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EFEITOS DA ADUBAÇÃO NITROGENADA EM COBERTURA SOBRE A

PRODUTIVIDADE E COMPONENTES DE PRODUÇÃO DA CULTURA DA SOJA

Raphael Augusto Barduzzi1, Gustavo Castilho Beruski2

Bacharel em Engenharia Agronômica

RESUMO

A cultura da soja (Glycine max) é a oleaginosa mais cultivada no mundo e devido a


elevada demanda no mercado internacional, há um constante interesse na obtenção
de elevações em sua produtividade. Sendo o nitrogênio o nutriente mais exigido pela
soja e a fixação biológica de nitrogênio o principal fornecedor deste elemento para a
cultura, surgem questionamentos sobre a capacidade da fixação biológica do
nitrogênio (FBN) em fornecer todo o suprimento do N exigido para a obtenção de
altas produtividades. Portanto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar os efeitos
da adubação nitrogenada em cobertura sobre os componentes de produção e
produtividade de grãos da cultura da soja. O experimento foi conduzido na Fazenda
Pinhalzinho, localizada no município de São Miguel Arcanjo-SP, durante a safra
2014-15. O delineamento experimental utilizado foi de blocos ao acaso, distribuído
em esquema fatorial, com três repetições. Os tratamentos resultaram da combinação
da aplicação de diferentes doses de nitrogênio (0, 30, 60 e 90 kg N ha -1)
empregadas em diferentes estádios fenológicos da cultura da soja (V5, R1 e R5.5).
A cultivar utilizada foi a Monsoy 5947 IPRO, com semeadura realizada em
09/10/2014 e colheita em 11/02/2015. Os tratos culturais de manejo da cultura da
soja foram realizados de acordo com cronograma da propriedade onde o
experimento foi conduzido. Após a colheita avaliou-se o número de vagens por
planta, a massa de mil grãos e a produtividade da cultura. Os resultados foram
submetidos à análise de variância, com posterior aplicação do teste de Tukey
(α=0,05). Com base nas análises estatísticas verificou-se que não houve interação
estatisticamente significativa entre doses de N e estádio de aplicação, bem como
evidenciaram não haver diferença estatística para os componentes de produção
média de vagens por planta, massa de mil grãos, e para a produtividade de grãos da
soja. Dessa forma, de acordo com os dados obtidos conclui-se, para as condições
estudadas, que a adubação nitrogenada para cultivo de soja é desnecessária, sendo
a demanda de N totalmente atendida pela FBN.

Palavras-chave: Glycine max. Adubação nitrogenada. Fixação biológica de


nitrogênio.

1
Aluno – Graduando em Engenharia Agronômica. FAESB. Tatuí, SP.
2
Prof. Me.do Curso de Engenharia Agronômica. FAESB. Tatuí, SP.
2

ABSTRACT

The soybean crop (Glycine max) is the oleaginous most cultivated all over the world.
Due to the high international market demand, there is an interest that soybean areas
produce with high yield. Being the nitrogen element one of the most required and the
biological nitrogen fixation the main source of this element for the soybean crop,
doubts emerge about the nitrogen supplied to obtaining high soybean yield.
Therefore, the aim of the present work was to assess the effects of nitrogen
fertilization applied after plants emergence on the production components and yield
of soybean. The field trial was conducted throughout of the 2014-15 soybean season
in Pinhalzinho farm, located in São Miguel Arcanjo, São Paulo State. The
experimental design used was randomized blocks, in a factorial design, with three
replications. The treatments resulted from the combination of the different nitrogen
concentration (0, 30, 60 e 90 kg N ha -1) and time (phenological stages) to apply
nitrogen on soybean plants (V5, R1 e R5.5) The Monsoy 5947 IPRO cultivar was
used herein. Soybean was sowed on October 9th, 2014 and was harvested on
February 11th, 2015. Crop management was realized according to the farm schedule
where the experiment was installed. After harvested it was evaluated the following
soybean characteristics: number of pods per plant; the mass of thousand grains;
soybean yield. The results were submitted to variance analyses (ANAVA) and the
averages were compared using the Tukey test (α=0,05). According to the statistical
analysis, no interaction between nitrogen concentration and nitrogen application in
soybean phase was verified. Furthermore, no statistical differences were observed
using the different treatments on a number of pods per plant, the mass of thousand
grains and soybean yield. In this way, it was possible to conclud for this conditions
the nitrogen fertilization on soybean crop did not provide positive effects on soybean
production, suggesting that the soybean nitrogen demand can be supplied by the
biological nitrogen fixation.

