Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Indaial – 2020
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof. Kevin Daniel dos Santos Leyser
L685n
ISBN 978-65-5663-323-7
ISBN Digital 978-65-5663-319-0
CDD 370
Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico, a educação tem a ver com o aprimoramento da
aprendizagem e a neurociência com a compreensão dos processos mentais
envolvidos na aprendizagem. Esse terreno comum sugere um futuro no
qual a prática educacional pode ser transformada pela ciência, assim como a
prática médica foi transformada pela ciência há cerca de um século.
Contudo, como você poderá ver em seus estudos aqui, nas Unidades 1
e 2 deste Livro Didático, dada a complexidade do assunto, deve-se ter cuidado
para evitar conclusões precipitadas sobre a educação, impulsionadas por
implicações superficiais de descobertas recentes, como declarações acríticas
sobre “ensino baseado no cérebro”. Existem, no entanto, áreas em que o
conhecimento parece suficientemente sólido para apoiar conclusões que
impactam a aprendizagem (por exemplo, necessidades de sono, habilidades
de leitura e bilinguismo) e devem ser seriamente consideradas. As relações
entre o cérebro, a mente, a consciência e o self devem ser exploradas com
respeito em bases éticas, a fim de preservar a dignidade humana e promover
a equidade. Isso pode oferecer uma rica oportunidade de ampliar a
representação que homens e mulheres têm hoje de si mesmos, de seus estados
de desenvolvimento individual e de seu potencial de realização. Todos estes
temas serão abordados nas duas primeiras Unidades deste Livro.
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-
dades em nosso material.
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-
mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui
para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.
UNI
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
NEUROPSICOPEDAGOGIAE
NEUROEDUCAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
1
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 —
NEUROPSICOPEDAGOGIA,
NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
1 INTRODUÇÃO
Tornou-se habitual que os campos de estudo interdisciplinares, ou seja,
ciências envolvendo mais de uma disciplina, fossem nomeados com palavras
compostas. A neuropsicopedagogia e a neuroeducação são casos em questão.
Agora, há pelo menos duas maneiras de interpretar esses rótulos.
2 NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
A neuropsicopedagogia e a neuroeducação são, como afirmado
anteriormente, um campo interdisciplinar. Assim, para entender como o campo
funciona, precisamos entender como suas disciplinas relacionadas interagem
nele. As leituras incluídas nesta unidade fornecerão uma resposta para essa
consulta. O que todas as suas disciplinas relacionadas compartilham é a crença de
que qualquer tipo de aprendizagem é resultado de processos eletroquímicos que
ocorrem no nível do cérebro. Portanto, se um professor ou professora promover o
aprendizado em um determinado grupo de indivíduos, ele ou ela deve ter algum
conhecimento de como o cérebro funciona, como processa informações, como sua
capacidade de construir representações mentais do mundo ao nosso redor pode
ser aprimorada, melhorada ou prejudicada por fatores internos e externos.
2011). Não apenas palavras, fórmulas matemáticas, datas históricas e outros tipos
de informações enciclopédicas, mas também aspectos emocionais, físicos e até
estéticos e morais do self (eu) são aprendidos e representados no cérebro.
4
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
Por fim, se somos o que sabemos e o que aprendemos, então quem somos
é, em vários aspectos, determinado por nossos processos íntimos do cérebro.
Como argumenta Ledoux (2002), a resposta para a pergunta de como nosso
cérebro nos torna quem somos pode ser encontrada em processos sinápticos que
permitem interações cooperativas entre os vários sistemas cerebrais envolvidos
em estados e experiências particulares e, por essas interações serem vinculadas
ao longo do tempo.
5
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
6
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
7
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
8
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
9
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
DICAS
10
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
DICAS
11
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
12
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
13
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
Esse fluxo de três vias significa que, para que um conceito seja aceito
na nova disciplina, educadores (pedagogos), psicólogos e neurocientistas
devem confirmar suas hipóteses não apenas em suas próprias disciplinas, mas
também nas outras duas. A ciência da MCE é a ponte formal que liga os campos
da neurociência, psicologia e pedagogia que está desaparecida há décadas
(FISCHER et al., 2007). Precisamos de professores que conheçam o cérebro e como
ele aprende melhor, e precisamos de neurocientistas e psicólogos que possam
prever a aplicação de seu trabalho nos ambientes escolares. Por quê? Porque a
educação é cheia de problemas complexos que não foram abordados com sucesso
o suficiente apenas através de abordagens pedagógicas.
14
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
3 NEUROMITOS NA EDUCAÇÃO
É facilmente reconhecido que o campo da neuroeducação ou
neuropsicopedagogia está apenas começando a trazer à tona, aos educadores,
conhecimento neurocientífico utilizável e aplicável nos espaços educacionais
concretos. No entanto, existe uma sólida base de literatura e um número crescente
de descobertas de pesquisas das neurociências e ciências cognitivas que podem
e, de fato, devem informar o processo de ensino-aprendizagem, por exemplo,
os trabalhos de Dubinsky (2010); Fischer, Goswami e Geake (2010); Fischer
15
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
et al. (2007); Hardiman e Denckla (2010); Meltzoff et al. (2009); Tallal (2004); e
Varma, McCandliss e Schwartz (2008). Infelizmente – e por várias razões – essas
descobertas que valem a pena, às vezes, são simplificadas ou mal interpretadas
quando são feitas tentativas de aplicá-las à pedagogia.
16
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
Na realidade, a menos que alguém realmente tenha seu corpo caloso (isto
é, o feixe de fibras que conectam os dois hemisférios) cortado, ambos os lados do
cérebro estão envolvidos criticamente na maioria das tarefas. A ideia de que um
hemisfério possa "dominar" o outro – que pessoas que são melhores em alguns
tipos de tarefas do que outras devem ter um melhor funcionamento em um
hemisfério – não tem base de fato. Simplesmente, não há evidências científicas
que justifiquem a identificação dos alunos como "de cérebro esquerdo" ou "de
cérebro direito" e orientando instruções para um lado do cérebro ou para o outro.
17
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
18
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
19
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
20
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
DICAS
22
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
23
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
24
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
4.7 CRIATIVIDADE
Como marca registrada das “habilidades do século XXI”, a criatividade
no ensino e na aprendizagem se tornou um tópico de conversa e aumentou o
interesse na literatura acadêmica e na mídia popular. Em um artigo, Bronson e
Merryman (2010) apontam que, embora as pontuações de QI para crianças nos
últimos 30 anos tenham melhorado, os índices de criatividade diminuíram. Eles
citam análises que examinaram as notas em declínio de mais de 300.000 crianças
e adultos no teste de Torrance, uma medida popular do pensamento criativo. Ken
Robinson (2001) acredita que concentrar-se em testes de alto risco em relação a
uma infinidade crescente de padrões de conteúdo está tirando a criatividade de
nossas escolas e salas de aula.
25
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
LEITURA COMPLEMENTAR
Bianca Acampora
Quem é o neuropsicólogo?
O que é a Neuropsicopedagogia?
26
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
A psicopedagogia A neuropsicopedagogia
Além de trabalhar os aspectos mencionados,
tem como foco compreender o funcionamento
do sistema nervoso, integrando suas diversas
funções (movimento, sensação, emoção,
Trabalha com as dificuldades de pensamento etc.), intervindo na melhora das
aprendizagem e a diversidade dificuldades de aprendizagem, tais como:
de fatores que contribuem para • distúrbios de memória;
tal, podendo estes ser de origem • falta de atenção;
orgânica, cognitiva, emocional, • bloqueios de aprendizagem nas diversas
social ou pedagógica. matérias dos conteúdos escolares;
• dificuldades em raciocínio lógico,
matemática, leitura e escrita;
• baixa autoestima;
• falta de motivação, entre outras.
FONTE: O autor.
• Lei nº 3.124/97 – Senado Federal, que pode ser acompanhada a sua tramitação
pelo site da Câmara dos Deputados.
• Certificado de Especialista com registro no MEC – CNE;
• Registro na ABPp.
28
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
29
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
Socialização das crianças por meio de sua participação e inserção nas mais
diversas práticas sociais é o objetivo de qualquer ambiente educativo. É na escola
que as crianças inseridas nos grupos podem ser avaliadas e onde elas podem
ser comparadas com seus pares, com seu grupo etário e social. Com preparo
e sensibilidade, o professor, melhor do que qualquer outro profissional, está
preparado para detectar problemas cruciais na vida de toda e qualquer criança
que por ele passar. Entretanto, o ato de educar e incluir não são atos solitários,
eles necessitam de parcerias, de trocas, de profissionais que percebam cada
indivíduo nos mais diferentes modos de ser e estar no grupo, enfim uma equipe
multidisciplinar.
30
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
31
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
Acompanhamento neuropsicopedagógico
32
TÓPICO 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, NEUROEDUCAÇÃO E OS NEUROMITOS
33
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
34
• No Brasil, a neuropsicologia foi proposta no ano de 2008.
35
AUTOATIVIDADE
36
UNIDADE 1 TÓPICO 2 —
O CÉREBRO, O SELF E AS
NEUROCIÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
Este tópico explora alguns desenvolvimentos históricos sobre ideias com
relação à conexão entre cérebro e self (eu) e sugere que eles constituam o pano de
fundo – e, de fato, as condições históricas e intelectuais de possibilidade – para
projetos, como o que inspira esse livro de neuropsicopedagogia ou neuroeducação,
que visa integrar as neurociências às (ou nas) áreas tradicionais das ciências
humanas, em específico nas ciências da educação. Essa integração pode ser
concebida em termos reducionistas (a área em questão, por exemplo, educação,
psicologia ou pedagogia, deve ser totalmente reformada com base no conhecimento
neurocientífico e dependente dos avanços nas neurociências) ou em termos mais
colaborativos (as ciências humanas mantêm sua independência epistêmica e
metodológica, mas devem ser enriquecidas e parcialmente modificadas pelas
informações neurocientíficas disponíveis).
37
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
38
TÓPICO 2 — O CÉREBRO, O SELF E AS NEUROCIÊNCIAS
A neuroética, uma área que promete ser de importância crucial para o neuro
futuro, é um pouco diferente. Certamente, existe a busca pela base neurológica
do comportamento moral, mas a maioria de seus esforços é direcionada às
consequências éticas, sociais e legais do conhecimento neurocientífico e de suas
aplicações (MARCUS, 2004). Todas essas áreas enfatizam não o reducionismo,
mas o diálogo, a interdisciplinaridade e as interações de mão dupla entre as
neurociências e os outros campos. Embora não sejam homogêneas e estejam
abertas ao debate, todas manifestam certa inclinação corticocêntrica e colocam –
mesmo com advertências – uma enorme esperança nas contribuições das técnicas
de neuroimagem.
Vale a pena notar que as visões sobre a natureza e a história da ciência que
sustentam essa crença foram formuladas até agora em termos inconsistentes com
os que prevalecem entre os historiadores da ciência, segundo os quais objetividade,
evidência e fatos são eles mesmos historicamente construído, enraizado em
contextos particulares e sujeito à negociação intelectual e institucional. John T.
Bruer (1997) que coibiu os entusiastas neuroeducacionais e criticou tentativas
precipitadas de colmatar a lacuna entre neurociência e educação com base em
noções simplistas ou infundadas sobre lateralidade ou períodos críticos, escreve
que: “nós simplesmente não sabemos o suficiente sobre como o cérebro trabalha
para extrair implicações educacionais das mudanças na morfologia sináptica”, e ele
39
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
conclui que a “neurociência descobriu muito sobre neurônios e sinapses, mas não o
suficiente para orientar a prática educacional” (BRUER, 1997, p. 10-15).
