 2019.

Em seguida, o leitor pôde ter acesso à análise do cenário


econômico mundial, e às características da participação
do Brasil no comércio exterior, os entraves e barreiras às
transações, conhecendo assim os principais tipos de barreiras

223
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

utilizadas e as justificativas para sua adoção. Também foi


possível conhecer os principais parceiros comerciais brasileiros,
ao se verificar os principais destinos das exportações de nosso
País. Abordamos também a descrição da política cambial e
comercial, e seus efeitos para o comércio brasileiro, além dos
benefícios pare a economia mundial apontados pelas principais
teoria de fundamentação para o comércio mundial.

Além disso, foi possível analisar algumas projeções para a


economia do mundo, bem como os fundamentos que norteiam as
potenciais alterações em termos de crescimento econômico destas
economias. Foi possível analisar e compreender os principais
componentes do balanço de pagamentos como a balança comercial,
além de verificar a evolução da balança comercial brasileira entre os
anos de 1995 e 2018, assim como o saldo das transações correntes.

Dessa forma, ao final da unidade, o leitor pôde iniciar


a apreciação das dinâmicas comerciais para as principais
economias mundiais, compreendendo as consequências e as
razões para a existência do comércio entre os países, além de
visualizar as expectativas para as maiores economias, inclusive
a brasileira, e as possíveis reconfigurações para a dinâmica de
força entre as economias, ao se avaliar o crescimento econômico
mundial dos países com maiores potenciais.

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O setor externo

RESUMO

Nesta unidade, aprendemos:

• que a evolução do comércio exterior brasileiro evidencia


o papel assumido pelo país nas trocas internacionais
com suas vantagens e limitações, as necessidade
características da economia nacional, além das
tendências comerciais apontadas para o país;

• os fundamentos que justificam o comércio internacional


e os benefícios potenciais de sua utilização;

• como as contas nacionais consideram as transações


comerciais e o fluxo financeiro da economia;

• os diferentes regimes cambiais e as formas de comparação


entre o poder de compra das diferentes economias;

• a conjuntura econômica internacional apresenta tendências de


longo prazo que são propensas a permanecerem na economia
mundial e brasileira, além de projetar um crescimento
econômico potencial bastante favorável à economia brasileira;

225
RICARDO DE QUEIROZ MACHADO

• que fica evidente a necessidade de reformas ao país, bem


como a melhoria em vários aspectos como a educação;

• que olhando o cenário internacional, foi possível verificar as


projeções de mudança nas relações de forças das economias;

• sobre a alteração na composição das economias mundiais


que se é esperada para as próximas décadas;

• que, ao se tratar das questões relacionadas com o cenário


externo, também foi possível abordar temas como as
diferentes taxas de câmbio existentes e o efeito das mudanças
no sistema financeiro internacional no pós-guerra;

• sobre as implicações da políticas comerciais e cambiais.

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