Keywords: Glycine max. Nitrogen Fertilization. Biological fixation of nitrogen

1 INTRODUÇÃO

Inegável é a importância da cultura da soja (Glycine max (L.) Merrill), visto se


tratar da oleaginosa mais plantada globalmente, em função do seu valor nutricional
como fonte de proteína na alimentação humana e animal. O alto teor de proteínas
torna a soja uma cultura exigente em nitrogênio (N), já que 6,5 % de seu conteúdo é
composto por esse nutriente, levando a uma necessidade de 65 kg de N para a
produção de uma tonelada de grãos (HUNGRIA et al., 2001). A importância desse
elemento é ainda maior, considerando que 15 kg de N são empregados na
composição da planta, dessa forma a contabilização da quantidade requerida pela
planta mais a quantidade necessária na composição dos grãos totaliza 80 kg de N
por tonelada de grão produzida (HUNGRIA et al., 2001).
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De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2016) na


safra 2015/16 a produtividade média de soja por hectare no Estado de São Paulo foi
de aproximadamente 3.300 kg ha -1, evidenciando uma necessidade de pelo menos
264 Kg de N ha-1 (HUNGRIA et al., 2001), refletindo a grande exigência da cultura
quanto ao aporte de nitrogênio. Maior ainda se torna a importância deste nutriente
levando-se em conta que na safra 2014/15 foi atingida no Concurso Nacional de
Produtividade de Soja, promovido pelo Comitê Estratégico Soja Brasil (CESB, 2014)
a produtividade de 8.507 kg ha -1, indicando que a cultura apresenta grande potencial
produtivo a ser explorado e estudado.
O nitrogênio (N) é o nutriente mineral mais exigido pelas plantas, pois faz
parte de componentes da célula vegetal como aminoácidos, proteínas, coenzimas,
ácidos nucleicos, entre outros (TAIZ; ZEIGER, 2013). Tendo em vista a alta
demanda por parte das plantas, sua deficiência provoca limitações no
desenvolvimento dos vegetais, inclusive gerando impactos negativos em suas
produtividades (LOPES et al., 2004). No interior da planta de soja 90% do N é
encontrado sob formas orgânicas, indicando que a insuficiência no fornecimento
desse nutriente possui interferência direta sobre o teor de proteína dos grãos
(SFREDO; BORKERT, 2004).
A demanda de nitrogênio pela planta de soja pode ser suprida por
basicamente quatro fontes: o solo, via decomposição da matéria orgânica; a fixação
não biológica, oriunda de descargas elétricas, combustão e vulcanismo; fertilizantes
nitrogenados e a fixação biológica, processo este intermediado simbioticamente por
bactérias do gênero Bradyrhizobium, com destaque para as espécies
Bradyrhizobium japonicum e Bradyrhizobium elkanii (HUNGRIA et al., 2001).
O processo de fixação biológica de nitrogênio (FBN) é resultado de diversos
processos desencadeados sucessivamente, iniciando pela atração quimiotática das
bactérias, devido às exsudações de betaínas e isoflavonóides da planta hospedeira,
neste caso a planta de soja, passando por alterações anatômicas e fisiológicas das
raízes seguidas por expressões de genes na planta e nas bactérias que culminam
na formação do nódulo (TAIZ; ZEIGER, 2013). Posteriormente, estabelece-se uma
relação de simbiose entre a planta de soja e as bactérias do gênero Bradyrhizobium,
as quais fixam N2 da atmosfera e convertem em formas assimiláveis pela planta. No
processo de fixação biológica do N atmosférico as bactérias reduzem o N 2 em NH3
(amônia), na sequência é convertido em NH 4+ (amônio) e então disponibilizado à
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planta. Em troca do NH4+ a planta fornece proteção e fotoassimilados às bactérias