DICAS
Uma leitura pertinente ao tema deste tópico é a obra Somos nosso cérebro?
de Fernando Vidal e Francisco Ortega, no qual os filósofos oferecem uma exploração crítica
do neurocentrismo.
40
TÓPICO 2 — O CÉREBRO, O SELF E AS NEUROCIÊNCIAS
3 A TENDÊNCIA NEUROLOGIZANTE
A tendência neurologizante manifestada no surgimento das neurociências
baseia-se em suposições sobre a relação entre "ser humano" e "ter um cérebro",
ou seja, a crença de que o cérebro (ou eventualmente um equivalente funcional)
é a única parte verdadeiramente insubstituível do corpo que precisamos para
ser nós mesmos. Em uma das histórias mais famosas de Roald Dahl (1979), um
homem chamado William está disposto a sobreviver à morte de seu corpo como
um cérebro separado. Antes da operação, ele pede ao médico para manter o
nervo óptico e um olho preso a ele para que ele ainda possa ler o jornal, uma
de suas ocupações favoritas. Assim, William continua vivendo como um cérebro
flutuando em uma solução, com um globo ocular ligado a ele. No entanto, nem
para William nem para o cirurgião o olho seria necessário para a persistência de
William como exatamente a mesma pessoa que ele era antes de sobreviver ao seu
próprio corpo (DAHL, 1979). Essa fantasia corresponde às reais aspirações de
algumas pessoas: a última moda na busca da imortalidade por meio da "criônica",
em parte impulsionada por seu menor custo, é a "neuropreservação", isto é,
manter o cérebro e se livrar do resto do corpo.
41
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
42
TÓPICO 2 — O CÉREBRO, O SELF E AS NEUROCIÊNCIAS
43
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
O cérebro funciona aqui como a fábrica dos espíritos animais, mas são esses
espíritos, com o resto dos humores, que determinam o caráter e as capacidades de
uma pessoa. Por exemplo, em seu renomado Examen de ingenios para las ciencias,
de 1575, o médico, pedagogo e filósofo espanhol Juan Huarte de San Juan seguiu
o Quod animi mores de Galeno e explicou que existe uma correspondência entre
umidade e memória, secura e compreensão, calor e imaginação (VEGA, 1996). As
diferenças individuais nessas faculdades, portanto, dependiam das qualidades
físicas do cérebro, a saber, sua temperatura e grau de umidade e secura.
44
TÓPICO 2 — O CÉREBRO, O SELF E AS NEUROCIÊNCIAS
Nos séculos XVII e XVIII, a teoria humoral perdeu algum terreno contra
alternativas mecanicistas e solidistas, mas permaneceu extremamente influente.
No que diz respeito à interação entre alma e corpo, e, especialmente, as funções
cognitivas, os nervos ganharam novo significado. Eles foram concebidos como
fibras sólidas e elásticas ou como tubos ocos (VIEIRA, 2012). Nos dois casos, eles
constituíam o intermediário entre o corpo e a alma; seu papel é destacado pelo
fato de que alguns autores, como o naturalista e filósofo de Genebra, Charles Bon-
net, colocaram a sede da alma em um ponto conjectural dentro do cérebro, cujos
nervos convergiam (DALGALARRONDO, 2011). Ainda mais substancialmente
do que na estrutura galênica, onde os humores e o temperamento desempenha-
ram um papel crucial, o cérebro tornou-se o órgão do self e crucial para o desen-
volvimento da ciência da psicologia empírica. Dois dos pensadores psicológicos
mais importantes do Iluminismo, o médico escocês David Hartley em suas Obser-
vações sobre o homem, sua constituição, seu dever e suas expectativas (1749) e Bonnet
em seu Ensaio de psicologia (1754) e seu Ensaio analítico sobre as faculdades da alma
(1760), elaborou psicologias que enfatizavam o papel dos nervos e do cérebro na
formação de hábitos, mecanismos de associação e desenvolvimento de conceitos
a partir das impressões sensoriais (WHITAKER; SMITH; FINGER, 2007).
5 A REVOLUÇÃO DA CEREBRALIDADE
Apesar da importância do cérebro na fisiologia galênica e, posterior-
mente, na neuropsicologia iluminista, o surgimento da ontologia da cerebrali-
dade depende de outros fatores científicos e filosóficos. Para entender esses fa-
tores, precisamos primeiro relembrar algo essencial sobre o cristianismo como
tradição religiosa: o fato de ser baseado no mistério da Encarnação, ou seja, que
o Cristo era Deus feito carne, Deus encarnado. Certamente, houveram debates
iniciais sobre a natureza do corpo de Cristo e sobre o relacionamento exato
entre sua natureza humana e sua natureza divina. A posição que se tornou ofi-
cial era que Cristo tinha um corpo inteiramente humano e era Deus e homem.
Disso seguiu o princípio básico da antropologia cristã, que diz que uma pessoa
humana só pode existir como um corpo.
45
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
que, para a tradição cristã, "ser humano significa ser uma mente encarnada"
(PORTER, 1991, p. 212) é imprecisa. A expressão comum “self (eu) corporifica-
do” envolve a ideia de um self (potencialmente) desencarnado. O cristianismo,
no entanto, rejeita a possibilidade de uma pessoa existir de outra maneira que
não como um composto de corpo e alma. Como disse o teólogo Antoine Vergo-
te (1979, p. 96-97) uma pessoa "não é alguém que tem um corpo, mas [alguém]
cuja existência é corporal; [...] o corpo é o homem inteiro".
46
TÓPICO 2 — O CÉREBRO, O SELF E AS NEUROCIÊNCIAS
de John Locke. A filosofia corpuscular (que foi adotada por Isaac Newton, por
exemplo) explica os fenômenos da natureza pelo movimento, repouso e posição
das partículas intercambiáveis da
matéria. As diferenças entre os corpos físicos
não derivam da natureza de sua substância, mas das propriedades mecânicas
de suas partículas em composição. Isso teve uma consequência imediata e ex-
plícita para a doutrina da ressurreição, a saber, que os corpos ressuscitados não
precisavam mais ser compostos exatamente da mesma matéria que os corpos
terrestres correspondentes. A continuidade material perdeu sua importância
como elemento constitutivo da identidade pessoal; e isso, como o filósofo John
Locke (2012) logo deixaria claro, aplicava-se não apenas às pessoas ressuscita-
das, mas também à pessoalidade em geral.
47
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
de nosso corpo precisamos para ser nós mesmos? E a resposta foi que, para ser
uma pessoa, tudo que um indivíduo precisa é de seu próprio cérebro – aquele
que envolve sua memória e consciência. O resto do corpo é descartável e, quan-
do presente, não precisa mais ser o da pessoa.
48
TÓPICO 2 — O CÉREBRO, O SELF E AS NEUROCIÊNCIAS
DICAS
49
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
50
TÓPICO 2 — O CÉREBRO, O SELF E AS NEUROCIÊNCIAS
atitude em relação ao corpo que o faz ser algo que possuímos, não aquilo que
somos (FEATHERSTONE, 2000).
Outra abordagem foi a de Paul Ricoeur (1991). Para ele, as ficções cerebrais
neutralizam o corpo e o restringem ao cérebro às custas do self (eu) como carne
(soi comme chair – eu como carne). O cérebro, ele observa, é diferente do resto
do corpo, pois não possui "status fenomenológico". De fato, embora tenhamos
uma "relação vivida" com outros órgãos do corpo, sejam eles relacionados ao
movimento (a mão), a percepção (o olho), a emoção (o coração) ou a expressão (a
voz), nenhuma experiência do mesmo tipo se aplica ao cérebro (RICOEUR, 1991).
51
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
52
TÓPICO 2 — O CÉREBRO, O SELF E AS NEUROCIÊNCIAS
o meu cérebro". Antes, mostra que, de fato, o cérebro está no centro da obra de
arte – mas também que a pessoa que criou a obra não é redutível ao cérebro dela.
53
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
54
muito parecida, com base nas teorias fisiológicas derivadas de Galeno.
• O cérebro emergiu como o limite somático do self, de tal maneira que deixo
de ser (eu mesmo) se meu cérebro é amputado.
55
AUTOATIVIDADE
56
UNIDADE 1 TÓPICO 3 —
CONSTRUINDO PONTES:
NEUROPSICOPEDAGOGIA E
NEUROEDUCAÇÃO
1 INTRODUÇÃO
As iniciativas da neuropsicopedagogia e da neuroeducação de questões
sobre a mente, o cérebro e a educação devem construir pontes entre educadores
e cientistas comportamentais, cognitivos e neurobiológicos. Contudo, algumas
pontes são robustas e outras são problemáticas.
57
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
NOTA
58
TÓPICO 3 — CONSTRUINDO PONTES: NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
59
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
60
TÓPICO 3 — CONSTRUINDO PONTES: NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
NOTA
61
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
não mais do que três vezes. Especialistas haviam visto o filme quatro ou mais
vezes. Os indivíduos variaram de 7 anos a 19 anos em diante. Assim, os sujeitos
deste estudo incluíram indivíduos dentro e fora da suposta janela biológica de
aprendizagem, dada a história neurobiológica entre 11 e 12 anos de idade.
62
TÓPICO 3 — CONSTRUINDO PONTES: NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
63
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
DICAS
Dois livros que são excelentes para uma compreensão mais profundas dos
modelos cognitivos e educação, ensino e aprendizagem são: Desenvolvimento cognitivo
e educação: os inícios do conhecimento – Volume 1 – e “Desenvolvimento cognitivo e
educação: processos do conhecimento e conteúdos específicos – Volume 2 – de José
Castorina e Mario Carretero (2013).
64
TÓPICO 3 — CONSTRUINDO PONTES: NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
65
UNIDADE 1 — NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
66
TÓPICO 3 — CONSTRUINDO PONTES: NEUROPSICOPEDAGOGIA E NEUROEDUCAÇÃO
67
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• É necessária uma discussão sobre até que ponto, por exemplo, o sistema
visual fornece um modelo para aprendizagem e plasticidade neural ao longo
da vida.
CHAMADA
68
AUTOATIVIDADE
1 O que é a sinaptogênese?
69
REFERÊNCIAS
ARAGUZ, A. M. Neuroestética. Barcelona: Grupo Saned, 2010.
BLANK, R. H. Brain policy: how the new neuroscience will change our lives
and our politics. Washington: Georgetown University Press, 1999.
BRUER, J. T. Revisiting the myth of the first three years. San Luis: Centre for
Parenting Studies, 2011. Disponível em: https://bit.ly/3nfTZ1i. Acesso em: 15
mar. 2020.
70
BRUER, J. T. Avoiding the pediatrician’s error: how neuroscientists can help
educators (and themselves). Nature Neuroscience, p. 1031-1033, nov. 2002.
BRUER, J. T. Education and the brain: a bridge too far. Educational Researcher,
v. 26, p. 4-16, 1997.
CAMPBELL, D. The Mozart effect: tapping the power of music to heal the
body, strengthen the mind, and unlock the creative spirit. New York: Avon
books, 1997.
CASTORINA, J. A.; CARRETERO, M. C. Desenvolvimento cognitivo e educa-
ção: os inícios do conhecimento. Volume 1. Porto Alegre: Penso, 2014.
CATTERALL, J. S. Doing well and doing good by doing art. Los Angeles: Ima-
gination Group, 2009.
CHUDLER, E. Myths about the brain: 10% and counting. Brain Connection,17
abr. 2013. Disponível em: https://brainconnection.brainhq.com/2013/04/17/my-
ths-about-the-brain-10-percent-and-counting/. Acesso em: 19 mar. 2020.
71
CYNADER, M. Perspectives: neuroscience: strengthening visual connections.