que os utilizam em seu metabolismo (TAIZ; ZEIGER, 2013).
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Alves et al. (2006) verificaram com o uso de isótopo marcador N um
acúmulo de N oriundo da FBN da ordem de 176 a 193 kg N ha-1, correspondendo
respectivamente a 88 e 83% do N total requerido pela soja. Segundo Herridge et al.
(2008) a FBN é responsável por fornecer até 180 kg N ha -1, indicando que a fixação
biológica de nitrogênio apresenta-se como uma opção eficiente para satisfazer a
necessidade da cultura da soja por esse nutriente.
Entretanto, para que ocorra a FBN existe um gasto energético significativo por
parte da planta, visto que para a redução de uma molécula de N 2 são necessários
oito elétrons, o que corresponde a 16 moléculas de ATP (TAIZ; ZEIGER, 2013),
portanto, devido ao alto custo energético envolvendo a FBN a planta de soja poderá
não ter sua necessidade de nitrogênio suprida, deste modo uma forma de amenizar
a possível falta de N pode ser via fertilizantes minerais nitrogenados.
Muitas são as controvérsias que envolvem o uso de N mineral em cultivos de
soja associados ao uso de bactérias fixadoras de N atmosférico. Santos Neto et al.
(2013) não observaram diferença significativa para peso de 100 grãos e para
produtividade adicionando diferentes doses de N na semeadura de soja, com e sem
inoculação de Bradyrhizobium, em solo de cerrado. Já Mendes et al. (2008),
obtiveram resposta produtiva positiva com adubação nitrogenada suplementar nos
estádios fenológicos R 1 (pré florescimento) e R 5 (início do enchimento de grãos)
(FEHR; CAVINESS, 1977) em soja inoculada, com ganhos médios de 216 kg de
grãos ha-1, entretanto, os autores afirmam não ter existido ganho econômico em
função do alto custo do fertilizante industrializado. Petter et al. (2012) verificaram
incremento no número de vagens por planta e na produtividade da soja, com ganhos
médios de 300 kg ha-1, com fornecimento de N no estádio R1 da cultura.
Novas cultivares, novas técnicas de manejo, estirpes de Bradyrhizobium mais
eficientes na conversão do N atmosférico e mais adaptadas as condições brasileiras
têm promovido crescente aumento na produtividade média de soja por hectare,
suscitando a hipótese desse estudo, que teve como objetivo avaliar se a FBN seria
capaz de suportar a demanda de nitrogênio necessário para atender os níveis de
produção atingidos nas últimas safras, avaliando os efeitos da adubação
nitrogenada em cobertura sobre a produtividade e os componentes de produção no
cultivo da soja.
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2 MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Fazenda Pinhalzinho, município de São


Miguel Arcanjo-SP (23°52’ S, 48°01’ W), a 676 metros de altitude. O clima na região
é classificado segundo Köppen como do tipo Cwa, com temperatura média no mês
mais quente superior a 22°C e ao menos quatro meses com temperatura média
superior a 10°C, com verão chuvoso e inverno seco e precipitação média anual em
torno de 1400 mm (Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas a
Agricultura CEPAGRI, 2017). A análise física do solo na área experimental apontou
uma composição de 324 g kg-1 de argila, 99 g kg-1 de silte e 577 g kg-1 de areia. Os
resultados da análise química do solo são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1. Resultado da análise química do solo realizada anteriormente da implantação do


experimento na localidade de São Miguel Arcanjo, SP, durante a safra agrícola de 2014-15.

M.O. Ph P K Ca Mg Al H+Al SB CTC V%


-3 2 -3 -3
g dm CaCl mg dm ...............................mmolc dm .................................. %
23 5,7 98 4 32 8 0 24 44,1 68,1 65
M.O.= Matéria orgânica. SB= Soma de Bases. CTC = Capacidade de Troca Catiônica
V%= Saturação por Bases.