Science, v. 287, n. 5460, p. 1943-1944, 2000.
CHIESA, B. D.; CHRISTOPH, V.; HINTON, C. How many brains does it take
to build a new light: knowledge management challenges of a transdisciplinary
project. Mind, Brain, and Education, v. 3, n. 1, p. 17-26, 2009.
DUMIT, J. A digital image of the category of the person: PET scanning and
objective self-fashioning. In: DOWNEY, G. L.; DUMIT, J. (Eds.). Cyborgs and
citadels: anthropological interventions in emerging sciences and technologies.
Santa Fé: School of American Research Press, 1997.
72
FIEZ, J. A. et al. Effects of lexicality, frequency, and spelling-to-consistency on
the functional anatomy of reading. Neuron, v. 25, p. 205-218, 1999.
FINK, A. et al. Creativity meets neuroscience: experimental tasks for the neuros-
cientific study of creative thinking. Methods, v. 42, n. 1, p. 68-76, 2007.
FISCHER, K. W. et al. Why mind, brain, and education? Why now? Mind, Brain,
and Education, v. 1, p. 1-2, 2007.
GALENO, C. L’âme et ses passions: Les passions et les erreurs de l'âme. Les
âmes suivent les tempéraments du corps. Paris: Les Belles Lettres, 1995.
VEGA, L. G. Huarte de San Juan. In: SAIZ, M.; ROCA, D. S. (Coords.). Persona-
jes para una historia de la psicología en España. Madrid: Ediciones Pirámide,
1996.
GAZZANIGA, M. Learning, arts, and the brain: the Dana Consortium Report
on Arts and Cognition. New York; Washington: Dana Press, 2008.
GIEDD, J. N. The teen brain: primed to learn, primed to take risks. In: GOR-
DON, D. (Ed.). Cerebrum. New York: Dana Press, 2010. p. 62-70.
73
GOULD, E. et al. Hippocampal neurogenesis in adult old world primates. Proce-
edings of the National Academy of Sciences, v. 96, n. 9, p. 5263-5267, 1999.
GRIFFIN, S. A.; CASE, R.; SIEGLER, R. S. Rightstart: providing the central con-
ceptual prerequisites for first formal learning of arithmetic to students at risk
for school failure. In: MCGILLY, K. (Ed.). Classroom Lessons. Cambridge: MIT
Press, 1994.
74
HUTTENLOCHER, P. R. Basic neuroscience research has important implica-
tions for child development. Nature Neuroscience, v. 6, n. 6, p. 541, 2003.
JAROFF, L. The gene hunt. Time Magazine, v. 133, n. 12, p. 62-67, 20 mar. 1989.
JENKINS, J. The Mozart effect. Journal of the Royal Society of Medicine, v. 94,
n. 4, p. 170-172, 2001.
LEDOUX, J. Synaptic self: how our brains become who we are. New York:
Viking, 2002.
75
LORING, D. (Ed.). INS Dictionary of Neuropsychology and Clinical Neuros-
ciences. 2. ed. Toronto: Oxford University Press, 2015.
MARCUS, S. J. (Ed.). Neuroethics: mapping the field. New York: Dana Press,
2004.
MARTIN, R.; BARRESI, J. The rise and fall of soul and self: an intellectual his-
tory of personal identity. New York: Columbia University Press, 2006.
MEANS, M.; VOSS, J. Star Wars: a developmental study of expert and novice
knowledge structure. Journal of Memory and Language, v. 24, p. 746-757, 1985.
NEWBERG, A.; D’AQUILI, E.; RAUSE, V. Why god won’t go away: brain scien-
ce and the biology of belief. New York: Ballantine Books, 2001.
NEWTON, M. Savage girls and wild boys: a history of feral children. London:
Faber and Faber, 2002.
76
OVERMAN, W. H. et al. Cognitive gender differences in very young children
parallel biologically based cognitive differences in monkeys. Behavioral Neu-
roscience, v. 110, n. 4, p. 673-684, 1996a.
PORTER, R. History of the body. In: BURKE, P. (Ed.). New perspectives on his-
torical writing. Pensilvânia: Pennsylvania State University Press, 1991.
RATEY, J. J. Spark: the revolutionary new science of exercise and the brain. New
York: Little, Brown and Co., 2008.
RAUSCHER, F. H.; SHAW, G. L.; KY, K. N. Music and spatial task performance.
Nature, v. 365, n. 6447, p. 611, 1993.
77
ROBERTSON, P. The critical age hypothesis: a critique of research methodolo-
gy. Asian EFL Journal. v. 4, n. 1, 2002.
SOUSA, D. A. How the brain learns. 5. ed. Thousand Oaks: Corwin, 2017.
TAYLOR, C. Sources of the self: the making of the modern identity. Cambridge:
Harvard University Press, 1989.
TAYLOR, J. B. A cientista que curou seu próprio cérebro. Rio de Janeiro: Ediou-
ro, 2008.
78
TOKUHAMA-ESPINOSA, T. The new science of teaching and learning: using
the best of mind, brain, and education science in the classroom. New York: Co-
lumbia University Teachers College Press, 2010.
VIDAL, F. Brains, bodies, selves, and science: anthropologies of identity and the
resurrection of the body. Critical Inquiry, v. 28, n. 4, p. 930–974, 2002.
WHITAKER, H.; SMITH, C. U. M.; FINGER, S. (Eds.). Brain, mind and medici-
ne: essays in Eighteenth-Century neuroscience. New York: Springer, 2007.
ZIMMER, C. A distant mirror for the brain. Science, v. 303, n. 5654, p. 43-44,
2004. Disponível em: https://bit.ly/3llVOcd. Acesso em: 3 jan. 2020.
79
80
UNIDADE 2 —
DESENVOLVIMENTO CEREBRAL,
COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
81
82
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
APRENDIZAGEM E PEDAGOGIA:
ENTENDIMENTOS SOCIOCULTURAIS E
NEUROCIENTÍFICOS
1 INTRODUÇÃO
Neste tópico, vamos explorar as conexões entre a teoria sociocultural
e a neurociência. Nosso objetivo aqui é que você possa reconhecer que os
entendimentos socioculturais e neurocientíficos compartilham algumas
características ou talvez, mais especificamente, conectam-se, em termos de
certos conceitos-chave, em ambas as disciplinas. Tal conexão possibilita uma
compreensão mais apurada do campo teórico e prático da neuropsicopedagogia
e seu olhar peculiar à aprendizagem.
83
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
Pouco mais de cem anos depois, embora ainda seja um campo importante
e respeitado, a ciência da psicologia foi impactada pelo tempo e não mantém
mais o fascínio que já teve como “a grande novidade”. Movendo-se com o tempo,
nossa sociedade, mais sofisticada, encontra novas respostas para perguntas
antigas em definições neurocientíficas, colocando o cérebro como uma espécie de
"deus", ignorando o papel definidor que a cultura, a sociedade e a interação social
tiveram na construção dessa nova “verdade”. O problema inerente a esse processo
é que nós, professores, formuladores de políticas e teóricos da educação, ainda
estamos empregando modelos antigos de aprendizagem para desenvolver nossos
84
TÓPICO 1 — APRENDIZAGEM E PEDAGOGIA: ENTENDIMENTOS SOCIOCULTURAIS E NEUROCIENTÍFICOS
85
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
(quando o cérebro imaturo se organiza), quando ocorre lesão cerebral (seja para
compensar as funções perdidas ou maximizar as funções restantes), e ao longo
da vida adulta (quando algo novo for aprendido). A plasticidade cerebral é um
processo físico, à medida que a substância cinzenta muda de forma e as conexões
neurais são feitas e desfeitas. Gopnik, Meltzoff e Kuhl (1999) conceberam esse
processo de desenvolvimento de vias neurais como semelhantes aos crescentes
fios telefônicos que se comunicam entre si.
DICAS
86
TÓPICO 1 — APRENDIZAGEM E PEDAGOGIA: ENTENDIMENTOS SOCIOCULTURAIS E NEUROCIENTÍFICOS
87
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
Por fim, Lave (2008) usa o conceito de mundo para significar que quando
agimos, agimos como um indivíduo historicamente localizado, criando e sendo
criado por histórias pessoais e compartilhadas de participação e reificação. Dessa
forma, nossa cultura e nosso mundo, com o agente e a atividade, são todos recursos
para o desenvolvimento da identidade e à aprendizagem.
DICAS
Uma excelente obra de Jean Lave que foi traduzida para o espanhol é La
Cognición em la Práctica, de 2013. A autora faz análise de uma modalidade específica de
atividade cognitiva (a resolução de problemas aritméticos) fora do laboratório, para a es-
fera da vida cotidiana. Dessa maneira, demonstra como a matemática é, como qualquer
forma de pensamento, moldada pela interação dinâmica entre a mente, culturalmente
baseada e seu contexto total.
88
TÓPICO 1 — APRENDIZAGEM E PEDAGOGIA: ENTENDIMENTOS SOCIOCULTURAIS E NEUROCIENTÍFICOS
89
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
90
TÓPICO 1 — APRENDIZAGEM E PEDAGOGIA: ENTENDIMENTOS SOCIOCULTURAIS E NEUROCIENTÍFICOS
interação social na competência linguística é quase seis vezes maior para crianças
do que apenas ouvir adultos conversando. Esses estudos neurocientíficos
evidenciam ainda que há mais para a aprendizagem do que apenas o trabalho
arbitrário de um cérebro computacional.
91
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
3 POTENCIAIS DESCONEXÕES
As pesquisas neurocientíficas e socioculturais, destacadas nesse tópico,
falam muito bem entre si, mas apenas de uma maneira muito específica.
A neurociência fornece nesses estudos uma janela para a experiência que a
teoria sociocultural não consegue – ela nos mostra o que acontece no cérebro
quando aprendemos. Dizer, no entanto, que isso explica a aprendizagem é um
erro muito sério. Dado um artefato ou objeto de estudo, a teoria sociocultural
se torna uma ferramenta analítica através da qual podemos conhecer nossas
próprias experiências. Tendo explorado algumas conexões entre a neurociência
e a teoria sociocultural, gostaríamos agora de concluir este tópico examinando
uma desconexão, em reconhecimento à complexa relação entre os dois discursos
concorrentes.
93
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
94
TÓPICO 1 — APRENDIZAGEM E PEDAGOGIA: ENTENDIMENTOS SOCIOCULTURAIS E NEUROCIENTÍFICOS
Descobertas Implicações
Há momentos em nossas vidas em que
a questão da aprendizagem se torna
problemática e requer muita atenção,
A aprendizagem é uma atividade por exemplo, na escola ou na faculda-
central à vida cotidiana e não separa- de; mas também há momentos em que
da ou independente da mesma. a aprendizagem funciona, por exemplo,
quando um bebê pronuncia sua primei-
ra palavra. Podemos aprender com es-
sas experiências.
95
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
96
TÓPICO 1 — APRENDIZAGEM E PEDAGOGIA: ENTENDIMENTOS SOCIOCULTURAIS E NEUROCIENTÍFICOS
97
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
98
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
99
AUTOATIVIDADE
100
I- Uma compreensão sociocultural do significado da cultura na aprendizagem
é apoiada pela pesquisa neurocientífica.
PORQUE
101
102
UNIDADE 2 TÓPICO 2 —
PLASTICIDADE CEREBRAL E
CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO
DE APRENDIZAGEM
1 INTRODUÇÃO
Alguns resultados robustos em neurobiologia podem explicar
características da representação neuronal do conhecimento em humanos. A
arquitetura funcional do cérebro depende não apenas dos genes, mas também
dos mecanismos epigenéticos (processos de desenvolvimento) baseados na
estabilização das conexões entre os neurônios para tarefas específicas. “Neurônios
que disparam juntos” é a regra básica, não apenas no período embrionário, mas
também após o nascimento. Os bebês são dotados de uma incrível riqueza de
informações já acessíveis em seus cérebros.