O delineamento experimental foi de blocos ao acaso, em esquema fatorial


3 x 4, com três repetições. O experimento combinou aplicação de nitrogênio em
cobertura com três estádios fenológicos onde as aplicações de N foram executadas
na fase vegetativa da soja (V5), pré-florescimento (R1) e no período de enchimento
de grãos (R5.5) e as quatro doses de nitrogênio foram 0; 30; 60 e 90 kg N ha -1. As
parcelas foram compostas por cinco linhas de quatro metros de comprimento. As
avaliações foram realizadas em área útil composta por um metro linear de cada uma
das três linhas centrais de cada parcela.
A cultivar de soja utilizada no experimento foi a Monsoy 5947 IPRO. A
semeadura foi realizada no dia 09/10/2014 com semeadora-adubadora em sistema
de plantio direto, tendo o milho como cultura antecessora. O espaçamento
entrelinhas utilizado foi de 0,53 m, com 14 sementes metro linear -1, configurando
uma população de aproximadamente 264.000 plantas ha -1. Na inoculação para cada
quilograma de semente empregou-se dois mililitro de inoculante Bradyrhizobium
japonicum com concentração de 5 x 109 UFC ml-1 SEMIA 5079 e 5080. As sementes
de soja também foram submetidas ao tratamento fitossanitário com produto
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comercial contendo tiofanato-metilico, piraclostrobina e fipronil nas concentrações de


225 g L-1, 25 g L-1 e 250 g L-1 respectivamente, na dose de 100 ml ha -1.
Para a adubação de plantio utilizou-se 200 kg ha-1 de MAP (Fosfato
monoamônico) com formulação 11-52-00, perfazendo 22 kg de N ha-1 e 104 kg de
P2O5 ha-1. A adubação potássica foi realizada a lanço cinco dias após a semeadura
utilizando-se KCl (00-00-60) na dose de 140 kg ha-1, totalizando 84 kg K2O ha-1 .
As adubações em cobertura foram realizadas manualmente a lanço nas
entrelinhas da soja, em seus respectivos estádios e doses utilizando como fonte de
fertilizante nitrogenado o nitrato de amônio, na formulação 30-00-01.
O controle de pragas, doenças e plantas invasoras foram realizados conforme
cronograma da propriedade, visto que o experimento foi montado em meio a uma
lavoura comercial de soja. Para controle de plantas daninhas foi realizada uma
aplicação de glifosato 480 g L -1 na dose de dois litros ha-1 no estádio V3. No manejo
de insetos durante o ciclo da cultura foram empregadas quatro aplicações de
inseticida dos grupos químicos piretróide, neonicotinóide e metilcarbamato. O
controle de doenças deu-se mediante três aplicações de fungicida dos grupos
químicos triazol + estrubirulina e estrubirulina + triazolintiona, todas associadas com
fungicida protetor do grupo químico ditiocarbamato. Todas as aplicações foram
executadas com pulverizador tratorizado, com volume de calda de 200 L ha -1.
A colheita ocorreu em 11/02/2015, de forma manual com posterior trilha e
limpeza manual. Para a avaliação da média de vagens por planta foram utilizadas 10
plantas coletadas de forma aleatória em cada parcela no momento da colheita. Para
a as análises de massa de mil grãos e produtividade as amostras foram pesadas em
balança de precisão e tiveram seus teores de água reduzidos para 130 g kg-1 (13%).
As análises estatísticas foram realizadas através do software gratuito Sisvar,
submetendo os tratamentos ao teste de médias de Tukey a 5% de significância.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a análise estatística verificou-se que não houve interação estatística


significativa entre as variáveis doses de N e os estádios fenológicos onde se deram
as aplicações de nitrogênio. Dessa maneira as análises foram realizadas para cada
fonte de variação de forma independente. Os resultados obtidos ao longo do
experimento encontram-se expostos na Tabela 2 e demonstraram, para a variável
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média de vagens por planta (MVP), que apesar da obtenção de diferenças de até
9% entre os tratamentos adotados, não foram identificadas diferenças
estatisticamente significativas entre os tratamentos. Assim como para MVP, também
não se observou diferenças estatísticas para a variável massa de mil grãos (MMG).