103
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
105
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
106
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
dos circuitos começa logo após o nascimento e termina nos primeiros dois anos
de vida. Para áreas dedicadas ao processamento da linguagem, a janela de
desenvolvimento inicia mais tarde e fica aberta por um longo período. E ainda
mais tarde são as janelas de desenvolvimento para o amadurecimento dos centros
que servem ao gerenciamento da memória declarativa, à representação do self e
à incorporação do indivíduo nos sistemas sociais.
Deste modo, sabemos que depois que o período crítico termina, que em
gatos dura cerca de três meses e em bebês humanos cerca de um ano após o
nascimento, esses déficits na conectividade não podem mais ser restaurados.
Intervenções cirúrgicas que restauram os processos óticos danificados são em
vão porque o cérebro agora é incapaz de processar adequadamente os sinais
107
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
Embora, por razões óbvias, não haja estudos sistemáticos sobre efeitos
de privação em funções cognitivas superiores, como aquisição de linguagem
e integração social, parece legítimo supor por extrapolação que podem existir
janelas críticas para a aquisição de tais funções superiores e que os efeitos de
privação poderão ser igualmente prejudiciais. Novamente, lembrando que ainda
não há evidências que sustentem tal generalização, como vimos na Unidade
I deste livro, de todo modo, é crucial levar em conta todos os esforços das
investigações científicas em neurociência que a cada dia elucidam mais e mais
nossa compreensão destes dados.
108
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
109
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
110
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
111
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
112
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
113
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
114
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Esse padrão cultural atual está em tensão com o relógio interno do corpo
e os ritmos circadianos que são o resultado de milhões de anos de adaptação
biológica em mamíferos. As pessoas certamente não estão preparadas para
acordar quando a temperatura corporal é mínima, por exemplo. Além disso, o
padrão cíclico de dormir e acordar muda com a idade. Os adolescentes mostram
uma mudança em direção a um comportamento mais parecido com uma coruja
e sua hora ideal do dia, geralmente, é à noite (PEREIRA; GUARNDIOLA;
PORCIUNCULA, 2018). Essa é a razão pela qual eles podem ficar com sono pela
manhã e ficar mais alertas quando as aulas terminarem. Ao prestar atenção a
esses fatos da cronoeducação, as escolas podem melhorar o aprendizado dos
alunos, criando uma melhor conexão entre os ritmos diurnos e o horário escolar.
115
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
NOTA
a fazer lâmpadas (que poderiam ser usadas para estender o período diário de
iluminação ao período noturno) há cerca de 28.000 anos (RIDLEY, 2007). Nos
últimos 200 anos, os humanos desenvolveram lâmpadas cada vez mais eficientes
e fontes de energia baratas para alimentá-las. Ao mesmo tempo, cada vez mais
mudaram suas atividades do campo para a cidade e do exterior para o interior,
onde a luz natural pode não penetrar. Consequentemente, os seres humanos cada
vez mais se isolam dos ciclos naturais de luz e escuridão que moldam os ritmos
endógenos da vida neste planeta há bilhões de anos.
117
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
NOTA
Ritmos 20-40 Hz
Sono - Estágio 1
Ritmos 7-16 Hz
Sono - Estágio 4
Ritmos 0,5-4 Hz
118
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
WK
REM
51
52
53
54
WK
REM
51
52
53
54
119
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
120
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
121
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
olhos (REM) ou sono lento, eles também relatam déficits atencionais durante o
dia (HOBSON; PACE-SCHOTT, 2002).
122
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
123
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
124
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
FIGURA 4 – SONO TOTAL, SONO NÃO REM E DURAÇÃO DO SONO REM DESDE O NASCIMEN-
TO ATÉ O FINAL DA ADOLESCÊNCIA
125
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
126
TÓPICO 2 — PLASTICIDADE CEREBRAL E CRONOEDUCAÇÃO: O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
esse material crítico na hora menos preferida ou não ideal do dia, resultando em
pior desempenho escolar do que o encontrado em cursos com maior sincronia com
os ritmos de excitação circadiana (ROBERTS; ROBERTS; CHEN, 2002).
NOTA
127
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
A transição para um horário mais cedo de início das atividades escolares, com
o atraso da fase puberal do desenvolvimento, afeta significativamente a qualidade
do sono dos adolescentes, a transição do ciclo sono/vigília e o comportamento
diurno. A combinação do adiantamento de fase, atividades ou trabalhos noturnos
e demandas escolares matinais pode restringir significativamente as horas
disponíveis para dormir. Os estudos comunitários e escolares disponíveis que
examinam a prevalência de distúrbios do sono em jovens indicam que os sintomas
de insônia e hipersonia são comuns. De fato, em populações não clínicas, 20% a
30% das crianças e adolescentes apresentam queixas ou dificuldades relacionadas
ao sono que são consideradas significativas.
128
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
129
• A aprendizagem de adultos se assemelha a processos de desenvolvimento
dependentes da experiência também no que diz respeito à dependência de
mecanismos de atenção, sistemas de recompensa e sono.
• Os seres humanos cada vez mais se isolam dos ciclos naturais de luz e
escuridão que moldam os ritmos endógenos da vida neste planeta há bilhões
de anos.
• Uma dificuldade para entender o sono é que não é um estado unitário, mas
composto por dois subestados.
• Várias áreas do cérebro, como o sistema límbico, ficam mais ativas no sono
REM do que durante a vigília.
130
• Vários estudos mostraram aumento nas quantidades de sono ou na arquitetura
do sono após as tarefas de aprendizagem.
131
AUTOATIVIDADE
132
Você poderá ler sobre isso em uma pesquisa realizada por Márcia Finimundi,
Eduardo Pacheco Rico e Diogo Onofre Souza (2013), que se encontra publicada
no artigo Relação entre ritmo circadiano, turno e rendimento escolar de alunos do
Ensino Fundamental.
FONTE: <https://periodicos.unifesp.br/index.php/neurociencias/article/downlo-
ad/8179/5711>. Acesso em: 3 nov. 2020.
Baseado nesses dados, pedimos que você pense na realidade das escolas em
sua cidade. Os turnos escolares, a disposição de oferta das disciplinas escolares
nos horários nesses turnos, a variação dos cronotipos dos estudantes, como a
escola se organiza nesses quesitos após o retorno das férias escolares, entre
outros aspectos pertinentes à cronoeducação. Você poderá coletar dados e
informações sobre essa realidade escolar de sua cidade a partir de pesquisas
documentais, bibliográficas ou partindo da sua própria experiência. A proposta
é que, a partir desta reflexão, você realize a seguinte simulação: Imagine que
você é um consultor formado ou especializado em neuropsicopedagogia.
Imagine que você receba uma solicitação de uma escola da sua cidade para
oferecer um parecer do que poderia ser feito para melhorar o desempenho
escolar dos alunos. Focando apenas no aspecto da cronoeducação, qual seria
o seu parecer? Quais medidas seriam convenientes e necessárias para a escola
solucionar seu problema? Quais medidas possibilitariam o aumento do
desempenho escolar dos alunos?
133
134
UNIDADE 2 TÓPICO 3 —
CÍCLOS DINÂMICOS DO
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO,
CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
1 INTRODUÇÃO
Desde o trabalho seminal de Jean Piaget (1976, 1977) sobre a relação entre
o conhecimento e a biologia geral, os pesquisadores começaram a entender os pro-
cessos neurocognitivos básicos no desdobramento do desenvolvimento humano.
Em particular, os recentes modelos dinâmicos de crescimento elucidam as mudan-
ças complexas e inter-relacionadas que ocorrem durante o crescimento cerebral, o
desenvolvimento cognitivo e a aprendizagem.
135
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
emoções das crianças se desenvolvem. Todas essas várias mudanças são global-
mente correlacionadas, mas as correlações não são muito informativas porque tudo
está mudando em paralelo. Os cientistas que buscam entender as relações cérebro-
-comportamento e os educadores que desejam usar a neurociência cognitiva para
melhorar a educação precisam de maneiras de encontrar e analisar conexões signi-
ficativas entre mudanças no cérebro e no comportamento, indo além da descoberta
de que as características geralmente aumentam (algumas geralmente diminuem)
com idade. Apesar dessas limitações do conhecimento científico, as expectativas do
público sobre relacionar a ciência do cérebro à prática educacional estão muito à
frente das realidades do conhecimento científico (FISCHER, IMMORDINO-YANG;
WABER, 2007).
2CICLOSDECRESCIMENTOEMARCAÇÕESPARACÉREBRO
E COMPORTAMENTO
Nos organismos vivos, o crescimento geralmente ocorre através de ciclos.
Um excelente exemplo é o crescimento do córtex, que cresce seis camadas em um
processo cíclico de geração e migração de neurônios, conforme descrito por Rakic
(1971, 1988). Assim, um único processo de crescimento produz seis camadas dis-
tintas, nas quais as células de diferentes camadas acabam com funções muito
diferentes, mesmo que todas sejam criadas pelo mesmo processo. O processo co-
meça quando a camada germinativa na zona ventricular do embrião cresce novas
células em grandes números, e cada célula migra ao longo de uma escada criada
por uma célula glial para seu destino.
136
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
137
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
Esse surto que ocorre cerca dos 24 meses de idade compreende uma
passagem pelo ciclo de crescimento para o desenvolvimento cognitivo, que
se move através de uma série de surtos de desempenho, começando no início
da infância e continuando até os 20 anos de idade (FISCHER; BIDELL, 2006),
como mostraremos na linha superior na Figura 6. Bebês, crianças, adolescentes
e jovens adultos passam por períodos em que suas habilidades estão avançando
em ritmo acelerado, especialmente em condições que apoiam o desempenho
ideal (linha superior). Em desempenho mais comum, em que eles não estão
forçando os limites de sua capacidade, geralmente mostram crescimento linear
ou mudança não sistemática (linha inferior). O gráfico apresenta um retrato
resumido dos padrões de crescimento para as habilidades abstratas avançadas
que se desenvolvem durante a adolescência e o início da idade adulta (FISCHER;
YAN; STEWART, 2003).
139
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
140
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
141
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
142
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
surgimento do próximo nível, que neste caso são sistemas abstratos. Quando um
novo nível surge, o desempenho salta acima de zero, mas normalmente salta para
bem menos do que o desempenho ideal. Por exemplo, com o julgamento reflexivo
(explicando as bases do conhecimento em dilemas complexos), o desempenho dos
alunos saltou para apenas cerca de 50% de acerto com a primeira emergência de
um nível (KITCHENER et al., 1993). Apenas cinco anos depois, com o surgimento
do próximo nível, o desempenho se aproximou de 100% de acerto.
143
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
pessoa relaciona pelo menos duas dessas unidades para formar um mapeamento
de ações, representações ou abstrações. Em seguida, a pessoa coordena pelo menos
dois mapeamentos para formar um sistema. Finalmente, com o quarto nível de
uma camada, a pessoa integra pelo menos dois sistemas para formar um sistema
de sistemas, o que gera um novo tipo de unidade. Os sistemas de ação geram
representações únicas. Os sistemas representacionais geram abstrações únicas.
Os sistemas abstratos geram princípios únicos. Não há evidências até o momento
de surgimento de novos níveis além dos princípios únicos. A Figura 9 ilustra esse
ciclo para as camadas representacionais e abstratas com a metáfora dos blocos de
construção, nos quais os blocos simples para representações acabam criando um
tipo de blocos de construção mais complexos para iniciar a capacidade de pensar
abstratamente. Podemos sugerir que ciclos de crescimento desse tipo encontram-
se difundidos no desenvolvimento cognitivo e cerebral, e a partir disso, podemos
propor vários ciclos para o desenvolvimento cerebral que, por hipótese, estão
relacionados a esses ciclos de desenvolvimento cognitivo.
144
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
145
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
146
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
147
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
Começa: conexões da
frente para trás em
ambos hemisférios
148
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
149
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
FIGURA 13 – CICLO DE ENERGIA DE PICO PARA A CAMADA, COM CICLOS DE REDE ANINHADOS
Início da Camada
Nível 1/4
Nível 3
F prefrontal
C central
T temporal
P parietal
Nível 2 O pccipital
5 CICLOS DE APRENDIZAGEM
A escala de habilidades e os padrões dinâmicos de crescimento que a acom-
panham criam vários caminhos para pesquisas sobre mente, cérebro e educação.
Não apenas possibilitam pesquisas relacionadas à mudança cognitiva com o de-
senvolvimento do cérebro, mas também fornecem uma escala para medir o apren-
dizado, o ensino, o currículo e outros desempenhos e produtos cognitivos – uma
escala que tem amplo uso na avaliação e prática educacional (SCHWARTZ; FIS-
CHER, 2005). Para ilustrar essa variedade de usos, vou me concentrar na análise da
aprendizagem em sala de aula como microdesenvolvimento – crescimento de ha-
bilidades em períodos relacionados à escola, como minutos, horas, dias e semanas
durante os quais os alunos devem aprender.
151
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
Iniciante:
Caótico
Desenvolvimento
Nível de Habilidade
Intermediário:
Ondas
Expert:
Estável
Alterações
152
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
153
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
154
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
LEITURA COMPLEMENTAR
Vitor da Fonseca
155
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
156
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
157
UNIDADE 2 — DESENVOLVIMENTO CEREBRAL, COGNIÇÃO E EDUCAÇÃO
158
TÓPICO 3 — CÍCLOS DINÂMICOS DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO, CEREBRAL E DA APRENDIZAGEM
FONTE: Adaptado de FONSECA, Vitor da. Papel das funções cognitivas, conativas e executivas na
aprendizagem: uma abordagem neuropsicopedagógica. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 31, n.
96, p. 236-253, 2014 . Disponível em <https://bit.ly/3ktLNJ6>. Acesso em: 9 nov. 2020.
159
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
160
• O cérebro e suas partes geralmente crescem em surtos, assim como outros
sistemas do corpo.
CHAMADA
161
AUTOATIVIDADE
BELL, M. A. The ontogeny of the EEG during infancy and childhood: implica-
tions for cognitive development. In: GARREAU, B. (Ed.) Neuroimaging in child
psychiatric disorders. Berlin: Springer-Verlag, 1998. p. 97-111.
BELL, M. A.; FOX, N. A. Brain development over the first year of life: relations
between electroencephalographic frequency and coherence and cognitive and
affective behaviors. In:
163
CACIOPPO, J. T.; VISSER, P. S.; PICKETT, C. L. (Orgs.). Social neuroscience:
people thinking about thinking people. Cambridge: MIT Press, 2006.
CARDINALI, D. P. The human body circadian: how the biologic clock influen-
ces sleep and emotion. Ciencia e Cultura, v. 50, p. 172-177, 1998.
CHABRIS, C. The invisible gorilla: how our intuitions deceive us. New York:
Three Rivers Press, 2011.
COOLEY, C. H. Human nature and the social order. New York: Scribner, 1902.
Disponível em: https://archive.org/details/humannaturesocia00cooluoft. Acesso
em: 17 fev. 2020.
164
DEXTER, D. et al. Sleep, sleepiness and school start times: a preliminary study.
WMJ, v. 102, p. 44-46, 2003.
DOIDGE, N. The brain that changes itself: stories of personal triumph from the
frontiers of brain science. New York: Penguin Books, 2007.
DRAKE, C. et al. The pediatric daytime sleepiness scale (PDSS): sleep habits and
school outcomes in middle-school children. Sleep, v. 26, p. 455-458, 2003.
DUNBAR, R. I. M. Human evolution: our brains and behavior. New York: Ox-
ford University Press, 2016.
165
FISCHER, K. W.; IMMORDINO-YANG, M. H.; WABER, D. P. Toward a groun-
ded synthesis of mind, brain, and education for reading disorders: an introduc-
tion to the field and this book. In: FISCHER, K. W.; BERNSTEIN, J. H.; IMMOR-
DINO-YANG, M. H. (Eds.). Mind, brain, and education in reading disorders.
Cambridge: Cambridge University Press, 2007, p. 3-15.
FISCHER, K. W.; KENNY, S. L.; PIPP, S. L. How cognitive processes and envi-
ronmental conditions organize discontinuities in the development of abstrac-
tions. In: ALEXANDER, C. N.; LANGER, E. J. (Eds.). Higher stages of human
development: perspectives on adult growth. New York: Oxford University
Press, 1990, p. 162-187.
FUSTER, J. M. Cortex and mind: unifying cognition. New York: Oxford Univer-
sity Press, 2003.
GAIS, S. et al. Early sleep triggers memory for early visual discrimination skills.
Nat. Neurosci., v. 3, p. 1335-1339, 2000.
GOPNIK, A.; MELTZOFF, A. N.; KUHL, P. K. The scientist in the crib: minds,
brains, and how children learn. New York: Morrow, 1999.
166
HASTINGS, M.; REDDY, A. B.; MAYWOOD, E. S. A clockwork web: circadian
timing in brain and periphery, in health and disease. Nat Rev Neurosci, v. 4, p.
649-661, 2003.
HALL, K.; MURPHY, P.; SOLER, J. (Eds.). Pedagogy and practice: culture and
identities. London: Sage Publications Ltd, 2008.
167
KUHL, P. K.; TSAO, F. M.; LIU, H. M. Foreign-language experience in infan-
cy: effects of short-term exposure and social interaction on phonetic learning.
PNAS, v. 100, n. 15, p. 9096-9101, 2003.
LAVE, J. Everyday life and learning. In: MURPHY, P.; MCCORMICK, R. (Eds.).
Knowledge and practice: representations and identities. London: Sage, 2008.
MAGUIRE, E. A.; WOOLLETT, K.; SPIERS, H. J. London taxi drivers and bus
drivers: a structural MRI and neuropsychological analysis. Hippocampus, v. 16,
p. 1091-1101, 2006.
MAZZONI, G. et al. Word recall correlates with sleep cycles in elderly subjects.
J. Sleep Res., v. 8, p. 185-188, 1999.
METZINGER, T. The ego tunnel: the science of the mind and the myth of the
self. New York: Basic Books, 2010.
168
MIOCHE, L.; SINGER, W. Chronic recordings from single sites of kitten striate
cortex during experience-dependent modifications of receptive field-properties.
J. Neurophysiol., v. 62, n. 1, p. 185-197, 1989.
169
ROGOFF, B. Observing sociocultural activity on three planes. In: WERTSCH, J.
V.; DEL RIO, P.; ALVAREZ, A. (Eds.). Sociocultural studies of mind. New York:
Cambridge University Press, 1995.
RUHLAND, R.; GEERT, P. VAN. Jumping into syntax: transitions in the develo-
pment of closed class words. British Journal of Developmental Psychology, v.
16, p. 65-95, 1998.
SOUSA, D. A. How the brain learns. 5. ed. Thousand Oaks: Corwin, 2017.
170
VALLE, L. E. L. R. do. Distúrbios e tratamentos das alterações do sono: interfe-
rências na aprendizagem. In: METRING, R.; SAMPAIO, S. (Orgs.). Neuropsico-
pedagogia e aprendizagem. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2019.
171
172
UNIDADE 3 —
NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO
E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO
SÉCULO XXI
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo
apresentado.
CHAMADA
173
174
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
1 INTRODUÇÃO
175
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
DICAS
DICAS
176
TÓPICO 1 — ESTABELECENDO O CLIMA EMOCIONAL PARA A APRENDIZAGEM
DICAS
Sugerimos a leitura do livro Por que as zebras não têm úlceras? do biólogo
e neurologista Robert M. Sapolsky (2008). Ele apresenta cientificamente uma das mais
consistentes teorias para lidar com o estresse. Os seres humanos são programados
para se preocupar com os problemas antes que eles aconteçam, e continuam a sofrer
seus efeitos mesmo depois de terem acabado. Todo esse estresse gera úlceras, insônia,
depressão, diminuição da libido e inúmeros outros problemas. Este livro constitui um
estudo científicos sobre a qualidade de vida do ser humano.
178
TÓPICO 1 — ESTABELECENDO O CLIMA EMOCIONAL PARA A APRENDIZAGEM
escolar estão começando a lançar luz sobre o mundo emocional dos alunos na
escola. Pekrun et al. (2002), por exemplo, conduziram uma série de estudos para
determinar as emoções que os alunos dizem experimentar durante o dia escolar.
Embora tenha sido citada uma ampla gama de emoções, incluindo emoções
positivas associadas ao aprendizado, a emoção mais frequente identificada
foi a ansiedade, responsável por até 25% de todas as emoções relatadas. Além
disso, os pesquisadores testaram a reação fisiológica a episódios relacionados
ao estresse, testando os níveis de cortisol, um hormônio associado ao estresse.
Não surpreendentemente, eles descobriram que estudantes com alta ansiedade
tinham altos níveis de cortisol. Por outro lado, os estudantes que foram capazes de
empregar estratégias de enfrentamento para reduzir o estresse não produziram
altos níveis de cortisol, sugerindo a importância de incluir atividades intencionais
para reduzir o estresse no ambiente de aprendizagem.
180
TÓPICO 1 — ESTABELECENDO O CLIMA EMOCIONAL PARA A APRENDIZAGEM
181
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
DICAS
3ESTABELECENDOOCLIMAEMOCIONALDEAPRENDIZAGEM
Seja trabalhando com crianças pequenas, adolescentes ou adultos jovens,
os educadores devem estar cientes de seu poderoso papel no estabelecimento e
manutenção de um ambiente positivo e produtivo na escola e na sala de aula.
Como demonstram nossos exemplos no início deste tópico, mesmo os melhores
professores podem inadvertidamente se envolver em uma prática disciplinar ou
de ensino que induz estresse e inibe a aprendizagem. Se os professores estiverem
preparados com um entendimento básico dos efeitos do estresse na aprendizagem
(conforme apresentado neste tópico), eles serão mais capazes de evitar essas
práticas de indução do estresse.
182
TÓPICO 1 — ESTABELECENDO O CLIMA EMOCIONAL PARA A APRENDIZAGEM
183
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
184
TÓPICO 1 — ESTABELECENDO O CLIMA EMOCIONAL PARA A APRENDIZAGEM
185
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
186
TÓPICO 1 — ESTABELECENDO O CLIMA EMOCIONAL PARA A APRENDIZAGEM
187
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
Os alunos podem
escolher entre uma
Atividades de avaliação
seleção de material
que exijam que os alunos
de leitura ou gê-
Dada uma estratégia de res- ultrapassem a mera aqui-
neros de literatura
posta (por exemplo, resu- sição de conhecimento e
que abordam os ob-
mo), os alunos a associam apliquem conteúdo de ma-
jetivos do currículo.
a um modo de resposta neira autêntica permitirão
Nas disciplinas em
adicional, como um projeto um pensamento mais pro-
que o conteúdo é
usando uma forma de arte fundo e fornecerão opções
flexível, os grupos
como música, artes visuais, para que os alunos identifi-
de alunos podem
dramatização, poesia etc. quem um problema, anali-
escolher um tópico,
sem estratégias e planejem
elementos de pes-
planos de ação
quisa e apresentar
os resultados para a
turma.