Tabela 2. Resultados para média de vagens por planta (MVP), massa de mil grãos (MMG) e
produtividade da cultura da soja sob diferentes doses de nitrogênio (N) versus estádio fenológico em
que o N foi aplicado.

Doses de N MVP MMG Produtividade


(kg N ha -1) (g) (kg ha -1)
0 58,56 a 156,20 a 4685,38 a
30 53,18 a 156,58 a 4817,47 a
60 53,80 a 155,83 a 4639,89 a
90 57,02 a 158,44 a 4820,36 a
CV (%) 14,47 2,52 7,36

Estádio

V5 54,73 a 157,99 a 4720,51 a


R1 55,40 a 156,01 a 4710,91 a
R 5.5 56,78 a 156,30 a 4790,89 a
CV (%) 13,01 1,86 6,60
Médias nas colunas seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de
significância. CV= Coeficiente de variação. Valores corrigidos para 13% de umidade.

De forma similar as demais variáveis em estudo, para a variável


produtividade de grãos da soja verificou-se que a aplicação de 90 kg N ha -1 foi
superior ao tratamento sem aplicação de N em média 135 kg de grãos ha -1 (2,25
sacas ha-1), entretanto esta variação não representou diferença estatística
significativa, inclusive quando comparada aos demais tratamentos.
As análises estatísticas revelaram não existir diferença significativa quanto ao
estádio de aplicação do N, entretanto, a aplicação em R5.5 foi a que apresentou
maior MVP e maior produtividade de grãos.
Aratani et al. (2008) obtiveram resultados similares aos apresentados neste
estudo para média de vagens por planta, massa de mil grãos e produtividade
avaliando o uso de doses de N em cobertura, épocas de aplicação e culturas de
cobertura em soja cultivada sob sistema de plantio direto. Os autores não
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verificaram diferenças estatísticas para as variáveis apresentadas acima bem como


interação entre as doses de N e épocas de aplicação do fertilizante mineral. Em
contrapartida, Petter et al. (2012) verificaram acréscimos significativos para número
de vagens por planta, massa de mil grãos e produtividade com fornecimento de
diferentes doses de N no estádio R1 da soja. Os autores também afirmam existir
interação positiva entre doses de N e épocas de aplicação do nutriente em questão.
Crispino et al. (2001) com o intuito de definir a necessidade de aplicação de
nitrogênio em cobertura na cultura da soja conduzida em sistema de plantio direto e
convencional em diferentes tipos de solo, não verificaram diferença estatística para
a produtividade de grãos da soja com aplicações de N em semeadura, pré-
florescimento e enchimento de grãos. Corroborando os resultados de Crispino et al.
(2001), assim como os resultados obtidos no presente experimento, Loureiro et al.
(2000) também não observaram diferenças estatísticas empregando adubação
nitrogenada com doses entre 50 e 100 kg N ha -1 aplicados em semeadura e nos
estádios R1 e R3.
Com os mesmos objetivos do presente trabalho, contudo em solos do
Cerrado brasileiro, Mendes et al. (2008) obtiveram ganhos significativos em
produtividade de grãos de soja, da ordem de até quatro sacas ha -1 com a aplicação
de 50 kg de sulfato de amônio e nitrato de amônio ha -1 nos estádios R1 e R5 da
cultura da soja, como também a aplicação de 200 kg uréia ha-1 sendo 100 kg na
semeadura e 100 kg no estádio R1. Todavia, esses valores foram opostos aos
observados por Faccin et al. (2012), que também alcançou incremento de quatro
sacas de soja ha-1 com aplicação de 100 kg N ha-1, porém não houve diferença
significativa entre os tratamentos com ou sem a adição de nitrogênio mineral. Faccin
et al. (2012) também não verificaram diferenças estatísticas para massa de 100
grãos.
Santos Neto et al. (2013) avaliando as mesmas doses de nitrogênio
apresentadas neste ensaio não obtiveram resultados significativos para peso de 100
grãos e produtividade de grãos, concordando com o estudo apresentado. Por outro
lado Bahry et al. (2013) verificou diferença estatística para massa de mil grãos com
aplicação de nitrogênio e interação entre estádios reprodutivos e doses de
fertilizante nitrogenado. Os autores acima mencionados observaram efeito positivo
significativo do fornecimento de nitrogênio nos estádios de enchimento de grãos
para a variável produtividade de grãos. Provavelmente, a diferença estatística foi
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devido ao fornecimento de N na fase em que se inicia a senescência dos nódulos