FONTE: O autor
189
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
DICAS
Todos nós gostamos de uma boa risada, mas o que isso tem a ver com a
aprendizagem? Aqui apresentamos a nona estratégia, o humor. Pesquisas mos-
tram que alunos obtêm pontuações significativamente maior em testes quando a
aula é apresentada com humor em comparação com quando o ensino não incluiu
comentários de humor (SCHMIDT, 1994). Além disso, Masten (1986) descobriu
que crianças que eram capazes de descrever desenhos animados humorísticos
tinham níveis mais altos de competência acadêmica e social. Strick et al. (2009)
também encontraram efeitos positivos do humor. Quando os participantes da
sua pesquisa receberam informações negativas ou neutras seguidas por material
humorístico, demonstrou-se que o humor reduziu significativamente as emoções
negativas dos participantes.
190
TÓPICO 1 — ESTABELECENDO O CLIMA EMOCIONAL PARA A APRENDIZAGEM
191
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
192
• Medir a temperatura emocional de um grupo de alunos permite que um
professor saiba quais crianças podem precisar de mais apoio de adultos na
escola e na comunidade.
193
AUTOATIVIDADE
194
UNIDADE 3 TÓPICO 2 —
1 INTRODUÇÃO
Caríssimo leitor, iniciaremos este tópico com uma breve narrativa de uma
cena. Ao ler este próximo parágrafo, tente imaginar a cena descrita.
Silvia não conseguia acreditar nos olhos quando o carro de sua mãe entrou
na zona de desembarque em frente a sua nova escola. Recentemente, transferida
de outra cidade, Silvia temeu a mudança. Ao olhar para a escola em que agora
se matricularia, sua atitude mudou rapidamente. A frente da escola estava
cheia de belos jardins, uma fantástica cerca esculpida, um playground cheio de
equipamentos convidativos e, ladeando a porta da frente, barris de flores em vasos
de cores vivas. Entrando no saguão da escola, ela viu um caleidoscópio de cores
de murais, obras de arte, esculturas e certificados de prêmios, além de pôsteres
anunciando uma peça teatral da escola e placas de boas-vindas aos visitantes. Ela
ouviu uma música suave vinda de uma sala de aula do jardim de infância e um
canto vindo do auditório. O ambiente físico da escola transmitiu uma mensagem
não dita, entretanto, muito forte para Silvia. Ela mal podia esperar que essa escola
se tornasse sua.
195
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
2 ATENÇÃO E NOVIDADE
A atenção é a seleção cognitiva de uma sensação, pensamento ou evento.
Entre uma infinidade de estímulos sensoriais, os sistemas de atenção escolhem
seletivamente quais estímulos são filtrados e que se tornam parte do sistema
de resposta consciente (POSNER; PATOINE, 2009). Posner e Rothbart (2007)
identificam três redes neurais ou sistemas de regiões cerebrais interconectadas
subjacentes a aspectos da atenção. A rede de alerta envolve as crianças na tarefa
em questão e é importante para captar sua atenção ao aprendizado; a rede de
orientação mantém a atenção sintonizada com eventos externos, e não com
pensamentos internos; e a rede de atenção executiva inibe pensamentos estranhos,
muda o sistema de atenção para se concentrar em estímulos e regula emoções.
196
TÓPICO 2 — CRIANDO O AMBIENTE FÍSICO E A EXPERIÊNCIA DA APRENDIZAGEM
197
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
As janelas na sala de aula são importantes para mais do que apenas fornecer
luz natural. Tanner (2008) argumenta que os alunos cujas salas de aula permitem
visões externas através do olhar pela janela são mais capazes de redirecionar
a atenção para tarefas acadêmicas do que se sua atenção se voltar para outras
atividades, como rabiscar em um caderno. Ele descreve o olhar pela janela como
exigindo "atenção moderada", que é “cognitivamente menos consumidora do que
outros tipos de distração que podem capturar a atenção mais focada dos alunos”
(TANNER, 2008, p. 455).
198
TÓPICO 2 — CRIANDO O AMBIENTE FÍSICO E A EXPERIÊNCIA DA APRENDIZAGEM
e passando por você dos dois lados, e seu cérebro agora está em alerta máximo,
tentando descobrir como você voltará ao rumo certo. Qual é a primeira coisa que
você faz?
A maioria dos professores concorda que eles têm maior controle do am-
biente visual na sala de aula do que do acústico. As salas de aula são frequente-
mente bombardeadas com ruídos brancos, como o zumbido de luzes e zumbidos
de sistemas de aquecimento e refrigeração, equipamentos audiovisuais e computa-
dores. O ruído também pode vir de corredores, outras salas de aula e sons externos
de tráfego, sirenes e playgrounds. Por fim, às vezes, o uso público de instituições
escolares pode ser uma distração para o aprendizado, especialmente se for usado
de forma inadequada ou com muita frequência durante o tempo de instrução. Ao
contrário do motorista na estrada que pode desligar o rádio, essas distrações não
são tão facilmente extintas.
E, na realidade, a maioria das escolas tem níveis mais altos de ruído de fun-
do do que deveriam. Isso é lamentável, pois as crianças pequenas são especialmen-
te vulneráveis a distrações criadas pelo ruído (NELSON; SOLI, 2000). Smyth (1979)
estudou os efeitos do ruído na capacidade das crianças de recuperar informações
comparando seu desempenho em salas de aula barulhentas com o desempenho
em salas de aula silenciosas. Ele descobriu que crianças em salas de aula baru-
lhentas tiveram desempenho significativamente inferior ao de crianças em salas de
aula tranquilas, com a maior disparidade ocorrendo com crianças mais novas. Da
mesma forma, Hygge (2003) constatou que os adolescentes apresentavam prejuízo
significativo nas tarefas de recuperação e reconhecimento de informações após a
exposição a níveis de ruído simulando sons ambientais típicos.
199
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
Finalmente, embora todos gostemos dos sons deliciosos que emanam das
salas de aula em que as crianças estão envolvidas em tarefas ativas de aprendiza-
gem, os professores às vezes podem querer reservar alguns momentos durante o
dia escolar para uma reflexão silenciosa. Um bom exemplo dessa prática está em
uma sala de aula Montessori. Maria Montessori (1987) promoveu a prática regu-
lar do silêncio porque acreditava que isso ajudava as crianças a regular a atenção,
desenvolver o controle inibitório e tornar-se mais sensibilizada com os sons do
ambiente.
Os sons nas salas de aula podem e devem variar muito, desde as conver-
sas intencionais que resultam da aprendizagem cooperativa, tarefas de aprendi-
zagem baseadas em projetos até o silêncio necessário, enquanto os alunos estão
envolvidos no aprendizado de uma nova habilidade que requer concentração.
Varia também desde o relaxamento de sons de fundo durante as tarefas rotineiras
a períodos de silêncio que promovem controle intencional e práticas reflexivas.
200
TÓPICO 2 — CRIANDO O AMBIENTE FÍSICO E A EXPERIÊNCIA DA APRENDIZAGEM
201
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
DICAS
202
TÓPICO 2 — CRIANDO O AMBIENTE FÍSICO E A EXPERIÊNCIA DA APRENDIZAGEM
FONTE: O Autor
203
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
204
TÓPICO 2 — CRIANDO O AMBIENTE FÍSICO E A EXPERIÊNCIA DA APRENDIZAGEM
205
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
207
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
• Baixos níveis de luz nas salas de aula também podem afetar a capacidade dos
alunos de regularem os ritmos circadianos, o ciclo natural de sono e excitação
do corpo.
• Os alunos cujas salas de aula permitem visões externas através do olhar pela
janela são mais capazes de redirecionar a atenção para tarefas acadêmicas do
que se sua atenção se voltar para outras atividades.
208
• O exercício está nas raízes de nossa biologia e influencia fortemente a
cognição, produz proteínas no sangue que afetam a aprendizagem, melhora
certos processos mentais que regulam o estado de alerta, atenção e motivação.
• Alunos que têm mais conhecimento prévio sobre uma área de conteúdo são
mais capazes de relacionar e lembrar de informações.
209
AUTOATIVIDADE
211
212
UNIDADE 3
TÓPICO 3 —
1 INTRODUÇÃO
A educação formal baseia-se no pressuposto de que os alunos aprendem
conteúdos, habilidades e conceitos que os ajudarão ao longo da vida. Embora
os debates continuem na arena educacional sobre a importância de adquirir
conhecimento ou de "aprender a pensar", o um modelo de ensino-aprendizagem
baseado na neuropsicopedagogia é construído com base no pressuposto de que
o último (aprender a pensar) é, em muitos aspectos, dependente do primeiro.
Em outras palavras, para serem pensadores eficazes, as crianças devem possuir
o conhecimento necessário para serem alfabetizadas e letradas na sociedade de
hoje e realizar tarefas diárias em alto nível.
213
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
2 APRENDIZAGEM E MEMÓRIA
Como estrelas gêmeas, aprendizagem e memória estão intrinsecamente
conectadas. Aprender é a aquisição de novas informações, a memória permite
que essas informações sejam armazenadas e recuperadas conforme necessário
posteriormente. Memórias duradouras para algumas informações são criadas
após apenas uma única exposição, enquanto outras vezes, as memórias se
formam somente após várias repetições. Em 1890, o trabalho seminal de William
James (1950), Os Princípios da Psicologia, descreveu a memória como a lembrança
de "estados da mente" que ocorreram no passado. Influenciada por esse trabalho
inicial, a Teoria do Processamento da Informação surgiu em meados do século
XX como uma maneira de entender como as informações são recebidas e
processadas através dos sentidos, mantidas em sistemas de memória temporária e
potencialmente armazenadas na memória de longo prazo para serem recuperadas
posteriormente para uso no pensamento ou na ação (STERNBERG, 2010). O
modelo prototípico de processamento de informações é mostrado na Figura 2.
ESQUECIMENTO
NÃO EXPRESSADO
INCONSOLIDADO
INUTILIZADO
Armazenamento de
Informação Curto Prazo Armazenamento de
Memória Atenção Consolidado Longo Prazo
Sensorial Sensorial
Loop Esboço
Articulado Visuespacial
Executivo Recuperado
Central
MEMÓRIA DE TRABALHO
215
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
216
TÓPICO 3 — ENSINANDO A DOMINAR O CONTEÚDO, AS HABILIDADES E OS CONCEITOS
Toda a memória explícita também pode ser descrita como memória de-
clarativa. Essa forma de memória lida com o conhecimento de que estamos cons-
cientes, como eventos que ocorrem em nossas vidas ou informações que adqui-
rimos conscientemente. Quando lembramos de eventos do passado, como atuar
em uma peça de teatro ou ganhar uma partida de futebol, isso é chamado de
memória episódica. A memória episódica não funciona armazenando e recupe-
rando todas as informações associadas a um evento. Como Squire e Kandel (2003)
explicam, ao contrário de uma câmera de vídeo, não somos capazes de simples-
mente registrar mentalmente os eventos exatamente como eles ocorrem. Sem-
pre que lembramos de um evento, usamos as principais informações lembradas
para reconstruir a experiência. Isso às vezes resulta em alterações nos detalhes ou
imprecisões ou embelezamentos mais significativos. A memória episódica geral-
mente é contrastada com a memória semântica, que se refere à nossa capacida-
de de lembrar fatos ou conceitos – proposições sobre o mundo, significados de
símbolos e palavras, regras gramaticais, usos para objetos, ideias matemáticas e
assim por diante. Ambos os tipos de memória declarativa, episódica e semântica,
são críticos para permitir-nos acessar e usar nosso conhecimento para que possa-
mos conduzir nossa vida cotidiana.
217
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
há algumas coisas relativamente vagas que outras pessoas podem nos pedir para
fazer (por exemplo, "empurrar os pedais", "manobrar" etc.), mas, na maioria das
vezes, aprendemos a andar de bicicleta através da prática, tentativa e erro. À
medida que tentamos e tentamos novamente andar de bicicleta, uma grande va-
riedade de processos motores está ocorrendo, e movimentos e ações que levam ao
sucesso são armazenadas em nossos sistemas de memória sem nossa consciência.
A memória procedural é muito importante no ambiente escolar, mas nem sempre
é fácil reconhecer as maneiras pelas quais as crianças dependem dessa memória.
Por exemplo, ao aprender a ler, os alunos adquirem habilidades de decodifica-
ção por meio de exposição e prática repetidas – isto é, por meio de um processo
amplamente oculto de aprendizagem procedural implícita (GAZZANIGA; IVRY;
MANGUN, 2006).
218
TÓPICO 3 — ENSINANDO A DOMINAR O CONTEÚDO, AS HABILIDADES E OS CONCEITOS
ser reconstruído com base no que você sabe. As memórias da reunião em si que
provavelmente permaneceriam na memória de longo prazo seriam aquelas rela-
cionadas aos computadores que você agora vê seus alunos usando diariamente
na sala de aula.
219
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
220
TÓPICO 3 — ENSINANDO A DOMINAR O CONTEÚDO, AS HABILIDADES E OS CONCEITOS
Então, como as artes podem levar a uma memória melhor? A seguir, uma
variedade de efeitos de memória que foram objeto de estudo considerável nos
últimos 30 anos. Embora a instrução convencional também possa ser adaptada
para tirar proveito desses efeitos, defendemos que a instrução integrada às artes
faz o trabalho naturalmente, orientando o planejamento e a implementação
da instrução pelos professores com base em rigorosa pesquisa científica. Os
professores que sentem que não são "artísticos" ou não são altamente treinados
em várias formas de arte não precisam se preocupar; o processo de usar as
artes na instrução não exige que alguém seja um artista habilidoso. Em vez
disso, a integração artística é aumentar o aprendizado através da promoção do
pensamento artístico e dos hábitos de trabalho.
221
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
4.3 GERAÇÃO
Com frequência, nos programas instrucionais tradicionais, os alunos são
receptores passivos de informações e ideias – ouvem palestras, leem textos e
reproduzem as informações que já receberam, preenchendo planilhas, redigindo
respostas curtas ou escolhendo respostas de perguntas de múltipla escolha.
Existem fortes evidências, no entanto, de que quando as pessoas não apenas
fornecem informações por escrito ou por forma oral, mas geram essas informações
em resposta, sua lembrança dessas informações é significativamente melhorada
(SLAMECKA; GRAF, 1978).
222
TÓPICO 3 — ENSINANDO A DOMINAR O CONTEÚDO, AS HABILIDADES E OS CONCEITOS
4.4 ENAÇÃO
A enação envolve representar fisicamente informações ou ideias e é
naturalmente parte de atividades como encenação ou improvisação teatral.
Estudos demonstraram que a retenção de informações é aprimorada quando os
participantes executam ativamente uma frase de ação em vez de simplesmente ler
a mesma informação (MOHR; ENGELKAMP; ZIMMER, 1989). Atuar geralmente
envolve algum tipo de atividade motora, e Mohr, Engelkamp e Zimmer (1989)
argumentam que isso ajuda na memória. No entanto, também é possível que por
serem “incomuns” as informações em enação – como as informações geradas –
seja o que faz com que fiquem retidas na memória (MCDANIEL; BUGG, 2008).
Além de melhorar a memória para obter informações, a enação também tem o
benefício, como a geração, de envolver os alunos em pensamentos divergentes.
223
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
NOTA
4.5 PRODUÇÃO
O efeito de produção descreve melhorias na memória que surgem quando
as palavras são produzidas em voz alta e não em silêncio (MACLEOD et al., 2010).
Em um contexto em que o material circundante é lido, a produção oral de palavras-
chave ou frases os torna distintos, Ozbuko e MacLeod (2010) argumentam que é
isso que faz com que sejam mais bem retidos.
224
TÓPICO 3 — ENSINANDO A DOMINAR O CONTEÚDO, AS HABILIDADES E OS CONCEITOS
225
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
NOTA
Mnmônica são sistemas que nos permitem lembrar coisas com mais facilidade.
Às vezes, o termo é usado para descrever qualquer coisa que melhore a memória, inclusive
auxílios externos de memória, porém, o termo mnemônica se refere com mais frequência
a estratégias internas conscientemente aprendidas e que requerem esforço considerável
para colocá-las em prática (WILSON, 2011, p. 94).
228
TÓPICO 3 — ENSINANDO A DOMINAR O CONTEÚDO, AS HABILIDADES E OS CONCEITOS
diferença não for perceptível para os alunos, pode potencialmente levar a ganhos
de aprendizagem. Muitas vezes, a incorporação de informações nas artes pode
fazer exatamente isso.
229
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
Embora possa ser simples e fácil apenas cobrir uma seção do livro todos
os dias, há evidências claras de que essa não é a melhor maneira de fornecer
instruções. Em vez disso, é melhor intercalar diferentes formas de material e
prática em cada aula. Aqui também, a integração das artes pode ser um trunfo.
Os alunos podem ser solicitados a criar produtos artísticos incorporando uma
variedade de ideias que foram consideradas em conjunto com um determinado
tópico. A natureza aberta e generativa da atividade artística permite tantas
combinações de conteúdo novas e criativas quanto os alunos possam imaginar.
Assim, as artes visuais e performáticas oferecem uma ampla oportunidade para
os alunos revisitarem e pensarem sobre o material de uma maneira intercalada.
230
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
• A integração das artes, o uso das artes como método pedagógico para aprimorar
e reforçar os objetivos de aprendizagem, representa uma estratégia poderosa
para ajudar a garantir que as informações permaneçam nas memórias das
crianças.
231
• Quando as pessoas não apenas fornecem informações por escrito ou por
forma oral, mas geram essas informações em resposta, sua lembrança dessas
informações é significativamente melhorada.
232
AUTOATIVIDADE
233
I- A memória explícita refere-se a experiências que lembramos sem consciência
de que a aprendizagem está ocorrendo.
II- A memória semântica se refere à nossa capacidade de lembrar fatos ou
conceitos.
III- A memória procedural explica por que podemos aprender a executar
determinadas tarefas sem poder dizer com precisão como as estamos
realizando.
IV- A memória implícita lida com o conhecimento de que estamos conscientes,
como eventos que ocorrem em nossas vidas ou informações que adquirimos
conscientemente.
234
UNIDADE 3 TÓPICO 4 —
CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E
A AVALIAÇÃO NO ENSINO-
APRENDIZAGEM
1 INTRODUÇÃO
Começamos nosso último tópico desta unidade com as palavras de
Cláudio, um aluno do oitavo ano escolar de uma escola pública do estado de
Santa Catarina. Ele afirma: A escola é chata para mim e eu, principalmente, acho
que é uma perda de tempo. Geralmente, é a mesma coisa o dia inteiro, como professores
conversando conosco e nos dando muitas coisas para ler em nossos livros e apostilas, e
depois encontrando respostas para perguntas e escrevendo-as em folhas de caderno. A
única vez que acho que realmente aprendo é quando faço algo real. Como na semana
passada, fizemos algo muito legal. Fizemos uma pesquisa para descobrir como as pessoas
do bairro se sentiam sobre segurança e serviços comunitários. Em seguida, entrevistamos
vizinhos em lojas e pontos de ônibus. Pegamos todas as respostas e criamos tabelas e
gráficos. Em seguida, escrevemos cartas para as autoridades da cidade para explicar
melhorias que poderiam melhorar o bairro. Eu aprendi muito e gostaria que a escola fosse
sempre muito divertida.
235
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
236
TÓPICO 4 — CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NO ENSINO-APRENDIZAGEM
DICAS
237
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
239
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
240
TÓPICO 4 — CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NO ENSINO-APRENDIZAGEM
241
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
DICAS
243
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
244
TÓPICO 4 — CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NO ENSINO-APRENDIZAGEM
Se você se pergunta, “Ok, mas como poderia fazer isso efetivamente como
professor?”. A seguir, alguns exemplos dos tipos de atividades associadas ao que
estamos explanando neste tópico:
245
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
5 AVALIANDO A APRENDIZAGEM
Nos últimos anos, um corpo relativamente grande de pesquisas em
educação, psicologia e ciências cognitivas mostrou que testes e outras avaliações
fazem muito mais do que simplesmente dizer ao professor quanto aprendizado
ocorreu. As avaliações fornecem feedback que informa e motiva os alunos
enquanto aprimora sua memória para o material de maneiras específicas.
Primeiro, as avaliações fornecem aos alunos um feedback útil que aumenta o
aprendizado (PASHLER et al. 2005). Segundo, as avaliações fazem com que os
alunos recuperem informações ativamente, o que por si só demonstrou melhorar
a retenção (KARPICKE; ROEDIGER, 2008). Terceiro, "espaçar" intencionalmente
várias avaliações do mesmo material em intervalos de tempo especificados pode
levar os alunos a se envolver em padrões de estudo e recuperação ativa que
aumentam ainda mais a retenção (KORNELL et al., 2010).
246
TÓPICO 4 — CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NO ENSINO-APRENDIZAGEM
aos alunos a resposta correta. Dessa forma, os alunos recebem feedback útil, mas
chegam eles próprios às respostas corretas. No estudo de Finn e Metcalfe (2010), o
feedback com apoio produziu melhor retenção a longo prazo do que outros tipos
de feedback (feedback corretivo tradicional, feedback mínimo).
Uma boa maneira de fazer com que os alunos atendam às respostas corretas
é fazê-los corrigir seu próprio trabalho usando uma chave de resposta (sabendo
que a pontuação será verificada pelo professor). Essa estratégia também permite
que os alunos obtenham feedback imediato logo após concluir uma avaliação,
aproveitando o vínculo entre o momento do feedback e a motivação do aluno.
Para resumir, estratégias de avaliação úteis e importantes para os professores
incluem:
247
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
tipo e na frequência dos erros. Outra estratégia simples para obter feedback dos
alunos rapidamente é a revisão por pares. Isso pode ser feito atribuindo alunos
a parceiros com os quais eles desenvolveram um relacionamento de confiança
e apoio, instituindo programas mais formais de tutoria para colegas em toda a
classe ou implementando análises de desempenho dos alunos guiadas em equipe.
248
TÓPICO 4 — CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NO ENSINO-APRENDIZAGEM
249
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
250
TÓPICO 4 — CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NO ENSINO-APRENDIZAGEM
251
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
de conteúdo integrado a artes. Para alguns alunos, uma coleção desse tipo de
trabalho pode apresentar uma imagem mais completa e precisa do progresso e
da compreensão do que os testes que se concentram quase exclusivamente em
informações memorizadas. Os portfólios são uma ferramenta poderosa para
demonstrar o progresso na consecução dos objetivos de aprendizagem, e esse
progresso visível pode ser um forte motivador para alunos e professores.
252
TÓPICO 4 — CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NO ENSINO-APRENDIZAGEM
NOTA
253
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
FONTE: O autor
254
TÓPICO 4 — CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NO ENSINO-APRENDIZAGEM
Como analisamos neste tópico, ensino eficaz e avaliação eficaz são dois
lados da mesma moeda. A avaliação da aprendizagem é um processo contínuo
que começa assim que alguém começa a ensinar e continua indefinidamente
para sustentar o que foi aprendido. A avaliação e o feedback são essenciais para
tornar a aprendizagem eficiente, e as avaliações – na medida em que estimulam
os alunos a testar seus conhecimentos – podem ser um poderoso catalisador para
a retenção ao longo da vida.