das bactérias fixadoras de nitrogênio atmosférico presente no sistema radicular das
plantas de soja, diminuindo o suprimento de nitrogênio fornecido as plantas de soja.
Sendo assim, o suprimento de N nos estádios que compreendem o enchimento de
grãos podem contribuir para a translocação de fotoassimilados, e assim contribuir
para a produtividade e peso de grãos da soja (RYLE et al., 1979).
Marcon et al. (2017) avaliando fontes sólidas e líquidas de N observaram
respostas significativas para massa de mil grãos e produtividade com aplicações do
elemento nos estádios R1 e R3 da cultura da soja, resultados que discordam de
Perusso (2013), que avaliou diferentes doses de N no estádio R1 da cultura da soja
e não obteve diferença estatística para massa de mil grãos e produtividade,
reforçando os resultados obtidos neste ensaio.
Barzoto (2015) avaliando interação entre doses de nitrogênio e lâminas de
irrigação aferiu que o N influenciou positivamente apenas a massa de mil grãos, e
não obteve diferença estatística para o número de legumes por planta bem como
para a produtividade de grãos. Lopes (2007) avaliando nitrogênio e potássio em
Argissolo vermelho afirmou que a aplicação de nitrogênio mineral não apresentou
reflexos na produtividade da soja.
Os resultados encontrados por Parente (2014), testando adubação
nitrogenada em semeadura e cobertura no estádio R1 em diferentes genótipos de
soja em plantio direto no Cerrado, demonstraram que a cultivar com menor teto
produtivo diferiu estatisticamente para as variáveis massa de mil grãos e
produtividade de grãos, enquanto que a cultivar de maior teto produtivo não obteve
diferença estatística para as variáveis supracitadas, o que de certo modo apoia os
resultados apresentados na Tabela 2, visto que a cultivar avaliada possui alto teto
produtivo.
Pierozan Junior (2015) testou diferentes quantidades e momentos de
aplicação de N (VE e R3), em duas localidades distintas (Taquarituba/SP e
Primavera do Leste/MT) em duas safras (12/13 e 13/14) e concluiu que em
condições de clima tropical a aplicação de N em VE e R3 promove aumento na
produtividade da soja, sendo que o mesmo efeito não ocorreu em condições de
clima subtropical, como na região onde foi realizado este experimento.
É grande a discordância entre os resultados sobre a viabilidade da aplicação
de N mineral em cobertura na cultura da soja. No entanto, poucos ensaios abordam
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a viabilidade financeira da prática da adubação nitrogenada em cobertura no cultivo