255
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
LEITURA COMPLEMENTAR
David A. Sousa
Quantas vezes um aluno nos perguntou: "Por que temos que aprender
isso?". O aluno em questão, geralmente, não está sendo ousado nem deve ser puni-
do. Se o propósito do cérebro é saber como sobreviver no mundo, quando o aluno
não vê qual é a conexão entre a lição que está sendo dada e sua vida, surge a per-
gunta. A resposta é simples. Mostre a ele a conexão entre o que você está ensinan-
do e o mundo dele. Por exemplo, se estivéssemos ensinando a alunos do ensino
fundamental o conceito de ideia principal e ideias secundárias, poderíamos usar o
símile da mesa e as pernas da mesa. A aula pode começar com o seguinte "gancho":
Meninos e meninas, deem uma olhada em suas mesas. As mesas são apoia-
das em quatro pernas. A ideia principal de uma história também deve ser apoia-
da, ou sustentada, pelas ideias secundárias da história. Vamos desenhar uma mesa
com quatro pernas. Quando descobrirmos a ideia principal, vamos escrevê-la na
mesa que desenhamos. Então, quando encontrarmos quatro ideias secundárias que
apoiem aquela ideia principal, iremos escrever cada uma delas em cada uma das
pernas de nossa mesa.
Tate (2003) expõe várias estratégias que funcionam com o cérebro porque
representam as próprias formas do ser humano de adquirir e reter informações.
256
TÓPICO 4 — CRIATIVIDADE, INOVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NO ENSINO-APRENDIZAGEM
257
UNIDADE 3 — NEUROPSICOPEDAGOGIA, ENSINO E APRENDIZAGEM NAS ESCOLAS DO SÉCULO XXI
Comece a aula discutindo com os alunos o que vai ser ensinado e por
que eles deveriam saber. Se você relacionar o conteúdo com a vida pessoal
dos alunos, eles terão um motivo para prestar atenção à lição. Sempre que a
oportunidade surgir, use exemplos da vida real para ilustrar o conteúdo que você
está ensinando. Vincular o conteúdo do curso a exemplos da vida real motiva os
alunos e aumenta seu interesse.
259
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
260
• Depois de dominar um corpo de conhecimento, os indivíduos são capazes de
encontrar soluções para novos problemas, associando informações aprendidas
de diferentes maneiras.
• Os professores não apenas precisam ajustar suas práticas, mas também devem
ensinar os alunos a aprender de novas maneiras, pois acabarão enfrentando
um mundo em que existe mais de uma única solução.
• O feedback com apoio produz melhor retenção a longo prazo do que outros
tipos de feedback.
261
• Se os professores precisarem que os alunos mantenham informações por mais
tempo (por exemplo, até um ano letivo completo para exames finais ou testes
padronizados), o conteúdo deverá ser revisado somente após um mês ou
mais.
CHAMADA
262
AUTOATIVIDADE
263
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e II estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.
264
REFERÊNCIAS
ALEXANDER, C. et al. A pattern language. New York: Oxford Press, 1977.
ARIGA, A.; LLERAS, A. Brief and rare mental breaks keep you focused: deacti-
vation and reactivation of task goals preempt vigilance decrements. Cognition,
v. 118, n. 3, p. 439-443, 2011.
265
BRADLEY, R. H. et al. The home environments of children in the United States
part I: variations by age, ethnicity, and poverty status. Child Development, v.
72, n. 6, p. 1844-1867, 2001.
CATTERALL, J. S. Doing well and doing good by doing art. Los Angeles: Ima-
gination Group, 2009.
266
CHASE, W.; ERICSSON, K. Skilled memory. In: ANDERSON, J. R. (Ed.). Cogni-
tive skills and their acquisition. Hillsdale: Lawrence Erlbaum, 1981. p. 277-293.
CRONINGER, R. G.; LEE, V. E. Social capital and dropping out of high school:
benefits to at-risk students of teachers' support and guidance. Teachers College
Record, v. 103, n. 4, p. 548-581, 2001.
DEASY, R. J. Critical links: learning in the arts and student academic and social
development Washington: Arts Education Partnership, 2002.
DELPIT, L. The silenced dialog: power and pedagogy in educating other peo-
ple's children. Harvard Educational Review, v. 58, p. 280-298, 1988.
267
DENCKLA, M. B. Biological correlates of learning and attention: what is rele-
vant to learning disability and attention-deficit hyperactivity disorder? Journal
of Developmental and Behavioral Pediatrics, v. 17, n. 2, p. 114-119, 1996.
EPPLE, G.; HERZ, R. S. Ambient odors associated to failure influence cognitive per-
formance in children. Developmental Psychobiology, v. 35, n. 2, p. 103-107, 1999.
FIELD, T. et al. Massage therapy by parents improves early growth and develop-
ment. Infant Behavior and Development, v. 27, n. 4, p. 435-442, 2004.
FINK, A. et al. Creativity meets neuroscience: experimental tasks for the neuros-
cientific study of creative thinking. Methods, v. 42, n. 1, p. 68-76, 2007.
268
FINN, B.; METCALFE, J. Scaffolding feedback to maximize long-term error cor-
rection. Memory & Cognition, v. 38, n. 7, p. 951-961, 2010.
FINN, J. D.; ROCK, D. A. Academic success among students at risk for school
failure. Journal of Applied Psychology, v. 82, n. 2, p. 221-234, 1997.
GABRIEL, A. E. Brain-based learning: the scent of the trail. The Clearing House,
v. 72, n. 5, p. 288-290, 1999.
GILES, M. Music and stress reduction in school children at risk for conduct dis-
orders. Applications of Research in Music Education, v. 8, n. 2, p. 11-13, 1990.
269
HARDIMAN, M. M. The creative-artistic brain. In: SOUSA, D. (Ed.). Mind,
brain, and education: neuroscience implications for the classroom. Blooming-
ton: Solution Tree Press, 2010. p. 226-246.
HETLAND, L. et al. Studio thinking: the real benefits of arts education. New
York: Teachers College Press, 2007.
HOWARD, P. Owner's manual for the brain: everyday applications from mind-
-brain research. Atlanta: Bard Press, 2000.
270
HYGGE, S. Classroom experiments on the effects of different noise sources and
sound levels on long-term recall and recognition in children. Applied Cognitive
Psychology, v. 17, n. 8, p. 895-914, 2003.
JOËLS, M. et al. Learning under stress: How does it work? Trends in Cognitive
Sciences, v. 10, n. 4, p. 152-158, 2006.
JOËLS, M. et al. Effects of chronic stress on structure and cell function in rat
hippocampus and hypothalamus. Stress, v. 7, n. 4, p. 221-231, 2004.
KAMPYLIS, P.; BERKI, E.; SAARILUOMA, P. In-service and prospective tea-
chers’ conceptions of creativity. Thinking Skills and Creativity, v. 4, n. 1, p.
15-29, 2009.
KORNELL, N.; SON, L. Learners’ choices and beliefs about self-testing. Me-
mory, v. 17, n. 5, p. 493-501, 2009.
271
KORNELL, N. et al. Spacing as the friend of both memory and induction in you-
ng and older adults. Psychology and Aging, v. 25, n. 2, p. 498-503, 2010.
KRAFT, U. Unleashing creativity. In: BLOOM, F. (Ed.). Best of the brain from
Scientific American: mind, matter, and tomorrow's brain. New York: Dana
Press, 2007.
LEHRNER, J. et al. Ambient odors of orange and lavender reduce anxiety and im-
prove mood in a dental office. Physiology & Behavior, v. 86, n. 1-2, p. 92-95, 2005.
LILLARD, A. S. Montessori: the science behind the genius. New York: Oxford
University Press, 2005.
272
MCCRINDLE, A. R.; CHRISTENSEN, C. A. The impact of learning journals on
meta-cognitive and cognitive processes and learning performance. Learning
and Instruction, v. 5, p. 167-185, 1995.
MILLER, G. A. The magical number seven, plus or minus two: some limits on
our capacity for processing information. Psychological Review, v. 63, n. 2, p.
81-97, 1956.
273
OKAMOTO, T. et al. Role of cerebellar cortical protein synthesis in transfer of
memory trace of cerebellum-dependent motor learning. The Journal of Neuros-
cience, v. 31, n. 24, p. 8958-8966, 2011.
PAIVIO, A. Imagery and verbal processes. New York: Holt, Rinehart, & Wins-
ton, 1971.
PAYTON, J. W. et al. The positive impact of social and emotional learning for
kindergarten to eighth-grade students: findings from three scientific reviews.
Chicago: Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning, 2008.
PERKINS, D. The eureka effect: the art and logic of breakthrough thinking.
New York: W.W. Norton & Co., 2001.
PINK, D. A whole new mind: why right-brainers will rule the future. New
York: Penguin Group, 2006.
POIREL, N. et al. First came the trees, then the forest: developmental changes
during childhood in the processing of visual local–global patterns according to
the meaningfulness of the stimuli. Developmental Psychology, v. 44, n. 1, p.
245-253, 2008
274
POSNER, M.; PATOINE, B. How arts training improves attention and cognition.
Cerebrum, Dana Foundation, 14 set. 2009. Disponível em: https://www.dana.
org/article/how-arts-training-improves-attention-and-cognition/. Acesso em: 10
jun 2020.
RAO, H. et al. Early parental care is important for hippocampal maturation: evi-
dence from brain morphology in humans. NeuroImage, v. 49, n. 1, p. 1144-1150,
2010.
RATEY, J. J. Spark: the revolutionary new science of exercise and the brain. New
York: Little, Brown and Co. 2008.
RECHT, D. R.; LESLIE, L. Effect of prior knowledge on good and poor readers'
memory of text. Journal of Educational Psychology, v. 80. n. 1, p. 16-20, 1988.
RICE, J.; LEVINE, L.; PIZARRO, D. “Just stop thinking about it”: effects of emo-
tional disengagement on children's memory for educational material. Emotion,
v. 7, n. 4, p. 812-823, 2007.
275
ROTHERHAM, A. J.; WILLINGHAM, D. 21st century skills: the challenges ahe-
ad. Educational Leadership, v. 67, n. 1, p. 16, 2009.
RUNCO, M. A.; ALBERT, R. S. The threshold theory regarding creativity and in-
telligence: an empirical test with gifted and nongifted children. Creative Child
& Adult Quarterly, v. 11, n. 4, 212–218, 1986.
RUNDUS, D. Analysis of rehearsal processes in free recall. Journal of Experi-
mental Psychology, v. 89, n. 1, p. 63-77, 1971.
SAPOLSKY, R. M. Por que as zebras não têm úlceras? São Paulo: Francis, 2008.
276
SLAMECKA, N. J.; GRAF, P. The generation effect: delineation of a phenome-
non. Journal of Experimental Psychology: Human Learning and Memory, v. 4,
n. 6, p. 592-604, 1978.
TOCH, T. Beyond basic skills. Phi Delta Kappan, v. 92, n. 6, p. 72-73, 2011.
277
UNSWORTH, N.; ENGLE, R. W. On the division of short-term and working
memory: an examination of simple and complex span and their relation to high-
er order abilities. Psychological Bulletin, v. 133, n. 6, p. 1038-1066, 2007.
WILSON, D. The interface of school climate and school connectedness and rela-
tionships with aggression and victimization. Journal of School Health, v. 74, n.
7, p. 293-299, 2004.
278