da soja. Utilizando como base os resultados obtidos neste estudo, caso a diferença
obtida fosse significativa estatisticamente não justificaria a adoção da adubação de
cobertura, pois seria economicamente inviável.
Analisando os preços de fertilizantes no período de Junho de 2017, foi
possível verificar que uma tonelada de nitrato de amônio, na formulação 30-00-01,
foi cotada em R$ 1.250,00 (CONAB, 2017), gerando um custo de R$ 375,00 para a
aplicação de 90 kg de N ha-1. Confrontando esse custo, ao preço da saca de soja no
mesmo período, verificou-se que a saca do grão era cotada em média por R$ 69,00,
conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA,
2017), portanto com o aumento da produtividade em 2,25 sacas ha -1, o ganho em
reais seria de R$ 155,25 ha-1. Em análise comparativa do ganho em produtividade
de grãos versus o custo do fertilizante nitrogenado, verificou-se que a aplicação de N
resultou em um saldo negativo de R$ 219,75 ha-1. Cabe ainda uma ressalva, de que
nesta análise apenas o custo do fertilizante foi considerado em cálculo, caso as
operações para aplicação de N fossem contabilizadas este custo seria ainda maior.
Análise semelhante de custo versus benefício da adubação de cobertura em
soja realizada por Mendes (2008), tomando por base a cotação do sulfato de amônio
e da saca de soja em novembro de 2007, também afirmaram não existir viabilidade
econômica para a adubação nitrogenada suplementar para o cultivo da soja,
observando que a aplicação de 50 kg ha -1 de sulfato de amônio em cobertura na
cultura da soja proporcionou um incremento médio na produtividade de grãos da
soja de 4 sacas ha-1, representando um ganho financeiro de US$ 92,00. No entanto,
50 kg de nitrato de amônio custaram em novembro de 2007 US$ 119,00, gerando
um prejuízo de US$ 27,00. Esta análise de custos também não considerou os custos
operacionais para a aplicação do fertilizante.
Os resultados obtidos neste trabalho demonstraram que a fixação biológica
de nitrogênio foi capaz de suprir a demanda de nitrogênio na cultura da soja, mesmo
em condições de elevada produtividade média de grãos como visto neste ensaio que
foram superiores a 4700 kg ha -1. Se considerarmos que para a produção de uma
tonelada de grãos de soja são necessários 80 kg de nitrogênio (HUNGRIA et al.,
2001), neste experimento a FBN foi responsável por fornecer aproximadamente 376
kg N ha-1, evidenciando a eficiência das bactérias fixadoras de nitrogênio. Tal
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eficiência é resultado de intenso trabalho de seleção de estirpes de Bradyrhizobium


visando garantir a máxima eficiência no processo de FBN (HUNGRIA et al., 2001).
Financeiramente os custos que envolvem a inoculação de bactérias fixadoras
de nitrogênio atmosférico na soja podem ser considerados irrisórios, tendo em vista
que neste ensaio foram utilizados 120 mililitro de inoculante ha -1, a um custo de
aproximadamente R$ 5,00 ha-1, e considerando-se a quantidade de N ha-1
aproximada que foi fornecido pelas bactérias neste experimento (376 kg N ha-1), o
custo do kg de N fornecido pelas bactérias foi de R$ 0,01, contra R$ 4,20 o kg de N
do fertilizante mineral utilizado. Se a necessidade de nitrogênio da soja nas
condições deste experimento tivesse de ser suprida via nitrato de amônio, o custo da
adubação nitrogenada seria de aproximadamente R$ 1580,00 ha -1, versus
aproximadamente R$ 5,00 ha-1 do inoculante contendo bactérias do gênero
Bradyrhizobium (CONAB, 2017).
Mesmo com o elevado gasto energético envolvido no processo de FBN e o
fornecimento de fotoassimilados as bactérias (TAIZ; ZEIGER, 2013) que poderiam
ser empregados na constituição de tecidos da planta e no enchimento dos grãos, o
emprego de organismos fixadores de nitrogênio na cultura da soja apresenta-se
como opção altamente eficaz para o fornecimento de nitrogênio para o cultivo da
soja, bem como se trata da opção mais economicamente viável para atender a
demanda de nitrogênio da soja (HUNGRIA et al., 2001; CRISPINO et al., 2001).

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos nas condições em que este estudo foi conduzido


demonstraram não ser necessária a adubação nitrogenada de cobertura para o
cultivo da soja, evidenciando que a FBN foi capaz de suprir a grande necessidade
de nitrogênio da cultura.
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REFERÊNCIAS

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balanço de nitrogênio em soja, milho e algodão. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
v. 41, n. 3, p. 449-456, 2006.

ARATANI, R. G. et al. Adubação nitrogenada em soja na implantação do sistema


plantio direto. Bioscience Journal. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), v. 24, n. 3, p. 31-38, 2008

BAHRY, C. A. et al. Características morfológicas e componentes de rendimento da


soja submetida à adubação nitrogenada. Agrarian, Dourados, v. 6, n. 21, p. 281-
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BARZOTTO, F. Nitrogênio e água como fatores de produtividade da soja


(Glycine max (L.) Merrill). 2015. 59 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Agrícola) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2015.

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